Texto magnífico, publicado no jornal Público, no passado dia 05 de Dezembro, o qual foi-me enviado pelo autor, António Jacinto Pascoal, via-e-mail, e que aqui reproduzo com a sua autorização. (Isabel A. Ferreira)
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«O Acordo Ortográfico de 1990 (que não chegou, efectivamente, a sê-lo) procura unificar (nem há como camuflar a pretensão deliciosamente fascizante) vertentes que, naturalmente, tendem a afastar-se. Ou seja, ao AO90, para ser bom, só lhe faltam as qualidades…» (António Jacinto Pascoal)
«A língua e o sofá: o paraíso beatífico do acordo ortográfico»,
Por António Jacinto Pascoal (*)
Podemos fazer o que quisermos da língua, compará-la mesmo a um sofá, escarafunchar nela e estragá-la. Vamos lá a ver: alguém há por aí que estranhe o valor meramente instrumental da língua, como o do sofá de sala, servindo o conforto pessoal e o interesse pragmático do repouso? Descansar na língua (atente-se na poeticidade da expressão) assemelha-se, em registo idílico, ao primeiro olhar crítico (assim lhe chamou Eduardo Lourenço) do Criador, ao sexto dia, de pantufas no seu sofá e a olhar a Criação: concluiu que era bom. Reservou, então, o sétimo para o pleno remanso. É uma visão graciosa e singela da coisa. Está muito bem. As pessoas vão de mãos dadas e entendem-se. Um mundo perfeito. Se não fosse curto e indigente.
Num recente artigo de António Guerreiro (PÚBLICO, 22 de Novembro), e a propósito de Elon Musk, chama-se a atenção para o controlo da linguagem e a perspectiva instrumental que dela tem o magnata: a linguagem humana, como a entendemos, tornar-se-á obsoleta, poderá ser agregada a um sistema cibernético de inteligência artificial reduzido a funções básicas como a informação factual, cumprimento de regras, transmissão de ordens. Serão tempos em que a ficção científica deixará de ser ficção. Sabemos como as palavras são importantes e o modo como, sem termos disso plena consciência, transportamos prescrições ideológicas de raízes profundas, mesmo quando (e por isso também) elas são revisionistas e tendem à desafecção ideológica.
Há quatro anos, e a propósito do cinquentenário do general de Gaulle, Macron referiu-se-lhe como herói da resiliência francesa, mitigada assim a conotação político-imagética da resistência ao nazismo e ao fascismo. Hoje, em Portugal, os conceitos de racismo e xenofobia transmutam-se, pela palavra, em nacionalismo e proteccionismo, e o termo fascismo, na boca de muitos e em culto de programada naturalidade, alija, esconjurando-a, a carga depreciativa de outros tempos. Na esfera da linguagem, assiste-se à despolitização e dessincalização numa desvitalizada res publica, emancipada de enquadramentos colectivos transcendentes, pelo que os trabalhadores passam a colaboradores e o próprio trabalho, sob novas práticas organizacionais, espartilha-se na execução operacional e na gestão de informação e definição de objectivos, nesta nova relação ambígua entre indivíduo e sociedade. E, em boa parte do mundo, o vocábulo genocídio, conforme o perpetrador, assume ou não significação. Portanto, as palavras contam. Mas não somente como significados; contam ainda como significantes, tanto no plano do objecto sonoro como no da imagem visual gráfica. Esta última, a representação da “palavra”.
Quando pensamos em palavras, a sua materialidade percepciona-se melhor na escrita, porque é aí que elas se decompõem em morfemas, sendo mais prático, no plano da grafia, assinalar os efeitos fonéticos, a entoação, a força clítica por acção de consoantes ou vogais finais, mas também os valores semânticos de prefixos e sufixos (o valor avaliativo, o sentido pejorativo ou afectivo, e, portanto, também sociológico e ideológico). Mulherengo, por exemplo, será adjectivo capturado (e em vias de extinção) pelas novas vigilâncias da polícia de costumes da língua. Resumindo: as gramáticas e os dicionários são utensílios fundamentais, preservam práticas, registam admissões dialectais e sociolectais, estimulam a observação de regras (tanto para a língua-padrão como para falares e dialectos) e favorecem a elegância e a riqueza linguística. José Castro Pinto afirmou que “quem diz que um dia acabará a Gramática (como já ouvimos dizer) é porque ainda não compreendeu o que é uma Gramática”.
Isto nasce a propósito da ligeireza com que Isabela Figueiredo afirmou recentemente (Expresso on line, 14 de Novembro) que, no seu entender, não há para a língua regras, desde que todos nos entendamos. Segundo a escritora, “proteger a língua de maus-tratos é uma tarefa inglória”. Mas a ser assim, não importa desfigurar a língua, não importa permitir os termos “chulos” e os “vulgarismos” fora de contexto (imagine-se plasmados na Constituição) ou incluir cultismos em prosa popular, não importa ceder aos erros de concordância, não importa confundir – por inépcia – normas de variantes distintas do Português. Nada importa. Diria eu que não importa sequer haver gramáticas ou dicionários. E provavelmente filólogos e revisores e, entretanto, professores de língua. Que significa isto? Significa, suponho, que, quanto a si, se eu escrever “Azarmas ius barõins acinaladus” ou “Quero que tu lês e compreendes este texto”, não vai daí mal ao mundo, porque todos nos entendemos.
Nós, que nos opusemos ao Acordo Ortográfico de 1990, apelidados já de velhos do Restelo, Alencares, analfabetos do século XXI, velhotes obcecados, puristas da língua que tomam antiácidos, etc. (acrescentemos “autistas”, “neuróticos”, “casmurros”), e prontos para novos apodos, temos, pelo menos, duas coisas claras. Uma: as línguas são por natureza conservadoras – as suas mudanças raramente se produzem internamente, mas como resultado de tensões e pressões linguísticas externas ou produzidas por artificialismos, como os de reformas ortográficas que possam condicionar a modulação das palavras, o que, traduzido, liquida o argumento da vivacidade estuante das línguas (esse lugar-comum do organismo vivo). Imagine-se uma comunidade isolada do mundo, proceda-se a um estudo diacrónico da língua dos seus falantes e veja-se o que mudou ao longo de séculos. Duas: o Acordo Ortográfico de 1990 (que não chegou, efectivamente, a sê-lo) procura unificar (nem há como camuflar a pretensão deliciosamente fascizante) vertentes que, naturalmente, tendem a afastar-se. Ou seja, ao AO90, para ser bom, só lhe faltam as qualidades…
Nunca me imaginei um eugenista da língua com aspirações a higienismo militante. Leio, não raramente deliciado, Clarice Lispector, Luandino Vieira (angolano, que deveis saber português nascido de cá), Rui Knopfli, José Craveirinha, Corsino Fortes, Vasco Cabral, Alda do Espírito Santo, Fernando Sylvan. O que estranho, então, na posição de Isabela Figueiredo é a sua ambivalência em ser permissiva (ao ponto de ambicionar “estragar” a língua como quem estafa o sofá) e, logo depois, intransigente, quando se trata de deixar cada vertente do Português trilhar o seu caminho sem a rédea curta de um “acordo” ortográfico. Mas tudo isto vinha apenas a propósito de palavras.
E as minhas palavras, claro, dirigem-se àqueles que forem capazes de as entender. Ou quiserem, de facto, entendê-las.
António Jacinto Pascoal
(*) António Jacinto Pascoal (n. 1967, Coimbra) estreou-se em 1991, com Pátria ou Amor (Prémio da Associação Académica de Coimbra). Ensaísta, contista, poeta e fotógrafo. Editou nove livros de poesia, entre os quais As Palavras da Tribo (2005), Cello Concerto (2006) e Mover-se o Fogo (2018). Em 2018, publicou a colectânea de ficção narrativa Os Joelhos do Meu Pai e Outros Contos. No mesmo ano, editou o seu primeiro álbum fotográfico, Banda Euterpe: a Visão do Som e em 2019 co-realizou, com Inês Galocha Pascoal, o documentário Alunos. Em 2024, foi agraciado com menção pela associação polaca Arendi, em torno da poética de Herbert, e com a edição de dois contos, no prémio Luís Vilaça. Traduziu poemas de Violeta Parra e Ingibjörg Haraldsdóttir, além de uma peça para teatro de Gabriel García Márquez. Poemas seus estão traduzidos e editados em Inglês e Finlandês. É colaborador no jornal Público desde 2009, nas revistas Colóquio/Letras, Eufeme Magazine e Devir e, durante mais de uma década, encenou peças de teatro em escolas básicas e secundárias, entre as quais A Casa de Bernarda Alba de Federico García Lorca, Um Eléctrico Chamado Desejo de Tennessee Williams, John Gabriel Borkman de Henrik Ibsen e O Punho de Bernardo Santareno.
Então vejamos o que, nesta Parte II, nos diz Carlos M. Coimbra sobre a «Degradação do Português, sob os aspectos de Pronúncia/Fala, Preposições, Gramática, Deturpações/Estrangeirismos, Vocabulário estrangeiro, Manias/Maus-Hábitos e o Acordo [Ortográfico de 1990], que será tratado na Parte III, a publicar amanhã.
por Carlos M. Coimbra
Ouço locutores (palavra que caiu em desuso), jornalistas, etc..., dizer 'vaículo' em vez de 'veículo', 'gratuíto' em vez de 'gratuito', 'periúdo' e não 'período', como exemplos.
Garanto que uma vez ouvi na RTPi (porque nesse tempo só tinha a RTPi aqui), a quando da construção da estação de Metro no Cais do Sodré ou Terreiro do Paço (perto do rio), uma jornalista falar em problemas com a água no 'tonel' (em vez de 'túnel'); incrível, mas é verdade; tonéis eram o que tinha o meu avô na Beira Alta para guardar o vinho! E choca-me que jornalistas portugueses não conheçam a pronúncia do nome de certos lugares em Portugal, mesmo quando estão lá e quando entrevistam gente do local que diz o nome da maneira certa à frente deles! É o caso de Penacova, que é raro ouvir-se dito "Pênacova" (a não ser por Álvaro Coimbra, cuja família deve ser da área, pelo apelido). Quanto à fala, é um inferno ouvir tantos ãs, ãs, que poderiam ser aceitáveis em pessoas normais, mas nunca em jornalistas (como o director do Público) ou em ministros como Marta Temido. Até criancinhas de 5 anos já apanharam esse hábito. Creio que estrangeiros que não conheçam a língua poderão pensar que faz parte do idioma, tão prevalecente é esse 'tique verbal'. Antes de sair para o Canadá, participei num programa dirigido pela escritora Odette de Saint-Maurice na então Emissora Nacional, no estúdio da Rua do Quelhas (e fiz vocalização de desenhos animados na RTP). Na EN, tive a honra de trabalhar com actores da época, como Jaime Santos e Josefina Silva (esposa de António Silva). Gravávamos logo à primeira, e ninguém dizia ãs, ãs!... A preponderância dos ãs na corrente fala portuguesa não deve ser minimizada. Se ao menos os locutores actuais não fossem amigos de alguém e perdessem a gaguez e a mania de querer falar depressa demais... [Por outro lado, é-me grato não só ainda ouvir hoje dizer "se calhar", mas empiricamente achar que essa expressão é até mais usada que "talvez"!]
Já escrevi sobre a falta de esclarecimento quanto às preposições 'a' e 'em', e jornalistas dizendo "a norte" sem ser o caso de ser "a norte de Santarém", mas sim quando o correcto é dizer "no norte". Notei um exemplo no 24 Horas de 17/18 Janeiro, por Patrícia Machado. Mas há ainda o caso mais incrível de até dizerem "a norte do país", e isso aí costuma incorrer numa mensagem minha a lembrar que "a norte do país" é a Galiza. Hábito execrável que só ouço nos órgãos de comunicação portugueses é quilómetros-hora e (em anúncios) euros-mês. Não conheço outro país onde não entendam que esses termos são rácios, diferentes de kwh-hora, que são produtos. No meu tempo, tal não acontecia, e, no caso de km/h, dizia-se sempre 'por hora', ou 'à hora' ou 'horários'. Até já ouvi Marco Chagas, ex-corredor e agora comentador da Volta a Portugal, dizer km-h!! Na RTP, não imagino a razão para serem quase sempre omitidas preposições em cabeçalhos de notícias, tornando a "frase" por vezes incompreensível.
Nem no Brasil nem no Canadá dizem duplicar ou equivalente para indicar uma passagem ao dobro. "Esquecimento" de dizer 'de' quando se usa o verbo 'gostar'. Ninguém diz "gosto maçãs", mas ouve-se com frequência "aquilo que mais gostas"... E ouvi já tantas vezes narradores na RTP dizer "(ser) suposto", construção aparentemente imprópria em português, e que por acaso já foi tratada num segmento sobre a língua na própria RTP...
Uma coisa é usar termos estrangeiros (já lá chegarei no ponto que se segue). Outra coisa é usar palavras portuguesas erradamente, por influência de termos estrangeiros. Em conferências de imprensa de jogos de futebol, por exemplo, usam "questões" em vez de "perguntas" (influência do inglês), não ligando ao facto de "questão" querer dizer assunto, polémica. Ouço estender (influência do inglês) no lugar de prolongar, e apurar (em futebol) em vez de qualificar (influência de brasileiro influenciado pelo espanhol). Incrivelmente, já ouvi, inclusive na RTP, jornalistas dizerem "adições" como se em vez duma operação aritmética, a palavra fosse a descrição de "dependências" (de drogas), claramente uma transliteração do inglês (o que mereceu uma mensagem de reprovação minha...).
Aqui exponho termos estrangeiros na conversa, mesmo que se trate de conceitos antigos para os quais já existiam e existem termos em português, e não relacionados com nova tecnologia, como a Internet. Também se vê uma coisa que se eu mandasse, proibiria: nomes de lojas e firmas estritamente portuguesas (não multi-nacionais) em estrangeiro. Não vou referir anúncios de produtos, porque isso não se aplica à RTP Internacional, mas na generalidade digo que é indecente o uso de outras línguas (o inglês é ubíquo) em canais comerciais, tanto em palavras como músicas de fundo, chegando ao extremo de ser tudo em estrangeiro, com tradução em legendas. A lista poderia prolongar-se por páginas... Posso começar pelo próprio governo, que arranjou uma 'app' baptizada com o nome "StayAway Covid"! Felizmente esse impropério foi depressa esquecido, porque quase ninguém a usou. Antes dos clubes de futebol terem staff, quem geria o clube? E antes dos estádios terem speaker (RTP...), não havia locutor? Não havia senhas antes de haver passwords? Os vouchers não costumavam ser vales? As circulares agora são unicamente newsletters...
E então com os timings é que deixou de haver agendamentos ou ocasiões... Performance não é mais que desempenho em tecnologia, e actuação em palcos. Até vejo "artes performativas" na app RTP Palco! Drive-Thru usado em vacinações quando poderia ser Vacina ao Volante. Centros de Atendimento já haveria antes dos Call-Centers, assim como já existiam estâncias antes de haver resorts. Tantos termos usados como outsider, influencer, opinion-maker, briefing, CEO (este pronunciando as letras em inglês!, em vez de Director Executivo) e bullying (geralmente mal pronunciado, como se o y não estivesse lá, que é simplesmente intimidação). Ultimamente, a Liga dos Campeões passou a ser "a Champions" e as semi-finais de TUDO passaram a Final Four... E aqui a RTP não fica incólume, com nomes de programas como The Voice: o "The Price is Right" e o "Who wants to be a millionaire" permitem traduções do nome para apresentação em outros países, por isso... Ou RePlay, quando se podia chamar Volta Atrás ou Memória... E a programação na RTP também "adere": "Aqui Portugal" frequentemente inclui gente a cantar em brasileiro e espanhol! Que sentido faz isso? Pior ainda é ver "I love Portugal"! Ora então não ficava muito melhor, sem me ofender, O Portugal que eu amo? E vi agora na grelha da RTP Internacional "Portuguese Soul"! É escandaloso, seja qual for a explicação.
Aliás, encontrar na RTP Internacional intervalos musicais cantados em estrangeiro, até por portugueses, é absolutamente contrário à declarada função desse canal. Música estrangeira tem quem está fora em demasia...
E além disto tudo há a subserviência nacional aos estrangeiros, em que o Estacionamento do S. C. Braga indica com uma seta Entrada - Entrance! Será mesmo preciso? Ou uma lavandaria perto do Largo de Sta. Bárbara precisa ter um luminoso dizendo LAUNDRY? E ao Algarve Biomedical Center, que faz parte da Universidade do Algarve, como lhe é permitido adoptar esse nome em inglês? Pois se até ouvi o presidente Rebelo de Sousa (que NUNCA deveria ser chamado "Marcelo" por ser demasiadamente familiar e até afectivo, e tornando mais difíceis eventuais críticas) dizer que tinha um "feeling"...
Para mim, a principal 'mania' é a de que tudo que é americano (com minúscula!) é norte-americano. A coisa começou no meu entender com Cuba, por exemplo Rádio Habana, dizendo "território libre en América" e para se distinguir, entendeu chamar aos "ianquis" norte-americanos. Daí chegou ao Brasil e com certeza foi daí que chegou a Portugal. Só que no Brasil já perderam esse hábito (na Globo ouço exclusivamente americano, como nos bons tempos em Portugal), e se alguém deveria querer essa distinção, seriam por exemplo os brasileiros, residentes das Américas, e não portugueses. Aliás, nem franceses nem espanhóis caíram nesse mau hábito. A mim, residente no Canadá, custa-me imenso ouvir isso, principalmente em respeito a estatísticas (Tantos % dos norte-americanos isto e aquilo). Aliás, por curiosidade, informo que há muitos anos, quando ouvia a RDP em ondas curtas, já tinham apanhado o hábito de dizer que estavam a transmitir para "os Estados Unidos da América do Norte e Canadá", isto é, até alterando o nome dos EUA. E ouvi na RTP acerca dum jogo de futebol entre o México e os EUA descrevê-lo como sendo entre o México e os "norte-americanos", quando o próprio México faz parte da América do Norte! Outro mau hábito é o desrespeito à língua dizendo sempre NATO. No meu tempo, era OTAN (como aliás se vê também escrito lá no quartel-general). Li no Livro de Estilo do Público que era para ser escrito sempre NATO, sem justificação. Mas a Globo, e jornais de países de língua romance como a Espanha e França, continuam a escrever OTAN, o que me envergonha. Ponto e vírgula é que passou a ser uma bandalheira. O decimal oficial na Europa é vírgula, e basta olhar para as contas de banco. Só que uns dizem ponto e outros vírgula. Vejo (inclusive na RTP) números escritos tanto com um como com o outro. E o mais curioso é que por vezes está escrita uma vírgula e é lido 'ponto'! Apareceu a moda das décimas, centésimas, etc... coexistindo com décimos, etc... Não imagino como, nem para quê, já que eu nunca tinha ouvido isso enquanto estive em, ou visitei Portugal. Invenções tontas. Contudo, sempre todos dizem duodécimos, nunca duodécimas... Portuguesices... E no meu tempo sempre aprendi que motocicleta podia ser abreviado para moto, mas não para mota (o que eu chamo "português de rua"). Só que hoje em dia é só motas!
Carlos M. Coimbra
(Continua)
(Amanhã será publicada a Parte III desta Lição de Português, que destacará o Acordo Ortográfico de 1990, o tal que NÃO tem razão de existir, porque nenhuma vantagem trouxe para Portugal).
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Para os interessados em seguir esta brilhante lição, aqui deixo os links, para os restantes textos (o primeiro, inclusive).
(Parte I)
(Parte II)
(Parte III)
Vou recuar até ao ano de 2016, quando andaram por aí a correr umas notícias que, apesar de parecerem boas, não soaram bem… E, como desde então para cá, nada mudou, e continua-se a insistir nesses erros, trago à liça o que se disse, que é o que ainda se diz sobre o malfadado, o malparido e o mal-amanhado AO90.
Seria da racionalidade, os partidos políticos discutirem este tema na campanha eleitoral, em curso. Mas qual quê?
Que jornalista se atreve a pôr em cima da mesa tal assunto?
Origem da imagem: Internet
A ACL (Academia das Ciências de Lisboa) veio a público dizer que queria apresentar, ainda nesse ano, um “estudo para aperfeiçoar o AO90”, como se o AO90 seja algo que possa ser aperfeiçoado!
A APP (Associação de Professores de Português) veio logo dizer que aceitava uma “revisão ligeira” do AO90, mas não a sua anulação. Revisão ligeira de algo que não tem pernas para andar, não será dar tiros nos pés?
A ANPROPORT (Associação Nacional de Professores de Português) por sua vez diz que a “revisão do AO90 é bem-vinda”.
Nenhuma revisão é bem-vinda. Apenas a anulação deste abortográfico é bem-vinda.
Tudo isto seria interessante se o AO90 tivesse alguma ponta por onde pegar.
Mas, como sabemos, o AO90 é a maior fraude política de todos os tempos, e assenta em interesses político-económicos obscuros, e numa atabalhoada e aparvalhada visão do que é uma Língua culta e íntegra, e na ignorância de quem o aplica cegamente.
Esmiucemos o que disse a APP:
«A presidente da Associação de Professores de Português (APP), Edviges Antunes Ferreira, afirma que aceita uma “revisão ligeira” do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90), “para não trazer tantos prejuízos, mas nunca anular o AO90”.»
Para não trazer tantos prejuízos a quem? Os prejuízos já são mais que muitos e continuarão a crescer até ao infinito, se AO90 não for anulado urgentemente.
«Relativamente ao regresso de algumas consoantes mudas, Edviges Ferreira foi clara: “nós não concordamos; é muito mais simples escrever conforme falamos do que estarem a perceber ou a decorar, principalmente depois de ter abolido e estar a escrever de uma determinada forma, estar a voltar atrás”.
Não admira que o Português ande tão de rastos. Se a senhora disse isto assim tal e qual, não estará tudo dito?
Vamos lá a ver, senhora Edbiges (é assim que se fala no Porto, logo deverei escrever assim), se é mais simples escrever conforme falamos, deitemos ao lixo as gramáticas, e ensinemos às crianças o alfabeto, depois a juntar as letras e depois que escrevam conforme falam. E teremos uma Torre de Babel no nosso minúsculo país, que de terra, para terra, fala-se de modo diferente.
Cá para os meus lados diz-se ceboles e batates.
Mais ao sul, dizem se nan qerem ir nan van.
Ao norte, bai-se de calqer jeitu.
Em Lisboa paceiase à bâira riu.
A senhora Edbiges parece não ter andado na escola, e não aprendeu a decorar. Todos nós decorámos tudo e cantávamos todos os rios e seus afluentes e linhas de comboios, e montanhas e mais tantos outros saberes, apenas com 8/9 anos. Só os menos dotados intelectualmente é que se atrapalhavam.
Não é desse tempo a senhora Edbiges.
A senhora referiu ainda que «observando as contestações ao AO90, o nível etário das pessoas é bastante elevado, em média, o que significa que há sempre aquelas vozes, que são os ‘Velhos do Restelo’, que tudo que seja mudança, não a vêem com bons olhos».
Como disse senhora Edbiges?
«Velhos do Restelo»?
Não sei se a senhora ensina crianças, se ensina, pobres crianças.
A senhora conhece a expressão “Velhos do Restelo”, mas não sabe o que significa.
Nesta jornada anti-AO90, existem muitos jovens, que de velhos do restelo nada têm. O que têm é bom senso e amor à sua Língua Materna, e sabem distinguir o trigo (a Língua Portuguesa) do joio (a ortografia abrasileirada e amixordizada pelos acordistas portugueses, a qual dá pelo nome de AO90).
É mais fácil dizer às crianças: escrevam como falam, do que lhes ensinar as regras gramaticais. Não é? Ensinar dá muito trabalho. Mas se ganhamos salários é para ensinar, não é para fazer-de-conta-que-ensinamos.
Defensores da anulação do AO90 rejeitam propostas de revisão
Os defensores da anulação (não se diz “revogação” porque não podemos revogar algo que não existe, que é ilegal) do Acordo Ortográfico de 1990, entre eles o jurista Ivo Miguel Barroso, consideram que as posições “revisionistas” do AO90 “são de rejeitar”.
Porquê?
As razões jurídicas apresentadas por Ivo Miguel Barroso:
«O destino adequado para o AO90 é o caixote do lixo.
Quem conhece o Direito dos Tratados sabe perfeitamente que, se o AO90 é para ser revisto, é necessário que haja uma alteração do teor do Anexo I e II (Bases e Nota Explicativa). Ou seja, tal implicaria um novo Tratado ou uma revisão do mesmo entre todos os Estados da CPLP, no sentido de alterar o Anexo I do AO90.
Ora, para que isso suceda, é necessário que todos os Governos dos Estados assinem; e que, depois, o novo Tratado seja ratificado internamente. Por outro lado, tal propósito de revisão significaria que pelo menos parte das normas do AO90 não seriam para cumprir».
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Outras razões razoáveis:
Não queiram atribuir às crianças a PARVOÍCE dos adultos.
Utilizam as crianças como escudo, para não terem de retroceder e anular o abortográfico.
No entanto é preciso ter em conta o seguinte: se as crianças conseguem aprender facilmente o Inglês, cujo léxico inclui tantas consoantes mudas, e o Castelhano, poderão mais facilmente aprender o Português que tem algumas, mas não tantas, como a língua de Shakspeare (ou deverei escrever Xeikcepiâr, e a de Cervantes, Cerbantes à moda do Puârto.
Se elas conseguem aprender a escrever THOUGHT, mais facilmente aprenderão a escrever ACTO ou ACÇÃO. Porque sem o CÊ, estas palavras terão de ser escritas assim: ÁTO e ÁÇÃO, ou então atirem com a Gramática ao lixo.
Está provado cientificamente que o cérebro das crianças é como uma esponja: absorve tudo com muita facilidade, porque ainda está vazio de conhecimentos (isto dito assim para que todos entendam). Aprendem e desaprendem com uma perna às costas, sem a mínima dificuldade.
Para as que já aprenderam a língua mutilada, vai ser muito simples desaprendê-la, e reaprender a verdadeira Língua Portuguesa, acompanhada pela Gramática, até porque, muitas estão também a aprender a Língua Inglesa e a Língua Castelhana e para elas é estranho escrever-se, em Inglês e Castelhano, por exemplo direCtor e em português diretor (e atenção, que neste caso deve ler-se dir’tor). O CÊ abre o E, se no há CÊ deve escrever-se dirÉtor.
Vou aqui repetir algo, que já escrevi muitas vezes, para que se saiba que uma criança não é a estúpida que os adultos, nomeadamente os professores menos dados a “esforços extras”, dela pretendem fazer: Eu viajei para o Brasil com dois anos, e aos seis, lá aprendi a ler e a escrever o “Português” mutilado; aos oito anos tive de regressar a Portugal, e cá tive de reaprender a língua culta (era o que me diziam) tal como deve ser. E simplesmente APRENDI, sem a mínima dificuldade. Aos catorze anos, de volta ao Brasil, tive de DESAPRENDER a minha Língua Materna e regressar à língua mutilada. Sem problemas.
Aos vinte anos deixei o Brasil definitivamente e fui estudar para Coimbra, e lá tive eu de abandonar a língua mutilada, e fixar-me na minha adorada Língua Materna, que aprendi a amar com a leitura dos nossos clássicos, e hoje defendo-a com as garras de fora.
E por aqui me fico, dizendo que o AO90 nada tem para rever.
É lixo ortográfico que deve ser incinerado como lixo altamente tóxico.
Isabel A. Ferreira
(Os textos completos das notícias, em que me baseei, podem ser lidos nestes links):
Na palavra pré-1945, chronographo, que pós-1945 se grafa cronógrafo (pessoa que escreve crónicas) o que mudou? Mudou apenas a grafia, com a supressão do H (que não fez falta alguma) a substituição do PH pelo F (som e letra existente no alafabeto latino/português) e a acentuação da sílaba tónica, sem, contudo, modificar a pronúncia e o significado da palavra.
Exemplo:
Na palavra coacção (acção ou resultado de coagir), que os brasileiros e agora os portugueses seguidistas, ou seja, aqueles que seguem ou são defensores incondicionais de uma ideia ou teoria, sem nunca se questionarem ou fazerem juízos de valor, escrevem “coação”, o que mudou?
Mudou tudo: a grafia, a pronúncia e o significado.
Grafia: eliminou-se o Cê que, embora não se pronuncie, tem uma função diacrítica, ou seja, tem a função de um sinal gráfico (acentos, til, cedilha).
Pronúncia: neste caso o Cê, que não se pronuncia, tem a função de um acento agudo, e abre o A “cuáção”. Ora, se lhe retiramos o Cê, a palavra “coação” (de coar + sufixo ação) passa a ler-se “cuâção”, se quisermos ser gramaticalmente honestos.
Significado: logo, a supressão do Cê leva-nos para a palavra coação (cuâção) que significa acção ou resultado de coar, de filtrar um líquido ou um qualquer preparado, um qualquer produto obtido de uma manipulação química ou farmacêutica, ou mesmo uma filtragem linguística.
Exemplo: «Malaca Casteleiro, andou a fazer uma coação à Língua Portuguesa, e impingiu aos Portugueses o resultado dessa coação, ou seja, palavras coadas, numa grafia despida de sentido real e de estética (porque as palavras não são apenas som, são também imagem), deixando no coador as consoantes, que até podem não ser pronunciadas, mas não são mudas, porque falam da Morfologia das Palavras, ou seja, da parte da Gramática que trata da forma e dos processos de formação das palavras.»
E esta coação, este acto de coar as palavras do léxico português, é algo que me intriga no Malaca Casteleiro. E das duas uma: ou ele, apesar de se dizer linguista, não é linguista (teria tirado o curso à Relvas?), ou andou mel a pingar no charco…
Nota: a explicação dada para a palavra coacção serve para todas as outras palavras "coadas" pelo AO90, ou seja, as palavras às quais foram suprimidas as consoantes não pronunciadas, mas com função diacrítica, mudando a grafia, a pronúncia e o significado delas.
Isabel A. Ferreira
As ditaduras e os ditadores derrubam-se, para que a vida siga o seu rumo natural. Até a de Salazar foi derrubada!
Também a Língua Portuguesa que, presentemente está nas mãos de ditadores (socialistas) que se acham os donos desse Património Cultural, que é de todos os Portugueses, regressará às suas raízes, nobres e europeias, porque a pequena tribO (com ó) de opositores ao Acordo Ortográfico, na qual me incluo, continuará a pugnar, não pelo regresso à antiga ortografia, porque não existe “antiga ortografia”, mas pela preservação da grafia portuguesa de 1945, ainda em vigor, pelo Decreto 35.228, de 8 de Dezembro de 1945, e ligeiramente (mal) alterada pelo decreto-lei n.º 32/73, de 6 de Fevereiro, uma vez que esse decreto não foi revogado, e, por conseguinte, não permitiremos que a ditadura ortográfica seja irreversível, porque (até) Deus (que é Deus) suporta os maus, mas não eternamente (citando Miguel de Cervantes).
Vem isto a propósito de um inacreditável artigo publicado por Vital Moreira, professor universitário, jurisconsulto e político português, afecto ao Partido Socialista (só podia ser!), no seu Blogue Causa Nossa, sob o título Pobre Língua (15): Sebastianismo ortográfico (mais abaixo assinalado).
É este inconcebível artigo que me proponho a esmiuçar.
Imagem enviada via Messenger (Facebook)
(Antes de prosseguir, devo lembrar ao Dr. Vital Moreira que a Língua Portuguesa é uma das Línguas mais ricas do mundo, e se ficou pobre isso deve-se unicamente a uma tribO de predadores ignorantes que a atacaram com o AO90, despojando-a da sua riqueza e de toda a sua beleza).
A quem serve o Professor Vital Moreira?
Porque não acredito que um professor universitário, ainda que da área do Direito, se prestasse a escrever tantos disparates, num só texto, a não a ser a pedido dos tais ditadores, que mantêm a Língua Portuguesa cativa nos calabouços do Poder.
Ou, na pior das hipóteses, se está verdadeiramente crente que AO90 é excelente para facilitar a aprendizagem da nossa Língua aos estrangeiros, deveria, no mínimo, ter dado uma vista de olhos pelas Gramáticas das Línguas nobres europeias, nas quais a nossa Língua se inclui, para não fazer a má figura que fez ao escrever o que escreveu. Se eu, que sou ignorantíssima a Física Quântica, me metesse a falar de moléculas, átomos, electrões, protões, e partículas sub-atómicas, faria a mesmíssima figura. Porque cada macaco (quer-se) no seu galho.
No seu artigo, Vital Moreira começou por dizer isto:
1 - Confesso que não deixo de admirar a pequena tribu de opositores ao Acordo Ortográfico, os quais, passados mais de dez anos sobre a sua vigência e a sua aplicação generalizada - o que o torna irreversivel -, continuam a pugnar pelo regresso à antiga ortografia, com a mesma convicção com que os sebastianistas esperavam o regresso de D. Sebastião.
O caso é tanto mais de admirar, quanto eles insistem sem desfalecimento num pequeno menu de argumentos, em geral de uma enorme fragilidade, como se deduz de mais uma peça de um dos seus mais empenhados ativistas, Nuno Pacheco, ontem no Público, um dos poucos periódicos que se mantém fiel à antiga ortografia.
***
Senhor professor Vital Moreira, a pequena tribO de opositores ao Acordo Ortográfico, que não é assim tão pequena quanto julga, continua aCtiva na defesa da Língua Portuguesa, passados que são mais de dez anos de ignorância, também aCtiva, na aplicação do AO90 (não com espírito sebastianista, uma vez que a nossa luta não assenta em ilusões, mas em certezas) porque uma outra tribO, esta sim, pequena em número e em Saber, arrasta servilmente os seus grilhões, numa vergonhosa subserviência aos senhores de uma ex-colónia.
O senhor professor Vital Moreira diz que passados mais de dez anos sobre a sua vigência e a sua aplicação generalizada ele (o AO90) torna-se irreversível. Está totalmente enganado. Os erros, quando têm reparação (e o AO90 tem reparação) jamais são irreversíveis. Muito pelo contrário. Irreversível, só a morte, ou a perda de uma perna, num acidente. Até podemos usar uma prótese, mas não é a mesma coisa.
Portanto, o regresso à grafia portuguesa, a original, com pai e mãe bem definidos, não só é possível, mas urgente e desejável por todos os portugueses minimamente instruídos. Não é preciso ser-se doutor. A minha colaboradora doméstica, que tem apenas a 4ª classe, anterior ao AO90, escreve muito mais correCtamente, sem dar erros (e não me refiro às palavras mutiladas pelo acordo, que ela não usa) do que os cronistas subservientes a políticos pouco esclarecidos, os quais nada sabem de Língua Portuguesa e muito menos das regras das Línguas cultas do mundo.
O nosso “menu de argumentos” só é frágil para aqueles que não fazem a mínima ideia do que é a Estrutura de uma Língua, do que é a Fonética, a Fonologia, a Ortografia, o Léxico, a Etimologia, a Morfologia, a Sintaxe, a Semântica, enfim, nada sabem da Origem e da Evolução do Português. E pior, nem se dão ao trabalho de querer saber, para poderem falar ou escrever sobre o assunto, com conhecimentos.
O senhor professor Vital Moreira acha que os nossos argumentos são frágeis. Serão? E os dos acordistas, que assentam numa falta de conhecimentos de pasmar? E tal desconhecimento transparece no seguinte parágrafo:
2 - O argumento tem a ver desta vez com a grafia dos termos infetar e derivados (infeção, infetado, etc.) no Portugûes europeu, depois do Acordo, quando no Brasil - que também subscreveu o Acordo (e noutros países de Língua Portuguesa que o não ratificaram ainda) - os mesmos termos se escrevem com um c adicional (infectar, infecção, etc.).
O que o autor não diz, propositadamente para criar a confusão, é que no Brasil essas palavras se escrevem com o tal c porque assim se pronunciam, sendo esse um dos vários casos da diferença de pronúncia das mesmas palavras nos dois lados do Atlântico (facto e fato, contacto e contato, perceção e percepção, etc.).
Ora, uma das mais-valias do Acordo Ortográfico, sem prejuízo da tendencial uniformização da ortografia, consiste justamente em assinalar essas diferenças incontornáveis entre as duas versões da Língua. A ortografia não deve servir para esconder artificialmente reais diferenças de dicção, nem a Língua comum ganha nada com isso.»
***
Jamais a oralidade pode servir de bitola para a escrita, por um motivo muito simples: cada pessoa tem um modo peculiar de falar. E se cada um escrevesse como fala, teríamos uma babel de disparates, que ninguém se entenderia. (Vide: o que diz José Leite de Vasconcelos, na imagem). O argumento dos acordistas: o que não se pronuncia não se escreve é de uma ignorância tal, que ultrapassa todos os limites do razoável.
Além disso a escrita, ao contrário da oralidade, é o pilar da Cultura de um Povo, porque fixa o pensamento desse Povo. Por isso, não pode ser escrita à vontade dos fregueses, ainda por cima de fregueses mal informados.
O senhor professor Vital Moreira será um Homem, ou simplesmente um omem? Pela sua teoria, uma vez que o H não se lê, não se escreve, logo, será um omem, não pertence à espécie Homo Sapiens Sapiens. Pertencerá então à espécie omo, aquele que lava mais branco?
Escrever infeção, infetado, infecioso, perceção, exceção, aspeto (lê-se tudo com as vogais fechadas, e quem não lê assim, além de escrever incorreCtamente, pronuncia mal as palavras) demonstra uma monumental ignorância da Estrutura de uma Língua, seja ela a Portuguesa (que das grandes Línguas europeias é a que tem menos consoantes não-pronunciadas) ou quaisquer outras (veja-se a Alemã e a Inglesa, por exemplo).
E o professor Vital Moreira termina, dizendo esta inacreditável coisa:
3 - O mesmo se diga do facto de várias outras línguas (Castelhano, Francês, Inglês, etc.) usarem igualmente o dito c nas palavras correspondentes: só que também em todas elas o c é pronunciado. Curiosamente, o autor regista o caso italiano, que não usa o dito c, escrevendo-se infezione, infettare, infetto, justamente porque é assim que se pronunciam. Ou seja, nos exemplos do autor, o tal c escreve-se lá onde se pronuncia, mas não onde não se pronuncia - o que, portanto, não abona a sua tese...
Outra das vantagens do Acordo está justamente em registar para os estudantes estrangeiros as diferenças fonéticas e gráficas entre Português europeu e outras línguas próximas. Já se imaginou o problema de um aluno estrangeiro de Português, em Portugal, ao pronunciar a palavra infetar, se ela se escrevesse com c, como querem os sebastianistas ortográficos? Ou, já agora, as palavras ativo, respetivo, efetivo, etc., se escritas com c, à moda antiga, julgando que elas se lêem da mesma maneira que na sua própria língua?
Na verdade, ao eliminar esse e outros arcaísmos da ortografia portuguesa, o Acordo Ortográfico também veio facilitar a aprendizagem do português europeu pelos estrangeiros que estudam a nossa Língua.
Este parágrafo é um autêntico valha-me Deus! Neste parágrafo, o desconhecimento continua, no que respeita às consoantes não-pronunciadas, até nas restantes Línguas. Por exemplo, no Inglês thought (lê-se THôt) quantas consoantes não se lêem, mas escrevem-se? E porquê?
E quando refere as palavras italianas infeZione, infeTTare, infeTTo, saberá o Dr. Vital a razão de ser daquele Z e TT. Com toda a certeza não sabe, se soubesse não se meteria por tais atalhos.
O Dr. Vital Moreira diz que os argumentos da tribO de opositores ao AO90 são frágeis (que grande mentira!), mas os dos acordistas são de bradar aos céus!
E destrói-se uma Língua nobre e europeia por isto: registar para os estudantes estrangeiros as diferenças fonéticas e gráficas entre Português europeu e outras línguas próximas. Já se imaginou o problema de um aluno estrangeiro de Português, em Portugal, ao pronunciar a palavra infetar, se ela se escrevesse com c????
O que é isto????
Há séculos que os estrangeiros lêem a palavra infeCtar, com aquele cê não-pronunciado, por que haveriam os hodiernos de não saberem? Não estará a passar um atestado de estúpidos aos estrangeiros nossos contemporâneos?
Alguma vez os Ingleses, os Alemães, os Espanhóis, os Franceses, os Polacos, os Italianos andaram a mutilar as Línguas deles para facilitar a aprendizagem ddas Língias deles aos estrangeiros?
Não posso acreditar que um professor universitário tenha de repetir os disparates que os acordistas andam a espalhar por aí, como se todos os Portugueses fossem uns colossais ignorantes! Não acredito.
Isto é de um servilismo de bradar aos céus!
E chamar às consoantes não-pronunciadas da Língua Portuguesa arcaísmos é algo espantoso! E só perdoável (?) num jurisconsulto, que até pode saber muito de Leis, mas não sabe nada de Letras.
O que vale é que a tribO de opositores ao AO90 não tem mentalidade servilista, e tal como os estrangeiros não facilitam a vida a ninguém no que respeita à aprendizagem da Língua deles, nós também não temos de mutilar a nossa Língua para lhes facilitar a aprendizagem do Português, porque este é o argumento mais estúpido alguma vez produzido, para justificar a destruição de uma Língua.
As Línguas, qualquer Língua, têm raízes, origem, família, e não podemos desembaraçarmo-nos desta circunstância, apenas porque uma pequena tribO de acordistas servilistas decide facilitar a vida a si próprios e aos estrangeiros.
Há séculos que os estrangeiros e os Portugueses aprendem Português, e há-os que escrevem, lêem e falam a nossa Língua na perfeição.
Foi preciso uns inabilitados intelectuais aparecerem, em pleno século XXI, para acharem que todos os outros também são estúpidos ao ponto de não conseguirem escrever os cês e os pês, que não se lêem.
Conclusão: o professor Vital Moreira será incapaz de aprender a escrever as consoantes que não se lêem, no Inglês ou no Alemão, por exemplo?
Será necessário pedir aos Ingleses e Alemães que mutilem as suas palavras para que os estrangeiros, nomeadamente os portugueses, pouco dotados intelectualmente, possam escrever as suas Línguas?
Apetece-me acabar isto com um auf Wiedersehen, que pelo que li, nenhum acordista seria capaz de escrever.
Isabel A. Ferreira
Link para o artigo de Vital Moreira:
Link para o artigo de Nuno Pacheco que, esse sim, sabe o que diz:
«No Brasil preparam-se para rasgar o Acordo Ortográfico de 1990.»
Um excelente texto de Sarin, no Blogue Nem Lixivia nem Limonada, para reflectirmos Brasil e Portugal, na senda dos desencontros, nomeadamente, dos linguísticos, há séculos.
No Brasil deturpa-se a História e a Língua comuns. Era a minha maior tristeza, quando por lá andei a estudar. E à Língua chamavam-lhe Portuguesa. E ainda chamam, apesar do fosso cavado pelo desportuguesamento da Língua, desde 1943.
E agora temos de levar com mais esta: "Portugal colonizador quer colonizar a Língua Portuguesa"? Já lá vão 187 anos, desde o Grito do Ipiranga, e o Brasil ainda não encontrou o seu próprio rumo, e Portugal ajuda à missa.
Tudo corria bem, até que alguém se lembrou de colonizar a Língua Portuguesa, e Portugal aceitou. Assim é que é.
(Isabel A. Ferreira)
"Fernando Pessoa", por Almada Negreiros
«Pátria e Língua desacordadas»
Por Sarin
«No Brasil preparam-se para rasgar o Acordo Ortográfico de 1990.
Podem mesmo mudar a língua e o português do Brasil passar a ser brasileiro. É uma opção política, embora não propriamente protagonizada por Bolsonaro. Talvez que a ênfase colocada nos símbolos pátrios a exacerbe, mas não é de sua autoria.
Na verdade, desde 1911 e do primeiro acordo ortográfico que a ideia estaria latente em algumas elites intelectuais e políticas. Mas, aparentemente, este AO90 reacendeu o debate inflamando-o até às cinzas.
Intriga-me a mecânica do processo: o acordo com que pretendiam harmonizar a escrita e consolidar uma língua vai acabar por criar duas línguas em países que durante duzentos anos se entenderam. Há quem ao AO90 chame Caixa de Pandora, para mim sempre se assemelhou a um boomerang.
Não tenho argumentos técnicos nem políticos para defender se deve ou não deve ser uma nova língua, e confesso que não me interessa desde que continue a perceber o que dizem e escrevem do lado de lá.
Gostaria também de dizer "desde que perceba o que sentem", mas... não percebo. De todo.
Sinto-me a viver outra dimensão perante alegações como "Portugal colonizador quer colonizar a Língua Portuguesa", perante outras acusações que vou ouvindo e que mais me parecem tentativas de branquear a sua brasileira vergonha por em duzentos anos de independência não terem estancado aquilo de que nos acusam. Branquear não no sentido de lavar, mas de colar aos portugueses brancos de Portugal. No caso, os males da História, presente passado e futuro.
Não peço desculpa por me ter reconciliado com a História do meu país, mesmo com aquelas passagens vergonhosas, e não foram poucas!, ou aquelas horríficas, das quais imagino apenas esboços sem vislumbre real do imensas que foram.
Mas no agora o verbo conjuga-se no presente, não no pretérito. E o pretérito que a uns foi ensinado mais-que-perfeito e a outros imperfeito não é mais do que pretérito, simples.
Não aceito que me cobrem no presente qualquer dos pretéritos vividos e sofridos pelos nossos ancestrais. Sim, os meus avós também foram colonizados, também foram expulsos dos seus lares, também foram escravos, também morreram na gleba. E foram arrancados das casas que reconstruíram tantas vezes para atravessarem os mares e morrerem longe destes seus. Por isso respeitemos os mortos. Onde quer que tenham caído.
E não me queiram condoída pelas vossas línguas indígenas: em plena campanha, o vosso presidente anunciou pretender reduzir o espaço onde algumas ainda se podem considerar nativas! Onde esteve a vossa preocupação? Onde está, quando os índios que não dizimámos continuam a cair às vossas próprias mãos?!
Portanto, lambam as feridas como as lamberam os meus avós, como eu lambo as minhas. E avancemos, porque a gramática não pára o relógio e os vivos precisam de atenção, não de cucos!
Podemos construir sociedades melhores se aceitarmos que não podemos refazer a nossa História comum. Mas que podemos e devemos aprender com ela.
Afinal, em português (pt) ou em português (br), em língua portuguesa ou em língua brasileira, futuro grafa-se, ainda, da mesma exacta maneira.
Fonte:
https://sarin-nemlixivianemlimonada.blogs.sapo.pt/patria-e-lingua-desacordadas-73919
É raro, nos tempos que correm, encontrar o vocábulo ACTO escrito correCtamente.
Agradou-me ver, nesta foto, publicada no SAPO24, aqui há tempos, este aCto médico, assim escrito, porque segundo o AO deveria estar ali ATO e, nesse caso, ATAVA-SE o médico despropositadamente, como se começou a ATAR tudo e mais alguma coisa, por aí…
Origem da foto:
O título da notícia é o seguinte:
Ministro da Saúde diz que vai reavaliar despacho sobre fecho de urgências
16:04, 28 nov
E aqui temos a palavra ACTUALIDADE escrita correCtamente.
Depois vem aquele “nov”, correspondente a Novembro, escrito incorreCtamente.
Escrever o nome dos meses do ano em minúsculas é o mesmo que escrever lisboa, portugal, e aníbal cavaco silva, malaca casteleiro, porto editora, josé sócrates, pedro santana lopes, augusto santos silva, antónio costa, marcelo rebelo de sousa (os grandes responsáveis pela actual anarquia ortográfica registada em Portugal), primavera, ásia, europa, ursa maior, zeus, academia brasileira de letras, papa, os lusíadas, e iniciar um parágrafo também com letra minúscula, etc., etc., etc….
A regra é a mesma para todas estas palavras.
Desrespeitar as regras gramaticais é um aCto de ignorância.
Se a GRAMÁTICA não serve para nada, atire-se a Gramática ao lixo, onde já está a Língua Portuguesa acordizada.
E é esta INCULTURA que nos querem impor?
O AO90 é inconstitucional e ilegal, e não é obrigatório aplicar em nenhuma escola ou repartição pública, muito menos em empresas privadas e nos meios de comunicação social, que se querem dissociados do Poder. A resolução de ministros, que impôs o AO90 aos Portugueses, não tem valor de LEI. E pela LEI , o que está em vigor é a ortografia de 1945. Portanto, todos os que se vergaram a esta imposição estão a cometer uma ilegalidade avalizada pelos governantes, o que, apesar disso, não deixa de ser uma ilegalidade. Dizem-me os juristas. Até porque os governantes cometem muitos erros, impunemente.
O que é OBRIGATÓRIO e URGENTE é COMBATER esta PRAGA, que governantes incultos querem IMPINGIR-NOS.
Isabel A. Ferreira
Texto lúcido, publicado no Blogue Luminária
«Não ao "acordo" ortográfico e não à "gramática modernaça"
ACORDO ORTOGRÁFICO: ACABAR JÁ COM ESTE ERRO ANTES QUE FIQUE MUITO CARO
O acordo ortográfico é uma decisão política e como tal deve ser tratado. Não é uma decisão técnica sobre a melhor forma de escrever português, não é uma adaptação da língua escrita à língua falada, não é uma melhoria que alguém exigisse do português escrito, não é um instrumento de cultura e criação.
É um acto político falhado na área da política externa, cujas consequências serão gravosas principalmente para Portugal e para a sua identidade como casa-mãe da língua portuguesa. Porque, o que mostra a história das vicissitudes de um acordo que ninguém deseja, fora os governantes portugueses, é que vamos ficar sozinhos a arcar com as consequências dele.
O acordo vai a par do crescimento facilitista da ignorância, da destruição da memória e da história, (e das importantes raízes linguísticas ao latim e grego, que são também partilhadas pelas várias línguas ocidentais: alemão, inglês, francês, italiano, castelhano, galego, 'hispânico', ...) de que a ortografia é um elemento fundamental, a que assistimos todos os dias. E como os nossos governantes, salvo raras excepções, pensam em inglês “economês”, detestam as humanidades, e gostam de modas simples e modernices, estão bem como estão e deixam as coisas andar, sem saber nem convicção.
O mais espantoso é que muitos do que atacaram o “eduquês” imponham este português pidgin, infantil e rudimentar, mais próximo da linguagem dos sms, e que nem sequer serve para aquilo que as línguas de contacto servem, comunicar. Ninguém que saiba escrever em português o quer usar, e é por isso que quase todos os escritores de relevo da língua portuguesa, sejam nacionais, brasileiros, angolanos ou moçambicanos, e muitas das principais personalidades que têm intervenção pública por via da escrita, se recusam a usá-lo. As notas de pé de página de jornais explicando que, “por vontade do autor”, não se aplicam ao seu texto as regras da nova ortografia são um bom atestado de como a escrita “viva” se recusa a usar o acordo. E escritores, pensadores, cronistas, jornalistas e outros recusam-no com uma veemência na negação que devia obrigar a pensar e reconsiderar.
Se voltarmos ao lugar-comum em que se transformou a frase pessoana de que a “minha pátria é a língua portuguesa”, o acordo é um acto antipatriótico, de consequências nulas no melhor dos casos para as boas intenções dos seus proponentes, e de consequências negativas para a nossa cultura antiga, um dos poucos esteios a que nos podemos agarrar no meio desta rasoira do saber, do pensar, do falar e do escrever, que é o nosso quotidiano.
Aos políticos que decidiram implementá-lo à força e “obrigar” tudo e todos ao acordo, de Santana Lopes a Cavaco Silva, de Sócrates a Passos Coelho, e aos linguistas e professores que os assessoraram, comportando-se como tecnocratas ("iluminados" e fanáticos) – algo que também se pode ter do lado das humanidades, normalmente com uma militância mais agressiva até porque menos "técnicas" são as decisões –, há que lembrar a frase de Weber que sempre defendi como devendo ser inscrita a fogo nas cabeças de todos os políticos: a maioria das suas acções tem o resultado exactamente oposto às intenções. O acordo ortográfico é um excelente exemplo, morto pelo “ruído” do mundo. O acordo ortográfico nas suas intenções proclamadas de servir para criar uma norma do português escrito, de Brasília a Díli, passando por Lisboa pelo caminho, acabou por se tornar irritante nas relações com a lusofonia, suscitando uma reacção ao paternalismo de querer obrigar a escrita desses países a uma norma definida por alguns linguistas e professores de Lisboa e Coimbra.
O problema é que sobra para nós, os aplicantes solitários da ortografia do acordo. O acordo, cuja validade na ordem jurídica nacional é contestável, que nenhum outro país aprovou e vários explicitamente rejeitaram, só à força vai poder ser aplicado. A notícia recente de que, nas provas – que acabaram por não se realizar – para os professores contratados, um dos elementos de avaliação era não cometerem erros de ortografia segundo a norma do acordo mostra como ele só pode ser imposto por Diktat, como suprema forma de uma engenharia política que só o facto de não se querer dar o braço a torcer explica não ser mudado.
Porém, começa a haver um outro problema: os custos de insistirem no acordo. A inércia é cara e no caso do acordo todos os dias fica mais cara. A ideia dos seus defensores é criar um facto consumado o mais depressa possível. É esta a única força que joga a favor do acordo, a inércia que mantém as coisas como estão e que implica custos para o nosso défice educativo e cultural.
É o caso dos nossos editores de livros escolares que começaram a produzir manuais conforme o acordo e que naturalmente querem ser ressarcidos dos seus gastos. Mas ainda não é um problema insuperável e, acima de tudo, não é um argumento. Passado um período de transição, pode voltar-se rapidamente à norma ortográfica vigente e colocar o acordo na gaveta das asneiras de Estado, junto com as PPP e os contratos swaps, e muita da “má despesa”. Porque será isso que o acordo será, se não se atalhar de imediato os seus estragos no domínio cultural.
O erro, insisto, foi no domínio da nossa política externa com os países de língua portuguesa, e esse erro é hoje mais do que evidente: os brasileiros, em nome de cuja norma ortográfica foram introduzidas muitas das alterações no português escrito em Portugal, nunca mostraram qualquer entusiasmo com o acordo e hoje encontram todos os pretextos para adiar a sua aplicação. No Brasil já houve vozes suficientes e autorizadas para negar qualquer validade a tal acordo e qualquer utilidade na sua aplicação. Os brasileiros que têm um português dinâmico, capaz de absorver estrangeirismos e gerar neologismos com pernas para andar muito depressa, sabem que o seu “português” será o mais falado, mas têm a sensatez de não o considerar a norma.
Nós aqui seguimos a luta perdida dos franceses para a sua língua falada e escrita, também uma antiga língua imperial hoje em decadência. Querem, usando o poder político e o Estado, manter uma norma rígida para a sua língua para lhe dar uma dimensão mundial que já teve e hoje não tem. Num combate insensato contra o facto de o inglês se ter tornado a língua franca universal, legislam tudo e mais alguma coisa, no limite do autoritarismo cultural, não só para protegerem as suas “indústrias” culturais, como para “defender” o francês do Canadá ao Taiti. Mas como duvido que alguém que queira obter resultados procure no Google por “logiciel”, em vez de “software”, ou “ordinateur”, em vez de “computer”, este é um combate perdido.
Está na hora de acabar com o acordo ortográfico de vez e voltarmos a nossa atenção e escassos recursos para outros lados onde melhor se defende o português, como por exemplo não deixar fechar cursos sobre cursos de Português nalgumas das mais prestigiadas universidades do mundo, ter disponível um corpo da literatura portuguesa em livro, incentivar a criatividade em português ou de portugueses e promover a língua pela qualidade dos seus falantes e das suas obras. Tenho dificuldade em conceber que quem escreve aspeto – o quê? – em vez de aspecto, em português de Portugal, o possa fazer. (- por JPPereira, Abrupto, 17/2/2014)
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«Este blog ainda não adoptou o acordo ortográfico. O autor prefere escrever com erros pessoais a fazê-lo com erros oficiais.» - LNT
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Também muitas das alterações gramaticais são a afirmação de uns pseudo linguistas modernaços que se se aliaram ao poder político para se afirmarem e retirarem benefícios pessoais à custa da maioria dos cidadãos, sejam docentes, alunos, pais, técnicos, ... - que de um momento para o outro, com a adopção de nova nomenclatura/classificação das várias componentes das frases e suas inter-relações, passaram a ser rotulados como incompetentes/desconhecedores dos mecanismos e regras de análise, interpretação e uso da língua. Raios os partam!!»
Fonte:
https://luminaria.blogs.sapo.pt/nao-ao-acordo-ortografico-e-nao-a-968591
«Se tivermos presentes os inúmeros exemplos da aberração, mais do que documentada, do Acordo Ortográfico, estas rápidas considerações que fiz deviam bastar para se ter consciência da monstruosidade que foi fabricada, decidida e tão célere e surdamente imposta.»
Excelente texto para ler e reflectir.
(Origem da imagem: Internet)
Texto de Guilherme Valente
A escrita não é uma arbitrariedade. Tem uma lógica, uma história, uma função, valor e importância inestimáveis.
"Patriotismo é o amor pela nossa Terra. Nacionalismo é o ódio à Terra dos outros” Romain Gary
"É sempre um défice de pátria que atiça o nacionalismo, nunca um excesso" Pascal Bruckner
A gramática, a sua nomenclatura e terminologia também não podem ser o tricot com que os nossos linguistas alteraram recorrentemente os programas de Português. Talvez para fazerem passar por avanços de ciência o que na realidade não o é.
Mas a gramática e a sua nomenclatura têm também uma lógica e uma história.
Do mesmo modo que os Jerónimos ou a Batalha também não são a construção de lego com que uma criança possa brincar, ou mamarrachos que se possam alterar ou destruir à vontade. Nem a obra Os Maias pode ser trocada por uma versão facilitista, idiota dela. De facilitismo em facilitismo, de simplificação em simplificação, é inteligência que se atrofia e que matam.
A língua, organismo vivo, enriquecível pela interacção inevitável das culturas, não deixa de ser por isso a herança matricial que é, que tem de ser cuidada, ensinada e amada - escola é, sempre, a palavra-chave.
Por isso, a escrita, que reflecte essa natureza da língua, pode e deve ser actualizada. Mas no seu tempo e com critério, tocando-se nela com precisão cirúrgica, sem ferir a sua lógica, sem quebrar o fio agregador da sua origem e da sua história. Porque tal como todos os outros elementos que referi, tal como a História, é constitutiva e constituinte duma identidade humana, que é, na sua universalidade, singular. Porque tudo o que somos, pensamos ou fazemos é resultado duma cultura, isto é, "duma compreensão do mundo historicamente adquirida". Que devemos assumir e de nos devemos orgulhar.
Tão célere e surdamente que se impõe a pergunta metódica que deve ser colocada quando, entre nós, algo é decidido e imposto tão célere e surdamente: que interesses beneficiou este AO?
Devo declarar que muito boa gente lutou por este AO por muito boas razões, sobretudo de política cultural e mesmo económica, designadamente as relações, de vária natureza, com o Brasil, e a valorização da língua portuguesa na comunidade internacional. Na minha opinião, contudo, que os factos confirmam, não era correcta a avaliação que fizeram. E essas bem-intencionadas razões não deviam ter ignorado o desiderato que acima formulei.
Cidadãos do mundo, porque amar a nossa Terra não é incompatível, bem pelo contrário, com o sonho empolgante de podermos contribuir, com a oferta do que conseguirmos ser, da nossa diferença, para o progresso de todas as nações.
Argumentou Henrique Monteiro, no Expresso, que muitos milhares de miúdos já aprenderam as novas regras. Diz isso porque não tem reparado como escrevem hoje os alunos e... muitos professores. E está a esquecer os milhões de portugueses que não as aprenderam e nunca aprenderão. E se muitos miúdos as aprenderam, estão na idade perfeita para aprenderem o que deve ser ensinado.
Um dos danos mais profundos e irreversíveis deste AO, tal como acontecera com as sucessivas alterações absolutamente gratuitas na nomenclatura e na terminologia da gramática, foi separar os pais dos filhos, foi impedir que os apoiassem no estudo do Português. Como me aconteceu a mim há trinta e tal anos.
Não se “nasce” português, ou francês, ou chinês, qualquer um de nós, ser biológico, poderia ter nascido num lugar qualquer. E seria desse lugar. É-se verdadeiramente português, mais português, por se querer ser Português. Wenceslau de Moraes, por exemplo, escolheu ser japonês, e foi tão japonês, mais japonês, seguramente, do que muitos japoneses. Portugueses de Macau, como eu os conheci, mesmo sem nunca terem vindo a Portugal, são mais portugueses do que inúmeros cidadãos portugueses que aqui nasceram, cujos antepassados viveram desde sempre em Portugal.
Apagamento da História que foi fazendo com que as gerações que começam hoje a chegar aos 50 anos vivam, na generalidade, sem dimensão do passado, por isso sem sentimento do futuro. Num eterno presente em que só o egoísmo pode dominar.
"A minha pátria é a língua portuguesa", escreveu Pessoa. Neste sentido parece estarmos a tornar-nos rapidamente apátridas.
A negligência e a arbitrariedade com que se trata a língua e a escrita são o primeiro sinal da decadência de uma cultura e de uma nação.
Mas tudo depende da inteligência e da vontade dos homens. Por isso estou certo que Portugal será esse País por tantos de tantas gerações sonhado. Por isso combati persistentemente contra as ideias e os actos que livre e convictamente considerei adiarem esse desígnio, bem ao alcance dos Portugueses, não tenho dúvidas. Para que também nós, Portugueses, participemos de novo no destino de conhecimento e solidariedade que tem de ser o destino do Homem.
(1) Henrique Monteiro, Expresso, 7/5/16.
P.S.: Gosto muito de me ver representado pelo actual PR. O que não impede, naturalmente, que não subscreva a sua decisão de só intervir na questão do AO se este não obtiver a aprovação dos países que o não aprovaram.
Editor da Gradiva
Fonte:
Via e-mail, frequentemente recebo pedidos de informação, ou mesmo uma opinião sobre o que está a passar-se a propósito do despropósito de um acordo ortográfico que ninguém pediu, não é necessário, sendo, portanto, inútil, e muito menos é um acordo racional.
E é sobre o que escrevo em privado, que partilho, hoje, em público.
Não sou Filóloga, nem Linguista. Tive de dar aulas de Português, porque os de História tinham de ministrar também a disciplina de Português, para a qual, no entanto, nunca foram preparados na Universidade. Daí, ter tido a necessidade de estudar a Língua Portuguesa, mais aprofundadamente, para não defraudar os meus alunos.
Aprendi a ler e a escrever no Brasil, e fui estudando cá e lá, ao longo da infância, adolescência e juventude. Conheço a fundo as duas versões do Português, para poder dizer, com conhecimento de causa, e sem titubear, que o que nos estão a impingir, hoje, é a ortografia brasileira, que eu aprendi na escola primária, no Brasil. Com que intenções fazem isso? Naturalmente com as intenções mais obscuras por parte de Portugal que, servilmente, se curva aos interesses exclusivos do Brasil.
Não sou propriamente avessa aos neologismos, quando estes têm fundamento. Não gosto de certas adaptações de palavras estrangeiras para Língua Portuguesa, se lhes retiram a elegância. Estou a lembrar-me de “avalanche”, do francês “avalanche”. Detesto a palavra aportuguesada “avalancha” que não tem graciosidade nenhuma. É uma palavra espessa. Eu utilizo o termo “avalanche”, que existe nos nossos dicionários (quando digo nossos, descarto os novos dicionários acordistas, que não são nossos). E isto é como chamar João Lenão ao John Lennon. Não gosto de palavras espessas, e agora com o AO90 é o que mais existe, por aí: palavras espessas e muito deselegantes.
***
Passando às questões:
Acessibilidade (do latim accessibilitas, -atis) significa qualidade do que é acessível, alcançável, atingível.
Jamais pode ser aplicada como acesso (entrada) a alguma coisa.
Os que usam o vocábulo acessibilidade para significar “acesso” cometem uma grande calinada.
Mas as calinadas são aos milhares: eles “cOmprimentam-se”, eles “fOncionam”, eles dizem das suas "circOnstâncias", à última DA hora, eles aplicam mal os tempos dos verbos, eles não sabem Português. Estou a referir-me aos governantes responsáveis pela decadência da Língua Portuguesa. Estejam atentos ao modo como falam.
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Quanto ao “contratualizar” (contratual + izar), significa estabelecer as regras contratuais de…; pôr em contrato.
Deriva da palavra CONTRATUAL do francês “contractuel” relativo a um CONTRATO (= convenção, acordo).
Contratar = empregar (do latim contractare)
Contrato (do latim contractus)
Ambas as palavras perderam o C antes do AO90. São daquelas excepções, à regra.
A palavra “contratualizar” não existe nos dicionários de Língua Portuguesa, mas não me faz mossa.
Porque o vocábulo “contractar” não existe.
O que existe é “contracto” (do latim contractus) = contraído, encolhido, que sofreu contracção = CONTRAÍDO.
E como contratualizar significa “fazer um contrato”, é um neologismo que não faz mossa na Língua.
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Porém, não me venham com “parabenizar”, uma palavra horrorosa que os portugueses andam a adoptar do brasileiro (e que me desculpem os brasileiros, também as temos horrorosas, por cá). É como “apenado” (condenado, o que sofreu uma sanção penal); ou “estrelar” (protagonizar - o Johnny Depp estrelou o filme «Piratas das Caraíbas», talvez com umas batatinhas fritas…), palavras americanizadas, escusadamente, até porque temos vocábulos tão mais graciosos, em Português.
Mas há muitos mais que agora não me ocorrem.
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Pois se fôssemos a seguir essa regra parva de "perde a consoante porque não é pronunciada" teríamos de aumentar a lista em várias centenas de palavras.
É que a lógica dos acordistas, quanto à supressão das consoantes mudas, é tão ilógica que se lhes perguntamos por que (h)avemos de suprimir a consoante em faCtor, porque não pronunciamos o C, por que não a suprimir em (h)avemos, uma vez que também não pronunciamos o H? E eles não têm uma explicação racional para o fazer. Mas eu já vi por aí escrita este conjunto de letras - ospital. Talvez porque o H passe despercebido… como no vocábulo “umidade” (Humidade em Portugal), que no Brasil se grafa sem H, porque o H passa "despercebido" na palavra... (li isto no Ciberdúvidas), e li mais, ainda se escreve, por exemplo, (h)oje e (h)ora, com H, porque, por força do uso, algumas palavras com H inicial já têm fixação visual e deixa alguma perplexidade grafias como "oje" ou "ora"... Foi o que li no Ciberdúvidas.
Considero esta “explicação” de uma inteligência raríssima.
Pois se aos acordistas a grafia “oje” (por hoje) e “ora” (por hora) causa perplexidade, porque aquele H mudo inicial já tem fixação visual, a mesma perplexidade, causam grafias como "fatura" (fâturâ), "fator" (fâtôr), "fração" (frâção), “direto” (dirêtu), “diretor” (dir’tôr), “objeto” (objêtu), “rutura”, “receção” (r’c’ão), "exceto” (eiscêtu), “Egito”, “aspeto” (âspêtu), “adoção” (âdução), “inseto” (insêtu), “ação” (âção), “deteta” (d’têtâ), “exato” (ixâtu), enfim, estes e centenas de outros abortos ortográficos, que, assim escritos, é obrigatório pronunciá-los conforme está entre parêntesis, e nada significam.
E é deste modo híbrido que os acordistas justificam a supressão das consoantes mudas em palavras onde elas são indispensáveis, e não fazem cair as outras porque, visualmente, elas criam perplexidade!!!!! Isto é de quem não tem a mínima noção do que diz, do que faz e do que vê, é de quem não tem o mínimo conhecimento da estrutura das Línguas, de todas as Línguas. Lamentável! Inaceitável!
Depois existe um outro pormenor: quando me dizem que os estrangeiros percebem o “brasileiro” melhor do que o Português… É MENTIRA! Na escrita, um inglês, um francês, um espanhol ou um alemão que não saibam muito bem o Português, se depararem, por exemplo, com as palavras directo, director, factor, reconhecê-las-ão imediatamente. Ao contrário, se depararem com “direto”, diretor, fator, não saberão o que isto é. E estas palavras são exclusivamente do léxico brasileiro.
Eu, que não domino o Alemão, mas domino o Inglês, consigo entender uma frase em alemão tirando pela pinta as palavras. E isto acontece porque a etimologia é a mesma em muitíssimos vocábulos. Somos da família indo-europeia. Não somos da família sul-americana, aliás, cuja língua, à excepção das línguas nativas, é oriunda da Europa.
Quando eu digo que se fala mal, ou escreve mal, no Brasil, refiro-me ao emprego do tempo dos verbos, dos plurais, dos artigos, dos pronomes, da acentuação, que o comum dos Brasileiros não sabe aplicar, muito por culpa do "não-ensino" da Gramática, nas escolas. Não me refiro ao "sotaque" que, até lhe acho piada.
E o que se fala e escreve no Brasil será a mesma Língua Portuguesa que, por exemplo, os Angolanos e Moçambicanos instruídos falam e escrevem?
É óbvio que os Timorenses, Angolanos, Moçambicanos e restantes povos ditos lusófonos não falam todos do mesmo modo. Até em Portugal, de Norte a Sul, o modo de falar difere.
Mas não é ao "modo" que me refiro. É à "forma" como a Língua é utilizada, é grafada, é pronunciada. Não se conhecendo a Gramática, dizem-se e escrevem-se os maiores disparates.
Quanto à escrita, dos sete povos ditos lusófonos ou lusógrafos, apenas os Brasileiros deformaram a ortografia, mutilando-a e criando palavras sem significado real algum, em Português.
No que respeita ao Inglês e ao Castelhano o que se passa não é bem a mesma coisa. Os povos colonizados pelos Ingleses e Espanhóis não mutilaram as línguas que adoptaram do colonizador. Têm novos vocábulos para designar as mesmas coisas, uma grafia diferente, muito pontualmente, o “sotaque” difere de país para país, mas não mutilaram ostensivamente as palavras. E jamais Inglaterra ou Espanha fariam um "acordo" para adoptar a grafia das ex-colónias. E os falantes e escreventes das Línguas Inglesa e Castelhana também são aos milhões nas ex-colónias deles.
Então porquê substituirmos a nossa Língua Portuguesa, pelo Dialecto Brasileiro ou Variante Brasileira do Português? Por eles serem mais milhões do que os milhões que falam e escrevem Português fora do Brasil? Isso nunca será argumento válido, em parte alguma do mundo, quiçá, do Universo.
E é essencialmente isto que combato, por amor à minha Língua Materna, a Língua Portuguesa, aquela que está em vigor em Portugal, com agrafia da Convenção Ortográfica de 1945.
Isabel A. Ferreira
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