Segunda-feira, 19 de Fevereiro de 2024

Sobre o AO90: «Carta aberta aos actuais responsáveis pelos destinos de Portugal», por Maria José Abranches

 

  «... Ah grita:

  importa pouco se te escuta alguém,

  no redemoinho tenso da surdez danada.

Porque há-de haver quem ouça, ainda há-de haver 

quem ouça. ...»

 (Jorge de Sena, "O grito do silêncio")

 

António Guerreiro.png

 
"Ex.mos Senhores,
 
Este ano Portugal celebra os 50 anos do 25 de Abril que nos trouxe a democracia. Tendo em conta que uma das bases e suportes da democracia é a capacidade de nos ouvirmos uns aos outros, agradecia que considerassem a minha reflexão sobre o nosso país, expressa no texto que junto envio.
Com os meus cumprimentos,
 
Maria José Abranches Gonçalves dos Santos
Professora (reformada)
Residente em Lagos"
 

No ano em que celebramos o cinquentenário do 25 de Abril, que libertou o país da ditadura e nos trouxe a democracia, os partidos políticos, assim como os media, que lhes dão visibilidade, não podem, mais uma vez, por prepotência, cobardia ou ignorância, silenciar a questão da imposição política a Portugal do Acordo Ortográfico de 1990.

 

Cidadã portuguesa - professora de Português, em Paris e em Lagos, agora reformada - consciente da minha responsabilidade, dos meus deveres e dos meus direitos, num país democrático, permito-me chamar a vossa atenção para a imperiosa necessidade de zelarmos pela defesa da nossa língua, actualmente gravemente fragilizada e em risco, pela imposição política antidemocrática do Acordo Ortográfico de 1990, a Portugal.

 

 O desinteresse do nosso país pela nossa língua, suporte essencial da nossa identidade e da nossa cultura, é algo que vem de longe e é totalmente incompreensível. Recordemos alguns aspectos do mesmo: a Academia das Ciências de Lisboa, fundada a 24 de Dezembro de 1779, levou 222 anos para publicar o seu primeiro e único dicionário (2001), agora com uma versão na 'net'; compare-se com a Real Academia Española, de 1713, que publicou, em Outubro de 2014, a 23.ª edição do seu dicionário! E, além da falta de investimento no estudo da língua, inclusivamente no nosso sistema de ensino, convém também lembrar o esquecimento e o desrespeito a que são votados os nossos emigrantes - imagem fora de portas da nossa língua e cultura - o que Carlos Reis justifica, por isso ter pouco a ver com a 'internacionalização' da língua portuguesa!...

 

A política de língua nacional tem-se sobretudo empenhado em fazer Acordos ortográficos com o Brasil, que desde 1907 decidiu - e está no seu direito - escrever a sua língua de forma própria. 

 

Estamos em 2024, um ano particularmente assinalável no desenrolar da História nacional. Evoquemos três datas essenciais e recordemos o modo como o poder político as tem tratado: 

 

1 - 500 anos do nascimento de Camões

«Este país te mata lentamente» 

("Camões e a Tença", Sophia de M. B. A.)

 

Num artigo do "Público" de 20 de Dezembro de 2023, intitulado «Programa das comemorações dos 500 anos de Camões em 2024 está por fazer», podemos ler:

 

«Resolução em Conselho de Ministros que há dois anos e meio determinou realização das comemorações estabelecia criação de estruturas que ainda não existem, diz comissária nomeada para fazer o programa. 

 

(...) Nada existe além do anúncio da intenção do Governo de comemorar este feito, disse à agência Lusa a catedrática Rita Marnoto, comissária designada para preparar o programa das comemorações, em coordenação com as estruturas previstas. (...)»

 

   A propósito deste 'esquecimento' nacional, recordo Jorge de Sena:

 

  «Se me centrei em Camões, numa das minhas direcções, é porque o admiro tremendamente, tenho pena de que tão grande poeta tenha nascido português e para pasto de raça tão ordinarizada, e porque, sendo o maior e o eixo da nossa literatura, é em relação a ele que tudo tem de ser feito.» (Carta a Eduardo Lourenço, 13 de Janeiro de1968, in "Eduardo Lourenço - Correspondência - Jorge de Sena", ed. Gradiva)

 

«Ignorar ou renegar Camões não é só renegar o Portugal a que pertencemos, tal como ele foi, gostemos ou não da história dele. É renegarmos a nossa mesma humanidade na mais alta e pura expressão que ela alguma vez assumiu. É esquecermos que Portugal, como Camões, é a vida pelo mundo em pedaços repartida.» ("Discurso da Guarda", Paris, 3 de Junho de 1977, in "Jorge de Sena, Rever Portugal - Textos Políticos e Afins, ed. Guimarães)

 

Ouçamos ainda Vasco Graça Moura: «As questões da identidade começam por estar relacionadas com a língua materna e esta deve a Camões a sua dimensão moderna. (...) A língua de Camões está irreconhecível. Se ele voltasse ao mundo, decerto pensaria em rasgar a sua obra. Deixámos de ser dignos dela.» (in "A língua de Camões?"- "Público", 09 de Junho de 2010)

 

2 - 50 anos do 25 de Abril

«Ou poderemos Abril ter perdido

O dia inicial inteiro e limpo

Que habitou nosso tempo mais concreto?»

(Sophia de M. B. A.)

 

A imposição política do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90) a Portugal é um verdadeiro atentado contra a democracia que nos trouxe o 25 de Abril de 1974. Todo o processo político que conduziu à sua implementação no nosso país é antidemocrático.

 

   Começo por dar a palavra a Vítor Aguiar e Silva:

 

"A língua, na sua existência profunda e multissecular, vive antes de nós e sobrevive depois de nós, não podendo ser objecto, no seu corpo e no seu espírito, de alterações ocasionais e circunstancialmente políticas, que desfiguram a sua «lei secreta», ou seja, o «seu génio», como aconteceu com o aberrativo «acordo ortográfico» que constitui um inominável crime imposto politicamente à língua portuguesa.» (in "Diário do Minho", 06/01/2019)

 

Convém recordar que a língua de Portugal - país independente desde 1143, Tratado de Zamora - que aqui nasceu, cresceu e se formou, é falada e escrita há séculos, em todo o território nacional. "A individualidade da língua portuguesa começou a desenhar-se no domínio do léxico e pode remeter-se para uma data próxima do século VI. (...) Os dois primeiros textos escritos em português - a «Notícia de Torto» e o «Testamento» de D. Afonso II - datam de 1214-1216." (Maria Helena Mira Mateus). Em 1296, no reinado de D. Dinis (1279-1325), esta língua foi adoptada pela chancelaria régia.

 

Quanto ao Brasil, onde chegámos em 1500, país gigantesco e de diversa população, no século XVIII, em 1758, a língua portuguesa tornou-se língua oficial, por imposição do Marquês de Pombal, em detrimento da 'língua geral', anteriormente forjada para os contactos com a população local. Actualmente, no Brasil, além da língua portuguesa, oficial, haverá mais de 210 idiomas, uns indígenas e outros falados por várias comunidades de imigrantes.

 

Pessoalmente sou contra o AO90 desde que o conheci, aquando da sua publicação no Diário da República. Desde 2008, tenho lutado contra este crime de lesa-pátria, por todos os meios ao meu alcance - textos publicados, contributos enviados para os grupos de trabalho sobre o AO90 da Assembleia da República, contactos diversos por correspondência, recolha de centenas de assinaturas para a Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o AO90, entregue na Assembleia da República (https://ilcao.com/ ), com 22.047 assinaturas, e que a Assembleia da República ostensivamente ignorou, etc.... Aliás, logo no início, em 2008, escrevi à Associação de Professores de Português (APP), e à FENPROF (sindicato dos Professores), insistindo na necessidade de promoverem o debate sobre o AO90, no sistema de Ensino... Não fizeram nada! Aceitaram a imposição do mesmo no ensino, esquecendo o esforço que, nas últimas décadas, tinha sido feito para combater o analfabetismo nacional...

 

Quando ainda estava a trabalhar, fui a Portimão ouvir Malaca Casteleiro, grande responsável pelo AO90, que defendia o dito, insistindo na vantagem da simplificação da aprendizagem da ortografia pelas criancinhas! Perguntei-lhe publicamente se as crianças portuguesas tinham algum atraso mental, visto que as crianças francesas, inglesas, italianas, alemãs, espanholas, etc., conseguiam aprender ortografias muito mais complexas do que a nossa! 

 

Há muito que me preocupa esta espécie de - já antigo - desprezo pela língua de Portugal, assumido pela política, e também pela 'elite', nacional. O esforço feito, há décadas, para combater o nosso vergonhoso e tradicional analfabetismo está agora a ser substituído pela promoção do novo analfabetismo! Proliferam os disparates, inclusivamente nas legendas dos canais televisivos. E o corrector ortográfico ajuda fortemente...

 

Um dos argumentos dos defensores do AO90 é que seria difícil agora pô-lo em causa, uma vez que desde 2011 começou a ser ensinado aos mais jovens! Pasme-se: e não se preocuparam quando forçaram a sua imposição ao país e à população que, desde 1946, ortografava a nossa língua segundo o Acordo entre Portugal e Brasil (1945), que o nosso país respeitou e o Brasil rejeitou!

 

Quanto ao argumento de que 'as línguas evoluem', brandido pelos defensores do AO90, neste contexto linguisticamente indefensável, convém reflectir sobre os seguintes aspectos:

 

 1.º as línguas evoluem naturalmente e não em função da imposição política de um qualquer decreto; 

 

2.º a evolução verificada numa língua poderá exigir uma 'reforma' ortográfica, tendo em conta as características dessa língua, e não um 'acordo' ortográfico entre variantes da língua que evoluíram visível e audivelmente de maneira diferente, como é bem notório no caso da norma portuguesa e brasileira da língua portuguesa; 

 

3.º as diferenças entre estas duas normas, no que toca a todos os aspectos da língua - vocabulário, morfologia, sintaxe, fonética - não podem ser escamoteadas com uma pretensa 'uniformização' ortográfica, via AO90 que, aliás, propõe inúmeras duplas grafias, facultatividades, numa negação aberrante do próprio conceito de ortografia;

 

4.º no AO90 ("Anexo II - Nota explicativa do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa") refere-se que o Brasil não respeitou o Acordo de 1945, porque seria obrigado a repor as "chamadas consoantes mudas"- que entretanto tinha já eliminado, por conta própria - e a aceitar a acentuação gráfica de Portugal, com acento agudo em vez de circunflexo, em palavras como António/Antônio; em consequência, aí se conclui também que "não é possível unificar por via administrativa divergências que assentam em claras diferenças de pronúncia, um dos critérios, aliás, em que se baseia o sistema ortográfico da língua portuguesa";

 

5.º Assim, justificando a recusa do Acordo de 1945 pelo Brasil, com as "diferenças de pronúncia", o AO90 impõe a Portugal a supressão das "consoantes não articuladas" (Base IV), já adoptada pelo Brasil, num total desrespeito pela referência etimológica (o que apaga a história da nossa língua e nos afasta das outras línguas europeias), e pela pronúncia portuguesa, em que a manutenção dessas consoantes preserva a abertura das vogais pretónicas, em Portugal ensurdecidas, e mantém a unidade da grafia entre palavras da mesma família; ex.: óptimo/ optimismo; directo/direcção; adoptar/adopção; recepção/recepcionista; espectáculo/espectacular; lectivo/leccionar; colecção/ colectivo/ coleccionar, etc. Aliás, podem constatar-se já as alterações na pronúncia portuguesa que esta supressão das consoantes mudas está a provocar...

 

6.º No essencial, o AO90, que segundo o próprio texto "constitui um passo importante para a defesa da unidade essencial da língua portuguesa e para o seu prestígio internacional", impõe a Portugal as opções brasileiras:  supressão das consoantes ditas mudas, assim como do hífen, nas formas monossilábicas do verbo 'haver' seguidas da preposição 'de' (ex.: há-de); supressão 'facultativa' do acento agudo nos verbos em -ar, no pretérito perfeito simples (ex.: cantámos) e do acento circunflexo no verbo 'dar', no presente do conjuntivo (dêmos), suprime-se ainda o acento circunflexo, nas formas verbais como leem, veem, deem, etc....

 

Convém não esquecer que a norma portuguesa, e a sua ortografia consolidada, (norma euro-afro-asiática) constituía a referência linguística da língua portuguesa considerada por Angola, Moçambique, Guiné, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Goa, Timor, Macau, fruto da expansão planetária que a nossa História outorgou à nossa língua.

 

Quanto ao referido "prestígio", talvez a língua do Brasil esteja a usufruir dele, mas não a nossa língua, de dia para dia mais desfigurada, menosprezada, ridicularizada, e repetidamente mal pronunciada e mal escrita. 

 

3 - 10 de Março - Eleições legislativas 

«É em função de um conhecimento do essencial, daquilo que não podemos abandonar sem mutilação próxima e futura, que as escolhas decisivas para o nosso destino devem ser feitas

(in "O Labirinto da Saudade", Eduardo Lourenço)

 

Todos nós, cidadãos portugueses, em idade de votar, sendo Portugal um país democrático, somos chamados a participar nestas eleições legislativas. Entre os múltiplos aspectos da vida nacional a considerar, a imposição política ilegítima do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90) ao nosso país tem obrigatoriamente de ser posta em causa e discutida publicamente, contrariamente ao que tem sucedido nas inúmeras eleições anteriores, desde 1990! 

 

Ainda não vi abordar esta questão, nem pelos políticos, nem pelos jornalistas, nos vários debates que a televisão nos tem proposto, numa atitude que só confirma a fragilidade da nossa democracia, assim como a cegueira e a ignorância nacionais, fruto do tradicional analfabetismo!

 

Talvez valha a pena reler - ou ler - os textos essenciais (ver abaixo) para o desenrolar de todo este processo, a começar pelo próprio Acordo: 1. Resolução da Assembleia da República n.º 26/91 - "Aprova, para ratificação, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa"; e também pela "Rectificação" (2.) de que foi objecto (pequeno parêntese: a Assembleia da República não se tinha apercebido de que o texto do AO90 já estava escrito com o dito, e não na correcta ortografia da nossa língua!...).

 

Recordemos também atitudes e decisões de responsáveis políticos que conduziram a língua de Portugal à indigna situação em que agora se encontra. 

 

Começo por esta extraordinária declaração de Cavaco Silva, então Presidente da República Portuguesa, na Feira do Livro em Díli, a 22.05.2012: «Quando fui ao Brasil em 2008, face à pressão que então se fazia sentir no Brasil, o Governo português disse-me que podia e devia anunciar a ratificação do Acordo, o que fiz.» (in "Público")

 

 O Governo à época era socialista, sendo José Sócrates o Primeiro-Ministro. Dessa época data a - "3. Resolução da Assembleia da República n.º 35/2008 (que aprova o Segundo Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico)", "Protocolo" que determinou que a ratificação do Acordo por três países (da CPLP) bastava para a sua entrada em vigor!

 

É também do mesmo Governo a "4. Resolução do Conselho de Ministros n.º 8/2011", que decidiu a aplicação do AO90 no sistema de ensino e na administração pública.

 

Entretanto o Governo socialista caiu e o Governo seguinte, com Passos Coelho, Paulo Portas e Nuno Crato, decidiu aplicar submissamente, e sem discussão, as decisões do governo anterior. Seguiram-se dois governos socialistas, sendo António Costa Primeiro-Ministro, e tendo no primeiro a participação do BE e do PCP: o tabu manteve-se e o AO90 continua, sem discussão, a generalizar-se e a caricaturar a nossa língua!

 

   A terminar, dou a palavra a António Emiliano:

 

   «Falar da ortografia portuguesa, um bem que levou 700 anos a estabilizar-se, como se fosse coisa pouca (a estabilização da nossa fronteira política continental levou cerca de 100 anos), e falar de uma mudança ortográfica como uma simples alteração cosmética do sistema linguístico padronizado de uma nação multissecular dotada de um património literário e textual imenso, é simplesmente não se saber do que se está a falar.» (in "O primado da escrita")

 

 «O calibre dos erros e deficiências encontrados no texto do Acordo Ortográfico e da Nota Explicativa, bem como a falta de sustentabilidade razoada de várias das suas disposições - constituindo um todo que, em vez de ser apresentado de forma inatacável, como se esperaria, é passível da crítica negativa que desenvolvi, e virá afinal a ter consequências 'disortográficas' - levam-me a concluir que esta reforma causará "lesões" irreparáveis na língua portuguesa no plano da escrita, da oralidade, do ensino e do progresso científico.

 

 Por atentar contra a estabilidade do ensino, a valorização da língua e a integridade do seu uso, valores que a Constituição consagra e protege, entendo que esta reforma não serve o interesse de Portugal e deve, em consequência, ser impugnada e rejeitada.

Lisboa, 30 de Maio de 2008»

 

(in "Uma reforma ortográfica inexplicável: comentário razoado dos fundamentos técnicos do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990) - (Parecer) - EXCERTOS - António Emiliano, Universidade Nova de Lisboa)

 

N.B.: Para aceder aos textos fundamentais:

 

  1. Resolução da Assembleia da República n.º 26/91 - "Aprova, para ratificação, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa":

https://ciencias.ulisboa.pt/sites/default/files/fcul/institucional/legislacao/rar_26_91.pdf

https://diariodarepublica.pt/dr/detalhe/resolucao-assembleia-republica/26-1991-403301

 

  1. Assembleia da República - Rectificação n.º19/91 (pequeno parêntese: não se tinham apercebido de que o texto do AO90 já estava escrito com o dito...):

https://ciencias.ulisboa.pt/sites/default/files/fcul/institucional/legislacao/dr_19_91.pdf

https://diariodarepublica.pt/dr/detalhe/rectificacao/19-1991-331594

 

  1. Resolução da Assembleia da República n.º35/2008 (que aprova o Segundo Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico):

https://diariodarepublica.pt/dr/detalhe/resolucao-assembleia-republica/35-2008-454814

 

  1. Resolução do Conselho de Ministros n.º 8/2011:

https://diariodarepublica.pt/dr/detalhe/resolucao-conselho-ministros/8-2011-280944

 

  1. Aviso n.º255/2010 - Ministério dos Negócios Estrangeiros:

https://files.diariodarepublica.pt/1s/2010/09/18200/0411604117.pdf

           

Maria José Abranches Gonçalves dos Santos

***

 

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publicado por Isabel A. Ferreira às 16:22

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Sexta-feira, 10 de Junho de 2022

Celebremos, hoje, a Língua Portuguesa, a Língua que Luiz de Camões fixou e cultivou com Engenho e Arte, honrando Dom Dinis, Portugal e os Portugueses

 

Hoje, nós, OS Portugueses, distanciamo-nos dos políticos, e celebramos também o Dia de Portugal, o NOSSO Portugal, não, o dos estrangeiros, e  também o Dia das Comunidades Portuguesas, espalhadas pelos quatro cantos do mundo, que os políticos portugueses tanto desprezam, porque, NÃO honrando Portugal, como não honram, como podem honrar os Portugueses, que, na diáspora, vêem a sua Cultura, a sua História e a sua Língua tão DESPREZADAS pelos governantes, que, hipocritamente, descaradamente, andam por aí a mentir-lhes, vendendo-lhes gato por lebre, com a ilusão dos milhões?

 

CAMÕES - Banner de perfil.png

 

A primeira referência conhecida do simbolismo festivo do dia 10 de Junho, dia da morte do Poeta, data do ano de 1880, num decreto real de Dom Luís I, que o proclamou como "Dia de Festa Nacional e de Grande Gala" para comemorar os 300 anos da morte de Luiz Vaz de Camões, em 10 de Junho de 1580.

 

Porquê “Língua de Camões”? Porque, na verdade, Camões foi considerado um revolucionário em relação à Língua Portuguesa culta da sua geração, trazendo à Língua inovações linguísticas, evidenciadas no Poema Épico «Os Lusíadas».

 

A este propósito, diz a investigadora Maria Helena Paiva:

 

«Os Lusíadas constituem um testemunho de primeira importância sobre uma mudança (linguística) em curso na época. Camões não se revela apenas como um homem do seu tempo cuja linguagem reflecte a variedade padrão, sobre a qual o corpus metalinguístico quinhentista fornece uma informação específica ao nível da consciência, da práxis escritural e da dimensão normativa. O aumento da amplitude da variação que o texto acusa não é só inerente à diversificação dos conteúdos, à pluralidade de vozes e à policromia de cambiantes. Camões identifica a tendência que prevalecerá no futuro, e extrai, daquilo que intui na língua, consequências detectáveis no plano da criação estética».

 

Hoje, celebramos também a Língua de Fernando Pessoa, Camilo Castelo Branco, Eça de Queiroz, Antero de Quental, Almeida Garrett, Alexandre Herculano, Eugénio de Andrade, Padre António Vieira, Ferreira de Castro, Florbela Espanca, Natália Correia, Aquilino Ribeiro, Miguel Torga, António Lobo Antunes, Manuel Maria Barbosa du Bocage, Vitorino Nemésio, Raul Brandão, Altino do Tojal, Luísa Dacosta, Luís Rosa, Fernando Campos, Fernando Namora, Júlio Dinis, Mário de Sá-Carneiro, Luísa Costa Gomes, Gil Vicente, José Saramago, Vergílio Ferreira, Marquesa de Alorna, Teolinda Gersão, Deana Barroqueiro, Dom Dinis, Maria Velho da Costa, Hélia Correia, Ilse Losa, Sophia de Mello Breyner Andresen, Cesário Verde, Fernando Dacosta, José Régio, Mário de Andrade, Maria Isabel Barreno, Amadeo de Souza-Cardoso, Santa Rita Pintor, Almada Negreiros, Afonso Lopes Vieira, Maria Gabriela Llansol, Alexandre O’Neill, Maria Judite de Carvalho, Bernardim Ribeiro, Camilo Pessanha, Maria Teresa Horta, Fernão Lopes, Herberto Helder, Garcia de Resende, José Cardoso Pires, Sá de Miranda, Teixeira de Pascoaes, Mariana Alcoforado e tantos, tantos outros, que não me vêm agora à memória.

 

Todos estes escritores, prosadores e poetas portugueses fizeram da Língua Portuguesa um Monumento à Arte de Bem Escrever a Língua que Dom Dinis, ele próprio um excelente Trovador, nos deixou, e constitui o nosso Património Cultural Linguístico, que os governantes acordistas, de má-fé e ignorantemente, estão a tentar destruir.



É bem verdade que a Língua Portuguesa gerou Variantes/ Dialectos/Crioulos, como lhes queiram chamar, que hoje são usados nas ex-colónias portuguesas de África e América do Sul, e noutros territórios dos confins da Ásia.


Nessas Variantes/Dialectos/Crioulos foram escritas obras primorosíssimas, porém, o que hoje celebramos é a GENETRIZ de todas essas Variantes/Dialectos/Crioulos, para que se saiba que a Língua Portuguesa não pode se triturada, à mercê de gostos duvidosos e com base nos milhões, e continuar a ser chamada Portuguesa. Será portuguesa apenas por conveniências políticas, altamente lesivas dos interesses de Portugal.

 

Para celebrar a “Língua de Camões” escolhi este belíssimo poema   musicado por Zeca Afonso (a política, aqui, fica de fora, se fazem favor), porque a nossa Cultura é feita de uns e de outros.


E VIVA a Língua Portuguesa!


Isabel A. Ferreira

 

Pintura de Camões.png

Quadro pintado referente a Camões a’prisionado em Goa. Trata-se de uma pintura a guache, de 1556, considerada como retratando co veracidade o maior poeta lusíada.

 

Endechas a Bárbara Escrava

Endechas a uma cativa, chamada Bárbara, por quem Luiz de Camões andava de amores, na Índia
 

Aquela cativa

Que me tem cativo,

Porque nela vivo

Já não quer que viva.

Eu nunca vi rosa

Em suaves molhos,

Que pera meus olhos

Fosse mais fermosa.

 

Nem no campo flores,

Nem no céu estrelas

Me parecem belas

Como os meus amores.

Rosto singular,

Olhos sossegados,

Pretos e cansados,

Mas não de matar.

 

Ũa graça viva,

Que neles lhe mora,

Pera ser senhora

De quem é cativa.

Pretos os cabelos,

Onde o povo vão

Perde opinião

Que os louros são belos.

 

Pretidão de Amor,

Tão doce a figura,

Que a neve lhe jura

Que trocara a cor.

Leda mansidão,

Que o siso acompanha;

Bem parece estranha,

Mas bárbara não.

 

Presença serena

Que a tormenta amansa;

Nela, enfim, descansa

Toda a minha pena.

Esta é a cativa

Que me tem cativo;

E, pois nela vivo,

É força que viva.

 

Luiz de Camões

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 00:07

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Sábado, 29 de Maio de 2021

«A Língua Portuguesa no seu melhor…»

 

«Porque alguém decidiu, por gosto ou conveniência (falta saber quantos milhões de euros saiu do erário público), alterar determinados vocábulos, eis a Língua Portuguesa no seu melhor…»  

 

Um texto de Amadeu Mata, que mata a pretensão dos políticos que nos desgovernam, e põe de rastos os seus muito leais e submissos seguidistas.

 

De leitura obrigatória.

 

Isabel A. Ferreira

 

José Barata Moura.jpg

 

Texto de Amadeu Mata

 

Porque alguém decidiu, por gosto ou conveniência (falta saber quantos milhões de euros saiu do erário público), alterar determinados vocábulos, eis a Língua Portuguesa no seu melhor…  

 

A evolução da Língua Portuguesa, segundo os acordistas tem destas coisas.

 

Como já não somos o país que deu origem à Língua Portuguesa, a partir de agora vai ser assim: 

 

No Brasil, final do século XIX, do ponto de vista político, interessou fazer uma simplificação abusiva do português, promovendo a diferença, aproximando-o do crioulo então praticado pelos analfabetos.  

 

Depois de criados, o hábito de uma escrita desigual, agora é difícil conseguir um entendimento.


Com o argumento de que a esmagadora maioria pratica este português simplista, os políticos (outra vez eles) não se importam de colonizar a meia dúzia (10 Milhões) de falantes deste lado do Atlântico.

 

Não percebo como é que por um lado se privilegia a diferença, (são os mesmos), e por outro se elogia a uniformização. 

 

Será que o Professor Malaca Casteleiro nunca ouviu falar na regra gramatical das consoantes mudas que servem para indicar que as vogais que as antecedem devem ser pronunciadas abertas?  

 

Se não escrevermos o “c” em “director”, em vez de pronunciarmos “dirétor” teremos que pronunciar “dir’tor – “e” fechado e tantas outras palavras como por exemplo objectivo, activo, actual, etc., etc. ... 

 

Porque se há-de tirar o ‘c’ da palavra “acto”? Para ficar “ato”, igual ao “ato” do verbo “atar”?  

 

Por causa dos acordistas cortarem os “c” e os “p” a eito, deu origem a vocábulos inexistentes na Língua Portuguesa. 

 

Recepção por (receção), decepção por (deceção) excepção por (exceção), espectador por (espetador)…etc., etc.,   palavras estranhas à Língua Portuguesa de Matriz indo-europeia

 

 “Facto” passar a “Fato”? – Não, o “c” até nem é mudo, pronuncia-se.


“Pacto” passar a “Pato”? – Não, nunca, o “c”, além de não ser mudo, pronuncia-se.

 

“De fato está cagado” e não “de facto o cágado”, ou “de fato é corruto” e não “de facto é corrupto”, ou passar a mão pelo pelo do cão e não “ passar a mão pelo pêlo do cão”.  

 

Como poderemos distinguir os tempos presente e passado em formas verbais como “acabamos”, presente, e “acabámos”, passado, já que de uma assentada, os acordistas em todas as palavras acentuadas na penúltima sílaba retiraram o acento?

 

À conta do aborto ortográfico já anda por aí muito boa gente a pronunciar da mesma maneira as duas formas verbais, com a respectiva confusão inerente, e o manda-chuva do AO90, o SS cometeu este erro, numa entrevista dada à TVI e ficou admirado, por ter sido chamado à atenção, pelo entrevistador da “patacoada” pronunciada, isto só denota a falta de cultura, prepotência e respeito deste senhor.  

 

 Afinal, qual é o Património Imaterial mais importante de uma comunidade?

 

É seguramente, o instrumento de comunicação, a LÍNGUA, as pessoas de bom senso e carácter assim o reconhecem e exigem. 

 

Bagão Félix.png

 

Os “iluminados” usam o argumento da palavra “pharmacia”, que passou a “farmácia”, para justificar o recente acordo ortográfico… Mas esquecem que essa grafia partiu de iniciativa nacional, e não externa, no ano de 1945!

 

Tratou-se de substituir o fonema grego PH, pela letra do NOSSO alfabeto latino F (com o mesmo som). [Fernando Pessoa escrevia pharmacia, mas Fernando, e não tinha razão de ser]. 



 Também à revelia de todos, entre os quais os maiores especialistas da Língua, os escritores, os poetas e os “usuários” utilizadores da Língua em geral, fizeram alterações arbitrárias à maneira de escrever o Português, com a cumplicidade oportunista de muitos. 

 

 “Coscuvilheiro/a” passou a “Cusco/a”. “Coscuvilhice” passou a “Cusquice”. Isto é evolução.


Com o advento da informática e os computadores mais antigos a não reconhecerem correctamente os acentos, as pessoas habituaram-se a “esquecê-los”, sobretudo no serviço do “messenger”, do “MSN”, e nos velhinhos “Mirc” e “Chat”, que desconfiguravam os acentos, e o mesmo se verificava nos primeiros telemóveis no serviço de mensagens escritas.

 

Para poupar tempo e espaço, os mais jovens inventaram uma escrita estenográfica, que a maioria dos adultos não entende, mas ninguém condena esta tendência, a não ser quando se trata do ambiente escolar, obviamente!  

 

Será isto  evolução da língua, ou  dentro de anos teremos como oficial uma escrita abreviada para algumas palavras: “Que” passará a “K”; “Quê” passará a “Ke”; “Porque” passará a “Pk”; “Porquê” passará a “Pke”; “Queres” passará a “Keres” ou “Kers”; “Achas” passará a “Axas” ou “Axs”; etc., etc., etc..

 

Foi um escândalo quando passou a constar a palavra “bué”, de origem africana, no Dicionário da Língua Portuguesa!  

 

Considera-se uma aberração, mas quase todos se habituaram a dizê-la, mas há muita gente que não a diz nem a escreve, talvez apenas por não gostar mesmo da palavra. É considerada um africanismo, porque não? Isto é evolução.

 

A palavra “computador” apareceu no nosso dicionário há pouco mais de 25 anos, e é um estrangeirismo, anglicismo (“computer”). Isto é evolução.

 

Agora já temos, também no dicionário, “software” e “hardware”, anglicismos, que não conseguimos arranjar palavras em Português para adaptação. Isto é evolução.

 

Quase todos usamos, em informática, o sistema operativo “Windows”, e ninguém teve a ousadia de traduzir para “Janelas”, seria uma comédia. Isto é evolução.

 

Quando apareceram os “Compact Disc”, ainda houve algum tempo em que se pronunciava o anglicismo, mas passou a dizer-se naturalmente disco, e a designar-se o “velho” disco como “disco de vinil”, e depois agarrou-se o (ainda actual) “CD”. Isto é evolução.

 

Quando apareceram os filmes em CD de grande capacidade, designados “DVD”, ninguém tentou contornar o acrónimo e em todo o mundo diz-se DVD. Isto é evolução.

 

Muita gente não deve saber que a palavra “etapa” é um galicismo, estrangeirismo de origem francesa. Nas competições de ciclismo ninguém se dá ao trabalho de substituir esta palavra. Isto é evolução.

 

O que dizer dos anglicismos desportivos? Futebol, Basquetebol, Andebol, Voleibol (que já se diz e escreve Vólei), Hóquei, Ténis, Beisebol, Râguebi (que ainda há quem teime em dizer “reibi”, ou “reiguebi”). Isto é evolução.  

 

Os espanhóis ainda se deram ao trabalho de traduzir algumas, como “Balomano”, “Baloncesto”, e nos Estados Unidos da América chamam ao verdadeiro futebol de “soccer” (lêem “sóquer”)! Manias.  

 

No Brasil até se diz “futchibó” (eles chamam a esta palavra evolução)!


Tendo em conta a quantidade de povos e civilizações que passaram pela Península Ibérica e a povoaram, deixando vestígios ao nível da escrita e alguns ablativos, ninguém pode afirmar que a nossa língua ficou ou quer ficar estática.  

 

Temos escrita alfanumérica de origem árabe e romana, palavras de origem árabe, castelhana, anglo-saxónica e africana, por exemplo, e agora querem chamar-nos de “velhos do restelo”, “atrasados”, “preguiçosos” por sermos uns chatos que não queremos “apagar” umas consoantes e uns “h” mudos, que nunca chatearam ninguém, quando afinal os brasileiros têm o “timi”, que escrevem “time” e dizem “tchimi”, um anglicismo (“team”), enquanto nós dizemos e escrevemos “equipa”, um galicismo (“équipe”); eles dizem e escrevem “copa”, um anglicismo (“cup”), enquanto nós dizemos e escrevemos “taça”;  

 

Eles dizem e escrevem “torcida”, nós dizemos e escrevemos “adeptos”; eles dizem “vai ‘txi’ cátá”, enquanto nós dizemos “vai à merda”; eles dizem “panaca”, enquanto nós dizemos “panasca”, e afinal eles é que têm uma letra a menos!

 

Eles chamam de “galera” ao público dos concertos, nós usamos essa palavra no que se refere a camiões TIR!  

 

E por falar em CAMIÕES, eles ainda dizem “CAMINHÕES”, que pode remeter para o verbo caminhar! Para esta palavra não quiseram acordo ortográfico! 

 

 Nós dizemos e escrevemos BILIÃO, que no nosso sistema de contagem vale muito mais que Mil Milhões, enquanto eles dizem “Bilhão” (que mais parece uma bilha muito grande), e lá, vale o mesmo que cá,  Mil milhões! Para esta palavra também não quiseram acordo ortográfico!



Nós dizemos “stress”, embora escrevamos “stresse”, eles dizem “istressi” e escrevem “estresse”. Não quiseram acordo ortográfico!


Por acaso alguém deixou de escrever “Humidade”? “Hoje”? “Homem”? “Horta”? “Hábito”? Claro que não! Se eles omitem o “H” isto é lá com eles, mas respeitem as diferenças dos outros oito países de expressão portuguesa: Portugal, Angola, Moçambique, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor e até mesmo Macau e Goa. 

 

Na palavra Egipto não se pode eliminar o “p”, porque se pronuncia! Todas as pessoas que se prezam,  a pronunciam, se assim não fosse os seus habitantes não se chamariam Egípcios mas sim Egítios  ou Egícios ou outro nome qualquer ao sabor dos acordistas.

FACTO e CONTACTO  permanecem FACTO e CONTACTO, e não passará a “FATO”e CONTATO, como se vê escrito por toda a comunicação social, incluído no diário da república, jornal oficial do Estado, o que  é muito grave,  denota  que os deputados da Nação e os correspondentes órgãos de soberania, estão-se nas tintas para a sua leitura, e como  responsáveis deviam dar o exemplo, chamando à atenção para estas situações. 

 

Já dizia Voltaire: “É muito perigoso ter razão em assuntos sobre os quais as autoridades estabelecidas (regime autoritário) estão comple­tamente equivocadas.”  

 

É muito perigoso ter razão quando se denunciam palavras substituídas por outras ao sabor dos acordistas, a saber: 

 

Recepção por receção, e a palavra recessão! 

Concepção por conceção, e a palavra concessão. 

Etc., .etc. …  

 

Quando o sábio aponta a Lua, os idiotas olham para o dedo... Isto para dizer o quê? Sempre que alguém divulga estes crimes de lesa-língua, as pessoas atacam o denunciador e deixam os infractores em paz, isso só acontece num governo de faz de conta mais os seus súbditos delatores. 

 

Os verdadeiros responsáveis são os políticos e um sistema de justiça que apenas anda preocupado com os anjos e se têm ou não sexo....  

 

Quem cala consente, é bem verdade, e quem vota nestes partidos acordistas ps e psd e cds e BE, que fazem isto há anos, é cúmplice. 

 

O que eu penso é que este Acordo é uma grande merrda – com dois erres, que é como os brasileiros pronunciam! 

 

O que faz sentido é respeitar a evolução das grafias dos vários países e plasmá-las no papel.  

 

Segundo dizem os defensores do Acordo Ortográfico (aborto) ninguém é dono da Língua, mas sempre que o dizem (políticos) estão a tornar-se donos dela, com a agravante de o terem imposto à viva força (Estado, especial incidência à Educação).  

 

Não sendo ninguém dono da Língua, é preciso respeitar as especificidades dos vários donos, a Língua é a coisa mais livre que há, façam o favor de não a aprisionarem.  

 

Inventou-se um problema real que não existia, e enquanto não se acabar com ele, andaremos sempre a tropeçar e a viver nesta mixórdia inventada por analfabetos. 

 

A verdade é só uma: fizeram o AO90 porque já havia o plano de encherem Portugal de Brasileiros e assim também é mais fácil para os estrangeiros aprenderem porque não há referências etimológicas — que agora se calhar até as consideram fascistas e autoritárias. 


Isto é um produto deliberado da canalha miserável que governa este buraco — e da rataria subserviente que a apoia.  

 

E só vai lá com uma guerra entre os bons e os maus.  

 

A forma como falam os brasileiros é cheia de gerúndios, pronomes trocados e palavras desconhecidas. E é esta, a língua imposta aos portugueses…

 

Não quero ir ao dicionário quando comprar um produto para descobrir o que é “pimbolim”, cardaço, planilha, bate-papo, e muitos mais. 

 

Como todo o processo da mixórdia ortográfica vem de gente analfabeta, que cozinhou toda esta esta tramóia, temos de acabar com este sistema de coisas que coloca o PODER ABSOLUTO nas mãos da Maçonaria e dos Partidos Políticos (constituídos maioritariamente por maçons), enquanto o Povo não passa da massa ESCRAVA que sustenta tudo isto.  

 

Temos de acabar com o PODER CENTRAL, arrancar os Municípios das mãos da corrupção e entregá-los aos HOMENS BONS, sérios e honrados, que, juntamente com as famílias de cada Município, irão recolocá-los no caminho certo.» 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:17

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Quinta-feira, 15 de Abril de 2021

«Os factos que os apoiantes do Acordo Ortográfico não querem ver revelados»

 

Um texto imperdível, para todos os que se dizem amantes da Língua Portuguesa.

Um importantíssimo e magnífico texto assinado por J. Nuno A. P. S. Ferreira que põe a nu a irracionalidade da mais monumental fraude linguística de todos os tempos, em todo o mundo: o mal dito e escrito AO90.

 

E isto acontece em Portugal.

Pobre país quando cai nas mãos de pobres de espírito (não confundir com pobres em espírito, que é outro conceito).

 

AO90.png

 

Discórdia Ortográfica

 

1 - A unificação que não existe

 

Não existe nenhuma Língua global que seja unificada.

Admitindo que seremos (erradamente) pioneiros numa iniciativa deste tipo, fica apenas a certeza de que haverá o dia em que um povo adoptará numa nova palavra ou ortografia não adoptada por outros.

A unificação é uma miragem que o tempo se encarregará de levantar.

 

Ficará apenas a certeza dos erros cometidos.

As Línguas, faladas ou escritas, não pertencem a nenhum governo.

Pertencem ao povo que as falam e escrevem.

A fala e a escrita estão tão vivas quanto o povo, e sofrem as influências do ambiente que as rodeia.

 

Em Portugal diz‐se “betão” do francês “béton”, enquanto que no Brasil usa‐se um “concreto” do inglês “concrete”.

Ainda no Brasil, “espingarda” é “rifle” (“rifle” em inglês), “travões” são “breques” (“breaks” em inglês), e “congéneres” são “contrapartes” (“counterparts” em inglês).

 

Demonstra‐se apenas a ignorância a respeito das regras e práticas das restantes Línguas que se querem como exemplo, mas também a respeito na nossa própria Língua.

 

Em discussão, esta ignorância fica patente quando os defensores do Acordo Ortográfico referem como exemplo a seguir uma Língua Inglesa que, segundo estes, não têm diferenças de ortografia entre os vários países com esta Língua Oficial.

Nada poderia estar mais errado.

Existe “color” nos USA e “colour” no UK, “gray” e “grey”, “modeling” e “modelling”, e muitas outras diferenças ortográficas.

Isto para além das análogas a um “betão/concreto” como é o caso do “solicitor/lawyer”.

 

Não existe qualquer mal na ignorância, apenas na omissão de se informar antes de argumentar.

 

A verdadeira unificação é a aceitação das diferenças. É entender que as diferenças contribuem para um enriquecimento da Língua.

 

Quantos mais países falarem a Língua, mais contribuições existirão para o enriquecimento da mesma.

Isto é riqueza linguística, cada país com a sua variante:

O que o Acordo Ortográfico promete, é a substituição do “Português (Brasil)” e do “Português (Portugal)” por um tímido e fraco “Português”.

 

No entanto, aquilo que deveríamos almejar seria um “Português (Brasil)” e “Português (Portugal)” acrescidos de: • “Português (Angola)” • “Português (Cabo Verde)” • “Português (Guiné)” • “Português (Macau)” • “Português (Moçambique)” • “Português (São Tomé e Príncipe)” • “Português (Timor)”

E já agora, porque não: • “Português (Galiza)” • “Português (Goa)”

 

Os mais atentos terão certamente reparado que a versão que possuo do Microsoft Word é em inglês.

Lá chegaremos em momento oportuno.

Outro aspecto, que só pode ser distracção, é a eliminação das ditas consoantes mudas, sustentada em argumentação de facilidade de aprendizagem.

Resta saber o que fica dificultado.

Se actualmente se escreve “colecção” (do latim “collectio”), e se pretende mudar para “coleção”, gostaria que explicassem como facilita a aprendizagem de Línguas estrangeiras (ou a Língua Portuguesa por estrangeiros), quando temos “collection” em inglês e “collection” em francês.

Voltamos à base do facilitismo.

A iliteracia é elevada.

Escreve‐se mal Português.

Mudar o sistema de ensino está fora de questão.

Muda‐se a Língua.

Albarda‐se o burro à vontade do dono.

 

Enquanto nos outros países se aumenta a exigência do sistema de ensino, de modo a produzir recursos humanos com maiores competências, em Portugal promove‐se as passagens de ano administrativas.

O resultado de anos de facilitismo, tanto em Portugal como no Brasil, salta à vista, como facilmente se pode observar:

 

2 - Força da Língua

 

Muito se fala em torno da Língua Portuguesa ser a quinta ou a sexta mais falada em todo o mundo.

Como se a quantidade de pessoas fosse assim tão relevante quanto isso.

Na lógica da quantidade temos à frente do Português o Mandarim, Hindi, Castelhano, Inglês e, dependendo de como se conta, o Árabe.

Mas será a quantidade assim tão importante, tão relevante? Ou será a qualidade?

Não será mais importante a qualidade dos artigos, documentos, livros originais escritos nessa mesma Língua? Não será mais importante a excelência profissional e intelectual das pessoas com essa Língua nativa?

 

SIC.png

 E assim anda a "inteletualidade" da comunicação social televisiva…

 

Onde está o Mandarim? O Hindi? Alemão, Francês, Polaco, Japonês, Italiano e Holandês à frente do Português? Como?!

 

Parece óbvio que o desenvolvimento económico, tecnológico e cultural dos países é mais importante para a projecção de uma Língua do que a quantidade de falantes.

Nem entendo como é possível pensar o contrário.

Repare‐se como o Espanhol (Castelhano) foi prejudicado (de segunda Língua mais falada para nono lugar na WIKIPÉDIA) pelo fraco desenvolvimento da generalidade dos países com esta Língua materna.

Se Portugal pretende dar projecção mundial à Língua Portuguesa, não alcançará o sucesso através de Acordos Ortográficos, mas sim através do apoio económico, tecnológico e cultural aos restantes países de Expressão Portuguesa.

O problema é que ainda nem nos conseguimos apoiar a nós mesmos.

Urge resolver o problema do sistema de ensino Português.

Aumentar o nível de exigência.

Acabar com os facilitismos.

 

3 - Exemplos de bom senso

 

Ainda ao abrigo da ignorância, há quem torture os números para que estes digam que a Língua Portuguesa está em oitavo lugar na WIKIPÉDIA devido às diferenças ortográficas, que sem elas estaríamos num lugar muito mais honroso.

Como, uma vez mais, o problema não é a ignorância, mas sim a falta de pesquisa de informação que sustente a argumentação, aqui fica, preto no branco, essa mesma informação em falta.

Informação esta que denota o bom senso e elevação demonstrado por uma comunidade de colaboradores na WIKIPÉDIA que terá, certamente, um elevado nível cultural.

Vejamos de que se trata: «Wikipédia: Versões da língua portuguesa (Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre)

 

O Português escrito em Portugal, Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe, Guiné‐Bissau, Angola, Moçambique, Timor‐Leste e Macau (chamado de ʺportuguês europeuʺ) tem diferença sensível em relação ao português escrito no Brasil (chamado de ʺportuguês brasileiroʺ). Ainda, entre cada país do considerado ʺportuguês europeuʺ há diferenças locais relevantes.

 

No próprio território brasileiro, entre uma região e outra, também há diferenças no modo da escrita e nas gírias locais.

Por exemplo, na página principal aparece em vários sítios a palavra ʺprojectoʺ.

Esta palavra está escrita na norma seguida em Portugal e na África.

No Brasil, escreve‐se ʺprojetoʺ, omitindo a letra ʺcʺ.

Qual das duas versões está correcta? Ambas.

Simplesmente uma versão é usada no Brasil e outra em Portugal, África e territórios asiáticos.

 

Como acontece nas outras grandes línguas internacionais, não existem versões superiores ou inferiores: são apenas diferentes.

Por isso, não veja algo que não está escrito no seu português como incorrecto apenas por isso.

Este projecto é a Wikipédia em língua portuguesa, também chamada de Wikipédia lusófona.

Ou seja, é de todos os falantes do português, seja qual for a norma que utilizam.

Consequentemente, mudar da norma ʺAʺ para a norma ʺBʺ não é bem‐vindo, porque isso implica uma falta de respeito com os utilizadores das edições anteriores. (...)»

 

Se os defensores do Acordo Ortográfico partilhassem deste mesmo bom senso e elevação, e estivessem despidos de outros interesses que não a riqueza da Língua Portuguesa, não haveria certamente lugar a um tão ridículo acordo.

 

Mas ainda se pode ir mais longe.

Podemos chegar ao topo da lista: a Língua Inglesa. «National varieties of English (See also: Wikipédia: Manual of Style (spelling).

The English Wikipedia has no general preference for a major national variety of the language. No variety is more correct than the others. Users are asked to take into account that the differences between the varieties are superficial. Cultural clashes over spelling and grammar are avoided by using four simple guidelines. The accepted style of punctuation is covered in the punctuation section. Consistency within articles Each article should consistently use the same conventions of spelling and grammar. For example, center and centre are not to be used in the same article. The exceptions are: quotations (the original variety is retained);   titles (the original spelling is used, for example United States Department of Defense and Australian Defence Force); and   explicit comparisons of varieties of English.   Strong national ties to a topic An article on a topic that has strong ties to a particular English‐speaking nation uses the appropriate variety of English for that nation. For example:

 

American Civil War—(American English)   Tolkienʹs The Lord of the Rings—(British English)   European Union institutions—(British or Irish English)   Australian Defence Force—(Australian English)   Vancouver—(Canadian English)   Retaining the existing variety If an article has evolved using predominantly one variety, the whole article should conform to that variety, unless there are reasons for changing it on the basis of strong national ties to the topic. In the early stages of writing an article, the variety chosen by the first major contributor to the article should be used, unless there is reason to change it on the basis of strong national ties to the topic. Where an article that is not a stub shows no signs of which variety it is written in, the first person to make an edit that disambiguates the variety is equivalent to the first major contributor. (…)»

 

Como se pode observar, exactamente os mesmos problemas (ou ainda maiores, com os problemas derivados das unidades de medida), e ainda assim conseguem ter o maior número de artigos na WIKIPÉDIA.

 

4 - Perigos e certezas

 

Muitos são os que olham para este Acordo Ortográfico como uma oportunidade de negócio.

Um longo caminho se percorreu para evitar que os manuais escolares fossem substituídos anualmente.

Neste momento as editoras esfregam as mãos de contentes para terem a oportunidade de substituir novamente todos os manuais escolares. Em 2009 os do primeiro ano, em 2010 os do segundo, e assim sucessivamente.

Poucos são aqueles que se apercebem dos perigos vindos de Oeste.

Grandes editoras, com matérias‐primas mais baratas, mão‐de‐obra ainda mais barata e sem garantias de qualificações apropriadas.

Por coincidência, ainda há pouco tempo peguei em alguns manuais dos tempos da universidade.

Em dois manuais de apoio (probabilidade e estatística), um era de origem brasileira.

Desconheço a situação actual a nível universitário, mas a nível profissional sei que a grande maioria de traduções para Português de livros técnicos de informática são em Português do Brasil.

Mas não se restringe a livros impressos.

Não é necessário estar muito atento para entender as dificuldades que os tradutores Portugueses têm em Portugal para encontrar trabalho, com a concorrência dos congéneres Brasileiros.

Com o Acordo Ortográfico a situação só tende a agravar‐se.

 

É um Acordo muito mais vantajoso para o Brasil que para Portugal.

Não só pela mão‐de‐obra mais barata, como também pela facilidade na desvalorização da moeda para facilitar as exportações.

E quem fala em livros, fala em filmes, em programas de computador, etc.

 

TVI.png

As legendagens estão entregues a mão-de-obra barata brasileira daí este “de dia 23”…

 

Estes são os perigos.

Quanto às certezas, apenas as de que não existe nenhum Acordo Ortográfico que obrigue as pessoas a mudar o modo como escrevem, nem que obrigue a ler o que quer que seja que esteja nessa forma imposta.

Não posso falar pelos outros Portugueses, mas, no que me diz respeito, posso afirmar que continuarei a escrever do mesmo modo, e que evitarei comprar tudo o que não esteja na forma pré‐Acordo.

Aliás, a esse respeito pouco irá sofrer alguma alteração.

Como se pôde observar, faço os possíveis por ter software apenas em Inglês, sempre que tenho possibilidade de escolha.

Quando não encontro em lojas nacionais, compro através da Internet no UK.

Prática que adquiri desde que fui confrontado nos finais dos anos 80 com a tradução de “help” por “socorro”.

O mesmo se passa com os livros técnicos.

O único livro técnico que tenho em Português do Brasil está vergonhosamente escondido atrás de muitos outros, e apenas consta na minha biblioteca porque foi oferecido num curso de formação que frequentei.

Nunca o teria comprado.

Livros técnicos em Português (poucos) só mesmo os de autores portugueses.

Canais de TV sofrem do mesmo tratamento.

A evitar as dobragens e as legendagens de fraca qualidade.

Para telenovelas não há pachorra.

A avaliar pela quantidade e qualidade dos opositores ao Acordo Ortográfico, fico com a sensação de que a única garantia é que este Acordo irá conseguir afastar ainda mais estas mais‐valias para a Língua Inglesa, empobrecendo cada vez mais a Língua Portuguesa.

Imagino que a tendência seja para haver cada vez mais crianças a frequentar colégios Ingleses, Franceses. Espanhóis e Alemães.

 

Realmente haverá muita gente a lucrar com este Acordo Ortográfico.

A perder só fica o País.

Penso mesmo existir uma excelente oportunidade de negócio, a editar livros em Português pré‐Acordo.

Quem sabe se não poderá chegar‐se ao extremo de criar um sistema de ensino paralelo. E com a certeza de uma qualidade claramente superior. Também imagino ser difícil fazer pior que o sistema de ensino que existe actualmente.

 

5 - Referendo

 

Como já foi referido, a Língua Portuguesa não é propriedade do Estado, nem de nenhum Governo, e muito menos de um qualquer partido político.

A nossa Língua apenas ao povo pertence, seja ele Português, Brasileiro ou outro.

Não me recordo, tão pouco, de um qualquer partido político ter feito referência à sua posição a respeito do Acordo Ortográfico em campanha para qualquer uma das eleições legislativas.

Se o Tratado de Lisboa poderá ser considerado como uma opção política, já o mesmo não se passa com esta questão da Língua que apenas ao povo diz respeito.

Tal ingerência apenas pode ser legitimada através da consulta popular num referendo.

 

6 - Autoria

 

J. Nuno A. P. S. Ferreira

 

Fonte:

http://fs1.nuno.net/DiscordiaOrtografica.pdf

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:25

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Quarta-feira, 8 de Abril de 2020

«Defender a Língua Portuguesa é defender a parte crucial da nossa existência como povo soberano e independente»

 

Em tempo de crise sanitária, económica e financeira, não podemos baixar a guarda, na luta contra esta outra crise, que abala a soberania e a independência portuguesas: a venda da Língua Portuguesa ao Brasil.

 

«Defender a Língua Portuguesa é defender a parte crucial da nossa existência como povo soberano e independente». Quem o diz é um amigo meu, Doutor em Engenharia Civil, Professor Catedrático em Angola, onde além dos muitos dialectos locais, também se fala e escreve Português culto e europeu, o qual não quis identificar-se, por motivos óbvios.

 

Um texto crucial, absolutamente obrigatório ler e reter e nele reflectir, para que possamos continuar a ser europeus e, sobretudo, portugueses.

 

PORTUGAL.jpg

 

Os que acham que Portugal é um país sul-americano olhem bem para este mapa: Portugal é um país que, com a Espanha, constitui a Península Ibérica, situada na parte mais ocidental de um continente chamado Europa. Em Espanha fala-se Castelhano, Galego, Catalão e Basco; em Portugal, fala-se Português (uma das primeiras línguas cultas da Europa medieval a par do Provençal), e Mirandês (as duas Línguas oficiais portuguesas) somando-se a estas, mais quatro dialectos – Sendinês, Guadramilês, Riodonorês e Minderico (este último em extinção).

 

Esse meu Amigo, ausente há vários anos de Portugal, e cujo nome é considerado por ele um aspecto relativamente secundário, visitou o meu Blogue e inteirou-se da luta que se trava em Portugal em defesa da Língua Portuguesa.

 

Inacreditável, não é?

 

É que os Portugueses já foram chamados a defender o território contra a investida de vários invasores, entre eles, Mouros, Espanhóis, Ingleses e Franceses, na sua fase histórica. Já tiveram de defender direitos, ideais e ideias. Mas jamais passaria pela cabeça de ninguém (daí ser caso único, desde que o mundo é mundo) um povo (ou parte dele, porque há sempre os seguidistas, aqueles que seguem alguma coisa, seja boa ou má,sem nunca se questionarem ou fazerem juízos de valor) ter de vir defender a sua Língua Materna, apenas porque uns poucos ignorantes (e como bastam uns poucos!) querem substituí-la por uma ortografia estrangeira.

 

Pois esse meu Amigo, a propósito de um artigo onde apresento argumentos assertivos contra esta “invasão de bárbaros acordistas”, escreveu um texto, em Bom Português, que nos devolve a confiança no povo que já fomos, mas ainda podemos ser. Uma lição daquela História que já não se ensina nas escolas portuguesas e, por isso, tanto faz, como tanto fez, escrever esta ou aquela Língua, desde que se facilite a escrita, que é o que mais me dói ouvir da boca dos que aceitaram, sem pestanejar, a ortografia brasileira, com a supressão das consoantes mudas com uma função diacrítica, e de acentos e hífens, onde tudo isso faz falta, para se compreender a Língua.

 

Escreve então esse meu Amigo:

 

«De todos os modos o essencial do que ali diz é certamente o que repetirá (como eu, até à exaustão) em todos os seus escritos, defendendo aquilo que é a parte crucial da nossa existência como Povo Soberano e Independente, a nossa Língua.

 

Sem saudosismos ou passadismos retrógrados, penso que nos falta, na actualidade, como Povo, o reconhecimento daquilo que fomos capazes de fazer, quando libertos de amarras e de constrangimentos que não os nossos. Começámos por ser os primeiros a libertar a nossa parte da Península da presença dos muçulmanos, enquanto os nossos vizinhos só o fizeram quase 250 anos depois. Partimos para o mar, e embora não tivéssemos sido os primeiros (os Vikings, segundo parece, haviam-no feito com Eric, o Vermelho, por alturas do ano 1000, mas de resto sem quaisquer consequências sociais ou económicas), fizemo-lo em todas as direcções e demos início à globalização, há quase 600 anos. Dobrámos a África, chegámos à índia, à China, à Austrália e ao Japão, descobrimos o Novo Mundo (acredito, porque bem provada, na tese de Mascarenhas Barreto sobre a naturalidade portuguesa de Cristóbal Colón) e dominámos uma boa parte da África por onde tínhamos de passar nas nossas andanças para Leste. 

 

Deixámos, por onde andámos, uma forma de viver única, não massacrámos, nem eliminámos fisicamente nenhum povo da Terra, como fizeram americanos e espanhóis, e a forma como nos relacionámos com todo o Mundo foi, essencialmente, feita na base da diplomacia. Houve naturalmente confrontos, mas quase nunca provocados por nós, que basicamente nos defendemos ou ajudámos a defender os nossos aliados. Deixámos atrás de nós um legado de saudade e de um humanismo imenso. Ainda hoje as gentes de Goa, de Malaca ou de Timor, recordam com um enorme respeito os Portugueses, para não falar na forma como somos recebidos no interior de Angola ou Moçambique pelos mais-velhos, aqueles que tiveram a oportunidade de conviver connosco. Eu sou testemunha disso, todos os dias em Angola. 

 

Sem nacionalismos bacocos, poderemos dizer que atrás de nós ficou um legado muito peculiar, feito com erros, com imperfeições, certamente, mas com muita entrega, muito empenho, dedicação e carinho. Creio que a palavra "paternalismo" tem inteiro cabimento na forma de nos relacionarmos com os outros povos, não tanto na parte que pode significar superioridade, mas sobretudo naquilo que exprime aproximação e mesmo afecto. E é curioso verificar que é como Pai que olham para nós.

 

Para um povo que tinha 1.5 milhões de almas ou pouco mais no início da arrancada, vivemos num mundo onde quase 300 milhões de pessoas falam a nossa língua. Que é deles também, sem deixar de ser a NOSSA, e só perdemos identidade, só nos deslustramos perante todos eles se deixarmos de ser quem sempre fomos e tentarmos agora, como muitos imbecis procuram, disfarçar-nos atrás das cortinas da História, procurando fazer-nos desaparecer da vida desses povos, desvanecer o nosso carácter, quase a pedir desculpa de existirmos. Essa gente, que nos ataca e pretende afinal destruir-nos por dentro, não é Portuguesa, essa gente faz-se de Portuguesa por razões de interesse, e por isso porfia em contestar o que fomos, negar os nossos sucessos, tentando com isso apagar-nos da História. E a Língua, essa forma NOSSA de comunicarmos e de veicularmos o que somos, disseminar-se-ia de algum modo numa multidão de gentes, vindo a perder-se assim o rasto das suas origens.

 

Nos tempos que correm, em que vemos todos os dias soçobrar um pouco mais tudo aquilo que tem sido ao longo destes 875 anos de história colectiva, a razão que nos aproxima e justifica entre os demais povos da Terra, é com esperança redobrada que percebemos que não estamos sós e que aqui e ali se levantam cada vez mais vozes indignadas que protestam. E por isso me apraz muito participar neste seu blogue, onde encontro a primeira linha de defesa dos valores que são nossos, daquilo que nos pertence.

 

E diz mais à frente:

 

Foi esse querer que nos levou para longe, e que dá força ao pensamento de Gilberto Freire, o ilustre sociólogo brasileiro que definia o português "como alguém que nasce em Portugal e vai morrer não se sabe aonde". Talvez seja essa uma parte do nosso drama, o nosso verdadeiro estigma, saímos e não voltamos, acreditando que a retaguarda estivesse sempre protegida. Hoje, regressados ao quinhão natal vindos das 7 partidas do Mundo, espantamo-nos com a recepção fria quando não agreste com que nos acolhem e mal entendemos a vontade que impera no desfazer de tudo o que fomos e ainda somos. A Língua é o espaço vital, o traço de união que liga todo o Mundo onde já vivemos soberanamente e onde ainda sobrevivemos por força da nossa razão e de modo algum pela razão da força, que já não temos, ou quase nunca tivemos. Neste aspecto eu não posso deixar de me maravilhar com a capacidade extraordinária de um Paiva Couceiro, que acompanhado de meia dúzia de auxiliares (os chamados sipaios), desceu o Rio Cubango em Angola e trouxe para Portugal os povos de um território imenso (maior do que o território que nos sobra hoje), designado como Cuando-Cubango, construindo os fortes de Cuangar, Calai, Dirico e Mucusso, com duas ou três praças europeias em cada um. Ou o extraordinário Henrique de Carvalho que "abraçou" as Lundas (também maiores do que Portugal), sozinho, em conversações com os muatas quiôcos, e as ligou à nossa bandeira.

 

Onde está essa gente? Onde vive o espírito desses homens que olhavam para longe e impunham aos demais, sem usar necessariamente da força, a sua maneira de pensar? Fizemos um Brasil imenso, o maior país da América do Sul, com uma decisão e um querer impressionantes, resistindo ao "esfrangalhamento" em que caíram os territórios espanhóis (vale a pena ver o site Brasil Paralelo onde jovens historiadores brasileiros se fascinam a perceber o que lhes foi escondido por tantos anos). São eles as nossas melhores testemunhas.

 

Há uns anos a esta parte foi descoberto nas florestas da Amazónia uma fortaleza feita em cantaria de granito, onde se destacava uma placa que tinha os seguintes dizeres: - “Sua Majestade D. Pedro II, Rei de Portugal e dos Algarves (segue-se toda a panóplia de títulos que bem conhecemos)… queria que aqui se fizesse um forte. E fez-se.”

 

E hoje parece que nos envergonhamos de olhar para trás. Parece ser incorrecto tomar como exemplo os exemplos do passado, ou referir a grandeza única do nosso querer e do nosso pundonor. Não se trata de nacionalismos exacerbados ou fora do tempo, trata-se tão-somente de percebermos quem somos e porque estamos aqui. E olhando à nossa volta, percebemos que a estrénua resistência e enorme vontade que se lê e entende por detrás da evidente pobreza cultural da nossa gente, apenas demonstra que faltam os líderes, os guias que apontam os caminhos e a quem ninguém ousa desobedecer. Como dizia Pessoa ao terminar a Mensagem: - «mais que o mostrengo que a minha alma teme, manda a vontade que me ata ao leme, d’El-Rei D. João II». Ou lembrando o épico, no mais conhecido: - "um fraco rei faz fraca a forte gente"...

 

Será que nem a Língua, nem aquilo que falamos e que traduz quem somos, resiste ao ímpeto destruidor da “canalha”(*)?

 

«Floresça, fale, cante e ouça-se e Viva a Portuguesa Língua. E já, aonde for, Senhora vá de si, Soberba e Altiva…» (Lembro António Ferreira, no já distante século XVI, na carta que então escrevia a Pêro de Andrade Caminha, e pergunto-me: - o que nos aconteceu, que maldição é esta? Como pudemos chegar a este ponto, a esta encruzilhada que parece fatal, e onde o Futuro se decide em todos os momentos?).

 

Não faço do Passado uma forma de viver. Mas tenho certo que o Presente e o Futuro só existem para quem tem Passado.

 

Será talvez esta a explicação do nosso descontentamento, não sei...»

 

Um Amigo

 

(*) Como melancolicamente se queixava D. Pedro V aos seus amigos, dos ataques, já nesse tempo incisivos, dos predadores de serviço.

 

***

 

Pois é! Também não sei, meu caro Amigo.

 

Mas uma coisa eu sei, nós dois sabemos: «Por detrás da evidente pobreza cultural da nossa gente, está realmente a falta de verdadeiros líderes, os guias que apontam os caminhos e a quem ninguém ousa desobedecer».

 

Sabemos que os «fracos governantes, que actualmente nos (des)governam fazem fraca a forte gente que ainda somos».

 

Sabemos também que destes fracos governantes não rezará a nossa gloriosa História, pois nela serão perpetuados como os que tentaram destruir uma das primeiras línguas cultas da Europa medieval – a Língua Portuguesa, que continuaremos a defender até que a Irracionalidade dê lugar à Razão.

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 12:17

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Quarta-feira, 27 de Junho de 2018

«Os factos que os apoiantes do Acordo Ortográfico não querem ver revelados»

 

Um texto imperdível, para todos os que se dizem amantes da Língua Portuguesa.

Um importantíssimo e magnífico texto assinado por J. Nuno A. P. S. Ferreira que põe a nu a irracionalidade da mais monumental fraude linguística de todos os tempos, em todo o mundo: o mal dito AO90.

E isto acontece em Portugal.

Pobre país quando cai nas mãos de pobres de espírito (não confundir com pobres em espírito, que é outro conceito).

 

AO90.png

 

Discórdia Ortográfica

 

1 - A unificação que não existe

 

Não existe nenhuma Língua global que seja unificada.

Admitindo que seremos (erradamente) pioneiros numa iniciativa deste tipo, fica apenas a certeza de que haverá o dia em que um povo adoptará numa nova palavra ou ortografia não adoptada por outros.

A unificação é uma miragem que o tempo se encarregará de levantar.

Ficará apenas a certeza dos erros cometidos.

As Línguas, faladas ou escritas, não pertencem a nenhum governo.

Pertencem ao povo que as falam e escrevem.

A fala e a escrita estão tão vivas quanto o povo, e sofrem as influências do ambiente que as rodeia.

Em Portugal diz‐se “betão” do francês “béton”, enquanto que no Brasil usa‐se um “concreto” do inglês “concrete”.

Ainda no Brasil, “espingarda” é “rifle” (“rifle” em inglês), “travões” são “breques” (“breaks” em inglês), e “congéneres” são “contrapartes” (“counterparts” em inglês).

Demonstra‐se apenas a ignorância a respeito das regras e práticas das restantes Línguas que se querem como exemplo, mas também a respeito na nossa própria Língua.

 

Em discussão, esta ignorância fica patente quando os defensores do Acordo Ortográfico referem como exemplo a seguir uma Língua Inglesa que, segundo estes, não têm diferenças de ortografia entre os vários países com esta Língua Oficial.

Nada poderia estar mais errado.

Existe “color” nos USA e “colour” no UK, “gray” e “grey”, “modeling” e “modelling”, e muitas outras diferenças ortográficas.

Isto para além das análogas a um “betão/concreto” como é o caso do “solicitor/lawyer”.

 

Não existe qualquer mal na ignorância, apenas na omissão de se informar antes de argumentar.

 

A verdadeira unificação é a aceitação das diferenças. É entender que as diferenças contribuem para um enriquecimento da Língua.

 

Quantos mais países falarem a Língua, mais contribuições existirão para o enriquecimento da mesma.

Isto é riqueza linguística, cada país com a sua variante:

O que o Acordo Ortográfico promete, é a substituição do “Português (Brasil)” e do “Português (Portugal)” por um tímido e fraco “Português”.

No entanto, aquilo que deveríamos almejar seria um “Português (Brasil)” e “Português (Portugal)” acrescidos de: • “Português (Angola)” • “Português (Cabo Verde)” • “Português (Guiné)” • “Português (Macau)” • “Português (Moçambique)” • “Português (São Tomé e Príncipe)” • “Português (Timor)”

E já agora, porque não: • “Português (Galiza)” • “Português (Goa)”

Os mais atentos terão certamente reparado que a versão que possuo do Microsoft Word é em inglês.

Lá chegaremos em momento oportuno.

Outro aspecto, que só pode ser distracção, é a eliminação das ditas consoantes mudas, sustentada em argumentação de facilidade de aprendizagem.

Resta saber o que fica dificultado.

Se actualmente se escreve “colecção” (do latim “collectio”), e se pretende mudar para “coleção”, gostaria que explicassem como facilita a aprendizagem de Línguas estrangeiras (ou a Língua Portuguesa por estrangeiros), quando temos “collection” em inglês e “collection” em francês.

Voltamos à base do facilitismo.

A iliteracia é elevada.

Escreve‐se mal Português.

Mudar o sistema de ensino está fora de questão.

Muda‐se a Língua.

Albarda‐se o burro à vontade do dono.

Enquanto nos outros países se aumenta a exigência do sistema de ensino, de modo a produzir recursos humanos com maiores competências, em Portugal promove‐se as passagens de ano administrativas.

O resultado de anos de facilitismo, tanto em Portugal como no Brasil, salta à vista, como facilmente se pode observar:

 

2 - Força da Língua

 

Muito se fala em torno da Língua Portuguesa ser a quinta ou a sexta mais falada em todo o mundo.

Como se a quantidade de pessoas fosse assim tão relevante quanto isso.

Na lógica da quantidade temos à frente do Português o Mandarim, Hindi, Castelhano, Inglês e, dependendo de como se conta, o Árabe.

Mas será a quantidade assim tão importante, tão relevante? Ou será a qualidade?

Não será mais importante a qualidade dos artigos, documentos, livros originais escritos nessa mesma Língua? Não será mais importante a excelência profissional e intelectual das pessoas com essa Língua nativa?

 

SIC.png

 E assim anda a "inteletualidade" da comunicação social televisiva…

 

Onde está o Mandarim? O Hindi? Alemão, Francês, Polaco, Japonês, Italiano e Holandês à frente do Português? Como?!

 

Parece óbvio que o desenvolvimento económico, tecnológico e cultural dos países é mais importante para a projecção de uma Língua do que a quantidade de falantes.

Nem entendo como é possível pensar o contrário.

Repare‐se como o Espanhol (Castelhano) foi prejudicado (de segunda Língua mais falada para nono lugar na WIKIPÉDIA) pelo fraco desenvolvimento da generalidade dos países com esta Língua materna.

Se Portugal pretende dar projecção mundial à Língua Portuguesa, não alcançará o sucesso através de Acordos Ortográficos, mas sim através do apoio económico, tecnológico e cultural aos restantes países de Expressão Portuguesa.

O problema é que ainda nem nos conseguimos apoiar a nós mesmos.

Urge resolver o problema do sistema de ensino Português.

Aumentar o nível de exigência.

Acabar com os facilitismos.

 

3 - Exemplos de bom senso

 

Ainda ao abrigo da ignorância, há quem torture os números para que estes digam que a Língua Portuguesa está em oitavo lugar na WIKIPÉDIA devido às diferenças ortográficas, que sem elas estaríamos num lugar muito mais honroso.

Como, uma vez mais, o problema não é a ignorância, mas sim a falta de pesquisa de informação que sustente a argumentação, aqui fica, preto no branco, essa mesma informação em falta.

Informação esta que denota o bom senso e elevação demonstrado por uma comunidade de colaboradores na WIKIPÉDIA que terá, certamente, um elevado nível cultural.

Vejamos de que se trata: «Wikipédia: Versões da língua portuguesa (Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre)

 

O Português escrito em Portugal, Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe, Guiné‐Bissau, Angola, Moçambique, Timor‐Leste e Macau (chamado de ʺportuguês europeuʺ) tem diferença sensível em relação ao português escrito no Brasil (chamado de ʺportuguês brasileiroʺ). Ainda, entre cada país do considerado ʺportuguês europeuʺ há diferenças locais relevantes.

 

No próprio território brasileiro, entre uma região e outra, também há diferenças no modo da escrita e nas gírias locais.

Por exemplo, na página principal aparece em vários sítios a palavra ʺprojectoʺ.

Esta palavra está escrita na norma seguida em Portugal e na África.

No Brasil, escreve‐se ʺprojetoʺ, omitindo a letra ʺcʺ.

Qual das duas versões está correcta? Ambas.

Simplesmente uma versão é usada no Brasil e outra em Portugal, África e territórios asiáticos.

Como acontece nas outras grandes línguas internacionais, não existem versões superiores ou inferiores: são apenas diferentes.

Por isso, não veja algo que não está escrito no seu português como incorrecto apenas por isso.

Este projecto é a Wikipédia em língua portuguesa, também chamada de Wikipédia lusófona.

Ou seja, é de todos os falantes do português, seja qual for a norma que utilizam.

Consequentemente, mudar da norma ʺAʺ para a norma ʺBʺ não é bem‐vindo, porque isso implica uma falta de respeito com os utilizadores das edições anteriores. (...)»

 

Se os defensores do Acordo Ortográfico partilhassem deste mesmo bom senso e elevação, e estivessem despidos de outros interesses que não a riqueza da Língua Portuguesa, não haveria certamente lugar a um tão ridículo acordo.

 

Mas ainda se pode ir mais longe.

Podemos chegar ao topo da lista: a Língua Inglesa. «National varieties of English (See also: Wikipédia: Manual of Style (spelling).

The English Wikipedia has no general preference for a major national variety of the language. No variety is more correct than the others. Users are asked to take into account that the differences between the varieties are superficial. Cultural clashes over spelling and grammar are avoided by using four simple guidelines. The accepted style of punctuation is covered in the punctuation section. Consistency within articles Each article should consistently use the same conventions of spelling and grammar. For example, center and centre are not to be used in the same article. The exceptions are: quotations (the original variety is retained);   titles (the original spelling is used, for example United States Department of Defense and Australian Defence Force); and   explicit comparisons of varieties of English.   Strong national ties to a topic An article on a topic that has strong ties to a particular English‐speaking nation uses the appropriate variety of English for that nation. For example:

 

American Civil War—(American English)   Tolkienʹs The Lord of the Rings—(British English)   European Union institutions—(British or Irish English)   Australian Defence Force—(Australian English)   Vancouver—(Canadian English)   Retaining the existing variety If an article has evolved using predominantly one variety, the whole article should conform to that variety, unless there are reasons for changing it on the basis of strong national ties to the topic. In the early stages of writing an article, the variety chosen by the first major contributor to the article should be used, unless there is reason to change it on the basis of strong national ties to the topic. Where an article that is not a stub shows no signs of which variety it is written in, the first person to make an edit that disambiguates the variety is equivalent to the first major contributor. (…)»

 

Como se pode observar, exactamente os mesmos problemas (ou ainda maiores, com os problemas derivados das unidades de medida), e ainda assim conseguem ter o maior número de artigos na WIKIPÉDIA.

 

4 - Perigos e certezas

 

Muitos são os que olham para este Acordo Ortográfico como uma oportunidade de negócio.

Um longo caminho se percorreu para evitar que os manuais escolares fossem substituídos anualmente.

Neste momento as editoras esfregam as mãos de contentes para terem a oportunidade de substituir novamente todos os manuais escolares. Em 2009 os do primeiro ano, em 2010 os do segundo, e assim sucessivamente.

Poucos são aqueles que se apercebem dos perigos vindos de Oeste.

Grandes editoras, com matérias‐primas mais baratas, mão‐de‐obra ainda mais barata e sem garantias de qualificações apropriadas.

Por coincidência, ainda há pouco tempo peguei em alguns manuais dos tempos da universidade.

Em dois manuais de apoio (probabilidade e estatística), um era de origem brasileira.

Desconheço a situação actual a nível universitário, mas a nível profissional sei que a grande maioria de traduções para Português de livros técnicos de informática são em Português do Brasil.

Mas não se restringe a livros impressos.

Não é necessário estar muito atento para entender as dificuldades que os tradutores Portugueses têm em Portugal para encontrar trabalho, com a concorrência dos congéneres Brasileiros.

Com o Acordo Ortográfico a situação só tende a agravar‐se.

 

É um Acordo muito mais vantajoso para o Brasil que para Portugal.

Não só pela mão‐de‐obra mais barata, como também pela facilidade na desvalorização da moeda para facilitar as exportações.

E quem fala em livros, fala em filmes, em programas de computador, etc.

 

TVI.png

As legendagens estão entregues a mão-de-obra barata brasileira daí este “de dia 23”…

 

Estes são os perigos.

Quanto às certezas, apenas as de que não existe nenhum Acordo Ortográfico que obrigue as pessoas a mudar o modo como escrevem, nem que obrigue a ler o que quer que seja que esteja nessa forma imposta.

Não posso falar pelos outros Portugueses, mas, no que me diz respeito, posso afirmar que continuarei a escrever do mesmo modo, e que evitarei comprar tudo o que não esteja na forma pré‐Acordo.

Aliás, a esse respeito pouco irá sofrer alguma alteração.

Como se pôde observar, faço os possíveis por ter software apenas em Inglês, sempre que tenho possibilidade de escolha.

Quando não encontro em lojas nacionais, compro através da Internet no UK.

Prática que adquiri desde que fui confrontado nos finais dos anos 80 com a tradução de “help” por “socorro”.

O mesmo se passa com os livros técnicos.

O único livro técnico que tenho em Português do Brasil está vergonhosamente escondido atrás de muitos outros, e apenas consta na minha biblioteca porque foi oferecido num curso de formação que frequentei.

Nunca o teria comprado.

Livros técnicos em Português (poucos) só mesmo os de autores portugueses.

Canais de TV sofrem do mesmo tratamento.

A evitar as dobragens e as legendagens de fraca qualidade.

Para telenovelas não há pachorra.

A avaliar pela quantidade e qualidade dos opositores ao Acordo Ortográfico, fico com a sensação de que a única garantia é que este Acordo irá conseguir afastar ainda mais estas mais‐valias para a Língua Inglesa, empobrecendo cada vez mais a Língua Portuguesa.

Imagino que a tendência seja para haver cada vez mais crianças a frequentar colégios Ingleses, Franceses. Espanhóis e Alemães.

 

Realmente haverá muita gente a lucrar com este Acordo Ortográfico.

A perder só fica o País.

Penso mesmo existir uma excelente oportunidade de negócio, a editar livros em Português pré‐Acordo.

Quem sabe se não poderá chegar‐se ao extremo de criar um sistema de ensino paralelo. E com a certeza de uma qualidade claramente superior. Também imagino ser difícil fazer pior que o sistema de ensino que existe actualmente.

 

5 - Referendo

 

Como já foi referido, a Língua Portuguesa não é propriedade do Estado, nem de nenhum Governo, e muito menos de um qualquer partido político.

A nossa Língua apenas ao povo pertence, seja ele Português, Brasileiro ou outro.

Não me recordo, tão pouco, de um qualquer partido político ter feito referência à sua posição a respeito do Acordo Ortográfico em campanha para qualquer uma das eleições legislativas.

Se o Tratado de Lisboa poderá ser considerado como uma opção política, já o mesmo não se passa com esta questão da Língua que apenas ao povo diz respeito.

Tal ingerência apenas pode ser legitimada através da consulta popular num referendo.

 

6 - Autoria

 

J. Nuno A. P. S. Ferreira

 

Fonte:

http://fs1.nuno.net/DiscordiaOrtografica.pdf

 

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 17:09

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Quarta-feira, 10 de Janeiro de 2018

«Defender a Língua Portuguesa é defender a parte crucial da nossa existência como povo soberano e independente»

 

Quem o diz é um amigo meu, Doutor em Engenharia Civil, Professor Catedrático em Angola, onde além dos muitos dialectos locais, também se fala e escreve Português culto e europeu.

 

PORTUGAL.jpg

Os que acham que Portugal é um país sul-americano olhem bem para este mapa: Portugal é um país que, com a Espanha, constitui a Península Ibérica, situada na parte mais ocidental de um continente chamado Europa. Em Espanha fala-se Castelhano, Galego, Catalão e Basco; em Portugal, fala-se Português (uma das primeiras línguas cultas da Europa medieval a par do Provençal), e Mirandês (as duas Línguas oficiais portuguesas) somando-se a estas, mais quatro dialectos – Sendinês, Guadramilês, Riodonorês e Minderico (este último em extinção).

 

Esse meu Amigo, ausente há vários anos de Portugal, e cujo nome é considerado por ele um aspecto relativamente secundário, visitou o meu Blogue e inteirou-se da luta que se trava em Portugal em defesa da Língua Portuguesa.

 

Inacreditável, não é?

 

É que os Portugueses já foram chamados a defender o território contra a investida de vários invasores, entre eles, Mouros, Espanhóis, Ingleses e Franceses, na sua fase histórica. Já tiveram de defender direitos, ideais e ideias. Mas jamais passaria pela cabeça de ninguém (daí ser caso único, desde que o mundo é mundo) um povo (ou parte dele, porque há sempre os seguidistas, aqueles que seguem alguma coisa, seja boa ou má,sem nunca se questionarem ou fazerem juízos de valor) ter de vir defender a sua Língua Materna, apenas porque uns poucos ignorantes (e como bastam uns poucos!) querem substituí-la por uma ortografia estrangeira.

 

Pois esse meu Amigo, a propósito de um artigo onde apresento argumentos assertivos contra esta “invasão de bárbaros acordistas”, escreveu um texto, em Bom Português, que nos devolve a confiança no povo que já fomos, mas ainda podemos ser. Uma lição daquela História que já não se ensina nas escolas portuguesas e, por isso, tanto faz, como tanto fez, escrever esta ou aquela Língua, desde que se facilite a escrita, que é o que mais me dói ouvir da boca dos que aceitaram, sem pestanejar, a ortografia brasileira, com a supressão das consoantes mudas com uma função diacrítica, e de acentos e hífens, onde tudo isso faz falta, para se compreender a Língua.

 

Escreve então esse meu Amigo:

 

«De todos os modos o essencial do que ali diz é certamente o que repetirá (como eu, até à exaustão) em todos os seus escritos, defendendo aquilo que é a parte crucial da nossa existência como Povo Soberano e Independente, a nossa Língua.

 

Sem saudosismos ou passadismos retrógrados, penso que nos falta, na actualidade, como Povo, o reconhecimento daquilo que fomos capazes de fazer, quando libertos de amarras e de constrangimentos que não os nossos. Começámos por ser os primeiros a libertar a nossa parte da Península da presença dos muçulmanos, enquanto os nossos vizinhos só o fizeram quase 250 anos depois. Partimos para o mar, e embora não tivéssemos sido os primeiros (os Vikings, segundo parece, haviam-no feito com Eric, o Vermelho, por alturas do ano 1000, mas de resto sem quaisquer consequências sociais ou económicas), fizemo-lo em todas as direcções e demos início à globalização, há quase 600 anos. Dobrámos a África, chegámos à índia, à China, à Austrália e ao Japão, descobrimos o Novo Mundo (acredito, porque bem provada, na tese de Mascarenhas Barreto sobre a naturalidade portuguesa de Cristóbal Colón) e dominámos uma boa parte da África por onde tínhamos de passar nas nossas andanças para Leste. 

 

Deixámos, por onde andámos, uma forma de viver única, não massacrámos, nem eliminámos fisicamente nenhum povo da Terra, como fizeram americanos e espanhóis, e a forma como nos relacionámos com todo o Mundo foi, essencialmente, feita na base da diplomacia. Houve naturalmente confrontos, mas quase nunca provocados por nós, que basicamente nos defendemos ou ajudámos a defender os nossos aliados. Deixámos atrás de nós um legado de saudade e de um humanismo imenso. Ainda hoje as gentes de Goa, de Malaca ou de Timor, recordam com um enorme respeito os Portugueses, para não falar na forma como somos recebidos no interior de Angola ou Moçambique pelos mais-velhos, aqueles que tiveram a oportunidade de conviver connosco. Eu sou testemunha disso, todos os dias em Angola. 

 

Sem nacionalismos bacocos, poderemos dizer que atrás de nós ficou um legado muito peculiar, feito com erros, com imperfeições, certamente, mas com muita entrega, muito empenho, dedicação e carinho. Creio que a palavra "paternalismo" tem inteiro cabimento na forma de nos relacionarmos com os outros povos, não tanto na parte que pode significar superioridade, mas sobretudo naquilo que exprime aproximação e mesmo afecto. E é curioso verificar que é como Pai que olham para nós.

 

Para um povo que tinha 1.5 milhões de almas ou pouco mais no início da arrancada, vivemos num mundo onde quase 300 milhões de pessoas falam a nossa língua. Que é deles também, sem deixar de ser a NOSSA, e só perdemos identidade, só nos deslustramos perante todos eles se deixarmos de ser quem sempre fomos e tentarmos agora, como muitos imbecis procuram, disfarçar-nos atrás das cortinas da História, procurando fazer-nos desaparecer da vida desses povos, desvanecer o nosso carácter, quase a pedir desculpa de existirmos. Essa gente, que nos ataca e pretende afinal destruir-nos por dentro, não é Portuguesa, essa gente faz-se de Portuguesa por razões de interesse, e por isso porfia em contestar o que fomos, negar os nossos sucessos, tentando com isso apagar-nos da História. E a Língua, essa forma NOSSA de comunicarmos e de veicularmos o que somos, disseminar-se-ia de algum modo numa multidão de gentes, vindo a perder-se assim o rasto das suas origens.

 

Nos tempos que correm, em que vemos todos os dias soçobrar um pouco mais tudo aquilo que tem sido ao longo destes 875 anos de história colectiva, a razão que nos aproxima e justifica entre os demais povos da Terra, é com esperança redobrada que percebemos que não estamos sós e que aqui e ali se levantam cada vez mais vozes indignadas que protestam. E por isso me apraz muito participar neste seu blogue, onde encontro a primeira linha de defesa dos valores que são nossos, daquilo que nos pertence.

 

E diz mais à frente:

 

Foi esse querer que nos levou para longe, e que dá força ao pensamento de Gilberto Freire, o ilustre sociólogo brasileiro que definia o português "como alguém que nasce em Portugal e vai morrer não se sabe aonde". Talvez seja essa uma parte do nosso drama, o nosso verdadeiro estigma, saímos e não voltamos, acreditando que a retaguarda estivesse sempre protegida. Hoje, regressados ao quinhão natal vindos das 7 partidas do Mundo, espantamo-nos com a recepção fria quando não agreste com que nos acolhem e mal entendemos a vontade que impera no desfazer de tudo o que fomos e ainda somos. A Língua é o espaço vital, o traço de união que liga todo o Mundo onde já vivemos soberanamente e onde ainda sobrevivemos por força da nossa razão e de modo algum pela razão da força, que já não temos, ou quase nunca tivemos. Neste aspecto eu não posso deixar de me maravilhar com a capacidade extraordinária de um Paiva Couceiro, que acompanhado de meia dúzia de auxiliares (os chamados sipaios), desceu o Rio Cubango em Angola e trouxe para Portugal os povos de um território imenso (maior do que o território que nos sobra hoje), designado como Cuando-Cubango, construindo os fortes de Cuangar, Calai, Dirico e Mucusso, com duas ou três praças europeias em cada um. Ou o extraordinário Henrique de Carvalho que "abraçou" as Lundas (também maiores do que Portugal), sozinho, em conversações com os muatas quiôcos, e as ligou à nossa bandeira.

 

Onde está essa gente? Onde vive o espírito desses homens que olhavam para longe e impunham aos demais, sem usar necessariamente da força, a sua maneira de pensar? Fizemos um Brasil imenso, o maior país da América do Sul, com uma decisão e um querer impressionantes, resistindo ao "esfrangalhamento" em que caíram os territórios espanhóis (vale a pena ver o site Brasil Paralelo onde jovens historiadores brasileiros se fascinam a perceber o que lhes foi escondido por tantos anos). São eles as nossas melhores testemunhas.

 

Há uns anos a esta parte foi descoberto nas florestas da Amazónia uma fortaleza feita em cantaria de granito, onde se destacava uma placa que tinha os seguintes dizeres: - “Sua Majestade D. Pedro II, Rei de Portugal e dos Algarves (segue-se toda a panóplia de títulos que bem conhecemos)… queria que aqui se fizesse um forte. E fez-se.”

 

E hoje parece que nos envergonhamos de olhar para trás. Parece ser incorrecto tomar como exemplo os exemplos do passado, ou referir a grandeza única do nosso querer e do nosso pundonor. Não se trata de nacionalismos exacerbados ou fora do tempo, trata-se tão-somente de percebermos quem somos e porque estamos aqui. E olhando à nossa volta, percebemos que a estrénua resistência e enorme vontade que se lê e entende por detrás da evidente pobreza cultural da nossa gente, apenas demonstra que faltam os líderes, os guias que apontam os caminhos e a quem ninguém ousa desobedecer. Como dizia Pessoa ao terminar a Mensagem: - «mais que o mostrengo que a minha alma teme, manda a vontade que me ata ao leme, d’El-Rei D. João II». Ou lembrando o épico, no mais conhecido: - "um fraco rei faz fraca a forte gente"...

 

Será que nem a Língua, nem aquilo que falamos e que traduz quem somos, resiste ao ímpeto destruidor da “canalha”(*)?

 

«Floresça, fale, cante e ouça-se e Viva a Portuguesa Língua. E já, aonde for, Senhora vá de si, Soberba e Altiva…» (Lembro António Ferreira, no já distante século XVI, na carta que então escrevia a Pêro de Andrade Caminha, e pergunto-me: - o que nos aconteceu, que maldição é esta? Como pudemos chegar a este ponto, a esta encruzilhada que parece fatal, e onde o Futuro se decide em todos os momentos?).

 

Não faço do Passado uma forma de viver. Mas tenho certo que o Presente e o Futuro só existem para quem tem Passado.

 

Será talvez esta a explicação do nosso descontentamento, não sei...»

 

Um Amigo

 

(*) Como melancolicamente se queixava D. Pedro V aos seus amigos, dos ataques, já nesse tempo incisivos, dos predadores de serviço.

 

***

 

Pois é. Também não sei, meu caro Amigo.

 

Mas uma coisa eu sei, nós dois sabemos: «Por detrás da evidente pobreza cultural da nossa gente, está realmente a falta de verdadeiros líderes, os guias que apontam os caminhos e a quem ninguém ousa desobedecer».

 

Sabemos que os «fracos governantes, que actualmente nos (des)governam fazem fraca a forte gente que ainda somos».

 

Sabemos também que destes fracos governantes não rezará a nossa gloriosa História, pois nela serão perpetuados como os que tentaram destruir uma das primeiras línguas cultas da Europa medieval – a Língua Portuguesa, que continuaremos a defender até que a Irracionalidade dê lugar à Razão.

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 11:44

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