Como sempre, os artigos de Nuno Pacheco geram muitos comentários, uns mais a favor do que outros, e como para esta questão da Língua Portuguesa parece que ainda não se vislumbra o fim, que virá, só ainda não se sabe quando, respigo alguns comentários feitos ao texto de Nuno Pacheco que chamaram a minha atenção, e é sobre eles que me proponho a discorrer hoje.
Mas antes quero dizer isto: Portugal está na cauda da Europa em quase, quase tudo, e também no desleixo que governantes, professores, canais televisivos, alguns escritores, jornalistas e tradutores, e uma massa amorfa de portugueses servilistas, que vão atrás de modismos, apenas porque não sabem pensar por si próprios, dedicam à Língua Oficial do País que servem de um modo bastamente medíocre.
Penso que já era tempo de se deixar de venerar a Ignorância e a Estupidez que grassam por aí, chamando a atenção dos que as veneram para o mal que estão a fazer a Portugal e a si próprios, quando decidem expor publicamente a miséria cultural que os embriaga, ainda que anonimamente, como é apanágio dos cobardes.

O Fernando. Camencelha deu a sua opinião, e a ela tem todo o direito. Porém, na realidade, e tal como disse a Maria do Vieira, o Fernando não tem a noção do que diz.
Limitou-se a repetir o argumento sem pés nem cabeça usado pelos acordistas-mor, para justificar a introdução em Portugal, de uma grafia que não nos diz respeito e jamais dirá. Sabe porquê? Porque enquanto houver no mundo um português, apenas UM português, que se preze de o ser e que respeite os símbolos do seu País, a Língua Portuguesa estará a salvo.
Se em 2125 só houver quatro milhões de portugueses, a Língua Portuguesa será uma Língua minoritária, mas continuará VIVA. O Galego, Língua-gémea do Português, esteve quase a extinguir-se, com a imposição, na Galiza, do Castelhano, e vou citar uma passagem do livro «Historia da Língua Galega», referido no texto que ontem publiquei, contada na primeira pessoa como se o Galego fosse gente: «Ora ben, afortunadamente, mesmo nas peores épocas, sempre contei com defensores entre os galegos, com xente que loitou pola dignificación e defensa da súa fala dentro da Galiza, tradición reivindicativa procedente das classes sociais cultas e que estivo acesa ininterrompidamente até a actualidade». (Pág. 28).
Fiz questão de não traduzir esta passagem do livro, do Galego para Português, porque como Línguas-gémeas, e quem assim as designa são os autores do livro, que português não conseguirá perceber o que aqui está escrito?
Pois o mesmo está a acontecer com o Português, genetriz de muitas Variantes, o qual tem muitos defensores espalhados por todo o mundo, e que também manterão acesa a Língua ininterrompidamente até ao final dos tempos. Graças aos defensores do Galego, esta Língua foi recuperada e hoje é uma das Línguas co-oficiais de Espanha.

Ai o a.galrinho! Escreve em que linguagem? Nem é Português, nem é Acordês, nem é Brasilês. Tem todo o direito de opinar, mas ao menos opine numa linguagem correCtamente escrita, e que se entenda. O a.galrinho quer regressar à linguagem básica, de comunicação apenas. Porém, a função de um Idioma bem estruturado é fixar o Saber e o Pensamento dos Povos. E pobre é aquele que mesmo sabendo as letras, não sabe escrever.

O a.galrinho ou é o protótipo do menino que foi à escola, aprendeu as letras, e depois desistiu, porque não conseguiu aprender mais do que isso, ou é um adulto que, continuando a não conseguir juntar o B com o A, vem para aqui gozar com a Língua. A isto chama-se, como bem disse a Maria do Vieira, ignorância, e uma vez que é ignorante, quer que todos sejam ignorantes também. Há gente assim. O que vale é que também há gente assado.

Martim Joane, isso é que é escrever com estilo! Muito bem.
Quanto ao vocábulo percePção, o Brasil grafa-o, vá-se lá saber porquê, à portuguesa, tal como os Portugueses, mas atenção! a falar, os Brasileiros acrescentam-lhe um i: dizem “pêrrcépição”. Quem escreve perceção são aqueles que não têm a percePção do que é um Idioma, ou seja, são uns requintados ignorantes.
Para que a parvoíce não se espalhe por aí como uma praga, declara-se aqui que a palavra percePção, em Portugal, leva o P, ainda que muitos não o queiram. Porém, como a grafia de 1945 é a que está em vigor “de jure”, a palavra escreve-se com pê., e não adianta dizer que o correCto é escrever sem pê. Eu, por exemplo, pronuncio-lhe o pê, e, neste caso, concordo com os Brasileiros. O mais correCto é, portanto, pronunciar todos os pês e cês não pronunciados, como fazem os restantes povos de Línguas Românicas. Deste modo, os acordistas já conseguiriam escrever correCtamente.

Ó a.galrinho, o documento do acordo ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 é uma enxurrada de ignorâncias, de incongruências, de disparates jamais reunidos num só lugar. Um deles, mas há-os aos montes, é o facto de o AO90 ter sido engendrado para unir as ortografias do Brasil e de Portugal. Certo? Veja-se essa união, por exemplo, no artigo 6º do dito documento: «Recomenda-se que os topónimos/topônimos de línguas estrangeiras se substituam blálábláblá...».
Como é sabido, o AO90 foi gerado e criado no Brasil pelo enciclopedista brasileiro Antônio Houaiss, para unir as ortografias, ou seja, para que Portugal começasse a escrever à brasileira, porque eles são milhões blábláblá... blábláblá... Porém, eles lá não abdicaram dos acentos circunflexos, em Antônio, Amazônia, topônimos, enfim uma salgalhada dos diabos. Querem enganar quem?????? O documento do AO90, nem para estrumar uma terra infértil serve.
O Pedro Penha é que disse bem: o AO90 foi uma medida colonialista fora do tempo, uma fazedora de analfabetos funcionais, a começar pelos governantes que nos impuseram e continuam a impor tal palermice.

Decididamente o a.galrinho é adepto da simplicidade linguística. Ora isso é um sintoma muito comum entre aqueles que, não tendo nenhuma capacidade para PENSAR a Língua, precisam de a reduzir ao mínimo, para poderem escrevê-la ainda que, mesmo assim, mal.
Uma escrita que se aproxime da fala é a escrita das gentes primitivas.
Não se andou milhares de anos a aprimorar a Linguagem do Homem, para virem agora uns omens que, devido a uma incapacidade atávica, querem recuar a tempos em que se faziam desenhos para que o outro percebesse o que se estava a dizer.
Isto só acontece porque existem dois países no mundo, Brasil e Portugal, com mais ignorantes por metro quadrado. Por este motivo, foram os dois únicos países do mundo que fizeram mais acordos ortográficos, e ainda assim, inutilmente...
Isabel A. Ferreira
Os comentários foram retirados daqui
Introdução:
Porque considero este artigo de Nuno Pacheco de importantíssimo interesse público, até porque destaca certos aspectos que gostaria de esmiuçar, ouso reproduzi-lo neste Blogue, cumprindo todas as regras dos créditos jornalísticos, para que chegue aos leitores d’O Lugar da Língua Portuguesa – um repositório de tudo o que importa acerca da nossa Língua – os quais estão dispersos por 160 países, de todos os continentes, e que vão seguindo e consultando os textos que aqui são publicados.
Espero que Nuno Pacheco não me leve a mal, até porque tem sido um acérrimo defensor da Língua Portuguesa.
As minhas observações estão entre parêntesis rectos [...], em itálico e a negrito.
Regressarei com a Parte II, para esmiuçar os comentários ao texto do Nuno Pacheco.
Isabel A. Ferreira

Em português, se faz favor. Muito bem; mas qual deles?
Quando falamos de língua portuguesa, o que nos divide não são as diferenças; é, infelizmente, e quase sempre, a estupidez.
Sempre que a língua portuguesa vem à baila, seja em entrevistas, textos ou artigos de opinião, avolumam-se leitores e comentários. O que é bom sinal, dada a relevância do tema. Com uma ressalva: seria melhor se não encalhássemos sempre nos dilemas do costume, que são estes: o que é “português certo” e “português errado”, sem olhar às culturas nem às geografias, como se houvesse uma única norma-padrão internacional; e o fantasma do Acordo Ortográfico de 1990.
A primeira frase do título desta crónica é assumidamente decalcada de um muito recomendável livro de Helder Guégués, tradutor e revisor, que nele se ocupa de “questões de regência verbal, ortografia, pronúncia, concordância, formação do plural, modismos e mau uso” do idioma na escrita – já que a fala, como se sabe, é outro assunto e é frequentemente indomável. O prefácio de Fernando Venâncio e o posfácio de Desidério Murcho sublinham-lhe a utilidade e interesse.
Ora este livro, como muitos outros, vem lembrar-nos de que a escrita tem regras e, sim, há erros que é melhor evitar a bem da clareza da comunicação e da saúde do idioma. Posto isto, convém recordar que o português, tal como o conhecemos, tem um percurso no país que lhe deu nome (derivando o nosso idioma do galego e dele se afastando a partir do século XV) e outros, bem diferentes, naqueles aonde chegou por imposição colonial como contraponto às línguas locais.
***
[“Derivando o nosso idioma do galego e dele se afastando a partir do século XV”, diz o Nuno Pacheco. Aqui tenho de concordar com o Henrique Duarte, que num comentário disse o seguinte:
Henrique Duarte
Moderador
«(...) derivando o nosso idioma do galego e dele se afastando a partir do século XV» É errado dizer que o português deriva do galego. O português deriva da língua falada antigamente no Norte de Portugal e na Galiza, a que se pode chamar de galego-português, galaico ou, quando muito, galego antigo. Galego nunca, pois galego é outra coisa muito diferente. É a língua falada atualmente (cada vez menos, infelizmente) na comunidade autónoma chamada de Galiza, que está fortemente castelhanizada, na sintaxe, no vocabulário, etc., e que por isso é depreciativamente designada por "castrapo". Esperaria outro rigor da sua parte, Nuno Pacheco.»
... embora o Henrique Duarte também esteja equivocado quando diz que «É a língua falada atualmente (cada vez menos, infelizmente) na comunidade autónoma chamada de Galiza, que está fortemente castelhanizada, na sintaxe, no vocabulário, etc.»
Não, não é bem assim. O Galego é actualmente Língua Oficial da Região Autónoma da Galiza, juntamente com o Castelhano (não o Espanhol, porque o Espanhol não existe em Espanha como Língua, e o Galego está de boa saúde, na Galiza.)
O equívoco do Nuno Pacheco, talvez venha do facto de ter lido o livro de Fernando Venâncio «Assim Nasceu uma Língua». Fernando Venâncio também estava equivocado, porque foi beber a fontes a que os que querem amesquinhar a Língua Portuguesa também foram beber, tendo distorcido a História.
O Português é uma Língua-gémea do Galego, o dialecto Galaico-Português, oriundo do Latim vulgar, que os povos da Galécia (Gallecia romana) antepassados dos Galegos e dos Portugueses actuais partilhavam, e cuja história está deliciosamente contada no livro «Historia da Lingua Galega», da autoria dos insignes mestres galegos Xosé Ramón Freixeiro Mato e Anxo Gómez Sánchez, que não estão ao serviço de ninguém, a não ser da Galiza. Um livro que todos os que se interessam pela Língua Portuguesa deviam ler.
Aqui deixo o link para o livro, escrito em Galego, mas quem souber Português a fundo, lê-o perfeitamente.
https://www.goodreads.com/book/show/38621990-historia-da-lingua-galega#CommunityReviews
Vejamos a este propósito o que diz o nosso maior dialectologista, José Leite de Vasconcelos: «Nos dois lados do Rio Minho desenvolveu-se do Latim vulgar da Lusitânia, nos primeiros séculos da era cristã, uma língua substancialmente uniforme, embora, talvez desde sempre, com algumas particularidades dialectais. Por causa das vicissitudes políticas da Galiza e de Portugal, da Idade Média em diante, essas particularidades foram aumentando com o tempo, e constituíram depois o Galego e o Português, embora o Português seja forma principal, como Língua de nação autónoma órgão de rica literatura.» (Textos Arcaicos, p. 120, 3ª edição). Foi com Dom Dinis, que o Português seguiu o seu caminho separado do Galego.]
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Foi o que sucedeu no Brasil ou nas então colónias de África, onde numerosas línguas locais foram silenciadas ou até proibidas em nome da língua do colonizador. Com as independências, chegando primeiro a do Brasil, em 1822, e muito mais tarde as de Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde (independentes há 50 anos, o que agora celebram), e tendo cada país as suas leis, bandeiras, hinos, regras e culturas, natural seria que o português, língua que adoptaram como oficial, tomasse em cada um deles o seu rumo, não só com palavras novas ditadas por cada cultura como, eventualmente, novas regras lexicais e gramaticais.
Pôr o português daqui (que já é tão diverso, com os seus coloquialismos e regionalismos) em confronto com as suas mutações noutros países é coisa que nos deveria aliciar, interessar, e não indignar, levantando de imediato a bandeira do “português certo” ou “português correcto” para afastar, com desprezo, as diferenças que naturalmente se foram desenvolvendo noutros lugares.
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[A este respeito, a indignação não vem do facto de o Português ser ou não ser correcto neste ou naquele país. Vem do facto de terem mudado a Estrutura do Português, no que à Fonética, Fonologia, Escrita, Ortografia, Léxico, Morfologia, Sintaxe e Semântica diz respeito, e continuarem a chamar-lhe Português, quando o correcto seria dar-lhe outra designação, e não pretender, por questões meramente político-jurídicas-económicas, que a Variante Brasileira do Português, (porque é disto que se está sempre a falar, até porque as outras ex-colónias nunca são chamadas à liça sobre esta matéria) seja designada como Português, inclusive andar na Internet a representar o Português com a bandeira brasileira.
A linguagem da Variante Brasileira do Português é perfeitamente correcta, uma vez que o Brasil, tendo optado por pôr – veja-se neste exemplo a importância da acentuação, e pensemos no para para, introduzido pelo AO90 – de lado as regras gramaticais, e enriquecendo-a com as Línguas e dialectos indígenas brasileiros, e dialectos africanos levados pelos escravos – o termo escravizados não se aplica neste âmbito, e agora há um modismo que “proíbe” usar a palavra escravo, como se os escravos nunca tivessem existido, desde as mais remotas civilizações – e, acrescentando-lhe a deslusitanização da Língua do ex-colonizador, mudaram o rumo da Língua Portuguesa.]
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Quando o professor brasileiro Caetano Galindo, em entrevista recente ao PÚBLICO (que muito comentada foi), dizia que só agora o Brasil estava a aperceber-se de que a sua fala e escrita não configuravam um “português errado”, mas sim o português que o Brasil moldou à sua imagem, houve quem o compreendesse e também quem se indignasse ou ironizasse com tal observação. Recordemos o que ele disse, a frase completa: “Só agora se começa a perceber que não estamos falando português errado, não estamos falando incompetentemente a língua da Europa, porque não há português errado nem português certo, nem nas variedades que existem no Brasil nem nas inúmeras variedades que existem em Portugal.”
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[Aqui concordo com o professor Caetano Galindo, quando diz «Só agora se começa a perceber que não estamos falando português errado, não estamos falando incompetentemente a língua da Europa, porque não há português errado nem português certo, nem nas variedades que existem no Brasil nem nas inúmeras variedades que existem em Portugal.» Não, não estão falando um Português errado, porque não estão falando sequer Português, estão falando a Variante Brasileira do Português, e designando essa linguagem deste modo, é óbvio que estão a articulá-la correctamente.]
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Independência ou morte? Não, independência e língua. Podia o português do Brasil chamar-se, por mera decisão política, “brasileiro” (e há quem levante, sem êxito, tal bandeira há anos), que isso não alteraria a sua real condição: a de um idioma, o português, que ganhou características próprias num outro continente, e que com elas tem produzido excelentes obras nos mais variados domínios das letras e das outras artes.
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[Aqui discordo do Nuno Pacheco, pois já não existe o Português do Brasil, a partir do momento em que o enciclopedista brasileiro Antônio Houaiss deslusitanizou (e o termo é dele) o Português, afastando-o das suas raízes portuguesas, greco-latinas, indo-europeias, e quando isso acontece, a Língua terá de ter outra designação, tal como a já Língua Cabo-Verdiana, que é oriunda do Português, mas já não é Português de Cabo Verde. E não vejo que mal venha ao mundo se tal acontecesse, e as ex-colónias terem uma Língua própria, enriquecida pelos Dialectos e Línguas locais tão diferenciados do Português. É preciso viver e principalmente estudar no Brasil para perceber que, lá, o Português diluiu-se por entre tanta miscelânea de línguas, dialectos e falares dos muitos povos que lá se fixaram, e aqui estou a pensar na Língua Italiana, que tanto se impôs na linguagem falada e escrita no Brasil, e darei apenas um exemplo, mas há muitos mais: Netuno].
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Isso põe em causa o português de Portugal? De maneira nenhuma, tal como o inglês dos Estados Unidos da América não pôs nem põe em causa o inglês de Inglaterra — e tantas diferenças têm, na fala como na escrita. O erro é sempre tentar afunilar as diferenças numa espécie de idioma padrão, que não existe nem existirá nunca, por mais que bramem os paladinos da “unificação”. Esse foi o erro do chamado Acordo Ortográfico de 1990, como lembrou, e bem, José Pacheco Pereira na sua mais recente crónica, “O desprezo da pátria por via do desprezo da língua”.
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[Aqui volto a discordar do Nuno Pacheco. Claro que põe em causa a Língua Portuguesa – dizer Português de Portugal soa a redundância.
Não podemos comparar o que se passa com as ex-colónias inglesas e também espanholas, por exemplo, com o que se passou no Brasil. A Língua Inglesa não foi desinglesada em nenhuma ex-colónia, e a Língua Castelhana não foi descastelhanizada, e nenhuma dessas ex-colónias pretendeu impor aos Ingleses ou aos Espanhóis as poucas diferenças existentes entre as suas Variantes que passam quase despercebidas em relação à Língua Inglesa e ao Castelhano. Porém, a Variante Brasileira do Português não passa despercebida, principalmente na oralidade, em relação ao Português. Há este pormenor que é preciso ter em conta.]
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Graças a tal erro, que não unificou coisa alguma e que, pelo contrário, acirrou animosidades, ouvimos por estes dias locutores de televisão, a propósito do roubo no Louvre, pronunciarem “jôias” (retorno da escrita sobre a fala, pela perda do acento agudo em “jóia”, como antes se escrevia em todo o espaço da língua portuguesa); e temos, entre as várias palavras que vão a votos para “Palavra do Ano” (iniciativa da Porto Editora) uma coisa que, mercê de tal acordo, só existe mesmo em Portugal: “Perceção.” Isto quando o Brasil continua a escrever “percepção”. Não, o que nos divide não são as diferenças; é, infelizmente, e quase sempre, a estupidez.
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[Os vocábulos que em Portugal perderam a consoante muda, mas no Brasil não, como “perceção”, que no Brasil escreve-se à portuguesa, percePção, deve-se de facto à estupidez. No Brasil há umas poucas palavras mais que os Brasileiros escrevem à portuguesa, simplesmente porque pronunciam as consoantes mudas, porém, há uma questão a pôr: qual o critério que levaram Brasileiros, mas também Portugueses, a pronunciarem alguns cês e pês, em determinadas palavras e não noutras? Temos o exemplo de Egito. Não é da estupidez grafar Egito sem pê, e escrever todas as suas derivadas com pê? Sempre pronunciei o pê de EgiPto, por coerência linguística. Esta é uma das incoerências dos acordos ortográficos que já se fizeram entre Brasil e Portugal, e por mais acordos que façam ainda não acertaram as agulhas, e jamais acertarão.
Daí a necessidade de cada país ficar com a sua Língua: a quase nonagenária Língua Portuguesa para Portugal, o seu berço, e a nova Língua gerada no Brasil, a partir do Português, a Variante Brasileira do Português, ou Língua Brasileira, ou Brasilês, para o Brasil.]
Isabel A. Ferreira
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Fonte do artigo de Nuno Pacheco:
https://www.publico.pt/2025/11/06/opiniao/opiniao/portugues-faz-favor-bem-2153373
O texto de Outubro (o 85.º da série “Em Defesa da Ortografia”), na linha dos recentes antecessores, apresenta, exactamente, as mesmas características.
A aposta continua a ser a de apresentar diálogos, por vezes absurdos, de teor humorístico, que exemplificam a fantochada do AO90, pondo a nu as suas fragilidades, as suas incoerências e a sua completa ausência de lógica.
Os termos a vermelho indicam formas alteradas pelo AO90. As formas a verde, quando ocorrerem, referem grafias do Acordo Ortográfico de 1945, que, nalguns casos se mantêm como duplas grafias. A azul, temos os casos de hipercorrecção, potenciados pela aplicação do Acordo Ortográfico de 1990.
IL
— Estou tramado…
— Porquê?
— Sou arguido num processo que envolve contrafaç
— Contrafação? Então não te preocupes. Quase nem precisas de advogado. Não aplicas o Acordo Ortográfico
— Aplico!
— Então, basta dizeres isso. Crime é a contrafacção. É curioso que “Contrafacção” é o título de uma canção de Sérgio Godinho. Prova-se, assim, que o homem, além de bom compositor e cantor, tem bom gosto ortográfico.
L
— O casamento entre o Raul e a Catarina terminou de forma abruta.
— Qual deles vai ser acusado de violência doméstica?
— E quem falou em violência?
— Tu! Não disseste que foi à bruta. Abrupta é outra coisa, como devias saber. Cortar consoantes a eito dá nisto.
LI
— O que é o trabalho nocturno?
— É o que é feito no turno da noite (do latim nocte).
— Faz sentido manter o cê, por essa razão.
— Pois faz, mas agora com o AO90, é, de poda em poda, até à destruição final e lá nasce o estropício: noturno.
— E noctívago? Ainda leva cê?
— Quase nunca. A Infopédia assume-a como dupla grafia, notívago e noctívago, ao contrário de outras fontes.
— E noctâmbulo e noctilúcio?
— Continuam com cê.
— Não percebo estas incoerências, nem essas coisas das fontes.
— Acho que, pelo menos, esta parte do AO 90 foi redigida de noite e às escuras…
LII
— Já sabes o tema do teu trabalho?
— Já sei, já.
— O que te saiu?
— O Pato de Varsóvia.
— Calma aí… O trabalho não é da disciplina de História? Ou é de Zoologia?
— É de História. O professor é que corta consoantes a eito. É um poupador, percebes?
— Tem literacia financeira. Falta-lhe a outra…
LIII
— Por onde tens andado, pá? Não te tenho visto.
— Ando ocupadíssimo a pedir orçamentos para o batizado do meu filho. Só tenho recebido propostas muito altas, na ordem dos 80 euros por pessoa.
— Olha aqui. Esta empresa organiza toda a cerimónia do baptizado e cobra só 75 euros por pessoa.
— O que te parece? Se fosse contigo, o que farias?
— Eu optaria pela empresa que organiza o baptizado. Penso que dá outras garantias. Certamente, com mais uma consoante, é uma cerimónia mais completa.
LIV
— Esta noite tive um sonho estranhíssimo.
— Sonhaste com extraterrestres?
— Nada disso! Sonhei que era acionista da SAD.
— Isso é mesmo pensar em pequenino!
— Porquê?
— Digno de admiração era se sonhasses ser accionista. Isso é que não é para todos!
LV
— O que te disse o professor sobre a composição?
— Disse que não referi todos os aspetos necessários.
— Espetos? Então a composição era sobre gastronomia ou sobre Alterações Climáticas?
LVI
— O meu neto é extraordinário!
— Então porquê?
— Sabe tudo sobre futebol. Lê tudo o que é publicado nos jornais e nas revistas. Está sempre atualizado.
— Estás enganado! Para saber tudo, teria de estar actualizado. Não é bem a mesma coisa…
LVII
— Ó pai, olha, olha…
— Olho o quê, Rafael Alexandre?
— Tantas palavras…
— Onde? Tenho mesmo de trocar de lentes. Não vejo nada.
— Ali, à porta da Associação dos Espoliados pelo AO 90. Ação, acionar, acionável, acionista, ativar, reação… Todas sem cê. Estão a protestar.
— E o que querem?
— Querem a devolução do que lhes tiraram, ora essa!
LVIII
— Que porcaria, pai. Está tudo cheio de cocó de cão.
— Pois está.
— Mas naquele cartaz pede-se que as pessoas recolham os dejetos dos cães.
— Esse é que é o problema, Rafael Alexandre.
— Não percebo…
— As pessoas levam os dejetos, mas deixam os dejectos. Não é bem a mesma coisa.
LIX
— Trouxeste o que te pedi?
— Aqui está.
— Mas isso é líquido assético.
— Não foi o que pediste?
— Não. E quanto é que pagaste?
— Dois euros.
— Isso é o preço habitual do líquido asséptico, que é muito melhor.
LX
— A minha namorada tem agora um rabo-de-cavalo.
— Passou a frequentar um ginásio?
— Não. Mudou de cabeleireiro, meu estúpido!
Ah, as imagens que acompanham este escrito (primeiras páginas de jornais desportivos, exemplificam o que muitos sabem, mas poucos denunciam.
Como se lê:
Horta para o estágio?
O que significa?
O jogador Horta vai para o estágio ou vai interromper o estágio?
Como se lê:
Melhoria salarial para o avançado?
O avançado vai usufruir de uma melhoria salarial ou vai ser parado por ela?
Ah, Manuel Monteiro publicou no jornal Público um interessantíssimo artigo com o título “Os benefícios da leitura”. Como sempre, vale a pena ler.
João Esperança Barroca


Vem isto a propósito de mais um texto da autoria do linguista brasileiro José Luís Landeira, publicado no jornal PÚBLICO, sob o título «Brasil, Portugal e as gramáticas da língua portuguesa» no passado dia 21 de Setembro, o qual comete alguns deslizes, chamemos-lhes assim, na avaliação histórica e linguística da Língua dos Portugueses, e que esmiuçarei numa próxima ocasião.
E o pior é que a Língua dos Portugueses continua a ser motivo de discussões ocas e absolutamente inúteis, baseadas em premissas falsas, inventadas por quem quer, porque quer, que o Português seja uma coisa que não é, tenha uma origem que não teve, só para preencher a lacuna da compreensão da Linguagem, que os Brasileiros falam e escrevem, considerando erradamente que é um "português brasileiro", quando não passa da VARIANTE brasileira do Português, algo completamente diferente. Português Português fala e escreve a elite culta de Angola, por exemplo.
E ainda pior do que isto é considerarem que existe DUAS variantes do Português: a brasileira e a europeia, quando, a bem da verdade, o que existe é a Língua Portuguesa (Português), a Língua dos Portugueses, e a sua variante brasileira, que é tão válida quanto as variantes de todas as outras Línguas que os ex-colonizadores plantaram por esse mundo fora. O Português NÃO é e jamais será uma variante de si mesmo. Dizer isto é da estupidez.
Por que motivo esta questão da Língua é apenas esgrimida entre Portugal e Brasil? Porque são os dois países onde existem mais ignorantes por metro quadrado.

O Português que os Brasileiros aceitaram como Língua Oficial depois da Independência, em 1822, sofreu várias influências, entre elas as das Línguas indígenas e as dos escravos africanos, as dos povos que se foram fixando no Brasil, mas também da tendência de os Brasileiros abrasileirarem uma infinita quantidade de vocábulos pertencentes à Variante Americana do Inglês, e deslusitanizarem [o termo e a ideia são do enciclopedista brasileiro Antônio Houaiss] o Português com a intenção de o afastar da Língua do ex-colonizador, castelhanizando-o, italianizando-o, afrancesando-o, de tal modo que deixou de ser Português para ser uma sua Variante: uma linguagem que deriva do Português, um dialecto, um crioulo, muito evidenciado na fonética. Além do distanciamento da fonética e da ortografia em relação ao Português, os Brasileiros ainda lhe introduziram mudanças no léxico (todas as palavras que puderam ser alteradas para se afastarem do Português, foram desfiguradas: umidade, anistia, onipresente, onívoros, balé, entre muitas, muitas outras), na morfologia, na sintaxe e na semântica.
Depois destas alterações intencionais, o que era da honestidade fazer, sendo a Língua Portuguesa um dos símbolos identitários de Portugal, país livre e soberano, que estava a ser usada pelos Brasileiros, apenas porque a escolheram para Língua Oficial? Não era continuar a chamar-lhe “Português” ainda que do Brasil, porque não era mais Português. O que era então da honestidade fazer? Era mudar-lhe o nome para Língua Brasileira (oriunda do Português), como fizeram os Cabo-verdianos com o seu Crioulo, oriundo do Português, que agora é a Língua Cabo-Verdiana.
É que uma coisa são as Línguas oficiais dos países, outra coisa é a linguagem que realmente se fala nesses mesmos países, e que nem sempre são coincidentes com a Língua Oficial, imposta pela via política.
O José Luís Landeira está na linha de alguns professores brasileiros que tive, quando estudei no Brasil. Pelo motivo mais torpe, o de amesquinhar Portugal, a história da colonização portuguesa e a Língua que eles escolheram depois da independência [porque não adoptaram uma das Línguas Brasileiras indígenas, as verdadeiras línguas brasileiras?] inventaram teorias improváveis e adaptaram o facto histórico às conveniências do Brasil, desprezando os factos históricos, e, pior, continuam a espalhar essas falsidades nas escolas, e agora na Internet, sem que ninguém lhes faça frente.
Quem está a ler este meu texto quer que eu lhe diga uma coisa espantosa? Portugal está cheio de uma elite intelectual, principalmente linguistas, que com um medo bacoco de serem apodados de xenófobos e racistas, ou por mero comodismo, calam-se perante as idiotices que os brasileiros vão disseminando por aí, como sendo verdades, verdade deles, que prevalece sobre os factos históricos e linguísticos. O que significa que a nossa República é mesmo uma República DOS Bananas.
Não me incluo nesta República, porque eu não me acomodo, nem tenho medo que me apodem de racista e xenófoba. Sabem porquê? Porque eu sei que NÃO sou nem racista, nem xenófoba. Sou apenas uma defensora da minha Língua Materna, o meu mais precioso instrumento de trabalho. E este é um direito que me assiste.
Isabel A. Ferreira

João Esperança Barroca
O 82.º escrito da série “Em Defesa da Ortografia”, na linha do artigo de Junho, apresenta as mesmas características do seu antecessor.
A aposta continua a ser, agora, a de apresentar diálogos de teor humorístico que exemplificam o rotundo falhanço do AO90, pondo a nu as suas incoerências e a completa ausência de lógica.
Os termos a vermelho indicam formas alteradas pelo AO90. As formas a verde, quando ocorrerem, referem grafias do Acordo Ortográfico de 1945, que, nalguns casos se mantêm como duplas grafias.
XIII
— Vou abrir uma alfaiataria.
— Tens a certeza de que é um investimento rendível?
— Claro! Até o Diário da República, nos últimos anos, como o mostra o Francisco Miguel Valada, está cheio de fatos. Queres melhor sinal?
— E tens a certeza de que são todos fatos de vestir?
XIV
— A minha mulher, que está sempre com modernices, vai fazer uma redução mamária com um cirurgião estrangeiro. Diz que vai ficar com melhor aspeto.
— Já tu especializaste-te em fazer reduções estúpidas. Primeiro no cérebro e depois na ortografia. Ou terá sido ao contrário?
XV
— Estive agora a ler, no jornal Público, que os agricultores estão na rua com os seus tractores, de norte a sul do país, para reclamar valorização do sector e condições justas, num protesto que deverá bloquear várias estradas.
— Faz sentido. Se tivessem levado os tratores, teriam muito menos impacto, ou impato, como já se ouve por aí…
XVI
— O meu filho é muito impetuoso, mas também extremamente afetuoso. É muito sensível e qualquer tragédia o deixa muito afetado.
— Já pensaste levá-lo ao médico?
— Que médico?
— Estomatologista, é claro! Não disseste que ele anda cheio de aftas?
XVII
— Estou furibundo.
— Porquê?
— Fui multado.
— Como é que te aconteceu isso?
— É muito fácil explicar como foi. Ia a caminho da máquina para tirar o talão e li numa placa “Máquina para pagamento”. Como aplico o coiso ortográfico, entendi que a máquina parava o pagamento. Por isso, fui à procura de outra máquina, mas não encontrei nenhuma.
— Eu bem te avisei que adoptar o AO90 era sinal de estupidez. Como vês, saiu-te cara a modernice.
XVIII
— O meu primo, que é brasileiro, vem trabalhar para cá como rececionista. Conheces alguma oferta de emprego aqui perto?
Não, não conheço nada. E o teu primo tem alguma experiência nessa área?
— Só sei que no Brasil era recepcionista num hotel. Que eu saiba, não é a mesma coisa. Parece-me até muito mais completo.
XIX
— Nunca negociarei sob coação!
— Eu também não. Debaixo do coador, corro sérios riscos de ficar com o fato molhado. O preço das limpezas a seco está pela hora da morte.
XX
— Deparei-me há dias com a palavra fatura. Não percebi o que significa. Não consegui entender se é uma fractura nos dedos, pois dizia lá “fatura digital”.
— Não te posso ajudar porque também não sei. Talvez, seja uma espécie de miacoutismo.
— Que raio de coisa é essa?
— É a criação de novas palavras a partir de outras já existentes.
— Então, a fatura poderá ser uma fartura pouco estaladiça?
XXI
— Por causa da recessão, adiei as obras na receção.
— O quê? Que estás a dizer? Não percebo nada.
— É a novilíngua, estúpido.
— Seja lá o que for, não percebo.
— É a maravilhosa língua unificada.
— Continuo sem perceber!
— Se queres que seja franco, também não sei explicar-te. Aprendi este palavreado e que a língua evolui…
XXII
— Andas acabrunhado, pá. Passa-se alguma coisa?
— Tenho uma disfunção erétil.
— Isso não é grave. É uma disfunção ligeira.
— O que percebes de urologia para dizeres isso?
— Se é erétil, é ligeira e localizada. Grave e mais disseminada seria se fosse eréctil. Assim é que terias um problema preocupante.
XXIII
— Há dias, li num cartaz a palavra táctil. Como não a entendi, consultei o dicionário.
— O que é que dizia?
— Que é um adjectivo uniforme, derivado do latim tactile e que se refere a tato.
— É curioso! Já eu procurei o sentido de tátil.
— O que é que dizia?
— Que é um adjectivo uniforme, derivado do latim tactile e que se refere a tato.
— Não percebo. Será a mesma coisa?
— Talvez, mas com menos tacto, seguramente.
XXIV
— O meu pai foi ao Egito e trouxe-me vários artefatos indígenas.
— São mesmo egícios esses artefatos?
— São, são.
— E são esculturas?
— Não, pá! São fatos de artista ou fatos feitos com arte.
Ah, a página de Facebook dos Tradutores Contra o Acordo Ortográfico de 1990 continua a publicar imagens elucidativas do caos ortográfico que se instalou.
Ah, Maria do Carmo Vieira publicou no jornal Público um excelente artigo de opinião intitulado “O acordo ortográfico e ‘a sonolência passiva’ que silenciou o espírito crítico”. Como é habitual, vale a pena ler. Por essa razão, aqui deixamos um excerto razoavelmente extenso: “Antes de se decretar o que os Portugueses nunca haviam pedido e tinham sistematicamente ignorado, escrevia-se, naturalmente, ‘acto’, ‘recepção’, ‘concepção’ ou ‘retractar’, entre muitos exemplos, vocábulos agora truncados na sua marca etimológica que determinava a abertura da sílaba. Não admira, pois, que esta alteração ao ‘traje’ da palavra tenha prejudicado a sua leitura, dando azo a distorções, escritas e ouvidas. Realce-se os vocábulos ‘recepção’ ou ‘concepção’ que, pelo ‘critério da pronúncia’, se mantêm assim, no Brasil, alterando-se, em Portugal, para ‘receção’ ou ’conceção’, num evidente desmentido da ‘unidade ortográfica’ pretendida. No caso de ‘retractar’, o equívoco, que toda ortografia pretende eliminar, é notório porque agora tudo é ‘retratar’.
Ah! Quando tiver dúvidas, faça como os jornalistas de revista Flash: numa ocorrência, grafe a consoante dita muda; noutra, omita-a. Nalgum caso, há-de acertar.
João Esperança Barroca


By Rui Valente in acção, Media
13 de Maio de 2025
Nota prévia: este é um artigo que surge passados quase três anos sobre a última entrada nesta página. Foi — e continua a ser — um tempo de luto e um tempo de repúdio. Repúdio pela forma como esta ILC foi tratada pelas instituições que mais deviam defendê-la, repúdio pela visão do estropício que é hoje o Português Europeu. Luto pela “apagada e vil tristeza” em que vive hoje a nossa Língua, luto pela morte do João Pedro Graça, criador e primeiro subscritor desta ILC contra o Acordo Ortográfico.
Apesar de tudo, este tempo foi também — e continua a ser — um tempo de luta. Durante dois anos e quase onze meses os visitantes desta página foram recebidos pelo título de um artigo de Nuno Pacheco no jornal “Público” que incluía a frase “por que não desistimos”. É muito simples: tal como o AO90 nunca irá, por milagre, transformar-se numa coisa boa, também nós não podemos deixar de lutar contra ele. Enquanto houver luto, haverá luta.

Iniciativa Legislativa de Cidadãos Contra o Acordo Ortográfico avança com acção no Supremo Tribunal Administrativo contra Assembleia da República
No passado dia 9 de Maio de 2025, foi entregue no Supremo Tribunal Administrativo uma acção judicial contra a decisão da Assembleia da República (“AR”) e do respectivo Presidente de não agendar para debate e votação em plenário a Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico (“ILC-AO”), subscrita por mais de 20 mil cidadãos. Trata-se, em particular, de uma Acção Administrativa de Impugnação de Acto Administrativo e Condenação à Prática de Acto Administrativo Devido.
Esta acção visa repor o respeito pelo direito constitucional de Iniciativa Legislativa e denunciar o bloqueio político e jurídico que impediu o debate desta proposta, apesar de ter sido formalmente admitida pela AR como conforme à lei e à Constituição. Em vez de a agendar no prazo de 30 (trinta) dias, como a lei obrigava, a AR esgotou largamente esse prazo legal. Foram precisos mais de dez meses para que o Parlamento finalmente ponderasse o seu agendamento para debate — mas não sem antes promover uma alteração da Lei que regulamenta as ILC feita à medida para inviabilizar esta Iniciativa Legislativa.
Essa alteração é, ela própria, inconstitucional, tendo em conta que subverte um poder de decisão que é competência do Presidente da AR — com a agravante de, neste caso, ter sido aplicada retroactivamente a uma ILC que já existia, violando a confiança dos seus mais de 20 mil subscritores, a segurança jurídica e o direito de participação democrática.
De forma intelectualmente desonesta, tentou-se ainda fazer crer que a ILC-AO pretendia a desvinculação internacional de Portugal do Acordo Ortográfico de 1990 — argumento falso e usado para justificar o bloqueio — quando, na verdade, a proposta se limitava a revogar a Resolução da AR n.º 35/2008: o artifício legislativo criado para apressar a entrada em vigor do Acordo em Portugal sem a ratificação de todos os Estados da CPLP, como o próprio Acordo Ortográfico até então exigia.
Mais de uma década depois, o Acordo Ortográfico revelou-se um fracasso: dividiu as variantes do português, destruiu referências ortográficas estáveis, nunca foi aplicado de forma uniforme entre Portugal e o Brasil e continua por ratificar em vários outros países de expressão oficial portuguesa. Foi-nos imposto sem um verdadeiro debate público e reduziu a Língua Portuguesa a mero índice económico e instrumento de política externa, sem qualquer respeito pela sua carga identitária e pela sua importância enquanto factor de coesão social e linguística.
Esta acção pretende defender a legitimidade da causa da ILC-AO contra um Acordo Ortográfico que foi imposto de forma abusiva e nunca mereceu verdadeira aprovação democrática. Mas, em rigor, o alcance desta acção transcende o simples âmbito da ILC-AO — é a própria figura das ILC enquanto direito fundamental consagrado na Constituição que está em causa. Neste contexto, esta acção é também um imperativo de defesa do nosso direito de participação cívica contra o abuso de poder e a opacidade de quem devia honrar os direitos constitucionais dos cidadãos.
Em plena campanha para as Legislativas de 2025, é ainda uma oportunidade para os partidos se pronunciarem sobre o futuro da Língua Portuguesa e sobre as divisões, a confusão e o descrédito que o Acordo Ortográfico continua a causar na sociedade portuguesa, nomeadamente a nível educativo, numa altura em que é patente a necessidade de uma maior exigência e rigor no ensino.
A Comissão Representativa da ILC-AO está disponível para prestar esclarecimentos adicionais através do e-mail
henriquelopesvalente@gmail.com.
(transcrição integral de comunicado enviado no passado dia 13 de Maio de 2025 para a Comunicação Social)
AO90, Assembleia da República, Causa, divulgação, ILC, Português
Fonte: https://ilcao.com/
Recupero, hoje, um texto escrito, pelo Embaixador Carlos Fernandes que, recordo, era Licenciado em Direito, pela Universidade de Lisboa, Professor de Direitos Internacionais (Público e Privado), com vários livros publicados sobre estes temas, em Portugal, no México, e no Anuário do IHLADI; decano dos membros portugueses deste Instituto Hispano-Luso-Americano de Direito Internacional, de que foi presidente; e Embaixador da carreira diplomática com longa experiência de negociação e conclusão de vários acordos internacionais, portanto, não era um qualquer engenheiro e político, economista e político, advogado e político, que pouco ou nada sabe de leis nem tão-pouco de política.
O Embaixador era alguém com consideráveis conhecimentos jurídicos que publicou o livro «O Acordo Ortográfico de 1990 Não Está em Vigor – Prepotências do Governo de José Sócrates e do Presidente Cavaco Silva» que, pelo que se vê, nenhum dos políticos envolvidos na imposição, à força, do AO90 aos Portugueses, bem como a maioria dos Portugueses nunca leram, tendo optado pela ignorância, e pior, andam a disseminá-la por aí, como uma praga, e a fazerem uma triste figura.

Comentário:

O texto foi publicado em 20 de Fevereiro de 2016, no Jornal PÚBLICO, e explica, com muito fundamento jurídico que, “de jure”, o AO90 NÃO está em vigor em Estado nenhum, dos que têm o Português como Língua Oficial.
Recupero-o, hoje, porque já estou farta de ouvir a cassete acordista, por parte de pessoas que deveriam pensar por si próprias, mas preferem aceitar o que os outros dizem, sem saberem o que estão a dizer. Não lêem, não querem saber, nem ouvir, nem aceitar os factos.
E só não aceita este facto (não é uma opinião) quem não quer, quem opta pela ignorância ou quem está de muito má-fé.
Isabel A. Ferreira
***

«O AO90 não está em vigor em Estado nenhum»
O Acordo Ortográfico de 1990 não está em vigor, de jure, nem em Portugal, nem no Brasil, nem em Cabo Verde.
Sua Excelência o Embaixador do Brasil, que não sei se é jurista ou não, publicou, no Jornal PÚBLICO, em 9 do corrente, um artigo, dizendo que o Acordo Ortográfico de 1990 (= AO90) está em vigor em Portugal, Brasil e Cabo Verde, mas não explica como, e é pena.
Eu não sei se o texto é da sua própria autoria ou se é essencialmente do Itamaraty, mas vou-lhe responder como se fosse do Senhor Embaixador e fosse jurista.
Antes de mais, deixemos de parte o Brasil e Cabo Verde, para observar o seguinte: como é que o Senhor Embaixador do Brasil sabe que o AO/90 está a vigorar, isto é, a ser aplicado de jure em Portugal, que é um Estado de Direito? Porque eu, e muitos outros como eu, entendemos que não, e eu provo-o, como se pode depreender do meu artigo, que o mesmo Jornal publicou ao lado do Senhor Embaixador, e pode ser consultado integralmente na Internet, e melhor se verá num livro que, sobre o assunto, a Editora Guerra & Paz vai publicar brevemente.
A seguir, comento o artigo do Senhor Embaixador do Brasil na sua essência, porque, quem o ler, sem conhecer bem o problema, certamente perguntará: quem tem razão?, o Embaixador Carlos Fernandes, ou o Senhor Embaixador do Brasil?
A meu ver, não podem considerar-se correctas quer as premissas quer a conclusão da afirmação expressa pelo Senhor Embaixador do Brasil, porque entendo que o AO/90, não só não está a ser aplicado de jure em nenhum dos Estados signatários, como não poderá lá estar em vigor. Trata-se de questão complexa, que custa a entender a muita gente, porque há outros que a não querem entender.
Em minha opinião, o que Portugal, Brasil e Cabo Verde estão fazendo é sobrepor decisões políticas a soluções jurídicas. De facto, embora tendo motivação política, como é próprio de toda a acção de qualquer Estado, os acordos internacionais são instrumentos de Direito Internacional, e, consequentemente, depois de concluídos, é pelo Direito e não pela Política que têm de ser interpretados.
O AO/90, de 1990, exigia a unanimidade de aprovação final pelos sete Estados signatários, para, com o “vocabulário ortográfico comum”, entrarem em vigor. Não tendo podido entrar, negociou-se um 2.º Protocolo, em 2004, (já tinha falhado o 1.º), para modificar o AO90, o qual, em vez da unanimidade, impõe, para este entrar em vigor, a aprovação final por apenas três dos seus sete Estados signatários.
Porém, este 2.º Protocolo, ao modificar, retroactivamente, o texto do AO/90, esqueceu o vocabulário ortográfico comum, e não também diz quais são as aprovações finais (que reduz às ratificações, o que é, juridicamente, incorrecto) a ter em conta, se as feitas em 1991 (Portugal) e 1995 (Brasil), se outras a fazer (a mim, parece-me óbvio que só podem ser, de jure, outras a fazer).
Ora, depois do 2.º Protocolo, o AO/90, de 1990, deixou de existir, passando a existir, em substituição dele, um texto essencialmente diferente, em que a lógica da unanimidade é trocada pela ilógica suficiência de três aprovações finais para entrar em vigor.
Por outro lado, as antigas ratificações, de Portugal (1991), e do Brasil (1995), foram extemporâneas porque não ratificaram o vocabulário ortográfico comum, que não existia, como não existe ainda.
Portugal elaborou agora um vocabulário ortográfico, que não é comum. Não sei o que o Brasil e Cabo Verde fizeram. Ora, o que é que isto tem que ver com a exigência de um vocabulário ortográfico comum, feita pelo AO90?
Obviamente, nada, absolutamente nada.
Portanto, como é que algum jurista, ou apenas iniciado em lógica, poderá aceitar que ratificações, feitas em 1991 e 1995 (ademais, a meu ver, nulas, por extemporâneas), de um texto sem ser acompanhado do necessário vocabulário ortográfico, a ele inerente, poderão transportar-se, ad futurum, para valerem como ratificações, ao abrigo do 2.º Protocolo, de 2004, de um novo texto essencialmente diferente, e que continua a excluir o necessário vocabulário comum?!
É, para mim, óbvio que, para o modificado AO/90 poder entrar em vigor, tem de incluir o vocabulário comum, e ter nova aprovação final, isto é, feita agora, e não a feita antes, mesmo que fosse válida, o que, a meu ver, não é.
A língua portuguesa é hoje, oficialmente, de nove Estados, e já não só de Portugal e Brasil, e, em meu parecer, os governos não têm legitimidade para a modificar.
É o que também entendem a França, a Inglaterra e os Estados Unidos da América.
Embaixador
O Jornal PÚBLICO assinalou o seu 35.º aniversário com uma edição pensada pelo humorista brasileiro Gregorio Duvivier e com uma grande conferência internacional no CCB subordinada ao tema da Língua Portuguesa.
A iniciativa deixou os amantes da Língua de Portugal com a esperança de que essa conferência pudesse trazer uma luz brilhante que iluminasse as mentes obscurecidas pela ilusão de uma grandeza que nunca acontecerá, se continuarmos no registo de andarmos a arrastar-nos atrás dos milhões, como se os milhões falassem e escrevessem Português.
Francisco Seixas da Costa, o consultor estratégico, seja lá o que isto for, afirmou que «em Portugal, não temos uma dimensão para inserir a Língua Portuguesa no quadro internacional, por este motivo devemos cooperar mais com o Brasil».
Inserir a Língua Portuguesa (qual delas: a acordizada, a amixordizada ou a original?) no quadro internacional, com que objectivo? Com que necessidade? Quando sabemos que a ideia de internacionalizar a Variante Brasileira do Português, ou melhor, de ter a VBP como Língua Oficial da ONU, veio do Brasil. Contudo, a ONU não aceita as Variantes das Línguas, mas tão-só, as originais.
Então como introduzir a VBP na ONU? Obviamente através da muleta do ex-colonizador, mas para isso foi preciso destruírem a Língua Portuguesa e impor uma linguagem híbrida, que jamais poderá ser considerada Portuguesa.
A quem quer enganar Francisco Seixas da Costa? Devemos cooperar mais com o Brasil, para que o Brasil insira a Variante Brasileira do Português, mascarada de Português, na ONU, por conta da destruição do Português, que anda por aí a ser vendido e assinalado com a bandeira do Brasil, numa óbvia afronta a Portugal?
A intenção da Conferência não foi a que todos nós, amantes da Língua Portuguesa, esperávamos. Camuflada no facto de o Jornal PÚBLICO ainda manter um pé fora do AO90, porque o outro está dentro do AO90, esta conferência foi uma autêntica falácia.
Para que não julguem que o que acabei de dizer é apenas coisa minha, leiam o que me enviou Idalete Giga, uma das grandes livres-pensadoras e intelectuais portuguesas, que não sendo bajuladora, tal como eu, não poupa as palavras para dizer o que pensa, sobre os factos que ensombram e envergonham a nossa desventurada República DOS Bananas, e com a qual concordo plenamente, fazendo minhas as suas palavras:
«No CCB, na passada quarta-feira, sob a iniciativa do Jornal PÚBLICO, o tema escolhido, sobre a Língua Portuguesa, nos 35 anos do Público e nos 500 anos do nascimento de Camões, foi uma "bagunçada" e eu vou usar a palavra exaCta: fantochada! Em vez de se discutir seriamente o prejuízo causado pelo maldito, aberrante, absurdo AO/90, discutiu-se pomposamente o sexo dos anjos. Cada vez mais me envergonho dos políticos incompetentes e cobardes que estão de mãos dadas com os sinistros lobbies que impedem uma discussão séria, decente, científica sobre o maior atentado contra a Língua e Cultura Portuguesas. O PR é um traidor e tem assobiado para o lado perante os apelos de milhares de portugueses que querem a revogação do aberrante AO que foi um favor prestado a Lula da Silva & Ca.
A Língua Portuguesa merecia outra abordagem, outros convidados naquela pantominice vergonhosa. 😞😥😞

Acabei de responder a um amigo, perante as palavras do Gregório Duvivier -- o convidado de honra da fantochada no CCB.
Quando ouvi o Seixas da Costa, nem queria acreditar.
O acordês entrou pelos olhos daquela cambada toda.
A única pessoa que defendeu a Língua Portuguesa foi o Nuno Pacheco.»
***
Pois concordo em absoluto com a Idalete Giga.
E acabo este meu texto com um outro comentário que eu e a Idalete trocámos no Facebook, agora dominado por brasileiros, para que saibam que defender a Língua de Portugal é um acto revolucionário, que nada tem a ver com xenofobia ou racismo, mas com o dever cívico de qualquer português, quando, de má-fé, os estrangeiros metem o bedelho onde não são chamados.

Viva a Língua Portuguesa, a Língua de Portugal e dos Portugueses!
Quem ama a sua Língua Materna não precisa de a ver inserida no quadro internacional, se não for a original. Só a original, e não a linguagem mixordesa em que a transformaram, deve ser considerada, e não aceitamos que usurpadores esquerdistas estrangeiros, da ala mais ignorante, e políticos portugueses da ala mais incompetente e servil tentem fazer-nos de parvos.
Isabel A. Ferreira
O Jornal PÚBLICO está a celebrar, hoje, 35 anos de existência, com uma Conferência Internacional no CCB, cujo tema é a Língua Portuguesa.
Aproveito para felicitar o Jornal PÚBLICO, por esta efeméride.
Os leitores podem seguir a Conferência clicando no link acima indicado.
Dos momentos até agora referenciados no PÚBLICO, o que mais me chamou a atenção foi o seguinte:
Acordo Ortográfico de 1990: “A sua vigência é agora provavelmente irreversível”
daí tê-lo destacado no título.
Não percebo por que motivos o “acordo” há-de ser irreversível, porque irreversível, irreversível só a morte, já o tinha dito Nuno Pacheco. O AO90 foi um erro. Errar é humano, mas manter o erro é completamente insano, se o argumento é porque já foi implementado no Ensino.
Também não percebo que depois de tantos argumentos válidos já publicados, demonstrando que o AO90 não atingiu nenhum objectivo, é ilegal, é inconstitucional, e nada tem para "aperfeiçoar", muito pelo contrário, é como remendar algo já remendado, ainda estejam na fase de criar um outro grupo de trabalho para “aperfeiçoar o imperfeiçoável”.
Em 2019 foi criado um grupo de trabalho parlamentar para avaliar o impacto da aplicação do Acordo Ortográfico, terminando sem ter reunido consenso para uma possível alteração a esta convenção. José Carlos Barros (PSD) coordenador do grupo, lamentou que não tenha havido consenso sobre a necessidade de “discutir” a hipótese de alterar ou aperfeiçoar o AO90. Teriam feito bem o trabalho que tinham em mãos? Não era óbvio que o AO90 era uma aberração?
E nós lamentámos que diante dos estragos que o AO90 provocou no Ensino do Português, o grupo de trabalho parlamentar não tenha tido a lucidez de ver o óbvio.
O que é que ainda falta dizer para chegarem à conclusão de que este "acordo", sem pés nem cabeça, sem cabeça, tronco e membros, totalmente afastado do conceito do que é uma Língua, nada tem para aperfeiçoar, e pode ser perfeitamente anulado, porque nenhuma mossa fará aos que já aprenderam a escrever incorrectamente a Língua Materna. O "acordo" é de tal forma mau, que é mais fácil aprender a Língua inteira, do que decepada.
Os nossos alunos serão assim tão mais parvos, do que os alunos dos outros países, que têm Línguas muito mais complexas do que a nossa, e sabem escrevê-las correctamente? Aquele argumento de «como há-de o aluno saber que objeCtivo tem um cê, se não o pronuncia?» é a coisa mais bizarra e idiota que já ouvi.

Foto: Marcelo Rebelo de Sousa - Nuno Ferreira Santos
«Marcelo fala agora sobre a “língua cá dentro, inseparável da cultura cá dentro”. O Presidente da República refere o “período muito inspirador”, com “inúmeros responsáveis” - “plano nacional de leitura, iniciativas culturais, escolas, autarquias e comunicação social”.
O Presidente da República fala de duas dimensões indissociáveis quando se fala da língua: “O livro e a comunicação social”. Sublinhando que a comunicação social atravessa uma crise, Marcelo defende que é “muito difícil” que essa crise “não se repercuta na língua”.
Já a “política do livro” conheceu “ideias inspiradoras” no anterior Governo, sinaliza, mas não tiveram “plena concretização” e “não tiveram sequência na actual governação”, como é o caso do cheque-livro. “É muito difícil dissociar a aposta na língua da aposta na comunicação social nessa língua e da política do livro”.
O chefe de Estado diz que, quando soube que o novo secretário de Estado era um “entusiasta do livro”, o “obrigou a um compromisso: eleger como prioridade cultural a política do livro”, que “é essencial”.
Se for preciso “correr as escolas a ler livros e a comentar livros, eu estou voluntário para isso”, diz. “Vale a pena pensar em novos meios, com o apoio da comunicação social como um todo. O PÚBLICO cumpre a sua missão e as televisões cumprem?” questiona, dizendo que “cumprem, mas com programas a horas esotéricas”.
“Parabéns e como se dizia noutros tempos, quando eu era mais novinho, a luta continua”, concluiu o Presidente da República»
***
Não era já altura de acabar com esta novela a cheirar a cravo (do lado de cá), e a canela (do lado de lá)?
Isabel A. Ferreira
«A ortografia é um fenómeno da cultura, e, portanto, um fenómeno espiritual. O Estado nada tem com o espírito. O Estado não tem direito a compelir-me, em matéria estranha ao Estado, a escrever numa ortografia que repugno, como não tem direito a impor-me uma religião que não aceito.»
Fernando Pessoa, Escritor
«Tem sido um desastre a forma como os governos têm gerido a língua portuguesa. O Acordo Ortográfico é um desastre, ninguém o cumpre, uns escrevem assim e outros, assado. No Brasil, o acordo é diferente, é a variante brasileira. Isto é um absurdo! Só estamos a criar muros quando já existem tantos muros. O nosso problema não é obviamente ortográfico, muitas vezes, é semântico, sintáctico e vocabular. O que temos de fazer é publicar os autores como eles escrevem, em Portugal e no Brasil.»
Bárbara Bulhosa, Directora e fundadora das Edições Tinta-da-China
«1. Os opositores ao AO tinham razão quando argumentavam que as grandes diferenças entre o português de Portugal e do Brasil não eram ortográficas, mas sobretudo de sintaxe.
Ana Cristina Leonardo, Escritora e jornalista, em artigo de opinião, no jornal Público, em 29-11-2024
Muito próximo das festas natalícias, ocorreu um facto (e facto agora não é igual a fato, como disse um putativo candidato à Presidência da República) assaz curioso, que pode ter passado despercebido à maioria dos leitores. O DN (Diário de Notícias) publicou um artigo de opinião de José Sócrates, intitulado “Defesa mínima consentida”, constituído por nove parágrafos, terminando os dois primeiros com a interrogação “Compreendido?”.
Tendo em conta o passado, em termos de ortografia, do autor do dito artigo, esperar-se-ia que a sua opção recaísse na ortografia do AO90, mas, surpresa das surpresas, no final do referido escrito, aparece a nota: “Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico.”
O leitor mais ingénuo pensaria, certamente, tratar-se de um acto de contrição, mais de um decénio depois. O leitor mais calejado optaria por querer ver, como São Tomé. Para que não fiquem dúvidas, consultou-se, na íntegra, o referido artigo, disponível na página da internet do jornal em
https://www.dn.pt/opiniao/defesa-minima-consentida
Analisando o escrito, parágrafo por parágrafo, conclui-se que é um objecto adequado para um jogo de “Verdadeiro ou falso?”. Expliquemo-nos:
Em conclusão, como muitos outros, José Sócrates embarca no comboio do faroeste ortográfico e usa uma mixórdia ortográfica (que por aí vai circulando), misturando duas normas completamente distintas. Compreendido?
Apetece perguntar, pela enésima vez: se é assim nos círculos cultos, como será com o cidadão comum?
Ah, como se pode ver nas imagens que acompanham este escrito e que foram retiradas de páginas de Facebook de grupos contra o AO90, a ribaldaria não levantou arraiais.
Ah, como Francisco Miguel Valada tem amplamente denunciado no blogue Aventar, no Diário da República, o espe(c)táculo continua.
Ah, a RTP e outros vão tendo umas saudáveis recaídas.
Ah, ainda existem uns comentadores com opções ortográficas coerentes.
Ah, quem pode resolver esta malaquice opta por assobiar para o lado.
João Esperança Barroca




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