O que se passa ao redor da Língua em Portugal é algo surrealista. Inacreditável. Inconcebível. Coisa única no mundo.
Começo a pensar que existe um complô, ao mais alto nível, que tem por objectivo mais do que óbvio destruir deliberadamente a Língua Portuguesa.
Nunca, como nos últimos tempos, ou melhor, nunca como depois que o governo português, de uma forma ilegal e ditatorial, forçou a função pública, escolas e órgãos de comunicação social servilistas a aplicar o AO90, se viu a Língua Portuguesa a ser tão maltratada, tão mal escrita, tão ignorantemente vilipendiada, como agora.
É de propósito? Parece-me que sim.
O que se vê nesta imagem nada tem a ver com o AO90, mas é consequência do AO90, pois foi a partir dele que o desleixo da Língua se acentuou consideravelmente.
Esperamos que muito brevemente seja confirmada a “morte mortal” deste desamor à Língua Portuguesa, e que todos os que não a sabem usar, regressem aos bancos da Escola Básica, para reaprenderem a amar e a escrever a Língua correCtamente, com elegância e profissionalismo.
O nível de literacia de um povo vê-se pelo modo como fala e escreve a Língua Materna.
O Pedro Pinto não terá culpa, mas isto é inadmissível numa legenda de televisão. Eu recusava-me a trabalhar nestas condições deploráveis.
Fonte:
Está grafada, no Diário da República, para memória futura, porque isto contado, ninguém acredita.
Perante esta inacreditável nota explicativa, não me peçam para ser politicamente correcta, porque é impossível!
Veja-se como as inteligências acordistas justificaram a supressão dos cês e do pês, nos nossos vocábulos (nos quais essas consoantes não se lêem) como se fôssemos todos muito parvos.
A isto chama-se inferioridade mental.
Que é indiscutível que a supressão deste tipo de consoantes vem facilitar a aprendizagem da grafia das palavras em que elas ocorrem (presente do indicativo, não ocorriam, passado), na verdade, não é indiscutível, porque o facilitismo, neste caso, é amigo íntimo da ignorância.
E foi esse facilitismo, e apenas esse facilitismo, que moveu os engendradores do AO90 a suprimirem as consoantes mudas? Não teve nada a ver com as Ciências da Linguagem?
Saberão essas inteligências o que é facilitismo?
Facilitismo é a atitude ou prática que consiste em facilitar a execução de algo que habitualmente exige esforço, empenho ou disciplina, ou seja, o facilitismo é contrário à exigência que a aprendizagem de uma Língua (ou de qualquer outra matértia do Saber) requer.
E sem esforço, empenho, disciplina e exigência haverá competência e excelência?
Bem, o facilitismo no Ensino, facilita a proliferação de semianalfabetos, de ignorantes e de desqualificados. Isto é um facto indesmentível.
E que as inteligências acordistas e os seus (poucos) seguidores, sejam tudo isso, não temos nada contra, a opção é deles. Mas não venham impor esse analfabetismo, essa ignorância, essa desqualificação às crianças portuguesas. Elas não merecem, nem são parvas.
Isso é inadmissível. Isto é um insulto à aprimorada inteligência das crianças.
Como é que uma criança de 6-7 anos pode compreender que em palavras como concePção, excePção, recePção a consoante não articulada é um pê, ao passo que em palavras como correCção, direCção, objeCção tal consoante é um cê? (reparem na construção da frase, cujo autor merecia o Prémio Nobel da Taramela)
Mas como é que uma criança poderá compreender tal coisa? Não é verdade? Como????
Bem, eu não vou falar dos milhares de milhões de crianças que antes e depois de mim, estudaram Língua Portuguesa e compreenderam que na palavra excePção, a consoante que não se lê é um pê, ou que em Homem, a consoante que não se lê é um agá, ou que em direCção, a consoante que não se lê é um cê.
Como foi possível compreenderem isto, não é? Seriam todas muito mais dotadas intelectualmente do que as crianças actuais? As crianças de hoje, são umas idiotazinhas, no parecer das inteligências acordistas.
Não vou falar dos milhares de milhões de crianças que antes e depois de mim compreenderam e pensaram a Língua Portuguesa. Vou falar de mim, que aos seis anos, no Brasil, aprendi a grafia brasileira, onde se escrevia direção (dir’ção), correção (corr’ção), objeção (obj’ção), direto (dirêto), teto (têto), e excePção e recePção; e aos oito anos, em Portugal, aprendi e pensei a grafia portuguesa, onde se escreve, até hoje (porque é esta grafia que está em vigor), direCção, correCção, objeCção, direCto, teCto, e (h)omem, (h)umidade, (h)aver, etc., tal como aprendi a Tabuada e a resolver problemas, tipo: a camponesa levou dez ovos para vender no mercado. Vendeu dois. Depois mais três. Com quantos ficou?
E como é que eu consegui? Eu, e milhares de milhões de crianças conseguiram, antes e depois de mim? Muito simples: a estudar aplicadamente, sem facilitismos, com esforço, empenho, disciplina e exigência, uma coisa chamada GRAMÁTICA (e mais tarde, o Latim e o Grego); e Matemática, e também História e Geografia e Ciências, desenvolvendo raciocínios, até porque nunca tive boa memória, (tinha de compreender, para aprender) e aperfeiçoando o sentido crítico, questionando tudo o que me ensinavam. Queria saber todos os porquês e os comos, para não levar gato por lebre, o que nem sempre consegui que me fosse explicado.
As crianças de todas as gerações anteriores e posteriores à minha seriam muito, mas muito mais inteligentes, do que as actuais, porque compreendiam e escreviam correCtamente tudo o que havia para compreender e escrever?
Quanta falácia! Quanta desonestidade! Quanta ignorância!
Esta nota explicativa é a coisa mais idiota jamais vista.
As inteligências acordistas poderiam ter sido honestas e explicar que as consoantes mudas que pretendem suprimir, nos vocábulos portugueses, são suprimidas porque no BRASIL elas foram eliminadas em 1943, para facilitar a aprendizagem dos milhares de analfabetos que então existiam, e este falso AO90, não sendo mais do que a imitação da ortografia brasileira, suprime as consoantes mudas, para facilitar a aprendizagem… dos menos dotados.
E assim se destrói uma Língua Culta: para facilitar.
Bem, e se uma criança não consegue escrever direCção, aos 6/7 anos, não conseguirá, aos 15/16 anos, resolver esta simples equação de 1º grau: x+8 = 15. Não conseguirá.
Portugal anda na boca do mundo como um país onde o Ensino está bitolado por baixo. Claro que há excePções, mentes brilhantes que estão quase todas no estrangeiro. Vão doutorar-se ao estrangeiro. Brilham no estrangeiro. Por que será, não é?
Uma avaliação internacional apurou recentemente que os alunos portugueses do 4.º ano, correspondente à antiga 4ª classe, pioraram na leitura. Em cinco anos a média desceu onze pontos, colocando Portugal em 30° lugar entre 50 países. O problema está nos resultados aos testes sobre literacia e a leitura. E aqui as crianças portuguesas entre os 9 e 10 anos descem 11 pontos em relação ao estudo anterior realizado em 2011.
Em 2011 as crianças portuguesas foram obrigadas, ilegal e criminosamente, a adoptar a ortografia brasileira, para que a aprendizagem da Língua fosse mais facilitada. E foi tão facilitada, mas tão facilitada que são agora as ignorantezinhas da Europa.
Imagine-se as crianças inglesas. Vamos seguir o raciocínio das inteligências acordistas: como é que uma criança inglesa, de 6/7 anos, pode compreender que em palavras como exaggerate, se escreve dois gg, em floor, dois oo, em knack, um k e um c, em lock, um c, em thought, um h, um u, um g e um h, e em truck, um c?
Senhores acordistas, além de idiotas, vossas excelências são desonestas! E isso é uma coisa muito feia.
E se alguns podem ser parvos, e até são, a esmagadora maioria dos Portugueses, não é.
Isabel A. Ferreira
Um texto lúcido que vale a pena ler.
«Vanguardismo de opereta»
Por Pedro Correia
«Alguns apologistas do chamado acordo ortográfico defendem-no com zelo passional alegando que o fazem em nome do progresso. São incapazes de perceber que o progresso nada tem a ver com isto. Ou até terá, mas no sentido contrário ao que pretendem.
Progresso tem a ver com literacia. E as sociedades com maiores índices de alfabetização são precisamente aquelas que têm uma ortografia consolidada há séculos e jamais necessitaram de “reformas” unificadoras neste domínio. Britânicos e norte-americanos, por exemplo, nunca precisaram de acordo algum para limarem as suas notórias divergências ortográficas, que não constituem obstáculo para a compreensão mútua – pelo contrário, só enriquecem o inglês partilhado pelos compatriotas de Shakespeare e Mark Twain, cada qual com o seu sotaque.
Quanto mais estabilizada estiver a ortografia de uma língua, maior é o correspondente índice de alfabetização dos utentes desse idioma. E o inverso também se aplica em países como o nosso: Portugal produziu três profundas reformas ortográficas em menos de um século sem com isso deixar de ser um dos países com menores índices de literacia da Europa.
Pensei em tudo isto ao ler o mais recente comunicado da Procuradoria-Geral da República, alusivo à audiência que o director do Jornal de Notícias solicitou a Joana Marques Vidal. Neste comunicado, Afonso Camões é alternamente referido como “director” e “diretor” do referido matutino.
Se ao mais elevado nível das instituições estatais perdura a indefinição sobre a ortografia, não custa imaginar as incertezas do cidadão comum sobre este mesmo tema. Pouco admira, portanto, que tantas “reformas” acabem por fabricar legiões de analfabetos funcionais, incapazes de redigir o mais simples texto de acordo com o quadro normativo. Porque a norma, nesta matéria, continua a oscilar ao sabor de vontades políticas de ocasião: muda o regime, logo muda a ortografia.
Foi assim na transição da monarquia constitucional para a I República, e desta para o Estado Novo, e da ditadura para a democracia.
Os que insistem em abolir as chamadas consoantes mudas, arrancando as raízes etimológicas da escrita como se fosse um indício de progresso, estão afinal condenados a perpetuar os humilhantes padrões de iliteracia vigentes entre nós. O fosso entre o nosso idioma e as grandes famílias ortográficas europeias não é sintoma de avanço, mas de retrocesso civilizacional.
Entretanto, os auto-intitulados “progressistas” que tanto se gabam de escrever “diretor”, como se fosse o último grito da moda, continuarão a escrever “director” em inglês, “director” em espanhol, “directeur” em francês e “direktor” em alemão.
O “progresso” ortográfico, à luz deste vanguardismo de opereta, termina algures na ligação rodoviária entre Elvas e Badajoz.»
Fonte:
http://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/vanguardismo-de-opereta-7043236
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