Quarta-feira, 6 de Junho de 2018

REJEIÇÃO DA PROPOSTA DO PCP PARA ABANDONAR O AO90 - «UMA DECISÃO PARA LAMENTAR»

 

Excelente reflexão, de Luiz Menezes Leitão, publicada a 27 de Fevereiro de 2018, no Jornal i, ainda actualíssima.

 

É, de facto, para lamentar a cegueira mental que prolifera ali para os lados de São Bento, a qual não permite que os nossos deputados vejam o óbvio. A subserviência ao estrangeiro é demasiado evidente.

 

E Portugal irá pagar bem caro esta insólita aventura pelo Hemisfério Sul. (Isabel A. Ferreira)

 

LUÍS MENEZES LEITÃO.jpg

Luís Menezes Leitão

 (Os excertos a negrito são da responsabilidade da autora do Blogue)

 

«UMA DECISÃO PARA LAMENTAR

 

 

O acordo ortográfico contribui para abolir as variantes cultas das palavras e as suas ligações etimológicas. A língua portuguesa torna-se mais pobre e distante das suas raízes, transformando-se num idioma de laboratório.

 

A semana passada foi marcada pela rejeição, pelo parlamento, da proposta do PCP de abandono do acordo ortográfico. Trata-se de decisão que demonstra bem a insensibilidade dos nossos deputados, uma vez que, perante o desastre que está a ser a aplicação deste acordo, o parlamento prefere ignorar o que se está a passar, assistindo pacificamente à destruição total da língua portuguesa. Porque de facto, com este acordo ortográfico, o português europeu está a transformar-se num estranho dialecto, com regras escritas incompreensíveis, que se afastam da sua etimologia e das restantes línguas latinas. Com a agravante de nem sequer haver qualquer uniformização com os outros países de língua portuguesa que ou não aplicam o acordo ou do mesmo resulta que sigam regras diferentes, graças à pronúncia que utilizam.

 

Um bom exemplo disto resulta da recente tradução do livro da escritora argentina María Gainza, que em espanhol se chama “El nervio óptico”, mas que no português acordista se transforma em “O Nervo Ótico”. O problema é que sempre se utilizou na língua portuguesa a expressão “ótico” como relativa ao ouvido, reservando-se o termo “óptico” para a visão. Tal é o significado dos respectivos antecedentes gregos “otikos” e “optikos”. O acordo ortográfico aboliu esta distinção essencial, mas apenas no português de Portugal, continuando a distinção a existir no português do Brasil. Será que isto faz algum sentido?

 

E o mesmo sucede com outras palavras como “recepção”, “concepção”, que se conservam sem alterações na ortografia brasileira, mas que na portuguesa passam a “receção” e “conceção”, facilmente confundíveis com “recessão” e “concessão”. Qual a necessidade de abolir a grafia anterior se o que se consegue é criar uma ortografia que ainda mais se diferencia da dos outros países lusófonos?

 

Isto já para não falar da multiplicação dos erros de escrita que o acordo ortográfico causou, com a absurda directriz de querer abolir as consoantes mudas, estando muita gente a abolir consoantes que continuam a pronunciar-se. É assim que já se viu aparecer erros como “fato”, “ineto”, “corruto”, que demonstram bem a falta de critério na abolição das consoantes pretensamente mudas.

 

E por último deveria salientar-se o facto de o acordo ortográfico contribuir para levar à abolição das variantes cultas das palavras e às ligações etimológicas das mesmas. Assim, a expressão culta “ruptura”, mais próxima do latim, foi transformada em “rutura”, esquecendo-se que já existia a variante popular “rotura”. Fala-se em “ótico” para a visão, mas esquece-se que a medição da mesma continua a ser a “optometria”. E os egípcios, pelos vistos, passaram agora a viver no “Egito”, esquecendo-se que a palavra Egipto tem origem no deus Ptah que, que se saiba, ainda não passou a Tah. Com o acordo ortográfico, a língua portuguesa torna-se assim mais pobre e distante das suas raízes, transformando-se num idioma de laboratório.

 

Na banda desenhada “Spirou e Fantásio”, da autoria de Franquin, aparece um vilão chamado Zorglub que pretende criar uma ditadura alterando o cérebro das pessoas, o que as faz falar e escrever numa nova língua, a zorglíngua, em que todas as palavras surgem ao contrário. Esperava-se que um parlamento democrático, como o português, nos livrasse deste triste destino. Mas afinal, graças aos restantes partidos, com excepção do PCP, vai tudo continuar como dantes. Isto não foi uma decisão parlamentar, foi uma decisão para lamentar.

 

Fonte:

https://ionline.sapo.pt/602187

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 17:35

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Terça-feira, 5 de Junho de 2018

Anedota do dia: Santos Silva diz que a uniformização da ortografia preserva a coerência da Língua

 

SANTOS SILVA.jpg

Augusto Santos Silva

Foto: Leonel de Castro/Global Imagens

 

Com certeza o senhor ministro falava da língua estufada com ervilhas, que é preciso estar uniformemente cozinhada, para manter a coerência do cozinhado.

 

Porque se está a referir-se à Língua de comunicação dos Povos, peço desculpa, mas mostrou uma ignorância descomunal.

 

O senhor ministro pode até saber muito de "negócios estrangeiros" e dos “negócios da Língua”, mas de Língua Portuguesa não sabe rigorosamente nada.

 

É muito triste ler estas afirmações, eivadas de uma ignorância descomunal, proferidas por um ministro de Portugal.

 

Envergonho-me de tudo isto, e repudio este falso português.

 

Senhor ministro, regresse aos bancos da escola básica, por favor, para aprender o significado de uniformização e coerência, porque estas duas palavrinhas têm um significado completamente diferente daquele que o senhor lhes deu.

 

O que é que se passa? O senhor acha (ia escrever pensa, mas pensar não é para qualquer um) que todos os portugueses são parvos? Que pode vir a público debitar ignorâncias deste calibre, e pronto...!

 

Há que tomar providências e exigir que este ministro dos negócios DOS estrangeiros seja demitido.

 

Não serve os interesses de Portugal, dos Portugueses e da Língua Portuguesa, que pretende "uniformizada" do modo mais desuniforme e disforme que se possa imaginar.

 

O senhor faça o favor de ir impor esta ditadura linguística para um planeta deserto. Talvez lá, possa ter sucesso.

 

Mas do que falou Santos Silva, quando falou da uniformização que dá coerência à língua?

 

Esmiucemos a notícia:

 

«O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, enalteceu, esta sexta-feira, o trabalho do Instituto Internacional de Língua Portuguesa para a preservação da "coerência sistémica" da língua portuguesa, considerando, por exemplo, que essa missão é cumprida quando o instituto uniformiza a ortografia ou conceitos científicos.»

 

Primeiro: o IILP é um daqueles organismos que, tal como a CPLP ou o Instituto que já não é do Camões, mas do Malaca Casteleiro, deviam ser desactivados, porque não têm qualquer razão de existir, por não servirem a Língua Portuguesa, mas o arremedo de língua que nos querem impingir. servirão apenas para os negócios (alguns obscuros).

 

Que ortografia o IILP uniformiza? Sim, porque uniformizar significa tornar uniforme (igual), submeter a um modelo único a língua, e o que temos é uma ortografia mixordizada, com 16 normas que instituem facultatividades, e com o Brasil a escrever uma série de palavras de um modo, e Portugal, de outro, o que não uniformizam nem dão coerência a coisa nenhuma.

 

E a notícia prossegue:

 

«Depois do presidente da República de Cabo Verde ter defendido o português como a maior herança do colonizador e do ministro da Comunicação Social angolano ter afirmado que Angola livre fez mais pela promoção da língua do que as autoridades coloniais em 500 anos de presença no território, Augusto Santos Silva deixou a convicção de que "a língua portuguesa não é a língua dos colonos", mas dos "libertadores", dando o exemplo da "resistência timorense".

 

Segundo: isto é tão verdade, que Cabo Verde adoptou o Crioulo Cabo-verdiano como primeira língua, e o Português como língua estrangeira. Os nossos irmãos africanos de expressão portuguesa, até podem considerar que a Língua Portuguesa foi a maior herança, (porque o resto foi tão pobrezinho...) mas o certo é que os autóctones falam os dialectos e os crioulos deles, muito legitimamente. Mas fica bem e  é proveitoso dizerem que a Língua foi a maior herança... 

 

E que Angola livre fez mais pela promoção da Língua do que as autoridades coloniais em 500 anos de presença no território é absolutamente verdade, tanto que continuam a preservar a Língua na sua forma culta e europeia, não tendo aderido à grafia brasileira. Porque haveriam de aderir?

 

E que a Língua Portuguesa não é a língua dos colonos, mas dos libertadores também pode ser verdade, se bem que os libertadores só libertaram as ex-colónias à custa de muitas mortes.

 

Prosseguindo:

 

«No encerramento da grande conferência do 130º aniversário do Jornal de Notícias, o governante sublinhou que não está entre os lusos que olham para o português como a língua de Camões. "O português é uma realidade dinâmica e está em crescimento. Eu não pertenço ao grupo daqueles que dizem que a língua portuguesa é a língua de Camões. Eu prefiro dizer que a língua portuguesa é a língua de Mia Couto, de Pepetela, de Germano Almeida, de Clarice Lispector

 

Quarto: esta afirmação é muito interessante. O senhor ministro não está naquele grupo dos lusos que olham para o Português como a Língua de Camões, até aí já tínhamos compreendido. Como poderia, se nada sabe de Camões e da Língua? Que o Português é uma realidade dinâmica e que está em crescimento, é verdade. Cada ex-colónia juntou ao Português, herdado dos libertadores, palavras oriundas da Cultura nativa, dos seus dialectos, dos seus crioulos, enriquecendo a Língua, criando uma diversidade riquíssima que o AO90 quer destruir a todo o custo.

 

ORTOGRAFIA.png

 

E o senhor ministro diz esta coisa espantosa: «Eu prefiro dizer que a língua portuguesa é a língua de Mia Couto, de Pepetela, de Germano Almeida, de Clarice Lispector.». Repare-se que aqui já não estão incluídos Eça de Queiroz, Camões, Fernando Pessoa ou Saramago. Apenas os muito ilustres escritores Mia Couto (Moçambique, sem AO90); Pepetela (Angola, sem AO90); Germano Almeida (Cabo Verde, com AO90) e Clarice Linspector (Brasil, com a grafia brasileira, agora imposta a Portugal). Pois é! Todos estes escritores representam os seus países e têm uma linguagem portuguesa africanizada e abrasileirada. Excluídos estão os autores portugueses, cujos livros estão a ser retirados das Bibliotecas e livrarias, e a ser adulterados pela mixórdia criada pelo AO90. E a isto chama-se colonização linguística, e um insulto aos autores que escreverem correCtamente os seus livros, e agora uns ignorantes reescrevem-nos incorretamente (incurrêtâmente).

 

E a notícia prossegue:

 

«Assinalando que já há mais de 200 mil estudantes a aprender o português no estrangeiro e que as previsões apontam para um aumento de 260 para 500 milhões de pessoas a falar a nossa língua no final deste século, Santos Silva entende que a melhor forma de cultivar essa expansão é fazendo circular informação e conhecimento na nossa língua. A parceria entre a Global Media Group com órgãos de comunicação social de nações que falam o português merece o aplauso do ministro, na certeza de que a "língua é mesmo o principal recurso para a influência económica" de Portugal

 

Quinto: o que o governo português e o ministro do negócio da Língua andam por aí a fazer é a propagandear o AO90, que não é Língua Portuguesa, mas sim a Variante Brasileira do Português, na sua forma grafada, que querem impor ao mundo. Andam por aí a vender gato por lebre, quais vendedores de banha da cobra, numa subserviência rastejante aos interesses brasileiros. E acham que isto trará vantagens à economia… Mas esquecem-se de dizer a que “economia”.

 

E a finalizar diz ao que vem:

 

"A força portuguesa é a língua e as comunidades que a falam. A nossa força é a força das palavras. Não tem a ver com canhões, mas com armas da cultura, do pensamento e da comunicação. Com a nossa língua, podemos comunicar entre diferentes regiões e interesses", argumenta, lembrando a descontinuidade regional dos territórios que falam português, o que valoriza a influência da língua em diferentes geografias, sobretudo no hemisfério Sul.»


Pois... o Hemisfério Sul... o busílis de toda esta questão...

 

O ministro Santos Silva limita-se a ser porta-voz do Itamaraty. Ficou claríssimo que Santos Silva está ao serviço do Brasil e não de Portugal, e que a Língua Portuguesa corre grave perigo de se desintegrar, de se extinguir. Ficou claríssimo que Santos Silva está-se nas tintas para o nosso país, para a nossa Língua, para a nossa Cultura, para a nossa Identidade, para anossa História, renegando até o Hino Nacional, ao dizer que a força de Portugal está nas palavras (mal escritas e mal pronunciadas obviamente) e não nos canhões (desconhecendo, por completo, o simbolismo destes canhões), e falando nas armas da cultura, do pensamento e da comunicação, sem ter a mínima noção do que isto é.

 

O que pretende Santos Silva é acabar com a Cultura Portuguesa, coma Identidade Portuguesa, através da colonização da Língua. Isto é óbvio até para as pedras.

 

Pois antes que Santos Silva acabe com a Cultura Portuguesa, vamos nós acabar com o vendilhão da Pátria, exigindo a sua saída da governação, por não servir os interesses de Portugal.

 

Isabel A. Ferreira

 

 Fonte da notícia:

https://www.jn.pt/nacional/interior/santos-silva-diz-que-a-uniformizacao-da-ortografia-preserva-a-coerencia-da-lingua-9401383.html

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:15

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