Em jeito de introdução, se me permite, Professora Maria do Carmo Vieira:
- Um texto de leitura obrigatória para todos os Portugueses Pensantes, que rejeitam (ou, pelo menos, dizem que rejeitam, o AO90, e até para os que, acriticamente, aceitaram servir o Sistema.
- Um momento único para que o Presidente da Repúblicafaça um acto de contrição, por todo o mal que o seu silêncio, a sua indiferença, o seu distanciamento deste problema gravíssimo fez e continua a fazer a milhares de alunos, as maiores vítimas da irresponsabilidade dos governantes, até porque a Professora Maria do Carmo Vieira apresenta uma argumentação absolutamente irrefutável.
- Também aqui fica declarado que enviarei este texto para o presidente da República Portuguesa, pelas vias oficiais, para que não diga: «não vi, não li, não sei de nada, não tenho nada a dizer», porque já BASTA de andar a tentar fazer de parvos os Portugueses Pensantes. Já BASTA de subestimar a inteligência dos Portugueses Pensantes. Já BASTA de prejudicar milhares de alunos, a quem se deve um Ensino de QUALIDADE, a começar pela sua Língua Materna.É chegada a hora de acabar com este insulto à Cultura Linguística Portuguesa.
Isabel A. Ferreira
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Opinião
Ortografia e “linguagem inclusiva”: um contínuo elogio da loucura
Senhor Presidente, certamente que verá e ouvirá os inúmeros erros decorrentes do uso do AO90 e por isso lamento que silencie essa situação.
Maria do Carmo Vieira
No seu filme O Destino (1997), Youssef Chahine (1926-2008), realizador egípcio, mostra-nos, a dada altura, o filósofo do Al-Andaluz, Averróis, em discussão com o filho mais novo do Califa, Al-Mansur, recém-fanatizado em dogmas forjados e fundamentalistas (numa associação às seitas jihadistas). Transcrevo as suas palavras, bem elucidativas da leveza com que se encara o estudo e da arrogância com que se impõe uma pseudo-sabedoria: “És tão vazio que repetes todos os disparates de que te enchem. Um poema e dois versos corânicos e julgas-te poeta e sábio? Que sabes de medicina e de astronomia, de matemática e de química e de filosofia? Sabes o suficiente do amor, da verdade, da justiça para afirmar-te capaz de espalhar a palavra de Deus? Responde!”
Certamente que a sua leitura nos remeterá simbolicamente para inúmeras situações que já presenciámos, desconhecendo contornos, ou vivenciámos directamente, conhecendo-as por dentro, resumindo-se a questão grosso modo à facilidade com que aprendizes de feiticeiro (ou popularmente “chicos-espertos”) se arrogam o direito de impor, e serei benévola no substantivo, o erro e divulgá-lo religiosamente como dogma, em nome de qualquer coisa que é sempre perspectivada como um bem. Uma atitude que não me coibirei de descrever como execrável. E não abdico do termo porquanto a acção das brilhantes mentes, habitualmente matizada pelo cinismo de um sorriso benevolente, nos impõe a ignorância, conseguindo, quantas vezes, apagar valores que considerávamos profundamente gravados em nós.
A pressão que se abate sobre quem tenta reagir é tão feroz que o facto de ter usado acima o termo, gramaticalmente correcto, de “substantivo”, poderá ser ajuizado, pelos criadores da TLEBS, que à revelia o transformaram em “nome”, como um acto de “resistência à mudança”, expressão acusatória para quem põe em causa “a nova ordem”. E até o facto natural de referir por Escola Primária o agora designado 1.º ciclo pode ser, para os fundamentalistas da “nova escola”, objecto de censura por ainda estarmos imbuídos, imagine-se, de um “saudosismo salazarista”.
E neste contínuo elogio da loucura que transparece nos actos e nas palavras de quem quer impor-se, arrastando os outros nas suas tortuosas experiências, vamos assistindo a uma miríade de situações que parecem não ter fim e que, ao invés de serem travadas ou avaliadas criticamente por quem de direito, recebem o apoio, de forma velada ou não, de quem abdicou de ser um advogado à altura. A este propósito penso no Presidente da República e no seu papel quer em relação ao Acordo Ortográfico de 1990 (AO90) quer à dita “linguagem inclusiva”.
Comecemos pelo AO90, cujo processo inicial se deveu à vontade de um político, o presidente do Brasil, José Sarney, que, movido sabe-se lá por que razões, se lembrou de promover, em 1986, um encontro, no Rio de Janeiro, com todos os países de língua oficial portuguesa, e cujo texto resultante deste encontro – Acordo Ortográfico de 1986 – foi fortemente contestado pelos linguistas e nunca aprovado por eles nem pela sociedade civil.
É por demais conhecido o que se passou depois da paciente espera para uma melhor oportunidade de concretização, que surgiria em 1990, sendo a novidade justificada numa inimaginável e acientífica “Nota Explicativa ao Acordo Ortográfico de 1990”. Bastar-nos-á recordar o pretenso objectivo para este AO: a irrealizável “unidade ortográfica”, na diversidade das lusofonias. Amplamente divulgadas foram também as negociatas que adulteraram o conteúdo do Tratado Internacional, originando protocolos modificativos e ratificações que até agora não se fizeram. A discussão a seu tempo feita na Assembleia da República é também um exemplo flagrante de um elogio à loucura, ajustando-se igualmente ao teor das palavras de Averróis. Na verdade, a ignorância elevou-se e nem faltou a galhofa, entre os deputados presentes, até à insultuosa votação final. As actas podem ser consultadas.
Feita esta breve introdução, lembremos como o Presidente da República, no seu primeiro mandato, se mostrou interessado pelo tema do acordo ortográfico, polémica que ainda se mantém, parecendo, nessa altura, não tencionar abandonar essa preocupação. Nas palavras de Pedro Mexia, um dos seus assessores culturais, “havia a expectativa” de que o Presidente reabrisse o debate sobre a matéria, o que aliás lhe fora sugerido também pelo prestigiado Professor Artur Anselmo, então presidente da Academia das Ciências.
Anos mais tarde, o acordo, fruto de um qualquer truque de ilusionismo amador, tornou-se “um não-problema”. Em suma: a língua portuguesa deixou de ser um património cultural a defender, estando sujeita a jogadas políticas, e o seu ensino deteriorou-se no convívio com o caos determinado pela implementação do famigerado acordo, um caos que não só se verifica na ortografia, como também na pronúncia de “novas palavras” e nos equívocos que gera (retractar, agora sem “c” é disso um exemplo, entre tantos outros).
Lembrar-se-ão também da Associação de Professores de Português (APP) que solicitou recentemente ao ministro da Educação que os alunos brasileiros não fossem penalizados nos exames, devido às diferenças linguísticas que colidem com a norma portuguesa. Por estranho que pareça, não rebateram a absurda “unidade ortográfica” que justificou o AO e que a APP sempre apoiou. Afinal, a situação exposta pôs a nu o inegável: a impossibilidade de uma unidade ortográfica.
Senhor Presidente, certamente que verá e ouvirá os inúmeros erros decorrentes do uso do AO 90 e por isso lamento que silencie essa situação, que julgo não se adequar a um professor e a um Presidente que afiançou “ser de todos os Portugueses”. Lamento igualmente que os seus assessores culturais, alguns deles críticos do acordo, e amantes da palavra, não lhe tenham sugerido a imperiosa necessidade de um debate académico e científico sobre a matéria quando é por demais evidente a permanência da polémica, existindo livros que a analisaram em pormenor, nomeadamente os do professor António Emiliano, linguista da Universidade Nova. Os exemplos de erros são incontáveis e a sua ininterrupta proliferação vilipendia a Língua Portuguesa, mal falada e mal escrita, com a agravante de nem mesmo o que ficou registado no texto da Nota Explicativa se cumprir.
São inúmeros os professores que respondem a dúvidas dos alunos sobre o modo correcto de escrever algumas palavras, tal a confusão que reina. Um colega meu de Tomar, João Barroca, tem ao seu dispor centenas, senão milhares, de exemplos das confusões ortográficas no quotidiano e na comunicação social. Situação idêntica em instituições escolares, camarárias e outras (elevado número de Editoras, entre as quais a Fundação Francisco Manuel dos Santos, plataformas de streaming…) que deviam prezar pela correcção e a esquecem.
Lamenta-se igualmente a resignação de alguns intelectuais que traem, com o seu silêncio, a causa em que publicamente se movimentaram e empenharam, apresentando inclusive propostas, como aconteceu com o Professor António Feijó, da Faculdade de Letras de Lisboa, em relação a um referendo, sugestão com a qual não concordei, na altura, mas para a qual trabalhei arduamente, e em vão, com grande número de voluntários.
Não posso deixar de transcrever também as razões que assistiam ao então director e presidente do Conselho Científico da Faculdade de Letras (2013), agora presidente da administração da Fundação Gulbenkian, quando escreveu ao presidente da Comissão de Educação, Ciência e Cultura, José Ribeiro e Castro, a propósito do AO: “[…] Arrogar-se o Estado legislar sobre intangíveis como a língua, que na realidade o excedem, seria uma extensão abusiva das suas funções. Numa altura em que, em Portugal, se procura definir com parcimónia quais as funções do Estado, a sua extensão a um domínio como a língua é uma forma de cesarismo indesejável. É este o meu primeiro argumento contra o Acordo. […] Finalmente, alterar o modo como escrevo para o modo como o Acordo impõe que escreva é uma forma de violência sobre o que de mais visceral pode ser a identidade pessoal. É nesta visceral violação subjectiva, que é a de todos os que, escrevendo de um modo, se vêem coagidos a mudá-lo, que reside o meu segundo, e último, argumento contra o Acordo. Se se entender que esta posição não é ‘prática’, considere-se a desoladora pobreza conceptual deste termo no debate público, que ignora versões nocionalmente mais ricas e densas do que é ‘prático’. Eminentemente ‘práticas’ são noções como a de ‘direitos individuais’, a de ‘personalidade’, de ‘solidariedade’, ou de um valor demasiado rarefeito na história moderna e contemporânea de Portugal, à sombra do qual termino, a ‘liberdade’.”
Também na Gulbenkian, encontramos estranhas convivências determinadas pelo AO: “Egito”, “egípcios” e “egiptólogos”, a propósito de Faraós superstars – designação tão em moda, a fazer lembrar Oeiras Valley!
Os erros mais crassos, e que não têm fim à vista, dizem sobretudo respeito a vocábulos cujos “c” e “p” continuam a ser ceifados a torto e a direito, mesmo quando lidos. “Contato” e “Fato” atingem o top, sendo o jornal Expresso o campeão, mas não falta também o “inteletual”, o “abruto”, a “convição”, a “batéria” e tantos outros que o Senhor Presidente certamente encontrará no seu dia-a-dia. Não o preocupa esta situação? Não o preocupam os alunos que diariamente são confrontados com erros? Não o preocupa que os professores, na sua maioria contrários ao acordo, sejam forçados a cumpri-lo sob pena de lhes ser instaurado um processo disciplinar?
Reparei igualmente que o Senhor Presidente parece ser sensível à “linguagem inclusiva”, uma linguagem criada por quem faz tábua rasa da Gramática e da lógica da língua, pretendendo impor a sua verdade, tal dogma indiscutível. Devo confessar-lhe que a sua preocupação, recente no tempo, de se dirigir aos portugueses, referindo “Portugueses e Portuguesas” me causou estupefacção e creia que não me senti mais respeitada por isso.
Saberá que há quem acerrimamente defenda que a par de “camaradas”, se diga também “camarados” e certamente “camarades”, justificando-se a sequência com a dita inclusão. Assim sendo, surgiriam “crianças, crianços e criances” ou “colegas, colegos e colegues” e os exemplos seriam infinitos e a escrita um acto de demência, concordará. E o que fazer ainda no caso de “estudante”, de “presidente” ou de “personagem” ou como resolver o problema dos artigos definidos e indefinidos que se cingem a masculino e feminino? É o tipo de raciocínio chão, da leviandade que caracteriza toda a ignorância, da feroz mania de avaliar, de dissecar, de expor ostensivamente, de inovar por inovar.
Sem dúvida que a atitude miserabilista que tomou conta destas mentes alastrou a situações afins, determinando o clímax acontecido recentemente no Teatro de S. Luís. Uma insanidade, muito aplaudida, apesar de pôr em causa o Teatro, o acto de representar e a saída de cena. Um flagrante elogio da loucura, não concorda, Senhor Presidente?
Quero ainda acreditar que o AO tornará a ser um problema, na sua perspectiva, como aconteceu há uns anos, porque é intolerável o actual desrespeito pela Língua Portuguesa e pela sua ortografia. E porque ficou por satisfazer o pedido do Professor Artur Anselmo, cujo estudo aturado merece o respeito e a admiração de todos nós, porque não agora?
Por último, desejo felicitá-lo pelo seu abraço ao imigrante nepalês, cobardemente espancado, em Olhão, por quem segue os ditames da seita já conhecida. Também aqui será de acompanhar a situação do imigrante nepalês, que, no fundo, representa todos os que procuram trabalho em Portugal (e quanto lhes devemos!...) já que se multiplicam de norte a sul os lobos com pele de cordeiro. O seu abraço, senhor Presidente, não pode ser em vão. Tem de significar alguma coisa no futuro deste nepalês.
(Convido todos os Portugueses Pensantes a fazerem o mesmo)
«Ortografia e “linguagem inclusiva”: um contínuo elogio da loucura», um texto em jeito de Carta Aberta ao Presidente da República, pela Professora Maria do Carmo Vieira
Solicito a Vossa Excelência que leve em conta o conteúdo desta Carta Aberta da conceituada Professora Maria do Carmo Vieira, porque Portugal não pode ser o 28º Estado da República Federativa do Brasil , como pretendem os Brasileiros e as autoridades portuguesas.
Isto é um INSULTO ao MEU País e a todos os Portugueses Pensantes, porque os não-pensantes estão mais interessados em futebol, novelas e reality-shows.
Agradeço, desde já, todo o afeCto que possa dispensar a este que é um dos apelos mais veementes dos que pretendem viver num Portugal LIVRE e PORTUGUÊS. Os argumentos da Professora Maria do Carmo Viera são absolutamente irrefutáveis.
Pensamos que não fica bem ao presidente da República Portuguesa tentar fazer-nos passar por atrasados mentais. Estes erros pagam-se caro num futuro a vir. A História sempre foi implacável para com aqueles que não souberam cumprir as funções que lhes foram confiadas pelo Povo. Democracia NÃO é poder dizer alto e em público o que pensamos. Democracia é OUVIR o POVO e agir em conformidade com os seus direitos. E, neste caso, o nosso direito é termos o Direito à NOSSA Língua Materna - a Portuguesa.
Manuel M. Monteiro e Ricardo Araújo Pereira, dois cidadãos portugueses que pugnam pela preservação da Língua Portuguesa, em Portugal.
Desejo muito sucesso para mais este livro de Manuel Matos Monteiro, e espero que se aproveite o momento do lançamento para enviar aos governantes e à classe docente e a todos os que, subservientemente, se vergaram à ignorância, uma clara mensagem de repúdio ao AO90, responsável pelo CAOS que se vive nas escolas, com professores a impingirem uma vergonhosamixórdia ortográfica, que o tal acordo mais desacordado do mundo originou. É que não conheço nenhum aluno, seja de que ciclo escolar for, que escreva escorreitamente a sua Língua Materna. Além dos disparates acordistas, há a outra parte, que demonstra um desleixo total pelo estudo da Língua.
O que andará a fazer o ministro da Educação? Para onde quer levar o Ensino, o ministro da Educação? Para que serve um ministro da Educação que DESPREZA o ensino da Língua de Portugal?
Manuel e Ricardo, aproveitem o momento para abanarem a estrutura do Ensino, mal assente no seu pilar: a Língua Materna dos Portugueses, para que o "edifício" caia, e possa erguer-se uma nova estrutura mais condizente com o SABER escrever e falar, e que rejeite, em absoluto, a ignorância que se instalou em Portugal.
Do fingimento à mais profunda hipocrisia: três histórias recentes
Como se revela o fingimento, intimamente ligado à mais profunda hipocrisia e falta de respeito pelo Outro? São três as histórias que contarei a esse propósito.
Foi um grande avanço no meu conhecimento, quando, pela primeira vez, a pobreza se me revelou na ignomínia do trabalho mal pago.[2]
Não se liam os livros de uma ponta à outra; habitávamos entre as suas linhas.[3]
Walter Benjamin (1892, Berlim – 1940, Portbou)
Como se revela o fingimento, intimamente ligado à mais profunda hipocrisia e falta de respeito pelo Outro, situação a que também não é alheia a Cultura e o Saber? São três as histórias que contarei a esse propósito. A primeira tem como figura principal o Ministro da Educação, João Costa; a segunda, a Associação de Professores de Português (APP); e a terceira, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Foi a Reforma de 2003, cujo espírito perdura, e na qual o professor João Costa (Associação Portuguesa de Linguística – APL) interveio arduamente, em parceria com a APP, e depois no Ministério da Educação, que ditou o descrédito relativamente às Humanidades, situação que se tem vindo a prolongar até aos nossos dias, tendo dado azo ao esvaziamento de programas e à quase destruição das disciplinas de Filosofia, de Geografia, de História e obviamente de Português. João Costa, a par de muitos outros ministros da educação, tem sido efectivamente um fervoroso adepto do colapso das referidas matérias, mas agora tenta dar uma imagem contrária. Imitando, sem brilho, António Damásio que afirmou “A matemática e as ciências não fazem cidadãos”, na Conferência da Unesco, em Lisboa, (Março 2006), João Costa referiu no seu discurso que “As grandes conquistas da humanidade não se fizeram com cálculos financeiros”, aconselhando ainda, e fingidamente condoído, a “não deixarmos o mundo nas mãos de quem para tudo faz contas e de quem para tudo desumaniza”. Ter-se-á esquecido da perseguição que instaurou aos professores alterando o Regime de Mobilidade por Doença e das consequências daí advenientes? Nesse sentido, leia-se o artigo do Professor Santana Castilho (Público, 12/10/2022) e compreender-se-á o grau de hipocrisia de políticos como João Costa, numa actuação que apregoa invariavelmente os “direitos humanos” e o “bem público”.
No seu surpreendente discurso de dia 14 de Novembro p.p., repleto de frases vazias ou absurdas como a que transcrevemos – “A escolha das humanidades não precisa de justificação, da mesmamaneira que a escolha pela poesia, pela literatura e pela arte não precisa de justificação” – lamentamos veementemente a triste sorte do Ensino entregue a gente deste calibre. Gente que pactuou com a sugestão de se retirar a Literatura dos programas de Português, tentando elevar a Linguística a matéria única e fazendo reinar o texto funcional; que pôs de parte, como sendo desmotivantes, os autores clássicos; que feriu o estudo dos que por conveniência tiveram de permanecer, somando-se decisões desastrosas como retirar da leitura de Os Lusíadas a “Dedicatória” porque, segundo colegas do Ministério, apoiando-se em argumentação APP, “os alunos faziam imensa confusão com o facto de Luís de Camões dedicar o poema ao rei D. Sebastião, narrando o poeta um evento acontecido no reinado de D. Manuel. Obrigá-los a decorar datas era desmotivante…” ou o episódio de “O Velho do Restelo” que, felizmente, grande número de professores continua a ler e a interpretar porque imprescindível para compreender o Humanismo, o mesmo Humanismo a que se refere o Ministro da Educação. Sem dúvida que é o Senhor Ministro “quem tem medo da democracia e da liberdade” e por isso também “dos escritores, dos poetas, da palavra e da arte”, palavras que igualmente proferiu no seu discurso. Explicar-lhe-ei mais em pormenor o porquê da minha afirmação.
Conhece certamente o teor dos exames ou das provas de aferição de Português, para adolescentes e crianças. Todos, sem excepção, superlativamente longos, repletos de páginas, a que se juntam diferentes textos para analisar, todos igualmente extensos, alguns dos quais com recurso a cruzinhas em que, por vezes, as várias hipóteses são puras ciladas. Junte-se-lhes uma avalancha estonteante de TLEBS e ainda a produção de textos. O senhor Ministro é contra os exames e eu sou a favor, mas eu sou totalmente crítica destas aberrações que impedem os alunos de tempo para pensar, de tempo para planear e organizar um texto escrito. A literatura e qualquer outra arte exige um diálogo com o que se lê, ouve ou olha e esse diálogo não pode ser impedido sob pena de se perder o contacto com o autor. Não será assim que se entusiasmará os alunos para a leitura e para a arte em geral. Na verdade, temos de “habitar” entre as linhas de um livro ou de uma pauta ou das cores. Porque adepto da rapidez, o senhor defende desde 2003 o funcional, se bem que inesperadamente na entrega deste prémio surja com um discurso enganador, mas tão facilmente desmontável. Dou-lhe conta de que não é com o funcional que “se formam cidadãos”, nem é com o funcional que se estimula a imaginação e a criatividade, sem as quais “não haveria evolução científica e tecnológica porque não haveria curiosidade”. (ainda António Damásio).
A segunda história incide sobre a Associação de Professores de Português (APP)e a iniciativa de levar a uma reunião do IAVE o que considera ser a penalização dos alunos brasileiros nos exames, pelo uso da sua variante do português. Sem querer entrar nesta questão, porque seria matéria para um artigo, e desconhecendo se no Brasil aceitam que os alunos portugueses escrevam segundo a norma portuguesa, questiono a APP a propósito da defesa da aberrante “unificação ortográfica” que o acordo de 1990 traria, permitindo que as várias lusofonias espalhadas pelo mundo finalmente “se entendessem”, como se anteriormente isso não acontecesse. Afinal, a APP terá de concluir, engolindo um imenso sapo, que o acordo trouxe apenas desentendimento, penalização e caos, evidenciando simultaneamente uma imensa falta de respeito pela “diversidade das diversas lusofonias como património de uma comunidade de estados soberanos unidos por uma raiz histórica comum […].”[4]
Por ironia do destino, a APP, desde sempre fiel aliada do Ministério da Educação, irá reencontrar um antigo colega de trabalho, o actual Ministro da Educação, João Costa, dado necessitar certamente do seu aval para a resolução do problema dos exames e dos alunos brasileiros. Dever-se-á salientar, no entanto, que a APP abraçou desde o início a imposição do acordo ortográfico, não tendo promovido um debate sério com os seus associados, que nas palavras da direcção eram metade a favor e metade contra. Além disso, promoveu inúmeras acções de formação para difusão e “ensino” do acordo ortográfico, dentro e fora do país, quando até julgara poder ser o mesmo compreendido “em algumas horas”. Já João Costa, enquanto sócio da APL e seu Presidente, acompanhou o parecer desfavorável da direcção, solicitado, em 2005, pelo Instituto Camões, e no qual se concluía: “1. Que seja de imediato suspenso o processo em curso, até uma reavaliação, em termos de política geral, linguística, cultural e educativa, das vantagens e custos da entrada em vigor do Acordo Ortográfico de 1990. 2. Que, a manter-se o texto actual do Acordo, Portugal não ratifique o Segundo Protocolo.” Este parecer, custará a acreditar, não foi divulgado pelo Instituto Camões (IC), e só em 2008 veio a público, porque a Direcção da APL em funções “manifestou a sua concordância com este parecer e, no exercício das suas competências enviou-o à Assembleia da República, por ocasião da Audição Parlamentar de 7 de Abril de 2008.” Mas será certo que a APP encontrará em João Costa um parceiro adequado, porque enquanto linguista já esqueceu o parecer da APL e a sua missão política não admite que recue na amnésia forçada.
A terceira e última história incide sobre oMundial de Futebol, encharcado em corrupção, crueldade e aviltamento dos direitos humanos, situações que a comunicação social e os países ditos democráticos, entre os quais Portugal, têm vindo veementemente a criticar e a acusar. No entanto, por um qualquer golpe de magia, e porque na verdade está na sua natureza (justificaria o “escorpião”) são os mesmos (e não quero generalizar porque haverá honrosas excepções) que se enfureceram tanto contra esta e outras injustiças afins que agora, em tom grave e paternalista, anunciaram ir deslocar-se ao Qatar para assistir aos jogos de Portugal, com o argumento de irem representar o país. É preciso dizer-lhes que quem nos representa num estádio estrangeiro é a equipa, são os nossos jogadores. Prova-o o entusiasmo com que adeptos de diferentes continentes envergam camisolas do equipamento português, ou hasteiam bandeiras portuguesas, tendo como justificação “Cristiano Ronaldo, o melhor jogador do mundo!”. Não caiamos, pois, em patranhas: quando alguma figura institucional decide assistir a um jogo, fá-lo exclusivamente por prazer, pelo gosto que tem em ver jogar futebol e torcer pela sua equipa (e lembremos o rodopio de políticos em viagens pagas ao estrangeiro para assistir a jogos de futebol ou quem foi forçado a demitir-se, desvendado o irresistível charme que atrai o futebol à política e vice-versa).
A acentuar o “exotismo” do país, onde certamente estes “representantes da nação” nunca iriam, está o imperdível prazer da viagem na mira das inimagináveis boas-vindas que “a representação” lhes proporcionará. Eles têm disso consciência e eles são o Presidente da República, o Presidente da Assembleia da República e o Primeiro-Ministro, almas provincianas em procura de destaque e de colecção de “selfies” e histórias para contar. Causam igualmente dó e alguma repulsa o teor das justificações apresentadas, colidindo estas com as de outros países que politicamente não estarão presentes neste Mundial. Nesse sentido, Marcelo Rebelo de Sousa, Augusto Santos Silva e António Costa envergonham-nos. Digamos, usando as palavras de Séneca que “não são advogados à altura…”
Talvez o único bem deste mundial possa surgir da diversidade de povos e culturas que aí se juntam, resultando numa alegria que alguns jovens qataris entrevistados directamente testemunharam. Também os gestos que se têm vindo a manifestar, nos estádios, sejam os das equipas iraniana, inglesa ou alemã, sejam os das equipas dinamarquesa e belga que a FIFA proibiu, terão seguramente um qualquer efeito benéfico porque o Outro é, na verdade, essencial para um despertar. Neste momento, o Qatar, e usarei de novo as palavras de Walter Benjamin, é como um “bairro de proprietários” que ignora a “existência dos outros”.
[1]In Rua de Sentido Único e Infância em Berlim por volta de 1900, com introdução de Susan Sontag. Lisboa, Relógio D’Água, pág. 40
Sim, porque os candidatos acordistas serão escrutinados a este respeito, nestas eleições.
Vá-se lá entender esta gente! É este caos ortográfico que baralha as crianças. Precisamos de esclarecer-lhes qual a verdadeira grafia portuguesa, que não é aquela que lhes estão a impingir nas escolas, obviamente. E eu questiono-me: os professores saberão escrever correCtamente?
É este mixordês que anda por aí disseminado que me irrita!!!!! E os maiores divulgadores dessa mixórdia ortográfica são os canais de televisão. Portugal não tem uma Língua que o identifique.
É um é e não é constante. Cada um escreve conforme lhe dá na real gana. Caso ÚNICO no mundo. Porque, em Portugal, já não temos uma Língua Oficial. Temos uma mixórdia de grafias, que diz bem da pequenez de um País que perdeu o rumo e a vergonha, com um Ministro da Educação que já deveria ter sido posto na rua há bastante tempo, e os fazedores de manuais escolares devem atirá-los à fogueira, se têm um pingo de respeito pela inteligência das crianças, que está a ser esmagada pela idiotice que lhes impingem.
Mas enfim, onde não há dignidade, não há vergonha.
Espero que os acordistas-mor do nosso País sejam bem penalizados, porque já BASTA de tanta falta de respeito pelos valores culturais e linguísticos dos Portugueses.
Esta publicação vai ao cuidado do senhor ministro da Educação, Dr. Tiago Brandão Rodrigues, cuja política (des)educativa está a contribuir para o caos nas escolas, mas pior do que isso, está a contribuir para o DESENCANTO de muitas crianças, que não nasceram parvas, não são nada parvas, nem gostam que as façam de parvas, estudam línguas estrangeiras (como o Inglês e o Castelhano) e ao estudar essas línguas, sabem que aquele “direto” que aparece nos ecrãs das televisões, lê-se “dirêto”, porque lhe falta o cê, e que todas as palavras mutiladas, que as obrigam a escrever, não pertencem à Língua Portuguesa.
O incidente, referido no título deste texto, foi-me contado pela própria criança, uma menina de 10 anos, quase a completar os onze. Uma menina que sabe que está a ser enganada na escola. Uma menina que lê livros em Português correCto, a par do Português incorreto(incorrêto, como ela pronuncia, e bem). Uma menina que sabe distinguir o que é Português do que é Brasileiro. Uma menina que sabe que a ortografia que lhe é impingida na escola, é a brasileira. E ela sente-se defraudada, e diz-me: «Mas eu não sou brasileira. Sou portuguesa». Pois é. Claro que é.
E haviam de ver a tristeza com que me contou este triste episódio: «A professora marca-me erro quando escrevo os cêse os pês nas palavras portuguesas, como aspeCto e adoPtar...»
E isto, senhores professores, que marcam erro quando as crianças escrevem, correCtamente, e senhor Ministro da Educação, um dos que impõe regras mal geradas, NÃO SE FAZa uma criança que frequenta uma escola para APRENDER, até porque, todos nós sabemos que o AO90 é a maior fraude de todos os tempos, não está em vigor coisa nenhuma, pois a Resolução do Conselho de Ministros que obrigou à aplicação da grafia brasileira, além de não fazer lei, na prática, funciona apenas como uma“ordem por escrito”. Sugiro a leitura do texto inserido neste link:
"ordem" essa que qualquer professor pode recusar-se a obedecer, porque a tal não é obrigado, por não existir uma lei que o obrige.
Portanto, éILEGAL marcar erros, quando as crianças escrevem correCtamente a sua Língua Materna, e os professores que agem deste modo, deviam ser penalizados, porque estão na Escola para ENSINAR Português, falado e escrito à Portuguesa, e não para ensinar a grafar à brasileira, apenas para fazer o jeito aos políticos que, por sua vez, andam a fazer o jeito ao Brasil. Por alma de quem?
É preciso que os professores, de uma vez por todas, ganhem a consciência de que estão a obedecer a “ordens” mal engendradas, e não a cumprir a sua nobre missão de ENSINAR.
Aconselho vivamente a todos os professores que, por ventura, possam andar por aqui a procurar informações fidedignas, a ler o texto inserido neste link:
Aos governantes, para quem envio todos os textos que publico neste Blogue (lido em 145 países, de todos os continentes, onde vivem Portugueses) sugiro que, neste início do ano de 2020, façam um acto de contrição, e ao menos, uma vez na vida, reconheçam que erraram e estão no caminho errado, até porque manter o monumental erro que foi trocar a grafia portuguesa pela grafia de uma ex-colónia, para fazer o jeito ao Brasil, é uma atitude de profunda fraqueza moral que, a continuar, colar-se-á à vossa pele como uma tatuagem irremovível.
Vou reproduzir aqui, com a devida vénia, o texto notável, escrito em Bom Português, por uma PROFESSORA (assim escrito, com letras maiúsculas, porque há as que se escrevem com letras minúsculas) de História, a qual denuncia algo que vem acontecendo em Portugal, com o aval de uma “esquerda” (duvido que seja esquerda) esquizofrénica, despótica e com pouca ou nenhuma CULTURA, e não tem a mínima noção do que um POVO é feito.
Não matem a História, é o título do texto da autoria de Maria José Gonçalves, e porque a minha área é também a de História, não podia estar mais de acordo com esta PROFESSORA: «Se não querem “um povo sem memória” e “um país doente”, façam qualquer coisa. Não matem a História.» E eu acrescento: não matem nem a História, nem aLíngua Portuguesa, porque a História e a Língua fazem parte da identidade de um POVO.
O que pretendem com isto? Matar Portugal?
Texto de Maria José Gonçalves
Professora do 3º Ciclo e ensino secundário na Escola Secundária de Ponte da Barca
«Estive ausente do ensino 15 meses. Regressei à escola e constatei muitas mudanças — para pior. A mais dolorosa, a mais preocupante, é a mudança ocorrida com a minha disciplina, História, que viu reduzida a sua carga horária semanal nos 8.º e 9.º anos de escolaridade.
Em 2017, a disciplina de História era leccionada em dois tempos semanais (90+ 45 minutos). Porém, partir de 2018, passou a ser leccionada em dois tempos lectivos de 45 minutos, no 8.º ano, acontecendo o mesmo, a partir deste ano lectivo, no 9.º ano. Não quero acreditar.
Vou ter que ensinar História “a correr” e História ensinada “a correr” corre o risco de morrer. A incoerência entre a acção e o discurso político neste assunto é manifesta. Senão, vejamos.
A 31 de Agosto, na página oficial da Presidência da República, para assinalar os 80 anos do início da Segunda Guerra Mundial, o Presidente da República afirmava: “(…) Devemos, pois, ensinar às gerações mais novas o que foi a Segunda Guerra Mundial, para que os milhões de mortos não tenham perecido em vão (…).”
Gostaria que o senhor Presidente da República soubesse que, a partir deste ano lectivo, os alunos do 9.º ano de escolaridade, da minha escola e da maioria das escolas portuguesas, vão ter apenas quatro ou cinco aulas de 45 minutos para estudar “Da Grande Depressão à Segunda Guerra Mundial”.
O senhor ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, numa entrevista recente, afirmava: “É fundamental que as disciplinas mais tradicionais continuem a ser adensadas”. Não será a História uma disciplina tradicional? Será adensar sinónimo de reduzir?
O senhor secretário de Estado da Educação, João Costa, no âmbito do I Encontro de Educação, em Cantanhede, afirmou: “Não cortem nas disciplinas de Ciências Humanas, nomeadamente na disciplina de História, pois um povo sem memória é um país doente”.
Senhor Presidente da República, senhor ministro da Educação, senhor secretário de Estado da Educação, factos são factos, a História está a ser assassinada.
Neste novo ano lectivo, na minha escola e na maioria das escolas portuguesas, a disciplina de História vê reduzida em um terço a sua carga horária curricular semanal. Sem tempo, a aula de História converte-se provavelmente num monólogo. Pelo que as consequências pedagógicas deste novo espartilhar da disciplina de História entra em clara contradição com o que se encontra plasmado no próprio decreto-lei da Flexibilidade Curricular, que prevê a implementação de metodologias de trabalho que permitam, entre outras, a promoção de capacidades de pesquisa, de relação e de análise, assim como o domínio de técnicas de exposição e de argumentação.
Quando assistimos aos avanços dos populismos, das fake news, do revisionismo dos factos históricos, e quando continuamos a ter baixíssimos níveis de participação cívica, não é sensato diminuir o peso de uma disciplina que tem um papel indiscutível na compreensão do mundo em que vivemos.
Se não querem “um povo sem memória” e “um país doente”, façam qualquer coisa. Não matem a História.»
O que pode andar o Ministro dos Negócios Estrangeiros a esconder dos Portugueses (...)?
No dia 11 de Fevereiro, do corrente ano, escrevi uma carta ao Primeiro-ministro, ao Ministro da Educação, à Ministra da Cultura e ao Presidente da República, solicitando respostas a um enunciado de perguntas, em que a questão fundamental era, sabendo-se o que se sabe sobre o AO90, qual a Lei que obriga Portugal a aplicar o AO90 e porque ainda não foi tomada a iniciativa de acabar com o caos ortográfico, nas escolas portuguesas, facto que está a formar uma geração de analfabetos funcionais, propondo-se a sua anulação, uma vez que a sua aplicação é perniciosa para o ensino em geral?
O que se seguiu foi um autêntico fugir com o rabo à seringa (se me é permitida a expressão, aliás, bem portuguesa, que consta no Dicionário de Frases Feitas, de Orlando Neves, numa edição da Lello & Irmãos Editores), fuga, essa, que foi parar ao técnico superior do Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, I.P., o qual, finalmente, me enviou a respostachapa-cinco, a mando do Gabinete do Ministro dos Negócios Estrangeiros, continuando a questão primordial, por responder: o que enunciei é mentira?
É essa saga que me proponho a contar.
No dia 11 de Fevereiro de 2019, escrevi uma carta individualizada aos governantes acima referidos, de cujo conteúdo publico o essencial:
«É na qualidade de autora do Blogue «O Lugar da Língua Portuguesa», e coordenadora do Movimento em Prol da Língua Portuguesa (MPLP), mas também como mera cidadã portuguesa, no exercício do meu direito cívico, que escrevo a V. Excelência, para lhe solicitar um esclarecimento, que julgo ser do interesse público, nomeadamente de milhares de portugueses que, neste momento, lutam pela anulação do Acordo Ortográfico de 1990, o maior erro político de que há memória, o qual está a destruir a nossa Língua Materna e a arruinar o seu ensino nas escolas portuguesas.
(…) o que gostaria de solicitar a V. Excelência, sabendo-se como se sabe que:
- o AO90 agride barbaramente a etimologia das palavras, empobrecendo a ortografia portuguesa, desenraizando-a da sua família indo-europeia;
- o AO90 é tecnicamente insustentável; juridicamente inválido, politicamente insciente e materialmente impraticável;
- o AO90 não tem validade internacional;
- o AO90 é ilegal e inconstitucional, não estando em vigor na ordem jurídica internacional;
- os professores ensinam nas escolas portuguesas, sob coacção, uma ortografia baseada na "Cartilha Brasileira", juridicamente ilegal, porquanto não existe lei alguma que o sustente;
- na ordem jurídica internacional a Resolução do Conselho de Ministros (RCM) Nº 8/2011, que “obrigou” à aplicação do AO90, não tem qualquer valor de lei;
- não é preciso ser um génio da jurisprudência para reconhecer que Portugal agiu de má-fé e com abuso de poder, ao permitir que o 2º protocolo tivesse força de Lei, uma vez que este protocolo não foi ratificado por todos os países, segundo o tratado original;
- o AO90 é uma burla à Lei Constitucional e aos princípios elementares da Democracia e do Estado de Direito;
- o AO90 viola o princípio da igualdade dos Estados;
- não existe Lei nenhuma que o torne obrigatório, a única Lei existente que está em vigor em Portugal e na ordem jurídica internacional é o Decreto-Lei Nº 35.228, de 8 de Dezembro de 1945, e alterado pelo Decreto-Lei n.º 32/73, de 6 de Fevereiro de 1973, e que não foi revogado;
- a Resolução do Conselho de Ministros (RCM) Nº 8/2011, que “obrigou” à aplicação do AO90, não tem valor de lei;
- nenhum cidadão português pode ser penalizado por se recusar a aplicar o AO90, algo que é ilegal e não tem validade internacional;
- rejeitar o AO90 é um acto de cidadania, não punível por Lei;
- quem utiliza o AO90 ou está muito mal informado ou de má-fé;
- quem aplica o AO90 é cúmplice de uma ilegalidade;
- a aplicação ilegal do AO90 sujeita-nos à vergonha de Angola, Moçambique, Timor-leste, Guiné Bissau e S. Tomé e Príncipe não aceitar o acordo porque têm mais respeito pela Língua Portuguesa do que os Portugueses, sendo os políticos os principais responsáveis pelo caos ortográfico instalado em Portugal;
sabendo-se de tudo isto, como se sabe, por ser público, gostaria de ser informada, por que motivo V. Excelência como (…) responsável por ter de proporcionar um ensino de qualidade e assegurar a valorização permanente dos estudantes, e defender o uso e promover a difusão da Língua Portuguesa, a língua oficial de Portugal, conforme está consignado na Constituição da República Portuguesa, ainda não tomou a iniciativa de acabar com o caos ortográfico, nas escolas portuguesas, facto que está a formar uma geração de analfabetos funcionais, propondo (…) a sua anulação, uma vez que a sua aplicação é perniciosa para o ensino em geral.
Gostaria também que (…) me respondesse se alguma coisa daquilo que mencionei não é verdade.
E sendo verdade, por que razão (…) se está a fazer isto a Portugal e às crianças e jovens portugueses?
Temos o direito a um esclarecimento».
***
Em 12 de Fevereiro de 2019, a assessora do Gabinete do Primeiro-ministro, remeteu a minha carta à Dra. Sara Gil, Chefe do Gabinete da Ministra da Cultura, cumprindo-se assim o dever de remeter àquela Senhora o e-mail enviado ao Senhor Primeiro-Ministro por Isabel A. Ferreira.
Em 18 de Fevereiro 2019, a Dra. Sara Gil, Chefe do Gabinete da Ministra da Cultura, encarregou a sua secretária pessoal de me informar que a minha carta foi nesta data encaminhada aos Gabinetes de S. Exas. o Ministro dos Negócios Estrangeiros e ao Gabinete do Ministro da Educação, tendo em consideração às competências das suas áreas governativas, e disto deu conhecimento ao primeiro-ministro.
Entretanto, do Ministro da Educação e do Presidente da República prevaleceu o silêncio, o que me levou a escrever uma segunda carta, com o mesmo conteúdo, em 1 de Março de 2019 a estas duas Excelências.
Passado um tempo, em 23 de Maio, recebi do Gabinete do Ministro da Educação a seguinte informação: «Na sequência de mensagem eletrónica sobre o assunto em epígrafe, endereçada por V/ Exa. ao Gabinete do Ministro da Educação, em 11 de fevereiro de 2019, e reencaminhada a esta Direção-Geral, pelo Gabinete do Secretário de Estado da Educação, em ofício com a Ref.ª n.º 266/2019, de 15 de fevereiro de 2019, cumpre-nos agradecer a reflexão efetuada e informar que a matéria em apreço será decerto tida em consideração, quando oportuno.» (As palavras sublinhadas são as que dão erro no meu correCtor ortográfico).
Do Presidente da República, apesar de, no site da presidência, a minha mensagem ter sido enviada com sucesso, e do habitual «agradecemos a sua participação. A resposta à sua mensagem será enviada tão breve quanto possível», ainda aguardo pela resposta.
Entretanto em 11 de Março de 2019, recebo então a resposta chapa-cinco, do Técnico Superior do Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, I.P., a mando do Gabinete do Ministro dos Negócios Estrangeiros:
Excelentíssima Senhora
Isabel A. Ferreira
Relativamente à comunicação enviada, e tendo o Gabinete do Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros solicitado ao Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, I.P., o envio de uma resposta a V. Exa., por se tratar de matéria da nossa competência, cumpre-nos prestar os esclarecimentos que a seguir se apresentam.
Portugal ratificou o acordo ortográfico da língua portuguesa (AOLP) em 1991 (Diário da República I – A, n.º 193, de 23/08/1991).
Este acordo encontra-se em vigor em Portugal e também no Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. A Guiné-Bissau e Timor-Leste terminaram os respetivos processos internos de aprovação do AOLP, embora ainda não tenham procedido ao depósito dos seus instrumentos de ratificação (no caso da Guiné-Bissau) e de adesão (no que respeita a Timor-Leste), junto do Governo português (o depositário desta convenção). Estão por concluir os procedimentos internos para a ratificação do AOLP em Angola e em Moçambique. Neste último país, está apenas pendente a aprovação pelo Parlamento, participando os seus representantes em diversas atividades relacionadas com a sua implementação, designadamente no âmbito do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP).
Acresce que todas as instituições governamentais e oficiais de Portugal (e do Brasil) utilizam a nova grafia decorrente do AOLP. Do mesmo modo, na União Europeia (ou no MERCOSUL, no caso do Brasil), onde o português é língua de trabalho, a norma adotada é a do AOLP.
Em Portugal, o AOLP é aplicado nas escolas do sistema português (ensinos básico e secundário), desde setembro de 2011. A utilização da norma ortográfica do AOLP no nosso país é generalizada, sendo, por exemplo, usada na maioria dos jornais portugueses mais difundidos.
Importa notar que o AOLP não pretende eliminar diferenças, nem especificidades regionais, locais, ou nacionais, mas dotar os países da CPLP de instrumentos jurídicos e técnico-linguísticos, através dos quais se reforce a sua afirmação como um conjunto de culturas de língua comum, perante cada um e perante o mundo.
No que diz respeito à promoção da língua portuguesa, a ação desenvolvida pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, através do Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, I. P., assenta em três grandes linhas estratégicas.
Em primeiro lugar, a integração do ensino de português nos currículos escolares do maior número possível de países. Esta integração curricular do ensino do português tem três enormes vantagens: i) a formalização do ensino, com ganhos evidentes de certificação e creditação; ii) a sua assunção plena pelo sistema e pelas autoridades educativas locais (quanto a programas, docentes e custos); iii) sobretudo, a projeção da língua portuguesa como língua global.
Uma consequência lógica da primeira é um trabalho na dimensão do apoio técnico e da regulação. Toda a rede externa trabalha com este horizonte e finalidade – embaixadas, consulados, rede económica e comercial. Este trabalho não deixa de implicar um esforço considerável, designadamente na assessoria técnica aos diferentes ministérios da educação, no apoio à formação de professores locais e na disponibilização de referenciais e materiais didáticos.
Decorrente das duas primeiras, existe a terceira estratégia que assenta no que designamos por princípio dos três C – conteúdos, certificação, creditação. O desenvolvimento de conteúdos científicos e didáticos faz-se diretamente ou através da nossa rede de cátedras e de investigadores apoiados ou através da nossa participação em consórcios internacionais. A certificação da proficiência linguística adquirida pelos alunos e de materiais para o ensino da língua portuguesa constituem formas de valorização das aprendizagens e de qualificação dos materiais de apoio. Tem-se vindo a trabalhar, também, na credenciação das competências adquiridas pelos alunos para efeitos de admissão ao ensino superior, como forma de reforçar a procura pelo português, ao nível dos ensinos básico e secundário e, por essa via, promover estudos graduados da língua e cultura portuguesas, no ensino superior.»
***
Bem, passei-me, com esta resposta.
E no mesmo dia, respondi ao Técnico Superior do Camões, o seguinte:
(Nota: nesta carta, corrigi a data do Decreto-Lei Nº 35/228, de 25 de Novembro de 1945, para 8 de Dezembro de 1945)
«Agradeço a gentileza da sua resposta, mas devo confessar-lhe que não gostei que me fizessem de parva.
Tudo o que aqui foi evocado por V. Exa., para justificar o injustificável, não responde à questão fundamental da minha carta: qual a LEI que OBRIGA os Portugueses a escreverem conforme a “Cartilha Brasileira”, e que anula o Decreto-Lei Nº 35.228, de 8 de Dezembro de 1945, e alterado pelo Decreto-Lei n.º 32/73, de 6 de Fevereiro de 1973, que não foi revogado, e é a única Lei existente, e que está em vigor em Portugal e na ordem jurídica internacional, e que obriga os Portugueses a NÃO APLICAR o AO90?
Como deve saber, a Resolução do Conselho de Ministros (RCM) Nº 8/2011, que “obrigou” à aplicação do dito AO90, assente na grafia brasileira, não tem qualquer valor de lei, como não tem qualquer valor de LEI as directivas enviadas para as escolas, funcionalismo público, e outros órgãos governamentais e até não-governamentais, como é o caso da comunicação social, a obrigar à adopção de uma ortografia ilegal e inconstitucional.
Se eu lhe fizer esta pergunta: antes da imposição deste (des)acordo, qual a Lei que me obrigava a adoptar a Língua Portuguesa, nos moldes anteriores à introdução do AO90?
Se o senhor usar da honestidade, para comigo, dir-me-á que é o Decreto-Lei Nº 35/228, de 8 de Dezembro de 1945.
Se eu lhe fizer esta outra pergunta: qual a LEI que me obriga a adoptar o AO90, assente na “cartilha brasileira”?
Se o senhor quiser continuar a ser honesto para comigo, dirá que essa Lei não existe, porque para existir seria necessário que o Decreto-Lei Nº 35/228, de 8 de Dezembro de 1945, fosse revogado e substituído por outro Decreto-Lei.
Ora o Decreto-Lei Nº 35/228, de 8 de Dezembro de 1945 não foi revogado, portanto, o que está em vigor em Portugal é a ortografia consignada nessa LEI.
Tudo o que acabei de expor está baseado em pareceres jurídicos, que os governantes portugueses parecem querer ignorar, passando por cima da LEI, do BOM SENSO e da RACIONALIDADE.
Por outro lado, não reconheço (não reconhecemos, falo por todos os que combatem esta tentativa de vender a Língua Portuguesa, como se ela fosse os porcos que vendem à China) ao Instituto da Cooperação e da Língua ou ao IILP, qualquer competência para responder juridicamente às questões que levantei na minha carta, que aliás não só não foram respondidas, como houve uma tentativa de me defraudarem, com argumentos chapa-cinco, usados desde o início desta farsa, sem qualquer validade jurídica.
Os pseudo-argumentos que usa para responder às minhas questões não só não respondem às minhas questões, como configuram o discurso exclusivo dos acordistas para se enganarem a si próprios, e não terem de admitir que entraram numa canoa furada.
Vejamos:
- Que Portugal ratificou (sem raciocinar) o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (AOLP) em 1991 (Diário da República I – A, n.º 193, de 23/08/1991), já todos nós sabemos.
A restante argumentação peca por ser altamente falaciosa. Ela será apenas verdadeira para os vendilhões da Língua, que vivem na ilusão de que o Português está de boa saúde. Nunca esteve tão paupérrimo.
O AO90 não se encontra em vigor em parte alguma. Ele é aplicado ILEGALMENTE, em Portugal. O Brasil está-se nas tintas para o Acordo, e até já veio a público (2019) dizer que não existe acordo nenhum (são peritos nisso, veja-se o que aconteceu em 1911 e em 1945: assinam e rasgam os acordos que fazem com Portugal, no que respeita à Língua, e é tão certo como eu estar aqui a escrever isto, que eles mudarão o nome da Língua, com toda a legitimidade, para Língua Brasileira).
Cabo Verde, como é sabido, tem a Língua Portuguesa como língua estrangeira. A Língua mais falada em São Tomé e Príncipe é o Francês, e lá também eles se estão nas tintas para o AO90. Ainda há pouco, no Correntes d’Escritas, na Póvoa de Varzim, uma escritora de São Tomé lançou um livro em BOM PORTUGUÊS. A Guiné Bissau e Timor-Leste também se estão nas tintas para o AO90, e o que lá predomina são os dialectos. E Angola e Moçambique idem. Angola jamais escreverá à brasileira. E Moçambique também não.
Enganem-se a vós próprios, se isso vos dá importância. Mas não queiram fazer de todos nós parvos.
Sabemos que a Língua Portuguesa entrou em franca decadência, depois que uns descerebrados se lembraram de engendrar o AO90 e impingi-lo ao mundo, dito lusófono/lusógrafo, um mundo que já não existe mais, porque no Brasil fala-se e escreve-se à brasileira, e nos restantes países, os respectivos dialectos prevalecem sobre o Português. E em Portugal o que prevalece é a mixórdia ortográfica.
Toda a vossa argumentação é falaciosa. Não corresponde à verdade. Andam por aí a vender gato por lebre, e a espalhar uma ortografia ilegal e mutilada, que não é Portuguesa, que nada tem a ver com a Língua Portuguesa, culta e europeia.
Nada do que o senhor apresentou como argumentação para a existência do AO90, interessa a Portugal e os Portugueses.
O senhor NÃO RESPONDEU às minhas questões.
Volto a formulá-las e a solicitar uma resposta a esta pergunta fundamental: qual a LEI que obriga os Portugueses a grafarem à brasileira?
Sabendo-se como se sabe que:
(aqui repito as considerações já citadas acima, e não vale a pena mencioná-las novamente:
- o AO90 agride barbaramente a etimologia das palavras, empobrecendo a ortografia portuguesa, desenraizando-a da sua família indo-europeia;
(Etc., etc., etc.).
É a estes quesitos que solicito uma resposta.
O que me enviou, não responde a estes considerandos.
Continuando a aguardar uma resposta cabal e convincente (e não o que gostariam que fosse, mas não é), e que me envie a LEI que obriga os Portugueses a usarem uma grafia estrangeira, envio os meus melhores cumprimentos.»
***
Desde 11 de Março de 2019 que aguardo uma resposta do Ministro dos Negócios Estrangeiros.
E desde 1 de Março de 2019 que aguardo a resposta do Presidente da República.
Entretanto, muita água já correu debaixo da ponte, e hoje a questão crucial é a seguinte:
O que pode andar o Ministro dos Negócios Estrangeiros a esconder dos Portugueses, que nem à Assembleia da República disponibiliza os documentos (instrumentos de ratificação) pedidos pelo relator do Grupo de Trabalho para Avaliação do Impacto do AO90, deputado José Carlos Barros?
Ao cuidado de todos os que estão envolvidos no sistema do (des)ensino português, incluindo governantes, pais e encarregados de educação.
A imagem que aqui reproduzo (tive o cuidado de esconder o nome do Agrupamento, por motivos óbvios) chegou-me via-email, destinada a uma querida aluna, a meu cargo, nestas férias de Páscoa.
4º ano de escolaridade.
Fotocopiei a mensagem, e dei-a a ler à aluna. Só lhe pedi para ler alto o que a professora escreveu. E aguardei o resultado, esperando que a criança (de 10 anos) tivesse a mesma reacção que eu (porque as crianças não são as estúpidas que os governantes querem que sejam), quando me vi diante deste documento timbrado, do Governo de Portugal, Ministério da Educação e Ciência.
Marquei a vermelho os trechos com os quais a aluna esbarrou e me questionou, com os olhos esbugalhados (e não estou a inventar), e reproduzo fielmente as falas da menina (em sublinhado) que se seguiram.
Primeira linha: o trabalho de féria é importe. Hã? Não é assim, pois não?
Não, não é. Então como será?
Imediatamente a menina disse: o trabalho de férias é importante.
Muito bem.
Mas a professora não sabe escrever?
Saberá, mas está baralhada. Continua.
Segunda linha: agradeço que percam um pouco do vosso de tempo. O quê? Do vosso DE tempo? É do vosso tempo, não é?
Exactamente.
Mas o que é isto? A professora não sabe escrever?
Estaria distraída.
Sim, sim, ela é muito distraída. Às vezes ela escreve mal no quadro e temos de a corrigir.
Isso acontece. Vá, continua a ler.
E fomos parar à sexta sugestão onde se fala de treinar os algoritmos e (…) a subtração (que a aluna leu subtrâção, e muito bem).
E mais adiante os números fraccionários (frácionárius), inclusive a (…) subtracção (que a aluna leu subtráção, e muito bem)…
O quê? É subtracção ou subtração?
Não havia como enganar a criança. Jamais o faria.
Expliquei: subtracção (subtráção) é grafia portuguesa, é Português. Subtração (subtrâção) é grafia brasileira, é Brasileiro, como tu dizes.
Mas nós somos portugueses!
Pois somos.
Então porque querem que se escreva à brasileira? Isto só me baralha!
Como responder a esta pergunta? Com a verdade, evidentemente. Às perguntas das crianças sempre devemos responder com a verdade, para que elas possam desenvolver o espírito crítico que falta aos governantes, a muitos pais e encarregados de educação, e aos próprios professores, que se entregam a esta missão desonrosa de enganar as crianças.
E a verdade é que os governantes portugueses, desde Cavaco Silva a Marcelo Rebelo de Sousa, todos eles, primeiros-ministros, ministros e deputados da (ex) Nação Portuguesa (agora é brasileira) e professores e jornalistas servilistas e todos os outros marias-vão-com-as-outras, dotados de coluna vertebral cartilaginosa, trocaram a grafia portuguesa pela grafia brasileira, pelos motivos mais vis: mania de grandeza e dinheiro.
A aluna bem sabe o que é a Língua Brasileira, porque tem uma colega brasileira na turma, que fala diferente e diz coisas diferentes das nossas. Não fala Português - disse-me, como quem sabe o que diz.
Não, não fala.
Esta “carta aos alunos” escrita atabalhoadamente (sem revisão) em mixordês (mistura de português com brasileiro) é inadmissível.
Não será a única.
Os maiores exemplos damixórdia ortográfica vêm de cima, da presidência da República, do gabinete do primeiro-ministro, dos restantes ministros, de todos os grupos parlamentares. Dos próprios professores que, nas páginas do Facebook, escrevem as maiores barbaridades, incluindo palavrões.
Os manuais escolares são uma autêntica mina de disparates, desde as águias com grandes dentes, às invasões francesas para prender Dom João VI, e cheios de desenhos e desenhinhos, como se as crianças fossem muito estúpidas, não lhes dando qualquer oportunidade à imaginação.
O que pretendem os governantes com este tipo de ensino idiota? Formarem os analfabetos funcionais do futuro, para que sejam tão submissos como os analfabetos funcionais da actualidade?
E há mais: é proibido dar más notas ou chumbar os alunos, para mostrar ao mundo que o sucesso escolar em Portugal existe. Quando isto não passa de uma grande aldrabice!
Alunos que escrevem gatafunhos, que ninguém entende, têm MUITO BOM a Português, ou melhor, a Brasileiro. Intolerável.
É inadmissível o que está a passar-se em Portugal no que respeita à Educação, ao Ensino, à Cultura.
DEMITA-SE senhor ministro da Educação e Ciência. Permitir uma tal balbúrdia no Ensino é um postura terceiro-mundista.
E os pais e encarregados de educação deviam tomar uma atitude drástica e EXIGIR um ensino de qualidade para os seus filhos, como está consignado na Constituição da República Portuguesa, ao qual têm direito.
Com esta “carta” fiquei tão escandalizada e indignada quanto a aluna que, apesar dos seus dez anos, tem algo que falta aos actuais governantes: inteligência para ver as coisas tal como elas estão, ou seja, MAL. Muito MAL.
Recebi um e-mail de António Vieira, professor do Ensino Secundário até há cerca de um ano, no qual abordou questões bastante pertinentes no que respeita ao Acordo Ortográfico que, apesar de não ter pés nem cabeça, uns aplicam por cobardia, outros, por que não estão minimamente informados, outros, por subserviência ao Poder, outros, por medo de perder o emprego, e outros ainda porque recusam a informação, porquanto é mais cómodo ser seguidista do que opugnador.
É a troca de impressões que eu e o António Vieira então trocámos, que me proponho a transcrever, com a devida autorização, por se tratar de matéria que interessa a todos quantos estão a lutar contra a destruição da Língua Portuguesa.
Não vou tomar-lhe tempo com os argumentos esgrimidos contra esta aberração (ou acordo "mortográfico" na lúcida e muito oportuna tirada jocosa do Dr. António Bagão Félix), dado que os mesmos são já sobejamente conhecidos.
Fui professor do Ensino Secundário até há cerca de um ano, na Esc. Secundária José Estevão, em Aveiro (actualmente sou empresário) e pude constatar diversas posturas de Colegas meus professores de Português: uns abertamente contra, mas "rumorejando" em silêncio (dado que a chantagem exercida pelas chefias e a preservação do posto de trabalho "falam sempre mais alto").
Outros arvorados em "progressistas" de "ideias avançadas e arejadas" apoiam a aberração em causa, mas furtam-se a um debate sério (presumo que alguns deles colaborem com Editoras de manuais escolares e os "trocos" suplementares vindos ao fim do mês venham sempre a calhar!, há sempre quem se venda por um prato de lentilhas).
Na minha modesta opinião, penso ser de aproveitar os seguintes pontos:
1º- O Ministro da Educação Tiago Brandão Rodrigues actual é contra o "AO90” e faz parte da plataforma no "Facebook" (foi uma agradável surpresa eu ficar sabedor deste dado crucial).
2º- Angola já declarou a não-conformidade com o AO90 e declarou que o não o irá ratificar (Moçambique, parece-me não ter uma posição muito definida, julgo que o que pretende é que lhe ofereçam os manuais escolares à borla, seja em que grafia for). Penso que se houver pressão por parte de algumas figuras políticas de peso no sentido de se moverem "nos bastidores" (é assim que as coisas se processam sempre) algum resultado poderá ser atingido). Mas do que não tenho dúvidas é que se houvesse um número suficiente de professores que declarassem uma resistência frontal e adoptassem uma atitude de desobediência deliberada (semelhante à de uma greve), o peso do número não deixaria de constituir um argumento inultrapassável, tanto mais que o Ministro da tutela também se encontra do mesmo lado da "barricada", assim, por meio duma "arregimentação" através das redes sociais (isto hoje é facílimo), numa iniciativa sincronizada, aí não tenho dúvidas de que a questão ganharia outros contornos, não de uma solução definitiva, mas lá que o barco apanhava um forte "rombo" não tenho quaisquer dúvidas.
Entrego-lhe em mãos estas duas sugestões, fico grato pela atenção dada a este breve e singelo libelo pessoal de inconformidade.
Com um abraço, subscrevo-me atenciosamente
António Vieira
***
Caro Professor António Vieira,
Começo por agradecer o seu e-mail.
Não podia estar mais de acordo com tudo o que o senhor escreveu, nomeadamente quanto à postura dos professores, que se quisessem, já tinham acabado com este desacordo.
A chantagem e as pressões das chefias são um vergonhoso modo de impor algo que está para além da racionalidade. Contudo, as pessoas não deviam aceitar placidamente essa chantagem, até porque ninguém seria despedido por desobedecer a algo que é ILEGAL.
Indo às sugestões que apresentou, com as quais concordo plenamente e estou disposta a pôr em prática, naturalmente com a ajuda de todos, diga-me, em qual plataforma do Facebook o Ministro da Educação está? Pode enviar-me o link dessa plataforma? Isso é algo muito bom.
Quanto a uma mobilização nas redes sociais, seria óptimo. Para começar: o senhor autoriza-me a publicar esta sua carta?
Ela é demasiado preciosa, para a “escondermos”.
O que me diz?
E este seria o começo de uma acção, que eu poderia integrar no MPLP.
O senhor está a par do Movimento em Prol da Língua Portuguesa (MPLP), que já tem cerca de 90 subscritores, e do qual o Francisco Silva e eu somos coordenadores?
Poderá inteirar-se deste Movimento, nestes links, caso não tenha conhecimento:
Um abraço para o senhor também, e aguardo resposta.
Isabel A. Ferreira
***
«Sr.ª Isabel Ferreira, boa tarde, é evidente que tenho o maior gosto e empenho que divulgue o teor da minha comunicação. Eu não sou muito expedito na utilização da ferramenta informática, mas tenho a certeza absoluta de que vi algures a referência à pessoa, mas deixe-me fazer uma "varredela" nos sites que costumo ver e irei chegar lá. Tenho a certeza duma opinião emanada pelo Doutor Menezes Leitão (Prof. Catedrático de Direito em Lisboa e Presidente da Associação de Senhorios) segundo a qual "iremos passar pela vergonha de serem os Africanos, nossos ex-colonizados, a virem tornar a ensinar aos Portugueses a escrever correctamente a sua Língua (no site "Moçambique e o AO90).
E, sintomaticamente, é negativa a apatia e impavidez do nosso Povo totalmente "embrutecido" com a bola, com o Ronaldo, etc. que se acomoda e adopta uma postura totalmente distinta dos nossos vizinhos aqui do lado (galegos, catalães, etc.)que defendem os seus idiomas com unhas e dentes, embora já se assista a algum inconformismo (fui testemunha duma conversa de rua aqui em Aveiro, há algum tempo de pessoas falando contra o AO90), mas ainda há dias no escritório duma empresa na "receção (?)" questionei a funcionária que respondeu :...agora como o acordo ortográfico..." e eu perguntei-lhe: mas qual acordo? de quem, com quem? e ela não fazia a menor ideia do que estava a referir.E como esta, muitas outras pessoas, dentro do espírito de "carneirada e... Maria vai com as outras!".
Vou manter-me em contacto consigo, vou pesquisar a que atrás mencionei e vou inteirar-me sobre o M.P.L.P.; outras sugestões lhe farei chegar, dentro das minhas possibilidades: por exemplo, uma "vaga de fundo" como a que sugeri para os professores, também seria de ponderar para os autarcas, dado que diversos Presidentes de Câmara já se insurgiram abertamente contra a aberração em causa. É uma questão de pressão (a união faz a força) e de tentar achar as pontas destas "meadas". Agradeço a atenção para o texto e peço desculpa pela sua extensão.
Despeço-me, subscrevendo-me; com um abraço do
António Vieira
***
Na verdade, o que se passa em Portugal é uma autêntica vergonha, fruto de uma subserviência canina, e de um esquema de desinformação bem montado, para manter o povo português na ignorância. E é como comprovou o Professor António Vieira, e eu estou farta de comprovar também: quando perguntamos, por que escrevem daquela maneira incorreCta, que nada tem a ver com o nosso Português, a conversa é sempre a mesma: «Ah! agora é assim, com o acordo.» Mas se formos mais fundo e questionarmos: «Que acordo?» as respostas são espantosas e denotam uma ignorância profunda sobre isto do acordo: «Ora, o acordo, agora temos de escrever assim». Mas porquê? «Porque mandaram». E se mandassem atirar-se a um poço, o que faria? «E por que mandariam atirar a um poço?». Do mesmo modo que mandaram escrever incorreCtamente a Língua Portuguesa. É reparar na expressão interrogativa com que reagem a esta provocação.
O povo obedece e nada questiona. Mas que o povo não questione, enfim, porque a mais não é obrigado, dada a alienação total a que os programas televisivos o lançam (futebol, telenovelas e deploráveis reality shows) com algum esforço, ainda se compreende.
O que é incompreensível, inacreditável, inaceitável, é que os meios de comunicação social servilistas e os professores aceitassem esta aberração, sem questionar, sem se informarem, sem o mínimo espírito crítico, sem lutarem, numa obediência absolutamente cega, estando a ser cúmplices de uma fraude e contribuindo para a destruição gratuita, do mais valioso Património Cultural Imaterial de Portugal: a sua Língua Materna, apenas pelo porque-sim de políticos ignorantes.
«O «acordo ortográfico» é como aqueles bêbedos chatos que aparecem sem ser convidados: entra, instala-se e não pára de incomodar; mas – por piedade, temor ou excesso de civilidade – ninguém se atreve a pô-lo na rua.»
Viriato Teles no seu melhor.
Texto de Viriato Teles
«Uma boa notícia chegou de Luanda, onde esta semana a Academia Angolana de Letras pediu formalmente ao governo de João Lourenço que não ratifique o AO. Se seguida a sugestão, como se espera, Angola dará um passo decisivo para reverter um «acordo» que, como sublinha a AAL, «trouxe mais problemas do que resolveu».
Com uma lucidez que não se tem revelado nas instituições de aquém-mar, os angolanos colocam o dedo na ferida: «Face aos constrangimentos identificados e ao facto de não ser possível a verificação científica dos postulados de todas as bases do AO, factor determinante para a garantia da sua utilização adequada, a AAL é desfavorável à ratificação por parte do Estado angolano.»
As razões apresentadas são as mesmas que, por cá, os vários grupos de resistência cívica ao «acordo» têm sublinhado, com destaque para o «número elevado de excepções à regra» (as absurdas «facultatividades») que «não concorre para a unificação da grafia do idioma, não facilita a alfabetização e nem converge para a sua promoção e difusão».
A melhor definição do AO ouvi-a ao humorista brasileiro Gregório Duvivier: «O acordo ortográfico é como a tomada de três pinos: criou uma solução para um problema que não havia.»
Só que o problema, que não havia antes, passou a existir depois.
A confusão instalou-se, alastrou à semântica e à sintaxe, e na formulação escrita da língua portuguesa passou a vigorar a regra do «faz-como-te-der-jeito» – aliás uma constante em documentos oficiais, a começar pelo Diário da República, onde diariamente coincidem na mesma frase as ortografias de antes e de depois do «acordo», e às vezes até outras, inventadas ou induzidas pelo caos em volta.
A verdade é que, tirando Malaca Casteleiro e os seus prosélitos, é quase impossível encontrar defensores do «acordo». Porque é comprovadamente mau e ninguém gosta dele, nem sequer os que, por funções de Estado, se sentem no dever de o aplicar. Só tem faltado quem tenha a coragem de dar o primeiro passo para lhe pôr fim.
É um assunto incómodo para o governo, mesmo se, nele, o vate que ministra na Cultura assobia para o lado porque tanto se lhe dá escrever assim como assado. Felizmente o mesmo não pensa o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, que até faz parte do grupo de Professores Contra o Acordo Ortográfico, no Facebook. Não chega, mas é um bom princípio.
Mas este é também um tema desconfortável para a oposição. Afinal, o «acordo» foi impulsionado politicamente, em Portugal, por duas das mais labruscas figuras que geriram o país e a cultura dele (Cavaco e Santana, sim, é bom lembrar) e atravessou a inércia dos sucessivos governos desde então. No parlamento, apenas o PCP levantou reservas e recentemente propôs a reversão. Os demais, à direita e à esquerda, continuam a preferir varrer a areia para debaixo do tapete.
Talvez o impulso da Academia Angolana de Letras ajude Portugal a, de uma vez por todas, encarar a questão de frente, colocando-lhe o ponto final que merece. Querem fazer um acordo? Pois então comecem por concordar em acabar com este, que não tem ponta por onde se lhe pegue.
(Em jeito de nota de rodapé, esclareça-se que a tomada de três pinos referida no texto foi adoptada como norma no Brasil, poucos anos atrás, como parte de um «plano de segurança» da rede eléctrica nacional. Um plano que, tal como o AO se revelou inútil – porém muito lucrativo para a indústria de material eléctrico, e particularmente para a multinacional que esteve na origem da criação deste suposto «sistema de segurança». Que não é eficaz e mais ninguém usa, mas potencialmente obrigou à substituição de tomadas em 60 milhões de casas em todo o Brasil, operação que terá movimentado para cima de 1400 milhões de reais, algo como 325 milhões de euros. Qualquer semelhança com os negócios que o AO gerou é, naturalmente, mera coincidência.)»
A autora deste Blogue não adopta o “Acordo Ortográfico de 1990”, por recusar ser cúmplice de uma fraude comprovada.
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