Por que trago à liça, este assunto? Agora? Hoje? Por nenhum motivo especial, apenas porque me deparei com um texto da autoria de Octávio dos Santos, publicado no Jornal PÚBLICO, em 13 de Agosto de 2016, sob o título «Casa da(s) Moeda(s) de prata»; e com uma homenagem que este mesmo autor lhe fez, em 03 de Janeiro de 2022, por ocasião do aniversário natalício de VGM.
E também para dizer alto que isto só acontece num país sem rei nem roque.
Coincidentemente, por esta altura, enviaram-me, via e-mail, a «Comunicação apresentada à Classe de Letras na sessão de 12 de Novembro de 2009» que VGM escreveu conforme a grafia correCta, legítima, legal, impoluta, em vigor em Portugal, e que a Academia de Ciências de Lisboa, vergonhosamente, desrespeitosamente, num PDF que circula por aí, a transcreveu na mixórdia ortográfica em que um punhado de gente ignorante transformou a nossa bela e culta Língua Portuguesa, ao impor ilegalmente o AO90 a Portugal, texto que pode ser consultado aqui:
http://www.acad-ciencias.pt/document-uploads/2699211_amalia-rodrigues.pdf
E aqui
https://joseduardotaveira.blogspot.com/2017/07/amalia-dos-poetas-populares-aos.html
alguns excertos correCtamente escritos da Comunicação apresentada à Classe de Letras na sessão de 12 de Novembro de 2009, por Vasco Graça Moura.
A que “senhor” servirá a Academia de Ciências de Lisboa?
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Recentemente, no dia 01 de Abril de 2022 (poderia ser uma brincadeira, mas não foi), aconteceu o que jamais deveria ter acontecido (clicar no link, para ouvir o discurso hipócrita de alguém que NÃO representa Portugal, sendo o defensor-mor do AO90:
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Vou deixar-vos com o texto de Octávio dos Santos, cujo conteúdo também abordei neste Blogue, tendo malhado no insulto que é obrigar os candidatos ao “Prémio Vasco Graça Moura”, da Casa da Moeda, a escrever de acordo com o AO90, contra o qual VGM «lutou aguerrida e incansavelmente (…)»
Mas isto faz parte da pobreza cultural que temos, e pelo desprezo total devotado aos NOSSOS valores linguísticos.
«Casa da(s) Moeda(s) de prata»
Por Octávio dos Santos
«Há bastantes anos que concorro, com maior ou menor regularidade, a prémios de jornalismo e de literatura – e até já ganhei alguns. Costumo, por isso, estar atento à divulgação e à realização de iniciativas deste tipo, em especial através da leitura dos respectivos regulamentos. Um dos mais recentes foi o do Prémio INCM-Vasco Graça Moura 2016, promovido pela Imprensa Nacional Casa da Moeda, instituição onde, aliás, o saudoso escritor trabalhou como administrador (entre 1979 e 1989)…
… E o que desde logo se destaca, e muito desagradavelmente, naquele documento é o facto de estar «escrito» segundo o «Acordo Ortográfico de 1990» - encontramos«selecionar», «eletrónico», «direção», «respetivo», «efetivamente»...
Seria de esperar que tal não acontecesse quando se sabe que o homenageado lutou aguerrida e incansavelmente contra o ilegítimo, ilegal, infame e inútil «(des)acordo» que não fez (e faz) mais do que degradar, deturpar, destruir a língua portuguesa.
É, pois, uma tremenda ofensa póstuma ao homem que foi presidente da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, embora seja expectável, e até «compreensível», por as entidades públicas e/ou sob tutela estatal, como é o caso da INCM, estarem «obrigadas» a utilizar esta «ortografia» pervertida criada por pervertidos. Na verdade, mesmo grave, e pior do que o regulamento, seria que a obra vencedora do Prémio Vasco Graça Moura fosse escrita e/ou publicada obedecendo ao ascoroso «acordês» que o deputado europeu (entre 1999 e 2009) abominava. Seria inimaginável! Aliás, no ano passado, e na conferência de imprensa de apresentação do prémio e da sua primeira edição, Rui Carp, presidente do Conselho de Administração da Imprensa Nacional, afirmou, em resposta à pergunta do jornalista d’A Bola António Santos sobre se o júri excluiria autores que não escreve(sse)m de acordo com o AO90, que «é possível conciliar a legalidade com a liberdade» e «aqui não fazemos censura, isso terminou em 1974.»
Porém, e pelo contrário, ali faz-se censura. A 21 de Abril de 2013 referi, no meu artigo (também no Público) «Penalidade de expressão», o caso do escritor Abel Neves, que revelara, em Janeiro daquele ano, que a Imprensa Nacional Casa da Moeda se recusara a editar três das suas peças de teatro por o autor «não querer a(du)lterar aquelas segundo o infame (des)acordo. Será possível que na INCM não exista quem conheça e tenha lido o “Código do Direito de Autor e dos Direitos Conexos” nacional, que também reflecte e replica legislação e jurisprudência internacionais, e que dá inequivocamente a todos os artistas a prerrogativa de utilizarem e de verem respeitada a linguagem que eles quiserem?»
Aparentemente, ainda não, porque no regulamento do prémio de 2016 se estipula, pelo artigo 10º, o seguinte: «1. O autor premiado aceita que a INCM execute uma revisão literária dos originais, na qual sejam eliminadas todas as incorre(c)ções ortográficas ou gramaticais, e resolvidas as inconsistências com as normas de estilo ado(p)tadas para a publicação do Prémio INCM/Vasco Graça Moura. 2. O autor premiado disponibiliza-se a examinar eventuais sugestões, que contribuam para a melhoria e clarificação do texto, que lhe sejam submetidas para apreciação e aprovação.» A 2 de Agosto último contactei, por correio electrónico (e através do «e-ndereço» indicado no regulamento), a Imprensa Nacional e perguntei: «pode-se depreender do artigo 10º, e em especial do seu ponto 1, que a obra vencedora terá de ser impressa e publicada obedecendo ao denominado “acordo ortográfico de 1990”?» A resposta chegou no dia seguinte, enviada pela secretária de dire(c)ção: «o texto vencedor será publicado de acordo com a ortografia do Acordo Ortográfico de 1990.» Afinal, não era assim tão inimaginável…
Os membros do conselho de administração da Imprensa Nacional Casa da Moeda, e os que participam na organização deste «galardão», parecem não ter as mais básicas noções de decência, honra e vergonha: é um insulto quase indescritível à memória de Vasco Graça Moura, uma afronta particularmente atroz ao seu legado, dar o nome dele a um prémio cujo(a) vencedor(a) terá, se quiser ser editado, de se submeter ao AO90 - algo que ele sempre combateu tenazmente até morrer.
Não me surpreende, no entanto, que políticos, e que burocratas mais ou menos «de carreira» que aqueles nomeiam para diversos cargos na administração pública, se comportem sem um mínimo de respeito para com outros, vivos ou mortos (eu próprio, este ano, senti isso ao não ser reconhecida, pelo actual governo, a minha autoria da ideia de dar o nome de Humberto Delgado ao aeroporto de Lisboa). Todavia, já me espanta que Pedro Mexia – que integra o júri do prémio com Jorge Reis-Sá e José Tolentino de Mendonça – se preste a colaborar com o que é, na prática, uma autêntica traição. Enquanto subscritor – tal como Vasco Graça Moura! – da Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico, e deste opositor constante nos últimos anos, dele há a esperar duas atitudes possíveis: exigir aos (ir)responsáveis da INCM que eliminem o artigo 10º do regulamento; ou, recusada essa exigência, sair do júri. E, desse modo, deixar de ser «habitante» de uma Casa da Moeda que dir-se-ia ter na prata o seu metal preferido.
Público Nº 9496, 2016/8/13
Não podia estar mais de acordo com o Fernando Proença, no que respeita ao AO90.
A Língua Portuguesa está em vias de extinção por conta deste AO90, da cegueira mental dos governantes, que não conseguem ver o óbvio, e da ignorância monumental dos que, sem o mínimo espírito crítico, o usam às ceguinhas e à balda...
Opinião de Fernando Proença
«Tenho sido o rato do laboratório que todos temos cá dentro mas às vezes não sabemos. A esclarecer: quando tenho a hipótese de ir buscar um filme mais atrás (sob o manto diáfano da chamada box), estou com muito menos atenção ao que vejo. Não sei se estou a dar uma novidade a alguém, mas a extraordinária capacidade de podermos voltar a olhar e descobrir algo que nos escapou da primeira vez condiciona-nos sempre a forma como olhamos para a TV. Não sei se isto conta para os telemóveis, para as fotografias e em geral tudo o que mexe, mas afianço-vos que os livros que trazem no princípio, nome e características das personagens, levam-me a consultá-las desde a primeira até à última página, raramente conseguindo fixar nomes e parentescos. Não tenho nada contra a possibilidade de gravar programas e filmes. Conseguir-se ver, de uma assentada, todos os programas com Manuel Luís Goucha, seria só por si motivo de regozijo e satisfação. Escrutinar todos os noticiários lidos por José Rodrigues dos Santos, em pacote, vendo mais piscadelas de olho em três horas que qualquer ser humano está capacitado a suportar em três meses, é obra. Por isso gosto dos aparelhos de televisão com box associada. Mas que isso me relaxa, relaxa!
Involuntariamente também enfrento as duras provações do extraordinário acordo ortográfico (AO), que nos meus artigos tento deixar à porta. Hoje mesmo, Domingo, em que escrevo estas linhas, tive que voltar atrás na legenda que lia (outro benefício da utilização da box nas televisões), em três filmes diferentes. Nesses três filmes fiquei sem saber se o para que lá se via era para, ou o antigo pára. Numa das situações não tinha percebido mesmo e mudou completamente o sentido da frase. Para resolver esta intricada questão voltei atrás duas vezes e repeti de cabeça um diálogo, na terceira situação. Não sei o que quiseram com esta confusão. Mas que não foi boa coisa não foi.
A Imprensa Nacional Casa da Moeda, instituiu um prémio denominado Vasco Graça Moura. A questão, que tem sido publicamente contestada, é que no regulamento do concurso consta que os textos postos a concurso têm que estar escritos ao abrigo do actual acordo ortográfico. Não sei se a referida Imprensa Nacional Casa da Moeda podia ter instituído o mesmo prémio em nome de outro escritor qualquer, da nova ou velha guarda, daqueles que pensa que só a golpes destes a língua avança, ou uma treta dessas. Se podia, devia tê-lo feito. Mas dar o nome do escritor português que mais contestou o actual AO, a um prémio literário, em que é condição de aceitação que os textos sejam escritos segundo esse mesmo AO, é no mínimo uma enorme falta de respeito por quem dizem estar a homenagear. Agora discordo dos discordantes numa coisa: onde eles olham e percebem uma forma de manchar o nome de Graça Moura, eu vejo relaxe e indiferença. Quem pensou nas coisas, não lhe passou isto pela cabeça. Marimbaram-se e dormiram para o lado que se deitaram. Mas um povo que deu a um aeroporto o nome de Sá Carneiro, que morreu num desastre de avião, pode fazer qualquer coisa. Por este andar, um dia ainda dão o nome Maria Luís Albuquerque a um asilo para velhos com dificuldades económicas.
Fernando Proença»
Fonte: http://www.jornaldoalgarve.pt/avarias-curta-vida-ao-ao-e-o-que-eu-lhes-desejo/
A propósito do prémio literário com o nome de Vasco Graça Moura, a atribuir pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda (INCM), que obriga os concorrentes a escreverem segundo o Acordo Ortográfico de todos os desacordos.
(Texto de Pedro Correia, no Blogue Delito de Opinião)
«Injúria póstuma a Graça Moura
Mais do que uma desconsideração intelectual, constitui uma injúria que um organismo público como a Imprensa Nacional Casa da Moeda utilize o nome de Vasco Graça Moura para atribuir um prémio literário destinado a distinguir uma obra forçosamente escrita em acordês.
O grande poeta, ensaísta, ficcionista e tradutor já cá não está para zurzir os responsáveis daquela instituição com a verve que todos lhe conhecíamos e a paixão que sempre colocou nesta batalha de ideias. Mas até por isso é dever de todos os seus amigos e admiradores insurgirem-se contra o abuso que constitui a associação de Graça Moura a um prémio que exige a utilização das normas ortográficas que ele sempre combateu.
Não há outra leitura possível do artigo 10.º do regulamento do concurso, escrito na ortografia que o autor de Naufrágio de Sepúlveda abominava: “O autor premiado aceita que a INCM execute uma revisão literária dos originais, na qual sejam eliminadas todas as incorreções [sic] ortográficas ou gramaticais, e resolvidas as inconsistências com as normas de estilo adotadas [sic] para a publicação do Prémio INCM/Vasco Graça Moura.”
Como alertou Octávio dos Santos, num artigo no Público que chamou pela primeira vez a atenção para o caso, a administração da Imprensa Nacional-Casa da Moeda, por ele contactada, confirmou por correio electrónico: "O texto vencedor será publicado de acordo com a ortografia do Acordo Ortográfico de 1990."
De resto, a tocante preocupação da INCM pelas "incorreções" [sic] devia começar pela própria redacção deste regulamento: onde se lê "usa" em vez de "sua" no artigo 9.º, n.º1 (curioso lapso, daqueles que em linguagem freudiana costumam merecer o rótulo de acto falhado).
Além do inaceitável paternalismo que revela, só lhe faltando vir acompanhado da antiga "menina dos cinco olhos", o artigo 10.º impõe carácter obrigatório à escrita acordística, fazendo tábua rasa dos mais elementares princípios de liberdade intelectual.
Como Octávio dos Santos justamente questionou: "Será possível que na INCM não exista quem conheça e tenha lido o Código do Direito de Autor e dos Direitos Conexos nacional, que também reflecte e replica legislação e jurisprudência internacionais, e que dá inequivocamente a todos os artistas a prerrogativa de utilizarem e de verem respeitada a linguagem que eles quiserem?”
Fernando Pessoa, Almada Negreiros e Teixeira de Pascoaes, entre outros escritores que foram firmes adversários da reforma ortográfica de 1911, ficariam liminarmente excluídos deste concurso se por acaso cá estivessem e quisessem concorrer.»
Fonte: http://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/injuria-postuma-a-graca-moura-8712212?thread=67058964#t67058964
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