Por que razão precisamos de fazer este APELO ao presidente da República de Portugal?
1 – Porque a Língua Portuguesa está a ser destruída pelo fraudulento acordo ortográfico de 1990, aplicado ilegalmente em Portugal;
2 – Porque esta é uma questão política, mais do que uma questão linguística, e só não vê as trocas-baldrocas que envolvem Portugal e Brasil, no que à questão da Língua Portuguesa diz respeito, quem não quer ver, quem não quer ser informado, quem se recusa a aceitar o gravíssimo erro que os políticos portugueses cometeram, quando aceitaram, servilmente, que o AO90, engendrado pelo enciclopedista Líbano-brasileiro, Antônio Houaiss, que se propôs a deslusitanizar o Português (o termo é dele) fosse introduzido em Portugal, para acabar com a Língua dos Portugueses. E isto é um facto inegável.
3 – Porque é como diz o Miguel Sousa Tavares:
Portanto, proponho que, quem estiver de acordo com o texto/apelo, abaixo reproduzido, dirigido ao Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, o subscrevam, enviando os vossos nomes e profissões, para o e-mail deste Blogue: isabelferreira@net.sapo.pt
É que, se assim o quiserem os desacordistas, ainda vamos a tempo de salvar a NOSSA Língua, porque a língua que anda por aí escrita e falada nas televisões; nos jornais e nas revistas; nos livros, escritos por acordistas ou traduzidos; nos manuais escolares (um autêntico atentado à inteligência das crianças e dos jovens alunos); nos anúncios, enfim, o que anda por aí a escrever-se é uma linguagem pobre, andrajosa, desenraizada das suas origens, um insulto à Cultura Linguística Portuguesa, e apenas o Chefe de Estado, sendo ele o guardião-mor da nossa Constituição, poderá declarar ilegal e inconstitucional, a aplicação do fraudulento AO90.
Texto/apelo a enviar a Marcelo Rebelo de Sousa, da autoria de um jurista, para subscrição:
Dirigimo-nos a Vossa Excelência apelando à Sua intervenção no sentido da defesa da Língua Portuguesa, tal como esta nos surge definida no n.º 3, do artigo 11.º da Constituição da República Portuguesa.
Permita-nos, Vossa Excelência, o exercício do nosso dever cívico e obrigação de invocarmos a Lei Fundamental, designadamente no que tange aos deveres e obrigações que dela decorrem para todos os agentes do Estado, e, em especial para o Presidente da República, enquanto primeiro e máximo representante do Estado. Estado a quem cabe, nos termos da alínea f) do artigo 9.º também da Constituição da República Portuguesa “[a]ssegurar o ensino e a valorização permanente, defender o uso e promover a difusão internacional da Língua Portuguesa”.
Bem sabemos, Excelência, que, nos últimos anos, em concreto desde que o Estado impôs aos portugueses a aplicação de uma grafia que consideramos inconstitucional, tais deveres não têm sido cumpridos.
Esta não é uma questão de somenos importância. É um imperativo de cidadania. É um dever que nos é imposto pela Constituição da República Portuguesa. Trata-se, na verdade, da defesa do nosso Património Linguístico -- a Língua Portuguesa -- da nossa Cultura e da nossa História, os quais estão a ser vilmente desprezados.
Apelamos a Vossa Excelência que, nos termos consagrados na Constituição da República Portuguesa e no uso dos poderes conferidos ao Presidente da República, diligencie uma efectiva promoção, defesa, valorização e difusão da Língua Portuguesa.
Apelamos a Vossa Excelência que defenda activa e intransigentemente uma Língua que conta 800 anos de História.
Apelamos a Vossa Excelência que contrarie a imposição aos Portugueses da Variante Brasileira do Português, composta por um léxico que traduz acentuadas diferenças fonológicas, morfológicas, sintácticas, semânticas e ortográficas, e essencialmente baseado no Formulário Ortográfico Brasileiro de 1943.
Apelamos-lhe, Senhor Presidente da República, que proporcione às nossas crianças a possibilidade de escreverem na sua Língua Materna - naquela em que escreveram Gil Vicente, Camões, Almeida Garrett, Alexandre Herculano, Eça de Queiroz, Fernando Pessoa, José Saramago e tantos, tantos outros -, ao invés de numa grafia desestruturada, incoerente e desenraizada das restantes Línguas europeias, que também estão a aprender (Inglês, Castelhano, Francês).
Apelamos a Vossa Excelência, ao Presidente da República Portuguesa, mas, também, ao académico e cidadão Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, que recuse deixar às gerações futuras, como legado para a posteridade, a renúncia da nossa Língua, da nossa Cultura, da nossa História, de quase nove séculos.
Apelamos, em suma, a Vossa Excelência, que seja reconhecido e revertido o gravíssimo erro cometido e por via do qual o Estado Português adoptou o Acordo Ortográfico, anulando-o, e restituindo a Portugal e aos Portugueses a sua Língua.
Com os nossos melhores cumprimentos,
(Nome dos subscritores)
E eu só posso concordar com ele.
É que a ESTUPIDEZ é como a pastilha elástica: quando se cola em alguma coisa é difícil de remover.
Por isso, é que depois de tanto se ter já provado, por A + B, que o AO90 bem como a pirosíssima “linguagem inclusiva” são coisas absolutamente estúpidas, elas continuam a ser mascadas e atiradas, por aí, e não há guindaste que consiga removê-la desta nossa desventurada sociedade, que está a estupidificar-se de um modo vertiginoso, com o aval dos que, dentro dos Palácios de São Bento e de Belém, conservam essa pastilha elástica como se fosse um jarro de fina porcelana, para ornamentar os salões.
Como poderemos remover essa pastilha elástica da nossa vida e devolver a Portugal a LUCIDEZ?
Alguém tem alguma ideia?
Isabel A. Ferreira
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«A era da estupidez»
(Miguel Sousa Tavares, in Expresso, 26/08/2022)
(…)
4 - As duas primeiras vezes que me deparei de caras com a agora chamada “linguagem inclusiva” aconteceram no Brasil e apenas me fizeram sorrir, longe de imaginar que mais tarde se tornaria moda e que de moda passaria a certidão de bom comportamento cívico e daí a quase imperativo — tão inútil, tão absurdo e tão idiota quanto o ridículo Acordo Ortográfico da língua portuguesa: o mais patético e humilhante documento jurídico alguma vez assinado por um Governo português.
A primeira vez, aconteceu estava eu a fazer um filme de 60 minutos para a RTP sobre a história da colonização portuguesa da Amazónia — (um projecto editorial que hoje, apenas pelo seu objecto, obviamente não seria autorizado). E estava então em trânsito numa daquelas cidadezinhas amazónicas com nomes do Ribatejo — Santarém ou Almeirim, já não recordo —, quando uma noite me deparo com um comício eleitoral para a prefeitura local, a decorrer numa praça ao ar livre. Sobe ao palanque um candidato com pinta de jagunço dos livros do Jorge Amado, bate três vezes no microfone para se certificar que funcionava, e começa: “Meus povos…” Porém, detém-se, olha a plateia, faz uma pausa e recomeça. “E minhas povas.” Estávamos em 1987.
A segunda vez aconteceu vários anos depois, em Brasília, quando fui entrevistar Dilma Rousseff, acabada de ser eleita Presidente do Brasil. Antes de entrar para a entrevista, uma sua assessora perguntou-me se eu estava ciente de que a Presidente Dilma gostava de ser tratada por “presidenta”. Na verdade, eu já tinha ouvido uns zunzuns sobre isso, mas fiz-me de parvo: “Sabe, eu falo português de Portugal. E lá, o substantivo presidente não tem género, tanto se aplica a um presidente homem como mulher. Se eu tratasse a presidente Dilma por ‘presidenta’, teria de tratar um Presidente homem por ‘presidento’. E, mais ainda: a senhora, por exemplo, teria de tratar o polícia federal que está ali fora por ‘senhor polício’.”
Ler artigo completo aqui:
Isto tem um nome, que não me atrevo a dizer alto…
Entretanto, recolhi vários textos que, ultimamente, têm vindo a público, todos indicando um único caminho: o da anulação do AO90.
Portugal é o único país da (mal) dita CPLP que faz questão de exigir que o apliquem, mas pior do que isso, é que há quem o aplique servilmente, sem questionar, ainda que não tenha de o aplicar, porque não existe lei alguma que o obrigue.
Sabemos que vivemos no muito anti-democrático regime do eu quero, posso e mando, apesar de essa não ter sido a vontade do Povo, que votou nos que agora querem, podem e mandam. Mas eles insistem: eu quero, posso e mando, porque fui eleito para querer, poder e mandar, ainda que não seja essa a vontade da absoluta maioria do Povo.
Isto também tem um nome: ditadura.
Por isso, é urgente encostar à parede os que querem, podem e mandam, exigindo-lhes, em uníssono que quem não sabe querer, poder e mandar deixe nas mãos de quem SABE a gestão da Língua Portuguesa, porque nem sempre querer, poder mandar é sinónimo de competência, de responsabilidade, de racionalidade e de compromisso com o que é melhor para Portugal e para os Portugueses. E o melhor para Portugal e para os Portugueses NÃO É sermos, linguisticamente, uma servil colónia do Brasil. Ponto.
Deixo-vos com um pequeno (porque a lista é enorme) apanhado de argumentos racionais, preconizados por pessoas com competência na matéria, e com ónus suficiente para acabar com este insulto à Cultura Linguística Portuguesa. É necessário clicar nos links.
Como é possível dizer isto tão impavidamente, senhor presidente da República Portuguesa, quando o senhor é um dos grandes culpados do estado caótico do ensino da Língua de Camões, que, a todo o custo, quer transformar em Língua de Machado de Assis, que não é pior ou melhor do que a Língua de Camões, apenas uma variante da nossa própria Língua? Como pode não ter a noção do que diz? Para melhorar o ensino da Língua de Camões é necessário que se extermine o AO90; que se devolva a Portugal a grafia portuguesa; e se prepare os professores para um ensino da Língua Portuguesa, com a máxima EXCELÊNCIA.
Isabel A. Ferreira
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Os malefícios de um provincianismo mental acrítico e fascinado pelo novo (Maria do Carmo Vieira)
«Nem a TLEBS [Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário], com as suas fastidiosas e aberrantes descrições, nem o AO90, com os “seus erros, imprecisões e incoerências”, propiciam uma reflexão sobre a Língua. Duas aventuras idênticas no seu provincianismo mental, obviamente acrítico e fascinado pelo novo!»
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A cassete riscada e espantosamente ultrapassada, do Ministro dos Negócios Estrangeiros, e que Miguel Sousa Tavares não soube aproveitar para destruir, logo ali.
https://www.facebook.com/watch/?v=1097137027484405
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Gente que não tem noção [por Rui Valente]
«Chegados a este ponto, para os movimentos independentistas brasileiros a minha mensagem só pode ser esta: andem lá com isso! E se os rótulos de “neo-colonialistas” ou de geradores de “preconceito linguístico” ajudarem, venham eles. Mas depressa! — não vá algum iluminado do Acordo Ortográfico lembrar-se de manter em Portugal a ortografia do AO90, mesmo quando já não houver (oficialmente) acordo algum.»
https://cedilha.net/ap53/2021/06/gente-que-nao-tem-nocao-por-rui-valente/
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Manuel Matos Monteiro entrevistado por Carlos Mendes no programa “Autores” (TVI) onde se fala da mixórdia ortográfica gerada pelo AO90
https://tviplayer.iol.pt/programa/autores/556c98760cf234bd4ef57632/video/60b9e43f0cf223efcbb468da
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Nove argumentos contra o Acordo Ortográfico de 1990 (Manuela Barros Ferreira)
Aqui fala-se de nove argumentos, mas poderiam ser noventa…
https://expresso.pt/opiniao/2016-05-11-Nove-argumentos-contra-o-Acordo-Ortografico-de-1990
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(Des)Acordo Ortográfico (Nelson Valente)
Onde se diz que o português brasileiro precisa de ser reconhecido como uma nova língua. E isso é uma decisão política.
https://www.diariodaregiao.com.br/secoes/blogs/artigos/2021/05/1233293--des-acordo-ortografico.html
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Entrevista ao Manuel Pessôa-Lopes
3 - O que é que o leva a ser contra o novo acordo ortográfico?
Leva-me tudo! O denominado acordo ortográfico – qual novilíngua do livro «1984» de George Orwell, destina-se a aniquilar a etimologia na língua portuguesa, a destroçar as nossas raízes culturais, a inibir a nossa capacidade de raciocinar, a controlar o pensamento e a matar a nossa a identidade.
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De Rerum Natura: PRONOME NO LUGAR CERTO É ELITISMO (Eugénio Lisboa)
«A minha opinião sobre o Acordo Ortográfico é simples e transparente: trata-se de um exercício tão monumentalmente fútil quanto dispendioso. Um formidável desperdício que nunca resolverá o problema que ostensivamente visa resolver: a “defesa da unidade essencial da língua portuguesa” (cito João Malaca Casteleiro e faço notar que ele não fala em “unidade ortográfica” mas sim em “unidade essencial da língua portuguesa”).»
http://dererummundi.blogspot.com/2021/06/pronome-no-lugar-certo-e-elitismo.html
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Entrevista ao Ivo Miguel Barroso
«O que é que o levou a ser contra o “Acordo Ortográfico” de 1990? Desde que foi imposto pelo 2.º Governo de José Sócrates, quais foram os problemas que este “Acordo” causou e de que forma tem prejudicado a língua e a cultura?
Ivo Miguel Barroso – Resumidamente, razões jurídicas, razões linguísticas e razões de cidadania. Na minha opinião, o Tratado do AO90 é inconstitucional, na sua totalidade, por violação do artigo 43.º, n.º 2 da Constituição: o Estado não pode programar a cultura e a educação segundo quaisquer “directrizes estéticas, políticas, ideológicas” (…) »
https://projectovidaseobras.wixsite.com/blog/single-post/2016/10/14/entrevista-ao-ivo-miguel-barroso
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O tal Acordo Ortográfico serve apenas para semear grandes desacordos (Lira Neto)
«(…) Assim, na narrativa do prólogo, que se passa na Nova York nos dias atuais, substituiu-se “ônibus” por “autocarro”; “celular” passou a “telemóvel”; “terno” (conjunto de calça, paletó e gravata”) virou “fato”. A propósito: Nova York está lá como Nova Iorque; Amsterdã, como Amsterdão.»
Eis um texto escrito por um Professor universitário brasileiro, Arthur Virmond de Lacerda, que estudou em Portugal, e conhece a fundo a Língua Portuguesa, e também ele se ofende com o abrasileiramento do Português.
Tanto os políticos portugueses, como os políticos brasileiros meteram o pé na argola, e o povão, à ceguinha, vai atrás deles, sem a mínima noção de que caminham para o abismo, ou seja, para a extinção da Língua Portuguesa…
Um texto para ler e meditar.
Isabel A. Ferreira
«Portugal: Colônia lingüística do Brasil»
Portugal é colônia lingüística do Brasil, cujas expressões e palavras coloquiais aí grassam: tudo bem, dica, dar a volta por cima, bora, a gente, acho e sem-número de dizeres populares, bem como a alteração do sentido de palavras, a ausência das segundas pessoas, da mesóclise, dos pronomes contraídos, o desuso do pronome "vosso". As telenovelas portuguesas são abrasileiradas há décadas, quer na agressividade verbal, na cólera, no destempero de suas personagens, quer na sua elocução (não no sotaque).
Comunicadores falam à brasileira (Marques Mendes [já ouvi Marques Mendes a parabenizar já não sei quem] Carlos Vaz Guedes, Ricardo Araújo Pereira) e parece-me que fazem questão de marcar seu abrasileiramento, pela repetição, várias vezes, dos recursos brasileiros (como o verbo achar e "a gente"). Por outro lado, é raríssima qualquer palavra tipicamente portuguesa no Brasil ("cimeira" até circula, ocasionalmente; "mais do mesmo" circula um pouco). Mesóclise, segundas pessoas, pronomes contraídos, passam por lusitanismos. Importante corrente lingüística preconiza a recusa da herança idiomática portuguesa, a inovação da gramática, a independência idiomática de Portugal, o desprezo da mesóclise, da ênclise etc. No Brasil, saber mal e falar mal o idioma é traço da identidade cultural, bem assim condenar a forma culta do idioma como pedantismo e lusitanismo.
Ainda ontem (10.XII.2020) em telenovela da SIC, personagem feminina falava em tom colérico (o que é típico das telenovelas brasileiras, em que há ira, raiva, agressividade verbal) e com elocução brasileira de todo. Empregou, por exemplo, a palavra "aposta" em "fulano é nossa aposta" ou coisa por este estilo. Por que os redatores de telenovelas portuguesas, exibidas em Portugal, são brasileiros ou escrevem abrasileiradamente?
Livros portugueses são abrasileirados, em suas edições brasileiras (salvo os de Saramago e de Miguel de Sousa Tavares).
A edição juvenil da Ilíada e da Odisséia, de Frederico Lourenço, foi abrasileirada, com a supressão das segundas pessoas, de mesóclises, alteração de alguma sintaxe. O que seria leitura educadora para jovens e adultos brasileiros, é apenas mais da mesma mediocridade reinante no Brasil.
Ao mesmo tempo, o livro de ensinança de latim do próprio Frederico Lourenço leva título abrasileirado: "Latim do zero", em que "do zero" é como se diz no Brasil: comecei a estudar latim do zero, ou seja, sem dele nada saber.
Vá lá que o idioma é o mesmo e o que se incorpora do Brasil, incorpora-se do mesmo idioma. Mas pergunto-me por que os portugueses gostam tanto dos brasileirismos, por que comunicadores fazem questão de dizer à brasileira, por que as telenovelas portuguesas são abrasileiradas? A simpatia pelo Brasil vai a esse ponto?
É como praticam lusofonia? Seja, mas praticá-la envolve falar à brasileira, como se estivessem no Brasil?
É claro que há liberdade de falarem assim; cada um é livre de adotar brasileirismos (ou não), máxime porque o idioma é o mesmo. Até certo ponto, a influência dá-se naturalmente, pela presença já antiga de 40 anos de telenovelas brasileiras e de brasileiros em Portugal. Mas por que as telenovelas portuguesas são redigidas provavelmente por brasileiros, com elocução brasileira?
Por que comunicadores e até o presidente da república falam à brasileira? Julgam (os brasileiros dizem "acham") que assim aproximam Portugal do Brasil? Enganam-se. Julgam que assim granjearão ouvintes brasileiros? Necessitam disto?
Enquanto a influência brasileira em Portugal é maciça, é ínfima a presença da fala portuguesa no Brasil: tirante os livros de Saramago e M. S. Tavares (acaso também outro), os mais são adaptados, ou seja, descaracterizados em sua construção original, com supressão das segundas pessoas, mesóclises, vocabulário. Enquanto os portugueses leem Jorge Amado tal como ele escreveu, os brasileiros não leem F. Lourenço tal como ele escreveu. Enquanto as telenovelas portuguesas são abrasileiradas há décadas, os dizeres portugueses no Brasil resumem-se a "mais do mesmo", "cimeira" e mais uma ou duas expressões. João Pereira Coutinho e Ricardo Araújo Pereira escrevem na Folha de S. Paulo: à brasileira?
Isto tudo é lusofonia e aproximação cultural entre Brasil e Portugal no sentido limitado e unilateral da presença da fala brasileira em Portugal e da modificação da elocução portuguesa ao modo brasileiro. A pouco e pouco, a lusofonia vai se tornando em brasileirofonia, o que, aliás, presumivelmente fortalece a concepção, típica de certos meios brasileiros, de que a quantidade de usuários serve como padrão do idioma e que, portanto, o estilo brasileiro representa a língua portuguesa: os brasileiros são mais, os portugueses são menos e já falam à brasileira. Tal critério não leva em conta a profundidade do conhecimento do idioma, que até poucos anos distinguia os portugueses dos brasileiros: aqueles eram menos e melhores; estes são mais e piores (melhores e piores no conhecimento do idioma e no seu uso).
A influência brasileira é deletéria, com sua pobreza de elocução quanto aos recursos do idioma.
Até 10 ou 15 anos, era educativo os brasileiros freqüentarem Portugal e portugueses, para aprimorarem seu uso do idioma; já agora, não mais: a influência brasileira leva aos portugueses, além de locuções, vícios, empobrecimentos, alterações de sentido, supressão de recursos. Está na hora de os portugueses combaterem a influência brasileira no idioma.»
Fonte:
«O Acordo Ortográfico é uma aberração. É estúpido e não deixa pensar» (Maria do Carmo Vieira).
Ontem, no espaço de comentário do Jornal das 8, da TVI, Miguel Sousa Tavares analisou os 10 anos em que Portugal se viu atrofiado pelo Acordo Ortográfico de 1990, imposto a quase toda a Administração Pública, às publicações no Diário da República, bem como a todo o sistema de ensino (público, particular e cooperativo) pela Resolução do Conselho de Ministros (RCM) nº 8/2011 (ilegal e inconstitucional) e NÃO por decreto, conforme referiu o jornalista Pedro Pinto, porque a RCM não tem validade de lei. Tem a natureza jurídica de um regulamento administrativo, e um regulamento ou uma RCM não são decretos. (***)
Professora Maria do Carmo Vieira, em entrevista á TVI
Ver vídeo da entrevista aqui:
https://www.facebook.com/watch/?v=469570420450454
A entrevistada foi a Professora Maria do Carmo Vieira, numa altura em que se conclui que Portugal poderá ser o único país a usar a grafia imposta aos Portugueses em 2009. Maria do Carmo Vieira é uma grande defensora da Língua Portuguesa, que pediu a reforma antecipada, como recusa ao ensino de disparates aos seus alunos; e Miguel Sousa Tavares (anti-acordista) fez de Advogado do Diabo, uma vez que nenhum acordista teve a coragem e a hombridade de dar a cara e ir ao programa defender o que, ficou ontem bem claro, é indefensável, até porque, se fosse defensável, pelo menos um acordistazinho teria aceitado o convite, e dito de sua justiça.
O MPLP (Movimento em Prol da Língua Portuguesa) congratula-se com esta iniciativa da TVI, esperando que ela sirva para esclarecer os menos esclarecidos deputados, que ainda não se aperceberam de que insistir no erro, é muiiiiito insano.
Porém, por falta de tempo ou por simples esquecimento, ficaram por dizer algumas coisas importantes, e outras foram mal esclarecidas.
Para Miguel Sousa Tavares, assumidamente contra o Acordo Ortográfico, sobretudo desde 1991, (e para todos os defensores da Língua Portuguesa) a assinatura de acordo com outros países, no Brasil, que veio a definir o novo acordo «é um dos maiores casos de abuso cometidos na nossa democracia», e Portugal poderá ser o único país a usar o acordo ortográfico.
Uma maravilha! Não é? Parvamente sós. Como sempre.
«Todos teremos a ganhar com o não destroçar a Língua Portuguesa», afirmou Maria do Carmo Vieira, admitindo que o Acordo Ortográfico «é estúpido e não deixa pensar». Nesta entrevista, Maria do Carmo Vieira refere ainda que só não vê isto quem não ama verdadeiramente a Língua Portuguesa, que é o caso dos envolvidos nesta farsa.
Miguel Sousa Tavares afirmou, numa declaração de interesses, antes de continuar para a entrevista conjunta, com Pedro Pinto, a Maria do Carmo Vieira, que «cinco senhores, que não tinham nada que fazer, queriam ir ao Brasil à Academia das Ciências, precisavam de um pretexto, e o pretexto foi fazer um Acordo Ortográfico com o Brasil, que o Brasil não tinha pedido e impingiram-nos isso à força».
Não foi bem assim, Miguel Sousa Tavares.
Segundo uma investigação do Jornal O DIABO, publicada em 05/12/2015, sob o título O Negócio do Acordo Ortográfico que pode ser consulta na íntegra neste link:
https://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/o-negocio-do-acordo-ortografico-172469
diz-se que «O projecto (AO90), nascido da cabeça do intelectual esquerdista brasileiro Antônio Houaiss, foi desde o início um empreendimento com fins lucrativos, apoiado por uma poderosa máquina política e comercial com ramificações em Portugal.
Portanto não foram cinco servilistas que quiseram ir ao Brasil, mas sim, o Brasil, através de Antônio Houaiss é que chamou os servilistas portugueses, para a tal negociata. E Portugal, na mais profunda demonstração da sua vocação para a subserviência, aceitou o negócio, sem pestanejar.
O texto do Jornal SÁBADO mostra, preto no branco, a negociata (mais do que negócio) do AO90, que conduziu à decadência da Língua Portuguesa, apenas porque uns tantos “intelectais” (o termo é mesmo este) mercenários decidiram pôr sete países (Portugal, Angola, Moçambique, Guiné Bissau, Cabo Verde (que adoptou o Crioulo Cabo-Verdiano como Língua Oficial, e a Língua Portuguesa como língua estrangeira, assim é que é Miguel) São Tomé e Príncipe e Timor-Leste), que mantinham uma ortografia normalizada, clara e escorreita, a grafar à brasileira. Daí que Cabo Verde tenha adoptado o Crioulo Cabo-Verdiano como Língua Oficial, e a Língua Portuguesa como língua estrangeira (assim é que é Miguel).
E, se bem que nada tenhamos contra a grafia brasileira (e que isto fique bem claro) que pertence unicamente ao Brasil e aos Brasileiros, e faz parte da norma linguística da Língua (oriunda da Língua Portuguesa) que os políticos brasileiros escolheram para o Brasil, não podemos aceitá-la como nossa, porque além de não ser nossa, retira Portugal do seu contexto Europeu, uma vez que a Língua de um Povo é a sua identidade, e nós não somos brasileiros.
Maria do Carmo Vieira referiu, e muito bem, que a ortografia é uma norma, e não pode ser decretada. Poderia ter acrescentado, aquando da alusão do Miguel em relação às consoantes mudas, que elas, lá por não se lerem, têm uma função diacrítica, e ainda que haja uma geração de crianças, que foram enganadas e lhe impingiram o AO90, e a escrever incorreCtamente a sua Língua Materna, elas, se vão para a escola, é para APRENDER. Logo, se se disser a essas crianças (como eu já disse) que andaram a ser enganadas, e que a partir de agora irão aprender a escrever correCtamente o Português, a Língua delas, que é para isso que estão na escola, e se lhes perguntar qual das grafias preferem, elas dirão em coro, que preferem aprender a Língua Portuguesa com todas as letrinhas nos respeCtivos lugares, porque é a Língua delas. Porque, como disse e muito bem, Maria do Carmo Vieira, que AMA a Língua Portuguesa, aprender correCtamente a nossa Língua ajuda a pensar.
Ora aqui é que está o grande problema: aos governantes portugueses não interessa um povo que saiba pensar, por isso obrigam as crianças a escreverem "incorrêtamente", para que não venham a ser adultos PENSANTES, mais difíceis de serem subservientes.
Os coordenadores do MPLP
Isabel A. Ferreira
Francisco João Da Silva
(***) Para mais informação sobre a inconstitucionalidade e a ilegalidade da RCM nº 8/2011, sugerimos a leitura dos textos inseridos nos seguintes links:
https://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/comunicado-no-2-do-movimento-em-178490
https://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/comunicado-do-movimento-em-prol-da-176592
Para os menos informados, aqui também deixamos a sugestão de dois livros absolutamente imprescindíveis, para se compreender a ABERRAÇÃO do AO90, de que falou a professora Maria do Carmo Vieira, porque hoje, só é ignorante quem quer, e o ignorante optativo é o pior dos ignorantes:
- O Acordo Ortográfico de 1990 Não Está em Vigor – Prepotência do Governo de José Sócrates e do Presidente Cavaco Silva, do Embaixador Carlos Fernandes (Licenciado em Direito, pela Universidade de Lisboa – Guerra e Paz Editores
- Por Amor à Língua Portuguesa – Ensaio genealógico-filológico, científico-linguístico e pedagógico-didáctico, visando a superação crítica do actual Acordo Ortográfico / 1990, de Fernando Paulo Baptista (Filólogo em Humanidades Clássicas pela Universidade de Coimbra) – Edições PIAGET
Um destes dias, publiquei um texto neste meu Blogue, no qual questionei o motivo que levou um cidadão português (?) (o actor Ricardo Pereira) a falar brasileiro, num programa dirigido aos portugueses lá de casa. Ver este link:
E a questão é: Portugal e Brasil falam a mesma língua?
A propósito disto, recebi alguns comentários, e imagens que circulam por aí, que deixam claro que Portugal e Brasil não falam a mesma língua. Porque em Portugal, fala-se Português, e no Brasil, fala-se Brasileiro.
Vamos conferir?
Neste site, seleccione-se a Língua: o Brasileiro é a língua (entre outras línguas estrangeiras). E em Brasileiro escreve-se projeto (que em Português lê-se "prujêtu", e em Brasileiro lê-se "prôjétu" ) claro está. Porque em Português escrevemos projeCto, e em Inglês projeCt.
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Até a Porto Editora sabe que não falamos a mesma Língua, embora este grupo editorial seja um dos que fomenta o negócio do AO90. Este dicionário é exclusivo para o Brasil, pois para Portugal existe este outro, exclusivo, em acordês.
E isto cheira a um nítido negócio da China.
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Observe-se com atenção a 2ª. bandeira na fila de baixo, das Línguas a bordo deste autocarro panorâmico, o Yellow Bus, que circula em Lisboa: nitidamente a bandeira é a brasileira, que corresponde à Língua Brasileira. A bandeira portuguesa está confinada ao 3º. lugar, na fila de cima, mas em casa de ferreiro, o espeto não é de pau? Conclusão: neste autocarro fala-se Português e Brasileiro (entre outras línguas). Alguém duvida que são duas Línguas distintas?
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Neste vídeo José Saramago teve de ser legendado, sim, porque José Saramago fala Português, uma língua incompreensível no Brasil. Desconhecia que, no Brasil, programas, novelas ou filmes portugueses são legendados e dobrados (no Brasil, dublados, do Francês doublage) em Brasileiro (no tempo em que por lá andei, não eram, até porque não se emitia nada em Português). Em Portugal isto é algo que não acontece com os programas, novelas e filmes brasileiros. Nós, por cá, somos mais eclécticos, no que respeita a línguas estrangeiras.
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Equador é uma série televisiva portuguesa de ficção histórica, de drama e romance, produzida pelo canal TVI, baseada na obra Equador, de Miguel Sousa Tavares. Os actores são portugueses e falam PORTUGUÊS, língua estrangeira para os Brasileiros, que necessita de ser dobrada, tal como o Inglês, o Francês e outras línguas estrangeiras.
Brasil e Portugal falam a mesma língua? Não me parece. Se falassem, não haveria necessidade de dobrar ou legendar o Português. Nenhum africano de expressão portuguesa o faz, porque eles falam e escrevem Português.
Qual a explicação para isto? Será a de que nós, Portugueses, somos mais dotados para as línguas estrangeiras do que os Brasileiros, por isso não necessitamos de legendar as novelas, os filmes e os programas brasileiros?
Para os Brasileiros, a Língua Portuguesa é língua estrangeira (tal como já é em Cabo Verde), para ser legendável e dobrável? Então? Não falamos a mesma língua?
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Este é um texto que encontrei no frasesparaoface.com, (um site brasileiro). E como este, há centenas deles, que circulam no “face” e levam até aos facebookianos este tipo de linguagem que, ao ser lida e relida e treslida, passa a ser a mais utilizada. E esta não é a linguagem portuguesa. Se os políticos portugueses e brasileiros pretendem que falemos a mesma língua, muita coisa tem de mudar da parte brasileira, porque os restantes países lusógrafos não escrevem deste modo anómalo. A Internet está repleta de uma linguagem a que chamam “português do Brasil ou brasileiro”, mas que de Português tem apenas vestígios. Este tipo de linguagem é exclusivamente brasileira. É a variante brasileira do Português.
Definitivamente, não me parece que Portugal e Brasil falem a mesma língua. E andam por aí trapaceiros portugueses a vender-nos gato por lebre. Comentei, perante tanta evidência.
E o meu amigo João M. Galizes respondeu-me assim:
«Claro que venderam gato por lebre aos incautos portugas-esponjas. Muitos portugueses absorvem facilmente as ideias que vêm de fora. Os negociadores pegaram em dois pulhíticos corruptos: o Molusco no Brasil, e o Filósofo, em Portugal, e no pseudo-linguista maleiro castelaca (com minúsculas, como o sujeito gosta), e disseram que iam uniformizar o Português - mentira - e que as crianças iam passar a escrever mais facilmente sem consoantes que atrapalhavam. No entanto, incentivam o uso do Inglês, em Portugal, que é uma Língua, como nós sabemos, que "não" tem consoantes desnecessárias!»
E a minha amiga Idalete Giga disse isto:
«Algo vai péssimo nesta república labrega e nova rica de Portugal (!) Como é possível que o tal actor se preste assim a cair num ridículo total? Isto já nem é pornografia linguística à maneira do dom Cangalheiro. É deboche (!!!!!)»
E o meu amigo Francis Likin, acrescentou:
«Há já algum tempo, creio que durante o Campeonato Mundial de Futebol, as autoridades brasileiras exigiram a um jornalista português a apresentação de uma TRADUÇÃO OFICIAL do seu PASSAPORTE PORTUGUÊS, para que pudesse dispor das credenciais oficiais e ser "acreditado" como jornalista português no Brasil durante esse mesmo campeonato!»
Duvidei disto, porque isto é um pouco DEMASIADO!
Contudo, Francis Likin insistiu: «Mas é VERDADE. É REAL. A desculpa dada pelas autoridades brasileiras é que a lei diz que todo e qualquer passaporte estrangeiro tem de ser traduzido para "português do Brasil". Isso circulou por aqui. Proibiram também uma miúda de 15 anos de ir para a Escola com uma camisola da Selecção Portuguesa. Só a do Brasil era permitida. Há muitos exemplos desses...»
Pasmei! Desconhecia isto.
E o meu amigo Pedro Soares comentou o que se segue, referindo-se aos governantes que temos e que permitem estas coisas que põem os portugueses abaixo de cão:
«Mas será que este desgraçado País está condenado a bater no fundo? Será que estamos condenados a esta gente medíocre, que em 44 anos não produziu um só Estadista? Quando chegará o D. Sebastião?...... Já chega de nevoeiro!»
Todos têm razão. Por tudo isto, não podemos baixar os braços. Não podemos deixar que a Língua Portuguesa seja deste modo desprezada, em nome de coisa nenhuma que valha a pena ser.
Cada um de nós tem de ser um D. Sebastião, para se acabar com este nevoeiro que obscurece Portugal e a sua Cultura Linguística.
Definitivamente, está na hora de o Brasil assumir a sua língua: a BRASILEIRA. Serão milhões a propagá-la, sem terem de arrastar atrás de si, o cordão umbilical, já a cair de podre, do país que os colonizou. Não deixem para amanhã o que podem fazer hoje. Porque é certo e seguro, que o destino da língua falada e escrita no Brasil é o de ser BRASILEIRA. É o que eles querem, é o que eles farão. E eu concordo plenamente.
Isabel A. Ferreira
As vozes contra a aberração chamada AO90, são mais que muitas…
De que estará à espera o governo português, para pôr fim a este monumental embuste?
Não podemos permitir que a estupidez triunfe.
Declarações de Miguel Sousa Tavares, António-Pedro de Vasconcelos e Alfredo Barroso, aquando da entrega da petição-manifesto "Cidadãos contra o Acordo Ortográfico de 1990", na Assembleia da República.
… diz Miguel Sousa Tavares, e eu acrescento: defendido por imbecis… que não sabem distinguir a Língua Portuguesa (o trigo) do AO90 (o joio) …
(E os Portugueses, que se prezam de o ser, também deviam ser remunerados pelo mesmo motivo...)
Texto de Miguel Sousa Tavares
«O que sempre me impressionou mais no AO de 90 — além da absoluta estupidez intrínseca das soluções propostas — foi a sua própria génese: o AO de 90 nasceu sem que nenhum dos sete países oficialmente falantes de português o tenha pedido ou de algum modo tenha manifestado a sua necessidade, mas sim por estrita iniciativa pessoal de meia dúzia de "sábios" aparentemente sem nada de mais relevante com que se ocuparem.
[...] Do alto do seu saber intocável, meia dúzia de iluminados resolveu mudar a ortografia de 15 milhões de portugueses de Portugal e da emigração e das outras dezenas de milhões que aprenderam connosco a falar e escrever português. E, perante a diversidade inevitável que a língua adquiriu naturalmente — na fala e na escrita — e que, em si mesma, é uma riqueza acrescentada, eles resolveram empobrecê-la, definindo um impossível, inaplicável e idiota código comum de grafia. [...]
Do ponto de vista linguístico, o AO é um tratado de imbecilidade; do ponto de vista comercial, é uma rigorosa inutilidade; do ponto de vista político, é uma humilhação sem sentido.
Rejeitado durante 27 anos pela esmagadora maioria dos escritores e dos que utilizam profissionalmente a língua no dia-a-dia, denunciado em todas as suas vertentes por incansáveis movimentos de cidadãos, o AO manteve-se porém sempre em vigor e declarado como facto consumado por sucessivos governos, ministros da Cultura, Presidentes da República e parlamentares, como tábua sagrada. Porquê? Porque os seus benefícios se tinham tornado evidentes, porque os contestatários se tinham enfim rendido às suas vantagens, porque todos os países envolvidos tinham aderido, porque tinham feito da língua portuguesa unificada um trunfo à escala geopolítica?
Não. Por inércia, por ignorância, por falta de paciência para se ocuparem do assunto. Nunca terei visto uma decisão política imposta pela força por tão poucos a tantos mais e levada avante, não pela razão, mas pela simples demissão do poder político.
Veja-se a posição do actual MNE, Santos Silva, idêntica à de todos os seus antecessores: o AO é um tratado internacional, está em vigor e ponto final. Não interessa se é bom ou se é mau, se serve ou des-serve o interesse nacional ou até o facto de a sua entrada em vigor ser ilegal, nos termos do próprio tratado. Revê-lo, denunciá-lo, declará-lo caduco, seria uma chatice: eis o argumento decisivo. [...]
Na sessão ocorrida na AR, a deputada socialista e ex-ministra da Cultura Gabriela Canavilhas, defensora do AO, veio trazer à colação o seu exemplo pessoal: foi dar um concerto ao Brasil e "traduziram-lhe o texto para brasileiro" (que texto, sra. deputada?). Donde, terá ela concluído, que nada melhor do que um acordo que unifique a grafia — o que, no caso concreto, não seria outra que não a grafia brasileira. Perante este argumento demolidor, e apenas por causa dele, permito-me apresentar também o meu caso pessoal. Em 2005, quando publiquei o meu primeiro livro no Brasil, o todo-poderoso editor brasileiro começou por me propor que todo o texto fosse em português do Brasil, a pretexto de que os leitores brasileiros não iriam entender nem aderir ao português de cá. Não obstante a vontade e o grande orgulho que tinha em ser editado no Brasil, recusei liminarmente.
O editor propôs-me então uma lista de 50 palavras ou expressões portuguesas que deveriam ser traduzidas para brasileiro. Recusei outra vez. No fim, propôs-me mudar duas palavras, apenas duas, e eu voltei a recusar. Desde então, editei oito livros no Brasil e todos abrem com uma declaração do editor brasileiro: "Por expressa vontade do autor, este livro é escrito no português de Portugal e sem obediência ao Acordo Ortográfico de 1990". Doze anos e oito livros depois, com "o português de Portugal", vendi centenas de milhares de exemplares no Brasil, e participei lá em dezenas de palestras, conferências e feiras literárias, onde conheci dezenas de editores e livreiros e centenas de leitores, sem que um só, alguma vez, se me tenha queixado de não entender a minha escrita de cá. Pelo que, sra. deputada, talvez o problema seja seu.
Porque não experimenta antes defender a sua língua? Ou, por acaso, leu Machado de Assis ou Jorge Amado traduzidos para o nosso português?»
Miguel Sousa Tavares
Fonte:
http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=acordoortografico90
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