Quinta-feira, 10 de Junho de 2021

Hoje celebrarei, a três tempos, o Dia de Portugal, de Camões, das Comunidades Portuguesas e da Língua Portuguesa…

 

Tempo Primeiro:

 

Camões 1.jpg

 

Celebro o Dia de Portugal e das Comunidades Portuguesas orgulhando-me de ser portuguesa, orgulhando-me da sua História, da sua Cultura Culta (porque anda por aí uma cultura inculta a tentar impor-se, sob as asas de políticos pouco escrupulosos, de quem não tenho orgulho algum), e de todos os Autores Portugueses que souberam honrar a Língua Portuguesa, desde Dom Dinis até aos nossos dias.

 

Portugal é um país territorialmente pequeno, mas com uma alma grande, que gente ignara, d’aquém e d’além-mar, amesquinha insidiosamente, sem o mínimo Saber.

 

Contudo, um Povo [que se preze] deve celebrar os valores do seu País mais do que gritar ao mundo as suas desvirtudes. Estas devem ser redimidas na intimidade da sua auto-estima.

 

E porque tudo vale a pena se a alma não é pequena (citando Fernando Pessoa), este é o meu contributo no sentido de resgatar o bom-nome de Portugal [que anda por aí tão vilipendiado, na boca de quem não conhece as palavras].

 

Todos os povos têm virtudes e defeitos. Portugal não foge à regra. Contudo, o maior defeito do Povo Português é o de não acreditar nas suas virtudes, [aceitar ser governado por políticos estultos] e encolher-se perante os juízos menores que dele fazem os que desconhecem a grandeza do seu percurso histórico, e de como sempre conseguiu manter-se na corda bamba, sem nunca perder plenamente o equilíbrio.

 

E isso não é coisa pouca!

[Mas esses foram outros tempos, tempos em que a HONRA fazia Lei].

 

(O texto em itálico foi retirado da nota introdutória do meu livro «Dom João VI – Como um Príncipe Valente Enganou Napoleão e Salvou o Reino de Portugal e o Brasil», que pode ser consultado neste link:

https://arcodealmedina.blogs.sapo.pt/contestacao-ao-livro-1808-de-laurentino-729191

 

***

 

Tempo segundo:

 

Fernando Campos.jpg

Fernando Campos (Foto: Portal da Literatura)

 

É através do escritor Fernando Campos que celebrarei todos os Autores Portugueses, desde os clássicos, aos hodiernos, que souberam honrar Portugal, honrando a Língua Portuguesa, o nosso mais nobre   Património Cultural Imaterial, o único que nos identifica como Povo soberano.

 

Fernando Campos é um dos mais extraordinários autores portugueses, da minha predilecção. Ficcionista, cronista e investigador, Fernando da Silva Campos nasceu em 23 de Abril de 1924, em Águas Santas, no concelho da Maia (Porto), e faleceu em Lisboa, em 01 de Abril de 2017. A sua prosa é cristalina. É perfeita. É ímpar. Ler Fernando Campos é esquecer a realidade e entrar no mundo fabuloso das suas palavras e dos seus enredos.

 

De Fernando Campos, neste momento, estou a reler «A Rocha Branca», cujo âmbito cronológico da acção vai dos finais do século VII a. C. à primeira metade do século VI a. C., e no qual a poetisa Safo de Lesbos é a personagem principal. Um livro que recomendo não só pela sua beleza de escrita, como pela riqueza do conteúdo histórico.

 

Entretanto, seguindo a minha releitura, na página 47, deparei-me com o discurso de Pítaco, rei de Mitilene, que provocou o exílio de Safo, a conspiradora.

 

E não sei porquê (talvez os meus leitores possam dizer-me), encontrei neste discurso algo que me trouxe aos tempos de hoje. E pensei: o que mudou em todos estes séculos? Este discurso pode ser proferido por qualquer um dos nossos actuais governantes, ou pretendentes a sê-lo, ou poderia tê-lo dito António Oliveira Salazar.

 

Ontem, como hoje, tirania ou democracia? Eis o grande dilema, que me proponho reflectir com os meus leitores:

 

«(...)

Um dia Pítaco convoca os cidadãos para a ágora. (...) Ele avança três passos no patamar até à beira da escadaria, levanta a mão e fala:

 

– Cidadãos de Mitilene! A nossa liberdade está em perigo. Um grupo de conspiradores ousou urdir na sombra a morte do vosso rei e a perda da cidade. Vejo-me constrangido a expulsar de Lesbos todo esse bando de perigosos malfeitores. Alcei-me ditador para que não mais haja nesta terra ditadura. Não renegaremos os deuses, velaremos pela salvação da pátria e pela segurança de todos vós. É na tirania que se funda a verdadeira democracia. De que serve a soma de opiniões dos homens cultos, se, numa assembleia, as suas ideias divergem, tal como na taberna se entrechocam as dos ignorantes no calor do vinho e das paixões? Sim, dir-me-eis, é preciso educar o povo. É verdade. Mas, quando toda a gente possuir o dom da sabedoria, todos continuarão a opinar diversamente e a democracia corre o risco de ser sinónimo de anarquia...

 

Só sereis felizes se fordes governados por um rei absoluto. A causa de todos os males está na democracia, no governo da maioria. Quando o poder está na mão de um tirano, ele sabe que tem de satisfazer a muitos. Se muitos governam, não pensam senão em satisfazer-se a si próprios e surge então a mais hipócrita das tiranias, a tirania rebuçada de liberdade. Para obviar a esse perigo, cumpre pôr ordem nos tribunais, nas assembleias do povo, no exército, nas ruas, disciplina nas escolas, estabelecer normas de convivência. Criarei uma guarda pessoal que vigilará pela minha e vossa integridade, que o mesmo é dizer pela integridade do estado. Serão homens especialmente treinados. Ninguém conhecerá os seus rostos nem os seus nomes. Estarão em todo o lado, secretos, invisíveis, atentos e zelosos. Serão os meus olhos e ouvidos. Ide em paz. Sois livres de nada conceber e atentar contra o vosso rei e a vossa pátria...

 

- …se não… - rosna Antiménides no meio da multidão.»

 

in «A Rocha Branca», Fernando Campos (Editora Objectiva) – 1ª edição Outubro 2011

 

Obra literária de Fernando Campos, que recomendo vivamente:

 

A Casa do Pó (Prémio Literário Município de Lisboa) – (1986); Psiché – (1987); O Homem da Máquina de Escrever – (1987); O Pesadelo de dEus - (1990); A Esmeralda Partida (Prémio Eça de Queiroz da Câmara Municipal de Lisboa) - (1995); A Sala das Perguntas - (1998); Viagem ao Ponto de Fuga - (1999); A Ponte dos Suspiros - (2000); ...que o meu pé prende... - (2001); O Prisioneiro da Torre Velha - (2003); O Cavaleiro da Águia - (2005); O Lago Azul - (2007); A Loja das Duas Esquinas - (2009); A Rocha Branca - (2011); Ravengar - (2012)

 

***

 

Tempo Terceiro:

 

Luto pela Língua.png

 

Neste dia de celebração de Portugal, de Camões (o maior de todos os nossos Poetas, o qual cantou os feitos gloriosos dos Portugueses, imortalizando-os na sua genial obra «Os Lusíadas»), das Comunidades Portuguesas, mas também da nossa Língua Portuguesa, não podia deixar passar em branco o facto de o Povo Português estar de luto por ela, e ao mesmo tempo, existir tanta gente a lutar pela sua sobrevivência, entre o caos em que, entretanto, a lançaram.

 

Eu estou de luto pela nossa Língua, tão bela e quase morta! O que fizeram dela? O que fizeram com ela? Em nome de quê? Porquê? Nasceu nobre e europeia, num jardim antigo, à beira-mar plantado, e foi lapidada, como um diamante, por um saber profundo.

 

Foi levada por ventos e marés a todos os cantos do mundo. E em cada canto nasceu um novo falar, uma nova escrita. E de uma se fez muitas.

 

Espalhou-se pelo mundo, sem nunca deixar, contudo, de ser a Matriarca [de mater (Latim) + árkho (Grego) – as suas raízes], aquela que lidera, por ser a mais antiga, entre todas as outras que nasceram dela.

 

Porém, entretanto, vieram uns invasores estéreis, e feriram-na de morte, sem dó, nem piedade, nem sabedoria, e agora, agonizante, o nosso belo diamante aguarda um antídoto que possa devolvê-lo à vida e à beleza de antanho.

 

Daí que eu esteja de luto, mas, ao mesmo tempo, luto com todas as garras de fora para que esses invasores sejam escorraçados e vencidos, como tantos outros, ao longo da nossa História, já foram, e a Língua Portuguesa possa, então, renascer das cinzas, tal a bela Phoenix que sempre foi.

 

Ainda nos resta a esperança que, tal como a ave mítica, ainda que possa morrer queimada, renascerá sempre das próprias cinzas, se assim o desejarmos.

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 09:58

link do post | comentar | adicionar aos favoritos
partilhar
Segunda-feira, 11 de Maio de 2020

«O vírus que atacou a língua portuguesa»

 

Excelente texto de José Pacheco Pereira, obrigatório ler e partilhar muito, e pôr em prática o que o autor aqui sugere.

 

«A língua é uma coisa viva e o “acordês” é uma língua morta. Foi ferida por um vírus pior nos seus efeitos sociais e culturais do que o coronavírus.» (...) «A língua portuguesa precisa de nós. E não se esqueçam deste facto: o Acordo é impopular.» (José Pacheco Pereira)

 

Publico_20200509-scaled.jpg

 

Por José Pacheco Pereira

 

“No tempo do Getúlio (Brasil) e de Salazar (Portugal) foram feitos acordos que não prevaleceram, porque, na realidade, quem faz a língua não são as academias, nem os governos. Quem faz a língua é o povo.” Carlos Heitor Cony

 

«Tenho à minha frente uma série de jornais e de outras publicações do Brasil, de Angola, de Cabo Verde, de Moçambique, da Guiné, de Macau e de Timor. São actuais e nenhum respeita o Acordo Ortográfico. Se acrescentar a esses jornais e publicações mais uma série oriunda de Portugal, ou explicitamente recusam o Acordo, ou misturam artigos escritos nas duas línguas, o “acordês” e o português. Já não ponho livros em cima da mesa, romances, poemas, ensaios, porque quanto mais conhecido e criativo é o autor, menos usa o “acordês”.

 

Por detrás destas publicações está uma série de acordos diplomáticos que, ou estão a ser ilegalmente aplicados, ou foram ratificados e metidos na gaveta, com explícitas declarações de que são para meter na gaveta, ou, por fim, não foram aprovados pelos países que deveriam tê-los incorporado na legislação nacional. Como monumental falhanço diplomático, é um caso exemplar. O problema nem sequer é esse: é que, como falhanço cultural, é uma desgraça, mas, vindo de quem vem, é previsível.

 

A razão é muito simples: a língua é uma coisa viva, e o “acordês” é uma língua morta. Foi ferida por um vírus pior nos seus efeitos sociais e culturais do que o coronavírus, e é mantida moribunda por duas forças infelizmente poderosas nos nossos dias: a inércia e a arrogância de não querer perder a face e admitir o erro. E não adianta virem dizer-me que língua e ortografia são coisas diferentes e que a ortografia é uma convenção, e que há muitos precedentes de acordos. Há, mas nenhum como este, nem no tempo deste.

 

A ortografia é uma espécie de impressão digital da língua, faz parte da sua identidade e qualidade cultural. Transporta a sua memória e a sua história, as suas raízes nas línguas que foram a sua origem e que a fazem comunicar com as outras línguas com o mesmo tronco latino. E, como ser vivo, a língua e a sua ortografia evoluem todos os dias, traduzindo o dinamismo dos povos e das sociedades onde é falada e escrita. O tragicamente ardido Museu da Língua, em S. Paulo, traduzia esse dinamismo com a enorme vitalidade do português do Brasil, incorporando no vocabulário milhares de novas palavras oriundas de outras línguas trazidas pela emigração ou pelos tempos modernos. Não foi por acaso que este museu foi feito pelo Brasil, com a sua única e excepcional homenagem à língua portuguesa, enquanto por cá ninguém sequer aproveitou a oportunidade da sua desaparição para fazer um museu à língua cá, nem sequer pediu aos brasileiros que fizessem uma réplica cá, com a adaptação necessária. Não, em vez disso, continuamos a manter um Acordo que estraga a nossa língua e que é imposto administrativamente nas escolas e no Estado, para ainda mais afundar a nossa cultura, em tempos de ignorância agressiva.

 

É por ter lido com indignação um artigo publicado no PÚBLICO por quatro ministros autoglorificando-se pelo que têm feito pela língua portuguesa, numa altura em que toda a gente sabe que tem havido um considerável recuo da presença do português de Portugal por tudo quanto é universidade estrangeira, escola, instituição paga pelos contribuintes como o Instituto Camões, que escrevo. E se a situação não é pior, deve-se ao Brasil. Mas o que mais me encanita é o estarem muito contentes pela “dignificação” da língua portuguesa, quando eles próprios e os seus antecessores do PS e do PSD, desde 1990, são os principais responsáveis por a manter menos digna, menos própria, menos lavada, menos forte, menos saudável, doente.

 

É uma causa quixotesca? Não, não é. Há muita coisa que ainda não se fez. Faça-se como o lóbi das armas nos EUA (eu sei, péssimo exemplo, mas de lóbis percebem eles…) e, quando houver uma eleição, pergunta-se ao candidato, seja autárquico, seja legislativo, qual a sua posição. Depois ajuda-se por todos os meios os que explicitamente são contra o Acordo, de modo a criar um caucus (que vem do latim e do grego) na Assembleia e noutras instituições para fazer recuar o uso do Acordo e criar condições para acabar com ele, ou com a sua aplicação imposta, sorrateira e maliciosa.

 

Eu não desisto, porque há ainda muita coisa a fazer contra o Acordo. Angarie-se algum dinheiro, e há quem esteja disposto a dá-lo, seja mais, seja uma contribuição de um euro, façam-se anúncios de página inteira nos jornais, coloquem-se outdoors nas ruas, peça-se a escritores, criativos, artistas, cientistas, que escrevam uma frase em defesa da nossa língua ou façam um desenho, um grafismo, uma história aos quadradinhos, façam-se bancas nas ruas para recolha de assinaturas com a presença das muitas pessoas conhecidas e de prestígio que ainda escrevem português, faça-se uma associação de defesa da língua portuguesa ou dinamize-se uma que já exista, exija-se direito de antena e pressionem-se os órgãos de comunicação a darem voz a estes críticos da degradação da língua e da cultura.

 

A língua portuguesa precisa de nós. E não se esqueçam deste facto: o Acordo é impopular.»

 

Fonte: https://www.publico.pt/2020/05/09/opiniao/opiniao/virus-atacou-lingua-portuguesa-1915735

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:43

link do post | comentar | adicionar aos favoritos
partilhar
Sábado, 17 de Fevereiro de 2018

Quando a estupidez muda o rumo de uma história

 

INSULTO.png

 

A escritora argentina María Gainza escreveu, em Bom Castelhano, um livro que, no original, se intitula “El Niervo Óptico”. Um livro feito de olhares. Olhares sobre pinturas, sobre os artistas que os pintaram e sobre a intimidade da narradora e o mundo que a rodeia…

 

Então, a Publicações Dom Quixote, que se tinha em boa conta, decidiu traduzir o livro para Mau Português, seguindo cegamente a regra do «não se lê, não se escreve», que irracionalmente o AO90 preconiza, transformando o nervo óPtico (de olhar) em nervo auditivo – ótico (de ouvir), e a obra de María Gainza foi, deste modo, abusivamente adulterada.

 

Na tradução “portuguesa”, que utiliza a ortografia brasileira, «O Nervo Ótico” já não é um livro feito de olhares, mas de sons. Sons sobre pinturas, sons sobre os artistas que os pintaram, sons sobre a intimidade da narradora e do que ela ouve ao redor dela…

 

Porque, meus senhores, o termo ÓTICO (dom grego ótikós) é relativo ao OUVIDO. O termo ÓPTICO (óptikós) é relativo à VISÃO. E confundir anatomia com uma lei da Física é de IGNORANTES!

 

Isto é a maior demonstração da subserviência à estupidez. Aos acordistas não interessa raciocinar. Interessa abrasileirar. E que me desculpem os Brasileiros, mas quando decidiram mutilar as palavras, deviam ter PENSADO melhor. Não se suprime consoantes, apenas porque não se lêem. Tem de se ir à raiz das palavras. Tem de se saber Latim e Grego. E jamais no Brasil Brasileiro, se estudou essas duas línguas-esteios da Língua Portuguesa.

 

Seria, pois, da inteligência, retirar do mercado esta tradução que insulta María Gainza, que não escreveu sobre OUVIDOS, mas sobre OLHARES, e desonra a Língua Portuguesa.

 

Um motivo mais para se atirar ao lixo este miserando AO90, que só nos envergonha!

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 17:26

link do post | comentar | adicionar aos favoritos
partilhar
Terça-feira, 12 de Dezembro de 2017

A nota explicativa (do AO90) mais idiota que o mundo já viu

 

 

Está grafada, no Diário da República, para memória futura, porque isto contado, ninguém acredita.

Perante esta inacreditável nota explicativa, não me peçam para ser politicamente correcta, porque é impossível!

Veja-se como as inteligências acordistas justificaram a supressão dos cês e do pês, nos nossos vocábulos (nos quais essas consoantes não se lêem) como se fôssemos todos muito parvos.

 

RCM20774991_VDg9O.jpg

 

A isto chama-se inferioridade mental.

 

Que é indiscutível que a supressão deste tipo de consoantes vem facilitar a aprendizagem da grafia das palavras em que elas ocorrem (presente do indicativo, não ocorriam, passado), na verdade, não é indiscutível, porque o facilitismo, neste caso, é amigo íntimo da ignorância.

 

E foi esse facilitismo, e apenas esse facilitismo, que moveu os engendradores do AO90 a suprimirem as consoantes mudas? Não teve nada a ver com as Ciências da Linguagem?

 

Saberão essas inteligências o que é facilitismo?

 

Facilitismo é a atitude ou prática que consiste em facilitar a execução de algo que habitualmente exige esforço, empenho ou disciplina, ou seja, o facilitismo é contrário à exigência que a aprendizagem de uma Língua (ou de qualquer outra matértia do Saber) requer.

 

E sem esforço, empenho, disciplina e exigência haverá competência e excelência?

 

Bem, o facilitismo no Ensino, facilita a proliferação de semianalfabetos, de ignorantes e de desqualificados. Isto é um facto indesmentível.

 

E que as inteligências acordistas e os seus (poucos) seguidores, sejam tudo isso, não temos nada contra, a opção é deles. Mas não venham impor esse analfabetismo, essa ignorância, essa desqualificação às crianças portuguesas. Elas não merecem, nem são parvas.

 

Isso é inadmissível. Isto é um insulto à aprimorada inteligência das crianças.

 

Como é que uma criança de 6-7 anos pode compreender que em palavras como concePção, excePção, recePção a consoante não articulada é um , ao passo que em palavras como correCção, direCção, objeCção tal consoante é um ? (reparem na construção da frase, cujo autor merecia o Prémio Nobel da Taramela)

 

Mas como é que uma criança poderá compreender tal coisa? Não é verdade? Como????

 

Bem, eu não vou falar dos milhares de milhões de crianças que antes e depois de mim, estudaram Língua Portuguesa e compreenderam que na palavra excePção, a consoante que não se lê é um , ou que em Homem, a consoante que não se lê é um agá, ou que em direCção, a consoante que não se lê é um .

 

Como foi possível compreenderem isto, não é? Seriam todas muito mais dotadas intelectualmente do que as crianças actuais? As crianças de hoje, são umas idiotazinhas, no parecer das inteligências acordistas.

 

Não vou falar dos milhares de milhões de crianças que antes e depois de mim compreenderam e pensaram a Língua Portuguesa. Vou falar de mim, que aos seis anos, no Brasil, aprendi a grafia brasileira, onde se escrevia direção (dir’ção), correção (corr’ção), objeção (obj’ção), direto (dirêto), teto (têto), e excePção e recePção; e aos oito anos, em Portugal, aprendi e pensei a grafia portuguesa, onde se escreve, até hoje (porque é esta grafia que está em vigor), direCção, correCção, objeCção, direCto, teCto, e (h)omem, (h)umidade, (h)aver, etc., tal como aprendi a Tabuada e a resolver problemas, tipo: a camponesa levou dez ovos para vender no mercado. Vendeu dois. Depois mais três. Com quantos ficou?

 

E como é que eu consegui? Eu, e milhares de milhões de crianças conseguiram, antes e depois de mim? Muito simples: a estudar aplicadamente, sem facilitismos, com esforço, empenho, disciplina e exigência, uma coisa chamada GRAMÁTICA (e mais tarde, o Latim e o Grego); e Matemática, e também História e Geografia e Ciências, desenvolvendo raciocínios, até porque nunca tive boa memória, (tinha de compreender, para aprender) e aperfeiçoando o sentido crítico, questionando tudo o que me ensinavam. Queria saber todos os porquês e os comos, para não levar gato por lebre, o que nem sempre consegui que me fosse explicado.

 

As crianças de todas as gerações anteriores e posteriores à minha seriam muito, mas muito mais inteligentes, do que as actuais, porque compreendiam e escreviam correCtamente tudo o que havia para compreender e escrever?

 

Quanta falácia! Quanta desonestidade! Quanta ignorância!

 

Esta nota explicativa é a coisa mais idiota jamais vista.

 

As inteligências acordistas poderiam ter sido honestas e explicar que as consoantes mudas que pretendem suprimir, nos vocábulos portugueses, são suprimidas porque no BRASIL elas foram eliminadas em 1943, para facilitar a aprendizagem dos milhares de analfabetos que então existiam, e este falso AO90, não sendo mais do que a imitação da ortografia brasileira, suprime as consoantes mudas, para facilitar a aprendizagem… dos menos dotados.

 

E assim se destrói uma Língua Culta: para facilitar.

 

Bem, e se uma criança não consegue escrever direCção, aos 6/7 anos, não conseguirá, aos 15/16 anos, resolver esta simples equação de 1º grau: x+8 = 15. Não conseguirá.

 

Portugal anda na boca do mundo como um país onde o Ensino está bitolado por baixo. Claro que há excePções, mentes brilhantes que estão quase todas no estrangeiro. Vão doutorar-se ao estrangeiro. Brilham no estrangeiro. Por que será, não é?

 

Uma avaliação internacional apurou recentemente que os alunos portugueses do 4.º ano, correspondente à antiga 4ª classe, pioraram na leitura. Em cinco anos a média desceu onze pontos, colocando Portugal em 30° lugar entre 50 países. O problema está nos resultados aos testes sobre literacia e a leitura. E aqui as crianças portuguesas entre os 9 e 10 anos descem 11 pontos em relação ao estudo anterior realizado em 2011.

 

Em 2011 as crianças portuguesas foram obrigadas, ilegal e criminosamente, a adoptar a ortografia brasileira, para que a aprendizagem da Língua fosse mais facilitada. E foi tão facilitada, mas tão facilitada que são agora as ignorantezinhas da Europa.

 

Imagine-se as crianças inglesas. Vamos seguir o raciocínio das inteligências acordistas: como é que uma criança inglesa, de 6/7 anos, pode compreender que em palavras como exaggerate, se escreve dois gg, em floor, dois oo, em knack, um k e um c, em lock, um c, em thought, um h, um u, um g e um h, e em truck, um c?

 

Senhores acordistas, além de idiotas, vossas excelências são desonestas! E isso é uma coisa muito feia.

 

E se alguns podem ser parvos, e até são, a esmagadora maioria dos Portugueses, não é.

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 17:38

link do post | comentar | ver comentários (2) | adicionar aos favoritos
partilhar
Terça-feira, 7 de Novembro de 2017

«Desventuras do ensino da Língua Portuguesa»

 

Por que será que os governantes portugueses se recusam a ouvir estas vozes? Estas verdades? O que têm a perder? A quem não podem dizer “não”? Que fretes andam a fazer?

 

Um magnífico texto de Maria do Carmo Vieira.

Sem papas na língua…

 

MARIA.jpgMARIA DO CARMO VIEIRA

 

«Será difícil compreender que é impossível uma escola funcionar com reformas contínuas, ordens e contra-ordens, numa manifesta falta de respeito pela comunidade escolar?

 

O presente não se compreende sem o passado, nem o futuro se constrói sem esse diálogo reflexivo, em que a memória é essencial. No entanto, e no que ao Ensino diz respeito, com realce para a disciplina de Português, pensou-se ser possível quebrar essa ligação com uma imposição, a favor da qual se envolveram, entusiasticamente, aventureiros que, com ligeireza e à vontade, se movimentaram, e continuam a movimentar, nos corredores e gabinetes do Ministério da Educação (ME). Sempre houve quem gostasse de se pôr em bicos de pés, na ânsia de ser notado e incluído numa espécie de corte de confiança, ou se vendesse por um prato de lentilhas. [1] Em comum, o oportunismo, a arrogância, o vício de bajular, a pobreza espiritual e cultural. Lamentavelmente, a Educação, ao longo dos anos, tem sido um terreno fértil para estes aventureiros.

 

Foi nas minhas discussões com colegas da então direcção da Associação de Professores de Português (APP), nomeadamente com Paulo Feytor Pinto, seu presidente, que pela primeira vez ouvi defender que a Literatura deveria ser retirada dos programas de Português porque não tinha qualquer utilidade para os alunos, devendo ser substituída por textos “funcionais”, “utilitários” e “informativos” (***). Sublinho o vocábulo porque na altura me surpreendeu o triste raciocínio. A Literatura ficaria reservada só para os alunos de Humanidades. Os restantes dedicar-se-iam exclusivamente à Língua (daí a proposta de mudança de nome da disciplina de Português para Língua Portuguesa) e o seu ensino focar-se-ia numa Gramática renovada pela moderna investigação linguística.

 

O trabalho realizado pela APP, “Relatório sobre O Ensino e a Aprendizagem do Português na Transição do Milénio” (2002), em estreita cumplicidade com o Ministério da Educação que, então, ultimava a reforma curricular de 2003, veio reafirmar o pesadelo, ou seja, a decisão de privilegiar o “português funcional”, o “útil”, bem como a reflexão sobre “o funcionamento da língua”, aparecendo a Literatura, que não se conseguira expurgar completamente dos programas, como era vontade da APP e comparsas, como um mero tipo de texto, entre tantos outros considerados “úteis”. A justificação da mudança apontava, reiteradamente, para a necessidade de responder com eficácia “às múltiplas solicitações de empregadores e da sociedade em geral”. Um discurso que não se distancia do actual, aliás, perceptível na intervenção do Secretário de Estado da Educação (SEE), João Costa, aquando da realização da Conferência Currículo para o Século XXI, em Abril de 2016, na Fundação Gulbenkian.

 

Depois deste primeiro golpe, que menorizou efectivamente a Literatura nos programas, retirando inúmeros autores clássicos porque sem qualquer “utilidade” para os alunos e contrários “aos seus interesses” (ideias que ainda hoje vingam no ME), surgiu a “Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário” (TLEBS), uma inovação indissociável do nome do actual SEE, João Costa, cujo objectivo seria, assim fora dito aos professores, “uniformizar a nomenclatura gramatical”, devastada, aliás, por uma outra aventura linguística, a “Gramática Generativa” (a das “árvores”, como alguns a conhecem). O certo é que não houve uniformização alguma, pois não era esse o objectivo, e professores e alunos viram a Gramática tradicional substituída por uma caótica e estéril descrição do funcionamento da língua, considerada por linguistas de referência como um verdadeiro “disparate”. Os disparates foram tais que o próprio ME, face à intensidade da polémica gerada, reconheceu a necessidade de aqueles serem corrigidos, um trabalho que integrou a esposa de João Costa, que considerara “incontornável” a aplicação da TLEBS, fazendo ambos parte da Associação Portuguesa de Linguística (APL).

 

Eis duas Associações (APP E APL) e dois nomes (Paulo Feytor Pinto e João Costa, cúmplices na origem da desastrosa e precipitada alteração feita ao ensino da disciplina de Português, na Reforma de 2003, cujos efeitos nocivos permanecem, e que funcionaram como interlocutores quase exclusivos do Ministério da Educação. Eis os que consideraram, a uma só voz, útil a TLEBS e o “português funcional”, mas inútil a Literatura, como inútil a contextualização dos autores e das suas obras, através da qual um professor faz intervir outras artes, bem como a História ou a Filosofia. Tudo inutilidades e “perda de tempo”.

 

A propósito da controvérsia “útil” / “inútil” e da advertência para a “utilidade de saberes inúteis”, não posso deixar de transcrever uma reflexão muito criativa de Óscar Wilde (1854-1900) sobre a Arte, que de há muito me acompanha: Pode-se perdoar a um homem o fazer uma coisa útil, enquanto ele a não admira. A única desculpa que merece quem faz uma coisa inútil é admirá-la intensamente. Toda a arte é absolutamente inútil.

 

João Costa talvez não conheça ou não queira compreender o sentido da frase de Óscar Wilde. Bem pode referir a cidadania ou a necessidade de desenvolver o espírito crítico ou defender o estudo do Latim e do Grego ou a importância da Arte, na qual se inclui a Literatura. Falta seriedade e exigência ao seu discurso, e as suas decisões têm-no evidenciado. A relação do SEE com a Literatura é idêntica à da ex-ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, e que ficou indiscutivelmente espelhada quando, a propósito do prolongamento do horário dos alunos do 1.º ciclo, na escola, questionava, com o seu habitual sarcasmo, se os professores não seriam capazes de “entreter” os alunos com “um poemazito”? Talvez as palavras de António Damásio, mais explícitas, propiciem a ambos uma benéfica reflexão sobre o assunto: “[…] o teatro, a literatura, a poesia e outras artes criam emoções inesquecíveis e a sua aprendizagem é muito importante na criatividade, no desenvolvimento de capacidades ligadas à inovação. […] As emoções são fundamentais para as decisões racionais, que por sua vez determinam acções.”[2]

 

A estas aventuras desastrosas, no que ao ensino do Português diz respeito, acrescenta-se a do Acordo Ortográfico de 1990 (AO 90), indissociável do nome de Malaca Casteleiro, e cujas nefastas consequências junto dos alunos são amplamente visíveis, com os professores forçados a cumpri-lo e a fazer papel de ignorantes, caso respondam às dúvidas dos alunos, suscitadas pelas inúmeras incoerências do AO 90, como aconselhou a actual presidente da APP, e parafraseio, é assim porque assim foi decretado. Uma nova forma de reflectir sobre o “funcionamento da língua”!

 

A Língua Portuguesa, património colectivo, foi também atingida pelo conceito de inutilidade, dada a sua “complicada e difícil ortografia” (o que dirão os alemães, os polacos ou os chineses?) à qual os “elitistas” (os não-acordistas) resistem contra a vontade “do povo povo”. De novo, nas palavras de Malaca Casteleira e acólitos, entre os quais se inclui igualmente a APP, o discurso miserabilista, o desejo de manter a ignorância, de impedir o acesso à cultura e à compreensão da história da palavra que a etimologia, a componente cultural da ortografia, revela, criando curiosidade e afeição pela palavra. Os alunos não gostam de acentos, tirem-se os acentos, complica-se a escrita com as consoantes “c” e “p”, que desgastam também a memória das crianças, omitam-se, são algumas das justificações “científicas” dos mentores do AO 90.

 

Esta famigerada aventura não teve, inicialmente, bom acolhimento no próprio ME, uma atitude de rejeição que, no entanto, pouco durou. Com efeito, o ME resignou-se à imposição, obedecendo às ordens do partido e do governo e esquecendo que o seu parecer contrariava com veemência a implementação do AO 90. Acabou por pactuar com abusos e segredos (os pareceres contrários esquecidos em gavetas do Instituto Camões e outros) desligando-se da transformação que se exigia.

 

Não cabe, neste artigo, exemplificar o caos que atinge o ensino da Língua, na Escola, mas ele é indesmentível, porque amplamente documentado, por mais que Malaca Casteleiro, com descaramento, diga o contrário.

 

Os alunos não sabem ler (passam, aliás, obrigatoriamente, para o 2.º ano, não tendo essa capacidade), não sabem gramática, não sabem interpretar, escrevem mal, não dominam um vocabulário mínimo. Será difícil compreender que tudo isto é resultado dos aventureiros que têm passado pelo Ministério da Educação, ao longo dos anos, em estreita cumplicidade com os partidos a que pertencem, incapazes de um pacto que perdure e defenda o ensino de tantas experiências nefastas? Será difícil compreender que é impossível uma escola funcionar com reformas contínuas, ordens e contra-ordens, numa manifesta falta de respeito pela comunidade escolar? Não se compreendeu ainda que é necessário reformular a formação dos professores, encharcados em teorias que massacram qualquer inteligência e consciência? Será difícil compreender que os professores, com tanta intromissão, com tantos descritores de desempenho a ter em conta, com tanta falta de liberdade para preparar as suas aulas, com tantos relatórios a elaborar, com tanta imposição, a mais grave das quais, a do AO 90, que os seus próprios mentores concordam estar cheio de “imprecisões, erros e ambiguidades”,[3] estão a perder a possibilidade de ensinar, precisamente porque estão a perder o sentido de ensinar?

 

Exigir-se-ia uma forte união entre os professores, que os sindicatos pudessem reforçar, mas têm de ser também os professores a conduzir os seus próprios anseios e a não esperar que outros o venham fazer por eles!

 

João Costa, que não encontrou melhor argumento do que atacar de novo os professores, em relação aos resultados obtidos, nas provas de aferição, pelos alunos do 8.º ano, não terá consciência do que fez ao longo destes anos, só ou acompanhado?

 

Ter-se-á já esquecido que reiterou também, em 2008, o parecer da APL de 2005 que contrariava a entrada em vigor do AO 90?

 

Precisa de reflectir, e muito, senhor Secretário de Estado!

 

[1] Génesis, 25 («Esaú e Jacob»)

[2] Conferência Mundial de Educação Artística, realizada a 6 de Março de 2006 e promovida pela UNESCO, no Centro Cultural de Belém.

[3] Evanildo Bechara (Brasil) no 3.º Encontro Açoriano da Lusofonia, realizado entre os dias 8 e 11 de Maio de 2008»

 

Fonte:

https://www.publico.pt/2017/11/03/sociedade/opiniao/desventuras-do-ensino-da-lingua-portuguesa-1791299

 

(***) Curiosamente esta proposta tem a sua génese no Brasil, onde há alguns anos atrás foi proposto exactamente o mesmo, com os mesmos argumentos, e foi um desastre total, porque se passou da ignorância ao nada. Não dá que pensar? (I.A.F.)

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:49

link do post | comentar | adicionar aos favoritos
partilhar
Terça-feira, 10 de Janeiro de 2017

AO90 – A "má e lunática proposta"

 

Mais uma voz lúcida e culta contra uma ortografia que envergonha as línguas cultas europeias, oriundas do Latim e do Grego.

 

Até quando os governantes portugueses se farão surdos à voz de todas as RAZÕES?

 

Até quando Portugal terá de suportar esta espécie de modernidade míope (de que fala José Pedro Serra), ou a nova ignorância (de que fala José Pacheco Pereira) tão entranhadas nos órgãos do poder?

 

Até quando os governantes portugueses vão continuar a vergar-se a interesses alienígenas, que não interessam nem sequer às pedras da calçada portuguesa?

 

JOSÉ PEDRO SERRA.jpg

José Pedro Serra, professor catedrático e director da Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

 

«A discordância e a acção contra o Acordo Ortográfico não são efeito de um capricho, fundam-se em razões de ordem formal, material e científica. Além dessas razões, aquilo que mais me choca é que, segundo esta má e lunática proposta, dificilmente podemos encontrar os ecos de uma história semântica e, por uma espécie de modernidade míope, esquecemos séculos de cultura que pretenderam tornar mais luminosa a palavra dita e escrita. Eu não gosto que me mexam na conta bancária, mas ainda menos naquilo que me tece a alma como um património que não é de um governo, é de uma História que nos ultrapassa a todos. Por isso, digo "não" ao acordo!» (José Pedro Serra)

 

Fonte:

(Tradutores Contra o Acordo Ortográfico)

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 18:48

link do post | comentar | adicionar aos favoritos
partilhar
Terça-feira, 25 de Outubro de 2016

O que os governantes e "governantas" de Portugal estão a fazer à nossa língua

 

A crónica da portuguesa e do português…

 

LÍNGUA.png

 

Eu já me vi a fazer muitas coisas na vida, mas nunca imaginei vir a escrever o que me propus escrever hoje porque, para mim, era um dado adquirido que a minha Língua Materna, o meu instrumento de trabalho, fazia parte do Património Cultural Português e era o símbolo maior da Identidade do meu País, e como tal, estaria protegida na Constituição da República Portuguesa (como na realidade está, mas faz-se-de-conta que não está).

 

Sempre pensei que a Língua Portuguesa estava para Portugal, como a Língua Inglesa está para a Inglaterra, ou o Castelhano para a Espanha (línguas que aprendi tal como aprendi a minha Língua Materna e que tal como a minha Língua Materna fazem parte da minha Cultura).

 

Aprendi a ler e a escrever no Colégio de São Sebastião, no Brasil (para onde viajei aos dois anos de idade) numa língua que, regressada a Portugal, com oito anos, me disseram que não era a nossa língua e, portanto, teria de reaprender a ler e a escrever.

 

Comecei tudo outra vez, e progredi.

 

De volta ao Brasil, já adolescente, tive de tornar a reaprender a ler e a escrever, porquanto ali não reconheciam a minha Língua como sendo a do Brasil.

 

Fui então obrigada a regredir.

 

Quando regressei a Portugal, para poder terminar o meu Curso de História, na Universidade de Coimbra, tive de não só tornar a reaprender a escrever Português correctamente, como estudar Latim e Grego para fazer as cadeiras de Epigrafia, Paleografia, História da Civilização Grega, História da Cultura Clássica e História da Civilização Romana.

 

Agora sim, tinha ficado com todas as “ferramentas” necessárias ao conhecimento mais aprofundado da minha Língua Materna que, a partir de então, jurei a mim própria, não mais deformaria, em hipótese alguma.

 

Contudo, foi numa escola inglesa que dei os primeiros passos na Escrita. Os meus primeiros contos foram escritos em Inglês, e foi Mr. John Brooks que me incentivou a seguir uma carreira literária. E enquanto frequentei aquela escola inglesa segui, de facto, essa “carreira”, escrevendo short stories para o jornal de parede.

 

Mas o mundo dá muitas voltas.

 

Concluído o Bacharelato em História, em Coimbra, fui dar aulas de História e também de Português (era obrigatório) como também foi obrigatório, por iniciativa própria, ter de estudar mais aprofundadamente a Língua, para poder ser competente na profissão, que fui forçada, pelas circunstâncias, a abraçar. E foi este o verdadeiro começo da minha paixão pela escrita em Língua Portuguesa, descobrindo os autores clássicos portugueses. Até ali, os autores que havia lido e estudado eram os brasileiros, ingleses, americanos e espanhóis, e franceses (entre outros) em traduções inglesas e castelhanas.

 

A partir de então, e porque não me encaixei num sistema de ensino bastante deficiente e a abeirar o absurdo (anos lectivos de 72/73, 73/74) terminada a Licenciatura (74/75) abandonei o ensino e dediquei-me ao Jornalismo.

 

Em 1979 comecei a minha carreira jornalístico-literária.

 

E eis-me chegada a um ponto que nunca imaginei poder chegar.

 

Eu, que andei em bolandas pelo mundo e tinha nas línguas Inglesa e Castelhana as minhas maiores referências linguísticas, apaixonei-me pela Língua Portuguesa, a língua do meu país, e tudo corria bem até que um dia, pela calada, os governantes portugueses decidiram impingir-nos uma ortografia mutilada, e declarar obrigatória a sua aplicação nas escolas e repartições públicas, sem base legislativa alguma, portanto, de um modo ilegal.

 

E porque, em Portugal, a Cultura Crítica anda emigrada, aconteceu que os medrosos, os subservientes, os escravos do poder (a maioria dos órgãos de comunicação social), os menos informados e os que não têm espinha dorsal e um pingo de espírito crítico, vergaram-se perante esta afronta à identidade portuguesa, e andam por aí a pisar a Língua, como se ela fosse um capacho colocado à saída de um chiqueiro.

 

Então lemos por aí textos hilariantes, como este que encontrei no Facebook, publicado pela Ana Sara Cruz:

 

«O que estão a fazer à nossa Língua?

 

Então e esta moda parva, que anda por aí, de se empregarem os dois géneros?

 

Ainda ontem ouvi, na rádio, um jovem "empreendedor" dizer o seguinte: "Eu tenho amigos e amigas, arquitectos e arquitectas, que estão desempregados e desempregadas...".

 

Também há dias, num evento que teve lugar por estes lados, estava um grupo de formandos com a formadora. De repente, a senhora pega num megafone e grita: "Atenção, vamos lá ter calma, fiquem sentados e sentadas...".

 

Perante tamanha parvoíce...desculpem lá... mas tenho que me rir...!

 

Com tanta cretinice, idiotice e parvoíce instalada em Portugal, estamos tramados e tramadas

 

***

É que estamos mesmo muito tramados e tramadas.

 

Principalmente os meninos e meninas que frequentam escolas onde professores e professoras, servis aos governantes e governantas, ministros e ministras, deputados e deputadas, directores e directoras, presidentes e presidentas, andam por aí a espalhar incultura e a criar bronquinhos e bronquinhas, que mais dia, menos dia, poderão vir a ser os governantes e governantas deste nosso pobre país descaracterizado, que já não tem uma língua que o identifique como tal, e andam todos e todas muito lampeiros e lampeiras a derramar sorrisos e sorrisas (já agora!) como se fossem muito cultos e cultas.

 

Isto é mesmo para ficarmos indignados e indignadas, ao ponto de precisarmos de procurar um modo e uma moda que possa devolver à Língua Portuguesa a dignidade perdida.

 

O que dizem, portugueses e portuguesas (parafraseando Marcelo Rebelo de Sousa, que já entrou nesta onda dos pacóvios e pacóvias)?

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:41

link do post | comentar | adicionar aos favoritos
partilhar

.mais sobre mim

.pesquisar neste blog

 

.Fevereiro 2025

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
13
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28

.posts recentes

. Hoje celebrarei, a três t...

. «O vírus que atacou a lín...

. Quando a estupidez muda o...

. A nota explicativa (do AO...

. «Desventuras do ensino da...

. AO90 – A "má e lunática p...

. O que os governantes e "g...

.arquivos

. Fevereiro 2025

. Janeiro 2025

. Dezembro 2024

. Novembro 2024

. Outubro 2024

. Setembro 2024

. Agosto 2024

. Junho 2024

. Maio 2024

. Abril 2024

. Março 2024

. Fevereiro 2024

. Janeiro 2024

. Dezembro 2023

. Novembro 2023

. Outubro 2023

. Setembro 2023

. Agosto 2023

. Julho 2023

. Junho 2023

. Maio 2023

. Abril 2023

. Março 2023

. Fevereiro 2023

. Janeiro 2023

. Dezembro 2022

. Novembro 2022

. Outubro 2022

. Setembro 2022

. Agosto 2022

. Junho 2022

. Maio 2022

. Abril 2022

. Março 2022

. Fevereiro 2022

. Janeiro 2022

. Dezembro 2021

. Novembro 2021

. Outubro 2021

. Setembro 2021

. Agosto 2021

. Julho 2021

. Junho 2021

. Maio 2021

. Abril 2021

. Março 2021

. Fevereiro 2021

. Janeiro 2021

. Dezembro 2020

. Novembro 2020

. Outubro 2020

. Setembro 2020

. Agosto 2020

. Julho 2020

. Junho 2020

. Maio 2020

. Abril 2020

. Março 2020

. Fevereiro 2020

. Janeiro 2020

. Dezembro 2019

. Novembro 2019

. Outubro 2019

. Setembro 2019

. Agosto 2019

. Julho 2019

. Junho 2019

. Maio 2019

. Abril 2019

. Março 2019

. Fevereiro 2019

. Janeiro 2019

. Dezembro 2018

. Novembro 2018

. Outubro 2018

. Setembro 2018

. Agosto 2018

. Julho 2018

. Junho 2018

. Maio 2018

. Abril 2018

. Março 2018

. Fevereiro 2018

. Janeiro 2018

. Dezembro 2017

. Novembro 2017

. Outubro 2017

. Setembro 2017

. Agosto 2017

. Julho 2017

. Junho 2017

. Maio 2017

. Abril 2017

. Março 2017

. Fevereiro 2017

. Janeiro 2017

. Dezembro 2016

. Novembro 2016

. Outubro 2016

. Setembro 2016

. Agosto 2016

. Julho 2016

. Junho 2016

. Maio 2016

. Abril 2016

. Março 2016

. Fevereiro 2016

. Janeiro 2016

. Dezembro 2015

. Novembro 2015

. Outubro 2015

.Acordo Ortográfico

A autora deste Blogue não adopta o “Acordo Ortográfico de 1990”, por recusar ser cúmplice de uma fraude comprovada.

. «Português de Facto» - Facebook

Uma página onde podem encontrar sugestões de livros em Português correCto, permanentemente aCtualizada. https://www.facebook.com/portuguesdefacto

.Contacto

isabelferreira@net.sapo.pt

. Comentários

1) Identifique-se com o seu verdadeiro nome. 2) Seja respeitoso e cordial, ainda que crítico. Argumente e pense com profundidade e seriedade e não como quem "manda bocas". 3) São bem-vindas objecções, correcções factuais, contra-exemplos e discordâncias.

.Os textos assinados por Isabel A. Ferreira, autora deste Blogue, têm ©.

Agradeço a todos os que difundem os meus artigos que indiquem a fonte e os links dos mesmos.

.ACORDO ZERO

ACORDO ZERO é uma iniciativa independente de incentivo à rejeição do Acordo Ortográfico de 1990, alojada no Facebook. Eu aderi ao ACORDO ZERO. Sugiro que também adiram.
blogs SAPO