Porquê?
Porque só assim se chega ao acto de pensar.
Excerto de um texto da autoria da professora Maria do Carmo Vieira, ao redor da missão do Professor.
«Um professor (…) não pactua com ciladas que aprofundam a ignorância e anestesiam o acto de pensar.
A facilidade que alimenta a infantilização e ignora as capacidades de crianças e jovens, a apologia do funcional em detrimento do belo, não propiciando a educação da sensibilidade e o desenvolvimento sério do espírito crítico, são exemplos de ciladas que se têm armado aos alunos sob a capa de um discurso falsamente bondoso que põe em risco o seu futuro pois não os prepara para a Vida.
A facilidade foi o argumento usado, por exemplo, pelos criadores do Acordo Ortográfico de 1990, que a ela se referiram focando bizarramente o facto de os alunos não gostarem de acentuar as palavras ou de terem de se esforçar demasiado para decorar as que na sua escrita continham consoantes mudas.
Servindo-se dos alunos, subvalorizaram a etimologia, fomentaram o equívoco e invocaram o critério da pronúncia para simplificar a ortografia, numa atitude de ignorância lamentável pormenorizadamente expressa na Nota Explicativa do Acordo Ortográfico, decretado contra a vontade dos portugueses e das comunidades culturais consultadas.
O resultado está à vista na escrita atabalhoada e caótica da Língua Portuguesa, na dificuldade em ensiná-la, tais são as contradições e os erros que a todo o momento surgem e sobre os quais os próprios alunos se questionam, bem como na violência que representa para um professor ser forçado a «ensinar» o que considera ser um erro.
Um Acordo cuja Nota Explicativa põe, na verdade, em causa o Saber e o Conhecimento e determina a perda da função normativa da ortografia.
Comungando todo o professor, independentemente da sua área de ensino, da ideia de que só o domínio da língua portuguesa permitirá aos alunos bem pensar, e que esse domínio exige que a compreendam, que a escrevam correctamente e sobre ela reflictam, o que a imposição do AO 90 tem impedido, torna-se imperioso voltar a ensinar a escrever correctamente o português, não perpetuando incongruências e erros, e demonstrando igualmente aos alunos que fazê-lo constitui da parte do professor um profundo acto de amizade e de fidelidade ao Saber. Seguramente que nos agradecerão um dia, conscientes de que não os traímos na confiança que em nós, desde o primeiro momento, depositaram.»
Maria do Carmo Vieira,
Professora
Texto retirado daqui:
. «Torna-se imperioso volta...