Segunda-feira, 31 de Janeiro de 2022

Os Portugueses, que ontem deram a maioria absoluta ao PS, não sabiam que em Democracia não há lugar para o “Absolutismo”?

 

Quando o governo caiu e se partiu para novas eleições legislativas, vaticinei, publicamente, que teríamos mais do mesmo… para PIOR.

 

E o PIOR aconteceu:

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Infografia: Rodrigo Machado/RR

 

1º - O Partido Socialista teve maioria absoluta

2º - O Chega e a Iniciativa Liberal chegaram-se à frente.



Sempre se criticou as monarquias absolutas.

Sempre se criticou o Absolutismo.

Sempre se criticou a maioria absoluta dos outros, mas quando um povo pouco esclarecido nestas coisas de absolutismos, lhes dá a maioria que eles sempre desejaram, faz-se uma grande festa!

 

E para isto contribuíram duas coisas terríveis: o MEDO da mudança, e o facto de termos um Povo ainda POUCO ESCLARECIDO. E uma Democracia só funciona em pleno numa sociedade maioritariamente esclarecida. E quando digo esclarecida não se julgue que me refiro a canudos universitários, porque já vimos, pelas experiências na política portuguesa, que ter um canudo universitário não é sinónimo de ser-se esclarecido. Pelas entrevistas de rua que vi na televisão, há gente que tem uma bandeira de um partido na mão, mas não sabe de quem é. Como irão votar em consciência?



Ontem, Portugal deu um passo na direcção errada, embora com alegitimidade que o Povo lhe conferiu.  Se já tínhamos um governo do eu quero, posso e mando, o que será agora, com uma maioria? António Costa começou logo por dizer, no seu discurso de vencedor, que não falará com o Chega. Esta não será uma atitude ditatorial? Afinal o Chega é a terceira força política. Existe. Quer se goste ou não se goste. E se chegou a tal, foi pela má prestação dos que se dizem de esquerda, e não conseguiram convencer os da esquerda, com as suas atitudes, por vezes, dúbias, embora isto de “esquerda/direita” seja coisa da tropa.

 
Além disso, estamos em vias de ter o mesmo primeiro-ministro, que desconhece a Língua Portuguesa, usando redundâncias sem saber o que está a dizer, fazendo discursos numa linguagem insólita, incoerente, onde nem todos são todas, nem os portugueses são as portuguesas, nem os cidadãos são as cidadãs, ou tudo isto no seu vice-versa.

 

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Primeiro-ministro, António Costa © Paulo Jorge Magalhães/Global Imagens

 

Tudo isto é muito triste.


Se Portugal já estava na cauda da Europa em tantas coisas; se em Portugal a contestação, em várias frentes, é o pão nosso de cada dia, há tanto tempo; se nestes seis anos de governação, Portugal não avançou no SNS, que continua bastante caótico; se não avançou no Ensino, que continua super-caótico; se não investiu na Cultura CULTA (não a rasteira, que recebe chorudos subsídios) que continua a ser marginalizada;  se não anulou o ILEGAL AO90, que estraçalhou a Língua Portuguesa, violando a Constituição da República Portuguesa, a Lei e o direitos dos cidadãos; não aboliu a tauromaquia, a caça e todas as outras actividades que vivem da tortura de seres vivos, catapultando Portugal para o terceiro-mundo; se não orientou da melhor forma as actividades económico-financeiras do país; se não conseguiu pôr fim à corrupção, à pobreza, à ladroagem que nos cerca por todos os cantos e esquinas; se não conseguiu diminuir o fosso entre os ricos e os pobres; SE… SE… SE… tanta coisa!!!! Com a maioria absoluta, sem que a democracia plena seja executada, sem o contraponto dos restantes partidos políticos com assento na Assembleia da República, vaticino um tsunami que afundará ainda mais um Portugal que já está afundado, desvirtuado, desconjuntado na sua identidade.


Um povo pouco esclarecido é um maná dos deuses para os governantes.



Esperemos que o novo governo absolutista,  tenha a hombridade de consultar TODOS os outros partidos eleitos, e com assento no Parlamento, conforme as regras democráticas, e não governar conforme lhe der na real gana.

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 19:17

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Quinta-feira, 6 de Janeiro de 2022

Eleições legislativas e o AO90: discursos gastos, de gente super-degastada, sem nada de novo para dizer. Anuncia-se mais do mesmo, e se nada mudar, Portugal continuará a marcar passo para trás…

 

Que vantagens trouxe para Portugal e para os Portugueses o AO90?

Queremos esta questão respondida, durante os debates televisivos.
Dela dependerá muitos votos, ou nenhum voto.



Teolinda Gersão.png

 

 

PSD, PCP, PS, BE, PAN, INICIATIVA LIBERAL, CDS/PP e CHEGA atentai no que diz a escritora portuguesa TEOLINDA GERSÃO, que é o que milhares de Portugueses cultos e menos cultos dizem também. Se acham que estão a servir uma Democracia, é da Democracia ouvir a voz dos cidadãos. Se não a ouvirem, então tenham a certeza de que servem uma DITADURA.

 

Hoje, ouvi na televisão alguém dizer que ninguém pode impedir os cidadãos de irem votar, ainda que estejam em isolamento, devido à Covid-19. Aqui-d ’el-rei que se viola a Constituição da República Portuguesa (CRP)!



Nunca vi ninguém ir à televisão GRITAR que ninguém pode impedir os cidadãos, nomeadamente as crianças (que não podem defender os seus direitos) de escrever correCtamente a sua Língua Materna, uma vez que o Acordo Ortográfico de 1990, impingido ilegalmente aos Portugueses, sendo ILEGAL, viola a Constituição da República Portuguesa.

 

O que é isto? Dois pesos e duas medidas no cumprimento da CRP?



Também já se solicitou aos candidatos que se manifestassem nos seus programas eleitorais sobre esta matéria/tabu. Tabu porquê?



O AO90 está envolto em ruidosos silêncios, que dizem da burla que anda por aí disseminada, tão, mas tão cabeluda, que os dirigentes partidários, os governantes, os parlamentares, até o presidente da República (que jurou defender a CRP!!!!) fecham-se em copas, e  fazem-de-conta que o problema NÃO existe, que o problema NÃO é grave, que o problema NÃO viola a CRP. E, pior do que isto, IGNORAM ACINTOSAMENTE, os apelos dos milhares de Portugueses que exigem a anulação do AO90 e a reposição do AO45, que está em vigor, e que MUITOS utilizam, cumprindo deste modo a LEI VIGENTE.

 

Li algures, que, por exemplo, o Dr. Rui Rio, candidato a primeiro-ministro de Portugal, pelo Partido Social-Democrata (PSD), disse num debate «ser a favor do AO90, em princípio, mas a forma como o acordo foi feito podia ter sido melhor.»



É a favor, em princípio? Este é um grave erro que se cometeu contra a cultura Linguística Portuguesa. Ou se está contra, ou se está a favor, e para se estar a favor é necessário ter argumentos muito, muito, muito racionais, para sustentar algo que raia o absurdo, dos absurdos.


Também li na página do PSD que o Dr. Rui Rio está preocupado com o futuro das gerações mais novas. E é para estar, mas não só de pão viverão as gerações futuras.



Existe um gravíssimo problema que fará delas os analfabetos funcionais do futuro, e não vejo o Dr. Rui Rio preocupado com isso, ou melhor, assobia para o lado, no que respeita à questão de estarem a ser obrigadas a usar o AO90, que todos sabemos ser ilegal, mas o Dr. Rui Rio apoia essa ilegalidade.


Posso fazer-lhe uma pergunta, como cidadã, que tem de escolher um primeiro-ministro que pugne pelos interesses de Portugal e dos Portugueses, Dr. Rui Rio?


O Dr. Rui Rio pode dizer-nos o que o AO90 trouxe de BOM para Portugal? Que benefícios trouxe para os Portugueses, para a sua Cultura Linguística, para o seu Ensino de Qualidade? O que é que podia ter sido melhor no universo do PIOR?

Podemos saber?

(Deixei esta questão na Página do Facebook, do PSD)

 

***

Sabemos que o Partido Comunista Português (PCP) tem estado isolado no parlamento, quando à questão da anulação do AO90, que não serviu para nada, nem é bem aceite em nenhum dos países lusófonos. Mas o PCP, sozinho, não pode levar a sua lucidez adiante.

 

Sabemos que o Partido Socialista (PS) é tolinho pelo AO90. Mantém a Língua Portuguesa fechada a sete chaves nos calabouços do Ministério dos Negócios Estrangeiros, e não arreda pé de retirar Portugal do CAOS ORTOGRÁFICO, em que o mantém mergulhado até às pontas dos cabelos.   

 

Sabemos que o Bloco de Esquerda (BE) não só também é tolinho pelo AO90,  e até o considera moderno, como é fervoroso adepto de uma linguagem parola (de acordo com Miguel Esteves Cardoso) e a que se dá o nome de inclusiva, eivada da mais grosseira ignorância (como se a linguagem inclusiva resolvesse o problema das mulheres).

 

Sabemos que o CDS/PP no ponto 7 do seu programa eleitoral diz no texto deste link:

https://www.tsf.pt/portugal/politica/ninguem-de-o-nosso-apoio-como-adquirido-festa-de-ano-novo-do-cds-com-12-exigencias-para-formar-governo-14454039.html?fbclid=IwAR3J4SqUcspQ4Gzlf07y-yoBJzYHFogbSE-30y8Xo8vxLspWGgUB26uyfK0

«- Cheque-ensino que permita a liberdade de escolha na educação.» (O que nada nos esclarece, quanto ao AO90).  

Já neste:

https://observador.pt/2022/01/01/depois-da-ceia-de-natal-a-de-ano-novo-sem-primos-afastados-so-gente-da-casa-estamos-habituados-a-ressuscitar-nas-urnas-diz-chicao/

no ponto 7 diz o seguinte: «Regresso das parcerias com escolas particulares e cooperativas e reversão do acordo ortográfico».

No que ficamos?

***


Sabemos que o PAN, o CHEGA e o Iniciativa Liberal são adeptos do AO90.


Como se vê, a ilegalidade acordista é avalizada pelos partidos políticos que vão a eleições,  à excepção do PCP.


Exigimos posições claras.


Mais do que isso
: exigimos que nos digam quais os BENEFÍCIOS RACIONAIS, para Portugal e para os Portugueses, que o caótico AO90 veio proporcionar.



Isabel A. Ferreira


publicado por Isabel A. Ferreira às 18:19

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Domingo, 21 de Fevereiro de 2021

«A língua portuguesa caminha para a extinção mais depressa do que o rinoceronte…»

 

Quem o diz é Alexandre Borges, escritor e argumentista, candidato a deputado à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, pela Iniciativa Liberal.

 

Hoje, dia 21 de Fevereiro, dia em que o mundo celebra as Línguas Maternas, fiquemos com o texto «Erradicar o Português: ponto de situação», no qual Alexandre Borges faz uma reflexão bastante pertinente sobre esta questão.

 

E enquanto o mundo celebra, nós Portugueses, caminhamos praticamente   sobre o cadáver daquela que foi a nossa Língua Materna durante 800 anos; hoje deitamos fora a língua erudita que tivemos a felicidade de herdar do império romano, para pegar numa língua bárbara, minimal e monolítica, incapaz ao menos de conjugar um verbo (I love you – Eu amar tu», diz Alexandre Borges.

 

Não podia estar mais de acordo com Alexandre Borges.

 

Isabel A. Ferreira

 

Alexandre Borges.jpg

Por Alexandre Borges

 

«Erradicar o Português: ponto de situação»

 

O português vem doutro tempo, quando se andava mais devagar e sonhava com outras coisas. Foi válido durante 800 anos, de Dom Dinis ao meu avô Grimanez. Mas, de repente, o mundo decidiu que já chega.

20 Fevereiro 2021

 

Tenho a certeza de que sabe que estamos praticamente a caminhar sobre um cadáver. Que nos sirvamos do Português roça a profanação de sepultura – deveria dizer: a necrofilia? A língua portuguesa caminha para a extinção mais depressa do que o rinoceronte e, no fim, embora possamos sempre resguardar em cativeiro porventura um bibliotecário macho e uma linguista fêmea, ou vice-versa, com vista à continuação da espécie, eu não depositaria demasiada fé na operação. Sabe-se lá que língua falarão então. E que líbido lhes restará. 

 

Não culparei o infame acordo ortográfico, nem o Instituto Camões, nem as telenovelas, nem os sucessivos governos, nem as pessoas com necessidades especiais que a televisão filantropicamente emprega na inserção de caracteres com vista à criação no indivíduo de um sentimento de dignidade e amor-próprio. Não culparei os professores, nem os alunos, nem os Brasileiros, nem os Portugueses, nem o fado, nem o kuduro, nem ao menos a quizomba, nem necessariamente a televisão, que é capaz de ainda morrer primeiro. O português está prestes a bater a bota pela mesma razão que todas as outras línguas que não o inglês estão prestes a bater a bota: a monocultura do sucesso.

 

O que é a monocultura do sucesso? A forma mais curta que o presente autor encontrou de descrever a convicção generalizada de que: a) a felicidade individual é não só possível como o objectivo último da vida; b) a felicidade reside no sucesso; e c) há uma e uma só forma de lá chegar. E essa forma implica teses estruturantes como o trabalho estar acima de tudo e o crescimento ser um fim em si mesmo, e outras aparentemente acidentais, mas de que ninguém abdica, materializadas num comportamento de rebanho ou manada, e que significam, mormente: comermos todos a mesma coisa, fazermos todos o mesmo tipo de exercício, consumirmos todos o mesmo entretenimento, visitarmos todos os mesmos lugares, falarmos todos a mesma língua, através até das mesmas expressões.

 

Catastrofismo, dirá. Ou bullshit, quem sabe? Digo-lhe que não. Que vamos erradicar o português em poucas gerações. Extirpar da face da Terra essa chatice das línguas estrangeiras e das traduções. E não será preciso qualquer ditadura; fá-lo-emos por vontade própria.

 

Pense no que está no seu top of mind. Se tem ou não tem a drive. Nesse mindset. Estará na cloud? O importante é estar sempre on. Viu o mail? Foi ao chat? Recebeu o briefing. Fez o debriefing. Teve atenção ao target e ao benchmark. Fez o brainstorm com vista ao break-even. O problema é o budget. Mas pense no ROI. Não tem business plan. É um B to B; não um B to C. Não ouviu o chairman? É o nosso core business. Tem de experimentar o coaching. Falta-nos mentoring. Trabalha em cowork. Conseguiu com crowdfunding. Mas não se esqueça do deadline. Recebeu o forward? Agora, faça o follow-up. Dê-nos feedback. E cuidado com o gap.

 

É uma questão de know-how. A ninguém já interessam qualidades, capacidades ou atributos; somente as skills. Não há fundadores nem criadores; há founders. Já não se conhece pessoas; faz-se networking. Ninguém abre uma pastelaria; tem uma startup. E há o pitch, os players, o spin, o spin-off, os stakeholders, o take off e o set up. O importante é rodear-se dum staff multitasked que entenda as trends, mas pense out of the box. E escolher bem o timing na hora do kickoff.

 

Confesse lá. Quantos destes termos não percebeu realmente? Quantos não usou na última semana, para não dizer hoje mesmo?

 

E o pior é o desgaste. O stress. Sim, sim, vimos o que fizemos aqui: o stress. Até isso. Em inglês. Poderia ser outra língua, poderia ser outra filosofia. Pense no francês. Lembra-se de quando era o francês o grande influenciador – influencer? – da língua e cultura pátrias? Ó saudade. O bâton, o parfum, a patisserie, o chauffer, o coiffeur, o robe de chambre, a lingerie, o soutien, o boudoir, a boîte, a bohème – as coisas realmente importantes da vida. A chaîse longue, Jesus Cristo, a chaîse longue! A delicadeza, a classe, a preguiça, a demora, a textura de cada palavra destas… Quão longe estávamos do frenesim ruidoso e áspero do think tank e das conference calls, das talks, do downsizing, das key words e dos highlights. Que se passa com essa gente que desce uma rua nas Olaias como se desfilasse para fora dum filme em Wall Street? Ao diabo o corporate e as commodities. Até para descansar é preciso comprar o pack e ir em jeans e t-shirt para o resort, mais o trolley, o tablet, os phones e o streaming.

 

Está tudo perdido? Claro que está. Estamos on the same page. Diz o report. Precisamos de team building. Tudo ASAP. E até quando rebentamos, já não temos esgotamentos; temos burnouts.

 

E os trainees, as brands, os accounts e os assets. O cash-flow, a mailing list, o background, o merchandising e o mainstream

 

Ide à meretriz que vos pôs no mundo hypesbitsbeatsspots e hipstersblogspostscommentssharesviewshits e likes. O sentido da vida é agora contabilizável, FYI – For your Information – possivelmente em KPIs – key performance indicators (in case youdon’t know). Soft sponsoringproduct placement hard sell, vão ler Eça e encher-se do que de mais haja na choldra.

 

Mando o layout assim que tiver os teus inputs. Seguindo as guidelines internacionais e os insights locais. Tudo premium, evidentemente. A guita segue em attachment, como vi no showroom, diz o slogan, e o claim, no outdooronline e offline, se não for para o spam, como aprendemos no workshop. O approach foi acordado com o departamento de research e tem em conta o pipeline e o workflow. Tudo para o melhor outcome.

 

Querer dormir e acordar, comer e beber, ler e contemplar, estar bem com o que se tem. Não ter urgência alguma de ir descobrir o que ainda não se conhece nem explorar todo o nosso potencial escondido – ó crimes capitais! Aproveita o coffee break, ou o out of office, e fala naquela língua ainda pior, bastarda, filha do inglês e do português, e que diz coisas que dariam ao Camões, se ainda cá estivesse, vontade de vazar a outra vista só para não ter de as ler, como: “mandatório”, “empoderamento” ou “customizável”.

 

O português está por um fiozinho – não vá cá em conversas de lusofonias e cêpê-élepês. Hoje mesmo, amiúde, já só serve para ligar estes conceitos. Substantivos e adjectivos já foram colonizados pelo inglês; os verbos para lá caminham (veja o googlar, o brandisar ou – desculpa, Camilo, as voltas na tumba – o spoilar); ao português, em breve, não restarão mais do que preposições, conjunções e meia dúzia de advérbios. E não se perder em grandes elaborações frásicas, que, para garantir que o receptor percebe o que queremos que sinta, estão lá os emojis.

 

E o meu problema, caro leitor, não é sequer só o estar de serviço na hora em que vemos esboroar diante de nós uma língua com 800 anos como quem implode um prédio devoluto na Amadora (com o devido respeito pelo povo irmão da Amadora); é ver a que lhe toma o lugar. Deitamos fora a língua erudita que tivemos a felicidade de herdar do império romano, para pegar numa língua bárbara, minimal e monolítica, incapaz ao menos de conjugar um verbo (I love you – Eu amar tu.) Uma língua que, circunstâncias do tempo, evoluiu na boca daqueles que implantariam a dita monocultura do sucesso, do triunfo pessoal. E eis porque uma pessoa lê os termos inscritos neste texto e fica com palpitações. Em que outro idioma poderia ter nascido uma palavra como “workaholic”?

 

O português vem doutro tempo, quando se andava mais devagar e sonhava com outras coisas. Foi válido durante uns bons 800 anos, de Dom Dinis ao meu avô Grimanez. Mas, de repente, o mundo decidiu que já chega. O mundo em que ler os 10 resultados da primeira página de resultados do Google é investigação que chegue praticamente para um doutoramento. O mundo em que já não há sapateiros, mas sobram chief operating strategy officers. O mundo em que o palavrão é um dos últimos redutos de verdade entre um falante e a respectiva língua materna.

 

Sim, ilustre desconhecido que me lês. O foda-se ainda há-de ser o nosso porta-estandarte. Carregar a bandeira do português contra todos os smartslow coststake-awayscall centersold schoolfast

foodclustersCEOsCFOspartnersmanagersconsultantsadvisorsfoodiesselfies e dumpings, gajos do running e do gaming e do cross-fit e do snorkeling.

 

Foda-se. Deixem-me em paz com o meu Alberto Caeiro e a minha preguiça. A vida também é feita de latas de atum e tédio. Podemos declará-lo no LinkedIn? A linguagem chegará sempre demasiado tarde para explicar o mundo – qualquer filósofo depois de Wittgenstein o dirá. Deixem-nos ficar uma língua ao menos para quando não queremos ser compreendidos.

 

Alexandre Borges

 

Fonte:

https://observador.pt/opiniao/erradicar-o-portugues-ponto-de-situacao/?fbclid=IwAR0z9TmcuP7O2KIRrVZuG9hIRCeXuTGPd6CltyApqs6O_mNS2Zpvh8sY_Vc

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 19:00

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Quarta-feira, 6 de Janeiro de 2021

O que esperar de um Presidente da República?

 

Este ano temos sete candidatos à Presidência da República, o mais alto cargo da Nação: aquele que representa Portugal e o Povo Português. Portanto, um cargo que deve ser exercido com dignidade, honestidade, independência total dos restantes poderes, do qual se tenha, sobretudo, a noção da responsabilidade do que é ser Chefe de Estado.

 

É um erro os partidos políticos apresentarem candidatos à Presidência da República. Um Presidente da República tem de estar acima de qualquer partido político, e de qualquer poder, para que possa exercer o cargo com a máxima independência. Tem de ser um candidato independente. O seu princípio tem de ser defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa, de acordo com o juramento que faz na tomada de posse do cargo: «Juro por minha honra desempenhar fielmente as funções em que fico investido e defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa

 

Porém, jurar é fácil. Cumprir o juramento é que são elas!

 

Mas há mais atributos que se requerem de um candidato a Presidente da República.

 

Candidatos às Eleições Presidencais 2021.png

 

Na imagem temos os candidatos à Presidência da República de Portugal, por ordem alfabética, porque isto de pôr uns mais à frente do que outros, seguindo sondagens encomendadas, não é honesto.

 

Todos merecem o nosso respeito. Afinal, são cidadãos que estão a exercer um dever cívico com a firme convicção de que são capazes de representar Portugal e o Povo Português com a máxima hombridade, não estão ali por mera vaidade de poderem ocupar o mais alto cargo da Nação, ou de se aproveitarem dele para segundas intenções. Pelo menos é o que esperamos deles

 

Desde o 25 de Abril que apenas um Presidente da República, eleito pelo Povo português, mereceu nota positiva durante e depois do mandato: o General Ramalho Eanes. Os restantes deixaram um desprestigiante rasto de muita parra e pouca uva.

 

O último deles (o ainda actual), nada fez de brilhante, por Portugal, nestes últimos cinco anos. Absolutamente nada que mereça ser destacado como um feito presidencial.

 

Na Presidência da República precisamos de uma pessoa que pense pela própria cabeça, não seja pau-mandado de ninguém, nem camaleão, nem maria-vai-com-as-outras, e que diga o que tem a dizer, sem papas-na-língua, com firmeza, doa a quem doer.  

 

Precisamos de uma pessoa que tenha a noção do que representa chefiar uma Nação, servindo Portugal e os Portugueses unicamente; não pretender ser mais papista do que o Papa; e não enveredar por outros oceanos e servir interesses que não nos dizem respeito.

 

Precisamos de uma pessoa que execute, na íntegra, o juramento que faz, no momento da investidura do cargo, essencialmente o de defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa (CRP).

 

Precisamos de uma pessoa que combata a corrupção e não que a varra para debaixo do tapete; precisamos de uma pessoa que ponha os interesses de Portugal acima dos interesses dos estrangeiros, e que os defenda com garra e convicção. E, neste ponto, quero salientar, particularmente, a questão do Acordo Ortográfico de 1990, cuja aplicação todos os juristas e constitucionalistas são unânimes em considerar inconstitucional e ilegal, mas que uma imponderada conveniente “interpretação” de uma Lei que nem sequer existe, mantém vigente, desrespeitando abusivamente a Constituição da República Portuguesa.

 

Precisamos de uma pessoa que tenha a noção do que representa viver num Estado de Direito e numa Democracia, accionando todos os mecanismos intrínsecos à CRP, para que esse Estado de Direito e essa Democracia sejam uma realidade e não uma vergonhosa farsa. Pois para ditadura já nos bastou a salazarista.

 

Precisamos de uma pessoa que seja popular, mas não popularucha.

 

Precisamos de uma pessoa que tenha a noção do ridículo e se comporte em conformidade com o elevado cargo de Chefe da Nação, que ocupa.

 

Precisamos de uma pessoa que fale, quando deve falar, e se cale, quando deve calar-se.

 

Precisamos de uma pessoa que tenha a noção de que ao ser Presidente da República, está a ser presidente das pessoas, mas também dos animais não-humanos (de todos e não apenas de alguns) e do meio ambiente, e tudo faça, para que os direitos de toda a fauna humana e não-humana, da flora e de tudo o resto que constitui o todo português sejam respeitados, conforme consta na CRP.

 

Enfim, na Presidência da República precisamos de alguém que saiba arregaçar as mangas, e, ao mesmo tempo, honrar as calças ou as saias que veste.

 

E como se instala uma tal pessoa na Presidência da República?

Com atitudes.  

 

Não é com a linguagem pirosa (a expressão pirosa não é minha, é do Miguel Esteves Cardoso, mas concordo totalmente com ele) dita inclusiva, que tem a pretensão de dar visibilidade às mulheres, através de redundâncias linguísticas como convidadas e convidados, todas e todos, eles e elas, amigas e amigos, caras e caros, Portugueses e Portuguesas, que vamos dar oportunidade às mulheres para que ocupem cargos públicos de alta envergadura, e dar-lhes salários iguais aos do homem: o mesmo cargo, o mesmo salário. O que não acontece e jamais acontecerá com pirosices linguísticas.

 

O problema dos candidatos que se apresentam às eleições é que nenhum deles reúne a totalidade das condições aqui apresentadas, e que fazem de um candidato um bom candidato para chefiar a Nação Portuguesa.

 

Se não vejamos:

 

Ana Gomes: escrevi-lhe uma carta a pôr-lhe duas questões (*) que, não só para mim, como para milhares de portugueses, são cruciais para o País, mas por serem tabus e estarem ligadas a lobbies poderosos, que os governantes servem mais do que a Portugal, os órgãos de comunicação social não estão autorizados a abordar publicamente. São elas a questão do Acordo Ortográfico de 1990 (ao serviço dos interesses brasileiros, e que nos está a levar à perda da independência linguística e cultural, o que não é coisa pouca) e a vergonhosa prática medieval de torturar touros numa arena para divertimento, algo que recebe chorudos subsídios, retirados dos impostos dos portugueses, e que mantém Portugal com um pé na Idade Média, ou seja, numa etapa evolutiva ainda muito atrasada, o que também não é coisa pouca.

 

O que sei de Ana Gomes, a este respeito, é que ela usa a pirosa linguagem inclusiva do “todos e todas”, aplica o AO90 na página dela, no Facebook, não sei se está interessada em cumprir a Constituição da República Portuguesa, compelindo o governo a extinguir o AO90, e a repor a Grafia Portuguesa, em Portugal, para podermos recuperar a nossa identidade linguística e cultural.

Quanto às touradas sei que é NIM.

A resposta às minhas questões foi ZERO. Não respondeu. E para zero, zero e meio.

 

André Ventura:  sei que é contra o AO90 (o que não basta) e está ao serviço do lobby tauromáquico. Quanto ao resto, abomino extremismos de direita tanto quanto de esquerda, porque se tocam e fundem. E sabemos ao que pode levar estes extremismos: a horrendas ditaduras. Não aprenderam nada com a História. A postura deste candidato é um ultraje à Democracia.

 

João Ferreira: suponho que, por ser membro do PCP, e este ser contra o AO90, o candidato também o seja. Mas também está ao serviço do lobby tauromáquico, a não ser que se distancie da postura do Partido, a este respeito. Não sei. Mas sei que não condena publicamente as perversas ditaduras comunistas do mundo actual.  Daí que não tenha perfil para presidir aos destinos de um País que se quer livre e democrático.

 

Marcelo Rebelo de Sousa: sabe-se, por ser público, que é aficionado de touradas. [Nem sei como isto é possível, não entendo as pessoas que têm oportunidade de evoluir, afinal chegou a professor universitário, e não evoluíram]. Quanto ao AO90, sabe-se, porque também é público, que é um seu adepto ferrenho e utiliza a grafia brasileira, preconizada pelo dito pseudo-acordo, na página oficial da Presidência, dá entrevistas, como PR, com o sotaque brasileiro, usa expressões brasileiras, e está-se nas tintas para a destruição da Língua Portuguesa, violando, deste modo, a Constituição da República.

 

Marcelo Rebelo de Sousa, nestes últimos cinco anos, nada fez por Portugal. Absolutamente NADA, mas fez TUDO pelo seu imenso ego. Mais cinco anos a levar com as suas actuações narcisistas será desastroso para Portugal, que continuará a marcar passo. Não se julgue que Portugal é bem-visto lá fora, porque não é. Só quem não viaja, pensa que somos os maiores! Além disso, Marcelo vulgarizou bastamente o cargo de Presidente da República, ao ponto de já ter um cognome que ficará para a História: “Celinho das Selfies”.

 

Por outro lado, tal como Ana Gomes, nunca respondeu às minhas questões, acima de tudo as questões de uma cidadã votante, e dotada de espírito crítico, que transmite o pensar e o sentir de milhares de Portugueses. Para zero,  zero e meio também.

 

Marisa Matias: não tem perfil para Presidente da República. Limita-se a dar visibilidade e a defender o programa político do Bloco de Esquerda, que não serve para pôr em prática na Presidência da República. Além disso é adepta do AO90 e da pirosa linguagem inclusiva do “todos e todas”. É contra as touradas, mas isso não basta para lhe dar um passaporte para Belém.

 

Tiago Mayan Gonçalves: nada sei do que ele pensa, quanto às questões que mais me interessam (a mim e a milhares de Portugueses), por serem tabus. Mas sei que o IL é pró-tourada. Também sei que, no seu site, escreve em mixordês, ou seja, num misto de Português, acordês e brasileirês. As outras questões, não sendo tabus, já sabemos o que todos pensam sobre elas. O candidato, embora demonstrando falta de experiência nestas andanças, parece-me ser uma pessoa equilibrada e inteligente. Contudo, candidatar-se pelo Iniciativa Liberal, é um obstáculo.

 

Vitorino Silva: Genuíno. Inteligente. Trabalhador. Perspicaz. Um verdadeiro filósofo popular. Tem a sabedoria do Povo. Adoro as suas metáforas. Conhece o Portugal profundo. Não tem os vícios nocivos dos políticos “profissionais”, que nada têm de novo, para nos dizer. É alguém em quem se pode confiar. Como cidadão português tem todo o direito de se candidatar a Presidente da República. Afinal, não são os canudos universitários que fazem um bom presidente.  Já todos tivemos oportunidade de o comprovar.  Ser calceteiro não seria o impedimento maior.  Não sei se aderiu ao AO90. Não sei o que pensa sobre isso e sobre as touradas, mas sei que gosta de animais e é bastante carinhoso com eles. Não tive tempo de lhe escrever, e questioná-lo sobre estes dois temas, que, para mim e milhares de Portugueses, são cruciais, e ninguém debate. Mas de uma coisa eu tenho a certeza: de todos os candidatos aqui apresentados, o Vitorino Silva seria o único a dar-me a honra de uma resposta.  

 

Quem temos para pôr Portugal mexer e a fazê-lo regressar à sua dignidade de País livre e independente? Porque podem crer, neste momento, quando andam todos distraídos com o futebol, as telenovelas e os realities shows, o nosso País não tem uma Língua que o identifique como Nação independente, e está no rol dos sete países (em 193) que mantém práticas primitivas, indignas de seres humanos.

 

E isto, para milhares de Portugueses é de máxima importância, porque nem só de pão vive o homem.

 

***

(*) Um esclarecimento sobre as duas questões (AO90 e touradas) que aqui destaquei por serem tabus, mas também porque têm a ver com a nossa dignidade, enquanto País europeu e civilizado.

 

Eu, que conheço o mundo civilizado, onde pessoas civilizadas se divertem civilizadamente; eu, que domino outras Línguas, para além da minha Língua Materna, sinto-me esmagada pela vergonha que sinto quando vejo o Parlamento Português viabilizar o massacre de mamíferos sencientes, com um ADN semelhante ao dos humanos, e promover uma mixórdia ortográfica, que desprestigia Portugal, transformando-o na colónia de uma ex-colónia. E de todas as coisas, estas duas são realizadas em nome da mais pura estupidez. Isto é algo que não quero para o meu País.

 

E se há algo que me tira do sério é precisamente a estupidez.

 

E a estupidez humana [não há outra], segundo Ernest Renan [escritor, filósofo, teólogo, filólogo e historiador francês] é a única coisa que nos pode dar a noção do infinito…

 

Todas as outras questões, que são trazidas à liça, nos debates presidenciais, e são esmiuçadas publicamente, até à exaustão, não são tabus, e quando se corrompem, não se corrompem devido à estupidez dos seus intervenientes, mas tão-só à mais vergonhosa incompetência, ao mais descarado despudor, à mais indecorosa indignidade e à mais imoral desonestidade.

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 18:16

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Sexta-feira, 27 de Setembro de 2019

«Vamos brincar às línguas? Ou não brincamos já demasiado com a nossa?»

 

Mais um excelente texto de Nuno Pacheco, publicado no Jornal Público, e que nos fala de uma novela, já com demasiados capítulos. É urgente anular o AO90 nas escolas (e não só nas escolas) por motivos mais do que óbvios, e aproveito para acrescentar que os pactos de silêncio não dizem respeito apenas ao gravíssimo caso de Tancos, também se estendem ao igualmente gravíssimo caso do «acordo ortográfico” de 1990. Mas lá chegaremos. (Isabel A. Ferreira)

 

«Oito dos programas ou manifestos eleitorais são escritos com o Acordo Ortográfico e oito sem ele. Dois partidos propõem revê-lo e um quer “anulá-lo nas escolas”.» (Nuno Pacheco)

 

Nuno pacheco.jpg

 

Texto de Nuno Pacheco


«No sábado, dia 28, os lisboetas vão ter a enorme alegria de poder brincar às línguas. Nada que os políticos não façam já, e com bastante inconsciência, mas ali será mais como num recreio escolar ou numa feira. Eles explicam: “Haverá, por exemplo, a possibilidade de jogar a versão finlandesa do jogo da malha, assistir a uma representação teatral multilingue de uma cena da obra Romeu e Julieta, ver a exibição cénica Os 100 gestos da língua italiana, assistir a música coral ou visitar exposições croatas e polacas.” “Eles” são a EUNIC Portugal, que quis assinalar o Dia Europeu das Línguas em Lisboa, no Jardim do Campo Grande, com uma imensa farra plurilinguística que, das 14h às 19h, dará “a possibilidade aos participantes de contactarem com 14 línguas europeias: alemão, checo, croata, espanhol, finlandês, francês, georgiano, grego, italiano, inglês, irlandês, polaco, português e romeno e ainda com a língua gestual portuguesa.” Há melhor do que isto?

Há. Porque cinco horas a brincar com 14 línguas não são nada comparadas com os muitos anos e dias em que andam a brincar com a nossa. E as brincadeiras são cada vez mais divertidas. Há dias, na televisão, na sinopse de um filme na Fox Movies (Companheiros) escrevia-se isto: “Um traficante de armas sueco e um bandido mexicano formam uma patrulha com a missão de salvar um inteletual revolucionário.” Assim mesmo, de “inteleto” e “inteletualidade”, não conhecem? Talvez conheçam esta: num anúncio ao espectáculo que Dechen & The Jewel Ensemble darão em Outubro, a Viral Agenda garante que se trata de “algo realmente novo e impatante para o público.” Não conhecem? Do verbo impatar? Eu impato, tu impatas? Em que escola andaram? No mesmo texto, a Ticketline pôs “impactante”, mas não deve conhecer as novas ortografias. Quem as conhecerá bem é o anunciante da nova série televisiva Hot Zone, estreada no dia 22 no National Geographic. Pois escreveu, a toda a largura do ecrã: “baseada em fatos verídicos.” Não, não é uma série brasileira e a estreia foi mesmo aqui, onde os “fatos” ainda são factos, até ver.

 

Mas não é só na cultura que a ortografia inova com tal requinte. Até nos lugares mais simples, como uma mercearia, se pode ler este anúncio: “Netarinas”. Não são netos de lamparinas, nada de confusões, é mesmo um fruto, uma variante de pêssego. Mas sem C, talvez sem caroço. É que a criatividade, nesta matéria, já não tem limites, dando-nos todos os dias belos exemplos da nossa capacidade de modernizar o nosso vetusto idioma.

 

Sinais Excepto.jpg

 

Caso de estudo é um normal acréscimo a sinais de trânsito, aquele onde se indica: isto é válido, excepto para (residentes, universidade, transportes públicos, etc). O “excepto” original (que indicava excepção) já passou por “exceto”, “exeto”, “excepo” e “execto”. Estas variantes permitem oscilar entre palavras, confundindo-se já excepção com exactidão ou coisa que o valha. Ainda veremos escrito “exto”, “expo” ou “xpto”. Mais: há dias, numa legenda, dizia-se que alguém “respondeu ao reto” que lhe lançaram. Uma bela forma de confundir um desafio (repto) com um orifício humano (recto). E tudo isto sem que os que assim escrevem pensem um só segundo em tais disparates, julgando-se até modernos.

 

E os políticos, pensam? Os que deram aval ao CDT, ou Culpado Disto Tudo, que é o tristemente célebre Acordo Ortográfico de 1990 (AO)? Pensam muito pouco ou quase nada. Dos programas ou manifestos às actuais legislativas, não se tira muito. Lendo-os, ficamos a saber que oito são escritos seguindo o Acordo Ortográfico, mas com as derivas do costume (PS, PSD, CDS, BE, PEV, Aliança, Livre, Iniciativa Liberal, JPP) e oito sem ele (PCP, PAN, Chega, MAS, Nós Cidadãos, PCTP-MRPP, PNR e RIR). Coisas concretas em relação ao AO, só existem em três destes programas. No do PSD, que “entende que importa avaliar o real impacto do novo Acordo Ortográfico – que se tornou obrigatório em 2015 – e ponderar a respetiva revisão face ao evidente insucesso da sua generalização entre os países de língua oficial portuguesa e mesmo entre os autores portugueses”; no do CDS, que afirma taxativamente: “Não podemos falar da Língua Portuguesa sem assumir que a ideia central do Acordo Ortográfico de 1990 – uma ortografia unificada – falhou. Pela nossa parte, pode e deve ser avaliado quanto aos seus efeitos e problemas, tanto no uso da Língua como a nível internacional”; e no do PNR, de extrema-direita, que escreve isto: “Anular o ‘Acordo Ortográfico’ nas escolas e repor o Português correcto”. À margem, André Silva, do PAN, disse num debate radiofónico que “faz sentido” rever o AO. Já da Língua Portuguesa, e do que fazer com ela, falam vários. Mas isso fica para a semana.»


Fonte:
https://www.publico.pt/2019/09/26/culturaipsilon/opiniao/vamos-brincar-linguas-nao-brincamos-ja-demasiado-1887850?fbclid=IwAR2Y1tjK_0UbEWFUH3WLfMb8ntjY0C4gaqcWakes_cCrofFO2wMEWLgAHrg

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 14:57

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