Então o que existe?
Existe a Língua Portuguesa, única e inviolável, e as suas Variantes, sendo a mais evidente, a Variante Brasileira do Português, que pretendem impor aos países da CPLP.
É do foro da estupidez dizer que existe um Português Europeu, e que este é uma variante da Língua Portuguesa, quando o berço da Língua Portuguesa é Portugal, e foram os Portugueses que a levaram aos quatro cantos do mundo, onde deixaram um rasto de dialectos oriundos dessa Língua Lusa.
NÃO existe Português do Brasil, porque o Brasil alterou a estrutura da Língua Portuguesa, afastando-a das suas raízes greco-latinas, criando uma variante que apenas pertence ao Brasil, e a mais nenhuma outra ex-colónia portuguesa, e muito menos a Portugal. E essa alteração não se limita apenas à ortografia, mas igualmente ao léxico, à morfologia, à sintaxe e à semântica, porém, a mais notória alteração acontece na fonologia. A partir destas alterações, já não se pode mais falar de “Português” quando falamos da Língua do Brasil.
Ponham, por exemplo, um cidadão angolano e um cidadão brasileiro, frente a frente, numa entrevista, na televisão, e depois perguntem a uma criança, que já frequentou a Escola Básica, quem fala o quê. A criança dirá, sem qualquer hesitação, que o angolano fala Português, e o Brasileiro fala Brasileiro. Assim, tal e qual. E se perguntarem a um estrangeiro que tenha conhecimentos do Português, ele dirá o mesmo.
Há por aí quem (até ao mais alto nível) queira pôr em evidência a Variante Brasileira do Português -- à qual chamam, indevidamente, “português” -- apenas porque ela é utilizada por mais de 200 milhões de pessoas. E daí? O que temos nós a ver com isso, a não ser sentirmo-nos usurpados na nossa identidade linguística?
As Variantes do Castelhano e do Inglês são utilizadas por muito mais de 200 milhões de pessoas. A Língua Castelhana e a Língua Inglesa andam por aí a ser vilipendiadas? NÃO andam. E sabem porquê? Porque os decisores políticos Espanhóis e Ingleses não sofrem do complexo de inferioridade de que os portuguesinhos sofrem, e não andam por aí a fazer desacordos desortográficos, para imporem aos Espanhóis e aos Ingleses as variantes que esses milhões falam e escrevem.
E enquanto os decisores políticos portuguesinhos continuarem a aceitar, servilmente, a designação de “Português do Brasil”, e a impor aos Portugueses não-pensantes [porque os há pensantes, logo, insubmissos] a Variante Brasileira do Português, disfarçada no acordo ortográfico de 1990, com o argumento parvo de que eles são 200 milhões, a Língua Portuguesa continuará a ser vilipendiada.
Eles são milhões? E o que é que nós temos a ver com isso? Podiam ser muitos mais. E daí? Esses milhões têm lá a Variante deles, assim como os ex-colonizados espanhóis e ingleses têm as variantes deles, e os ex-colonizados espanhóis e ingleses não andam por aí a rastejar à ordem dos milhões...
O Brasil ainda não conseguiu cortar o cordão-umbilical com o ex-colonizador. Abominam a colonização portuguesa, até estão interessados em absurdas reparações históricas, deformaram a Língua pela qual optaram, quando se libertaram do jugo português. Por que não assumem de uma vez por todas a Variante Brasileira do Português, que, na escrita até pode parecer semelhante ao Português, mas na estrutura e na oralidade NÃO é.
Nunca estudei Italiano, nem Galego, nem Mirandês. Nem os Italianos, nem os Galegos, nem os Mirandeses falam a minha Língua. Eu não sei falar Italiano, nem Galego, nem Mirandês. Mas leio e compreendo perfeitamente a escrita italiana, galega e mirandesa. Por que será?
Com esta idiotice de nos querem impingir a linguagem dos 200 milhões, criou-se uma terceira variante, que bem podemos designá-la como Mixórdia Portuguesa, que levou a uma balbúrdia ortográfica, única no mundo civilizado, onde a Escrita é um meio de comunicação e fixação do Saber, da Cultura e do Pensamento de um Povo. Em Portugal, essa Mixórdia Ortográfica serve apenas para os básicos se comunicarem.
Este facto deplorável não deve dar ânimo a ninguém, porque quanto mais a balbúrdia se impõe, mais a Língua Portuguesa definha. Nunca ouviram dizer que uma mentira repetida muitas vezes transforma-se em verdade? Pois é! É o que está a acontecer nas redes sociais, na Internet, no Google, e os disparates que lá se escrevem começam a ser o pão nosso de cada dia. Nas redes sociais, na Internet, no Google apenas uma elite culta escreve em BOM Português.
E a ignorância impera, ao mais alto nível, a este respeito. É só estar atento a quem fala e ao que se escreve nas televisões, para ver como se fala e escreve vergonhosamente a Língua Oficial de Portugal. O que vale é que a Língua Portuguesa NÃO tem a projecção no mundo que têm o Mandarim (1,1 biliões de falantes); o Castelhano (480 milhões); o Inglês (380 milhões); o Hindi (341 milhões); o Árabe (315 milhões); o Bengali (228 milhões) [números de 2024], e, assim, a Língua Portuguesa, escrita e falada de um modo absolutamente deplorável, como se fôssemos um país de básicos, pode ser que passe despercebida.
Entretanto, soubemos que Angola tinha (não sei se ainda tem) a intenção de forçar a revisão do AO90. Rever o quê? Para quê? Devia era forçar a anulação pura e simples do abortográfico, porque os abortos não têm e nunca tiveram viabilidade possível.
Dizem-me que a questão do AO90 está nas mãos de Angola.
Estará? Angola até pode ser o caminho, mas quem quer, pode e manda, em Angola, ainda não mexeu uma palha neste sentido. Estão à espera de quê?
E para tornar tudo isto ainda mais surreal, chegou-me, via e-mail, uma notícia que me surpreendeu pela negativa: em Portugal, nasceu mais um jornal, o PÚBLICO Brasil, com o objectivo de falar com os brasileiros que vivem em Portugal, e dar visibilidade à Variante Brasileira do Português, como se já não bastasse os subservientes órgãos de comunicação social, que, cegamente, se venderam ao ilegal AO90, tal como Judas se vendeu ao Sinédrio, por 30 dinheiros, e o Brasileirês, as brasileirices e os Brasileiros imperam, em Portugal, e já há portugueses com vontade de deixar de sê-lo.
Mas esta matéria é para desenvolver na Parte II, desta minha publicação.
Isabel A. Ferreira
Um texto imperdível, para todos os que se dizem amantes da Língua Portuguesa.
Um importantíssimo e magnífico texto assinado por J. Nuno A. P. S. Ferreira que põe a nu a irracionalidade da mais monumental fraude linguística de todos os tempos, em todo o mundo: o mal dito e escrito AO90.
E isto acontece em Portugal.
Pobre país quando cai nas mãos de pobres de espírito (não confundir com pobres em espírito, que é outro conceito).
Discórdia Ortográfica
1 - A unificação que não existe
Não existe nenhuma Língua global que seja unificada.
Admitindo que seremos (erradamente) pioneiros numa iniciativa deste tipo, fica apenas a certeza de que haverá o dia em que um povo adoptará numa nova palavra ou ortografia não adoptada por outros.
A unificação é uma miragem que o tempo se encarregará de levantar.
Ficará apenas a certeza dos erros cometidos.
As Línguas, faladas ou escritas, não pertencem a nenhum governo.
Pertencem ao povo que as falam e escrevem.
A fala e a escrita estão tão vivas quanto o povo, e sofrem as influências do ambiente que as rodeia.
Em Portugal diz‐se “betão” do francês “béton”, enquanto que no Brasil usa‐se um “concreto” do inglês “concrete”.
Ainda no Brasil, “espingarda” é “rifle” (“rifle” em inglês), “travões” são “breques” (“breaks” em inglês), e “congéneres” são “contrapartes” (“counterparts” em inglês).
Demonstra‐se apenas a ignorância a respeito das regras e práticas das restantes Línguas que se querem como exemplo, mas também a respeito na nossa própria Língua.
Em discussão, esta ignorância fica patente quando os defensores do Acordo Ortográfico referem como exemplo a seguir uma Língua Inglesa que, segundo estes, não têm diferenças de ortografia entre os vários países com esta Língua Oficial.
Nada poderia estar mais errado.
Existe “color” nos USA e “colour” no UK, “gray” e “grey”, “modeling” e “modelling”, e muitas outras diferenças ortográficas.
Isto para além das análogas a um “betão/concreto” como é o caso do “solicitor/lawyer”.
Não existe qualquer mal na ignorância, apenas na omissão de se informar antes de argumentar.
A verdadeira unificação é a aceitação das diferenças. É entender que as diferenças contribuem para um enriquecimento da Língua.
Quantos mais países falarem a Língua, mais contribuições existirão para o enriquecimento da mesma.
Isto é riqueza linguística, cada país com a sua variante:
O que o Acordo Ortográfico promete, é a substituição do “Português (Brasil)” e do “Português (Portugal)” por um tímido e fraco “Português”.
No entanto, aquilo que deveríamos almejar seria um “Português (Brasil)” e “Português (Portugal)” acrescidos de: • “Português (Angola)” • “Português (Cabo Verde)” • “Português (Guiné)” • “Português (Macau)” • “Português (Moçambique)” • “Português (São Tomé e Príncipe)” • “Português (Timor)”
E já agora, porque não: • “Português (Galiza)” • “Português (Goa)”
Os mais atentos terão certamente reparado que a versão que possuo do Microsoft Word é em inglês.
Lá chegaremos em momento oportuno.
Outro aspecto, que só pode ser distracção, é a eliminação das ditas consoantes mudas, sustentada em argumentação de facilidade de aprendizagem.
Resta saber o que fica dificultado.
Se actualmente se escreve “colecção” (do latim “collectio”), e se pretende mudar para “coleção”, gostaria que explicassem como facilita a aprendizagem de Línguas estrangeiras (ou a Língua Portuguesa por estrangeiros), quando temos “collection” em inglês e “collection” em francês.
Voltamos à base do facilitismo.
A iliteracia é elevada.
Escreve‐se mal Português.
Mudar o sistema de ensino está fora de questão.
Muda‐se a Língua.
Albarda‐se o burro à vontade do dono.
Enquanto nos outros países se aumenta a exigência do sistema de ensino, de modo a produzir recursos humanos com maiores competências, em Portugal promove‐se as passagens de ano administrativas.
O resultado de anos de facilitismo, tanto em Portugal como no Brasil, salta à vista, como facilmente se pode observar:
2 - Força da Língua
Muito se fala em torno da Língua Portuguesa ser a quinta ou a sexta mais falada em todo o mundo.
Como se a quantidade de pessoas fosse assim tão relevante quanto isso.
Na lógica da quantidade temos à frente do Português o Mandarim, Hindi, Castelhano, Inglês e, dependendo de como se conta, o Árabe.
Mas será a quantidade assim tão importante, tão relevante? Ou será a qualidade?
Não será mais importante a qualidade dos artigos, documentos, livros originais escritos nessa mesma Língua? Não será mais importante a excelência profissional e intelectual das pessoas com essa Língua nativa?
E assim anda a "inteletualidade" da comunicação social televisiva…
Onde está o Mandarim? O Hindi? Alemão, Francês, Polaco, Japonês, Italiano e Holandês à frente do Português? Como?!
Parece óbvio que o desenvolvimento económico, tecnológico e cultural dos países é mais importante para a projecção de uma Língua do que a quantidade de falantes.
Nem entendo como é possível pensar o contrário.
Repare‐se como o Espanhol (Castelhano) foi prejudicado (de segunda Língua mais falada para nono lugar na WIKIPÉDIA) pelo fraco desenvolvimento da generalidade dos países com esta Língua materna.
Se Portugal pretende dar projecção mundial à Língua Portuguesa, não alcançará o sucesso através de Acordos Ortográficos, mas sim através do apoio económico, tecnológico e cultural aos restantes países de Expressão Portuguesa.
O problema é que ainda nem nos conseguimos apoiar a nós mesmos.
Urge resolver o problema do sistema de ensino Português.
Aumentar o nível de exigência.
Acabar com os facilitismos.
3 - Exemplos de bom senso
Ainda ao abrigo da ignorância, há quem torture os números para que estes digam que a Língua Portuguesa está em oitavo lugar na WIKIPÉDIA devido às diferenças ortográficas, que sem elas estaríamos num lugar muito mais honroso.
Como, uma vez mais, o problema não é a ignorância, mas sim a falta de pesquisa de informação que sustente a argumentação, aqui fica, preto no branco, essa mesma informação em falta.
Informação esta que denota o bom senso e elevação demonstrado por uma comunidade de colaboradores na WIKIPÉDIA que terá, certamente, um elevado nível cultural.
Vejamos de que se trata: «Wikipédia: Versões da língua portuguesa (Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre)
O Português escrito em Portugal, Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe, Guiné‐Bissau, Angola, Moçambique, Timor‐Leste e Macau (chamado de ʺportuguês europeuʺ) tem diferença sensível em relação ao português escrito no Brasil (chamado de ʺportuguês brasileiroʺ). Ainda, entre cada país do considerado ʺportuguês europeuʺ há diferenças locais relevantes.
No próprio território brasileiro, entre uma região e outra, também há diferenças no modo da escrita e nas gírias locais.
Por exemplo, na página principal aparece em vários sítios a palavra ʺprojectoʺ.
Esta palavra está escrita na norma seguida em Portugal e na África.
No Brasil, escreve‐se ʺprojetoʺ, omitindo a letra ʺcʺ.
Qual das duas versões está correcta? Ambas.
Simplesmente uma versão é usada no Brasil e outra em Portugal, África e territórios asiáticos.
Como acontece nas outras grandes línguas internacionais, não existem versões superiores ou inferiores: são apenas diferentes.
Por isso, não veja algo que não está escrito no seu português como incorrecto apenas por isso.
Este projecto é a Wikipédia em língua portuguesa, também chamada de Wikipédia lusófona.
Ou seja, é de todos os falantes do português, seja qual for a norma que utilizam.
Consequentemente, mudar da norma ʺAʺ para a norma ʺBʺ não é bem‐vindo, porque isso implica uma falta de respeito com os utilizadores das edições anteriores. (...)»
Se os defensores do Acordo Ortográfico partilhassem deste mesmo bom senso e elevação, e estivessem despidos de outros interesses que não a riqueza da Língua Portuguesa, não haveria certamente lugar a um tão ridículo acordo.
Mas ainda se pode ir mais longe.
Podemos chegar ao topo da lista: a Língua Inglesa. «National varieties of English (See also: Wikipédia: Manual of Style (spelling).
The English Wikipedia has no general preference for a major national variety of the language. No variety is more correct than the others. Users are asked to take into account that the differences between the varieties are superficial. Cultural clashes over spelling and grammar are avoided by using four simple guidelines. The accepted style of punctuation is covered in the punctuation section. Consistency within articles Each article should consistently use the same conventions of spelling and grammar. For example, center and centre are not to be used in the same article. The exceptions are: quotations (the original variety is retained); titles (the original spelling is used, for example United States Department of Defense and Australian Defence Force); and explicit comparisons of varieties of English. Strong national ties to a topic An article on a topic that has strong ties to a particular English‐speaking nation uses the appropriate variety of English for that nation. For example:
American Civil War—(American English) Tolkienʹs The Lord of the Rings—(British English) European Union institutions—(British or Irish English) Australian Defence Force—(Australian English) Vancouver—(Canadian English) Retaining the existing variety If an article has evolved using predominantly one variety, the whole article should conform to that variety, unless there are reasons for changing it on the basis of strong national ties to the topic. In the early stages of writing an article, the variety chosen by the first major contributor to the article should be used, unless there is reason to change it on the basis of strong national ties to the topic. Where an article that is not a stub shows no signs of which variety it is written in, the first person to make an edit that disambiguates the variety is equivalent to the first major contributor. (…)»
Como se pode observar, exactamente os mesmos problemas (ou ainda maiores, com os problemas derivados das unidades de medida), e ainda assim conseguem ter o maior número de artigos na WIKIPÉDIA.
4 - Perigos e certezas
Muitos são os que olham para este Acordo Ortográfico como uma oportunidade de negócio.
Um longo caminho se percorreu para evitar que os manuais escolares fossem substituídos anualmente.
Neste momento as editoras esfregam as mãos de contentes para terem a oportunidade de substituir novamente todos os manuais escolares. Em 2009 os do primeiro ano, em 2010 os do segundo, e assim sucessivamente.
Poucos são aqueles que se apercebem dos perigos vindos de Oeste.
Grandes editoras, com matérias‐primas mais baratas, mão‐de‐obra ainda mais barata e sem garantias de qualificações apropriadas.
Por coincidência, ainda há pouco tempo peguei em alguns manuais dos tempos da universidade.
Em dois manuais de apoio (probabilidade e estatística), um era de origem brasileira.
Desconheço a situação actual a nível universitário, mas a nível profissional sei que a grande maioria de traduções para Português de livros técnicos de informática são em Português do Brasil.
Mas não se restringe a livros impressos.
Não é necessário estar muito atento para entender as dificuldades que os tradutores Portugueses têm em Portugal para encontrar trabalho, com a concorrência dos congéneres Brasileiros.
Com o Acordo Ortográfico a situação só tende a agravar‐se.
É um Acordo muito mais vantajoso para o Brasil que para Portugal.
Não só pela mão‐de‐obra mais barata, como também pela facilidade na desvalorização da moeda para facilitar as exportações.
E quem fala em livros, fala em filmes, em programas de computador, etc.
As legendagens estão entregues a mão-de-obra barata brasileira daí este “de dia 23”…
Estes são os perigos.
Quanto às certezas, apenas as de que não existe nenhum Acordo Ortográfico que obrigue as pessoas a mudar o modo como escrevem, nem que obrigue a ler o que quer que seja que esteja nessa forma imposta.
Não posso falar pelos outros Portugueses, mas, no que me diz respeito, posso afirmar que continuarei a escrever do mesmo modo, e que evitarei comprar tudo o que não esteja na forma pré‐Acordo.
Aliás, a esse respeito pouco irá sofrer alguma alteração.
Como se pôde observar, faço os possíveis por ter software apenas em Inglês, sempre que tenho possibilidade de escolha.
Quando não encontro em lojas nacionais, compro através da Internet no UK.
Prática que adquiri desde que fui confrontado nos finais dos anos 80 com a tradução de “help” por “socorro”.
O mesmo se passa com os livros técnicos.
O único livro técnico que tenho em Português do Brasil está vergonhosamente escondido atrás de muitos outros, e apenas consta na minha biblioteca porque foi oferecido num curso de formação que frequentei.
Nunca o teria comprado.
Livros técnicos em Português (poucos) só mesmo os de autores portugueses.
Canais de TV sofrem do mesmo tratamento.
A evitar as dobragens e as legendagens de fraca qualidade.
Para telenovelas não há pachorra.
A avaliar pela quantidade e qualidade dos opositores ao Acordo Ortográfico, fico com a sensação de que a única garantia é que este Acordo irá conseguir afastar ainda mais estas mais‐valias para a Língua Inglesa, empobrecendo cada vez mais a Língua Portuguesa.
Imagino que a tendência seja para haver cada vez mais crianças a frequentar colégios Ingleses, Franceses. Espanhóis e Alemães.
Realmente haverá muita gente a lucrar com este Acordo Ortográfico.
A perder só fica o País.
Penso mesmo existir uma excelente oportunidade de negócio, a editar livros em Português pré‐Acordo.
Quem sabe se não poderá chegar‐se ao extremo de criar um sistema de ensino paralelo. E com a certeza de uma qualidade claramente superior. Também imagino ser difícil fazer pior que o sistema de ensino que existe actualmente.
5 - Referendo
Como já foi referido, a Língua Portuguesa não é propriedade do Estado, nem de nenhum Governo, e muito menos de um qualquer partido político.
A nossa Língua apenas ao povo pertence, seja ele Português, Brasileiro ou outro.
Não me recordo, tão pouco, de um qualquer partido político ter feito referência à sua posição a respeito do Acordo Ortográfico em campanha para qualquer uma das eleições legislativas.
Se o Tratado de Lisboa poderá ser considerado como uma opção política, já o mesmo não se passa com esta questão da Língua que apenas ao povo diz respeito.
Tal ingerência apenas pode ser legitimada através da consulta popular num referendo.
6 - Autoria
J. Nuno A. P. S. Ferreira
Fonte:
http://fs1.nuno.net/DiscordiaOrtografica.pdf
Um texto imperdível, para todos os que se dizem amantes da Língua Portuguesa.
Um importantíssimo e magnífico texto assinado por J. Nuno A. P. S. Ferreira que põe a nu a irracionalidade da mais monumental fraude linguística de todos os tempos, em todo o mundo: o mal dito AO90.
E isto acontece em Portugal.
Pobre país quando cai nas mãos de pobres de espírito (não confundir com pobres em espírito, que é outro conceito).
Discórdia Ortográfica
1 - A unificação que não existe
Não existe nenhuma Língua global que seja unificada.
Admitindo que seremos (erradamente) pioneiros numa iniciativa deste tipo, fica apenas a certeza de que haverá o dia em que um povo adoptará numa nova palavra ou ortografia não adoptada por outros.
A unificação é uma miragem que o tempo se encarregará de levantar.
Ficará apenas a certeza dos erros cometidos.
As Línguas, faladas ou escritas, não pertencem a nenhum governo.
Pertencem ao povo que as falam e escrevem.
A fala e a escrita estão tão vivas quanto o povo, e sofrem as influências do ambiente que as rodeia.
Em Portugal diz‐se “betão” do francês “béton”, enquanto que no Brasil usa‐se um “concreto” do inglês “concrete”.
Ainda no Brasil, “espingarda” é “rifle” (“rifle” em inglês), “travões” são “breques” (“breaks” em inglês), e “congéneres” são “contrapartes” (“counterparts” em inglês).
Demonstra‐se apenas a ignorância a respeito das regras e práticas das restantes Línguas que se querem como exemplo, mas também a respeito na nossa própria Língua.
Em discussão, esta ignorância fica patente quando os defensores do Acordo Ortográfico referem como exemplo a seguir uma Língua Inglesa que, segundo estes, não têm diferenças de ortografia entre os vários países com esta Língua Oficial.
Nada poderia estar mais errado.
Existe “color” nos USA e “colour” no UK, “gray” e “grey”, “modeling” e “modelling”, e muitas outras diferenças ortográficas.
Isto para além das análogas a um “betão/concreto” como é o caso do “solicitor/lawyer”.
Não existe qualquer mal na ignorância, apenas na omissão de se informar antes de argumentar.
A verdadeira unificação é a aceitação das diferenças. É entender que as diferenças contribuem para um enriquecimento da Língua.
Quantos mais países falarem a Língua, mais contribuições existirão para o enriquecimento da mesma.
Isto é riqueza linguística, cada país com a sua variante:
O que o Acordo Ortográfico promete, é a substituição do “Português (Brasil)” e do “Português (Portugal)” por um tímido e fraco “Português”.
No entanto, aquilo que deveríamos almejar seria um “Português (Brasil)” e “Português (Portugal)” acrescidos de: • “Português (Angola)” • “Português (Cabo Verde)” • “Português (Guiné)” • “Português (Macau)” • “Português (Moçambique)” • “Português (São Tomé e Príncipe)” • “Português (Timor)”
E já agora, porque não: • “Português (Galiza)” • “Português (Goa)”
Os mais atentos terão certamente reparado que a versão que possuo do Microsoft Word é em inglês.
Lá chegaremos em momento oportuno.
Outro aspecto, que só pode ser distracção, é a eliminação das ditas consoantes mudas, sustentada em argumentação de facilidade de aprendizagem.
Resta saber o que fica dificultado.
Se actualmente se escreve “colecção” (do latim “collectio”), e se pretende mudar para “coleção”, gostaria que explicassem como facilita a aprendizagem de Línguas estrangeiras (ou a Língua Portuguesa por estrangeiros), quando temos “collection” em inglês e “collection” em francês.
Voltamos à base do facilitismo.
A iliteracia é elevada.
Escreve‐se mal Português.
Mudar o sistema de ensino está fora de questão.
Muda‐se a Língua.
Albarda‐se o burro à vontade do dono.
Enquanto nos outros países se aumenta a exigência do sistema de ensino, de modo a produzir recursos humanos com maiores competências, em Portugal promove‐se as passagens de ano administrativas.
O resultado de anos de facilitismo, tanto em Portugal como no Brasil, salta à vista, como facilmente se pode observar:
2 - Força da Língua
Muito se fala em torno da Língua Portuguesa ser a quinta ou a sexta mais falada em todo o mundo.
Como se a quantidade de pessoas fosse assim tão relevante quanto isso.
Na lógica da quantidade temos à frente do Português o Mandarim, Hindi, Castelhano, Inglês e, dependendo de como se conta, o Árabe.
Mas será a quantidade assim tão importante, tão relevante? Ou será a qualidade?
Não será mais importante a qualidade dos artigos, documentos, livros originais escritos nessa mesma Língua? Não será mais importante a excelência profissional e intelectual das pessoas com essa Língua nativa?
E assim anda a "inteletualidade" da comunicação social televisiva…
Onde está o Mandarim? O Hindi? Alemão, Francês, Polaco, Japonês, Italiano e Holandês à frente do Português? Como?!
Parece óbvio que o desenvolvimento económico, tecnológico e cultural dos países é mais importante para a projecção de uma Língua do que a quantidade de falantes.
Nem entendo como é possível pensar o contrário.
Repare‐se como o Espanhol (Castelhano) foi prejudicado (de segunda Língua mais falada para nono lugar na WIKIPÉDIA) pelo fraco desenvolvimento da generalidade dos países com esta Língua materna.
Se Portugal pretende dar projecção mundial à Língua Portuguesa, não alcançará o sucesso através de Acordos Ortográficos, mas sim através do apoio económico, tecnológico e cultural aos restantes países de Expressão Portuguesa.
O problema é que ainda nem nos conseguimos apoiar a nós mesmos.
Urge resolver o problema do sistema de ensino Português.
Aumentar o nível de exigência.
Acabar com os facilitismos.
3 - Exemplos de bom senso
Ainda ao abrigo da ignorância, há quem torture os números para que estes digam que a Língua Portuguesa está em oitavo lugar na WIKIPÉDIA devido às diferenças ortográficas, que sem elas estaríamos num lugar muito mais honroso.
Como, uma vez mais, o problema não é a ignorância, mas sim a falta de pesquisa de informação que sustente a argumentação, aqui fica, preto no branco, essa mesma informação em falta.
Informação esta que denota o bom senso e elevação demonstrado por uma comunidade de colaboradores na WIKIPÉDIA que terá, certamente, um elevado nível cultural.
Vejamos de que se trata: «Wikipédia: Versões da língua portuguesa (Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre)
O Português escrito em Portugal, Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe, Guiné‐Bissau, Angola, Moçambique, Timor‐Leste e Macau (chamado de ʺportuguês europeuʺ) tem diferença sensível em relação ao português escrito no Brasil (chamado de ʺportuguês brasileiroʺ). Ainda, entre cada país do considerado ʺportuguês europeuʺ há diferenças locais relevantes.
No próprio território brasileiro, entre uma região e outra, também há diferenças no modo da escrita e nas gírias locais.
Por exemplo, na página principal aparece em vários sítios a palavra ʺprojectoʺ.
Esta palavra está escrita na norma seguida em Portugal e na África.
No Brasil, escreve‐se ʺprojetoʺ, omitindo a letra ʺcʺ.
Qual das duas versões está correcta? Ambas.
Simplesmente uma versão é usada no Brasil e outra em Portugal, África e territórios asiáticos.
Como acontece nas outras grandes línguas internacionais, não existem versões superiores ou inferiores: são apenas diferentes.
Por isso, não veja algo que não está escrito no seu português como incorrecto apenas por isso.
Este projecto é a Wikipédia em língua portuguesa, também chamada de Wikipédia lusófona.
Ou seja, é de todos os falantes do português, seja qual for a norma que utilizam.
Consequentemente, mudar da norma ʺAʺ para a norma ʺBʺ não é bem‐vindo, porque isso implica uma falta de respeito com os utilizadores das edições anteriores. (...)»
Se os defensores do Acordo Ortográfico partilhassem deste mesmo bom senso e elevação, e estivessem despidos de outros interesses que não a riqueza da Língua Portuguesa, não haveria certamente lugar a um tão ridículo acordo.
Mas ainda se pode ir mais longe.
Podemos chegar ao topo da lista: a Língua Inglesa. «National varieties of English (See also: Wikipédia: Manual of Style (spelling).
The English Wikipedia has no general preference for a major national variety of the language. No variety is more correct than the others. Users are asked to take into account that the differences between the varieties are superficial. Cultural clashes over spelling and grammar are avoided by using four simple guidelines. The accepted style of punctuation is covered in the punctuation section. Consistency within articles Each article should consistently use the same conventions of spelling and grammar. For example, center and centre are not to be used in the same article. The exceptions are: quotations (the original variety is retained); titles (the original spelling is used, for example United States Department of Defense and Australian Defence Force); and explicit comparisons of varieties of English. Strong national ties to a topic An article on a topic that has strong ties to a particular English‐speaking nation uses the appropriate variety of English for that nation. For example:
American Civil War—(American English) Tolkienʹs The Lord of the Rings—(British English) European Union institutions—(British or Irish English) Australian Defence Force—(Australian English) Vancouver—(Canadian English) Retaining the existing variety If an article has evolved using predominantly one variety, the whole article should conform to that variety, unless there are reasons for changing it on the basis of strong national ties to the topic. In the early stages of writing an article, the variety chosen by the first major contributor to the article should be used, unless there is reason to change it on the basis of strong national ties to the topic. Where an article that is not a stub shows no signs of which variety it is written in, the first person to make an edit that disambiguates the variety is equivalent to the first major contributor. (…)»
Como se pode observar, exactamente os mesmos problemas (ou ainda maiores, com os problemas derivados das unidades de medida), e ainda assim conseguem ter o maior número de artigos na WIKIPÉDIA.
4 - Perigos e certezas
Muitos são os que olham para este Acordo Ortográfico como uma oportunidade de negócio.
Um longo caminho se percorreu para evitar que os manuais escolares fossem substituídos anualmente.
Neste momento as editoras esfregam as mãos de contentes para terem a oportunidade de substituir novamente todos os manuais escolares. Em 2009 os do primeiro ano, em 2010 os do segundo, e assim sucessivamente.
Poucos são aqueles que se apercebem dos perigos vindos de Oeste.
Grandes editoras, com matérias‐primas mais baratas, mão‐de‐obra ainda mais barata e sem garantias de qualificações apropriadas.
Por coincidência, ainda há pouco tempo peguei em alguns manuais dos tempos da universidade.
Em dois manuais de apoio (probabilidade e estatística), um era de origem brasileira.
Desconheço a situação actual a nível universitário, mas a nível profissional sei que a grande maioria de traduções para Português de livros técnicos de informática são em Português do Brasil.
Mas não se restringe a livros impressos.
Não é necessário estar muito atento para entender as dificuldades que os tradutores Portugueses têm em Portugal para encontrar trabalho, com a concorrência dos congéneres Brasileiros.
Com o Acordo Ortográfico a situação só tende a agravar‐se.
É um Acordo muito mais vantajoso para o Brasil que para Portugal.
Não só pela mão‐de‐obra mais barata, como também pela facilidade na desvalorização da moeda para facilitar as exportações.
E quem fala em livros, fala em filmes, em programas de computador, etc.
As legendagens estão entregues a mão-de-obra barata brasileira daí este “de dia 23”…
Estes são os perigos.
Quanto às certezas, apenas as de que não existe nenhum Acordo Ortográfico que obrigue as pessoas a mudar o modo como escrevem, nem que obrigue a ler o que quer que seja que esteja nessa forma imposta.
Não posso falar pelos outros Portugueses, mas, no que me diz respeito, posso afirmar que continuarei a escrever do mesmo modo, e que evitarei comprar tudo o que não esteja na forma pré‐Acordo.
Aliás, a esse respeito pouco irá sofrer alguma alteração.
Como se pôde observar, faço os possíveis por ter software apenas em Inglês, sempre que tenho possibilidade de escolha.
Quando não encontro em lojas nacionais, compro através da Internet no UK.
Prática que adquiri desde que fui confrontado nos finais dos anos 80 com a tradução de “help” por “socorro”.
O mesmo se passa com os livros técnicos.
O único livro técnico que tenho em Português do Brasil está vergonhosamente escondido atrás de muitos outros, e apenas consta na minha biblioteca porque foi oferecido num curso de formação que frequentei.
Nunca o teria comprado.
Livros técnicos em Português (poucos) só mesmo os de autores portugueses.
Canais de TV sofrem do mesmo tratamento.
A evitar as dobragens e as legendagens de fraca qualidade.
Para telenovelas não há pachorra.
A avaliar pela quantidade e qualidade dos opositores ao Acordo Ortográfico, fico com a sensação de que a única garantia é que este Acordo irá conseguir afastar ainda mais estas mais‐valias para a Língua Inglesa, empobrecendo cada vez mais a Língua Portuguesa.
Imagino que a tendência seja para haver cada vez mais crianças a frequentar colégios Ingleses, Franceses. Espanhóis e Alemães.
Realmente haverá muita gente a lucrar com este Acordo Ortográfico.
A perder só fica o País.
Penso mesmo existir uma excelente oportunidade de negócio, a editar livros em Português pré‐Acordo.
Quem sabe se não poderá chegar‐se ao extremo de criar um sistema de ensino paralelo. E com a certeza de uma qualidade claramente superior. Também imagino ser difícil fazer pior que o sistema de ensino que existe actualmente.
5 - Referendo
Como já foi referido, a Língua Portuguesa não é propriedade do Estado, nem de nenhum Governo, e muito menos de um qualquer partido político.
A nossa Língua apenas ao povo pertence, seja ele Português, Brasileiro ou outro.
Não me recordo, tão pouco, de um qualquer partido político ter feito referência à sua posição a respeito do Acordo Ortográfico em campanha para qualquer uma das eleições legislativas.
Se o Tratado de Lisboa poderá ser considerado como uma opção política, já o mesmo não se passa com esta questão da Língua que apenas ao povo diz respeito.
Tal ingerência apenas pode ser legitimada através da consulta popular num referendo.
6 - Autoria
J. Nuno A. P. S. Ferreira
Fonte:
http://fs1.nuno.net/DiscordiaOrtografica.pdf
. NÃO existe Português de P...