«Acho o AO90 uma máquina de fomentar erros, de criar aberrações e instaurar o caos ortográfico […]. Quando os seguidores e legitimadores deste acordo instaurado por errados e perniciosos cálculos políticos recuam perante algumas das suas regras mais pitorescas […], então é caso para perguntar o que se passa com a monstruosa criatura que não é respeitada nem sequer por quem lhe quer bem. Devo confessar que às vezes até tenho pena do enjeitado, embora não hesitasse em infligir-lhe o golpe de misericórdia.»
António Guerreiro, Cronista e crítico literário
Como o leitor já sabe, o AO90 trouxe, como diz (muito bem) António Guerreiro na citação em epígrafe, uma caterva de aberrações. Dentre elas, salientam-se os fatos e os contatos. Só por estes dois termos, o AO90 já deveria estar no caixote do lixo da História, onde estaria agora a repousar, não foram as intervenções, entre outras, de Lula da Silva, de Santana Lopes e de José Sócrates.
Uma breve incursão pelas páginas dos órgãos de Comunicação Social permitiu que respigássemos o que se segue nos próximos parágrafos. Gostaríamos de chamar a atenção para a imagem com o canoísta Messias Baptista. O atleta tem o seu nome escrito na embarcação. Mas o que fez o jornalista? Podou a palavra, retirando-lhe a consoante.
“A atual crise permitiu ainda verificar que são os hospitais dos grandes centros urbanos que, em situação de caos, conseguem, com enorme esforço, “aguentar” o SNS. Se esse fato merece atenção, para que nunca se perca, não menos verdade é que se impõe um olhar especial para os hospitais mais pequenos, mais afastados dos grandes centros, que servem populações com menos opções de acesso, e que, sendo os “elos mais fracos” do sistema, foram, exatamente, por onde a cadeia quebrou, para os fortalecer de forma duradoura e irreversível.”
Isabel Galriça Neto e Miguel Soares de Oliveira, Expresso, 22-11-2023.
«Em declarações a uma (sic) canal regional da televisão pública NDR citadas pelo jornal francês LE Monde, a porta-voz da polícia Sandra Levgrun, afirma: “Mobilizámos psicólogos policiais e estamos neste momento a falar com o autor destes actos. Procuramos uma solução negociada”. A polícia considera “muito bom sinal” o fato de o pai ter permanecido em contato com as autoridades “durante tanto tempo”.»
Notícia atualizada às 11h51
Expresso, 05-11-2023
«A cantora revelou ainda que continua a trocar mensagens com o vocalista da banda britânica. “Ele tem o meu número de telefone. No último concerto [em Coimbra], pediu o meu número, e fiquei em contato com ele”, disse.»
Expresso / Blitz,04-11-2023
«A religião muçulmana é vista no Ocidente como limitadora dos direitos das mulheres, como extremista. Há pessoas que vêem um turbante na cabeça de um homem como perigo, que vêem um hijab na cabeça de uma mulher como um perigo.»
Clara Não, Expresso,13-11-2023
«Esta semana, não só não terminou o conflito israelo-árabe como começou o conflito Marcelo-árabe. As declarações do presidente foram criticadas e este fim-de-semana dezenas de pessoas manifestaram-se à porta do palácio de Belém.»
Expresso, 06-11-2023
«De forma indireta e através dos seus, com Augusto Santos Silva a exigir prazos e explicações à Justiça, e de forma concreta e de viva voz, António Costa não pára de disparar desde que foi inesperadamente alvejado.»
Sebastião Bugalho, Expresso, 20-11-2023
«Não ridicularizem a versão que contradiz a vossa nem valorizem a que a valida. Esse não é um exercício inteletualmente honesto.»
Duarte Gomes, Tribuna Expresso, 31-12-23
«Parte da espectacularidade do jogo assenta nesses factores, os da incerteza e imprevisibilidade de muitos dos seus momentos.»
Duarte Gomes, Tribuna Expresso, 31-12-23
«O encenador da peça “Turismo”, Tiago Correia, acusa o diretor do Teatro Municipal do Porto de “censura, chantagem emocional, coação, ameaça e abuso de poder” por ter rejeitado a distribuição da folha de sala da peça da Companhia A Turma, que subiu ao palco do Teatro do Campo Alegre na passada sexta-feira e sábado. Em causa está uma nota de rodapé da sinopse do espetáculo e da autoria de Regina Guimarães - que considera tratar-se de censura e “terrorismo inteletual” a não distribuição da folha.»
Isabel Paulo, Expresso, 04-02-2020
«Extremo moçambicano pára duas a três semanas; apto depois da paragem para os jogos das seleções.»
A Bola, 06-11-2023
«Trabalho não pára por aqui.»
A Bola, 30-05-2023
Como se vê, a boa ortografia ressurge, por vezes, (actos e vêem) concretizando uma das afirmações do texto em epígrafe.
Ah, vários órgãos da Comunicação Social noticiaram, há dias, que uma mãe que raptara a filha do Hospital de Faro tinha problemas de adição. Nada que umas explicações com um bom professor de Matemática não resolva.
Ah, já saiu o livro Assim se Faz Portugal, que reúne textos de Luísa Costa Gomes, Manuel Matos Monteiro, Filipe Homem Fonseca e Afonso Cruz. Como se pode ler na página da TSF, são crónicas de humor, sátira e reflexão, escritas em Português imaculado.
João Esperança Barroca
«Assim se faz Portugal» publicado pela Minotauro Editora, é um livro de quatro autores: Luísa Costa Gomes, Filipe Homem Fonseca, Afonso Cruz e Manuel Monteiro, com prefácio de Maria Rueff, o qual será apresentado no próximo dia 31 de Outubro, na Livraria Almedina Atrium Saldanha, às 18.30.
Desejo aos autores muito sucesso, tanto quanto tiveram no Podcast.
Aos leitores deste Blogue recordo apenas que «para SABER é preciso LER», um lema que nunca é demais propagar.
A propósito de, por aí, ainda se escrever correCtamente (*) o Português, e haver editoras que publicam em Bom Português, eis o comentário de um jurista, com o qual concordo plenamente.
E mais:
Também é um faCto (*) que já vamos vendo, por aí, um ligeiro retorno à grafia portuguesa. É que , aos poucos, os acordistas vão vendo o quão ridículo e estúpido é o AO90, e, para não passarem por parvos, começam a escrever correCtamente. (*)
(*) Ponho em destaque as consoantes, para que os acordistas saibam que existem, e porque passei a pronunciá-las, sobretudo, quando estou com os meus netos ou com outras crianças, para que se habituem ao som, também nas palavras portuguesas, até porque estão a aprender Língua Inglesa e Língua Castelhana e, nestas Línguas pronunciam as consoantes. Não vejo motivo para que Portugal, que tem uma língua românico-indo-europeia, não as pronuncie. Pronunciando-as, os acordistas não teriam tanta dificuldade em escrevê-las, e era um modo de começar a escrever-se em Bom Português.
Isabel A. Ferreira
«O português que falamos hoje tem muito pouco a ver com o que [era] falado por Luís de Camões, a ortografia d’ Os Lusíadas tem aspectos que não são os que nós hoje consideramos a norma.»
Pedro Adão e Silva, Ministro da Cultura, em 5 de Maio de 2022, em Luanda
«Não se pode mandar esta gente toda para um país só deles, com o grunhês como língua oficial, dado que é o que falam e escrevem?»
José Antunes, em comentário no Facebook no grupo Cidadãos contra o Acordo Ortográfico de 1990
«É este o grande objectivo: produzir a confusão que consolide a ignorância em definitivo!»
Rodrigo Pereira Martins, em comentário no Facebook no grupo Cidadãos contra o Acordo Ortográfico de 1990
«A língua portuguesa veio do latim, mas já foi há imenso tempo. Aos nativos, no entanto, parece não interessar absolutamente nada, de onde é que ela veio, e sobretudo, para onde é que ela vai. O português do ano dois mil — como hoje se prefigura — não terá formas complexas de qualidade alguma. A tendência simplificadora e redutiva que se afirma no vocabulário e um pouco por todo o lado, fará desaparecer formas […]. Dominarão formas de rufianismo linguístico, no pressuposto de que “desde que se entenda, está certo”, tendendo a comunicação para o mais elementar dos grunhidos, apoiado pelo mais eloquente dos gestos.»
Luísa Costa Gomes, Escritora
Inicia-se o escrito do mês de Junho com quatro citações em epígrafe. Incluem-se duas citações de cidadãos comuns, respigadas de páginas do Facebook, nas quais se realiza, há imenso tempo, um laudabilíssimo serviço público de denúncia da fraude que é o AO90. Inclui-se também o excerto de uma declaração do ministro Pedro Adão e Silva, que, talvez, afectado pelas altas temperaturas tropicais, debitou um truísmo digno de um aluno do 9.º ano.
São, também, parte integrante deste escrito três imagens transmitidas por canais televisivos, que demonstram o cuidado (ou a falta dele!) com que estas estações lidam com a nossa língua. Uma dessas imagens ilustra a febre com que se eliminam consoantes, como no seguinte diálogo, mais real do que imaginário:
— Tem consoante?
— Tem!
— Então, corta!
— Mas…
— Nem mas, nem meio mas… Corta!
As outras duas imagens mostram como uma parte dos jornalistas ainda (mais de dez anos depois, o que dá uma infinidade de meias horas, das quais falava Paulo Feytor Pinto) não interiorizou algumas das bases do AO90.
Apetece perguntar pela enésima vez: Se é assim na Comunicação Social, como será com os cidadãos comuns?
No escrito do mês de Maio, mês em que ficámos a saber, através de Francisco Miguel Valada (no sítio aventar.eu/2022/05/30mrs-ao90) que Marcelo Rebelo de Sousa não adopta o AO90, citámos algumas frases da rubrica “Circo Cacográfico”, da página de Facebook da iniciativa Acordo Zero. A primeira dessas frases, “Cato pelos e pelo catos na boca do urso!” tem espoletado muitas e longas gargalhadas dos alunos, que se esforçam por ler e descodificar essas frases. Quando se lhes diz, que a dita frase, antes do Monstro Ortográfico, como se lhe refere Manuel Monteiro, era: Cato pêlos e pélo cactos na boca do urso!, faz-se luz. Ah, caro leitor, lembre-se sempre que os cactos (catos, como se diz e escreve agora) fazem parte da família das Cactáceas. Relembre também a origem desta palavra. Cacto deriva do grego káktos, pelo latim cactu. Ficou, caro leitor, esclarecido e convencido com a lógica acordesa? Já viu o orgulho que esta gente tem na história da sua língua?
A segunda dessas frases, “Pouco dinheiro para todos nós neste circo!”, levanta a questão de sabermos de a palavra “para”, neste contexto, é uma forma verbal ou uma preposição. Como se lê, caro leitor? Repare como, na ortografia de 1945, este problema não existia. Por esta razão, há quem diga que o AO90 veio trazer uma solução para um problema inexistente.
João Esperança Barroca
Hoje, nós, OS Portugueses, distanciamo-nos dos políticos, e celebramos também o Dia de Portugal, o NOSSO Portugal, não, o dos estrangeiros, e também o Dia das Comunidades Portuguesas, espalhadas pelos quatro cantos do mundo, que os políticos portugueses tanto desprezam, porque, NÃO honrando Portugal, como não honram, como podem honrar os Portugueses, que, na diáspora, vêem a sua Cultura, a sua História e a sua Língua tão DESPREZADAS pelos governantes, que, hipocritamente, descaradamente, andam por aí a mentir-lhes, vendendo-lhes gato por lebre, com a ilusão dos milhões?
A primeira referência conhecida do simbolismo festivo do dia 10 de Junho, dia da morte do Poeta, data do ano de 1880, num decreto real de Dom Luís I, que o proclamou como "Dia de Festa Nacional e de Grande Gala" para comemorar os 300 anos da morte de Luiz Vaz de Camões, em 10 de Junho de 1580.
Porquê “Língua de Camões”? Porque, na verdade, Camões foi considerado um revolucionário em relação à Língua Portuguesa culta da sua geração, trazendo à Língua inovações linguísticas, evidenciadas no Poema Épico «Os Lusíadas».
A este propósito, diz a investigadora Maria Helena Paiva:
«Os Lusíadas constituem um testemunho de primeira importância sobre uma mudança (linguística) em curso na época. Camões não se revela apenas como um homem do seu tempo cuja linguagem reflecte a variedade padrão, sobre a qual o corpus metalinguístico quinhentista fornece uma informação específica ao nível da consciência, da práxis escritural e da dimensão normativa. O aumento da amplitude da variação que o texto acusa não é só inerente à diversificação dos conteúdos, à pluralidade de vozes e à policromia de cambiantes. Camões identifica a tendência que prevalecerá no futuro, e extrai, daquilo que intui na língua, consequências detectáveis no plano da criação estética».
Hoje, celebramos também a Língua de Fernando Pessoa, Camilo Castelo Branco, Eça de Queiroz, Antero de Quental, Almeida Garrett, Alexandre Herculano, Eugénio de Andrade, Padre António Vieira, Ferreira de Castro, Florbela Espanca, Natália Correia, Aquilino Ribeiro, Miguel Torga, António Lobo Antunes, Manuel Maria Barbosa du Bocage, Vitorino Nemésio, Raul Brandão, Altino do Tojal, Luísa Dacosta, Luís Rosa, Fernando Campos, Fernando Namora, Júlio Dinis, Mário de Sá-Carneiro, Luísa Costa Gomes, Gil Vicente, José Saramago, Vergílio Ferreira, Marquesa de Alorna, Teolinda Gersão, Deana Barroqueiro, Dom Dinis, Maria Velho da Costa, Hélia Correia, Ilse Losa, Sophia de Mello Breyner Andresen, Cesário Verde, Fernando Dacosta, José Régio, Mário de Andrade, Maria Isabel Barreno, Amadeo de Souza-Cardoso, Santa Rita Pintor, Almada Negreiros, Afonso Lopes Vieira, Maria Gabriela Llansol, Alexandre O’Neill, Maria Judite de Carvalho, Bernardim Ribeiro, Camilo Pessanha, Maria Teresa Horta, Fernão Lopes, Herberto Helder, Garcia de Resende, José Cardoso Pires, Sá de Miranda, Teixeira de Pascoaes, Mariana Alcoforado e tantos, tantos outros, que não me vêm agora à memória.
Todos estes escritores, prosadores e poetas portugueses fizeram da Língua Portuguesa um Monumento à Arte de Bem Escrever a Língua que Dom Dinis, ele próprio um excelente Trovador, nos deixou, e constitui o nosso Património Cultural Linguístico, que os governantes acordistas, de má-fé e ignorantemente, estão a tentar destruir.
É bem verdade que a Língua Portuguesa gerou Variantes/ Dialectos/Crioulos, como lhes queiram chamar, que hoje são usados nas ex-colónias portuguesas de África e América do Sul, e noutros territórios dos confins da Ásia.
Nessas Variantes/Dialectos/Crioulos foram escritas obras primorosíssimas, porém, o que hoje celebramos é a GENETRIZ de todas essas Variantes/Dialectos/Crioulos, para que se saiba que a Língua Portuguesa não pode se triturada, à mercê de gostos duvidosos e com base nos milhões, e continuar a ser chamada Portuguesa. Será portuguesa apenas por conveniências políticas, altamente lesivas dos interesses de Portugal.
Para celebrar a “Língua de Camões” escolhi este belíssimo poema musicado por Zeca Afonso (a política, aqui, fica de fora, se fazem favor), porque a nossa Cultura é feita de uns e de outros.
E VIVA a Língua Portuguesa!
Isabel A. Ferreira
Quadro pintado referente a Camões a’prisionado em Goa. Trata-se de uma pintura a guache, de 1556, considerada como retratando co veracidade o maior poeta lusíada.
Endechas a Bárbara Escrava
Endechas a uma cativa, chamada Bárbara, por quem Luiz de Camões andava de amores, na Índia
Aquela cativa
Que me tem cativo,
Porque nela vivo
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
Em suaves molhos,
Que pera meus olhos
Fosse mais fermosa.
Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas
Me parecem belas
Como os meus amores.
Rosto singular,
Olhos sossegados,
Pretos e cansados,
Mas não de matar.
Ũa graça viva,
Que neles lhe mora,
Pera ser senhora
De quem é cativa.
Pretos os cabelos,
Onde o povo vão
Perde opinião
Que os louros são belos.
Pretidão de Amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão,
Que o siso acompanha;
Bem parece estranha,
Mas bárbara não.
Presença serena
Que a tormenta amansa;
Nela, enfim, descansa
Toda a minha pena.
Esta é a cativa
Que me tem cativo;
E, pois nela vivo,
É força que viva.
Luiz de Camões
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