«O novo acordo ortográfico representa o mais profundo desrespeito pela nossa língua. As alterações ortográficas implicam necessariamente alterações fonéticas. É impossível ler espectador se escrevermos “espetador”, pois a consoante obriga a abrir a vogal. Espetador é o que espeta, ao passo que espectador é quem especta. O património linguístico é um tema demasiado sério para ser alvo de experiências mal consolidadas. Os demais países de língua oficial portuguesa, e bem, continuam a usar as suas antigas grafias. Portugal, que deveria ser o garante e a reserva da preservação deste valiosíssimo património, foi a parte mais fraca de todos os países lusófonos. É natural que cada país tenha as suas diferenças, isso só valoriza a nossa língua, e não deve obrigar a uma unificação assente em pressupostos questionáveis. Estou do lado de Vasco Graça Moura ou de Pacheco Pereira. Sei que, infelizmente, dentro de algumas gerações, a língua portuguesa ficará definitivamente deformada em tantos dos seus vocábulos, porque a Escola passou a ensinar o novo acordo. Custa-me muito ver os meus filhos, sem culpa alguma, escreverem palavras decepadas e sem relação orgânica com os seus significados. É uma pena o que fizeram com a língua portuguesa. Mas enquanto for vivo escreverei correctamente.»
Bruno Ferreira, Imitador de vozes, actor e locutor
«A verdade é que toda a imprensa e jornalistas em geral, que sempre tiveram a possibilidade de denunciar o Aborto Ortográfico, foram os primeiros a adoptá-lo! E agora o que se vê, diariamente, e em todos os meios? Erros de palmatória provocados pela natural confusão que o AO trouxe. E vai continuar a trazer. Uma língua em terra de ninguém…»
Rui Veloso, Músico e compositor
«Querem unificar o quê? A língua evoluiu de modo diferente em Portugal - falada por todos e escrita, há séculos - e no Brasil, língua oficial desde 1758, país gigantesco, com população diversa, e com cerca de 210 idiomas ainda falados no país. Querem unificar o quê? Ou querem mesmo destruir a nossa língua, que aqui nasceu e espalhámos pelo mundo?! Vergonha!»
Maria José Abranches, professora reformada no Blogue O Lugar da Língua Portuguesa, 27-02-2024
A habitual incursão em alguns órgãos da comunicação social que realizamos regularmente continua a demonstrar que o AO90 contribuiu (e continua a contribuir), como muito bem o expressa Rui Veloso, para o caos ortográfico que nos assola. Assim, na última revoada, vieram na rede algumas formas assaz curiosas:
(É sobremaneira curioso que o mesmo arrazoado seja grafado em duplicado em duas notícias diferentes).
(O omnipresente fato que não é de vestir. Este tem desigualdades. Deve ser defeito do tecido).
(Antes do AO90, escrevia-se, indubitavelmente, nas escolas e por todo o lado, contactos directos; agora, é como calha. Contactos diretos, pelos que sabem aplicar o AO90; contactos directos pelos que rejeitam o AO90; contatos diretos, por aqueles que pensam que sabem aplicar o AO90; e contatos directos, pelos adeptos do AO90 em fatias. Alguém ouviu falar em unificação? E em simplificação?)
(Escrever à bruta deve ser isto).
Pois é, caro leitor, é este o estado a que isto chegou, como diria Salgueiro Maia.
Ah, felizmente, o Correio da Manhã, às vezes, vai tendo umas saudáveis recaídas.
Ah, quem se disponibiliza para ensinar que 25 de Abril se escreve com maiúscula? Sempre!
Ah, alguém pode avisar o senhor da meia hora de que houve ali um pequeno erro de cálculo?
João Esperança Barroca
. Em Defesa da Ortografia (...