Hoje enviaram-me um texto que começava assim: «Caras Filiadas e Filiados». Nem me apeteceu ler o resto…
E uma vez mais vou repetir o que já se tem dito, por aí, muitas vezes, mas que não há meio de fazer encaixar nas mentes daqueles e daquelas que acham que falar assim é muiiiiito moderno, muito chique, muito in...
Então só as filiadas é que são caras? Os filiados não são caros, ou serão também “caras” filiados?
Não, minhas caras e meus caros, quando se entra neste tipo de linguagem tem de se ser coerente do princípio até ao fim, para não deixar o (indefinido) ninguém melindrado ou melindrada, uma vez que esta linguagem (dizem-me) é para chamar ao palco da vida as mulheres, coitadinhas, tão esquecidinhas no masculino das palavras, não, na masculinidade dos homens. E isto, só por si, é uma afronta a todas as mulheres.
Contudo, esquecem-se, minhas caras e meus caros, de que na Língua Portuguesa há sim, o masculino e o feminino, mas também o indefinido e o neutro, onde cabem eles e elas e mais alguns e algumas, sem necessidade de andarmos aqui com as/os numas coisas, e apenas as ou os noutras coisas, como nesta frase: «(…) renovação interna e apresentação de novos actores que consigam conceber junto dos cidadãos uma estratégia local (…)». Então, e as actrizes e as cidadãs? Ficam de fora? No seguimento do Filiadas e Filiados, e se se quer ser coerente com a péssima ideia de afeminar o discurso, esta frase deveria ser escrita deste modo: « (…) renovação interna e apresentação de novos actores e novas actrizes que consigam conceber junto dos cidadãos e das cidadãs uma estratégia local (…)» isto para não melindrar as coitadinhas, que se sentem melindradas ao serem integradas na masculinidade das palavras. Mas porquê hão-de sentir-se melindradas?
Este tipo bacoco, aliás, muito bacoco, de linguagem teria sido inventada por alguém muito complexado ou complexada, já agora, assim dizendo, para não deixar as mulheres de fora? (Veja-se aqui o indefinido alguém onde cabem eles e elas).
Entrando-se por esta porta linguística há que efeminar ou masculinizar o indefinido tudo.
Daqui podemos tirar duas lições:
Primeira: quem assim escreve ou fala não tem conhecimentos mínimos nem básicos nem triviais da linguagem.
Segunda: não é com palavras mal ditas e linguagem pirosa (a designação é do Miguel Esteves Cardoso) que se dá visibilidade às mulheres, mas tão-só com ATITUDES.
Deixem-se de eles e elas e pensem no TODO, pronome indefinido = qualquer ele ou qualquer ela.
No plural TODOS = nome masculino plural = a humanidade; toda a gente, onde cabem eles e elas, indiferentemente.
É como diz Cícero (também querem atirar o busto de Cícero abaixo?): «Todos os homens podem cair num erro, mas só os idiotas perseveram nele.»
Por falar em homens, o vocábulo HOMEM (que vem do Latim HOMO) é um nome masculino que significa: mamífero primata (não há mamíferas primatas); humanidade, espécie humana (também não há espécie humano); e é também um ser humano do sexo masculino.
Eu, como mulher, não me importo nada de pertencer à espécie Homo Sapiens Sapiens, porque sei que esta espécie é caracterizada pela postura erecta, mãos preênseis, inteligência superior, capacidade de fala e considerado o tipo do género humano, não a tipa da génera humana.
Isabel A. Ferreira