«Não vale a pena exibir mais agravos do Acordo Ortográfico: as críticas que lhe têm sido feitas chegam e sobejam para entendermos o seu alcance de danificação, em expressão e raciocínio, a curto prazo (e já actual!) no falante luso. E as implicações a vir na descida do nosso nível cultural, profissional e económico, no futuro. É uma amputação! Quem aprovou a lei não o supunha, talvez. Embora tenha havido claros pareceres e advertências, na altura devida — e os responsáveis fizeram, no sentido mais próprio, ouvidos de mercador.»
Maria Alzira Seixo, Professora universitária
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«O actual Acordo Ortográfico é desnecessário. A ortografia não é uma questão do Estado, mas de uso e de estabilidade do uso. Da estabilidade do uso é que se pode deduzir a correcção de uma forma ortográfica. O actual Acordo Ortográfico não estabiliza a norma, como é notório. Não foi necessário porque a norma estava perfeitamente estável até o Acordo chegar.»
António Feijó, Professor da Faculdade de Letras de Lisboa, actual administrador da Fundação Calouste Gulbenkian
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«Essa aberração a que chamaram “acordo ortográfico” deu livre-trânsito a toda uma série de calinadas. A norma deixou de se distinguir do erro, as “facultatividades” fizeram estender as duplas grafias a níveis impensáveis, cada um passou a escrever como lhe dá na gana, o dislate vai alastrando como nunca. Basta consultar o Diário da República para se perceber isto.
Os imbecis que pariram tal “acordo” tentaram justificá-lo porque vinha “unificar a ortografia” da língua portuguesa. Afinal, como era fácil de prever, nunca a nossa ortografia foi tão diversificada e alterada como agora.
Disto só beneficiam os burros que andam por aí à solta. Dando furiosos coices nas consoantes. Zurrando por escrito num idioma que nem imaginam qual é.»
Pedro Correia, jornalista e autor
A leitura dos excertos em epígrafe, adicionada às imagens que acompanham este escrito (da iniciativa Acordo Zero) já são esclarecedoras do teor deste artigo de opinião, que, mais uma vez, tenta pôr a nu o caos ortográfico que o AO90 ajudou a instalar.
Repare, caro leitor, que as imagens que ilustram este escrito citam uma emissora de rádio (TSF), um canal televisivo (CNN Portugal) e um jornal, dito de referência (Expresso). Apetece perguntar: se é assim nos órgãos de comunicação social, como será com o cidadão comum?
Para os bonzos do Acordo, a culpa destes erros (fato por facto, abruto por abrupto e convição por convicção) e de inúmeros outros não pode ser assacada ao AO90. A culpa, dizem eles, é apenas dos escreventes. Como se coubesse na cabeça de alguém que as pessoas que, anteriormente, escreviam sem erros, passassem, subitamente, a não saber escrever inumeráveis palavras. Como é lógico, muitos escreventes estão a eliminar consoantes, a torto e a direito, levados pela semelhança entre alguns vocábulos.
Atente, caro leitor, num exemplo da língua inglesa. Nesta língua, as palavras q (designação da letra) e queue (fila ou bicha) têm exactamente a mesma transcrição fonética, havendo, pois, nesta última forma quatro vogais mudas. Vale à língua inglesa que os seus governantes não estão virados para malaquices (perdão, maluquices) modernaças. Se não fosse assim, essas vogais seriam removidas, permitindo uma considerável poupança, na óptica do jornal Expresso. Por cá, é o que se vê: continuamos na linha da frente na poupança de consoantes.
Como o leitor já percebeu, tínhamos uma ortografia (de 1945) e agora temos a ortografia de 1945, a do AO90 e uma terceira (como nalguns órgãos de comunicação social que dizem seguir o AO90, excepto onde ele é estúpido) que acolhe tudo e mais alguma coisa. Para aquilatar da perfeição do AO90, leia-se a frase do Circo Cacográfico da iniciativa Acordo Zero: Nem sei se o elefante tem problemas óticos ou óticos. Confuso? Nem por isso! É a unidade essencial da língua.
João Esperança Barroca
Há quem queira esticar a corda, para parecerem muitos, e justificar uma unificação de grafias que jamais acontecerá. E há também quem tenha a alucinante pretensão de que a NOSSA Língua Portuguesa venha a ser uma Língua oficial da ONU. Poderia até ser se esses “milhões” de pretensos falantes, falassem, de facto, Português. Mas não falam, nem escrevem em Português.
A matemática dos “milhões” (com um elevadíssimo índice de analfabetos) que serve de base ao insano AO90, peca por estar muito aldrabada. Senão vejamos por que é uma falácia dizer que “milhões” falam Português. Se bem que os oito países lusófonos, que integram a eivada de colonialismo e inútil CPLP, tenham (ainda) a Língua Portuguesa como Língua Oficial, por meros interesses político-económicos, mas não linguísticos.
Imagem: Reprodução
Porém, de facto, o único país onde se fala, quase a 100% Português, é Portugal, tendo o Mirandês também como Língua oficial. A estas duas Línguas acrescentem-se os dialectos Madeirense e Açoriano. E, no mundo, falar-se-á Português, onde quer que exista uma comunidade portuguesa, se bem que as novas gerações sejam, no mínimo, bilingues: falam a Língua dos Pais e a do País que os acolheu.
De resto, eis o que na realidade se passa:
- No Brasil, fala-se a Variante Brasileira, oriunda do Português ou Crioulo Brasileiro, ou seja, uma língua, originada pelo contacto intenso do Português com as línguas, nativas ou não, faladas numa região; a acrescentar a este, existem mais 274 línguas diferentes, faladas pelas 305 etnias indígenas; a estas, juntem-se mais as seguintes línguas regionais, bem enraizadas no quotidiano brasileiro: Alemão, Castelhano (nas áreas fronteiriças), Hunsrik, Italiano, Japonês, Polaco, Ucraniano, Inglês, Pomerano, Talian, Chinês e Coreano.
- Em Cabo Verde fala-se o Crioulo Cabo-verdiano, oriundo da Língua Portuguesa, usado no quotidiano das pessoas, como Língua primeira, e o Português, como Língua estrangeira. Isto, oficiosamente, porque a Língua oficial, continua a ser a Portuguesa, por motivos políticos.
- Em Angola a Língua oficial é a Portuguesa, contudo a maioria da população angolana fala, como primeira língua, algumas das línguas angolanas, a saber: o Umbundo, o Kimbundu, o Quicongo, o Chócue, o Nganguela, o Kwanyama, além de dezenas de outros dialectos.
- Em Moçambique a Língua oficial é a Portuguesa, mais utilizada no meio urbano. Contudo, existem 43 línguas nacionais, das quais 41 são línguas Bantu, faladas no meio rural, as quais me abstenho de mencionar por serem demasiadas.
- Na Guiné-Bissau predomina o Francês, nas universidades (por motivos de vizinhança) e o Crioulo da Guiné-Bissau, oriundo do Português, é a língua franca da Guiné-Bissau, e é falado por cerca de 70% da população total do país.
- Em São Tomé e Príncipe, o Português como língua oficial é falado apenas virtualmente pela população, porque o que predomina são os crioulos desenvolvidos a partir do Português como o Forro, o Angolar e o Principense. Mas também é ali bastante falado o Crioulo Cabo-verdiano, o Português dos Tongas e resquícios de Línguas do grupo Bantu. Contudo, actualmente, o Francês e o Inglês são também profusamente falados no país.
- Em Timor-Leste, de acordo com a Constituição do país, o Tétum, que sofreu influências da Língua Portuguesa (uma Língua de elite em Timor), é a Língua Nacional, mas também Língua Oficial, que partilha com o Português. A estas, juntam-se mais as seguintes quinze Línguas Nacionais faladas pelo povo timorense: Ataurense, Baiqueno, Becais, Búnaque, Cauaimina, Fataluco, Galóli, Habo, Idalaca, Lovaia, Macalero, Macassai, Mambai, Quémaque e Tocodede.
- Na Guiné-Equatorial, metida à força, no grupo dos países da CPLP, por questões meramente economicistas, NÃO SE FALA Português, mas sim o Castelhano e o Francês. Aqui tem-se a pretensão de criar escolas para se aprender o Português. Mas qual Português? Obviamente o Crioulo Brasileiro, oriundo do Português, aliás já bastamente disseminado pela Internet, com a bandeira brasileira.
- Em Macau já pouco se fala Português, a Língua predominante aqui é o Mandarim.
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Feitas bem as contas, a Língua Portuguesa nem pouco mais ou menos é falada pelos “milhões” que, falaciosamente, os predadores da Língua Portuguesa (brasileiros e portugueses) propagam, para justificar a imposição (ilegal) do AO90.
O facto é que tudo bem espremidinho, e tendo em conta que Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Timor-Leste não ratificaram o AO90, e que Cabo Verde tem o Crioulo Cabo-verdiano como primeira Língua, e São Tomé e Príncipe está-se nas tintas para o AO90, quem sobra para defender o indefensável? O Brasil, o mais interessado nesta questão, pois é a sua VARIANTE que pretendem impor à CPLP e ao muito servilista Portugal. E tendo ainda em conta que apenas uma fatia seguidista de Portugueses aplica o AO90, pretender que a Língua Portuguesa tenha a importância que lhe querem atribuir, no plano internacional, é da mais cristalina estupidez.
E sim, concordo com o que diz Olavo de Carvalho.
Ao suficientemente idiota que apareceu no Brasil, somam-se os idiotas portugueses que, deslumbrados com os falsos “milhões” de falantes, e imbuídos do complexo de inferioridade que os faz rastejar aos pés do gigante, andam por aí a justificar o Acordo Ortográfico de 1990, com a colossal e imbecil falácia da defesa do papel da Língua Portuguesa à escala internacional.
Que papel? Que Língua Portuguesa? A quem querem enganar e fazer de parvos?
E pensar que a Língua Portuguesa, GENETRIZ de toda esta diversidade e riqueza de Crioulos, que disseminou pelo mundo, está a ser empobrecida, esmagada, reduzida a uma insignificante imitação ridícula e imperfeita da Língua que já foi, dá-me ímpetos de maldizer todos (os que obrigam e os que se dizem obrigados a…, mas não são) os que estão a contribuir para este monstruoso retrocesso linguístico, sem precedentes na História de Portugal.
E citando Maria Alzira Seixo, ao comentar uma publicação no Facebook: «Obrigar as pessoas a escrever mal, nem o próprio Salazar o teria feito. Até porque Salazar sabia escrever, ao menos».
Isabel A. Ferreira
Nota: artigos que me levaram a escrever este texto:
Português, a língua mais falada do Hemisfério Sul
https://jornaleconomico.sapo.pt/noticias/portugues-a-lingua-mais-falada-do-hemisferio-sul-419517
A casa da lusofonia: riqueza linguística
https://eltrapezio.eu/pt-pt/opiniao/a-casa-da-lusofonia-riqueza-linguistica_18416.html
Isto faz-me lembrar o tempo da PIDE.
Isto é grave. Gravíssimo. Coagir um deputado da Nação. E as opções são: ou vota com medo, ou contra os seus valores, ou tem de sair do Plenário do Parlamento.
Isto é a ponta de um iceberg chamado Acordo Ortográfico de 1990, e não vejo nenhum jornalista activo interessado em “escavá-lo” a fundo. Lá no fundo encontraremos todo o tipo de coacções, vigarices, depravações e manigâncias.
Se pensam que Portugal vive em Democracia, enganam-se.
Leiam e pasmem!
Em resposta a uma interpelação de Maria Alzira Seixo, no Facebook:
"Caríssima Maria Alzira. Devo esclarecer o assunto. Reforçando a minha discordância quanto ao AO90, além de ter saído do Plenário do Parlamento na ocasião da votação, escrevi então uma Declaração de Voto, publicada no Diário da Assembleia da República, I Série, que gostava que lesse; disseram-me não ter havido outra Declaração de Voto a este respeito. Confesso ter ficado com o profundo desgosto de não ter votado contra este documento essencial, mas acontece que eu, apesar de Independente e de me terem garantido liberdade de voto antes de ser deputada, fui depois sujeita diariamente a uma tortura de pressões a todos os níveis (colegas deputados, ministros) para não votar contra. Votei contra imensas vezes, com o que sofri uma série de represálias, e com o nervoso dei várias quedas, etc. Nesse dia, eu já tinha anunciado ir votar contra vários outros diplomas importantíssimos, o que fiz (o que não aconteceu com outro qualquer deputado) e ainda anunciei ir votar contra o AO90, mas lançaram-me uns olhares mortíferos... Se bem me lembro, por causa do AO90, da sala só saímos eu e o Luís Fagundes Duarte. O Manuel Alegre, e deputados de outras bancadas, votaram contra, e já lhes tenho manifestado o meu desgosto por não ter conseguido então fazer o mesmo. Como sempre tenho dito, devia ser revista, na prática, a questão, que julgo essencial, da disciplina de voto dos deputados, e foi por isso que eu não quis voltar a ser deputada. Contra o AO90, tenho depois feito tudo!"
(Nota: os excertos a negrito são da minha lavra, e para proteger a integridade física e moral da deputada em causa, o nome foi encoberto).
Fonte:
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Pois aqui temos um precioso testemunho, de como as coisas funcionam no Parlamento Português. E não só em relação a esta matéria, mas em muitas outras de igual importância e de interesse primordial para a Nação.
Senhor presidente da República Portuguesa, como Chefe Supremo da Nação, não será chegado o momento de V. Excelência tomar uma posição firme, quanto a esta pouca vergonha?
Vossa Excelência sabe (ou não saberá?) que está a encobrir uma ilegalidade, e pior do que isso, a permitir que as inocentes crianças portuguesas estejam a ser enganadas e obrigadas a “levar gato por lebre”, nas escolas portuguesas?
E agora isto: coaCção*** contra Deputados da Nação!!!
*** Aproveito para esclarecer que, em Bom Português, o vocábulo coaCção (do Latim coactio) escreve-se com dois cês, com o significado de “acção ou resultado de COAGIR”, e lê-se cuáção.
Coação (de coar + sufixo ção), sem o cê mudo, significa “acção ou resultado de COAR”, e lê-se cuâção.
E se no Brasil coagir e coar são uma e a mesma coisa, isso é lá no Brasil… é lá com eles, os Brasileiros… Nós cá, somos Portugueses. É preciso não esquecer isso.
Isabel A. Ferreira
. Em defesa da Ortografia (...
. Engana-se quem diz que o ...
. Deputada da Nação coagida...