Muito bem dito, para além de muito bem escrito.
A escritora Patrícia Reis escreve carta ao primeiro-ministro porque é muito triste um governo fechar o País aos Livros, logo numa altura em que os Bons Livros, escritos em Bom Português, são uma Boa companhia, para passar o tempo do confinamento. (Isabel A. Ferreira)
Por Patrícia Reis
Leitura, um desígnio nacional
Carta ao Primeiro-Ministro
Como não creio que a Leitura e a Educação dependam de uma única tutela, e considerando que é o Ministério da Economia que interdita a circulação de livros, opto por lhe escrever deste modo, para o exortar a fazer da Leitura um desígnio nacional. Não estranhe este meu pedido - será apoiado por muitas pessoas, algumas suas apoiantes, algumas militantes do seu partido, outras com quem trava amizades de natureza distinta. O livro une-os, é parte indissociável da nossa identidade cultural. O senhor deverá saber que assim é, já que é filho de um escritor e de uma jornalista, ambos seres humanos de excepção. O índice de leitura neste país faz corar de vergonha. Outros indicadores também, já se sabe, mas a leitura é algo que nos garante o futuro. Diria mesmo que é na promoção da leitura, que implica pensamento, que podemos evitar outros índices menos democráticos. Enfim, é uma ideia.
Temos a mania, nós que habitamos num grande centro urbano, de ver o país à nossa medida, a partir da nossa realidade. Nada de mais errado. Existem muitas cidades, vilas e localidades em Portugal cujo acesso à leitura é feito na sucursal dos CTT, na tabacaria local ou nos hipermercados. A venda em hipermercados é uma discussão que deveria ser considerada, já que é realmente injusta face aos restantes livreiros; contudo, em tempos de pandemia, retirar os livros e deixar as revistas, por exemplo, é totalmente incompreensível. Tenho um grande amigo que foi comprar um livro clandestinamente. Rimos sobre isto, mas não tem graça. Os livros vendiam-se debaixo da mesa noutros tempos, que não desejamos revisitar.
Fazer da Leitura um grande desígnio nacional é um projecto ambicioso e cuja tutela deveria ser sua, não do Ministério da Cultura, da Economia ou da Educação. Temos de preparar o nosso futuro, temos de fomentar pensamento, temos de perceber a importância de estarmos atentos, informados, com a maior cultura geral possível e, já agora, com vocabulário enriquecido, ao contrário do que sucede nas redes sociais e afins.
Bem sei que estes são tempos em que o foco está, acima de tudo, nas questões de saúde. Nada contra, como pode facilmente imaginar, para mais uma pessoa como eu. É preciso ter visão, importa projectar e entender que o nosso modo de vida será, fatalmente, alterado com esta pandemia. Muitos negócios extinguir-se-ão, outros irão sofrer durante um longo período. A Leitura pode salvar-nos. Outros sectores da Cultura estão a sofrer, é verdade, e existem situações realmente preocupantes. Como escritora, apoio os movimentos do meio artístico. Como leitora cito-lhe a poetisa Filipa Leal: “Havemos de ir ao Futuro”. Sem livros, senhor Primeiro-Ministro, sem leitura promovida e acarinhada, o futuro adivinha-se muito perigoso.»
Fonte: https://24.sapo.pt/opiniao/artigos/carta-ao-primeiro-ministro
Um texto lúcido de António Jacinto Pascoal (professor e escritor), que encosta à parede os partidos políticos que andam por aí fazer de conta que Portugal tem uma Língua.
«Tivesse o sistema político algum respeito por si mesmo e o devido sentido de Estado, seria o Acordo Ortográfico alvo de preocupação e reactivado».
Texto de António Jacinto Pascoal
«Os vários organismos da Administração Pública multiplicam-se em opiniões díspares e contraditórias sobre como usar as regras ortográficas nos documentos produzidos, nem sempre cientes de que a arbitriografia, para usar o termo cunhado por Manuel Monteiro (Por Amor à Língua, Ed. Objectiva) passou a ser a regra do Português (leia-se, igualmente, o oportuno Acordo Ortográfico, Um beco Com Saída de Nuno Pacheco, Ed, Gradiva). No dia em que escrevi estas linhas, estive numa Conservatória de Registo Civil onde me asseguraram o facto acima apontado e onde pude observar documentos e curtos enunciados empregados em concordância com os Acordos Ortográficos de 1945 e 1990.
É evidente que, assistindo à degradação da língua, de dia para dia, tantas as imprecisões e erros a que está exposta, importa ainda perder algum tempo a reflectir sobre se a sua banalização e a perda de rigor que a grafia manifesta acrescem à ausência de dignidade de Estado.
«Na entrevista que José Carlos Barros (deputado do PSD e relator do Grupo de Trabalho para a Avaliação do Impacto da Aplicação do Acordo Ortográfico de 1990) concedeu ao jornalista Nuno Pacheco (PÚBLICO, 2 de Setembro de 2019), o deputado afirma desejar “que houvesse coragem política de assumir que o Acordo Ortográfico foi uma coisa que correu mal, e que as coisas que correm mal devem ser debatidas e corrigidas”. Mas mais: José Carlos Barros assume que o Partido Socialista entendeu que “o assunto, pura e simplesmente, não pode ser discutido”, que o Ministério da Educação depositou uma lápide de silêncio sobre a questão, e que o Ministério da Cultura foi desautorizado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, a quem parece caber o policiamento sobre a matéria. José Carlos Barros sugere mesmo um “pacto de silêncio” entre os ministérios envolvidos. Isto não deixa de lembrar o tempo em que se inspirava temor, o que, em certos casos, queria dizer algo como recorrer a métodos censórios.
Se um dos desígnios da Escola é o de melhorar o Português (e não somente lutar contra a iliteracia), perguntamo-nos como ele se pode alcançar, numa altura em que todos nos movemos num pântano de generalizada disortografia, de imprecisão e de desordem linguística. Quem pretender obter conhecimento de regras gráficas sólidas e rigorosas nas escolas tem de admitir que nem mesmo o sistema de ensino, vergado à letra política, reúne condições para o garantir. É nestas condições, a assobiar para o lado, que o Ministério da Educação pretende reiniciar o novo ano lectivo? Ou servindo-se de muletas como a do programa televisivo “Bom Português” (RTP), que espalha a sua nuvem de quietude sobre as consciências, para além de, como justamente aparenta, servir o edifício do poder? Sejamos sérios: tivemos a proibição dos livros; temos a proibição da língua. Vai levar tempo a perceber a urgência da situação.
Na mesma entrevista, José Carlos Barros sugere que o tema do Acordo Ortográfico seja abordado na campanha eleitoral e deixe de ser tratado como assunto-tabu. Tivesse o sistema político algum respeito por si mesmo e o devido sentido de Estado, seria o Acordo Ortográfico alvo de preocupação e reactivado debate nesta campanha. O Presidente da República, na quarta edição da Festa do Livro em Belém, referiu que um dos objectivos do evento é promover a leitura e a venda de livros. Era bom que, mais do que vender livros, se repensasse a sua matéria-prima, a língua na forma grafada. Não seja a língua, afinal, a ser vendida. Tomemos, por isso, precauções para evitarmos ser ofensivos, quanto aos sinais de censura vigentes. A defesa e a valorização da língua são aquilo que confere maior prestígio a uma Nação. A sua degradação, pelo contrário, é já uma enorme ofensa.
Professor e escritor
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Um comentário ao texto de António Jacinto Pascoal, (que subescrevo na íntegra) , o qual poderia ter sido escrito pela autora deste Blogue.
Pois é mesmo de 'censura' que se trata, 45 anos depois de implantada em Portugal a democracia! Direita, esquerda, centro todos preferem ignorar a destruição da nossa língua que este 'imbecil' AO90 e a sua imposição política anti-democrática está a promover! Uns porque são apenas ignorantes outros porque vivem obcecados pela costumeira megalomania nacional, agora transposta para o 'império' da língua! Saúdo o autor deste texto, com um apreço especial por se tratar de um "professor"! Porque os professores têm de reagir: é inadmissível que continuem a aceitar que lhes seja imposto ensinarem MAL a sua língua às nossas crianças e jovens! É pela língua que existimos, como povo com uma cultura própria! E os jornalistas têm de 'obrigar' os políticos a definir-se sobre o AO90 na campanha eleitoral!
Fonte:
https://www.publico.pt/2019/09/04/sociedade/opiniao/novo-tempo-censura-1885407
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Quanto a mim, na minha qualidade de ELEITORA, deixo aqui o meu repto:
Exijo aos partidos políticos que ponham a questão do AO90, no programa da campanha eleitoral, porque já BASTA de tanta conspiração e de tanto silêncio.
Isabel A. Ferreira
Por uma Cultura Culta, em Portugal, e pela Grafia Portuguesa.
Exmo. Senhor Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa
Digníssimo Presidente da República Portuguesa,
Foram várias as vezes que ousei escrever a V. Exa., abordando, publicamente, matérias que, aos meus olhos de cidadã portuguesa, imbuída de juízo crítico, considerei pertinentes, por serem do interesse de Portugal e dos Portugueses.
Aqui estou, uma vez mais, a dirigir-me a V. Exa., com o mesmo intuito, aproveitando duas circunstâncias actuais, bastante significativas: uma, de enorme júbilo; outra, de profunda tristeza.
A de júbilo, alude à atribuição do Prémio Camilo Castelo Branco/2017, à insigne escritora portuguesa, Teolinda Gersão que, há tempos, dirigiu ao Senhor Presidente, as palavras reproduzidas na imagem que ilustra esta carta, e que, já agora, aproveito, para fazer também minhas.
A atribuição deste prémio a uma das vozes críticas à imposição, que V. Exa. sabe ser ilegal e inconstitucional, da ortografia brasileira aos Portugueses, nomeadamente às crianças portuguesas, as mais enganadas e prejudicadas com esta atitude incompreensível à luz de todas as razões, além de ser merecida, do ponto de vista literário, pois Teolinda Gersão é uma fabulosa artesã da Língua Portuguesa, constitui uma bofetada bem assente na cara de todos aqueles que, por motivos obscuros, teimam em trocar a qualidade pela quantidade, estando, com isto, a servir de pasto à ignorância, se me permite esta expressão menos erudita.
A de profunda tristeza, diz respeito à tragédia dos fogos que consumiram vidas humanas a fauna e flora portuguesas, de um modo brutal, irracional, inconcebível, jamais visto, e que deixou a Europa e o mundo estupefactos. Como é que num país territorialmente tão pequeno, foi possível uma tragédia desta dimensão? Mais um caso único português, para o Guinness World Records.
Pois bem, Senhor Presidente da República Portuguesa, foi com grande expectativa que, ontem, aguardei a comunicação de V. Exa., ao País. Devo confessar que esperava mais do mesmo, como é hábito dos nossos governantes, que não costumam dar-nos nada de novo, muito pelo contrário.
Mas ontem, ontem, dia 17 de Outubro de 2017, precisamente quatro meses passados sobre a tragédia de Pedrógão Grande, o senhor surpreendeu Portugal com o discurso mais notável, jamais proferido, por um Presidente da República Portuguesa, um discurso realmente digno de um Presidente da República Portuguesa, no qual demonstrou a força e o poder que um Presidente da República pode e deve ter, quando o País está à beira de se afundar num abismo de incompetências, de jogos de poder, de incapacidades, de um “brincar à política” nunca visto.
Ontem, o Senhor Presidente demonstrou ser o presidente de todos os portugueses quando, humildemente, pediu desculpas, sem ter culpas, pela tragédia sem precedentes, que se abateu sobre Portugal, atitude que o primeiro-ministro de Portugal não teve.
Pela primeira vez, um Presidente da República fez cair um governante que, ao que parece, já teria pedido a demissão, mas não a aceitaram, porque enquanto os “canhões” estivessem virados para o Ministério da Administração Interna, o primeiro-ministro continuaria em segurança.
Foi então que eu, e talvez milhares de Portugueses, com o mesmo sentido crítico e cívico, nos apercebemos de que se o Presidente da República quer, o Presidente da República pode, ou seja, ontem, V. Exa. mostrou que tem poder para governar o país, quando ele está desgovernado.
Posto isto, e uma vez que Portugal está no mau caminho, no que respeita a outros Ministérios, como por exemplo, o Ministério dos Negócios Estrangeiros (que é mais dos negócios dos estrangeiros, e tem Portugal suspenso por um fio de teia de aranha sob um abismo, no que respeita à Língua Oficial Portuguesa, que o PR tem o dever de defender); o Ministério da Cultura (que não sabe distinguir Cultura Culta de cultura inculta, e anda por aí a apoiar, para vergonha de Portugal, a selvajaria tauromáquica); o Ministério da Educação (que anda a enganar as crianças portuguesas, exigindo-lhes que aprendam uma ortografia que não é a portuguesa), para falar apenas nos que mais disparates têm feito, no que respeita à Língua, à Cultura e ao Ensino, três pilares que sustentam a alma portuguesa, porque nem só de pão vive o homem, venho solicitar ao Senhor Presidente, e tenho certeza, em nome de milhares de Portugueses que, da mesma forma que ontem veio a público, exercer o seu poder, para defender Portugal do descalabro total, e para que não tenha de vir novamente a público pedir perdão aos Portugueses, desta vez, com culpas redobradas, por ter deixado “queimar” a Língua Portuguesa, num fogo tão endoidado, como o que fez arder mais de uma centena de Portugueses, uma vastíssima área das nossas florestas, incluindo o Pinhal de Leiria, património português, a nossa fauna, morta aos milhares, fábricas, culturas agrícolas, o que tornou Portugal muito mais pobre e negro, venha a público, defender também, com igual força e poder, a Língua Oficial Portuguesa, a Língua Portuguesa, consignada na Constituição da República Portuguesa, e que o Presidente da República Portuguesa tem o supremo dever de defender.
Senhor Presidente, V. Exa. sabe como a Língua Portuguesa anda por aí espezinhada, mal escrita, mal falada, mal ensinada. É que, em Portugal, não se escreve nem em Português, nem em acordês, mas sim num vergonhoso mixordês, que é isto mesmo que anda por aí a circular, como língua de uma nação europeia, um daqueles casos únicos, que fez entrar Portugal para o Guinness World Records.
Em Portugal, está-se a formar uma geração de semianalfabetos, aqueles que aprenderão os rudimentos da escrita e da leitura, mas nunca serão capazes de escrever, ler e compreender o que lêem, corrente e correctamente, a sua própria língua. Mas estão a aprender a escrever e a ler correctamente o Inglês, o Francês e o Castelhano, por exemplo.
E V. Exa sabe que tenho razão. Basta olhar à volta, na nossa comunicação social (felizmente nem toda), e nos ofícios e mensagens estatais, tudo rabiscado na mais vergonhosa e pobre ortografia.
Aguardo, aguardamos todos, que V. Exa. use do poder que ontem demonstrou ter, para recomendar a demissão do MNE, do MC e do ME, porque não estão a servir Portugal, mas tão-só os interesses de grupos económicos obscuros.
Com os meus mais respeitosos cumprimentos,
Isabel A. Ferreira
É lamentável que mais vozes não se façam ouvir na Assembleia da República. A subserviência do governo português ao lobby acordista é deplorável, é indecente, é criminosa, é um insulto à inteligência dos Portugueses, à sua História, aos seus antepassados, que lutaram para nos deixar um PAÍS LIVRE, que os actuais governantes querem transformar numa COLÓNIA.
Quanta indignidade! Quanta desonra! Quanta bajulação! Quanta infâmia!
Agradecemos ao Senhor Deputado José Carlos Barros, e esperamos, pelo menos, eu espero, que não se conforme mais vezes, muitas mais vezes. E que faça muitas intervenções do género, porque é preciso lembrar aos que acham que o AO90 é uma moda "moderna", que o AO90 tem berço antigo, muito anterior a 1990 e assenta numa lusofobia que brevemente será provada, e os governantes portugueses andam a fazer uma triste figura, sendo tão subservientes ao abrasileiramento (porque o AO90 não passa disto mesmo, e a intenção foi essa) da Língua Portuguesa, rejeitada no Brasil. Eu disse, e muito bem, REJEITADA.
É que nem sequer ensinam Língua Portuguesa ou Português no Brasil. No Brasil ensina-se "Comunicação e Expressão", porque a palavra "Português" lembra o colonizador.
Já o editor Antônio Houaiss havia declarado que o acordo de 1945 - que, esse sim, unificava a língua - foi recusado no Brasil por ser "LUZITANIZANTE". E nos anos 30, os motivos invocados para a mutilação da língua são também de ordem política, ou melhor, lusófoba.
E esta subserviência portuguesa é absolutamente intolerável, vergonhosa.
O que pretende Portugal com isto?
Isabel A. Ferreira
«Tradutores contra o Acordo Ortográfico
O ministro da Cultura foi ontem directamente confrontado pelo deputado do PSD José Carlos Barros com o caos decorrente da aplicação do Acordo Ortográfico. Como exemplo, é citada a nota técnica do Orçamento do Estado para 2017 do Ministério da Cultura que apresenta a já generalizada mixórdia ortográfica que o próprio Estado dissemina, violando o tratado que pôs obstinadamente em vigor. O ministro reage com a habitual insipidez sempre que o assunto é o AO.
Perante o alheamento e a desvalorização da língua, não se alegue, portanto, que o poder político desconhece a situação ou que não lhe é chamada a atenção para o problema.»
Vídeos retirados daqui: http://bit.ly/2eOF6T5
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