Segunda-feira, 5 de Dezembro de 2022

Carta enviada a Marcelo Rebelo de Sousa, por José Lucas (*). Assunto: «Acordo Ortográfico de 1990 – 2º Protocolo Modificativo de 2004»

 

Esta carta, com data de 2016, nunca mereceu uma resposta efectiva de MRS, como é do seu hábito. Apenas enviou um cartão a José Lucas com um mero “Bem-haja”, que significa um agradecimento.

Contudo, não era propriamente um “bem-haja” que José Lucas esperava do guardião da Constituição da República Portuguesa, mas uma resposta do PRESIDENTE a uma questão gravíssima, que compromete a identidade portuguesa.

 

Um PR não é só para andar por aí sempre a viajar, por tudo e por nada, ou a beijocar ou a selfar com o povo, algo que, todos sabem, faz para alimentar o seu narcisismo.

 

Um PR tem o DEVER de responder às questões que preocupam os cidadãos que lhe pagam o salário. É para SERVIR o Povo Português e Portugal que é eleito.

 

De modo que, em nome do José Lucas (que me enviou a carta e permitiu que eu aqui a reproduzisse, por ser do maior interesse da Nação, pois já BASTA de silêncios ruidosos e atitudes insanas), mas também em nome de uma infinidade de pessoas que conheço e que já escreveram ao PR sobre a mesma questão, e em meu próprio nome, que já lhe escrevi várias cartas abertas e privadas a falar no assunto, e NUNCA, nem eu nem os outros recebemos uma resposta, tornamos a insistir para que Marcelo Rebelo de Sousa, que  no seu discurso de vitória como Presidente da República, em 24-01-2016  disse que «é o povo quem mais ordena, e foi o povo que me quis dar a honra de me eleger Presidente da República de Portugal», tenha a HOMBRIDADE de nos responder e, de uma vez por todas, acabe com esta fantochada de obrigar um povo a grafar à brasileira, violando com isso, a Constituição da República Portuguesa, que jurou defender.

 

Nota: os excertos a negrito, na carta de José Lucas, são da responsabilidade da autora do Blogue.

 

 (*) José Lucas é Licenciado em Macroeconomia — ISEG M.B.A. — Mestrado em Gestão/Marketing – ISEG

 

Isabel A. Ferreira

 

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Carta enviada por José Lucas ao presidente da República Portuguesa

 

Exmo. Sr.

Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, Dr.

PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Palácio de Belém Calçada da Ajuda

1349-022 Lisboa

 

Lisboa, 2016-05-10

Assunto: ACORDO ORTOGRÁFICO DE 1990 - 2º Protocolo Modificativo de 2004

 

Exmo. Presidente

Tomo desde já a inusitada liberdade de dirigir a V. Exa esta breve missiva porque, considero a situação em epígrafe de uma gravidade extrema, tanto para o Estado Português (sua afirmação interna e externa) como para a identidade da formação social portuguesa. Penitencio-me desde já por eventualmente comprometer espaço e tempo na sua mais do que preenchida agenda, mas, o articulista do Expresso de 2005-04-30 (jornal que eu leio religiosamente há 40 (quarenta) anos (comecei com o Mundo Diplomático), despertou em mim a necessidade de entrar em contacto com o único supremo magistrado da nação que se preocupou, desde há duas décadas a esta parte, com aquilo que nos distingue na nossa universalidade.

 

Sou um economista orgulhosamente formado pelo sistema educacional da República, retirado, de 65 anos de idade e, desde sempre estive contra o Acordo Ortográfico e ainda mais contra o seu 2º Protocolo Modificativo de 2004 que considero como sendo um atentado completamente irresponsável, imbuído de enorme reserva mental, produzido por uma casta de linguistas pouco mais do que medíocre, aplaudida por escritores de talento mediano e suportada por uma conveniência diplomática submissa e completamente obliteradora da língua de Camões, o qual eu considero um génio universal comparado a Cervantes ou a Shakespeare, ressalvando as devidas distâncias, uma vez que a difusão destes foi fruto de um trabalho executado desde sempre para defender a língua, o qual foi devidamente cimentado e fundido na Commonwealth e na América Hispânica pelos países dos autores atrás mencionados. Nós não fizemos esse trabalho, só apenas declarações de intenção, então COMECEM-NO JÁ e olvidem a opinião das "Edites Estrelas" convencidas da honorabilidade da sua sapiência na língua.

 

Não sou linguista, não detenho essa formação académica, apenas algumas centenas de milhar de horas de leitura na minha exígua biblioteca, cuja população é de aproximadamente 90% de documentos históricos mas, não obstante esse óbice tenho lido alguns depoimentos e assistido a alguns programas televisivos, com a comparência a despropósito de entidades brasileiras, (Prós e Contras RTP-I, na presença do saudoso professor Vasco Graça Moura com quem tive a honra e o privilégio de trocar impressões no CCB), nos quais sem qualquer base científico-linguística se exaltou as virtudes de semelhante desastre. É uma vergonha a anuência dos "media" televisivos para os quais não era suficiente a sucessão de erros nas "bandas" dos telejornais como ainda aderiram velozmente à "ortografia recente" tornando a difusão do noticiário um "documento oficial".

 

Malaca Casteleiro, o "spiritus recto”, um dos criadores do AO, referiu no Expresso de 2016-04-30 no caderno da Diplomacia que "o Presidente da República é obrigado a aplicar a nova ortografia nos documentos oficiais". Fiquei espantado com a atrevida loquacidade do "demiurgo". É evidente que esta postura não passa de uma prepotência verbal que, no meu modesto entender fere mais profundamente o Prof. Dr. do que o Presidente. Porquê? Porque no meu humilde ponto de vista pode-se criticar um membro do Estado, neste caso o seu representante mais lídimo pois a Constituição consagra a liberdade de expressão, mas, NÃO SE TENTA MESMO DO MODO MAIS ÍNFIMO, AINDA QUE INDIRECTAMENTE, ORDENAR A UM MESTRE. Como diria o grande poeta argentino de origem índia Atahualpa Yupanqui do alto da sua Bolívia de adopção: "BASTA"!

 

Pensando em Henry David Thoreau revisto-me de desobediência civil face ao meu modo de escrita, e como diria Hannah Arendt "a desobediência civil é uma forma de afirmação da democracia", não confundir com apelo à insurreição rigorosamente proibido e condenado pela Constituição da República.

 

Compreendo perfeitamente a intenção do "linguista" e do seu grupo de académicos apaniguados que decidiram conhecer o Brasil a expensas do erário público dando à luz o AO, de entrar na História, mas, a meu ver, só se for numa minúscula linha de rodapé com caracter 2, necessitando a propósito de uma potente lupa para a decifração do evento.

 

Mas, tentemos esmiuçar as origens desta situação. O AO assenta fundamentalmente numa construção ortográfica (quase total exclusão das consoantes mudas que, aliás algumas [a esmagadora maioria] vigoram no Brasil) totalmente favorável ao Brasil. É por si só um dislate de submissão a um país cuja língua não mais é do que uma deriva do português genuíno cujo desenvolvimento tem mais de oito séculos de História. Fui eu, luso, que ensinei os brasileiros a falar, então, porque demanda tal submeter-me-ia ao abrasileiramento da minha língua em vez de aportuguesar e evoluir a deriva brasileira? Que culpa tenho eu, luso, que os brasileiros não saibam trabalhar com as consoantes mudas? Se calhar tem dificuldades em agrupar as sílabas no fim da linha limitativa! Graças a Deus tenho uma fluência, falada escrita e de entendimento do Inglês muito, mas muito acima do conhecimento médio e, embora me identifique mais com a construção falada norte-americana (maioritariamente com o gerúndio e o complemento directo e mais simples nos verbos abreviados com a negação) não deixo de reconhecer que a esta língua tem o óbvio devir britânico e é lá que é correctamente expressada.

 

Esta construção ortográfica abstrusa não está em vigor em nenhum dos países signatários fruto da rejeição, (a meu ver, magnífica) de Angola e Moçambique (não me interessa que eles tenham outros problemas agora, o acordo é de 1990 e estes países não tinham os problemas que tem agora e nunca o ratificaram), e apenas vigora em Portugal como resultado de uma aviltante imposição ditatorial e inconstitucional do AO/90 e do 2º Protocolo Modificativo, obra do Conselho de Ministros na sua Resolução nº 08/2011 contrariando claramente o disposto no nº 1 do Art.º 112º da Constituição da República, ou seja, um atentado ao Estado de Direito.

 

Claro que isto é indiferente à maioria do povo português que "é de uma ignorância execrável e de um défice de conhecimento atroz" (Viriato Soromenho Marques), talvez como resultado da actuação de castas privilegiadas como juízes, professores (fundamentalmente do ensino secundário que é parte do curriculum escolar que está em causa), advogados, jornalistas de alguns órgãos informativos (vulgos pasquins), que tornam quase impossível o acto de defesa da língua, com um colaboracionismo doentio e uma passividade ignorante que impossibilitando qualquer tentativa de debate. Ora, o Conselho de Ministros (Passos Coelho) não tinha competência para legislar e o Presidente da República (Cavaco Silva) não podia promulgá-lo, já que o apelidado Novo Vocabulário Ortográfico Português foi construído por Portugal isoladamente e, não está em vigor em qualquer dos países signatários violando assim o AO/90 original, não existindo nenhum aviso do MNE português de que o Acordo entrou em vigor. Tal não passava de um despacho não normativo e não regulamentar sem qualquer fundamento científico que só pode ser imposto aos organismos dependentes do governo, nunca aos tribunais e à formação social portuguesa na sua expressão mais civil. Foi uma autêntica manifestação despótica ao nível de uma ditadura.

 

Não sou linguista, não tenho formação académica para isso, por tal V. Exa perdoar-me-á, mas, a total supressão das consoantes mudas, nomeadamente o c e o p, além de serem atentatórias porque não implicam uma evolução natural da construção ortográfica, fazem-me lembrar Aristófanes, grande dramaturgo grego contemporâneo e formado no esplendor do Século de Péricles e autor de "As Nuvens", "As Vespas" ou "Lisistrata". Ele afirmava que “a juventude... amadurece, a imaturidade... passa, a embriaguez... cura-se, a ignorância... educa-se, mas a estupidez... bem, essa é indelével e imutável para todo o sempre".

 

O Dr. Malaca Casteleiro e a sua "elite vanguardista de vão-de-escada" ajuízo eu que, ainda não perceberam que, quando alguém estrangeiro ouve falar português ou quer aprendê-lo não sabe nem pode adivinhar a pronúncia correcta de qualquer expressão escrita. Até o cidadão mais anónimo e desprovido de qualquer formação linguística como é o meu caso, sabe perfeitamente que as consoantes mudas "abrem" a vogal anterior com apenas algumas excepções, foi uma das grandes batalhas do Prof. Vasco Graça Moura. A extraordinária riqueza linguística implícita e constante na construção vocabular é perfeitamente esmagada pela modificação do conteúdo do AO/90. Será que Camilo Castelo Branco, autêntico milionário do universo vocabular (250 romances e contos em vinte anos) retornará em protesto? A Convenção Ortográfica Luso-Brasileira de 1945 é a única a vigorar em Portugal depois de 1 de Janeiro de 1946 e ainda não foi revogada apenas podendo sê-la por Lei emanada da Assembleia da República ou Decreto-Lei emanado do Presidente.

 

Ora esses dois documentos não existem.

 

A língua e o Estado não existem um sem o outro, eles são o retrato da soberania de um estado de direito num país soberano e independente, não podem ser alienados a gosto de conveniências pessoais e políticas. Qualquer tentativa de subversão deste princípio é um atentado à Constituição e ao Estado de Direito. Tal é fruto de um grupelho de portugueses políticos e civis, de vanguarda autoproclamada sem lhes ser nada encomendado, com interesses não concretamente divulgados e uma determinada noção de notoriedade serôdia, com algum interesse económico por detrás e que decidiram apelar a um "leader" (MC), manuseável e desejoso de afirmação pessoal, totalmente incapaz de medir as consequências das suas iniciativas a coberto de dois governos com uma vergonhosa passividade colaborante pensando talvez que o país teria algum benefício económico em desistir da sua centralidade na CPLP, mas isso é outra vertente que não cabe neste breve e humilde análise.

 

Não se procurou a opinião autorizada da Academia das Ciências para um acordo que não está em vigor a não ser em Portugal (Dilma pediu período de transição) desde há um quarto de século atrás. A posição dos políticos nesta vertente envergonha e revolta o mais tímido cidadão tanto mais que a idoneidade dos negociadores nacionais é um tanto ou quanto discutível e com um comportamento despadronizado de "compensações mútuas" no caso das consoantes mudas.

 

Malaca Casteleiro (a quem eu não reconheço nenhuma autoridade para a perpetração deste atentado) dirá que, (enviesado no meu ver), é uma evolução da língua, claro, "também o Diabo cita as Escrituras quando isso lhe convém" (O Mercador de Veneza, W. Shakespeare), pelo que é mais um disparate linguístico de conveniência político-económica. Aliás semelhante tentativa for efectuada em França em 1990 e a Academia das Ciências Francesa rejeitou plenamente esse desvario deixando a decisão a voto ou voto popular. Nem a Espanha nem a França, nem a Inglaterra tentaram alguma "saga" destas, pelo que foi necessário que a expoente “intelligentsia” portuguesa "desbravasse" este caminho. É qualquer coisa que escapa à compreensão mais primária. Miguel de Sousa Tavares é da mesma opinião e eu concordo plenamente com ele. E V. Exa não deve concordar, penso eu, com os "iluminados" que proclamam que este assunto não é da competência do Presidente da República, então de quem é senão do único órgão de soberania que é eleito pela vontade individual do cidadão sem interferência partidária?

 

Desvalorizou-se imenso a capacidade de aprendizagem das gerações mais novas. Estamos a "queimar" uma geração com esta anedótica iniciativa. As crianças aprendem tudo devido ao espírito aberto que possuem e da sua curiosidade natural, portanto, o argumento de que já escrevem e aprendem há cinco anos não colhe de forma nenhuma. Elas são perfeitamente capazes de voltar atrás e aprender o seu português específico, é inato. Criou-se uma confusão enorme no sistema educativo no qual até os alunos com já alguma responsabilidade estudantil são completamente contra. Poder-se-á argumentar que custa muito caro retornar atrás, porquê? Basta colocar 200 revisores a processar novamente os manuais escolares e retornar ao ponto de partida. Não é, de forma alguma, argumento que se aceite o custo do projecto. É uma questão de vontade política o Estado impõe e acabou-se. Solicito a V. Exa caso lhe seja possível e a sua agenda o permita, a visão do programa Opinião Pública da SIC Notícias em 2016-05-04 (171-100) no qual pode V. Exa ter uma percepção da forma como foi "aceite" ou não aceite este "Acordo Ortográfico". Até pessoas com um nível instrutivo normal manifestaram poderosamente a sua posição. Aliás como deve percepcionar todos os colunistas de "peso" do Expresso escrevem na antiga ortografia. Ao estarem a unificar a língua a favor do Brasil estão a destruir as especificidades do português europeu, do português asiático, do português africano e até do português brasileiro. Estão a aniquilar uma riqueza em diversidade, que é o que distingue a universalidade da nossa língua.

 

O AO/90 foi assinado pelos sete estados de língua oficial portuguesa, mas só foi ratificado por Portugal, Brasil e Cabo Verde pelo que não está em vigor, logo não é consensual entre oito, então é necessária nova ratificação geral se querem atingir a maioria o que eu muito duvido, portanto, o tratado não tem validade internacional. Tive o privilégio, e espero voltar a ter, de trocar impressões com o Prof. Pacheco Pereira e sei perfeitamente a sua forma de pensar, só gostava de saber a do Prof. Eduardo Lourenço e do Prof. Viriato Soromenho Marques, isto só para parafrasear alguns vultos da cultura portuguesa, porque existem muitos mais, já que, de eminências pardas encontro-me um pouco enfastiado. O AO/90 não se inscreve na tipologia de um Tratado, não passa de uma Convenção medíocre que o Presidente da República (Cavaco Silva) ratificou de forma adiantada bem como dos dois Protocolos Modificativos sem nenhuma consulta popular que revelasse o parecer da formação social portuguesa. Mais uma vez desconfio da idoneidade e colaboracionismo dos juristas que aconselharam os deputados da Assembleia da República. Foi uma mediocridade elitista. Mas o mais penoso de aceitar é a pressa com que este aviltamento foi colocado no terreno. Não nos concerne absolutamente nada que o Brasil tenha denunciado a Convenção de 1945, ela vigora em Portugal pois o país não emitiu qualquer Lei ou Decreto-Lei que a revogue. A resolução do Conselho de Ministros 08/2011 é uma intrusão e uma imposição totalmente abusivas em termos legislativos num instrumento central do conhecimento da língua: os manuais escolares.

 

Ao desvirtuar totalmente este instrumento fundamentalíssimo para o desenvolvimento cultural e científico das gerações actuais e futuras incutindo-lhes a noção antipatriótica da submissão a uma conveniência estrangeira (será mesmo conveniência?), mais não fizeram do que confundir as mentes mais jovens que são o futuro do país. Mais ainda, este "acordo" criou um desacordo entre Portugal e os países de língua oficial portuguesa, saídos de um período colonial em relação ao previamente acordado já que o AO/90 proclamava unanimidade quanto à sua implantação, situação essa completamente perdida.

 

"Qui tacet consentire videtur" (quem cala, consente) mas, eu não permito perante mim próprio, perante a minha formação académica, perante o meu sentido patriótico e perante a minha escala valorativa, a anuência a tamanho atentado. Como se poderia adaptar de Oscar Wilde "Concordar com o pensamento dominante é um castigo, estar excluído dele é uma tragédia", cá por mim prefiro a tragédia. Num país de envelhecimento acelerado, demograficamente comprometido, com uma cultura geral de um nível de opacidade lamentável, este tema é fracturante, senão dos mais fracturantes e que actualmente parece ter caído num certo desinteresse por parte de um povo perfeitamente colonizado pelo telemóvel e pelo futebol, proletarizado por um modelo económico exteriormente imposto que mais parece uma punição luterana, obcecado com telenovelas e que está, logicamente pouco preocupado e interessado em defender a língua materna. Subscrevo totalmente a opinião de Rosário Andorinha da ANPROPORT, segundo o qual este "acordo" deve ser totalmente reformulado ou revogado. Sou adepto incondicional da segunda opção. Tenho um respeito enorme por Pedro Mexia, leio obrigatoriamente o seu artigo de opinião "Fraco Consolo", sei que a sua cultura literário-geral é qualquer coisa de admirável e inatingível, pelo menos para o que resta da minha existência, mas não concordo plenamente com ele quando afirma que o acordo pressupunha uma unanimidade internacional na CPLP e obedeceu a razões de política externa e de diplomacia. Perdoe-me, mas não concordo. Não existe nenhuma razão diplomática nem nenhuma conveniência que ponha em causa a língua original e ainda muito menos no caso do Brasil do qual só temos recebido iniciativas que prejudicaram e continuam a prejudicar altamente a economia portuguesa, vide TAP Manutenção, Portugal Telecom, Cimentos, etc. Mas não desejo entrar em considerações de opção de modelo económico nacional pois para isso, como defensor da escola keynesiana, tenho convicções empedernidas e altamente definidas bem como uma escala de valores imutável de como se deve levantar um país não cabendo nesta breve missiva.

 

Porque razão o embaixador do Brasil em Portugal esgrime em termos que considero panfletários no "Público" que o acordo está em vigor em Portugal, no Brasil e em Cabo Verde? Na minha humilde forma de visualizar o problema penso que este desiderato deve ser dirimido com vontade política. Portugal é a pátria da língua de Camões, não o Brasil, porquê? Aonde nasceu W. Shakespeare? Parece-me que foi em Stratford-upon-Avon, Inglaterra em 1564, não em Boston, nem em New York, nem em Sydney. Aonde nasceu Miguel Cervantes? Parece-me que foi em Alcalá de Henares, Espanha em 1547, não na Cidade do México, não em Santiago do Chile, não em La Paz, não em Montevideu, não em Buenos Aires. Parecem razões suficientes a um patriota. Temos de nos libertar definitivamente de qualquer tipo de submissão internacional ou ultimatos de espécie alguma baseados na dimensão do nosso território.

 

Portugal tem nove séculos de existência, é a nação mais velha da Europa, tinha já fronteiras definidas e uma unânime formação social com uma língua quando os Anglo-Saxónicos ainda se debatiam em tribos, a Espanha não mais era do que um somatório de regiões e a Itália Renascentista estava dividida entre as Repúblicas Venezianas, os Principados Romanos e as intervenções dos Imperadores Alemães apoiando ou desapoiando a flutuação papal.

 

Não sei qual é a posição oficial do Governo Português, mas sei que o Ministro dos Negócios Estrangeiros disse que o AO não era uma questão pertinente. Que entender de tudo isto? Será que António Costa não quer "magoar" a susceptibilidade dos brasileiros nem é capaz de chamar o seu ministro à responsabilidade? É que eu não quero saber absolutamente nada se o Dr. Augusto dos Santos Silva é um dos barões do PS! Para que precisamos nós do Brasil? Estamos outra vez com minimizações de personalidade que levam inevitavelmente a uma solução política? Não se desloca à Ásia ou Estados Unidos, mas fundamentalmente a Asia e não procura quem deseje instalar fábricas em Portugal. Porquê? Porque o país não é industrializado e tem de o ser, para que não se tenha de recorrer aos malabarismos orçamentais do "põe aqui, compensa acolá”, parecendo um tabuleiro de damas, mal comparado. Não ou só eu que proclamo esta iniciativa, mas sim o Prof. Medina Carreira que já afirmou mais do que uma vez porque não perguntamos nós aos outros como se faz? Se o Ministro das Finanças garantir estabilidade e competitividade fiscal de certeza que as empresas se instalam e podemos ostentar um contingente de exportações com suficiente valor acrescentado que nos permita fortalecer a Segurança Social e elevar o padrão de rendimento dos portugueses além de poder proporcionar a respectiva poupança nacional que conduza a um nível de investimento ininterrupto.

 

V. Exa perguntará e bem: mas o que tem a ver isto com o "Acordo Ortográfico"? Nada. Mas apenas pedir ao MNE que faça o seu trabalho em lugar de minimizar uma questão fracturante que até nem lhe diz respeito funcional, que se enfoque na diplomacia económica e se liberte das "pantufas" das Necessidades ou tem dúvidas quanto às suas funções? Se tem não pode estar no Governo.

 

Mas, voltando ao assunto desta missiva, penso fortemente que devido a polemicidade desta questão por demais fracturante, é que ela deve ser de imediato submetida a referendo nacional (***), para que de uma vez por todas certas entidades que vagueiam pela nossa praça não se arvorem em defensores e líderes do "reino" e lhes sejam devidamente assacados de todas as responsabilidades que provoquem qualquer equívoco sobre a identidade nacional da formação social portuguesa. Igualmente me decepcionei com as posições últimas assumidas por um dos meus mais admirados (até à data), colunistas do Expresso cujo nome eu não mencionarei por motivos éticos, mas que eu aconselharia a que se remetesse ao silêncio quando fala de V. Exa. ou então que brinque com o seu personagem inventado na revista do jornal, porque sempre transmite algum humor e boa disposição aos leitores e não se abalance em assuntos mais sérios que acentuam cada vez mais o seu desviacionismo para a corrente neoliberal.

 

Quanto aos apoiantes deste "Acordo Ortográfico" perdoe-me, mas socorro-me novamente do homem de Stratford, adaptando-o:

 

“Até as bestas mais ferozes tem de vez em quando um assomo de piedade, mas eu não tenho nenhuma perante os defensores deste acordo, logo, não sou nenhuma besta".

Ricardo III

William Shakespeare

Confio plenamente que V. Exa conduzirá este desiderato para o seu destino mais óbvio, já que o considero como o único e lídimo representante nacional capaz de defender com lealdade e eficácia aquilo que nos resta da nossa dignidade e identidade como formação social soberana e independente já que do Governo não espero grande efeito. BEM-HAJA.

 

Com os meus melhores cumprimentos, subscrevo-me,

De V. Exa

Atentamente

José Lucas

 

P.S. — O autor destas linhas escreve e sempre o fará na antiga ortografia.

 

***

 

(***) Um referendo sobre esta matéria, seria um desastre, porquanto ou a pergunta tinha de ser directa: «querem começar a escrever à brasileira?”, ou perguntar isto com muitos rococós (como é hábito, nos referendos, para baralhar o povo e obrigá-lo a votar naquilo que os governantes querem) a maioria do povo, que se está nas tintas para esta matéria, não saberia o que responder. Mas pior do que isto, seria a abstenção. Se nem para eleger os seus governantes, o povo sai à rua, contribuindo para índices de abstenção descomunais, chegando-se a eleger maiorias absolutas, com apenas dois milhões de votantes, em 10 milhões.

 

Isabel A. Ferreira

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 17:46

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Quinta-feira, 1 de Dezembro de 2022

Três histórias que envolvem o ministro da Educação, a Associação de Professores de Português e Marcelo Rebelo de Sousa, contadas pela Professora Maria do Carmo Vieira

 

Do fingimento à mais profunda hipocrisia: três histórias recentes

 

Como se revela o fingimento, intimamente ligado à mais profunda hipocrisia e falta de respeito pelo Outro? São três as histórias que contarei a esse propósito.

 
 

Convencer, é estéril.[1]

Foi um grande avanço no meu conhecimento, quando, pela primeira vez, a pobreza se me revelou na ignomínia do trabalho mal pago.[2]

Não se liam os livros de uma ponta à outra; habitávamos entre as suas linhas.[3]

Walter Benjamin (1892, Berlim – 1940, Portbou)

 

Como se revela o fingimento, intimamente ligado à mais profunda hipocrisia e falta de respeito pelo Outro, situação a que também não é alheia a Cultura e o Saber? São três as histórias que contarei a esse propósito. A primeira tem como figura principal o Ministro da Educação, João Costa; a segunda, a Associação de Professores de Português (APP); e a terceira, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

 

Foi a Reforma de 2003, cujo espírito perdura, e na qual o professor João Costa (Associação Portuguesa de Linguística – APL) interveio arduamente, em parceria com a APP, e depois no Ministério da Educação, que ditou o descrédito relativamente às Humanidades, situação que se tem vindo a prolongar até aos nossos dias, tendo dado azo ao esvaziamento de programas e à quase destruição das disciplinas de Filosofia, de Geografia, de História e obviamente de Português. João Costa, a par de muitos outros ministros da educação, tem sido efectivamente um fervoroso adepto do colapso das referidas matérias, mas agora tenta dar uma imagem contrária. Imitando, sem brilho, António Damásio que afirmou “A matemática e as ciências não fazem cidadãos”, na Conferência da Unesco, em Lisboa, (Março 2006), João Costa referiu no seu discurso que “As grandes conquistas da humanidade não se fizeram com cálculos financeiros”, aconselhando ainda, e fingidamente condoído, a “não deixarmos o mundo nas mãos de quem para tudo faz contas e de quem para tudo desumaniza”. Ter-se-á esquecido da perseguição que instaurou aos professores alterando o Regime de Mobilidade por Doença e das consequências daí advenientes? Nesse sentido, leia-se o artigo do Professor Santana Castilho (Público, 12/10/2022) e compreender-se-á o grau de hipocrisia de políticos como João Costa, numa actuação que apregoa invariavelmente os “direitos humanos” e o “bem público”.

 

No seu surpreendente discurso de dia 14 de Novembro p.p., repleto de frases vazias ou absurdas como a que transcrevemos – “A escolha das humanidades não precisa de justificação, da mesma maneira que a escolha pela poesia, pela literatura e pela arte não precisa de justificação” – lamentamos veementemente a triste sorte do Ensino entregue a gente deste calibre. Gente que pactuou com a sugestão de se retirar a Literatura dos programas de Português, tentando elevar a Linguística a matéria única e fazendo reinar o texto funcional; que pôs de parte, como sendo desmotivantes, os autores clássicos; que feriu o estudo dos que por conveniência tiveram de permanecer, somando-se decisões desastrosas como retirar da leitura de Os Lusíadas a “Dedicatória” porque, segundo colegas do Ministério, apoiando-se em argumentação APP, “os alunos faziam imensa confusão com o facto de Luís de Camões dedicar o poema ao rei D. Sebastião, narrando o poeta um evento acontecido no reinado de D. Manuel. Obrigá-los a decorar datas era desmotivante…” ou o episódio de “O Velho do Restelo” que, felizmente, grande número de professores continua a ler e a interpretar porque imprescindível para compreender o Humanismo, o mesmo Humanismo a que se refere o Ministro da Educação. Sem dúvida que é o Senhor Ministro “quem tem medo da democracia e da liberdade” e por isso também “dos escritores, dos poetas, da palavra e da arte”, palavras que igualmente proferiu no seu discurso. Explicar-lhe-ei mais em pormenor o porquê da minha afirmação.

 

Conhece certamente o teor dos exames ou das provas de aferição de Português, para adolescentes e crianças. Todos, sem excepção, superlativamente longos, repletos de páginas, a que se juntam diferentes textos para analisar, todos igualmente extensos, alguns dos quais com recurso a cruzinhas em que, por vezes, as várias hipóteses são puras ciladas. Junte-se-lhes uma avalancha estonteante de TLEBS e ainda a produção de textos. O senhor Ministro é contra os exames e eu sou a favor, mas eu sou totalmente crítica destas aberrações que impedem os alunos de tempo para pensar, de tempo para planear e organizar um texto escrito. A literatura e qualquer outra arte exige um diálogo com o que se lê, ouve ou olha e esse diálogo não pode ser impedido sob pena de se perder o contacto com o autor. Não será assim que se entusiasmará os alunos para a leitura e para a arte em geral. Na verdade, temos de “habitar” entre as linhas de um livro ou de uma pauta ou das cores. Porque adepto da rapidez, o senhor defende desde 2003 o funcional, se bem que inesperadamente na entrega deste prémio surja com um discurso enganador, mas tão facilmente desmontável. Dou-lhe conta de que não é com o funcional que “se formam cidadãos”, nem é com o funcional que se estimula a imaginação e a criatividade, sem as quais “não haveria evolução científica e tecnológica porque não haveria curiosidade”. (ainda António Damásio).

 

A segunda história incide sobre a Associação de Professores de Português (APP) e a iniciativa de levar a uma reunião do IAVE o que considera ser a penalização dos alunos brasileiros nos exames, pelo uso da sua variante do português. Sem querer entrar nesta questão, porque seria matéria para um artigo, e desconhecendo se no Brasil aceitam que os alunos portugueses escrevam segundo a norma portuguesa, questiono a APP a propósito da defesa da aberrante “unificação ortográfica” que o acordo de 1990 traria, permitindo que as várias lusofonias espalhadas pelo mundo finalmente “se entendessem”, como se anteriormente isso não acontecesse. Afinal, a APP terá de concluir, engolindo um imenso sapo, que o acordo trouxe apenas desentendimento, penalização e caos, evidenciando simultaneamente uma imensa falta de respeito pela “diversidade das diversas lusofonias como património de uma comunidade de estados soberanos unidos por uma raiz histórica comum […].”[4]

 

Por ironia do destino, a APP, desde sempre fiel aliada do Ministério da Educação, irá reencontrar um antigo colega de trabalho, o actual Ministro da Educação, João Costa, dado necessitar certamente do seu aval para a resolução do problema dos exames e dos alunos brasileiros. Dever-se-á salientar, no entanto, que a APP abraçou desde o início a imposição do acordo ortográfico, não tendo promovido um debate sério com os seus associados, que nas palavras da direcção eram metade a favor e metade contra. Além disso, promoveu inúmeras acções de formação para difusão e “ensino” do acordo ortográfico, dentro e fora do país, quando até julgara poder ser o mesmo compreendido “em algumas horas”. Já João Costa, enquanto sócio da APL e seu Presidente, acompanhou o parecer desfavorável da direcção, solicitado, em 2005, pelo Instituto Camões, e no qual se concluía: “1. Que seja de imediato suspenso o processo em curso, até uma reavaliação, em termos de política geral, linguística, cultural e educativa, das vantagens e custos da entrada em vigor do Acordo Ortográfico de 1990. 2. Que, a manter-se o texto actual do Acordo, Portugal não ratifique o Segundo Protocolo.” Este parecer, custará a acreditar, não foi divulgado pelo Instituto Camões (IC), e só em 2008 veio a público, porque a Direcção da APL em funções “manifestou a sua concordância com este parecer e, no exercício das suas competências enviou-o à Assembleia da República, por ocasião da Audição Parlamentar de 7 de Abril de 2008.” Mas será certo que a APP encontrará em João Costa um parceiro adequado, porque enquanto linguista já esqueceu o parecer da APL e a sua missão política não admite que recue na amnésia forçada.

 

A terceira e última história incide sobre o Mundial de Futebol, encharcado em corrupção, crueldade e aviltamento dos direitos humanos, situações que a comunicação social e os países ditos democráticos, entre os quais Portugal, têm vindo veementemente a criticar e a acusar. No entanto, por um qualquer golpe de magia, e porque na verdade está na sua natureza (justificaria o “escorpião”) são os mesmos (e não quero generalizar porque haverá honrosas excepções) que se enfureceram tanto contra esta e outras injustiças afins que agora, em tom grave e paternalista, anunciaram ir deslocar-se ao Qatar para assistir aos jogos de Portugal, com o argumento de irem representar o país. É preciso dizer-lhes que quem nos representa num estádio estrangeiro é a equipa, são os nossos jogadores. Prova-o o entusiasmo com que adeptos de diferentes continentes envergam camisolas do equipamento português, ou hasteiam bandeiras portuguesas, tendo como justificação “Cristiano Ronaldo, o melhor jogador do mundo!”. Não caiamos, pois, em patranhas: quando alguma figura institucional decide assistir a um jogo, fá-lo exclusivamente por prazer, pelo gosto que tem em ver jogar futebol e torcer pela sua equipa (e lembremos o rodopio de políticos em viagens pagas ao estrangeiro para assistir a jogos de futebol ou quem foi forçado a demitir-se, desvendado o irresistível charme que atrai o futebol à política e vice-versa).

 

A acentuar o “exotismo” do país, onde certamente estes “representantes da nação” nunca iriam, está o imperdível prazer da viagem na mira das inimagináveis boas-vindas que “a representação” lhes proporcionará. Eles têm disso consciência e eles são o Presidente da República, o Presidente da Assembleia da República e o Primeiro-Ministro, almas provincianas em procura de destaque e de colecção de “selfies” e histórias para contar. Causam igualmente dó e alguma repulsa o teor das justificações apresentadas, colidindo estas com as de outros países que politicamente não estarão presentes neste Mundial. Nesse sentido, Marcelo Rebelo de Sousa, Augusto Santos Silva e António Costa envergonham-nos. Digamos, usando as palavras de Séneca que “não são advogados à altura…

 

Talvez o único bem deste mundial possa surgir da diversidade de povos e culturas que aí se juntam, resultando numa alegria que alguns jovens qataris entrevistados directamente testemunharam. Também os gestos que se têm vindo a manifestar, nos estádios, sejam os das equipas iraniana, inglesa ou alemã, sejam os das equipas dinamarquesa e belga que a FIFA proibiu, terão seguramente um qualquer efeito benéfico porque o Outro é, na verdade, essencial para um despertar. Neste momento, o Qatar, e usarei de novo as palavras de Walter Benjamin, é como um “bairro de proprietários” que ignora a “existência dos outros”.

 


[1] In Rua de Sentido Único e Infância em Berlim por volta de 1900, com introdução de Susan Sontag. Lisboa, Relógio D’Água, pág. 40

[2] Idem, pág. 177

[3] Idem, pág. 23

[4] António Emiliano, O Fim da Ortografia. Lisboa, Guimarães Editores,2008.

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:13

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Quarta-feira, 22 de Junho de 2022

Em defesa da Ortografia (XLVIII), por João Esperança Barroca

 

«O português que falamos hoje tem muito pouco a ver com o que [era] falado por Luís de Camões, a ortografia d’ Os Lusíadas tem aspectos que não são os que nós hoje consideramos a norma

Pedro Adão e Silva, Ministro da Cultura, em 5 de Maio de 2022, em Luanda

 

«Não se pode mandar esta gente toda para um país só deles, com o grunhês como língua oficial, dado que é o que falam e escrevem?»

José Antunes, em comentário no Facebook no grupo Cidadãos contra o Acordo Ortográfico de 1990

 

«É este o grande objectivo: produzir a confusão que consolide a ignorância em definitivo!»

Rodrigo Pereira Martins, em comentário no Facebook no grupo Cidadãos contra o Acordo Ortográfico de 1990

 

«A língua portuguesa veio do latim, mas já foi há imenso tempo. Aos nativos, no entanto, parece não interessar absolutamente nada, de onde é que ela veio, e sobretudo, para onde é que ela vai. O português do ano dois mil — como hoje se prefigura — não terá formas complexas de qualidade alguma. A tendência simplificadora e redutiva que se afirma no vocabulário e um pouco por todo o lado, fará desaparecer formas […]. Dominarão formas de rufianismo linguístico, no pressuposto de que “desde que se entenda, está certo”, tendendo a comunicação para o mais elementar dos grunhidos, apoiado pelo mais eloquente dos gestos.»

Luísa Costa Gomes, Escritora

 

Em defesa - 1.jpg

 

Inicia-se o escrito do mês de Junho com quatro citações em epígrafe. Incluem-se duas citações de cidadãos comuns, respigadas de páginas do Facebook, nas quais se realiza, há imenso tempo, um laudabilíssimo serviço público de denúncia da fraude que é o AO90. Inclui-se também o excerto de uma declaração do ministro Pedro Adão e Silva, que, talvez, afectado pelas altas temperaturas tropicais, debitou um truísmo digno de um aluno do 9.º ano.

 

São, também, parte integrante deste escrito três imagens transmitidas por canais televisivos, que demonstram o cuidado (ou a falta dele!) com que estas estações lidam com a nossa língua. Uma dessas imagens ilustra a febre com que se eliminam consoantes, como no seguinte diálogo, mais real do que imaginário:

 

— Tem consoante?

— Tem!

— Então, corta!

— Mas…

— Nem mas, nem meio mas… Corta!

 

Em defesa - 2.png

 

As outras duas imagens mostram como uma parte dos jornalistas ainda (mais de dez anos depois, o que dá uma infinidade de meias horas, das quais falava Paulo Feytor Pinto) não interiorizou algumas das bases do AO90.

 

Em defesa - 3.png

 

Apetece perguntar pela enésima vez: Se é assim na Comunicação Social, como será com os cidadãos comuns?

 

No escrito do mês de Maio, mês em que ficámos a saber, através de Francisco Miguel Valada (no sítio aventar.eu/2022/05/30mrs-ao90) que Marcelo Rebelo de Sousa não adopta o AO90, citámos algumas frases da rubrica “Circo Cacográfico”, da página de Facebook da iniciativa Acordo Zero. A primeira dessas frases, “Cato pelos e pelo catos na boca do urso!” tem espoletado muitas e longas gargalhadas dos alunos, que se esforçam por ler e descodificar essas frases. Quando se lhes diz, que a dita frase, antes do Monstro Ortográfico, como se lhe refere Manuel Monteiro, era: Cato pêlos e pélo cactos na boca do urso!, faz-se luz. Ah, caro leitor, lembre-se sempre que os cactos (catos, como se diz e escreve agora) fazem parte da família das Cactáceas. Relembre também a origem desta palavra. Cacto deriva do grego káktos, pelo latim cactu. Ficou, caro leitor, esclarecido e convencido com a lógica acordesa? Já viu o orgulho que esta gente tem na história da sua língua?

 

A segunda dessas frases, “Pouco dinheiro para todos nós neste circo!”, levanta a questão de sabermos de a palavra “para”, neste contexto, é uma forma verbal ou uma preposição. Como se lê, caro leitor? Repare como, na ortografia de 1945, este problema não existia. Por esta razão, há quem diga que o AO90 veio trazer uma solução para um problema inexistente.

 

João Esperança Barroca

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:33

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Terça-feira, 31 de Maio de 2022

Mobilização dos desacordistas para uma acção, no próximo dia 10 de Junho, dia em que se celebra a Língua Portuguesa

 

Isto é, se concordarem. Obviamente.

 

Querem destruir a NOSSA Língua. A Língua de Camões, o Poeta maior de Portugal, autor do Poema épico «Os Lusíadas”, que o catapultou para o rol dos maiores poetas épicos do mundo: Homero (Ilíada e Odisseia); Virgílio (Eneida); Dante Alighieri (A Divina Comédia); Ovídio (Metamorfoses); John Milton (Paraíso Perdido); Chaucer (Os Contos de Canterbury), entre outros.

 

Querem destronar a celebração do Dia da Língua Portuguesa, no dia 10 de Junho, dia da morte do Poeta, e inventaram o dia 05 de Maio para celebrar, NÃO a Língua Portuguesa, como pretendem os acordistas, mas o linguajar gerado pelo acordo ortográfico de 1990, que veio desvirtuar a Língua Portuguesa, desviando-a da Língua de Camões, da NOSSA Língua.

 

Mas os Portugueses, aqueles que se prezam de o ser, e DESPREZAM, com legitimidade, o cacográfico AO90, não devem ceder aos políticos ignorantes que jogaram sujo, para sujarem a nossa Língua.

 

O que proponho que façam TODOS os que se dizem contra o AO90, e que no Facebook são aos milhares, é que no dia 10 de Junho, ponham no vosso "banner" de perfil do Facebook, nos Blogues, ou noutra parte qualquer, a imagem que sugiro [esta, da autoria do Paulo Teixeira] ou outra idealizada por cada um de vós, onde fique bem claro que no Dia 10 de Junho se celebra o Dia da Língua Portuguesa – a Língua de Camões.

 

CAMÕES PAULO.png

 

E para enfatizar esta iniciativa, escolham um poema de Camões e o transcrevam na vossa página ou Blogue.


E por sugestão do  Armando Cristóvão Oliveira Ribeiro visitem o túmulo de Luís de Camões, no Mosteiro dos Jerónimos (Lisboa- Portugal)  e depositem lá, em sua HONRA a mais linda e perfumada FLOR. Vamos mudar os hábitos. Talvez um ramo de flores ao lado da entrada do Mosteiro sempre com uma frase ou POEMA EM SUA HONRA.  Isto é algo que quem vive em Lisboa e arredores pode fazer. 

 

Vamos mostrar ao mundo que a Língua Portuguesa é a Língua Portuguesa. Não é a Língua adulterada, vilipendiada, maltratada, a enjeitadinha que fizeram dela, ao deixarem que, em Portugal, se disseminasse a mixórdia ortográfica que o AO90 gerou.



Vamos trabalhar nisto a sério? Isto é, se concordarem. Obviamente.

 

É uma oportunidade para demonstrarem que realmente estão contra o AO90, e passar das palavras aos actos. E sugiro que partilhem muito. Se quiserem partilhar sem a (minha) fonte não me importo nada.

 

O que é importante é que, no próximo dia 10 de Junho, estejamos, TODOS, a celebrar a Língua Portuguesa.

 

(Aceitam-se outras sugestões)

 

Isabel A. Ferreira

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:28

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Terça-feira, 18 de Maio de 2021

«“Como num programa de televisão se demonstrou que o Acordo Ortográfico não era necessário” (Maria do Carmo Vieira, PÚBLICO, 11.05.2021)»

 

Ainda no rescaldo do dia 5 de Maio, o “Dia Mundial da Língua Portuguesa”, que, de acordo com Rui Valente, «sabemos que é uma campanha publicitária em torno de tudo o que não interessa na Língua: os “milhões de falantes”, o “valor estratégico da Língua”, a “unidade” em torno do “Acordo Ortográfico», reflictamos nas palavras que a Professora Maria do Carmo Vieira escreveu, neste texto que hoje aqui reproduzo, e que é um verdadeiro monumento à lucidez e ao saber, algo que falta aos políticos portugueses, que mantêm a Língua Portuguesa cativa da estultícia que a esmaga.

(Os excertos a negrito são da minha responsabilidade)

Isabel A. Ferreira

 

M Carmo Vieira.png

M do Carmo Vieira 2.png

 

Por Maria do Carmo Vieira

 

«Como num programa de televisão se demonstrou que o Acordo Ortográfico não era necessário»

 

Não pedimos, não queremos e não precisamos do Acordo Ortográfico.
António Emiliano, Apologia do Desacordo Ortográfico, 2010 

 

A ortografia é um fenómeno da cultura, e, portanto, um fenómeno espiritual. O Estado nada tem com o espírito. O Estado não tem direito a compelir-me, em matéria estranha ao Estado, a escrever numa ortografia que repugno (…).


Fernando Pessoa, A Língua Portuguesa, edição Luísa Medeiros, 1997
 edição Luísa Medeiros, 1997

 

O programa “É ou Não É?”, de dia 4 de Maio p.p., na RTP 1, moderado pelo jornalista Carlos Daniel, elucida flagrantemente as epígrafes escolhidas. Aliás, o que li e ouvi, em relação a intervenções, sobretudo no dia 5 de Maio, juntando os gurus oficiais do momento festivo, constitui um manancial de matéria que expõe, sem pejo, contradições, servilismo, arrogância intelectual, culto da ignorância, e porque não dizê-lo, estupidez, implicando lamentavelmente a Língua Portuguesa e a vil roupagem com que a mascararam, ridicularizando-a. Os versos do poeta Luís de Camões, que Augusto Santos Silva não aceita como figura para identificar e representar a Língua Portuguesa, traduzem bem a “surdez” e o “endurecimento” de uma “pátria” que não louva e favorece “o engenho”, mas “que está metida/ no gosto da cobiça e na rudeza/ de uma austera, apagada e vil tristeza” (Canto X de Os Lusíadas). Uma consciência reiterada, ao longo dos séculos, por muitos outros escritores e poetas – António Ferreira, Francisco Rodrigues Lobo, Francisco Manuel de Melo, António Vieira, Fernando Pessoa, Sophia de Mello Breyner Andresen, Vasco Graça Moura…    

 

Se dúvidas houvesse sobre o facto de os cidadãos não encontrarem razão para o Acordo Ortográfico (AO) que foi decretado à sua revelia e, no caso português, contra todos os pareceres solicitados pelo Instituto Camões e estrategicamente escondidos do público, o programa da RTP 1, acima referido, demonstrou-o ao vivo: um moçambicano (Stewart Sukuma), um brasileiro (Arthur Dapieve) e um português (António Zambujo). Nenhum deles pensou alguma vez que esse acordo pudesse vir a acontecer, nem vislumbrou qualquer vantagem daí adveniente, muito pelo contrário. Eis as suas palavras:

 

Stewart Sukuma – “O Acordo Ortográfico foi mais usado a nível político e económico, mais do que a nível cultural. Os artistas acham mais piada continuar a cantar no seu português criado por via destes casamentos todos que existem. (…) é isto que faz a língua mais bonita. Pelo que sei, Moçambique nunca seguiu à risca o AO. (…) Não sentimos o Acordo em Moçambique”;

 

Arthur Dapieve – “Esse Acordo Ortográfico nasceu um pouco de uma tentativa de uma certa utopia de que se a gente escrevesse tudo exactamente da mesma maneira, nós nos tornaríamos mais próximos. Nesse sentido, ele fracassou. A riqueza da língua portuguesa é a variedade de falares. Não era necessário.;

 

António Zambujo – “Exactamente o que ele disse. Subscrevo o que disse o Arthur. Não era necessário.” Naturalmente, não incluí, neste painel a três, os convidados que, directa ou indirectamente, representavam uma posição acordista ou não-acordista.

 

Situação confrangedora, e que elucidou igualmente em flagrante o porquê do caos linguístico instalado na escola e na sociedade portuguesas, após a imposição do AO, foi a da jornalista, professora e escritora Isabela Figueiredo. Efectivamente, ao afirmar, com uma surpreendente leveza, que usava uma “ortografia mista”, escrevendo à sua maneira (omissão das consoantes mudas, mas manutenção dos acentos) e deixando aos revisores a tarefa da uniformização, Isabela Figueiredo apontou a razão do caos que grassa na sociedade portuguesa, com cada um escrevendo à sua maneira; fez também, e infantilmente, papel de ignorante porque não se acredita que desconheça o carácter normativo da ortografia, que a sua “ortografia mista” põe em causa, bem como a estabilidade que aquela exige. Do alto do pedestal instável em que se posicionou, ao longo do debate, confessou ainda Isabela Figueiredo, com a mesma euforia e no final do debate: “Sempre senti ao longo da minha vida de estudante a necessidade de eliminar as consoantes mudas e o acordo ortográfico veio satisfazer este meu grande desejo de as assassinar, de as fazer desaparecer.”

 

Não justificou, porém, o porquê dessa sanha às ditas consoantes mudas, mas acreditamos que a causa esteja no facto de ter tido a pouca sorte de professor algum lhe explicar o significado e a função das referidas consoantes ou, facto menos aceitável, o de ela própria, sendo já estudante universitária, nunca ter tido essa curiosidade. E assim terá continuado a não compreender o porquê das consoantes mudas e a reprimir o intenso desejo de as “assassinar”, até que veio o desejado AO, tal D. Sebastião, resolver-lhe o problema, satisfazendo-lhe simultaneamente a liberdade de uma “ortografia mista” que, por coerência, permitirá certamente também aos seus alunos. Aliás, a sua resposta à pergunta do moderador, sobre “O que é que se ganhou com o AO?”, traduz uma total ausência de reflexão sobre o tema: “Eu… eu… sabe uma coisa, isto não me apaixona”, incapaz de apontar um único ganho que fosse, excepção feita ao “assassínio” das consoantes mudas que doentiamente a perseguiam, as mesmas consoantes que etimologicamente contam a história da palavra, a sua vertente cultural, o que levou Fernando Pessoa/Bernardo Soares, de forma tão expressiva, a escrever “A ortografia também é gente”. No mesmo sentido da pouca preocupação com o estudo, neste caso da Gramática, está a repetição que Isabela Figueiredo fez, por duas vezes, de “acórdos”, em lugar de “acôrdos”: “Os “acórdos” têm sempre cedências, há cedências nos “acórdos”. Por arrastamento, ou não, o ministro Augusto Santos Silva foi pelo mesmo caminho, ao afirmar: “Somos conhecidos por cumprir os “acórdos” que fazemos”. Não é prestigiante para a Língua Portuguesa!...

 

Há momentos em que o poder, seja ele qual for, se trai e isso aconteceu com o ministro Augusto Santos Silva quando afirmou, depois de referir que até 1990 a língua portuguesa tinha sido um condomínio luso-brasileiro: “Do ponto de vista de um Ministro dos Negócios Estrangeiros que é o único em que sou competente, enfim, modestamente, mediocremente, mas… competente porque para isso fui nomeado (…)” (2.ª parte do debate). Eis, na verdade o advérbio (“mediocremente”) que se adequa à actuação do poder político (PSD e PS, sobretudo) relativamente ao desenvolvimento do processo do Acordo Ortográfico e da sua violenta implementação, ao arrepio da vontade dos portugueses e de todos os pareceres solicitados.

 

Não pode Augusto Santos Silva negar que foi o Brasil, através do seu presidente José Sarney, e não Portugal e os países Africanos de língua oficial portuguesa, quem quis concretizar um Acordo Ortográfico, promovendo um encontro entre os todos os países de língua oficial-portuguesa, em 1986, no Rio de Janeiro, acordo esse que foi amplamente contestado, não indo avante. Lembrar-se-ão da surreal ideia de acabar com a acentuação nas palavras esdrúxulas, entre outras aberrações, a maioria das quais transitou, como sabemos, para o AO. Nem em 1986 nem em 1990, os países Africanos estiveram verdadeiramente envolvidos nesta negociata, tanto mais que inteligentemente compreenderam que tinham problemas mais prementes a resolver e que o AO, que nem sequer haviam pedido, só iria desencadear gastos desnecessários, gastos que até agora nunca foram contabilizados e revelados, em Portugal! A verdade é que Brasil e Portugal, em “condomínio fechado”, mexeram os cordelinhos para impor o famigerado AO, encenando de contínuo a impensável e absurda “unidade ortográfica”. Os truques que fabricaram estão à vista:

 

. O Tratado Internacional de que Augusto Santos Silva se orgulha de saber cumprir, foi defraudado nos seus termos, porquanto expressava que o Acordo Ortográfico entraria em vigor no dia 1 de Janeiro de 1994 após “depositados todos os instrumentos de ratificação de todos os Estados junto do Governo português”;

 

. Não se tendo cumprido o disposto no Tratado Internacional, realizou-se novo encontro entre os 7 países, em 1998, na cidade da Praia (Cabo Verde), assinando-se o Protocolo Modificativo do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Nele se anulava a data de entrada em vigor (1 de Janeiro de 1994), mantendo-se a obrigatoriedade de todos os países da CPLP ratificarem as normas do AO para que este entrasse em vigor.

 

. Brasil e Portugal, sobretudo o Brasil, exasperados com a falta de cumprimento do exigido no Tratado Internacional, promoveram uma reunião, em 2004, em Fortaleza (Brasil), com os restantes países da CPLP, onde foi forjada a aprovação de um Segundo Protocolo Modificativo que adulterava os termos do Tratado Internacional. Da exigência de os sete países da CPLP ratificarem o AO, passou-se apenas para três. Neste ano, Timor passou a integrar a CPLP.

 

. Em 2006, o AO entra em vigor com a ratificação de apenas três países: Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.

 

Convenhamos que a matreirice (e ficamo-nos por este vocábulo) resulta normalmente em êxito. Destes truques subterrâneos não falou Augusto Santos Silva, focando apenas, para os incautos, a fidelidade de Portugal a um Tratado Internacional que, afinal, não foi cumprido nos seus termos. Neste momento, Angola e Moçambique ainda não ratificaram o AO e Guiné-Bissau e Timor-Leste, se acaso o ratificaram, não o aplicam. Por isso mesmo, Augusto Santos Silva foi parco em informação, ao referir que “o Acordo Ortográfico está em vigor porque há 4 Estados que terminaram o seu processo de ratificação”, não tendo esclarecido os seus nomes, muito menos abordado o truque que veio adulterar os termos do Tratado Internacional e que suscitou o aparecimento de uma Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico, entregue em Abril de 2019, com mais de 20.000 assinaturas e cujo tortuoso processo, na Assembleia da República, põe a nu a mediocridade da maioria dos deputados, a sua falta de Cultura e a sua falta de respeito pelos cidadãos e pela Democracia.

 

Regozijo-me pelo facto de Augusto Santos Silva ter compreendido finalmente que há várias lusofonias e que os portugueses também são donos da sua língua. Quanto ao verso escolhido – Sê plural como o Universo – de Alberto Caeiro, ele só se pode ajustar à Língua Portuguesa e à diversidade de variantes, se o famigerado Acordo Ortográfico não estiver implicado.

 

E a terminar, não poderia deixar de felicitar o jornalista Nuno Pacheco pela sua firme, fundamentada e inteligente argumentação (a que outros chamam “paixão”), que aliás não foi rebatida por Isabela Figueiredo e Augusto Santos Silva, ou seja, por quem aceita acriticamente este Acordo Ortográfico e silencia ou menospreza aspectos, no mínimo, controversos, do seu processo.

 

Professora

 

Nota 1: Transcrição integral de artigo publicado no jornal PÚBLICO  na edição de terça-feira, 11 de Maio de 2021.

Nota 2: Já sabemos que o “Dia Mundial da Língua Portuguesa” é uma campanha publicitária em torno de tudo o que não interessa na Língua: os “milhões de falantes”, o “valor estratégico da Língua”, a “unidade” em torno do “Acordo Ortográfico”. Participar nesse evento, nem que seja como espectador, é sempre um exercício penoso, desde logo pelo risco de instrumentalização. Ainda assim, atrevo-me a dizer que as “cerimónias”, este ano, não correram bem. Por um lado, os defensores do AO90 e da estratégia “universalista” apresentaram-se a um nível que raia a indigência, exibindo uma confrangedora penúria de argumentos.

 

Por outro lado, e por reacção, produziram-se bons textos e/ou depoimentos denunciando mais uma vez a “política da Língua” em geral e o Acordo Ortográfico em particular. Este artigo de Maria do Carmo Vieira é disso exemplo, e faz sentido reproduzi-lo nestas páginas, tanto mais que a ILC-AO é citada no texto.

 

Mas vale a pena consultar as restantes intervenções. A maior parte encontra-se já convenientemente compilada (e dissecada) no sítio do costume:

• Debate É ou Não É, na RTP1
• Antena 1 “Espaço das 10:00h
• “Ainda a Língua: uma dimensão universal ou paroquial“, artigo de Nuno Pacheco no PÚBLICO
• “Lusofonia, adeus!“, elucidativo texto de Sérgio Rodrigues no jornal “Folha de São Paulo”
• “O cheiro a consoantes mudas assassinadas pela manhã“, artigo de António Jacinto Pascoal no PÚBLICO de 12 de Maio

Rui Valente 

 

Fonte:

https://ilcao.com/2021/05/16/como-num-programa-de-televisao-se-demonstrou-que-o-acordo-ortografico-nao-era-necessario-maria-do-carmo-vieira-publico-11-05-2021/?fbclid=IwAR0MTZq9ooY7G9DZXnHo2a17eFCA2Pw98sbSmxro12ecSH-i28B66X1UYtY

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:08

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Quarta-feira, 5 de Maio de 2021

A UNESCO decretou o dia 5 de Maio como o Dia Mundial da Língua “Portuguesa”, ou melhor, como o “Dia da Variante Brasileira da Língua Portuguesa”. Assim é que é.

 

A Língua Portuguesa é a Língua de Luís de Camões, de Fernando Pessoa, de Eça de Queiroz, de Camilo Castelo Branco, de todos os nossos clássicos e hodiernos escritores e poetas, que não cederam à insensatez do Acordo Ortográfico de 1990, que não só veio amputar a grafia portuguesa, como  agigantar o desleixo pela escrita da mesma, e desenvolver uma inaceitável falta de brio  nos profissionais que têm a Língua Portuguesa como instrumento de trabalho,   mormente os da imprensa escrita (salvo raras excepções) e os que (des)constroem as legendas nas televisões, que, aos erros ortográficos, recomendados pelo AO90, acrescentam uma mixórdia linguística, sem precedentes, no nosso País. 

 

Daí que, hoje, em Portugal, dia que a UNESCO destinou para ser o Dia Mundial da Língua “Portuguesa”, o que se comemora é o que veremos mais abaixo, através da parca amostragem (a lista é infinita) com que brindo este dia… Os restantes países, da dita lusofonia, celebrarão a Variante Brasileira da NOSSA Língua, que políticos incompetentes e seus acólitos, pretenderam unificar, mas deram com os burros n’água. E o pior é que insistem no erro.

 

No dia 10 de Junho cá estaremos para celebrar o “Dia de Portugal, de Camões, da Língua Portuguesa (a original, a verdadeira), dos Cidadãos Portugueses e das Comunidades Portuguesas que, no estrangeiro, honram Portugal e a sua Identidade, mais do que o Presidente da República Portuguesa, que se está nas tintas para o Património Cultural Imaterial que ela representa, e dos que, ao abrirem a boca para falar da Língua Portuguesa, não sabem do que falam.

 

Hoje, fiquemo-nos pela comemoração da Mixórdia Ortográfica Portuguesa, gerada pelo desleixo, pela falta de brio e de profissionalismo dos escribas, e pela irrelevância que os sucessivos governos de Portugal têm dado ao Ensino, em geral, e ao Ensino da Língua Portuguesa, em particular. O que veremos a seguir não é do domínio das gralhas, porque gralhas sempre existiram. Isto é do domínio de uma mão-de-obra barata desqualificada, à qual os empregadores pagam uma ninharia, estando-se nas tintas para o serviço de qualidade que deveriam prestar.

 

E este é o Portugal dos Pequeninos que temos, e que espera por alguém dotado de lucidez e hombridade, para acabar com este embuste.

 

Isabel A. Ferreira

 

1 - Inpetores.png

Fonte da imagem:  

https://www.facebook.com/photo?fbid=2779391642324180&set=g.1658684367709405

2 - Ressurreição.jpg

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5 - Dedes.png

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6 - Espetadores.png

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7 - HidroGênio.png

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9 - Indicência.png

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10 - Corrução.png

11 - Ilibidos.png

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12 - Escalpa.png

13 - Houve-se.png

14 - Meter Casa.png

15 - Metereologistas.png

16 - Pessoal não decente.png

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 11:13

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Sexta-feira, 7 de Junho de 2019

Devolva-se a Portugal a Língua Portuguesa, e teremos motivos para comemorar o dia 10 de Junho

 

10 de Junho

Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas?

Têm a certeza?

Vejamos.

 

DEZ JUNHO.png

 

As comemorações do dia 10 de Junho/2019 vão realizar-se entre  domingo e terça-feira, de Portalegre ao Mindelo (Cabo Verde), e contam com a participação do presidente da República e do primeiro-ministro que, despudoradamente, andam por aí a vender Portugal e a Língua Portuguesa.

 

O que há para comemorar?

 

Os governantes portugueses celebrarão o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas com cerimónias que serão hipócritas, porque em nada honram a Bandeira do País, que está a ser vendido ao retalho; em nada honram Luís Vaz de Camões, o poeta maior da Língua Portuguesa, a qual está a ser deliberadamente destruída, estando Portugal a perder, deste modo infame, um dos seus maiores símbolos identitários; e em nada honram as Comunidades Portuguesas, que deixaram o seu País em busca de uma vida melhor, e que, por este andar, não terão País para onde possam regressar, porque o País estará nas mãos de estrangeiros, desde o Capital à Língua. Portugal está em vias de extinção. O facto de se ver a bandeira do Brasil como símbolo do Português em instâncias europeias, e isto não motivar um protesto dos governantes portugueses diz tudo.

 

No dia 10 de Junho, Luís de Camões será celebrado numa Língua que já não é a Língua de Camões, aquela com a qual tornou grande um Portugal pequeno, e que, devido à mania das grandezas, à pala do gigante sul-americano, tornará a ser pequeno e sem identidade própria, porque está a perder a Língua que o identificava (já não identifica mais) como uma nação europeia. Até a bandeira já não é a portuguesa, quando se fala de Português.

 

Se Luís de Camões pudesse falar, lá do limbo onde com certeza se encontra, diria, desgostoso:

 

«Parai, ó (h)omens sem (h)onra! Arrancastes as raízes da Língua, com a qual celebrei os feitos dos Portugueses, e agora só restam palavras alteradas, afastadas das suas origens, para contar as proezas imperfeitas dos que venderam, por baixo preço, o meu País!»

 

Jamais nenhuma Língua do mundo, mesmo aquelas com mais variantes do que a Língua Portuguesa, teve de se unificar para se impor internacionalmente. O acordo ortográfico de 1990 pretende ferir de morte a diversidade linguística e cultural que constitui o património que ainda UNE o mundo dito lusófono. Não queiram uns poucos alucinados com uma grandeza que, na realidade, não existe, destruir esse património e desunir o que estava unido pela diversidade.

 

***

 

Eu, como cidadã portuguesa, não compactuarei jamais com esta traição à minha Pátria. E chamem-se os nomes que quiserem. Eu amo o meu País, eu amo a minha Língua, e, qual padeira de Aljubarrota, continuarei a combater, com todas as garras de fora, os que, por trinta dinheiros, pretendem destruir o meu País, destruindo a minha Língua.

 

Que acordo ortográfico permitiu unificar que língua? A Língua Portuguesa não foi, com toda a certeza. A Língua Portuguesa não é aquela mixórdia de palavras mal escritas e mal ditas que os governantes portugueses pretendem impingir-nos, ilegalmente e à força.

 

É que no Brasil, fala-se e escreve-se Brasileiro. Nos restantes países ditos lusófonos, (excepto Cabo Verde) fala-se e escreve-se Português. Em Portugal, fala-se e escreve-se mixordês, uma mistura do Português e do Brasileiro.

 

Espero que quem ama verdadeiramente a sua Pátria e os seus valores culturais identitários, digam um rotundo NÃO a esta deslealdade para com os Homens (com H maiúsculo) que nos deixaram uma Língua íntegra, e que omens (sem H nenhum – se não se lê, não se escreve, não é esta a nova regra?) querem matar por trinta dinheiros.

 

Porque não há nada de mal em ser-se patriota, até porque ser patriota não é sinónimo de ser idiota, mas simplesmente sinónimo de amor pela sua Pátria, pela sua Origem, pela sua Ascendência, pelo seu Passado, porque sem isto, não se tem futuro, e anda-se no mundo só por ver andar os outros, tal qual zombies. Ou se é patriota, ou se é idiota.

 

Mas em Portugal, a quem interessa a destruição da Língua e da bandeira portuguesas?

 

Uma grande mulher, livre-pensadora portuguesa, Idalete Giga responde e eu subscrevo cada palavra sua: «Interessa aos mais variados lobbies (editoras, sobretudo, mas também ao próprio desgoverno que não tendo coragem para assumir a culpa do tremendo atentado contra a Língua e Cultura Portuguesas que é o (des)AO90, continua VERGONHOSAMENTE a esconder a cabeça na areia, a desprezar o DESCONTENTAMENTO de milhões de portugueses e a criar o maior universo de analfabetos de que não há memória em Portugal. Não ouve os verdadeiros especialistas na matéria. Não ouve intelectuais, jornalistas, poetas, escritores quer portugueses, quer brasileiros. Não ouve os governantes de Angola, Moçambique que não assinaram o Linguicídio. Fechou-se na casca dos imbecis e dos cobardes (!!!!!) Mas... mais cedo ou mais tarde (talvez depois do Brasil) o nosso Grito do Ipiranga tem de fazer tremer todos os recantos das várias lusofonias (que suas ex.as, como são vesgos, só conseguem ver uma lusofonia) (!!!!!!!).»

 

No próximo dia 10 de Junho, em vez de flores, continuarei, tal como nos anos anteriores, a depositar as minhas lágrimas no túmulo de Luís Vaz de Camões, porque sei, sinto que Camões estará a chorar comigo.

 

1280px-Jeronimos_12.jpg

Imagem: Carlos Luís M C da Cruz - Obra do próprio, Domínio público https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=4831811

 

E que os hipócritas comemorem a própria vã glória de existir.

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 11:18

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Sexta-feira, 9 de Fevereiro de 2018

«Defender a Língua Portuguesa é uma prioridade da acção do governo» Dr. António Costa? Ouvimos bem?

 

 

Nós vamos cobrar esta aCção, doutor António Costa.

 

E o primeiro-ministro disse mais esta coisa dúbia: considerou que esta é uma aposta de “afirmação da individualidade e da diversidade»

 

Querem saber? Banzei-me, porque a treta não diz nada, nada, nada com a careta.

Absolutamente nada.

 

PREMIO CAMOES.png

«No dia 08 de junho, o poeta português Manuel Alegre foi eleito o novo ganhador do Prêmio Camões de Literatura, principal comenda do mundo literário em linguá portuguesa. Instituído em 1988, o Prêmio tem o objetivo de consagrar autores de língua portuguesa que tenha contribuído para o enriquecimento do patrimônio literário e cultural da nossa língua». (***)

Origem da imagem e do pequeno texto:

http://praxis.com.br/manuel-alegre-e-o-vencedor-do-premio-camoes-2017/

 

*** (Será esta linguagem que António Costa defende para Portugal? É que já estamos neste caminho, e bastante adiantados. E isto não se faz às crianças portuguesas: obrigá-las a escrever à brasileira!)

 

E querem saber por que não diz a treta com a careta? Porque ou António Costa está a gozar connosco, porque até agora não mexeu uma palha em defesa da Língua Portuguesa (que saibamos, mas como há muita coisa que se faz às escondidas, no Parlamento…!) ou quando se referiu à Língua Portuguesa queria dizer “grafia brasileira”, e fugiu-lhe a boca para a verdade, porque a verdade é que em Portugal a Língua é a Portuguesa. E a isto chama-se individualidade. E não há cá esta coisa de português europeu e português brasileiro. Até porque o Português não é outra coisa senão europeu. PONTO. O que há é a Língua Portuguesa e as suas variantes: brasileira, angolana, moçambicana, cabo-verdiana, são-tomense, timorense, guineense, macaense, goense… E onde mais fôramos, mais tivéramos… E a isto chama-se diversidade.

 

Pois se António Costa quer afirmar a individualidade, fiquemos com a nossa Língua Portuguesa, e atire-se ao lixo o AO90, como o Brasil atirou ao lixo a Convenção Ortográfica Luso-Brasileira de 1945, que assinou, mas não cumpriu.

 

E se António Costa quer afirmar a diversidade, pois deixemos que cada país lusófono fique com a sua especificidade linguística, para que os escritores citados: Luís de Camões, José Craveirinha, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Guimarães Rosa, Luandino Vieira, José Saramago, Arménio Vieira, Jorge Amado, Baltazar Lopes, Cecília Meireles, Mia Couto e Manuel Alegre, possam ser lidos diversamente, e não somente à moda brasileira.

 

Porque haveria Luandino Vieira (Angola) ou Mia Couto (Moçambique) ou Arménio Vieira (Cabo Verde), ou Alda do Espírito Santo (São Tomé e Príncipe) ou Odete Semedo (Guiné-Bissau) ou Luís Cardoso de Noronha (Timor-Leste) ou Luís de Camões (Portugal) serem lidos segundo a cartilha brasileira, ou Jorge Amado ser lido segundo a cartilha portuguesa?

 

Qual o interesse de unificar algo que é absolutamente impossível de unificar, se António Costa pretende afirmar a diversidade, como declarou?

 

Então para quê mutilar a ortografia portuguesa, para a avizinhar da ortografia brasileira nos vocábulos em que existem consoantes mudas e hífenes e acentos, mesmo assim, com excePções e bastantes abortinhos ortográficos por parte dos portugueses, que se metem a ser mais “papistas do que o papa” por pura ignorância?

 

A verdade é que o servilismo do governo português aos mandos brasileiros é notório e vergonhoso e repugnante.

 

Mas ainda há mais. Lê-se na notícia:

 

«António Costa falava momentos antes de entregar, juntamente com o embaixador do Brasil em Portugal, Luís Alberto Figueiredo Machado, e na presença do ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, do ex-líder parlamentar socialista, Alberto Martins, e do presidente do PS, Carlos César, entre outras personalidades, ao poeta e ex-candidato presidencial Manuel Alegre, o Prémio Camões 2017, numa cerimónia que decorreu na passada sexta-feira, no Palácio da Ajuda, tendo o primeiro-ministro reafirmado o compromisso do Governo com a língua portuguesa, “com os seus valores e as suas valências”.

 

Duas observações a fazer:

 

Primeira: como teria sido elegante convidar os embaixadores dos restantes países lusófonos, para esta cerimónia, uma vez que o Prémio Camões destina-se a distinguir autores que tenham contribuído para o enriquecimento do Património Literário e Cultural da Língua Portuguesa, apesar de o prémio ter sido instituído pelos governos do Brasil e de Portugal em 1988!

 

Mas não será esta a festa maior da Língua Portuguesa, escrita e falada também por Angolanos, Moçambicanos, Cabo-verdianos, São-Tomenses, Guineenses e Timorenses, que pertencem aos PALOP, aos países ditos lusófonos? E que em 29 atribuições, apenas cinco foram para autores africanos, e mesmo assim para apenas três países (Moçambique, Angola e Cabo Verde)? Por que teriam sido excluídos os embaixadores dos outros países? Por quê esta exclusividade brasileira? É que aqui há muita água suja no bico.

Isto pareceu uma cerimónia luso-brasileira, tal como o é o AO90, mais brasileiro do que português, pois de português só tem Malaca Casteleiro, parcveiro de Antônio Houaiss, o paridor-mor desta tragédia linguística.

Segunda: se o primeiro-ministro reafirmou o compromisso do Governo com a Língua Portuguesa, “com os seus valores e as suas valências”, porque se continua a desvalorizar a Língua Portuguesa e a impingir às crianças portuguesas a valência brasileira?

 

Bem, e António Costa disse mais: segundo ele «num mundo onde se observa um “crescente “risco” de massificação, uniformização e de hegemonização, a língua é um instrumento e uma “condição insubstituível” de afirmação da individualidade e da diversidade».

 

Que conversa é esta, senhor primeiro-ministro?

 

Impingem ao país a individualidade ortográfica basileira, e pretendem afirmar a diversificação? Em que ficamos? Ou percebi mal?

 

Nesta cerimónia luso-brasileira, António Costa fez ainda questão de vincar a importância da Língua Portuguesa e da prioridade que o Governo dá à sua difusão, defendendo que cada língua representa por si mesma um mundo e uma “visão desse mesmo mundo”, uma “singularidade e uma pluralidade”, reiterando a vontade do Governo que lidera de “reforçar, ampliar e de modernizar” uma política de língua “mais activa e mais eficaz”, de modo a tornar a língua “mais partilhada e mais presente”.  

 

O que é que isto significa, senho primeiro-ministro?

 

Não é verdade que o governo português (porque hei-de escrever "governo" com letra maiúscula e Fevereiro com letra minúscula?) dá prioridade à difusão e defesa da Língua na sua singularidade e pluralidade. Não é verdade. Se desse, já teria acabado com esta fantochada de introduzir em Portugal a ortografia brasileira. Deixaria correr livremente a pluralidade… Ou percebi mal?

 

E o desafio que defendeu, o de «que não deve ficar apenas no âmbito do Estado e das suas instituições, mas um desígnio que tem de ser assumido igualmente pelo “conjunto da sociedade civil” e por todos os “luso falantes”, saudando a propósito os povos, países e comunidades dispersas pelo mundo que falam o português, defendendo que todos e cada um deles “são representantes dessa comunidade maior” que fala a língua de “Luís de Camões, de José Craveirinha, de Carlos Drummond de Andrade, de Fernando Pessoa, de Guimarães Rosa, de Luandino Vieira, de José Saramago, de Arménio Vieira, de Jorge Amado, de Baltazar Lopes, de Cecília Meireles, de Mia Couto e de Manuel Alegre”, é atirar areia para os olhos dos Portugueses.

 

Porquê?

Simplesmente porque os luso-falantes, dispersos por todo o mundo, estão-se nas tintas para o AO90 que os governos português e brasileiro querem impingir aos demais povos lusófonos, estando esses luso-falantes a contestar fortemente esta ditadura ortográfica, que pretende, à força de um objectivo torpe,  que Luís de Camões, José Craveirinha, Fernando Pessoa, Luandino Vieira, José Saramago, Arménio Vieira, Baltazar Lopes, Mia Couto e Manuel Alegre, estejam “afêtos” à cartilha de Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa e Jorge Amado.

 

Fonte da notícia: https://shar.es/1NOC4R

 

***

Ouvi o discurso de Manuel Alegre, e pareceu-me que ele esteve-se nas tintas para a defesa da Língua Portuguesa. Poderia ter aproveitado a ocasião para mandar um recado ao governo de António Costa, mas não mandou. Por vezes penso que estes prémios literários, que são atribuídos a certos desacordistas, servem para os calar. E o pior é que eles CALAM-SE. Com isto não quero dizer que Manuel Alegre não merecesse o prémio, mas podia ter feito algo mais pela Língua Portuguesa, sugerindo ao seu camarada António Costa que desista de abrasileirar a ortografia portuguesa, porque isso não é defender a diversidade, nem a Língua Portuguesa.

 

Para finalizar sugiro a leitura deste texto onde José Saramago, Padre António Vieira, Marguerite Yourcenar, Séneca e Jaime de Magalhães Lima falam daquela «cegueira que faz com que não reconheçamos o que temos à frente…»

 

Os olhos são inúteis quando a mente é cega

Isabel A. Ferreira

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 18:41

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Segunda-feira, 4 de Setembro de 2017

Portugal é caso único no mundo no que respeita à "venda" da sua Língua Oficial

 

Nunca, jamais, em tempo algum, e em parte nenhuma do Planeta Terra, e quiçá, de todo o Universo, nenhum país independente trocou a sua própria Língua (Bela, Culta e Rica) pelo  dialecto de uma ex-colónia, ainda que derivado da Língua Matriz, e o qual se convencionou chamar AO90, apenas porque um punhado de ignorantes sonhou engrossar a lista dos que mutilaram a Língua Portuguesa, sem qualquer critério científico.  

 

LÍNGUA INDO.png

Ao estudarmos a História das Línguas Indo-Europeias, na qual a Língua Portuguesa se inclui, verificamos que a nossa língua faz parte de uma grande e nobre família linguística com a mais longa e coesa cronografia, e que nada tem a ver com nenhuma das Américas.

 

Portugal é um país com uma dimensão territorial pequena, mas não é um país com uma História pequena. Se hoje está reduzido a uma quase insignificância, num mundo de gigantes, outrora foi um país que deu novos mundos ao mundo, epopeia imortalizada pelo nome maior da nossa Literatura, Luís Vaz de Camões, na sua imortal e universal obra Os Lusíadas.

 

Portugal já representou um papel importantíssimo no mundo. Teve prestígio. Os Portugueses eram conhecidos de ponta a ponta do mundo, pelos seus grandes feitos, associados a todos os defeitos comuns aos restantes povos conquistadores da época (Ingleses, Espanhóis, Franceses, Holandeses).

 

Portugal tinha um povo destemido, que sempre defendeu, com unhas e dentes, paus e pedras, o seu território, que foi sendo conquistado ao invasor, palmo a palmo, por Reis aguerridos e empenhados em fundar o País que herdámos.

 

Nunca permitimos que estrangeiro nenhum cá assentasse arraiais. O povo unia-se, e, à paulada, à pedrada, fosse com o que fosse, corriam com eles…

 

E hoje, o que temos? Quem temos?

 

Temos uns governantes servis, desprovidos de espinha dorsal, comprometidos com a falta de excelência, que fazem o jogo sujo de um punhado de ignorantes que acha que o Dialecto Brasileiro, vulgo, AO90,   pode sobrepor-se à longa e magnífica história da nobre Família Linguística Indo-Europeia, de que os Portugueses fazem parte.

 

Por isso, não podemos substituir a Língua Portuguesa pelo Dialecto Brasileiro (=AO90), permitindo que passemos a integrar uma família “linguística” sem história, desenraizada, descaracterizada, desmembrada,  apenas porque esse tal punhado de ignorantes (avessos ao conhecimento) simplistas (de lógica extremamente básica) e facilitistas (contrários à exigência) acham que um dialecto teria mais prestígio no mundo, por serem milhões, do que uma das Línguas mais antigas e cultas da Europa, falada e escrita por milhares.

 

Como se enganam!

 

A quantidade jamais suplantará a qualidade, até porque o Dialecto Brasileiro (erradamente denominado Português do Brasil)  circula pela Internet muito mal escrito, envergonhando os Brasileiros.

 

A Língua Portuguesa é a mais pura essência que se guarda num pequeno frasco (Portugal). O AO90 só veio adulterar essa essência. 

 

 © Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:04

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