Isto vem a propósito de um texto [clicar no link] da autoria de Maria do Rosário Pedreira, publicado no seu Blogue Horas Extraordinárias, sob o título Boas Notícias, onde se fala dos manuais digitais [já rejeitados pelos países mais desenvolvidos do Norte da Europa] vs. manuais em papel.
Um texto, cuja leitura recomendo, bem como a dos comentários que lhe fizeram.
Destaco aqui o comentário do jornalista Octávio dos Santos, por ter posto o dedo na enorme ferida aberta no Ensino português, causada pelo «abominável aborto “pornortográfico”», segundo a sua óPtica, que também é a minha [o P em letra maiúscula é para ser lido e, desse modo, facilitar a aprendizagem dos que têm dificuldade em PENSAR a Língua].
Concordo absolutamente com Octávio dos Santos.
Na verdade, é incompreensível que se mantenha o erro, passados dez anos de um monumental caos ortográfico, disseminado por toda a parte, do Ensino, onde o caos é mais gritante, porque nem professores nem alunos conseguem escrever escorreitamente um texto, passando pela comunicação social escrita e falada, e aqui, além do caos, existe uma vergonhosa falta de brio profissional, até aos que fazem parte dos órgãos de soberania portugueses, que falam e escrevem incorreCtamente a Língua Oficial de Portugal, a que está consignada na Constituição da República Portuguesa, com a Grafia de 1945.
Já não será tempo de reconhecer o gravíssimo e feíssimo erro, usar a inteligência e descartar a estupidez, que consiste em manter esta aberração ortográfica, que apenas os mais iletrados defendem?
Aqui fica o APELO aos decisores políticos portugueses, a bem de Portugal, dos Portugueses, mas, sobretudo, a bem da próxima geração, que ainda vai a tempo de retomar o caminho do SABER escrever, falar e ler correCtamente a sua Língua Materna, e livrar-se de vir a ser a geração dos analfabetos funcionais, mais ignorantes de todos os tempos.
Isabel A. Ferreira
«A corrupção é tanta que até já gamaram o P à palavra corrupto.»
Pedro Correia, Autor e jornalista
«Preservar este secular idioma passa pela revalorização de vocábulos antigos e pelo combate ao portinglês que nos invade, mesmo quando surge disfarçado de português (é o caso do anglicismo “evento”, hoje omnipresente). E por darmos luta sem tréguas ao chamado “acordo ortográfico”, que decretou a separação de famílias lexicais (lácteo mas laticínio, epilético mas epilepsia, tato mas táctil), inventou termos aberrantes (como corréu em vez de co-réu ou conavegador em vez de co-navegador) e substituiu a regra pelo arbítrio (uma trapalhada em que materno-infantil coexiste com infantojuvenil, bissetriz com trissectriz, cor-de-rosa com cor de laranja).»
Pedro Correia, Autor e jornalista, a propósito do livro Por Amor à Língua, de Manuel Monteiro
«O principal argumento contra o Acordo Ortográfico é a sua inutilidade. As dificuldades de leitura de textos da outra variedade da língua nunca estão relacionadas com a ortografia, as diferenças são outras. Para mudar a ortografia tem de haver uma razão muito forte, e eu não encontro aqui essa razão. As questões fiscais do comércio de livros entre Portugal e o Brasil são uma barreira mais grave do que a barreira ortográfica.
A ortografia do Acordo tornou-se menos adequada à fonética tanto do lado brasileiro como do português. As consoantes mudas tinham uma razão de ser, assinalavam uma forma diferente de ler a vogal, o que tornou mais difícil a leitura de algumas palavras. O Acordo criou uma instabilidade na língua que levou à existência de erros como "fato", em vez de "facto", mesmo no "Diário da República".»
Marco Neves, tradutor, escritor e professor universitário, no programa "Palavras Cruzadas" (Antena 2, 16/01/2023)
«Como os professores estão nas parangonas nos jornais, é deles que hoje falarei. Na última Feira do Livro de Lisboa, veio ter comigo uma professora de Língua Portuguesa que se apresentou, entre outras coisas, como leitora deste blogue. Disse-me que sabia que eu não tinha simpatia pelo presente Acordo Ortográfico (AO) e entregou-me meia folha A4 com um texto em que se explicava sumariamente que as escolas vivem hoje um autêntico caos linguístico, coexistindo no ensino da língua portuguesa três grafias: a do português pré-AO, a do AO e ainda outra, que é uma mistela de ambas e em que tudo parece ser permitido. Os maiores prejudicados por esta situação serão, muito naturalmente, os alunos, que aprendem uma coisa num ano e outra noutro, vêem os pais escrever de forma distinta daquela em que estão a ser ensinados e são penalizados nas notas pelos erros que muitos pais e professores não acham sequer que sejam erros. Diz ainda a nota que os professores são os Cavalos de Tróia desta operação com a qual frequentemente não concordam, vendo-se obrigados a ir contra a sua consciência.»
Maria do Rosário Pedreira, Escritora e editora
«[…] eles olham, mas não vêem; escutam, mas não ouvem nem entendem.»
Mateus, 13:13-16
Na linha do nosso escrito de Janeiro, voltamos hoje a escrever sobre corrução e corruto. Parafraseando Ricardo Araújo Pereira, deverá ser uma estratégia da defesa de alguns arguidos acusados do crime de corrupção. Desta maneira, a pena a aplicar será sempre muito reduzida, tendo em conta a prática inócua do crime de corrução. Como o caro leitor, certamente, deu conta, o AO90 veio trazer novos erros, que vamos respigando dos órgãos de Comunicação Social e de outras instituições.
Pesquisando apenas no jornal Record, detectamos as seguintes ocorrências:
Há poucos dias, mão amiga enviou-nos a seguinte lista de aberrações, criadas pelo AO90: Corréu, neoestoico, consunto, conarrar, conavegar, interruptor, opticidade, retouretral, semirrei, tecnolectal, cocolaborador, cooócito, perento, cocredor, cocapitão, adocionismo, expetar, cocoleta, contraião, intrauterino, cofiador, coutente, conavegante.
Parece piada ou brincadeira, não é, caro leitor? Se é assim na Comunicação Social, como será com o cidadão comum?
Para mais uma vez ilustrar o caos ortográfico que se instalou, repare como se escreve (neste caso, o que está em causa é a utilização do hífen) num jornal de referência «A seleção de espécies feita pelos nossos biólogos reflete a vegetação natural existente dentro da cidade de Lisboa, como oliveira, alfarroba, folhado, sobreiro ou capuz-de-frade”, enumera Fabio Brochetta [da Urbem, organização não-governamental]» («Estão a nascer mini-florestas no Areeiro», Ana Meireles, Diário de Notícias, 20-01-2023, p. 15), divulgado no blogue O Linguagista.
João Esperança Barroca
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