Domingo, 3 de Março de 2024

«O Brasil se quiser ser um grande país e construir uma nação nesse mesmo país não pode ser leviano e pretender ser professor da Língua Portuguesa»

 

A propósito do texto publicado em «O Lugar da Língua Portuguesa» sob o título  (...) «E a campanha eleitoral continua a ignorar a questão da imposição política 'criminosa' do indefensável AO90 a Portugal! Democracia isto?! Com os tiques da ditadura e da censura?!...» e partilhado no Novo Movimento Contra o AO90 gerou-se uma troca de comentários entre mim e João Robalo de Carvalho, e que aqui reproduzo, por existir matéria de interesse público.

 

É preciso, de uma vez por todas que o Brasil siga o seu caminho, e deixe de humilhar Portugal, algo que já tem barbas brancas e muito, muito longas e que vai muito para além desta declaração de Evanildo Bechara (sucessor de Antônio Houaiss, o brasileiro-libanês, pai do AO90) que em conluio com Malaca Casteleiro, engendraram esta aberração ortográfica. A declaração de Bechara é de 2016, mas antes desta data, esta ideia já estava cimentada, e depois dela, as coisas têm vindo a piorar, devido à repugnante subserviência dos governantes portugueses, desprovidos de coluna vertebral, que rastejam, como lagartos, aos pés do Brasil.

 

Não podemos admitir que o Brasil continue a HUMILHAR-NOS deste modo tão grosseiro, e que se ande por aí a vender gato por lebre, chamando “português” à Variante Brasileira do Português, que está a circular efusivamente na Internet, cheia de disparates. Uma vergonha! Um insulto!


Isabel A. Ferreira

 

***

 

 João Robalo de Carvalho

Quanto a este assunto nacional da alteração da escrita da Língua Portuguesa através de imposição de regras vindas dos órgãos nacionais e com a anuência da figuras representativas do Estado e de alguma parte da intelectualidade portuguesa como o caso do prof. Jorge Miranda, membros da Academia de Lisboa e prof. de língua portuguesa, este caso nacional está para durar enquanto houver desacordistas e se não houver um despertar nacional para este assunto nacional, a Língua Portuguesa de seu nome, identificando um idioma nascido e construído em Portugal chegou ao fim.

 

O Brasil com o seu jeito manhoso e provinciano utilizando a manha ou má-fé, já que usou caminhos desviantes para chegar ao destino que foi alterar escrita da Língua Portuguesa através de um chamado "Acordo" quando é do conhecimento público que esse acordo foi forjado com o intuito de tirar proveitos políticos a seu favor, nada há a fazer, a não ser pela desconstrução do processo que construiu esse "Acordo", ou seja: Revogação.

Para chegar à revogação serão os deputados da A. R. a iniciar o processo, logo que reconheçam que o chamado acordo ofende os interesses de Portugal, já que, se a asneira começou por eles, devem ser eles, deputados, a reconhecer a asneira e com a sua legitimidade própria desfazerem-se dela.

 

A Língua Portuguesa como a conhecemos no século XX está morta e não mais Portugal terá controlo do seu desenvolvimento uma vez que o Brasil tomou o controlo da sua expansão através dos "acordos" estabelecidos entre o Brasil e Portugal.

Portanto, sejamos lúcidos, da forma como o cozinhado foi elaborado será apenas por duas vias. Ou Revogação ou por todos os portugueses que conscientes do valor da sua Língua se prestem a lutar por ela uma vez que ela já não é nossa, mas uma língua desvairada e perdida por aí, pelo mundo, mas sem controlo e com regras comandadas pelo terceiro mundo ou mundo subdesenvolvido, como lhe queiram chamar.

Este é o meu grito de despedida da língua que eu ainda tenho por não aceitar a imposição que me foi imposta, mas que não deixarei de continuar a escrever como me ensinaram em Portugal, meu país.

 

Este caso é sério e nacional e como cidadão consciente de que Portugal como país ocidental bateu no fundo e perdeu consciência dos seus clássicos valores Europeus e ocidentais, digo apenas, Portugal cansa e oprime um homem que pensa.

 

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BECHARADA.png

Fonte da imagem: https://cedilha.net/ap53/2024/02/becharadas/

 

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Isabel A. Ferreira

Autor

João Robalo de Carvalho fala em "revogação", a revogação de quê? Sempre ouvi dizer que só se "revogam" leis. Ora não existe uma lei que obrigue ao uso do AO90. Por outro lado, o AO90 não está em vigor, devido à sua inconstitucionalidade e ilegalidade, e só se "revoga" algo que é lei e está em vigor.

 

Ou estarei enganada? Se não estou, o termo a usar não é "revogar", mas será eliminar?

Além disso, sempre ouvi dizer que a Lei que obrigou à grafia de 1945, continua em vigor, porque não foi revogada por outra lei.

 

Tudo isto poderia ser esmiuçado e denunciado aos tribunais, por quem sabe de Leis. Eu não sei, mas tento saber.

 

***

João Robalo de Carvalho

Isabel A. Ferreira a revogação é em linguagem não jurídica a eliminação da produção de efeitos jurídicos e como entre dois Estados soberanos e independentes houve actos que foram assinados por representantes de ambos comprometendo-se mutuamente, para que esse chamado acordo desapareça ou seja eliminado seria bom para Portugal que tal processo de eliminação da produção de efeitos desaparecesse definitivamente para que os arrufos desaparecessem, usando linguagem popular, tanto do lado de cá como do lado de lá do Atlântico.

 

Seria a lavagem da roupa suja que todo este processo originou, porque originado em interesses em nada relacionados com a defesa da evolução da Língua Portuguesa, mas sim por simples motivações ainda nacionalistas como refere Maurício Silva da USP no documento apresentado por Maria José Abranches e com o qual estou de acordo.

 

É um documento interessante e com um apanhado histórico em linha seguida acompanhando o rasto das emoções que trouxeram o caso das divergências na matéria.

 

O Brasil ainda se está a construir como nação e será bom que os brasileiros tenham bem a noção disso para que se dediquem, estudem, divulguem segundo princípios de gramática e estrutura sólida e estimem a Língua Portuguesa para que através dela possam manter a unidade de um território de 8,5 milhões de Kms quadrados. A unidade da língua faz a unidade de um território.

 

JOÃO R CARVALHO.png

Portanto, este problema que o Estado português criou aos seus cidadãos não é coisa de somenos, mas sim um atentado a um símbolo nacional e para que o símbolo não fique manchado deve ser todo o processo bem lavado.

Outro caminho a seguir entre nós é o de os portugueses não respeitarem as novas regras de escrita, mas isso, entre nós, não me parece ser solução para que o Português como idioma original volte ao seu estádio de evolução que adquiriu no sec. XX, já que pessoas como o prof. Jorge Miranda diz o que diz, os homens e mulheres da Academia e professores de Língua Portuguesa se calam, parece estar tudo dito.

 

É verdade que a Lei de 1945 é a lei que está em vigor por ser uma lei de grau superior à Resolução do Conselho de Ministros que criou o AO90, pois trata-se aqui de hierarquia de leis e por essa razão a Lei que é emanada da AR ou o Dec.-Lei emanados do Governo da República sobrepõem-se à Resolução do Conselho de Ministros.

 

***

 

Isabel A. Ferreira

Autor

Muito boa a sua análise João Robalo de CarvalhoObrigada pelos seus esclarecimentos, até porque não percebo muito de leis, percebo das que fui obrigada a aprender para me defender em tribunal, nos diversos processos em que estive envolvida, sem nunca ter sido levada a julgamento, porque segui sempre os ditames da Lei. O que eu disse da "revogação" foi o que me disse um jurista: não se pode revogar o que NÃO está em vigor.

Estou sempre a aprender.
O que interessa fundamentalmente é que se faça alguma coisa para que o AO90 desapareça da face da Terra, para sempre.

 

 ****

Para completar esta reflexão, sobre a ingerência do Brasil no que pertence exclusivamente a Portugal, embora com o vil consentimento dos que cá (des)mandam, acrescento estes comentários, da autoria de Maria José Abranches, Professora de Português, e grande lutadora em prol da Língua Portuguesa, desde 2008, publicados no Jornal Público aqui

 

«(...) Contrariamente a outros povos que tiveram impérios coloniais - ingleses, franceses, espanhóis - Portugal despreza a sua própria língua, para a submeter aos interesses da língua do Brasil. Ora o Brasil, no seu respeitável direito, logo em 1907 fez a sua própria reforma ortográfica e, desde então, Portugal e o Brasil têm andado entretidos num combate estéril e nocivo, sobretudo para Portugal, entre as respectivas ortografias! Quando virá um português que, à imagem de D. Pedro -- 07 de Setembro de 1822 -- proclame a independência da língua do Brasil, libertando-nos enfim desta 'guerra' estúpida e interminável, que está a destruir a nossa língua? Ignorância, estupidez, cobardia, 'em nossa perdição se conjuraram'! «Coragem, portugueses, só vos faltam as qualidades.» - A. N."

"E a campanha eleitoral continua, todos silenciando a imposição política do AO90 a Portugal, reagindo como analfabetos que ignoram o que significa a ortografia para uma língua escrita há séculos! Todos empenhados na promoção do imperialismo linguístico brasileiro, com os seus milhões!!! de falantes e os seus 210 idiomas em vigor! Balanço dos 50 anos da Democracia: afinal mantêm-se os tiques da ditadura e a censura continua eficaz!"

 

Maria José Abranches

***

Entretanto...

BECHARADA 3.png

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 17:18

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Segunda-feira, 19 de Fevereiro de 2024

Sobre o AO90: «Carta aberta aos actuais responsáveis pelos destinos de Portugal», por Maria José Abranches

 

  «... Ah grita:

  importa pouco se te escuta alguém,

  no redemoinho tenso da surdez danada.

Porque há-de haver quem ouça, ainda há-de haver 

quem ouça. ...»

 (Jorge de Sena, "O grito do silêncio")

 

António Guerreiro.png

 
"Ex.mos Senhores,
 
Este ano Portugal celebra os 50 anos do 25 de Abril que nos trouxe a democracia. Tendo em conta que uma das bases e suportes da democracia é a capacidade de nos ouvirmos uns aos outros, agradecia que considerassem a minha reflexão sobre o nosso país, expressa no texto que junto envio.
Com os meus cumprimentos,
 
Maria José Abranches Gonçalves dos Santos
Professora (reformada)
Residente em Lagos"
 

No ano em que celebramos o cinquentenário do 25 de Abril, que libertou o país da ditadura e nos trouxe a democracia, os partidos políticos, assim como os media, que lhes dão visibilidade, não podem, mais uma vez, por prepotência, cobardia ou ignorância, silenciar a questão da imposição política a Portugal do Acordo Ortográfico de 1990.

 

Cidadã portuguesa - professora de Português, em Paris e em Lagos, agora reformada - consciente da minha responsabilidade, dos meus deveres e dos meus direitos, num país democrático, permito-me chamar a vossa atenção para a imperiosa necessidade de zelarmos pela defesa da nossa língua, actualmente gravemente fragilizada e em risco, pela imposição política antidemocrática do Acordo Ortográfico de 1990, a Portugal.

 

 O desinteresse do nosso país pela nossa língua, suporte essencial da nossa identidade e da nossa cultura, é algo que vem de longe e é totalmente incompreensível. Recordemos alguns aspectos do mesmo: a Academia das Ciências de Lisboa, fundada a 24 de Dezembro de 1779, levou 222 anos para publicar o seu primeiro e único dicionário (2001), agora com uma versão na 'net'; compare-se com a Real Academia Española, de 1713, que publicou, em Outubro de 2014, a 23.ª edição do seu dicionário! E, além da falta de investimento no estudo da língua, inclusivamente no nosso sistema de ensino, convém também lembrar o esquecimento e o desrespeito a que são votados os nossos emigrantes - imagem fora de portas da nossa língua e cultura - o que Carlos Reis justifica, por isso ter pouco a ver com a 'internacionalização' da língua portuguesa!...

 

A política de língua nacional tem-se sobretudo empenhado em fazer Acordos ortográficos com o Brasil, que desde 1907 decidiu - e está no seu direito - escrever a sua língua de forma própria. 

 

Estamos em 2024, um ano particularmente assinalável no desenrolar da História nacional. Evoquemos três datas essenciais e recordemos o modo como o poder político as tem tratado: 

 

1 - 500 anos do nascimento de Camões

«Este país te mata lentamente» 

("Camões e a Tença", Sophia de M. B. A.)

 

Num artigo do "Público" de 20 de Dezembro de 2023, intitulado «Programa das comemorações dos 500 anos de Camões em 2024 está por fazer», podemos ler:

 

«Resolução em Conselho de Ministros que há dois anos e meio determinou realização das comemorações estabelecia criação de estruturas que ainda não existem, diz comissária nomeada para fazer o programa. 

 

(...) Nada existe além do anúncio da intenção do Governo de comemorar este feito, disse à agência Lusa a catedrática Rita Marnoto, comissária designada para preparar o programa das comemorações, em coordenação com as estruturas previstas. (...)»

 

   A propósito deste 'esquecimento' nacional, recordo Jorge de Sena:

 

  «Se me centrei em Camões, numa das minhas direcções, é porque o admiro tremendamente, tenho pena de que tão grande poeta tenha nascido português e para pasto de raça tão ordinarizada, e porque, sendo o maior e o eixo da nossa literatura, é em relação a ele que tudo tem de ser feito.» (Carta a Eduardo Lourenço, 13 de Janeiro de1968, in "Eduardo Lourenço - Correspondência - Jorge de Sena", ed. Gradiva)

 

«Ignorar ou renegar Camões não é só renegar o Portugal a que pertencemos, tal como ele foi, gostemos ou não da história dele. É renegarmos a nossa mesma humanidade na mais alta e pura expressão que ela alguma vez assumiu. É esquecermos que Portugal, como Camões, é a vida pelo mundo em pedaços repartida.» ("Discurso da Guarda", Paris, 3 de Junho de 1977, in "Jorge de Sena, Rever Portugal - Textos Políticos e Afins, ed. Guimarães)

 

Ouçamos ainda Vasco Graça Moura: «As questões da identidade começam por estar relacionadas com a língua materna e esta deve a Camões a sua dimensão moderna. (...) A língua de Camões está irreconhecível. Se ele voltasse ao mundo, decerto pensaria em rasgar a sua obra. Deixámos de ser dignos dela.» (in "A língua de Camões?"- "Público", 09 de Junho de 2010)

 

2 - 50 anos do 25 de Abril

«Ou poderemos Abril ter perdido

O dia inicial inteiro e limpo

Que habitou nosso tempo mais concreto?»

(Sophia de M. B. A.)

 

A imposição política do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90) a Portugal é um verdadeiro atentado contra a democracia que nos trouxe o 25 de Abril de 1974. Todo o processo político que conduziu à sua implementação no nosso país é antidemocrático.

 

   Começo por dar a palavra a Vítor Aguiar e Silva:

 

"A língua, na sua existência profunda e multissecular, vive antes de nós e sobrevive depois de nós, não podendo ser objecto, no seu corpo e no seu espírito, de alterações ocasionais e circunstancialmente políticas, que desfiguram a sua «lei secreta», ou seja, o «seu génio», como aconteceu com o aberrativo «acordo ortográfico» que constitui um inominável crime imposto politicamente à língua portuguesa.» (in "Diário do Minho", 06/01/2019)

 

Convém recordar que a língua de Portugal - país independente desde 1143, Tratado de Zamora - que aqui nasceu, cresceu e se formou, é falada e escrita há séculos, em todo o território nacional. "A individualidade da língua portuguesa começou a desenhar-se no domínio do léxico e pode remeter-se para uma data próxima do século VI. (...) Os dois primeiros textos escritos em português - a «Notícia de Torto» e o «Testamento» de D. Afonso II - datam de 1214-1216." (Maria Helena Mira Mateus). Em 1296, no reinado de D. Dinis (1279-1325), esta língua foi adoptada pela chancelaria régia.

 

Quanto ao Brasil, onde chegámos em 1500, país gigantesco e de diversa população, no século XVIII, em 1758, a língua portuguesa tornou-se língua oficial, por imposição do Marquês de Pombal, em detrimento da 'língua geral', anteriormente forjada para os contactos com a população local. Actualmente, no Brasil, além da língua portuguesa, oficial, haverá mais de 210 idiomas, uns indígenas e outros falados por várias comunidades de imigrantes.

 

Pessoalmente sou contra o AO90 desde que o conheci, aquando da sua publicação no Diário da República. Desde 2008, tenho lutado contra este crime de lesa-pátria, por todos os meios ao meu alcance - textos publicados, contributos enviados para os grupos de trabalho sobre o AO90 da Assembleia da República, contactos diversos por correspondência, recolha de centenas de assinaturas para a Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o AO90, entregue na Assembleia da República (https://ilcao.com/ ), com 22.047 assinaturas, e que a Assembleia da República ostensivamente ignorou, etc.... Aliás, logo no início, em 2008, escrevi à Associação de Professores de Português (APP), e à FENPROF (sindicato dos Professores), insistindo na necessidade de promoverem o debate sobre o AO90, no sistema de Ensino... Não fizeram nada! Aceitaram a imposição do mesmo no ensino, esquecendo o esforço que, nas últimas décadas, tinha sido feito para combater o analfabetismo nacional...

 

Quando ainda estava a trabalhar, fui a Portimão ouvir Malaca Casteleiro, grande responsável pelo AO90, que defendia o dito, insistindo na vantagem da simplificação da aprendizagem da ortografia pelas criancinhas! Perguntei-lhe publicamente se as crianças portuguesas tinham algum atraso mental, visto que as crianças francesas, inglesas, italianas, alemãs, espanholas, etc., conseguiam aprender ortografias muito mais complexas do que a nossa! 

 

Há muito que me preocupa esta espécie de - já antigo - desprezo pela língua de Portugal, assumido pela política, e também pela 'elite', nacional. O esforço feito, há décadas, para combater o nosso vergonhoso e tradicional analfabetismo está agora a ser substituído pela promoção do novo analfabetismo! Proliferam os disparates, inclusivamente nas legendas dos canais televisivos. E o corrector ortográfico ajuda fortemente...

 

Um dos argumentos dos defensores do AO90 é que seria difícil agora pô-lo em causa, uma vez que desde 2011 começou a ser ensinado aos mais jovens! Pasme-se: e não se preocuparam quando forçaram a sua imposição ao país e à população que, desde 1946, ortografava a nossa língua segundo o Acordo entre Portugal e Brasil (1945), que o nosso país respeitou e o Brasil rejeitou!

 

Quanto ao argumento de que 'as línguas evoluem', brandido pelos defensores do AO90, neste contexto linguisticamente indefensável, convém reflectir sobre os seguintes aspectos:

 

 1.º as línguas evoluem naturalmente e não em função da imposição política de um qualquer decreto; 

 

2.º a evolução verificada numa língua poderá exigir uma 'reforma' ortográfica, tendo em conta as características dessa língua, e não um 'acordo' ortográfico entre variantes da língua que evoluíram visível e audivelmente de maneira diferente, como é bem notório no caso da norma portuguesa e brasileira da língua portuguesa; 

 

3.º as diferenças entre estas duas normas, no que toca a todos os aspectos da língua - vocabulário, morfologia, sintaxe, fonética - não podem ser escamoteadas com uma pretensa 'uniformização' ortográfica, via AO90 que, aliás, propõe inúmeras duplas grafias, facultatividades, numa negação aberrante do próprio conceito de ortografia;

 

4.º no AO90 ("Anexo II - Nota explicativa do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa") refere-se que o Brasil não respeitou o Acordo de 1945, porque seria obrigado a repor as "chamadas consoantes mudas"- que entretanto tinha já eliminado, por conta própria - e a aceitar a acentuação gráfica de Portugal, com acento agudo em vez de circunflexo, em palavras como António/Antônio; em consequência, aí se conclui também que "não é possível unificar por via administrativa divergências que assentam em claras diferenças de pronúncia, um dos critérios, aliás, em que se baseia o sistema ortográfico da língua portuguesa";

 

5.º Assim, justificando a recusa do Acordo de 1945 pelo Brasil, com as "diferenças de pronúncia", o AO90 impõe a Portugal a supressão das "consoantes não articuladas" (Base IV), já adoptada pelo Brasil, num total desrespeito pela referência etimológica (o que apaga a história da nossa língua e nos afasta das outras línguas europeias), e pela pronúncia portuguesa, em que a manutenção dessas consoantes preserva a abertura das vogais pretónicas, em Portugal ensurdecidas, e mantém a unidade da grafia entre palavras da mesma família; ex.: óptimo/ optimismo; directo/direcção; adoptar/adopção; recepção/recepcionista; espectáculo/espectacular; lectivo/leccionar; colecção/ colectivo/ coleccionar, etc. Aliás, podem constatar-se já as alterações na pronúncia portuguesa que esta supressão das consoantes mudas está a provocar...

 

6.º No essencial, o AO90, que segundo o próprio texto "constitui um passo importante para a defesa da unidade essencial da língua portuguesa e para o seu prestígio internacional", impõe a Portugal as opções brasileiras:  supressão das consoantes ditas mudas, assim como do hífen, nas formas monossilábicas do verbo 'haver' seguidas da preposição 'de' (ex.: há-de); supressão 'facultativa' do acento agudo nos verbos em -ar, no pretérito perfeito simples (ex.: cantámos) e do acento circunflexo no verbo 'dar', no presente do conjuntivo (dêmos), suprime-se ainda o acento circunflexo, nas formas verbais como leem, veem, deem, etc....

 

Convém não esquecer que a norma portuguesa, e a sua ortografia consolidada, (norma euro-afro-asiática) constituía a referência linguística da língua portuguesa considerada por Angola, Moçambique, Guiné, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Goa, Timor, Macau, fruto da expansão planetária que a nossa História outorgou à nossa língua.

 

Quanto ao referido "prestígio", talvez a língua do Brasil esteja a usufruir dele, mas não a nossa língua, de dia para dia mais desfigurada, menosprezada, ridicularizada, e repetidamente mal pronunciada e mal escrita. 

 

3 - 10 de Março - Eleições legislativas 

«É em função de um conhecimento do essencial, daquilo que não podemos abandonar sem mutilação próxima e futura, que as escolhas decisivas para o nosso destino devem ser feitas

(in "O Labirinto da Saudade", Eduardo Lourenço)

 

Todos nós, cidadãos portugueses, em idade de votar, sendo Portugal um país democrático, somos chamados a participar nestas eleições legislativas. Entre os múltiplos aspectos da vida nacional a considerar, a imposição política ilegítima do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90) ao nosso país tem obrigatoriamente de ser posta em causa e discutida publicamente, contrariamente ao que tem sucedido nas inúmeras eleições anteriores, desde 1990! 

 

Ainda não vi abordar esta questão, nem pelos políticos, nem pelos jornalistas, nos vários debates que a televisão nos tem proposto, numa atitude que só confirma a fragilidade da nossa democracia, assim como a cegueira e a ignorância nacionais, fruto do tradicional analfabetismo!

 

Talvez valha a pena reler - ou ler - os textos essenciais (ver abaixo) para o desenrolar de todo este processo, a começar pelo próprio Acordo: 1. Resolução da Assembleia da República n.º 26/91 - "Aprova, para ratificação, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa"; e também pela "Rectificação" (2.) de que foi objecto (pequeno parêntese: a Assembleia da República não se tinha apercebido de que o texto do AO90 já estava escrito com o dito, e não na correcta ortografia da nossa língua!...).

 

Recordemos também atitudes e decisões de responsáveis políticos que conduziram a língua de Portugal à indigna situação em que agora se encontra. 

 

Começo por esta extraordinária declaração de Cavaco Silva, então Presidente da República Portuguesa, na Feira do Livro em Díli, a 22.05.2012: «Quando fui ao Brasil em 2008, face à pressão que então se fazia sentir no Brasil, o Governo português disse-me que podia e devia anunciar a ratificação do Acordo, o que fiz.» (in "Público")

 

 O Governo à época era socialista, sendo José Sócrates o Primeiro-Ministro. Dessa época data a - "3. Resolução da Assembleia da República n.º 35/2008 (que aprova o Segundo Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico)", "Protocolo" que determinou que a ratificação do Acordo por três países (da CPLP) bastava para a sua entrada em vigor!

 

É também do mesmo Governo a "4. Resolução do Conselho de Ministros n.º 8/2011", que decidiu a aplicação do AO90 no sistema de ensino e na administração pública.

 

Entretanto o Governo socialista caiu e o Governo seguinte, com Passos Coelho, Paulo Portas e Nuno Crato, decidiu aplicar submissamente, e sem discussão, as decisões do governo anterior. Seguiram-se dois governos socialistas, sendo António Costa Primeiro-Ministro, e tendo no primeiro a participação do BE e do PCP: o tabu manteve-se e o AO90 continua, sem discussão, a generalizar-se e a caricaturar a nossa língua!

 

   A terminar, dou a palavra a António Emiliano:

 

   «Falar da ortografia portuguesa, um bem que levou 700 anos a estabilizar-se, como se fosse coisa pouca (a estabilização da nossa fronteira política continental levou cerca de 100 anos), e falar de uma mudança ortográfica como uma simples alteração cosmética do sistema linguístico padronizado de uma nação multissecular dotada de um património literário e textual imenso, é simplesmente não se saber do que se está a falar.» (in "O primado da escrita")

 

 «O calibre dos erros e deficiências encontrados no texto do Acordo Ortográfico e da Nota Explicativa, bem como a falta de sustentabilidade razoada de várias das suas disposições - constituindo um todo que, em vez de ser apresentado de forma inatacável, como se esperaria, é passível da crítica negativa que desenvolvi, e virá afinal a ter consequências 'disortográficas' - levam-me a concluir que esta reforma causará "lesões" irreparáveis na língua portuguesa no plano da escrita, da oralidade, do ensino e do progresso científico.

 

 Por atentar contra a estabilidade do ensino, a valorização da língua e a integridade do seu uso, valores que a Constituição consagra e protege, entendo que esta reforma não serve o interesse de Portugal e deve, em consequência, ser impugnada e rejeitada.

Lisboa, 30 de Maio de 2008»

 

(in "Uma reforma ortográfica inexplicável: comentário razoado dos fundamentos técnicos do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990) - (Parecer) - EXCERTOS - António Emiliano, Universidade Nova de Lisboa)

 

N.B.: Para aceder aos textos fundamentais:

 

  1. Resolução da Assembleia da República n.º 26/91 - "Aprova, para ratificação, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa":

https://ciencias.ulisboa.pt/sites/default/files/fcul/institucional/legislacao/rar_26_91.pdf

https://diariodarepublica.pt/dr/detalhe/resolucao-assembleia-republica/26-1991-403301

 

  1. Assembleia da República - Rectificação n.º19/91 (pequeno parêntese: não se tinham apercebido de que o texto do AO90 já estava escrito com o dito...):

https://ciencias.ulisboa.pt/sites/default/files/fcul/institucional/legislacao/dr_19_91.pdf

https://diariodarepublica.pt/dr/detalhe/rectificacao/19-1991-331594

 

  1. Resolução da Assembleia da República n.º35/2008 (que aprova o Segundo Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico):

https://diariodarepublica.pt/dr/detalhe/resolucao-assembleia-republica/35-2008-454814

 

  1. Resolução do Conselho de Ministros n.º 8/2011:

https://diariodarepublica.pt/dr/detalhe/resolucao-conselho-ministros/8-2011-280944

 

  1. Aviso n.º255/2010 - Ministério dos Negócios Estrangeiros:

https://files.diariodarepublica.pt/1s/2010/09/18200/0411604117.pdf

           

Maria José Abranches Gonçalves dos Santos

***

 

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publicado por Isabel A. Ferreira às 16:22

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Quarta-feira, 29 de Novembro de 2023

Um texto para reflectir a absurdez do AO90: «Admirável Língua Nova (Parte III)», por Manuel Matos Monteiro

 

 

Este texto foi publicado em 06 de Julho de 2017, no Jornal PÚBLICO, e como em tudo, no nosso país, poderia ter sido escrito hoje, porque nele não se mudava sequer uma vírgula, devido à inexistência de políticas que façam avançar Portugal. Infelizmente o que temos é uma política regressiva, que nos transporta para um tempo passado, de muito má memória.

 

Daí ter considerado importante republicar o texto, para que sirva de reflexão a todos aqueles que, em Portugal, não perderam a lucidez, nem a capacidade de Pensar.

Isabel A. Ferreira

 

***

«Não há duas pessoas que sigam o Acordo Ortográfico e que concordem quanto àquilo que é o Acordo. A “norma” (com setenta aspas de cada lado) é lábil, difusa, imprecisa – só não vê quem não quer ver.»

Manuel Matos Monteiro

 

 

Manuel Matos Monteiro.png

 

«Admirável Língua Nova (Parte III)»

Por Manuel Matos Monteiro

 

«Caro leitor, pedia-lhe que prestasse atenção às seguintes frases.

“Os telespetadores estavam expetantes.”

“O país vive sob o espetro da corrução.”

“Chuva para Lisboa.”

“Para o carro!”, disse perentoriamente.

“Desliga o interrutor.”

“O conetor serve, como o nome indica, para conectar.”

 

Não são frases escritas por semianalfabetos. São frases redigidas tendo por base o Acordo Ortográfico.

 

Consultando o (excelente) Novo Prontuário Ortográfico, de José M. de Castro Pinto, a grafia “telespetadores” é a única possível. “Expetantes” é uma palavra que, por exemplo, o Portal da Língua Portuguesa e a Infopédia (Porto Editora) abonam. O Dicionário do Português Atual Houaiss (edição de Agosto de 2011) acolhe apenas “espetral”, “espetro”, “espetrofobia” (entre dezasseis palavras em torno de “espetro”), todas sem o c. “Corrução” e “corrupção” são acolhidas pelo Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto de Editora, de 2010. A frase “Chuva para Lisboa”, que foi o título principal da primeira página de um conhecido jornal, tanto pode ser, à luz do Acordo, uma previsão meteorológica, como uma situação de paralisação causada pela chuva (o que era o caso da notícia). Em “Para o carro”, podemos ter a ordem de ir para o carro ou de parar o carro. Quanto a “perentoriamente” (ou a “perentoriedade”), como afiança o Portal da Língua Portuguesa, temos (Portugueses) de escrever assim e ponto final, enquanto o Brasil escreve “peremptoriamente”. Azar o nosso… É um de muitos casos em que o igual passou a ser diferente. Mas o Acordo era para uniformizar, pois claro. Lembremos Maria Regina Rocha: “[H]avia 2691 palavras que se escreviam de forma diferente e que se mantêm diferentes (por exemplo, facto - fato), havia 569 palavras diferentes que se tornam iguais (por exemplo, abstracto e abstrato resultam em abstrato), e havia 1235 palavras iguais que se tornam diferentes. Está a ler bem: com o Acordo Ortográfico, aumenta o número de palavras que se escrevem de forma diferente!!!” No mesmo portal, temos “conetor” e “conector”, mas apenas “conectar”.

 

“Interrutor”, uma palavra inadjectivável, merece um parágrafo. Verifique o leitor com os seus olhos tal grafia na Infopédia ou numa edição do Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, com o Acordo, ou no próprio Portal da Língua Portuguesa. Enquanto adjectivo relativo àqueles ou àquelas que interrompem, tem os “interrutores”, as “interrutoras”. E se um aluno escrever, fazendo uso da dupla grafia decretada pela Porto Editora e pelo ILTEC, na mesma construção frásica, “o interruptor, a interrutora, os interrutores, as interruptoras”, o professor deverá assinalar algum erro? Se dicionários aceitam que “sector” e “subsector” têm dupla grafia, o aluno poderá portanto escolher e escrever “o subsetor do sector”? Copiamos da Infopédia:

 

interrutor
nome masculino
1. aquele ou aquilo que interrompe
2. aparelho ou pequeno manípulo que permite abrir ou fechar um circuito elétrico
adjetivo
que interrompe

 

Escrevemos acima: “São frases redigidas tendo por base o Acordo Ortográfico.” Mais bem dito, tendo por base a forma como dicionários ou prontuários que adoptam o Acordo registam determinados vocábulos, porquanto o Acordo, ao não estabelecer uma norma cristalina, se traduziu na divergência da interpretação daquilo que ele é, bastando ao leitor consultar dois prontuários ou dois dicionários a seu bel-prazer para comprovar esta obviedade.

 

Consultando dicionários com o Acordo, prontuários, livros explicativos do mesmo para verificar se a consoante é muda ou não, encontramos: a) que a consoante se mantém; b) que a consoante desaparece; c) que poderá manter a consoante ou não (dupla grafia), porque dentro de Portugal há oscilação quanto à pronúncia; d) que em Portugal e no Brasil há divergências de pronúncia e que, portanto, apesar de haver dupla grafia, num desses dois países deve escrever-se a consoante, mas no outro não (os demais países de língua portuguesa são olimpicamente ignorados nesta história do Acordo).

 

Ao contrário do que muito boa gente pensa, o Acordo não definiu a lista dos milhares de casos em que a pronúncia da consoante é dúbia. Apenas nos diz que devemos seguir a inescrutável “pronúncia culta”, deixando até hoje aos lexicógrafos essa impossível tarefa. A perda da consoante muda com base no critério lábil da pronúncia não permite que haja unanimidade, sequer consenso!, quanto à grafia de uma caterva de palavras. Evidentemente, o corolário disto só poderia ser o que hoje está diante dos olhos de todos: a trapalhada generalizada. Os dicionários e demais fontes não se entendem quanto às palavras que perderam a consoante muda, quanto às que têm dupla grafia dentro de Portugal e quanto às que têm dupla grafia considerando Portugal e o Brasil. (E outros há que não definem o que é dupla grafia por haver dupla pronúncia intra-Portugal e dupla pronúncia por haver divergências entre Portugal e o Brasil. O caos é total.) Do Dicionário Priberam da Língua Portuguesa: “Grafia no Brasil: estupefação.” Do Portal da Língua Portuguesa: “[E]stupefacção (Brasil).”

 

O caos é ainda maior para quem pretende averiguar se determinada locução perde os hífenes. Escalpelizemos os hífenes. Como demonstrámos no artigo anterior, a Base XV, Ponto 6 do Acordo, além de mutilar a lógica da língua portuguesa, é totalmente imprecisa quanto aos hífenes. Vejamos seguidamente como instituições muito consagradas – e que para muitos escreventes da língua portuguesa representam a “lei” da mesma – interpretam o Acordo quanto às locuções que perderam os hífenes: o Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC) e a Imprensa Nacional-Casa da Moeda (INCM).

 

Na lista “CASOS EM QUE SE MANTÉM O HÍFEN NOS COMPOSTOS CONSAGRADOS PELO USO da INCM, estão registados: “ajudante-de-campo”, “alfinete-de-ama”, “baba-de-camelo”, “boca-de-incêndio”, “braço-de-ferro”, “cabeça-de-casal”, “cabo-de-guerra”, “capitão-de-fragata”, “capitão-de-mar-e-guerra”, “dia-a-dia”, “fogo-de-artifício”, “folha-de-flandres” , “gaita-de-foles”, “jardim-de-infância”, “língua-de-gato”, “lua-de-mel”, “maçã-de-adão”, “mão-de-obra”, “mestre-de-cerimónias”, “mestre-de-obras”, “pão-de-ló”, “pé-de-atleta”, “pé-de-vento”, “pedra-de-toque”, “pó-de-arroz”, “pronto-a-vestir”, “testa-de-ferro”, “tinta-da-china”, “toucinho-do-céu”. No Portal da Língua Portuguesa, do ILTEC, todos estes “casos” aparecem sem hífenes! As demais locuções com hífenes decretadas pela INCM são “água-de-colónia”, “arco-da-velha”, “cor-de-rosa”, “pé-de-meia”, que o ILTEC consagra com hífenes e sem hífenes (apesar de serem excepções escarrapachadas no texto do Acordo como tendo necessariamente hífenes… Nem os acordistas seguem o Acordo no pouco que ele tem de objectivo…), “cabo-de-mar” que o ILTEC não acolhe nem com nem sem hífenes, “dente-de-cão” (que por ser espécie botânica é com hífenes), “frente-a-frente” que o ILTEC não acolhe nem com nem sem hífenes, “mais-que-perfeito” que mantém os hífenes no ILTEC como conceito gramatical e excepção do texto do Acordo, e “tromba-d’água” (que o Acordo de 1990 se esqueceu de repescar das bases que copiou do Acordo de 1945 e que os dicionários com o Acordo de 1990 continuam a escrever usando o Acordo de 1945). Significa isto concretamente o seguinte: nas locuções em que há interpretação subjectiva, há tão-somente cem por cento de divergência.

 

Sublinhe-se que o Portal da Língua Portuguesa, ao elidir os hífenes, acolhe (coerentemente) os antropónimos e topónimos com maiúscula inicial – “folha de Flandres”, “maçã de Adão” e “tinta da China”. Ou seja, a fina chapa utilizada, entre outras coisas, para a fabricação de latas (“folha-de-flandres”) ou o artefacto industrial usado como instrumento de percussão (“folha-de-flandres”) passa a escrever-se tal qual uma folha (papel ou pétala) de Flandres; a maçã dos tempos primevos de Adão e Eva passa a escrever-se tal qual a proeminência laríngea; o tipo de tinta para desenho indelével (“tinta-da-china”) passa a escrever-se como qualquer tinta (oriunda) da China. São as maravilhosas subtilezas introduzidas pelo Acordo… Mas há mais. O Portal da Língua Portuguesa acolhe “maçã de Adão” e “pomo de Adão” apenas sem hífenes. Sucede que o Acordo decreta na Base XV, Ponto 3: “Emprega-se o hífen nas palavras compostas que designam espécies botânicas e zoológicas, estejam ou não ligadas por preposição ou qualquer outro elemento.” Sucede ainda que há uma espécie botânica chamada “pomo-de-adão”…

 

Um matemático chegará rapidamente aos triliões (não é uma hipérbole) de Acordos com base nas combinações de palavras que perderam ou não perderam a consoante muda, nas locuções que perderam ou não perderam os hífenes, na facultatividade (outra aberração do Acordo) da letra maiúscula inicial e na facultatividade da acentuação.Como fará um professor que é obrigado a penalizar os alunos que não escrevem com a “ortografia” do Acordo, se não há consenso quanto à ortografia – se não há, no fundo, ortografia, ou seja, grafia correcta – nos dicionários relativamente a tantos vocábulos? Terá de comprar todos os dicionários, prontuários, gramáticas, fontes digitais, livros explicativos e sinópticos do Acordo e acolher todas as possibilidades, perdendo duas horas com cada palavra ou locução, ou decretará cada professor o seu próprio Acordo? Um bico-de-obra! A propósito, “bico-de-obra” perde os hífenes com o Acordo? Fazemos uma pausa na escrita e consultamos apenas dois dicionários. Ora bem, no Dicionário do Português Atual Houaiss, os hífenes estão lá. No da Porto Editora, não. Bastaria consultar estes dois dicionários nas locuções que perdem ou não os hífenes para se perceber o vácuo em que o Acordo assenta. Faça o exercício se quiser, caro leitor. O Dicionário Houaiss com o Acordo – por considerar desprezável ou desprezível? – ignora o estatuído no Acordo de nas locuções de qualquer tipo não se empregar “em geral” o hífen.

 

Regressemos às consoantes mudas. Há uma miríade de palavras que apresentam dupla grafia dentro de Portugal – os lexicógrafos não terão conseguido apurar a “pronúncia culta”, que, teimosa, parece oscilar no próprio assento etéreo em que repousa. Mas há dois aspectos que urge clarificar. Primeiro aspecto. Um sem-número de pessoas afirma: “Eu não quero saber o que diz o dicionário A ou B, eu quero saber o que diz o Acordo.” Sucede que o Acordo não tem tal lista de palavras. Segundo aspecto. Muitas pessoas asseguram: “Essa palavra tem dupla grafia.” A essa presunção, contraponha-se a pergunta: “Em que dicionário?” O que é de dupla grafia num dicionário não é noutro. Se uns dizem que tem e outros que não tem, aceita-se a versão mais abrangente, bastando que um diga que tem para se aceitar a dupla grafia? Ou vai-se pela média? Ou determinadas fontes merecem uma ponderação maior no cálculo da média? Como devem fazer os professores para avaliar os alunos? E nos casos em que as pessoas não concordam com o que os dicionários dizem sobre a consoante ser ou não ser muda (e são tantas as palavras!)? Fazer como diz o Ciberdúvidas sobre a palavra “ceptro”! “Voltando ao Ceptro/cetro, esta palavra não está indicada com pronúncia do p em nenhum dos dicionários a(c)tuais (mas simplesmente ¦cetro¦), nem existe a variante ceptro no Brasil. Ora o companheiro diz que há comunidades que pronunciam o p. Nesta base, passo a aceitar a necessidade da dupla grafia e deixei, portanto, de lhe fazer obje(c)ções.” Um dos grandes dramas do Acordo: os próprios acordistas não se entendem…

 

Não há duas pessoas que sigam o Acordo e que concordem quanto àquilo que é o Acordo. A “norma” (com setenta aspas de cada lado) é lábil, difusa, imprecisa – só não vê quem não quer ver. Que falta para a farsa terminar? Coragem política.»

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:05

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Quarta-feira, 20 de Setembro de 2023

«Em Defesa da Ortografia» LXI, por João Esperança Barroca

 

«Dois artigos no PÚBLICO de ontem dizem-me muito: um, sobre o AO90 que ainda ninguém teve a coragem de liquidar. Por cobardia, porque em tempos o apoiaram, ou por outra qualquer razão obscura, irá fazer 35 anos em breve. Trinta e cinco anos de confusão, de descalabro cultural em que nem a pandemia, nem a guerra da Ucrânia, nem a dimensão da dívida pública, nem a inflação, lhe poderão dar justificação. Tenho 78 anos. Será que ainda conseguirei ver esse monstro derrubado?»

Jorge Horta, em carta ao Director do jornal Público, 01-09-2023

 

«O patético Acordo Ortográfico, que serviu os interesses de meia dúzia de professores frustrados e um primeiro-ministro. O Acordo é uma aberração, as línguas não se mudam por decreto, evoluem por via do seu uso.»

Luís de Matos, Mágico, em entrevista radiofónica

 

«Dito isto, ainda falta o Acordo Ortográfico, que nós oficialmente adoptámos — e que a CPLP — Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, como tal, não — para andar a babujá-lo por livros, escolas e órgãos de comunicação social, em modo original de libertinagem gramatical, nem carne nem peixe, enquanto os nossos parceiros, nomeadamente Angola, praticam o excelente português que herdaram antes de 1990. Já que, pelos vistos, nada se respeita particularmente na frívola CPLP, ao menos respeite-se a matriz de uma língua secular com milhões de falantes pelo Mundo fora.»

João Gonçalves, Jurista, JN, 28-08-2023

 

«Ironias à parte, é de facto extraordinário como de vez em quando, nos órgãos de comunicação social portugueses, há palavras bem escritas no meio da traficância quase extraterrestre que nos vem contaminando a expressão gráfica (e, já agora, em certas palavras também a fala) desde há uns catorze anos a esta parte, a pretexto do chamado Acordo Ortográfico de 1990 (AO90). Se é verdade que no Brasil as palavras "recepção", "aspecto" e "espectadores" se mantiveram como eram em Portugal até esse momento, passaram aqui (e em mais lado nenhum) a escrever-se nas originalíssimas formas “receção”, “aspeto” e “espetadores” (esta como variante, sim, mas permitindo que muita gente passe a “espetar” em vez de simplesmente assistir, ou espectar).»

Nuno Pacheco, Jornalista e autor, Público, 31-08-2023

 

A febre de amputar as consoantes ditas mudas, desfigurando as palavras, é uma das características do inadjectivável Acordo Ortográfico de 1990. O leitor, certamente, reparou que o adjectivo galáctico, do grego gála, -aktos, «leite» + ico, foi, durante muito tempo, a par do sentido relativo a galáxia, utilizado para designar os famosos futebolistas que integravam a equipa espanhola do Real Madrid.

 

O que aconteceu em inúmeros exemplos, como adiante se comprovará, com uma breve amostra, foi que, como ninguém sabe escrever de acordo com as regras estapafúrdias do AO90, vá de cortar o cê, criando a aberração galáctico (a), que não tem nada a ver com lata. Uma breve pesquisa pelos sítios de alguns órgãos de Comunicação Social mostrou-nos as seguintes ocorrências:

 

  1. «No Real Madrid, o britânico chegava à realeza do futebol mundial. Na era dos Galáticos, juntou-se a Figo, Zidane e Ronaldo. Cinco centenas de jornalistas de 25 países assistiram à apresentação.» Tribuna Expresso, 22-05-2023

 

  1. «Pelo meio, foi treinador principal do Real Madrid, à frente da mítica equipa dos Galáticos da qual faziam parte grandes estrelas como Zidane, Luís Figo, Ronaldo ‘O Fenómeno’ e David Beckham.» Tribuna Expresso, 01-03-2023

 

  1. «A celebração do 40.º aniversário do filmeO Regresso de Jedi,que foi lançado nos cinemas a 25 de maio de 1983, transformou o Museu da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, em Los Angeles, numa gigante aventura galática para os fãs de Star Wars.» DN, 09-05-2023

 

  1. «O inesperado mega-sucesso de Star Wars, estreado em 1977 (com o título português A Guerra das Estrelas), levou-o a dedicar-se por inteiro à saga galática, oferecendo o projeto de Indiana Jones ao seu amigo Spielberg. DN, 11-06-2021

 

- A vida é comum, mas existe uma espécie de "código de conduta galático" (uma "Prime Directive" tipo Star Trek) que faz com que espécies ainda pouco desenvolvidas (como nós) não sejam contactadas ou que o sejam de forma cautelosa (é este, no fundo o argumento de Contacto; e é isto, no fundo, o que diz o ex-general Haim Eshed. Neste sentido, as palavras do antigo militar não estão totalmente longe daquilo que pensam alguns cientistas);

     - A vida é comum mas existe um imperativo de sobrevivência galática que faz com que todas as civilizações se escondam umas das outras (SPOILER: é este o muito inteligente argumento da trilogia de livros Remembrance of Earth's Past do autor chinês Liu Cixin, que vai ser transformada em série para a Netflix, com o título The Three Body Problem pela mesma dupla que adaptou Game of Thrones).» Ricardo Simões Ferreira no DN, em 10-12-2020

 

A pergunta do costume é: se é assim na Comunicação Social, como será com o cidadão comum?

Ah, vale a pena ler integralmente a crónica de Nuno Pacheco “Voltámos à ‘recepção’? Mas afinal que país é este, hã?» de 31 de Agosto.

 

João Esperança Barroca

Barroca 1.png

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publicado por Isabel A. Ferreira às 16:51

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Segunda-feira, 13 de Fevereiro de 2023

Espera-se que os escritores anti-AO90, convidados para a 24ª edição do «Correntes d’Escritas», honrem a Língua Portuguesa e pugnem pela anulação do “acordo” que está a destruí-la vertiginosamente

 

Começo por fazer dois apelos, por amor à Língua Portuguesa, uma das Línguas de Expressão Ibérica, completamente DESVIRTUADA pelo AO90, e que já NÃO é Ibérica.

 

Primeiro apelo:

Sei que vários autores, que se dizem anti-AO90, aceitaram o convite para estar no “Correntes d’Escritas”. Apelo [que falta faz a acentuação!] para que, neste Encontro, pugnem pela Língua Portuguesa, demonstrando o quão nocivo é o AO90, para o equilíbrio das Línguas de Expressão Ibérica.

 

Segundo apelo:

CORRENTE.png

 

A partir de amanhã, dia 14, até ao dia 18 de Fevereiro, ocorrerá, na Póvoa de Varzim, a 24.ª edição do Encontro de Escritores de Expressão Ibérica, o Correntes d’Escritas, para o qual foram convidados cerca de uma centena de escritores de línguas hispânicas e portuguesas, somando 15 nacionalidades diferentes.

 

Acompanhei o «Correntes d’Escritas» (criado no ano 2000) até ao ano em que o acordo ortográfico de 1990 foi introduzido no Encontro, e as coisas mudaram, porque a Língua Portuguesa deixou de ser Portuguesa, e as correntes, que deveriam UNIR as Línguas de Expressão Ibérica, foram quebradas.

 

Sofia.png

 

E a partir de então, nesses encontros, tudo deixou de me interessar. A Feira do Livro, onde eu gastava dezenas de Euros, deixou de me interessar, porque passou a INSULTAR a Cultura do Livro Português, com um escaparate de autores como Sophia de Mello Breyner Andresen, que, em vida, se mostrou completamente avessa ao AO90, (conforme a imagem), a ter a sua obra para a infância, completamente DESVIRTUADA, pelo acordês, como um gigantesco INSULTO à sua memória (ao menos não lhe mutilaram o nome escrevendo Sofia de Melo Brainer) ao abrigo deste argumento completamente parvo: “Considerando a sua possível leitura em contexto escolar, este livro respeita as regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assumindo a Porto Editora a responsabilidade desta adaptação”.

 

Chamaram-lhe adaptação. Chamem-lhe ACORDIZAÇÃO da Língua Materna das crianças, que têm o direito a aprendê-la na sua versão greco-latina, e NÃO desenraizada, mutilada, desfeada, manca.  


Sobre a profanação da obra de Sophia, sugiro a leitura de um texto, de Nuno Pacheco, no Jornal PÚBLICO, com uma introdução minha.

https://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/sophia-a-menina-do-mar-e-as-partidas-220093

 

Não sei como Miguel Sousa Tavares, filho da autora, e um ferrenho anti-acordista, permitiu este ultraje à obra de Sophia. Mas não só obra de Sophia foi profanada. José Saramago, os nossos clássicos, como Camilo Castelo Branco, Eça de Queiroz, Fernando Pessoa, entre muitos outros, autores de prosas e versos magníficos, foram ultrajados. Soube que em algumas bibliotecas destruíram os livros em Língua Portuguesa, para os substituir pelos acordizados.  

 

Deixei de frequentar este Encontro. Só vou medir o pulso à Feira, e, quando a hora me permite, vou às apresentações dos livros do meu amigo Aurelino Costa, poeta poveiro do qual gosto bastante, e que, até ao momento, não traiu a Língua dos seus Poemas. De resto, não me sinto bem naquele ambiente acordista cheios de traidores da Pátria. Sei que anda por aí um modismo em que se diz que isto de “Pátria” é coisa que já não se usa.  Sim, é coisa que os apátridas não usam, porque NÃO têm Pátria.
 
Para quem estiver interessado, aqui fica o link do programa deste Encontro de Escritores:

https://www.cm-pvarzim.pt/territorio/povoa-cultural/pelouro-cultural/areas-de-accao/correntes-d-escritas/correntes-descritas-2023/programa/

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 17:32

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Quarta-feira, 7 de Setembro de 2022

«Hoje, tal como aconteceu há 200 anos, urge proclamar um novo “Grito do Ipiranga”, desta vez, no Rio Tejo, em Belém, porque a Língua Portuguesa corre perigo de morte» (Parte I)

 

Introdução

 

É tempo! Independência da Língua Portuguesa! NÃO a queremos MORTA! Estamos separados do Brasil! - Este é o grito que devemos gritar HOJE, decalcando o grito do Príncipe Regente Dom Pedro, nas margens do Rio Ipiranga, há precisamente 200 anos.

 

O trabalho de pesquisa, que se segue, foi elaborado por Francisco João, um dos membros fundadores do MPLP – Movimento em Prol da Língua Portuguesa – que continua activo, nos bastidores, para que a Língua Portuguesa, correndo real perigo de morte, não morra e seja enterrada num qualquer canto deste Planeta, como se fosse uma indigente.

 

ELA, que É (ainda no presente) uma das mais antigas Línguas europeias, que os Portugueses cultivaram, nos quatro cantos do mundo, originando VARIANTES, que se libertaram, umas, porém, UMA OUTRA, a Brasileira, ainda está por libertar!

 

Hoje, comemorando-se os 200 anos do Grito do Ipiranga, bradado pelo Príncipe Regente Dom  Pedro: «É tempo! Independência ou morte! Estamos separados de Portugal!», nada mais oportuno do que nos deixarmos de falsos pruridos e hipocrisias e enfrentarmos a questão da Língua Portuguesa, de frente, e, de uma vez por todas, exigirmos a nossa INDEPENDÊNCIA LINGUÍSTICA, que foi vergonhosamente barganhada (= vendida com dolo; negociada com trocas), por políticos ignorantes, como se a Língua fosse um saco de bolotas, o que levou à marginalização e ao descalabro da Língua Portuguesa, pela sua Variante Brasileira, através de um “Cavalo de Tróia” chamado Acordo Ortográfico de 1990, provocado por ambas as classes políticas do Brasil e Portugal.

 

Este trabalho, que pretende tirar do marasmo, os que se dizem anti-acordistas, em Portugal, e os DESPERTEM para a consciência de que se continuarem a NÃO fazer nada, se NÃO passarem das palavras aos actos, URGENTEMENTE, a Língua Portuguesa terá morte certa, conforme os altos desígnios dos actuais governantes,  será apresentado em três Partes, sendo que as Partes I e II narrarão algumas razões históricas, políticas, sócio-linguísticas e mediáticas que nos impõem, urgentemente, uma feroz resistência contra o crime de destruição do Património Cultural Imaterial de Portugal, do qual a Língua é um vector essencial.

 

A Parte III será dedicada a Dom Pedro IV de Portugal (I do Brasil), que se filiou na Maçonaria brasileira «não tanto porque faça seus os ideais maçónicos, mas porque à maçonaria interessa fazê-lo mação», de acordo com Célia de Barros Barreto, uma estudiosa brasileira das questões maçónicas, e de como a Maçonaria terá influenciado o que Portugal vivencia, HOJE, estando a perder a sua IDENTIDADE, apenas porque os políticos portugueses NÃO mandam NADA em Portugal; apresentando-se também certas revelações sobre determinadas decisões relevantes de Dom Pedro IV, as quais ainda repercutem na actualidade.

 

Isabel A. Ferreira

 

***

 

«Entretanto…

 

«(…) enquanto nada mudar, e a atitude de quem manda diz-nos que por sua vontade não mudará uma só vírgula, haverá resistência e resistentes» - Nuno Pacheco, no Jornal PÚBLICO, em 16 Junho 2022, in «A eterna questão ortográfica: por que não desistimos»:

https://ilcao.com/2022/06/19/a-eterna-questao-ortografica-por-que-nao-desistimos-nuno-pacheco-publico-16-06-2022/

 

E a RESISTÊNCIA, hoje, terá de passar por um novo “Grito do Ipiranga”, desta vez, no Rio Tejo, manifestado em frente a Belém!

 

IndependenciaBrasil-854x480.jpg

Imagem: "A independência do Brasil" (de François-René Moreau), ocorrida faz hoje 200 anos, nas margens do Rio Ipiranga. É chegado o momento de cortar o cordão umbilical, que ainda não foi cortado…  desta feita, nas margens do Rio Tejo, para que a Independência do Brasil seja cumprida.

 

por Francisco João

(Um dos membros fundadores do Movimento em Prol da Língua Portuguesa - MPLP)

 

Parte I

 

NOTA PRÉVIA

 

Existe, actualmente, uma certa hostilidade entre Brasileiros e Portugueses que se acentuou drasticamente, depois da incompreensível, porque ilegal, imposição do AO-1990, a Portugal. Contudo, essa hostilidade já vem de longe. 

 

Uma corrente hostil a Portugal e aos Portugueses, já foi referida desde 1884, pelo político, escritor, jornalista português, secretário particular do rei Dom Pedro V, Manuel Joaquim Pinheiro Chagas (Lisboa, 13 de Novembro de 1842 –  Lisboa, 8 de Abril de 1895), como “ódio”, e que, ao contrário de outros países em que havia ódios intensos e rivalidades entre as metrópoles e as suas ex-colónias, no caso de Portugal e do Brasil «… esse ódio só seria válido para as “camadas inferiores da sociedade” …» escreveu Pinheiro Chagas.

 

(Chagas - citação - apud - Valéria Augusti 2004 :2-3) Cf. igualmente Valéria Augusti. Consultar hiperligação:

http://www.caminhosdoromance.iel.unicamp.br/estudos/ensaios/polemicas.pdf

 

Entretanto, mudou alguma coisa no Brasil?

 

Um outro trabalho, este de Cleidiane Marques da Silva, «tem como objectivo apresentar o preconceito que as minorias ainda sofrem na sociedade e o quanto isso afecta não só a eles, mas toda a população que vive em democracia. O Brasil ainda é um país muito preconceituoso e muitas pessoas, de diversas classes, cores, sexualidades, religiões, etc., sofrem com isso.»

 

Consultar a hiperligação:

https://poxannie.jusbrasil.com.br/artigos/1116186730/a-intolerancia-e-o-discurso-de-odio-no-brasil

 

E os portugueses são uma minoria no Brasil.

 

Vamos então ver se algo mudou, no Brasil, no caso da minoria dos portugueses. Uma recente reportagem (02 de Agosto 2022), de um media brasileiro, demonstra que o Brasil continua um “país muito preconceituoso” e que os Portugueses continuam a ser de facto um alvo preferido e muito cómodo!

 

A cadeia de Televisão Brasileira RECORD, deu-nos uma visão, na sua emissão Cidade Alerta, de que vale tudo, o ALVO É FÁCIL para fustigar, no Brasil, a Nação Portuguesa e os Portugueses, mas desta feita com outro tipo de acusações, talvez mais subtis. 

 

O tema principal aqui NÃO é um PORTUGUÊS, mas é apresentado de forma enganadora e manipuladora.

 

Atentem no título dessa reportagem! “HUMILHAÇÃO e ABANDONO”. E lá temos de novo o culpado ideal: o português [que só poderia ser um “malvado”]: «Brasileira enganada por português relata terror». “Sujeitei ser tocada!”  

 

Ver vídeo:  https://www.youtube.com/watch?v=JQOrSANOKGo

 

A Lusofobia no Brasil e o “Jacobinismo” no final do Século XIX

 

Eis alguns textos que comprovam o que muitos brasileiros negam, mas que, de facto, existiu e continua a existir:

 

Reflections on Brazilian Jacobinism of the First Decade of the Republic (1893-1897), by Suely Robles Reis de Queiroz

 

The Americas - Vol. 48, No. 2 (Oct., 1991), pp. 181-205 (25 pages) - Published By: Cambridge University Press 

https://doi.org/10.2307/1006823

https://www.jstor.org/stable/1006823

 

A Lusofobia e o velho ideal Jacobino ou Jacobinista tentaram, no final do Século XIX, levar ao extremo a hostilidade contra Portugal e os Portugueses.

 

As primeiras perguntas que ocorrem são: quem pode ter estado por detrás disso tudo? Qual era esse plano e com que objectivos? Quem iria beneficiar no futuro? Quem manipulou quem e porquê?

 

Um dos objectivos foi, manifestamente, o de excluir os portugueses (a minoria de que se fala mais acima) na construção de um “novo” Brasil.

 

Tratava-se, inter alia, de tentar fazer esquecer o facto histórico de que Portugal é o país que deu à luz o Brasil, nele agregando os indígenas, que povoavam aquelas terras e tinham uma Cultura própria, que ainda hoje perdura. Mas será assim tão fácil reescrever a História, mesmo negando-a ou, pior, tentando apagá-la?

 

Para tal, a corrente hostil fabricada contra Portugal e os Portugueses teve um papel preponderante, na sequência da decisão de Dom Pedro I do Brasil, em Agosto de 1822, o qual proibiu, por escrito, as actividades maçónicas, assinando Pedro GUATIMOZIN, pois era esse o apelido maçónico do Monarca. Essa corrente hostil e artificialmente criada, pasmem, por um determinado tipo de portugueses, reforçou-se, tornando-se depois mais forte, influenciando muito a política no Brasil e do Brasil, com fortes consequências nas relações de Estado a Estado o que levou mais tarde até ao rompimento de relações diplomáticas entre o Brasil e Portugal, no dia 13 de Maio de 1894, provocado pelo presidente Floriano Peixoto, e que durou até ao fim do seu mandato. 

 

As relações diplomáticas só puderam ser retomadas em 16 de Março de 1895, pelo seu sucessor, o Presidente Prudente de Morais (1894-1898). Este facto só por si já é bastante revelador dessa hostilidade, mas há muito pior do que isso, como veremos mais abaixo.

 

Inclusive na questão da Variante Brasileira da Língua Portuguesa que se afastou irremediavelmente da Língua Portuguesa, criando assim as condições para ser futuramente a língua oficial do Brasil, ou seja, a Língua Brasileira, desconhecendo-se, no entanto, a(s) razõe(s) pelas quais o Brasil ainda não teve a coragem de o fazer, e de continuar a fazer “tropelias” e outras degradações à Língua Portuguesa - ver aqui:

https://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/degradacao-da-lingua-portuguesa-texto-386843

 

Essa hostilidade é patente também num acontecimento e consequente rompimento de relações diplomáticas entre Brasil e Portugal, com origem numa simples questão de asilo dado pelo Governo Português a marinheiros brasileiros, por razões humanitárias (havia até consenso europeu nesse sentido) na sequência da sublevação de   uma parte da esquadra brasileira contra o governo brasileiro em Setembro de 1893. Revolta da Armada Brasileira 1893-1894 no tempo de Floriano Peixoto.

 

in «The revolt of the Navy was the last great response to the government of Floriano Peixoto. Led by Admiral Custódio de Melo who had the ambition to be president, it began on September 6, 1893 and was defeated in March of the following year». Consultar esta hiperligação:

 

https://www.cambridge.org/core/journals/americas/article/abs/reflections-on-brazilian-jacobinism-of-the-first-decade-of-the-republic-18931897/CB9F91D153A37B2F6234C632E3625D9


Veremos mais adiante quem teria fomentado (como já foi referido, afinal foi um determinado tipo de português) uma grande parte desta hostilidade a Portugal e o porquê de um tal ódio, aquele de que falou Pinheiro Chagas.

 

Como foi possível o Brasil, “um país irmão”, dado à luz por Portugal, ter tratado e humilhado os Portugueses daquela maneira, incluindo o seu massacre, na noite de 30 para 31 de Maio de 1834, no Estado de Mato Grosso. Eu, como decerto muitos leitores (e não só portugueses) irão ficar muito tristes e assombrados. E veremos como este tipo de acontecimentos são muito pouco conhecidos, ou então foram deliberadamente escamoteados, ou deformados na história oficial.

 

Ora pasmem! E abram finalmente os olhos!

 

(Continua…)


 - A Parte II será publicada amanhã, dia 08 de Setembro, e tratará do anti-lusitanismo entranhado na sociedade brasileira, visto por autores brasileiros.

 

***

Para quem está a seguir este trabalho de investigação:

 

«Hoje, tal como aconteceu há 200 anos, urge proclamar um novo “Grito do Ipiranga”, desta vez, no Rio Tejo, em Belém, porque a Língua Portuguesa corre perigo de morte» (Parte I)

 

«Hoje, tal como aconteceu há 200 anos, urge proclamar um novo “Grito do Ipiranga”, desta vez, no Rio Tejo, em Belém, porque a Língua Portuguesa corre perigo de morte» (Parte II)

 

«Hoje, tal como aconteceu há 200 anos, urge proclamar um novo “Grito do Ipiranga”, desta vez, no Rio Tejo, em Belém, porque a Língua Portuguesa corre perigo de morte» (Parte III)

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 10:23

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Quinta-feira, 25 de Agosto de 2022

Em Defesa da Ortografia (L), por João Esperança Barroca

 

«A riqueza da língua é haver variantes espontâneas e naturais. É preciso fazer frente a esta aberração do Acordo Ortográfico que, além da questão linguística, tem também uma série de incorrecções jurídicas e constitucionais. Na ortografia, temos neste momento o caos total, com as pessoas a retirarem cês e pês indiscriminadamente. “Adepto”, por exemplo, já se começou a escrever “adeto”. Isto é uma loucura. Tenho a certeza absoluta que não há 5% dos deputados que escrevam com a nova grafia, o que fazem é deixar a mudança aos correctores automáticos ou aos revisores.»

António-Pedro Vasconcelos, Cineasta

 

«Todos os livros da Guerra & Paz Editores se borrifam forte e feio no Acordo Ortográfico, coisa que lhes fica muito bem!»

Ricardo Araújo Pereira, humorista e autor, no programa Governo Sombra de 4 de Junho, na SIC Notícias

 

«Tem sido um desastre a forma como os governos têm gerido a língua portuguesa. O Acordo Ortográfico é um desastre, ninguém o cumpre, uns escrevem assim e outros assado. No Brasil, o acordo é diferente, é a variante brasileira. Isto é um absurdo! Só estamos a criar muros quando já existem tantos muros. O nosso problema não é obviamente ortográfico, muitas vezes, é semântico, sintáctico e vocabular. O que temos de fazer é publicar os autores como eles escrevem, em Portugal e no Brasil.»

Bárbara Bulhosa, Directora e fundadora da editora Edições Tinta-da-China

 

Fatos e contatos.png

 

Inicia-se o nosso texto de Agosto com uma citação do cineasta e escritor António-Pedro Vasconcelos, realizador, entre muitos outros, dos  filmes 27 Minutos com Fernando Lopes-Graça (1969), Fernando Lopes-Graça (1971), Perdido por Cem (1973), Adeus, Até ao Meu Regresso (1974), Oxalá (1981), O Lugar do Morto (1984), Aqui d’El Rei (1992), Jaime (1999), Os Imortais (2003), Call Girl (2007), A Bela e o Paparazzo (2010), Os Gatos Não Têm Vertigens (2013), Amor Impossível (2015),  Parque Mayer (2018) e Km 224 (2022).

 

Esta citação, apesar de pouco recente, continua extremamente actual, pois basta ver e ouvir a linguagem que circula à nossa volta para concluírmos que o caos ortográfico se instalou e que dificilmente nos livraremos dos fatos, dos contatos, dos impatos, dos inteletuais e doutros termos tão aberrantes como estes. Basta ler com alguma atenção o recente artigo de opinião no jornal Público (de 13 de Julho) do médico ortopedista Jorge Penedo, intitulado “A Saúde e o Houdini dos tempos modernos”. No final do dito artigo, afirma-se que “O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico”. Citando, o Senhor Primeiro-Ministro: ora, vamos lá a ver. Fazendo uma leitura atenta, encontramos, por ordem de aparição, Junho, Julho, novembro, outubro, otimismo, setor, cético, actual, Norte, Sul, expetativas, atos, sector, atuais. Nestas catorze palavras, o autor emprega seis que respeitam a ortografia de 1945 e oito que seguem o AO90. Citando Álvaro Cunhal em 6 de Novembro de 1975, num debate com Mário Soares, apetece dizer ao Dr. Jorge Penedo: “Olhe que não, olhe que não!”. Com todo o respeito, verificamos que o Dr. Jorge Penedo tem um melhor domínio da ortopedia do que da ortografia.

 

Na segunda citação, o humorista (e autor) Ricardo Araújo Pereira, um fervoroso apoiante do Sport Lisboa e Benfica e da ortografia anterior ao AO90, mostra mais uma vez qual a sua opção ortográfica. Repare, caro leitor, que, no sítio

https://pnl2027.gov.pt/np4/reaccionario.html

a sua obra Reaccionário com dois cês aparece, também, com a designação “Reacionário com dois cês”. Há, pois, muita gente que pensa ser incorrecta a existência de duas consoantes consecutivas, removendo uma delas. Se isto acontece em meios letrados, como será com o cidadão comum?

 

Mais contatos.jpg

 

A terceira e última citação, pela boca de alguém que conhece (bem!) o mercado editorial, desmonta a tese de que a língua portuguesa, por meio do AO90, iria ser protegida, promovida e valorizada. A adopção do AO90 iria, diziam eles, facilitar a circulação das obras dos autores portugueses em todo o espaço lusófono.

 

Se o caro leitor, tiver mau gosto ortográfico e escrever, na grafia do AO90, uma obra intitulada O aspeto da receção do hotel estado-unidense é uma exceção, como será editada no Brasil? Lá terá o título O aspecto da recepção do hotel estadunidense é uma excepção.

 

A unidade essencial da língua é isto.

João Esperança Barroca

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:39

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Sexta-feira, 24 de Junho de 2022

Cogitações da “Corujinha” ao redor da Língua Portuguesa (II)

 

A eterna questão ortográfica: por que não desistimos texto publicado por Nuno Pacheco, no jornal PÚBLICO. A resposta a esta questão é: não desistimos, PORQUE é preciso recuperar o imo perdido da Língua Portuguesa.

 

Este texto  gerou alguns comentários por parte de gente que devia regressar aos bancos da Escola Primária, para aprender Português, como deve ser aprendido, ou seja, com todos os PORQUÊS respondidos, para poder comentar adequadamente.

 

Tais comentários obrigou Nuno Pacheco a vir á liça com um novo artigo Erros, ortografias e o enigma do ovo e da galinha,  no qual, explicou bem explicado POR QUE [motivo, razão] não desistimos - ele e todos os que resistem à imposição irracional de um acordo (AO90) que é tudo menos acordo, e que apenas Portugal aplica, com toda a ignorância que a ele está ligada,  como um íman.

 

É que a Língua Portuguesa perdeu o seu imo, e é urgente devolvê-lo. Caso contrário, ela transformar-se-á num concubinato de letras, em que a regra é juntar para ver no que dá

 

Cogitações da Corijinha.png

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 17:00

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Terça-feira, 21 de Junho de 2022

“A eterna questão ortográfica: por que não desistimos” (Nuno Pacheco, PÚBLICO, 16.06.2022)

 

“A eterna questão ortográfica: por que não desistimos” (Nuno Pacheco, PÚBLICO, 6.06.2022)

 A Provedoria de Justiça também não dá resposta

By Rui Valente in diversosMedia, Opinião

 

 

 

Nota prévia: a propósito da intervenção de Jorge Miranda e da sua cruzada contra os estrangeirismos, a que Nuno Pacheco se refere neste artigo, vale a pena tecermos algumas considerações. A primeira, e mais evidente, é que a crítica generalizada ao uso de estrangeirismos é, por si só, um terreno escorregadio. Com toda a subjectividade que o exercício comporta, há que ver caso a caso: o texto melhorou? Haveria uma solução mais elegante em Português? A mensagem tornou-se mais clara?

 

Esta análise estende-se, naturalmente, ao campo estético — convenhamos que os aportuguesamentos, por exemplo, nem sempre são felizes. Pela parte que me toca, dificilmente trocarei um dia a graça de um “dossier” pelo desengonçado “dossiê” português. Em última análise, estaremos sempre a falar do bom gosto (ou do mau gosto) de quem escreve — o que é, e será sempre, um tema controverso.

 

Acresce que um estrangeirismo é um fenómeno natural. As Línguas sempre se comeram umas às outras e, em larga medida, é também dessa forma que se desenvolvem. Com o Acordo Ortográfico ocorre precisamente o oposto. Um estrangeirismo é uma palavra que achamos interessante noutra Língua e que, voluntariamente, decidimos “roubar” e integrar na nossa. Com o Acordo Ortográfico, milhares de novas palavras, criadas artificialmente, sem qualquer adequação à nossa pronúncia — quase todas de uma deselegância atroz — estão a ser-nos impostas, sem apelo nem agravo.

 

É por isso que se torna particularmente doloroso assistir a esta moda que parece acometer agora os defensores do Acordo Ortográfico: como é possível que alguém não só tolere como até defenda a enorme agressão que o Acordo Ortográfico representa para o Português Europeu, para de seguida se indignar, a ponto de rasgar as próprias vestes, com uma questão de interesse duvidoso como é a dos estrangeirismos? Que autoridade esperam que lhes reconheçamos nesse papel de paladinos da Língua Portuguesa?

 

Jorge Miranda é um dos expoentes dessa moda acordista de ver no inglês todos os males da Língua Portuguesa. É impossível que o presidente da Comissão Organizadora do Dia de Portugal não tenha noção de que, na sua boca, essa argumentação é uma anedota de mau gosto.

 

Não se percebe, portanto, porque insiste Jorge Miranda nessa tecla. Consciência pesada? Esforço desesperado para, apesar de tudo, tentar atamancar uma imagem de defensor da Língua? Tentativa de assobiar para o lado, assacando a outros a responsabilidade pelo mau estado da Língua Portuguesa, enquanto finge ignorar a sua própria?

 

Talvez um “mix” de tudo isto — passe o estrangeirismo.

 


 

Parece que o 10 de Junho, ou o que dele decorre, está fadado a estas sortes. Este ano, em Braga, ao discursar como presidente da Comissão Organizadora do Dia de Portugal, quis o professor Jorge Miranda dedicar uma parcela dessa sua intervenção à língua portuguesa (1 minuto e 15 segundos num total de 10m35: confira-se dos 7m14s aos 8m29s). Falou dela como “um direito” [dos povos que a escrevem e falam] e “também um dever”, apontando depois o dedo “contra os atropelos que vem sofrendo entre nós”: “Constantes erros de sintaxe na comunicação social, ensino em escolas superiores portuguesas por professores portugueses a alunos portugueses em língua estrangeira; denominações de algumas escolas superiores, muitas das quais públicas, também em inglês; alastramento de denominações comerciais de empresas portuguesas operando em Portugal em inglês – outra coisa é o inglês ter-se tornado língua franca universal.

 

Não é nova, esta indignação de Jorge Miranda. Já a expressara várias vezes, até no PÚBLICO, em artigos como Brevíssimas notas sobre três questões sérias (13/7/2011) ou Outro direito fundamental em risco: o direito à língua (11/2/2013), que o Ciberdúvidas reproduziu. Neste último, aliás, recorria à Constituição (de que é um dos “pais”, na sua génese) para reafirmar “o direito de uso da língua, sabendo-se como a língua materna, por seu turno, é o primeiro ou um dos primeiros elementos distintivos da identidade cultural”; havendo “o direito de defender, mesmo em tribunal, o património cultural [art. 52.º, n.º 3, alínea d)].” Mesmo em tribunal? Pois nem na Assembleia da República (AR), onde a Constituição foi feita e refeita.

 

Há um ano, numa destas crónicas, dávamos conta do silêncio a que fora votada na Assembleia da República uma iniciativa legislativa de cidadãos em torno do Acordo Ortográfico de 1990 (ILC-AO). Pretendia tal iniciativa, como foi amplamente divulgado, que a AR revogasse a sua Resolução n.º 35/2008, de 29 de Julho, pois esta aprovara o segundo protocolo modificativo do AO90, permitindo que este entrasse em vigor com a ratificação de apenas três países, em vez dos oito subscritores iniciais, contrariando o disposto na Convenção de Viena que Portugal ratificara escassos anos antes, em 2004. Entregue em Abril de 2019 (com 21.206 assinaturas validadas), foi transformada em projecto de lei (1195/XIII) por cumprir “os requisitos formais de admissibilidade.”

 

Mas não foi a plenário, porque a lei 17/2003, que obrigava, esgotados os prazos, a um agendamento “para uma das dez reuniões plenárias seguintes, para efeito de apreciação e votação na generalidade” teve, em Agosto de 2020, este acréscimo no final: “salvo se o parecer da comissão tiver concluído pela não reunião dos pressupostos para o respectivo agendamento.” E assim foi barrada pela comissão e remetida ao silêncio. Uma exposição dos promotores à Provedoria de Justiça (declaração de interesses: subscrevi ambas), com pedido de um parecer, teve o mesmo efeito. O que levou Rui Valente, em nome da ILC-AO, a escrever um artigo na página desta iniciativa intitulado A Provedoria de Justiça também não dá resposta, onde conclui: “Parece-nos evidente que não se poupam esforços quando o objectivo é manter o debate sobre o Acordo Ortográfico longe do Plenário. Vale tudo, incluindo a mais completa degradação da figura das Iniciativas Legislativas de Cidadãos. Em Portugal, a Língua Portuguesa vive momentos dramáticos, em que o Português Europeu luta pela sobrevivência. A democracia participativa parece ir pelo mesmo caminho.” E a culpa não é do inglês.

 

A ideia geral é esta: desistam. O AO90 é um facto consumado, habituem-se a ele, as crianças já não conhecem outra grafia, editoras, jornais, livros, televisões afinam pelo mesmo diapasão, com “exceção” [sic] de um punhado de teimosos a lutar contra moinhos de vento. A conversa do costume. Mas o plural expresso no título desta crónica também é verdadeiro: não desistimos. Porque o acordo, em lugar da propalada unificação ortográfica (promessa que é hoje absoluta vacuidade), continua a dar-nos “impatos”, “estupefatos”, “artefatos”, “convições”, “egícios”, “adetos”, “réteis”, “abrutos”, “inteletuais”, “mastetomias”, “nétares”, “fições”, “oções”, “evições”, “eruções”, “frições”, “autótones”, “invitos”, “galáticos”, “ténicos” e outras tantas aberrações que o acordo tem incentivado, ao desestruturar a escrita.

 

Talvez isto passe ao lado de Jorge Miranda, embora até já o inglês sofra cortes sob tal influência. Mas enquanto nada mudar, e a atitude de quem manda diz-nos que por sua vontade não mudará uma só vírgula, haverá resistência e resistentes.

 

Nota: transcrição integral de artigo publicado no jornal PÚBLICO na edição de quinta-feira, 16 de Junho de 2022.

 

Fonte: https://ilcao.com/2022/06/06/a-provedoria-de-justica-tambem-nao-da-resposta/

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 11:26

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Sexta-feira, 3 de Junho de 2022

«Acordo Ortográfico de 1990 - Um atentado à estabilidade da ortografia ou o contra-senso insanável entre a unificação ortográfica e o primado da fonética»

 

É obrigatório ler, até ao fim, este magistral trabalho de Luís Canau, onde este ex-jurista dá prova de que «o AO90 falha em tudo aquilo a que se propunha, devendo ser revogado o mais depressa possível».

 

Um magistral trabalho que  os responsáveis políticos, e quem-quer-porque-quer impingir-nos o AO90, simplesmente, muito democraticamente, ignorou

 

Espero que Luís Canau não se importe que eu tenha "desenterrado" o seu PDF. O meu Blogue não é propriamente um calhamaço jurídico, mas é o Lugar onde a Língua Portuguesa é (até ao dia de hoje) defendida, e o AO90 esmagado, em 4009 textos, por individualidades das mais variadas áreas. E só não está informado quem NÃO quer estar, talvez porque os textos dão muito trabalho a LER e não os ler faz muito BEM à IGNORÂNCIA. E andam por aí muitos ignorantes optativos, a ocupar cargos elevados, e a defender o indefensável AO90, simplesmente porque se RECUSAM a LER, o que pessoas FORMADASINFORMADAS escrevem.

Este texto de Luís Canau é daqueles que é OBRIGATÓRIO ler, para não morrermos ignorantes.

 

Isabel A. Ferreira

 

***

«Acordo Ortográfico de 1990

Um atentado à estabilidade da ortografia ou o contra-senso insanável entre a unificação ortográfica e o primado da fonética»



por Luís Canau

 

"O Acordo é uma penumbra que vai cair sobre a língua portuguesa" – Paulo Gonçalves, Porto Editora, in Público, 21/04/2008

 

  1. Enquadramento da matéria

I

O Acordo Ortográfico de 1990 (AO90) está a ser aplicado em Portugal contra a vontade da maior parte da população e ignorando pareceres de especialistas. A percepção da aceitação do AO90 é condicionada pelo poder de direcção, em jornais e emissoras de televisão: mesmo que a maioria dos jornalistas e dos leitores as rejeitem, as chamadas "novas" normas podem ser aplicadas com base na decisão de uma única pessoa. Há mesmo casos de editoras que publicam prontuários e vendem correctores ortográficos para o AO90 que se manifestaram contra o acordo, declarando não haver nada a fazer dado as normas serem impostas politicamente.

 

O acordo não corresponde a uma "evolução natural" da ortografia da língua portuguesa, como alguns pretendem. Uma evolução natural não é um contrato negociado e assinado por um grupo reduzido de pessoas. Outro grupo de pessoas teria concebido normas diferentes. Algo que será feito se/quando a outros for dada essa oportunidade. Veja-se, por exemplo, o movimento "Acordar Melhor", no Brasil, que defende uma maior simplificação da ortografia, ou alguns autores em Portugal, como D'Silvas Filho que defende e utiliza o AO90, mas publica uma extensa lista de críticas e "correcções" ao mesmo. 1

 

O AO90 está a ser aplicado na sequência de um processo político, no qual os decisores subscreveram conceitos irrealizáveis e utópicos, sem darem ouvidos a todos os pareceres contrários que analisavam a substância do texto e alertavam para as graves consequências que adviriam da sua aplicação.

 

Apesar de alguns procurarem remover as vestes políticas do AO90 dizendo que este é uma criação das academias, o acordo só está em vigor porque quase 20 anos depois da sua assinatura os políticos portugueses e brasileiros o decidiram recuperar. No caso de Portugal, a Academia das Ciências de Lisboa (ACL) deixou de fazer parte do processo, tendo sido o Governo, do qual fazia parte a Exma. Sra. Deputada Gabriela Canavilhas, membro deste Grupo de Trabalho, a decidir qual seria o vocabulário oficial português, vindo a designar o do Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC).

 

Margarida Correia, responsável pelo Vocabulário Ortográfico do Português do ILTEC, em declarações ao Público, em 30/12/2009, explica como o AO90 falhou, afirmando que muitas regras tiveram de ser definidas a posteriori, o que significa, naturalmente, que ganhariam uma ou outra definição conforme quem efectuasse esse trabalho:

 

"O texto legal [do acordo] é aberto, mas é ambíguo e tem até contradições internas. Mas ninguém o vai ler quando tiver uma dúvida. O que se espera é que haja especialistas que façam a interpretação através do Vocabulário."

 

Ou seja, ninguém poderá alegar surpresa perante as inconsistências entre os vários dicionários e vocabulários publicados.

 

De acordo com o mesmo artigo do Público, "a nova ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas [...] diz que quanto mais depressa [aplicarmos o AO90] melhor será para afirmar a língua portuguesa no mundo", enquanto "a ministra da Educação, Isabel Alçada, pede tempo para a introdução das novas regras nas escolas."

 

Este acto – político, note-se – constitui uma violação do tratado que institui o acordo, pelo menos no seu espírito, o qual preconiza, no seu artigo 2.º, a elaboração de um vocabulário ortográfico comum com base em contributos das "instituições e órgãos competentes" que, no contexto do tratado, deveriam ser as academias que participaram na concepção do AO.

 

Acresce que a ACL, além de, ao que parece, ter sido delicadamente afastada do processo, pelo ex-ministro da Cultura José António Pinto Ribeiro, que considerou que a Academia teria "pouca capacidade" para elaborar o vocabulário (citado no Público de 30/04/2009), se manifestou contra a sua entrada em vigor – ou, pelo menos, contestou não ter sido consultada sobre o processo –, apontando a existência de "aspectos polémicos", os quais seria preciso estudar com vista à implementação de eventuais alterações. 2

 

Sobrepõe-se à questão da legitimidade para definir o vocabulário oficial, a criação de vários vocabulários ortográficos no Brasil e em Portugal, em violação do espírito do tratado, que exigia que a publicação de um vocabulário ortográfico comum precedesse em um ano a entrada em vigor do AO90. 3

 

Há aqui, na verdade, duas violações ao espírito do tratado:

 

  • O acordo começou a ser aplicado antes da existência do VOC;

 

  • Essa aplicação efectuou-se com base em vocabulários elaborados separadamente, em Portugal e no Brasil, tendo em conta ortografias nacionais e não a suposta ortografia unificada, o que constitui uma ruptura com o acordo e com o tratado. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa brasileiro exclui palavras que apenas se aplicam a Portugal (vd. Ponto 4.2).

II

O AO90 tem múltiplas omissões e inconsistências. Um exemplo paradigmático é a opção de remover o acento diferencial em "pára" (Base IX, 9.º), ao mesmo tempo que se mantém o acento na forma verbal "pôr", como excepção, "para a distinguir da preposição por" (Base VIII, 3.º). A mais breve reflexão deveria ser suficiente para  concluir que a supressão do acento em "pára" é mais passível de gerar confusões do que a supressão do acento em "pôr".

 

Pôr/por:

"Por o livro em cima da mesa", "sem tirar nem por", "por mérito próprio", "por via das dúvidas", "por favor", "vou por-me a andar". Em nenhum destes casos há dúvidas onde falta o acento circunflexo, e corrigimos a leitura automaticamente, sem necessidade de interpretação.

 

Pára/para:

"Para ali", "para já", "para o carro", "alto e para o baile", "para para pensar", "greve para Portugal"; ou o cartaz em que a PSP se recusou a aplicar o AO (aqui "corrigido"): "Quando para em cima do passeio, para a vida de algumas pessoas".

 

Outro aspecto onde se reflecte a má preparação científica do AO90 são os cerca de 30 erros que viriam a ser corrigidos pela Priberam, ilustrando a falta de reflexão sobre o texto que nos chegou e a má qualidade da revisão. Existem erros em termos deixados na grafia "antiga" (jibóia, amigdalóide, respectivos, excepto, exceptuando), watt é grafado erroneamente com maiúscula inicial, há vírgulas mal colocadas, uso deficiente de conjunções, erros de acentuação, confusões terminológicas ("diagrama" por "digrama"), erros em divisões silábicas e erros simplesmente grosseiros ("insersão" por "inserção"). O AO90 diz-nos ainda que a letra w só se pronuncia na forma do português do Brasil, "dábliu", ignorando que os portugueses dizem, e vão continuar a dizer, "dâblio".

III

"Se não [perdêssemos as consoantes mudas], como é que íamos unificar a ortografia? Exigíamos aos brasileiros que reintroduzissem as consoantes mudas?" - Malaca Casteleiro, um dos responsáveis pelo AO90, citado no Público de 30/12/2009

 

O texto do AO proclama a necessidade de um acordo a qualquer custo, e essa é a fonte do problema que enfrentamos actualmente: parece ser preciso chegar a um fim predefinido, independentemente da racionalidade e da argumentação. A nota explicativa do AO aponta as razões do fracasso da convenção de 1945: os brasileiros não queriam recuperar as consoantes mudas, nem acentuar termos como "acadêmico", "oxigênio", "cômodo", etc., como em Portugal, trocando a acento circunflexo pelo acento agudo.  Os autores do AO90 pensaram que a solução seria serem os portugueses a ceder, já que os brasileiros se recusaram a fazê-lo. Ou seja, se o acordo de 1945 foi rejeitado pelo Brasil porque os brasileiros não queriam escrever "académico" quando pronunciavam "acadêmico", o acordo de 1990 preconiza que os portugueses devem pronunciar "objetivo", "conceção", "adoção", como "objétivo", "concéção" e "adóção", de acordo com a tradição fonética brasileira ("culta", diriam os autores do AO, uma vez que a generalidade dos brasileiros deverá pronunciar "obijétivo" e não "objétivo").

 

  1. Objectivos do Acordo Ortográfico

O AO90 foi "vendido" com base em argumentos falaciosos e fantasiosos:

 

  • O "prestígio internacional" da língua (vd. Nota Explicativa e texto introdutório da Resolução da Assembleia da República n.º 26/91). Os defensores do AO90 fingem ignorar que o inglês se tornou a língua internacional por excelência apesar de coexistirem ortografias com diferenças substanciais em vários continentes. Não é a "harmonização" de determinado número de termos, seleccionados por negociação, que vai trazer "prestígio" à língua. Tal é absurdo, e tenho dúvidas que os próprios autores do AO90 acreditem nessa fantasia.

 

  • A harmonização ortográfica propriamente dita. O primado da fonética é incompatível com o conceito de unificação ortográfica. Não se unifica a ortografia ao mesmo tempo que se diz que se pode escrever "como se fala", criando um sem-fim de facultatividades. Isto leva precisamente ao oposto do conceito de unificação: separa-se o que estava unido, desarmoniza-se o que estava harmonizado. E não se pode conceber um conjunto normativo consistente quando se diz que o princípio da fonética vale para uns casos mas não para outros.

Muitos defensores e responsáveis políticos têm dito que o AO90 constituiria uma espécie de revolução no mercado editorial luso-brasileiro. Como se, por um passe de mágica, nos tivéssemos livrado de todos os constrangimentos linguísticos que impossibilitavam a compreensão entre os dois povos. Sempre que há que dizer, para não assustar as pessoas, que o acordo não muda muita coisa, afirma-se que as alterações são "só" ao nível da ortografia, mas há uma tremenda falta de contenção e, até, de decoro na expressão do delírio unificador, fingindo-se esquecer que as diferenças mais notórias entre o português de Portugal e o português do Brasil não se confinam ao plano da ortografia. Por muito que se note um cê a mais ou a menos, saltam mais à vista as diferentes construções frásicas, a gramática, com o predomínio da próclise dos pronomes clíticos e a preferência pelo gerúndio no português do Brasil, e, claro, todas as divergências a nível de vocabulário.

 

O que diz quem conhece as realidades do mercado editorial?

 

"Não acredito [na retórica de que o acordo ortográfico facilitará o intercâmbio editorial entre Portugal e o Brasil]. Aliás, já há provas disso. O Brasil aplicou o acordo há dois anos e, portanto, os livros brasileiros já deviam estar todos a circular por aí. Não vejo nada, não veio nem mais um livro do Brasil por causa disso." - Vasco Teixeira, administrador da Porto Editora, in Público, 17/11/2010.

 

  1. Vantagens decorrentes da aplicação do Acordo Ortográfico

 

  • A fantasia da ortografia unificada tem vantagens para o Brasil, no âmbito das suas políticas de expansão e divulgação internacional da língua portuguesa, algo que o Estado português nunca valorizou adequadamente. Se, por exemplo, o Brasil desejar apoiar cursos de Língua Portuguesa num país europeu, com aulas ministradas por professores brasileiros, com base na gramática e vocabulário brasileiros, a ficção da "ortografia única" ajudará a convencer as instituições locais de que é indiferente que os cursos sejam ministrados por brasileiros ou portugueses.

 

  • As vantagens da aplicação do AO em Portugal são económicas, para as editoras de manuais, dicionários e correctores ortográficos e para todos os indivíduos ou entidades que leccionem cursos de formação para a dita "nova" ortografia.

 

  1. Inconvenientes e problemas resultantes da aplicação do Acordo Ortográfico

 

  • Divergências ortográficas entre os que seguem as "novas" normas ortográficas e os que não as seguem, devido à rejeição do AO90 pela maior parte da população.

 

  • Divergências ortográficas entre Portugal e Brasil:

 

  • Divergências que já existiam e continuarão a existir, e que muitos poderão desconhecer, por ouvirem repetidamente que o acordo unifica a ortografia;

 

  • Divergências novas entre Portugal e Brasil. O AO90 cria diferenças ortográficas num contexto normativo de unificação. Isto constitui uma contradição insanável e uma violação do seu espírito unificador. Este contra-senso científico conduz-nos a um cenário em que as divergências artificialmente criadas na ortografia são superiores às palavras unificadas. Segundo um estudo de Maria Regina Rocha, com base em pesquisas no Portal da Língua Portuguesa, o AO90 harmoniza 569 palavras, mas mantém diferenças em 2691 e cria 1235 novas divergências. Estes números ilustram claramente a fraude da unificação ortográfica do AO90. 4

 

A ficção da unificação é reforçada pela inexistência, no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras, de diversos termos exclusivos do português de Portugal – tanto pertencentes à norma estável como novas divergências criadas pelo AO90 –, como "receção", "conceção", "indemnizar" e "amnistia", registando-se apenas "recepção", "concepção", "indenizar" e "anistia".

 

A tão propalada simplificação da ortografia atenta contra a riqueza da língua portuguesa. Há casos em que dois termos, com semânticas distintas, se passam a confundir, como "óptico" (relativo à óptica ou à visão) e "ótico" (relativo ou pertencente ao ouvido), "coacção" (acto ou efeito de coagir) e "coação" (acção de coar) ou "retractar" (retirar o que se disse) e "retratar" (fazer o retrato de). No primeiro caso ("óptico"), não só se cria uma confusão em Portugal, passando a utilizar-se "ótico" tanto para nos referirmos à visão como à audição, como se cria uma divergência artificial com a grafia no Brasil, onde se mantém a grafia "óptico".

 

APLICAÇÃO DO AO90.jpg

 

3) Divergências entre os próprios utilizadores de uma "nova" ortografia incerta e instável.

 

  • A Priberam publicou um documento a explicar como interpreta o AO90 e os seus correctores permitem "personalizar o uso da grafia". 5

 

  • Dicionários e vocabulários ortográficos diferentes registam formas e facultatividades diferentes para os mesmos termos. Por exemplo, a Priberam conclui que contracções como "prò" (para + o) passam a registar-se como "pro", devido à omissão no texto do AO, mas para a Porto Editora a omissão implica que não existe qualquer alteração. 6

É de notar que, da mesma forma que a aplicação do AO90 por um jornal não reflecte a sua aceitação pela maioria dos que lá escrevem e, muito menos, pelos seus leitores, também no caso das editoras essa aceitação é, no mínimo, questionável. Como a citação que inicia este texto ilustra, a Porto Editora – que produz livros, programas de TV e vídeos na internet para ensinar o AO – manifestou-se ferozmente contra o acordo. Vasco Teixeira, administrador da editora, disse que o acordo era "um pequeno remendo" para aproximar as grafias, que tinha "erros técnicos" e que os editores sempre se lhe opuseram. 7

 

A Priberam edita dicionários e vende correctores para as várias normas ortográficas da língua (português europeu, do Brasil, com e sem AO), mas mantém no seu sítio da internet, em flip.pt, a informação que os textos continuam a ser "redigidos na variedade europeia do português e segundo a grafia vigente antes da entrada em vigor do Acordo Ortográfico de 1990, uma vez que o período de transição assim o permite".

 

  • O jornal Correio da Manhã publicou uma tabela a explicar como utiliza o AO90 e declarou derrogálo, mantendo o acento diferencial no termo "pára". O jornal Barlavento afirmou não acatar algumas regras por as considerar "absurdas". 8 9

Temos assim, entre os média que aplicam o AO90, os que escrevem "espectador" e "sector" e os que preferem "espetador" e "setor", outros que não removem o acento a "pára" e muitos que se "esquecem" convenientemente dessa regra.

 

4) O AO90 legitima duplas grafias ou facultatividades nacionais. Quando antes havia divergências entre Portugal e Brasil (e, como sabemos, o acordo aumenta esse número, em vez de o reduzir), passam agora a existir divergências ortográficas dentro do próprio território nacional.

 

O n.º 4 da Base IX do AO determina, em relação aos verbos da primeira conjugação, a facultatividade de se acentuarem as conjugações verbais da primeira pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo para as distinguir das formas correspondentes no presente do indicativo, porque "o timbre da vogal tónica/tônica é aberto naquele caso em certas variantes do português". Ou seja, o AO permite que se escreva "nós chegamos ontem", abrindo caminho para divergências ortográficas entre o Norte e o Sul do País.

 

Fica por explicar porque é que os autores do AO criaram esta regra particular, quando a justificação da variação de pronúncia regional poderia dar azo a uma multitude de outras regras e facultatividades. Por exemplo, tendo em contra a pronúncia do Alentejo ou de Lisboa ou de tantas outras regiões dos vários países que fazem parte da "lusofonia". Porque não poder escrever "coâilho" e "cerveija", com base na pronúncia de Lisboa? Se a lógica é só admitir tais regionalismos na medida em que retirem letras ou acentos, pode-se então perguntar porque não permitir "nã" por "não", ou atender à prática oral brasileira tornando facultativo o registo do esse final em várias conjugações verbais da primeira pessoa do plural, bem como o erre do infinitivo. Por exemplo: "nós vamo canta[á]", "nós queremo fala[á] com você", etc.

 

Como é possível admitir que um instrumento que se afirma unificador crie divergências ortográficas dentro do mesmo território nacional?

 

5) Proliferação de termos de português do Brasil, como "pato" por "pacto" ou "contato" por "contacto", ou termos incorrectos em qualquer das variantes da língua, como "inteletual".

 

Sendo verdade que este aspecto não é, em rigor, um problema do próprio AO90, constitui má aplicação das suas normas, pelo que é pertinente para esta discussão. Por outro lado, a indefinição de regras sugere a muitos, por falta de capacidade crítica, má vontade ou desinteresse (quantas pessoas utilizam o AO90 porque são obrigadas a fazê-lo?), que escrevam "como falam" ou que cortem consoantes indiscriminadamente. Se o que se diz na nota explicativa do acordo sobre a dificuldade que as pobres crianças de 6-7 anos têm para entender as consoantes "mudas" fosse verdade, não seria de esperar que os adultos alfabetizados que, por exemplo, escrevem no Expresso ou na página do Facebook da PSP, entendessem claramente quais consoantes estão "a mais" e quais não estão?

 

O termo brasileiro "contato" encontra-se regularmente nos sítios da internet da generalidade dos partidos políticos com representação parlamentar, um reflexo de que os que aprovaram o AO e o mantêm em vigor têm um conhecimento deficiente do mesmo. Para dar exemplos à direita e à esquerda, o sítio do PSD arranca nesta data (18/2/2013) com uma introdução que promete "+ contato" e o Esquerda.net regista o termo dezenas de vezes. O jornal Expresso e a revista Visão utilizam-no regularmente, contando, em conjunto, largas centenas de incidências. Até o site de Edite Estrela chegou a registar várias formas de "contatar". A eurodeputada, co-autora de um livro chamado "Saber Usar a Nova Ortografia", retirou, inclusive, um c a "Jean Jaques Rousseau" [sic]. 10

 

6) No próprio texto do acordo é ilustrada a impossibilidade de unificar a ortografia ao registarem-se formas alternativas de muitos termos, de modo a que a leitura seja compatível com as ortografias de Portugal e do Brasil.

 

tónicas/tônicas antropónimos/antropônimos topónimos/topônimos jeffersónia/jeffersônia anti-higiénico/anti-higiênico erróneas/errôneas

fónico/fônico

homónimo/homônimo fémur/fêmur tónica/tônica rizotónicas/rizotônicas prémio/prêmio pós-tónicas/pós-tônicas ténue/tênue

heterofónicas/heterofônicas contra-harmónico/contra-harmônico neo-helénico/neo-helênico bibliónimos/bibliônimos axiónimos/axiônimos hagiónimos/hagiônimos Neptuno/Netuno

 

Podemos assim imaginar como será a ortografia "unificada" no seio de uma qualquer instituição internacional, onde a barra assumirá o papel de instrumento ortográfico unificador:

 

"No dia ... realizar-se-á/se realizará uma receção/recepção com a presença do distinto académico/acadêmico da República Checa/Tcheca ..."

Neste âmbito, poderá ser estranho, dada a preocupação do AO90 com o "prestígio internacional" da língua, que não se tenham tentado unificar as muitas divergências que permanecem em nomes de países e cidades, já que os mesmos surgirão frequentemente no contexto, tão caro ao tratado, da utilização da língua portuguesa nas relações internacionais.

 

Algumas diferenças ortográficas em topónimos:

 

Amsterdã/Amesterdão

Armênia/Arménia

Bagdá/Bagdad

Bangcoc/Banguecoque

Belarus/Bielorrússia

Cingapura/Singapura

Copenhague/Copenhaga

Eslovênia/Eslovénia

Estônia/Estónia

Groenlândia/Gronelândia

Helsinque/Helsínquia

Irã/Irão

Madri/Madrid

Mônaco/Mónaco

Moscou/Moscovo

Letônia/Letónia

Polônia/Polónia

Porto Príncipe/Port-au-Prince

Quênia/Quénia

República Tcheca/República Checa

Romênia/Roménia

Tadjiquistão/Tajiquistão

Teerã/Teerão

Vietnã/Vietname

Zimbábue/Zimbabué

 

7) Menosprezo pelo conceito essencial da estabilidade ortográfica da língua. Portugal efectuou três reformas ortográficas no século XX. O tempo decorrido entre os dois últimos acordos ortográficos é comparável ao tempo que já decorreu desde a concepção até à aplicação do presente acordo. A obsessão com a "unificação" da ortografia resulta numa tendência em alterar as regras da escrita a cada geração. Arriscamo-nos a escrever numa grafia diferente dos nossos pais e avós e que os nossos filhos aprendam, igualmente, uma grafia diferente. Isto prejudica, por um lado, a literacia – com a agravante do actual acordo gerar facultatividades e regras interpretadas de diferentes modos – e, por outro, a comunicação intergeracional.

 

Se o processo de adopção do AO90 tivesse corrido conforme previsto, entrando o mesmo em vigor em 1994, seriam grandes as probabilidades que outro grupo de professores iluminados estivesse já a trabalhar num novo acordo. Não se pode quebrar, injustificadamente, a estabilidade ortográfica que une gerações e nos mantém em contacto com a cultura e a literatura do passado. Se o AO90 unificasse de facto poderia fazer sentido discutir-se a necessidade de interferir com a estabilidade ortográfica.

 

"A estabilidade ortográfica não se põe em causa com argumentos falaciosos" – Francisco Miguel Valada, autor de “Demanda, Deriva, Desastre – Os três dês do Acordo Ortográfico”.

 

"[O AO90] revela insensibilidade à preservação da estabilidade ortográfica e ao valor patrimonial da ortografia" – António Emiliano, autor de "Apologia do Desacordo Ortográfico".

 

  1. Proposta que apresenta

 

Revogação imediata da aplicação do Acordo Ortográfico de 1990 no território português e o regresso oficial à ortografia estável da língua portuguesa, regulada pelo Acordo Ortográfico de 1945.

 

  1. Outras questões

 

  • O erro de muitos, incluindo responsáveis políticos, é encararem o AO90 como algo abstracto (que não leram nem analisaram adequadamente) que produz resultados específicos, independentemente da sua validade científica. Como uma declaração política avulsa – cuja substância é irrelevante ou secundária –, que "unifica" e "prestigia" a língua. Mas uma coisa é concordar com conceitos, outra é saber se um conjunto normativo é eficiente para realizar os nobres objectivos propalados. Ou seja, se o AO90 é, em concreto, um instrumento adequado para realizar tais desígnios. Infelizmente, não é: este acordo não realiza nenhuma das fantasias unificadoras às quais se recorre para justificar a sua aplicação.

 

  • O modo como os responsáveis políticos encararam pessoalmente o AO90 é sintomático de um processo que ignorou a realidade das ortografias da língua portuguesa, cobrindo-a com um véu de desígnios fantasiosos.

 

  • Pedro Santana Lopes, que assinou o acordo enquanto Secretário de Estado da Cultura, continua a acreditar que o AO90 determina que em Portugal se deixe de escrever facto com cê. Escreveu-o num artigo de opinião e utiliza a expressão "de fato" no seu blogue. 11

 

  • Cavaco Silva, com responsabilidades no processo, enquanto primeiro-ministro em 1990, e, mais recentemente, como presidente da República, declarou escrever "como aprendeu na escola", pedindo aos seus assessores que lhe "convertam" os textos. 12

 

  • Francisco José Viegas, ex-Secretário de Estado da Cultura, criticou o AO90, e sugeriu, em Fevereiro de 2012, que o mesmo poderia e deveria ser alterado até 2015 (como se o período de transição fosse ainda um período de definição). Foi com aparente orgulho que inaugurou, no Correio da Manhã, em Março de 2009, a utilização da "nova" ortografia, mas escreve, no mesmo jornal, de acordo com a ortografia estável quando assina com o pseudónimo António Sousa Homem. Considere-se questão do foro da psicologia ou interessante liberdade literária (encarnar uma "personagem" que é um "Velho do Restelo"), é uma posição, no mínimo original. No seu blogue pessoal, o ex-SEC parece também preferir a ortografia "antiga". 13

 

  • O actual primeiro-ministro tem escrito de acordo com a "antiga" ortografia, seja no Facebook ou por meios mais formais, em comunicados tornados públicos (desrespeitando a Resolução do Conselho de Ministros n.º 8/2011). 14

 

  • O presidente da Academia das Ciências de Lisboa, o Prof. Doutor Adriano Moreira, disse em 2009 que o acordo tem de ser cumprido, mas dois anos depois ainda assinava regulamentos da própria ACL de acordo com a norma estável, anterior ao AO90. 15

 

EM SUMA,

  • O AO90 cria mais divergências ortográficas do que unifica, ao admitir, inconsistentemente e contra o espírito de um verdadeiro tratado ortográfico, registos diferentes de acordo com o critério da pronúncia. É um contra-senso pretender realizar uma unificação ortográfica da língua dando primazia à fonética;
  • O AO90 não só cria novas divergências entre a ortografia de Portugal e do Brasil, como cria facultatividades ortográficas dentro do próprio território português;
  • A estabilidade ortográfica é factor de literacia e importante para a comunicação intergeracional;
  • O AO90 falha em tudo aquilo a que se propunha, devendo ser revogado o mais depressa possível.

Luís Canau

Ex-jurista, profissional de cinema de animação, programador de cinema, tradutor

 

Notas:

  • Sítio da internet do Movimento "Acordar Melhor": acordarmelhor.com.br. Nesta data, o antivírus previne que este URL pode "danificar o computador" pelo que não efectuarei citações directas. O professor Ernani Pimentel, mentor do movimento, disse: "a reforma nasceu velha e capenga. Não se alimentou de massa crítica nem levou em conta mudanças tecnológicas profundas" e "o ensino da ortografia deve ser simplificado." Pimentel está pronto para elaborar um novo acordo (ou, talvez, uma nova reforma para o Brasil). Haverá alguma razão para os governos de Portugal e Brasil não lhe darem a mesma importância que deram às academias em 1990?

"Problemas ortográficos, novo acordo", por D'Silvas Filho: http://www.dsilvasfilho.com/Novo%20Acordo.%20Regras %20e%20Problemas%20ortogr%C3%A1ficos.htm

O autor aponta oito defeitos em relação às regras do hífen, cinco em relação às consoantes "mudas", como qualquer pessoa de bom senso não concorda com a supressão do acento diferencial em "pára", entre muitas outras questões. Não se entende como pode o autor defender o AO90 ao mesmo tempo que afirma que o mesmo está minado por defeitos técnicos. Esta aparente contradição não impede D'Silvas Filho de publicar um Prontuário Ortográfico "actualizado".

  • "Acordo Ortográfico – Academia de Ciências defende alterações ao documento", Jornal das 8 da TVI (excerto): http://www.youtube.com/watch?v=ncb0iznYqiM. "A ACL não impõe aos seus sócios e ao seu pessoal administrativo a aplicação do novo Acordo Ortográfico antes de [serem] convenientemente revistos, com todo o rigor lexicológico, os pontos polémicos desse Acordo." - resposta a pedido de esclarecimentos, por email, assinada pelo Prof. Doutor Artur Anselmo, Presidente do Instituto de Lexicologia, Lexicografia e Língua Portuguesa da ACL.
  • Artigos 2.º e 3.º do tratado que institui o AO90.
  • Publicado no jornal Público de 19/01/2013.
  • Critérios da Priberam relativamente ao Acordo Ortográfico de 1990: priberam.pt/docs/CriteriosFLiPAO.pdf. "Se optar por escrever usando as regras do acordo ortográfico, poderá ainda personalizar o uso da grafia nos casos em que o Acordo Ortográfico de 1990 permite duplas grafias." (www.flip.pt/Produtos/FLiP-8/Descricao.aspx).
  • O Prof. Rui Miguel Duarte elaborou um quadro comparativo de lemas que ilustra divergências entre o que o AO90 preceitua e o registo em vocabulários, no Lince e nos dicionários da Priberam e da Porto Editora: www.scribd.com/doc/119613751/Quadro-Comparativo-de-Lemas
  • "O brasileiro é uma língua que ainda não se assumiu como autónoma, mas que tende para se autonomizar do português. O acordo é um pequeno remendo para aproximar ligeiramente a grafia europeia, que é a mesma de África, e a sul-americana. Só isso, mais nada. E tem vários erros técnicos. Os editores foram sempre contra o acordo até ele ser aprovado, mas por razões mais técnicas do que comerciais ou ideológicas. Quando nos dizem que os editores deviam estar satisfeitos com o acordo, devem estar a brincar com a nossa cara. [...] O governo sabe que o acordo é mera cosmética e que não resolve nada na relação com o Brasil, mas se o aplicarmos de forma teimosa e cega, corremos o risco de nos afastarmos do português que se escreve em África, que é igual ao nosso, porque Angola e Moçambique ainda não ratificaram o acordo. É um erro estratégico enorme e julgo que o Governo já o percebeu, mas não quer fazer “mea culpa”." - in Público, 17/11/2010 http://www.publico.pt/cultura/noticia/vasco-teixeira-para-um-editor-escolarpublicar-ficcao-e-facil-1466599
  • Correio da Manhã de 29/12/2012. Artigo não disponível na página do jornal. Recorte arquivado no sítio da ILC contra o Acordo Ortográfico: http://ilcao.cedilha.net/wp-content/uploads/2012/12/cm291212-b1.jpg
  • "Esta é a primeira edição em que o seu «barlavento» está todo redigido segundo as regras do Acordo Ortográfico. Ou antes, segundo as principais regras, já que algumas, francamente, a equipa do «barlavento» decidiu não acatar, por as considerar absurdas." barlavento.pt/index.php/noticia?id=39704&tnid=17
  • O Google é uma ferramenta útil para ilustrar a deformação da ortografia portuguesa devido à aplicação "automática" do AO90, cortando consoantes ou escrevendo em português do Brasil porque, afinal, "agora facto escreve-se sem c", como afirmou Pedro Santana Lopes. Por exemplo, a pesquisa "contato site:expresso.sapo.pt" devolve 390 resultados do termo "contato" no site do Expresso, enquanto na Visão serão apenas Naturalmente, teremos de ter em conta que alguns desses resultados ocorrem nos comentários dos leitores – uns confusos com a "nova" ortografia, outros, claro, brasileiros.
  • "Não é aceitável dar-se ordem para desrespeitar o Acordo Ortográfico", in Sol, 13/02/2012 http://sol.sapo.pt/inicio/Opiniao/interior.aspx?content_id=41357. Blogue de Pedro Santana Lopes em http://pedrosantanalopes.blogspot.pt/
  • "Cavaco confessa que não usa o Acordo Ortográfico", in DN, 22/05/2012 http://www.dn.pt/politica/interior.aspx? content_id=2536403 "Todos os meus discursos saem com o acordo ortográfico mas eu quando estou a escrever em casa tenho alguma dificuldade e mantenho aquilo que aprendi na escola."
  • "Sobre a velha e a nova ortografia", Correio da Manhã, 6/01/2013

http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/opiniao/antonio-sousa-homem/sobre-a-velha-e-a-nova-ortografia

  • Por exemplo, "Discurso do Primeiro-Ministro no debate das moções de censura ao Governo", publicado no sítio do PSD, em 4/10/2012 http://www.psd.pt/?idc=4&idi=86949
  • A ACL, note-se, não aplicava o AO90 no seu sítio da internet nesta data, ainda que tenham surgido recentemente textos com mistura de grafias.

 

Fonte: https://app.parlamento.pt/webutils/docs/doc.pdf...

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 17:07

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