Como sempre, os artigos de Nuno Pacheco geram muitos comentários, uns mais a favor do que outros, e como para esta questão da Língua Portuguesa parece que ainda não se vislumbra o fim, que virá, só ainda não se sabe quando, respigo alguns comentários feitos ao texto de Nuno Pacheco que chamaram a minha atenção, e é sobre eles que me proponho a discorrer hoje.
Mas antes quero dizer isto: Portugal está na cauda da Europa em quase, quase tudo, e também no desleixo que governantes, professores, canais televisivos, alguns escritores, jornalistas e tradutores, e uma massa amorfa de portugueses servilistas, que vão atrás de modismos, apenas porque não sabem pensar por si próprios, dedicam à Língua Oficial do País que servem de um modo bastamente medíocre.
Penso que já era tempo de se deixar de venerar a Ignorância e a Estupidez que grassam por aí, chamando a atenção dos que as veneram para o mal que estão a fazer a Portugal e a si próprios, quando decidem expor publicamente a miséria cultural que os embriaga, ainda que anonimamente, como é apanágio dos cobardes.

O Fernando. Camencelha deu a sua opinião, e a ela tem todo o direito. Porém, na realidade, e tal como disse a Maria do Vieira, o Fernando não tem a noção do que diz.
Limitou-se a repetir o argumento sem pés nem cabeça usado pelos acordistas-mor, para justificar a introdução em Portugal, de uma grafia que não nos diz respeito e jamais dirá. Sabe porquê? Porque enquanto houver no mundo um português, apenas UM português, que se preze de o ser e que respeite os símbolos do seu País, a Língua Portuguesa estará a salvo.
Se em 2125 só houver quatro milhões de portugueses, a Língua Portuguesa será uma Língua minoritária, mas continuará VIVA. O Galego, Língua-gémea do Português, esteve quase a extinguir-se, com a imposição, na Galiza, do Castelhano, e vou citar uma passagem do livro «Historia da Língua Galega», referido no texto que ontem publiquei, contada na primeira pessoa como se o Galego fosse gente: «Ora ben, afortunadamente, mesmo nas peores épocas, sempre contei com defensores entre os galegos, com xente que loitou pola dignificación e defensa da súa fala dentro da Galiza, tradición reivindicativa procedente das classes sociais cultas e que estivo acesa ininterrompidamente até a actualidade». (Pág. 28).
Fiz questão de não traduzir esta passagem do livro, do Galego para Português, porque como Línguas-gémeas, e quem assim as designa são os autores do livro, que português não conseguirá perceber o que aqui está escrito?
Pois o mesmo está a acontecer com o Português, genetriz de muitas Variantes, o qual tem muitos defensores espalhados por todo o mundo, e que também manterão acesa a Língua ininterrompidamente até ao final dos tempos. Graças aos defensores do Galego, esta Língua foi recuperada e hoje é uma das Línguas co-oficiais de Espanha.

Ai o a.galrinho! Escreve em que linguagem? Nem é Português, nem é Acordês, nem é Brasilês. Tem todo o direito de opinar, mas ao menos opine numa linguagem correCtamente escrita, e que se entenda. O a.galrinho quer regressar à linguagem básica, de comunicação apenas. Porém, a função de um Idioma bem estruturado é fixar o Saber e o Pensamento dos Povos. E pobre é aquele que mesmo sabendo as letras, não sabe escrever.

O a.galrinho ou é o protótipo do menino que foi à escola, aprendeu as letras, e depois desistiu, porque não conseguiu aprender mais do que isso, ou é um adulto que, continuando a não conseguir juntar o B com o A, vem para aqui gozar com a Língua. A isto chama-se, como bem disse a Maria do Vieira, ignorância, e uma vez que é ignorante, quer que todos sejam ignorantes também. Há gente assim. O que vale é que também há gente assado.

Martim Joane, isso é que é escrever com estilo! Muito bem.
Quanto ao vocábulo percePção, o Brasil grafa-o, vá-se lá saber porquê, à portuguesa, tal como os Portugueses, mas atenção! a falar, os Brasileiros acrescentam-lhe um i: dizem “pêrrcépição”. Quem escreve perceção são aqueles que não têm a percePção do que é um Idioma, ou seja, são uns requintados ignorantes.
Para que a parvoíce não se espalhe por aí como uma praga, declara-se aqui que a palavra percePção, em Portugal, leva o P, ainda que muitos não o queiram. Porém, como a grafia de 1945 é a que está em vigor “de jure”, a palavra escreve-se com pê., e não adianta dizer que o correCto é escrever sem pê. Eu, por exemplo, pronuncio-lhe o pê, e, neste caso, concordo com os Brasileiros. O mais correCto é, portanto, pronunciar todos os pês e cês não pronunciados, como fazem os restantes povos de Línguas Românicas. Deste modo, os acordistas já conseguiriam escrever correCtamente.

Ó a.galrinho, o documento do acordo ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 é uma enxurrada de ignorâncias, de incongruências, de disparates jamais reunidos num só lugar. Um deles, mas há-os aos montes, é o facto de o AO90 ter sido engendrado para unir as ortografias do Brasil e de Portugal. Certo? Veja-se essa união, por exemplo, no artigo 6º do dito documento: «Recomenda-se que os topónimos/topônimos de línguas estrangeiras se substituam blálábláblá...».
Como é sabido, o AO90 foi gerado e criado no Brasil pelo enciclopedista brasileiro Antônio Houaiss, para unir as ortografias, ou seja, para que Portugal começasse a escrever à brasileira, porque eles são milhões blábláblá... blábláblá... Porém, eles lá não abdicaram dos acentos circunflexos, em Antônio, Amazônia, topônimos, enfim uma salgalhada dos diabos. Querem enganar quem?????? O documento do AO90, nem para estrumar uma terra infértil serve.
O Pedro Penha é que disse bem: o AO90 foi uma medida colonialista fora do tempo, uma fazedora de analfabetos funcionais, a começar pelos governantes que nos impuseram e continuam a impor tal palermice.

Decididamente o a.galrinho é adepto da simplicidade linguística. Ora isso é um sintoma muito comum entre aqueles que, não tendo nenhuma capacidade para PENSAR a Língua, precisam de a reduzir ao mínimo, para poderem escrevê-la ainda que, mesmo assim, mal.
Uma escrita que se aproxime da fala é a escrita das gentes primitivas.
Não se andou milhares de anos a aprimorar a Linguagem do Homem, para virem agora uns omens que, devido a uma incapacidade atávica, querem recuar a tempos em que se faziam desenhos para que o outro percebesse o que se estava a dizer.
Isto só acontece porque existem dois países no mundo, Brasil e Portugal, com mais ignorantes por metro quadrado. Por este motivo, foram os dois únicos países do mundo que fizeram mais acordos ortográficos, e ainda assim, inutilmente...
Isabel A. Ferreira
Os comentários foram retirados daqui
Introdução:
Porque considero este artigo de Nuno Pacheco de importantíssimo interesse público, até porque destaca certos aspectos que gostaria de esmiuçar, ouso reproduzi-lo neste Blogue, cumprindo todas as regras dos créditos jornalísticos, para que chegue aos leitores d’O Lugar da Língua Portuguesa – um repositório de tudo o que importa acerca da nossa Língua – os quais estão dispersos por 160 países, de todos os continentes, e que vão seguindo e consultando os textos que aqui são publicados.
Espero que Nuno Pacheco não me leve a mal, até porque tem sido um acérrimo defensor da Língua Portuguesa.
As minhas observações estão entre parêntesis rectos [...], em itálico e a negrito.
Regressarei com a Parte II, para esmiuçar os comentários ao texto do Nuno Pacheco.
Isabel A. Ferreira

Em português, se faz favor. Muito bem; mas qual deles?
Quando falamos de língua portuguesa, o que nos divide não são as diferenças; é, infelizmente, e quase sempre, a estupidez.
Sempre que a língua portuguesa vem à baila, seja em entrevistas, textos ou artigos de opinião, avolumam-se leitores e comentários. O que é bom sinal, dada a relevância do tema. Com uma ressalva: seria melhor se não encalhássemos sempre nos dilemas do costume, que são estes: o que é “português certo” e “português errado”, sem olhar às culturas nem às geografias, como se houvesse uma única norma-padrão internacional; e o fantasma do Acordo Ortográfico de 1990.
A primeira frase do título desta crónica é assumidamente decalcada de um muito recomendável livro de Helder Guégués, tradutor e revisor, que nele se ocupa de “questões de regência verbal, ortografia, pronúncia, concordância, formação do plural, modismos e mau uso” do idioma na escrita – já que a fala, como se sabe, é outro assunto e é frequentemente indomável. O prefácio de Fernando Venâncio e o posfácio de Desidério Murcho sublinham-lhe a utilidade e interesse.
Ora este livro, como muitos outros, vem lembrar-nos de que a escrita tem regras e, sim, há erros que é melhor evitar a bem da clareza da comunicação e da saúde do idioma. Posto isto, convém recordar que o português, tal como o conhecemos, tem um percurso no país que lhe deu nome (derivando o nosso idioma do galego e dele se afastando a partir do século XV) e outros, bem diferentes, naqueles aonde chegou por imposição colonial como contraponto às línguas locais.
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[“Derivando o nosso idioma do galego e dele se afastando a partir do século XV”, diz o Nuno Pacheco. Aqui tenho de concordar com o Henrique Duarte, que num comentário disse o seguinte:
Henrique Duarte
Moderador
«(...) derivando o nosso idioma do galego e dele se afastando a partir do século XV» É errado dizer que o português deriva do galego. O português deriva da língua falada antigamente no Norte de Portugal e na Galiza, a que se pode chamar de galego-português, galaico ou, quando muito, galego antigo. Galego nunca, pois galego é outra coisa muito diferente. É a língua falada atualmente (cada vez menos, infelizmente) na comunidade autónoma chamada de Galiza, que está fortemente castelhanizada, na sintaxe, no vocabulário, etc., e que por isso é depreciativamente designada por "castrapo". Esperaria outro rigor da sua parte, Nuno Pacheco.»
... embora o Henrique Duarte também esteja equivocado quando diz que «É a língua falada atualmente (cada vez menos, infelizmente) na comunidade autónoma chamada de Galiza, que está fortemente castelhanizada, na sintaxe, no vocabulário, etc.»
Não, não é bem assim. O Galego é actualmente Língua Oficial da Região Autónoma da Galiza, juntamente com o Castelhano (não o Espanhol, porque o Espanhol não existe em Espanha como Língua, e o Galego está de boa saúde, na Galiza.)
O equívoco do Nuno Pacheco, talvez venha do facto de ter lido o livro de Fernando Venâncio «Assim Nasceu uma Língua». Fernando Venâncio também estava equivocado, porque foi beber a fontes a que os que querem amesquinhar a Língua Portuguesa também foram beber, tendo distorcido a História.
O Português é uma Língua-gémea do Galego, o dialecto Galaico-Português, oriundo do Latim vulgar, que os povos da Galécia (Gallecia romana) antepassados dos Galegos e dos Portugueses actuais partilhavam, e cuja história está deliciosamente contada no livro «Historia da Lingua Galega», da autoria dos insignes mestres galegos Xosé Ramón Freixeiro Mato e Anxo Gómez Sánchez, que não estão ao serviço de ninguém, a não ser da Galiza. Um livro que todos os que se interessam pela Língua Portuguesa deviam ler.
Aqui deixo o link para o livro, escrito em Galego, mas quem souber Português a fundo, lê-o perfeitamente.
https://www.goodreads.com/book/show/38621990-historia-da-lingua-galega#CommunityReviews
Vejamos a este propósito o que diz o nosso maior dialectologista, José Leite de Vasconcelos: «Nos dois lados do Rio Minho desenvolveu-se do Latim vulgar da Lusitânia, nos primeiros séculos da era cristã, uma língua substancialmente uniforme, embora, talvez desde sempre, com algumas particularidades dialectais. Por causa das vicissitudes políticas da Galiza e de Portugal, da Idade Média em diante, essas particularidades foram aumentando com o tempo, e constituíram depois o Galego e o Português, embora o Português seja forma principal, como Língua de nação autónoma órgão de rica literatura.» (Textos Arcaicos, p. 120, 3ª edição). Foi com Dom Dinis, que o Português seguiu o seu caminho separado do Galego.]
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Foi o que sucedeu no Brasil ou nas então colónias de África, onde numerosas línguas locais foram silenciadas ou até proibidas em nome da língua do colonizador. Com as independências, chegando primeiro a do Brasil, em 1822, e muito mais tarde as de Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde (independentes há 50 anos, o que agora celebram), e tendo cada país as suas leis, bandeiras, hinos, regras e culturas, natural seria que o português, língua que adoptaram como oficial, tomasse em cada um deles o seu rumo, não só com palavras novas ditadas por cada cultura como, eventualmente, novas regras lexicais e gramaticais.
Pôr o português daqui (que já é tão diverso, com os seus coloquialismos e regionalismos) em confronto com as suas mutações noutros países é coisa que nos deveria aliciar, interessar, e não indignar, levantando de imediato a bandeira do “português certo” ou “português correcto” para afastar, com desprezo, as diferenças que naturalmente se foram desenvolvendo noutros lugares.
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[A este respeito, a indignação não vem do facto de o Português ser ou não ser correcto neste ou naquele país. Vem do facto de terem mudado a Estrutura do Português, no que à Fonética, Fonologia, Escrita, Ortografia, Léxico, Morfologia, Sintaxe e Semântica diz respeito, e continuarem a chamar-lhe Português, quando o correcto seria dar-lhe outra designação, e não pretender, por questões meramente político-jurídicas-económicas, que a Variante Brasileira do Português, (porque é disto que se está sempre a falar, até porque as outras ex-colónias nunca são chamadas à liça sobre esta matéria) seja designada como Português, inclusive andar na Internet a representar o Português com a bandeira brasileira.
A linguagem da Variante Brasileira do Português é perfeitamente correcta, uma vez que o Brasil, tendo optado por pôr – veja-se neste exemplo a importância da acentuação, e pensemos no para para, introduzido pelo AO90 – de lado as regras gramaticais, e enriquecendo-a com as Línguas e dialectos indígenas brasileiros, e dialectos africanos levados pelos escravos – o termo escravizados não se aplica neste âmbito, e agora há um modismo que “proíbe” usar a palavra escravo, como se os escravos nunca tivessem existido, desde as mais remotas civilizações – e, acrescentando-lhe a deslusitanização da Língua do ex-colonizador, mudaram o rumo da Língua Portuguesa.]
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Quando o professor brasileiro Caetano Galindo, em entrevista recente ao PÚBLICO (que muito comentada foi), dizia que só agora o Brasil estava a aperceber-se de que a sua fala e escrita não configuravam um “português errado”, mas sim o português que o Brasil moldou à sua imagem, houve quem o compreendesse e também quem se indignasse ou ironizasse com tal observação. Recordemos o que ele disse, a frase completa: “Só agora se começa a perceber que não estamos falando português errado, não estamos falando incompetentemente a língua da Europa, porque não há português errado nem português certo, nem nas variedades que existem no Brasil nem nas inúmeras variedades que existem em Portugal.”
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[Aqui concordo com o professor Caetano Galindo, quando diz «Só agora se começa a perceber que não estamos falando português errado, não estamos falando incompetentemente a língua da Europa, porque não há português errado nem português certo, nem nas variedades que existem no Brasil nem nas inúmeras variedades que existem em Portugal.» Não, não estão falando um Português errado, porque não estão falando sequer Português, estão falando a Variante Brasileira do Português, e designando essa linguagem deste modo, é óbvio que estão a articulá-la correctamente.]
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Independência ou morte? Não, independência e língua. Podia o português do Brasil chamar-se, por mera decisão política, “brasileiro” (e há quem levante, sem êxito, tal bandeira há anos), que isso não alteraria a sua real condição: a de um idioma, o português, que ganhou características próprias num outro continente, e que com elas tem produzido excelentes obras nos mais variados domínios das letras e das outras artes.
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[Aqui discordo do Nuno Pacheco, pois já não existe o Português do Brasil, a partir do momento em que o enciclopedista brasileiro Antônio Houaiss deslusitanizou (e o termo é dele) o Português, afastando-o das suas raízes portuguesas, greco-latinas, indo-europeias, e quando isso acontece, a Língua terá de ter outra designação, tal como a já Língua Cabo-Verdiana, que é oriunda do Português, mas já não é Português de Cabo Verde. E não vejo que mal venha ao mundo se tal acontecesse, e as ex-colónias terem uma Língua própria, enriquecida pelos Dialectos e Línguas locais tão diferenciados do Português. É preciso viver e principalmente estudar no Brasil para perceber que, lá, o Português diluiu-se por entre tanta miscelânea de línguas, dialectos e falares dos muitos povos que lá se fixaram, e aqui estou a pensar na Língua Italiana, que tanto se impôs na linguagem falada e escrita no Brasil, e darei apenas um exemplo, mas há muitos mais: Netuno].
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Isso põe em causa o português de Portugal? De maneira nenhuma, tal como o inglês dos Estados Unidos da América não pôs nem põe em causa o inglês de Inglaterra — e tantas diferenças têm, na fala como na escrita. O erro é sempre tentar afunilar as diferenças numa espécie de idioma padrão, que não existe nem existirá nunca, por mais que bramem os paladinos da “unificação”. Esse foi o erro do chamado Acordo Ortográfico de 1990, como lembrou, e bem, José Pacheco Pereira na sua mais recente crónica, “O desprezo da pátria por via do desprezo da língua”.
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[Aqui volto a discordar do Nuno Pacheco. Claro que põe em causa a Língua Portuguesa – dizer Português de Portugal soa a redundância.
Não podemos comparar o que se passa com as ex-colónias inglesas e também espanholas, por exemplo, com o que se passou no Brasil. A Língua Inglesa não foi desinglesada em nenhuma ex-colónia, e a Língua Castelhana não foi descastelhanizada, e nenhuma dessas ex-colónias pretendeu impor aos Ingleses ou aos Espanhóis as poucas diferenças existentes entre as suas Variantes que passam quase despercebidas em relação à Língua Inglesa e ao Castelhano. Porém, a Variante Brasileira do Português não passa despercebida, principalmente na oralidade, em relação ao Português. Há este pormenor que é preciso ter em conta.]
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Graças a tal erro, que não unificou coisa alguma e que, pelo contrário, acirrou animosidades, ouvimos por estes dias locutores de televisão, a propósito do roubo no Louvre, pronunciarem “jôias” (retorno da escrita sobre a fala, pela perda do acento agudo em “jóia”, como antes se escrevia em todo o espaço da língua portuguesa); e temos, entre as várias palavras que vão a votos para “Palavra do Ano” (iniciativa da Porto Editora) uma coisa que, mercê de tal acordo, só existe mesmo em Portugal: “Perceção.” Isto quando o Brasil continua a escrever “percepção”. Não, o que nos divide não são as diferenças; é, infelizmente, e quase sempre, a estupidez.
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[Os vocábulos que em Portugal perderam a consoante muda, mas no Brasil não, como “perceção”, que no Brasil escreve-se à portuguesa, percePção, deve-se de facto à estupidez. No Brasil há umas poucas palavras mais que os Brasileiros escrevem à portuguesa, simplesmente porque pronunciam as consoantes mudas, porém, há uma questão a pôr: qual o critério que levaram Brasileiros, mas também Portugueses, a pronunciarem alguns cês e pês, em determinadas palavras e não noutras? Temos o exemplo de Egito. Não é da estupidez grafar Egito sem pê, e escrever todas as suas derivadas com pê? Sempre pronunciei o pê de EgiPto, por coerência linguística. Esta é uma das incoerências dos acordos ortográficos que já se fizeram entre Brasil e Portugal, e por mais acordos que façam ainda não acertaram as agulhas, e jamais acertarão.
Daí a necessidade de cada país ficar com a sua Língua: a quase nonagenária Língua Portuguesa para Portugal, o seu berço, e a nova Língua gerada no Brasil, a partir do Português, a Variante Brasileira do Português, ou Língua Brasileira, ou Brasilês, para o Brasil.]
Isabel A. Ferreira
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Fonte do artigo de Nuno Pacheco:
https://www.publico.pt/2025/11/06/opiniao/opiniao/portugues-faz-favor-bem-2153373
É pena que o espírito crítico de homens e mulheres de Ciência do nosso país, no caso do AO90, continue a primar por um estranho silêncio.

Maria do Carmo Vieira
30 de Junho de 2025
«O acordo ortográfico e a “sonolência passiva” que silenciou o espírito crítico»
No que ao Acordo Ortográfico de 1990 (AO90) diz respeito, surpreende-me sobremaneira a aceitação acrítica de pessoas ligadas à Ciência e à sua divulgação. Esse silêncio é particularmente incomodativo no caso da “Nota Explicativa do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa”, 1990, único texto, aliás, em que os seus mentores (portugueses e brasileiros) explicitam atabalhoadamente o seu inusitado porquê.
Quero crer que nem sequer o terão lido, pois não seria aceitável que pessoas críticas relativamente a tudo o que contrarie o Conhecimento ou se feche em obstinada ignorância pudessem aceitar ditos “critérios científicos” e “justificações” que raiam o disparate no que a qualquer Conhecimento diz respeito, nomeadamente, o Linguístico.
Este facto aponta, na verdade, para uma lamentável posição, tanto mais que em qualquer Ciência a etimologia intervém activamente, explicando a origem das palavras. Ora a etimologia, vertente cultural da ortografia, é a componente selvaticamente agredida por este AO que devora, por exemplo, toda a consoante surda «c» e «p», justificando o acto fagócito, como uma forma de punir a «teimosia lusitana» e de aliviar «a memória dos alunos».
Realce-se que a Associação Portuguesa de Linguística (APL), em 2005, através da sua presidente, Inês Duarte, entregou, no Instituto Camões, um parecer estrondosamente negativo à implementação do AO 90: “(…) por todas as razões acima aduzidas, a Associação Portuguesa de Linguística recomenda: 1. Que seja de imediato suspenso o processo em curso, até uma reavaliação, em termos de política geral, linguística, cultural e educativa, das vantagens e custos da entrada em vigor do Acordo Ortográfico de 1990. 2. Que, a manter-se o texto actual do Acordo, Portugal não ratifique o Segundo protocolo Modificativo.” Em 2008, aquando da Audição Parlamentar de 7 de Abril (“aplicação e impacto do acordo”), este parecer seria de novo entregue na Assembleia da República, pela então direcção da APL.
Antes de se decretar o que os Portugueses nunca haviam pedido e tinham sistematicamente ignorado, escrevia-se, naturalmente, “acto”, “recepção”, “concepção” ou “retractar”, entre muitos exemplos, vocábulos agora truncados na sua marca etimológica que determinava a abertura da sílaba. Não admira, pois, que esta alteração ao “traje” da palavra tenha prejudicado a sua leitura, dando azo a distorções, escritas e ouvidas. Realce-se os vocábulos “recepção” ou “concepção” que, pelo “critério da pronúncia”, se mantêm assim, no Brasil, alterando-se, em Portugal, para “receção” ou “conceção”, num evidente desmentido da “unidade ortográfica” pretendida. No caso de “retractar”, o equívoco, que toda ortografia pretende eliminar, é notório porque agora tudo é “retratar”. A propósito desta voragem, assiste-se ao absurdo de em exposições bilingues, português-inglês, nos depararmos com a ausência das já referidas consoantes, numa língua românica cuja base é o latim, mas a sua manutenção numa língua germânica que respeita a influência cultural do latim: coleção/collection; projeto/project; refletindo/reflecting; abstrato/abstract; eclético/eclectic, etc.
É comum, em qualquer ciência, a criação de designações, métodos, teorias ou tratamentos com o nome de quem os estudou, criou ou investigou. No caso do AO90, não coube a nenhum linguista a ideia de fazer uma nova reforma ortográfica, mas a um político brasileiro, o presidente José Sarney, que aliciou participantes para uma reunião, no Rio de Janeiro, em 1986, apropriando-se de “matéria estranha ao Estado”. A aventura não correu bem e lembrar-se-ão que ficou temporariamente pelo caminho, com a anedota da eliminação dos acentos nas palavras esdrúxulas.
É surpreendente que as pessoas ligadas à Ciência não se questionem sobre o significado de petições contra o AO, com milhares de assinaturas, ou sobre os 24 em 25 pareceres contrários à implementação do acordo, ou ainda em relação à aleivosia acontecida na Assembleia da República aquando da entrega da ILC-AO
Caos é a palavra certa, no que à presença do AO diz respeito, e são os próprios alunos, nomeadamente os do 2.º ciclo, que acham “esquisito” igualar a preposição “para” à 3.ª pessoa do sing. do Pres. do Ind. do verbo “parar”, ou a contracção “pelo” ao substantivo “pêlo” (agora sem acento), ou ainda o facto de ser indiferente o uso do acento na 1.ª pessoa do plural do Pret. Perf. para se distinguir da mesma pessoa do Pres. Ind, nos verbos da 1.ª conjugação. Ou seja, na gramática portuguesa, ensina-se que a referida pessoa é acentuada no Pret. Perf., mas «os alunos podem escolher a forma que quiserem», facto que gera naturalmente confusão. Não admira que um aluno, ao exemplificar no texto um Pretérito Perfeito, tenha escolhido um Presente, na pessoa anteriormente referida. Foi também com o argumento da “facultatividade” que um professor (não de Português) interveio numa situação nada relacionada com a ortografia. Uma aluna escreveu: “A mãe avisou-lhe de que não deveria fazer aquilo” – e uma colega sua corrigiu, e bem, para: “A mãe avisou-o de que não deveria fazer aquilo”, ficando, no entanto, ambas a saber que as duas frases estavam correctas!...
Questionam ainda os alunos outras regras difíceis de “encaixar”, como por exemplo a transformação de substantivos próprios em comuns, no caso dos meses ou estações do ano. A leitura das odes de Ricardo Reis, por exemplo, é gravemente atingida por este mal, num desrespeito absoluto pelo significado metafórico das estações do ano, na caracterização clássica da vida humana. Desta forma se impede e anula uma interpretação séria dos poemas do heterónimo pessoano. Sinta o leitor a diferença entre a palavra escrita com maiúscula ou com minúscula, nos seguintes versos do poeta: «Não florescem no Inverno os arvoredos,/ Nem pela Primavera/ Têm branco frio os campos» ou «Não florescem no inverno os arvoredos,/ Nem pela primavera/ Têm branco frio os campos.»
É também surpreendente que as pessoas ligadas à Ciência não se questionem sobre o significado de petições contra o AO, com milhares de assinaturas, ou sobre os 24 em 25 pareceres contrários à implementação do acordo, ou ainda em relação à aleivosia acontecida na Assembleia da República aquando da entrega da ILC-AO (Iniciativa Legislativa de Cidadãos Contra o Acordo Ortográfico) – que, neste momento, tenta salvar em tribunal a possibilidade de um debate sobre esta matéria (ler, a propósito, Nuno Pacheco, “Regresso à Ortografia, agora com um tribunal pelo meio” e o sítio da ILC-AO, em “ILC-AO vs. AR: perguntas frequentes”).
Na verdade, as razões que sustentam a “Nota Explicativa” estão ao nível de outros delírios similares – dignos da melhor teoria da Terra Plana ou dos negacionistas de vacinas e alterações climáticas.
É pena que o espírito crítico de homens e mulheres de Ciência do nosso país, no caso do AO90, continue a primar por um estranho silêncio, “sonolência passiva em que aceitamos tudo o que nos põem à frente.” (Musil)
Fonte: https://www.publico.pt/2025/06/30/opiniao/opiniao/acordo-ortografico-sonolencia-passiva-silenciou-espirito-critico-2138317
O Jornal PÚBLICO assinalou o seu 35.º aniversário com uma edição pensada pelo humorista brasileiro Gregorio Duvivier e com uma grande conferência internacional no CCB subordinada ao tema da Língua Portuguesa.
A iniciativa deixou os amantes da Língua de Portugal com a esperança de que essa conferência pudesse trazer uma luz brilhante que iluminasse as mentes obscurecidas pela ilusão de uma grandeza que nunca acontecerá, se continuarmos no registo de andarmos a arrastar-nos atrás dos milhões, como se os milhões falassem e escrevessem Português.
Francisco Seixas da Costa, o consultor estratégico, seja lá o que isto for, afirmou que «em Portugal, não temos uma dimensão para inserir a Língua Portuguesa no quadro internacional, por este motivo devemos cooperar mais com o Brasil».
Inserir a Língua Portuguesa (qual delas: a acordizada, a amixordizada ou a original?) no quadro internacional, com que objectivo? Com que necessidade? Quando sabemos que a ideia de internacionalizar a Variante Brasileira do Português, ou melhor, de ter a VBP como Língua Oficial da ONU, veio do Brasil. Contudo, a ONU não aceita as Variantes das Línguas, mas tão-só, as originais.
Então como introduzir a VBP na ONU? Obviamente através da muleta do ex-colonizador, mas para isso foi preciso destruírem a Língua Portuguesa e impor uma linguagem híbrida, que jamais poderá ser considerada Portuguesa.
A quem quer enganar Francisco Seixas da Costa? Devemos cooperar mais com o Brasil, para que o Brasil insira a Variante Brasileira do Português, mascarada de Português, na ONU, por conta da destruição do Português, que anda por aí a ser vendido e assinalado com a bandeira do Brasil, numa óbvia afronta a Portugal?
A intenção da Conferência não foi a que todos nós, amantes da Língua Portuguesa, esperávamos. Camuflada no facto de o Jornal PÚBLICO ainda manter um pé fora do AO90, porque o outro está dentro do AO90, esta conferência foi uma autêntica falácia.
Para que não julguem que o que acabei de dizer é apenas coisa minha, leiam o que me enviou Idalete Giga, uma das grandes livres-pensadoras e intelectuais portuguesas, que não sendo bajuladora, tal como eu, não poupa as palavras para dizer o que pensa, sobre os factos que ensombram e envergonham a nossa desventurada República DOS Bananas, e com a qual concordo plenamente, fazendo minhas as suas palavras:
«No CCB, na passada quarta-feira, sob a iniciativa do Jornal PÚBLICO, o tema escolhido, sobre a Língua Portuguesa, nos 35 anos do Público e nos 500 anos do nascimento de Camões, foi uma "bagunçada" e eu vou usar a palavra exaCta: fantochada! Em vez de se discutir seriamente o prejuízo causado pelo maldito, aberrante, absurdo AO/90, discutiu-se pomposamente o sexo dos anjos. Cada vez mais me envergonho dos políticos incompetentes e cobardes que estão de mãos dadas com os sinistros lobbies que impedem uma discussão séria, decente, científica sobre o maior atentado contra a Língua e Cultura Portuguesas. O PR é um traidor e tem assobiado para o lado perante os apelos de milhares de portugueses que querem a revogação do aberrante AO que foi um favor prestado a Lula da Silva & Ca.
A Língua Portuguesa merecia outra abordagem, outros convidados naquela pantominice vergonhosa. 😞😥😞

Acabei de responder a um amigo, perante as palavras do Gregório Duvivier -- o convidado de honra da fantochada no CCB.
Quando ouvi o Seixas da Costa, nem queria acreditar.
O acordês entrou pelos olhos daquela cambada toda.
A única pessoa que defendeu a Língua Portuguesa foi o Nuno Pacheco.»
***
Pois concordo em absoluto com a Idalete Giga.
E acabo este meu texto com um outro comentário que eu e a Idalete trocámos no Facebook, agora dominado por brasileiros, para que saibam que defender a Língua de Portugal é um acto revolucionário, que nada tem a ver com xenofobia ou racismo, mas com o dever cívico de qualquer português, quando, de má-fé, os estrangeiros metem o bedelho onde não são chamados.

Viva a Língua Portuguesa, a Língua de Portugal e dos Portugueses!
Quem ama a sua Língua Materna não precisa de a ver inserida no quadro internacional, se não for a original. Só a original, e não a linguagem mixordesa em que a transformaram, deve ser considerada, e não aceitamos que usurpadores esquerdistas estrangeiros, da ala mais ignorante, e políticos portugueses da ala mais incompetente e servil tentem fazer-nos de parvos.
Isabel A. Ferreira
O Jornal PÚBLICO está a celebrar, hoje, 35 anos de existência, com uma Conferência Internacional no CCB, cujo tema é a Língua Portuguesa.
Aproveito para felicitar o Jornal PÚBLICO, por esta efeméride.
Os leitores podem seguir a Conferência clicando no link acima indicado.
Dos momentos até agora referenciados no PÚBLICO, o que mais me chamou a atenção foi o seguinte:
Acordo Ortográfico de 1990: “A sua vigência é agora provavelmente irreversível”
daí tê-lo destacado no título.
Não percebo por que motivos o “acordo” há-de ser irreversível, porque irreversível, irreversível só a morte, já o tinha dito Nuno Pacheco. O AO90 foi um erro. Errar é humano, mas manter o erro é completamente insano, se o argumento é porque já foi implementado no Ensino.
Também não percebo que depois de tantos argumentos válidos já publicados, demonstrando que o AO90 não atingiu nenhum objectivo, é ilegal, é inconstitucional, e nada tem para "aperfeiçoar", muito pelo contrário, é como remendar algo já remendado, ainda estejam na fase de criar um outro grupo de trabalho para “aperfeiçoar o imperfeiçoável”.
Em 2019 foi criado um grupo de trabalho parlamentar para avaliar o impacto da aplicação do Acordo Ortográfico, terminando sem ter reunido consenso para uma possível alteração a esta convenção. José Carlos Barros (PSD) coordenador do grupo, lamentou que não tenha havido consenso sobre a necessidade de “discutir” a hipótese de alterar ou aperfeiçoar o AO90. Teriam feito bem o trabalho que tinham em mãos? Não era óbvio que o AO90 era uma aberração?
E nós lamentámos que diante dos estragos que o AO90 provocou no Ensino do Português, o grupo de trabalho parlamentar não tenha tido a lucidez de ver o óbvio.
O que é que ainda falta dizer para chegarem à conclusão de que este "acordo", sem pés nem cabeça, sem cabeça, tronco e membros, totalmente afastado do conceito do que é uma Língua, nada tem para aperfeiçoar, e pode ser perfeitamente anulado, porque nenhuma mossa fará aos que já aprenderam a escrever incorrectamente a Língua Materna. O "acordo" é de tal forma mau, que é mais fácil aprender a Língua inteira, do que decepada.
Os nossos alunos serão assim tão mais parvos, do que os alunos dos outros países, que têm Línguas muito mais complexas do que a nossa, e sabem escrevê-las correctamente? Aquele argumento de «como há-de o aluno saber que objeCtivo tem um cê, se não o pronuncia?» é a coisa mais bizarra e idiota que já ouvi.

Foto: Marcelo Rebelo de Sousa - Nuno Ferreira Santos
«Marcelo fala agora sobre a “língua cá dentro, inseparável da cultura cá dentro”. O Presidente da República refere o “período muito inspirador”, com “inúmeros responsáveis” - “plano nacional de leitura, iniciativas culturais, escolas, autarquias e comunicação social”.
O Presidente da República fala de duas dimensões indissociáveis quando se fala da língua: “O livro e a comunicação social”. Sublinhando que a comunicação social atravessa uma crise, Marcelo defende que é “muito difícil” que essa crise “não se repercuta na língua”.
Já a “política do livro” conheceu “ideias inspiradoras” no anterior Governo, sinaliza, mas não tiveram “plena concretização” e “não tiveram sequência na actual governação”, como é o caso do cheque-livro. “É muito difícil dissociar a aposta na língua da aposta na comunicação social nessa língua e da política do livro”.
O chefe de Estado diz que, quando soube que o novo secretário de Estado era um “entusiasta do livro”, o “obrigou a um compromisso: eleger como prioridade cultural a política do livro”, que “é essencial”.
Se for preciso “correr as escolas a ler livros e a comentar livros, eu estou voluntário para isso”, diz. “Vale a pena pensar em novos meios, com o apoio da comunicação social como um todo. O PÚBLICO cumpre a sua missão e as televisões cumprem?” questiona, dizendo que “cumprem, mas com programas a horas esotéricas”.
“Parabéns e como se dizia noutros tempos, quando eu era mais novinho, a luta continua”, concluiu o Presidente da República»
***
Não era já altura de acabar com esta novela a cheirar a cravo (do lado de cá), e a canela (do lado de lá)?
Isabel A. Ferreira
Gostaria de vir aqui desejar-nos um óptimo ano de 2025, porém, ele só será completamente óptimo se os decisores políticos portugueses fizerem com que o Ano Novo seja realmente NOVO, mudando as suas atitudes velhas, rançosas e inscientes, como a de manter activo o inútil AO90, entre outras atitudes que façam Portugal sair da cauda da Europa.
O que temos de fazer para impedir que os decisores políticos portugueses, que não sabem o que fazem, e nós não somos deuses para os perdoar, é insistir e não desistir de levar até ao infinito a nossa RAZÃO, porque a temos, e ninguém poderá tirá-la de nós.

Para terminar, fiquemos com o saber de Nuno Pacheco, esperando que 2025 seja o ano em que tudo o que diz respeito ao AO90 vá à falência.

Isabel A. Ferreira
A frase que consta do título desta publicação, está inserida no excelente e bem observado texto do jornalista Nuno Pacheco, publicado, ontem, no Jornal Público.
Só lamento que os nossos governantes não consigam lê-lo e interpretá-lo correCtamente, para se aperceberem de que devem acabar de vez com a peste negra ortográfica, mais conhecida por AO90, que banalizou a ignorância, em Belém, em São Bento, nas escolas, nos meios de comunicação social servilistas (por que os há não-servilistas) na publicidade mal orientada, na Internet, onde o Português está a ser maquiavelicamente usurpado...
A ignorância só germinou em Portugal, devido à vastidão do terreno inculto e estéril, que aqui encontrou.

Fonte da imagem: Internet
A Língua Portuguesa anda por aí esfarrapadinha como a mais indigente das línguas indigentes, mas os cidadãos não-pensantes, muitos deles a ocuparem cargos de topo, não querem saber disto para nada. O nosso País está entregue a gente que pugna somente pelos interesses do gigante que os esmaga, algo que não pertence à Inteligência.
Quando os nossos governantes despertarem (por enquanto andam anestesiados) para o facto de que têm mais a perder do que a ganhar com a sua atitude subserviente, talvez haja uma oportunidade de fazê-los admitir o erro, por ser da Inteligência fazê-lo.
Haverá alguém, no nosso País, que queira passar por idiota diante do mundo, que está a observar-nos e a avaliar-nos?
Do jeito como as coisas vão, a dualidade ortográfica que mistura duas grafias, como se fossem da mesma natureza, é um pormenor, NÃO é O problema, para os decisores políticos.
Como diz Carlos V. Costa:
«Não se compreende o porquê de muitas personalidades com reconhecido mérito nas suas áreas de conhecimento, como professores, escritores, magistrados, políticos, jornalistas, entre outros, se limitarem a qualificar o acordo de inaceitável e nada fazerem em prol da sua abolição».
«Lembram-se do que disse o deputado independente Jorge Lemos na reunião plenária de 28 de Maio de 1991, quando se discutia o dito acordo? Disse que era “inútil, ineficaz, secretista, prepotente, irrealista, infundamentado, desnecessário, irresponsável, prejudicial, gerador de instabilidade e inoportuno”. Justificou cada uma destas palavras e depois rasgou o documento. Infelizmente, a coragem demonstrada por Jorge Lemos tornou-se, nos muitos que passaram a lamentar que o acordo tenha sido aprovado, uma espécie de desabafo clandestino e inútil.» (in texto referido mais acima).
Pois...
Isabel A. Ferreira
Fonte: https://www.publico.pt/2024/10/03/opiniao/opiniao/avaliassem-ortografia-fizeram-efacec-2106233
O respeito pela democracia que nos trouxe o "25 de Abril", cujo cinquentenário celebramos este ano, é incompatível com a criminosa imposição política do AO90 a Portugal. E nestas eleições não é democraticamente defensável continuar a silenciar - como se fez em todas as outras - a discussão deste tema fundamental para a defesa da nossa identidade.
"Acordai"!
Maria José Abranches

(...) No "Público", mais um artigo de Nuno Pacheco, em defesa da nossa língua. Leiam, por favor, e enviem comentários - apoiem, não se calem - se sentem e entendem que a nossa língua é a coluna vertebral da nossa identidade, coisa que os outros povos conhecem, designadamente os antigos colonizadores, ingleses, franceses, que não recorreram a AOs para pseudo-defender as suas línguas!
Recordo as palavras de Jacques Attali: «L'identité française, c'est la langue, bien plus que le territoire. La langue d'un peuple est la colonne vertébrale de son identité.»
(...)
Por favor, não se calem, não podemos deixar morrer a nossa língua! E este apelo é particularmente endereçado aos professores, de todos os níveis e disciplinas, porque é a língua que suporta o nosso conhecimento!
Lembrem-se do que foi a ditadura e a censura, que estamos a aceitar de novo!
Celebremos os 50 anos do 25 de Abril, defendendo a democracia, que a imposição política do AO90, irresponsável e criminosamente, desprezou!
Maria José Abranches

***
(Momento 1)
Como eu sempre afirmei, o PS de António Costa, no qual nunca votei, nem voto e não confio nada de nada, governou com maioria absoluta que, na verdade, como sempre afirmei e foi confirmado, essa maioria absoluta transformou-se numa autêntica ditadura da maioria sobre a minoria do povo português. Não valem nada.
Fernando Alberto
***
(Momento 2)
[Um Povo maioritariamente apolítico, como poderá votar em consciência? Vota em bandeiras, mas não sabe a quem pertence as bandeiras. (Isabel A. Ferreira)].
***
A propósito do texto O que precisas de saber para acompanhar os debates das legislativas, da autoria de Liliana Borges, publicado no Jornal Público
«E, mais uma vez, políticos e jornalistas estão a fazer tudo para não falar do Acordo Ortográfico de 1990, imposto a Portugal ditatorialmente, sem discussão pública, ignorando os inúmeros pareceres dos especialistas que o condenam, assim como os muitos apelos dos cidadãos - manifestos, petições, e uma Iniciativa Legislativa de Cidadãos, que subscrevi e para a qual recolhi centenas de assinaturas, e que a Assembleia da República preferiu 'esquecer'! Democracia isto? E é com o desprezo pela nossa língua que estamos a celebrar o 25 de Abril, que nos trouxe a democracia?! Se isto tudo não fosse criminoso, seria sobretudo ridículo!!!»
Maria José Abranches
***
Os sinais de abuso de poder tendendo para censura e métodos de ditadura do poder socialista já vêm de longe. Quis condicionar notícias de jornal e ameaçou jornalistas, abusou durante a pandemia e até quis manipular o nosso telemóvel, lança filhos contra pais obrigando-os a perfilhar na escola opiniões que rejeitam, faz contratos sem concurso, etc. - e ter corrompido a língua portuguesa por decreto é 'só' mais um dos crimes do declínio tirânico do PS.
Mário Gonçalves
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Tem toda a razão! Não estamos mal, estamos pessimamente.
Já reparou que, em todos os debates para as próximas eleições que houve, até agora, apenas um dos candidatos, o do PC, aludiu, de passagem ao tema da Cultura?
Com perfis destes, como nos havemos de admirar que a nossa língua que, como diz Pessoa, é "a nossa Pátria", seja apunhalada constantemente, com étimos estropiados pelo Desacordo Ortográfico e pelo uso abusivo, a torto e direito, de anglicismos despropositados?
No meu trabalho de escritor, de muitas décadas, (cerca de 60 livros publicados) e de Presidente da, infelizmente já extinta, Sociedade de Língua Portuguesa, sempre considerei tais atropelos, como um crime hediondo de lesa-cultura.
Há que não baixar os braços e seguir em frente com o combate a esta forma de analfabetismo...
Adalberto Alves
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Há vários crimes na atitude servil dos acordistas no Poder e fora dele: crime de lesa-pátria, crime de lesa-cultura, crime de lesa-língua e crime de lesa-infância (por obrigarem as nossas crianças a escreverem incorrectamente a Língua materna delas. Os adultos podem optar ou não optar pela ignorância, as crianças, não. As crianças são obrigadas a seguir as más orientações dos muito servilistas e acríticos professores.
Isabel A. Ferreira
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Numa outra oportunidade, tive ocasião de mencionar que vivo na Dinamarca há quase 50 anos. Apesar de andar arredado, in loco, das actividades e situações relacionadas com a política, há já muito que me tenho vindo a observar o estado da Nação, através do que vou tendo conhecimento do que se me oferece ver e ouvir nos meios de comunicação - mesmo longe da Mãe Pátria, o cordão umbilical continua sempre conotado.
A democracia não se impõe -- como aconteceu há 50 anos em Portugal -- mas aprende-se. A maioria do povo português pouco sabe o que a Democracia é e como se gere. Mas afirmo-lhe com tristeza que, mesmo aqui no norte da Europa onde a democracia tem orientado e governado as nações, ela tem-se vindo a definhar e a ser abusivamente mal interpretada. Isto deve-se aos governos de maioria absoluta, que não dão ouvidos à voz pública.
Fernando Kvistgaard
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Concordo plenamente com a sua análise, Fernando. As maiorias absolutas não fazem parte da dinâmica de uma Democracia, que tem, forçosamente, por inerência à sua própria designação, de ouvir a voz do Povo.
Isabel A. Ferreira
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(A propósito do artigo de Eduardo Marçal Grilo, intitulado «Reivindicações, opiniões, debates, comentários e tudo mais», publicado no "Público", 12 Fev. 2024
«O debate é paupérrimo. Não se ouve uma só posição sobre a situação internacional; ninguém consegue perceber como se quer pôr o país a crescer, para além das descidas dos impostos...» (E. M. G.)
"Sim, a própria concepção destes debates, com este formato, deixa muito a desejar. Mas, mais uma vez, no que toca aos debates, tendo em conta os políticos e os jornalistas, assim como relativamente ao autor deste artigo, ex-ministro da Educação, constato como o analfabetismo tradicional marcou este país: a imposição política criminosa dessa ortografia aberrante, que desfigura e ridiculariza a nossa língua materna, continua a ser tabu! Mais uma vez, temos eleições em que essa questão é cobarde e estupidamente silenciada! Os ingleses imitam a ortografia americana, os franceses a do Québec, os espanhóis uma qualquer da América Latina? E se investíssemos no estudo e ensino sério da nossa Língua, como fazem os outros, em vez de andarmos há décadas a fazer 'acordos ortográficos' com o Brasil?"
Maria José Abranches
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Abrir o escuro (expressão utilizada pelo meu filho, portador da Síndrome de Down, para “acender a luz” e que eu adoptei por a considerar brilhante) é do que mais precisamos, mas não vejo jeito de chegar à luz, porque não temos políticos interessados em resolver os problemas do País. Nenhum deles vai para a Política pelos lindos olhos de Portugal. Se fossem, Portugal, neste momento, e passados 50 anos desde o “25 de Abril”, já estaria no topo dos Países Europeus mais desenvolvidos, e, como sabemos, continuamos na cauda da Europa, em quase, quase, quase, quase tudo...
Isabel A. Ferreira
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Já nada me surpreende nas atitudes da "Vida Política", os verdadeiros, aqueles que colocavam Portugal, os Portugueses e a Verdadeira Língua Portuguesa, como algo Imperdível, já não existem na Política mesquinha, interesseira, no tempo doente que atravessamos. Mas, não faz mal, mesmo assim, continuaremos o nosso caminho, rumo aos nossos objectivos, lutando contra o AO90. (...)
Acácio Martins
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(A propósito da Carta aberta aos actuais responsáveis pelos destinos de Portugal da autoria de Maria José Abranches)
Belíssimo trabalho! Se depois disto não formos ouvidos... Que gente é esta que apareceu para nos governar, que mentalidade, que amor a Portugal e à nossa Língua?! Onde está quem nos acuda?! Lamento tanto, mas tanto... Precisamos de um outro 25 de Abril, mas, se calhar, sem cravos. As verdadeiras revoluções não podem (e vê-se) ser feitas com flores! Que posso dizer mais? Que a louvo a si e a outros, que têm tentado, com esforço, sabedoria e amor ao nosso País e à nossa Língua, combater por todos os meios ao seu alcançe, esta Grande Ofensa Nacional, que nos é feita com a maior impunidade, arrogância e despotismo.
Soledade Martinho Costa
***
Isto parece incrível no Séc. XXI. Se bem que penso que em nenhum período da História, um governo, regime ou civilização procedeu à sua autodestruição. Os políticos portugueses estão a contribuir para a destruição da Língua Portuguesa e da Cultura do país! Não conseguirão, pois enquanto cá andarmos, tudo faremos para que eles não consigam destruir algo que possui séculos de história! NÃO AO ABORTO ORTOGRÁFICO!
***
Esta carta devia ser lida em voz alta no Parlamento. É inacreditável que os destruidores de Portugal (todos os Governos desde o 25 de Abril) também queiram destruir a nossa alma colectiva como Povo, tendo vomitado um criminoso aborto ortográfico imposto brutalmente, totalitariamente a toda a administração pública. Pobres crianças portuguesas consideradas atrasadas mentais por esse Casteleiro de má memória (...)! Parabéns à autora da carta Maria José Abranches. Vou partilhá-la imediatamente. Desde ontem que estou em estado de choque depois de ouvir o de-bate-bate dos dois senhores que querem governar o País. Tanta mediocridade, tanta falta de educação, tanta ignorância, tanta falsidade, tanta hipocrisia. Nunca se viu uma coisa destas. E os comentadores, para se mostrarem muito importantes a analisar o inalisável! Que tristeza. Portugal não caminha para o abismo. Já está mergulhado no abismo. O PR vai ser obrigado a eleger um Governo de Salvação Nacional, que devia já ter elegido depois da retirada do (des)governo de Costa que continuou a (des)governar...
Idalete Giga
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Idalete Giga, eu ontem vi o debate dos partidos sem representação parlamentar. Alguns são novos, outros lavaram a cara, mas quando abrem a boca percebemos onde estamos. Nem os fascistas, nem os "patriotas", nem os europeístas, nem os soviéticos, nem os lunáticos genéricos disseram nada sobre a língua.
Este modelo de debates também está inquinado, porque os temas são lançados pelos apresentadores, "os assuntos que preocupam os portugueses".
Ou eu não sou português, ou a Língua não é assunto.
E depois vê-se ad nauseam os comentários: "votaram neles...", ou "não votaste, não te queixes". Se me apresentarem 20 pratos de excrementos de um animal diferente, devo comer um ou perder o direito de dizer que tenho fome?
Pedro Henrique
***
(A propósito do bloqueio do PS aos textos que Isabel A. Ferreira envia aos políticos, via e-mail)
Como foi possível que o PS bloqueasse o seu texto? Prova bem a falsa democracia que tal Partido diz defender. Que atitude totalitária, arrogante, nojenta! Hoje, a censura é uma espécie de verme subterrâneo, que trabalha no escuro e na mais repugnante hipocrisia. Portugal caminha para o abismo e parece que ninguém quer ver. Não há um único seCtor da vida do nosso País que esteja bem. Cada governo que engana os portugueses e assalta o Poder é sempre pior que o anterior. Se assim não fosse, Portugal seria um dos Países mais desenvolvidos do mundo, pois temos recursos para isso. Não temos líderes. Não temos políticos humanos. Temos marionetes a mando da UE. E agora na questão da Língua, temos os maiores cobardes da nossa História, incapazes de assumir o erro GRAVÍSSIMO que foi o Aborto AO/90. Quem terá coragem para o dinamitar?
A cobardia total já foi revelada pelos falsos democratas do PS.
Tive a minha página do FB bloqueada e alguém criou três perfis falsos de mim.
Já não podemos confiar em nada. Cada vez me revejo menos nesta sociedade alienada.
Idalete Giga
***
Este bloqueio só veio confirmar o que há muito venho, vimos dizendo, porque a Idalete e tantos outros também o dizem: vivemos numa ditadura de esquerda, disfarçada de democracia. As ditaduras tanto são de esquerda como de direita. Por isso, não faço distinção: são todos farinha do mesmo saco.
Como sempre, as suas análises são lúcidas e dizem da triste realidade do nosso desventurado País.
Pergunta: quem terá coragem para dinamitar o AO90?
Quem, se só temos COBARDES no Poder?
Estamos a ser cercados por uma mediocridade e pobreza intelectual urdida nos calabouços de São Bento e de Belém, para tramar Portugal.
E quem se opõe a esta mediocridade e incompetência é vigiado, é bloqueado, é interceptado, porque incomoda as mentes obscuras que nos desgovernam.
Vimos que nenhum partido político incluiu a perda da nossa identidade devido à imposição ilegal do AO90, como um assunto também prioritário.
Este é um dos maiores tabus de sempre. Porquê? Porque desde Dom Afonso Henriques que nenhum Rei, nenhum presidente da República, nem mesmo António Oliveira Salazar vendeu Portugal a um país estrangeiro. E o nosso Dom João VI, tão vilipendiado pelos ignorantes, foi um Rei que teve a coragem de enganar Napoleão, e salvar o Reino de Portugal e do Brasil, transferindo a Corte para o Brasil. Todos os outros monarcas europeus caíram às mãos de Napoleão, excepto o nosso Dom João VI.
Precisávamos de um novo governante corajoso, para nos salvar dos que estão a usurpar a nossa identidade, com a cumplicidade dos muito subservientes actuais decisores políticos portugueses.
Isabel A. Ferreira
«Dois artigos no PÚBLICO de ontem dizem-me muito: um, sobre o AO90 que ainda ninguém teve a coragem de liquidar. Por cobardia, porque em tempos o apoiaram, ou por outra qualquer razão obscura, irá fazer 35 anos em breve. Trinta e cinco anos de confusão, de descalabro cultural em que nem a pandemia, nem a guerra da Ucrânia, nem a dimensão da dívida pública, nem a inflação, lhe poderão dar justificação. Tenho 78 anos. Será que ainda conseguirei ver esse monstro derrubado?»
Jorge Horta, em carta ao Director do jornal Público, 01-09-2023
«O patético Acordo Ortográfico, que serviu os interesses de meia dúzia de professores frustrados e um primeiro-ministro. O Acordo é uma aberração, as línguas não se mudam por decreto, evoluem por via do seu uso.»
Luís de Matos, Mágico, em entrevista radiofónica
«Dito isto, ainda falta o Acordo Ortográfico, que nós oficialmente adoptámos — e que a CPLP — Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, como tal, não — para andar a babujá-lo por livros, escolas e órgãos de comunicação social, em modo original de libertinagem gramatical, nem carne nem peixe, enquanto os nossos parceiros, nomeadamente Angola, praticam o excelente português que herdaram antes de 1990. Já que, pelos vistos, nada se respeita particularmente na frívola CPLP, ao menos respeite-se a matriz de uma língua secular com milhões de falantes pelo Mundo fora.»
João Gonçalves, Jurista, JN, 28-08-2023
«Ironias à parte, é de facto extraordinário como de vez em quando, nos órgãos de comunicação social portugueses, há palavras bem escritas no meio da traficância quase extraterrestre que nos vem contaminando a expressão gráfica (e, já agora, em certas palavras também a fala) desde há uns catorze anos a esta parte, a pretexto do chamado Acordo Ortográfico de 1990 (AO90). Se é verdade que no Brasil as palavras "recepção", "aspecto" e "espectadores" se mantiveram como eram em Portugal até esse momento, passaram aqui (e em mais lado nenhum) a escrever-se nas originalíssimas formas “receção”, “aspeto” e “espetadores” (esta como variante, sim, mas permitindo que muita gente passe a “espetar” em vez de simplesmente assistir, ou espectar).»
Nuno Pacheco, Jornalista e autor, Público, 31-08-2023
A febre de amputar as consoantes ditas mudas, desfigurando as palavras, é uma das características do inadjectivável Acordo Ortográfico de 1990. O leitor, certamente, reparou que o adjectivo galáctico, do grego gála, -aktos, «leite» + ico, foi, durante muito tempo, a par do sentido relativo a galáxia, utilizado para designar os famosos futebolistas que integravam a equipa espanhola do Real Madrid.
O que aconteceu em inúmeros exemplos, como adiante se comprovará, com uma breve amostra, foi que, como ninguém sabe escrever de acordo com as regras estapafúrdias do AO90, vá de cortar o cê, criando a aberração galáctico (a), que não tem nada a ver com lata. Uma breve pesquisa pelos sítios de alguns órgãos de Comunicação Social mostrou-nos as seguintes ocorrências:
- A vida é comum, mas existe uma espécie de "código de conduta galático" (uma "Prime Directive" tipo Star Trek) que faz com que espécies ainda pouco desenvolvidas (como nós) não sejam contactadas ou que o sejam de forma cautelosa (é este, no fundo o argumento de Contacto; e é isto, no fundo, o que diz o ex-general Haim Eshed. Neste sentido, as palavras do antigo militar não estão totalmente longe daquilo que pensam alguns cientistas);
- A vida é comum mas existe um imperativo de sobrevivência galática que faz com que todas as civilizações se escondam umas das outras (SPOILER: é este o muito inteligente argumento da trilogia de livros Remembrance of Earth's Past do autor chinês Liu Cixin, que vai ser transformada em série para a Netflix, com o título The Three Body Problem pela mesma dupla que adaptou Game of Thrones).» Ricardo Simões Ferreira no DN, em 10-12-2020
A pergunta do costume é: se é assim na Comunicação Social, como será com o cidadão comum?
Ah, vale a pena ler integralmente a crónica de Nuno Pacheco “Voltámos à ‘recepção’? Mas afinal que país é este, hã?» de 31 de Agosto.
João Esperança Barroca


Começo por fazer dois apelos, por amor à Língua Portuguesa, uma das Línguas de Expressão Ibérica, completamente DESVIRTUADA pelo AO90, e que já NÃO é Ibérica.
Primeiro apelo:
Sei que vários autores, que se dizem anti-AO90, aceitaram o convite para estar no “Correntes d’Escritas”. Apelo [que falta faz a acentuação!] para que, neste Encontro, pugnem pela Língua Portuguesa, demonstrando o quão nocivo é o AO90, para o equilíbrio das Línguas de Expressão Ibérica.
Segundo apelo:

A partir de amanhã, dia 14, até ao dia 18 de Fevereiro, ocorrerá, na Póvoa de Varzim, a 24.ª edição do Encontro de Escritores de Expressão Ibérica, o Correntes d’Escritas, para o qual foram convidados cerca de uma centena de escritores de línguas hispânicas e portuguesas, somando 15 nacionalidades diferentes.
Acompanhei o «Correntes d’Escritas» (criado no ano 2000) até ao ano em que o acordo ortográfico de 1990 foi introduzido no Encontro, e as coisas mudaram, porque a Língua Portuguesa deixou de ser Portuguesa, e as correntes, que deveriam UNIR as Línguas de Expressão Ibérica, foram quebradas.

E a partir de então, nesses encontros, tudo deixou de me interessar. A Feira do Livro, onde eu gastava dezenas de Euros, deixou de me interessar, porque passou a INSULTAR a Cultura do Livro Português, com um escaparate de autores como Sophia de Mello Breyner Andresen, que, em vida, se mostrou completamente avessa ao AO90, (conforme a imagem), a ter a sua obra para a infância, completamente DESVIRTUADA, pelo acordês, como um gigantesco INSULTO à sua memória (ao menos não lhe mutilaram o nome escrevendo Sofia de Melo Brainer) ao abrigo deste argumento completamente parvo: “Considerando a sua possível leitura em contexto escolar, este livro respeita as regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assumindo a Porto Editora a responsabilidade desta adaptação”.
Chamaram-lhe adaptação. Chamem-lhe ACORDIZAÇÃO da Língua Materna das crianças, que têm o direito a aprendê-la na sua versão greco-latina, e NÃO desenraizada, mutilada, desfeada, manca.
Sobre a profanação da obra de Sophia, sugiro a leitura de um texto, de Nuno Pacheco, no Jornal PÚBLICO, com uma introdução minha.
https://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/sophia-a-menina-do-mar-e-as-partidas-220093
Não sei como Miguel Sousa Tavares, filho da autora, e um ferrenho anti-acordista, permitiu este ultraje à obra de Sophia. Mas não só obra de Sophia foi profanada. José Saramago, os nossos clássicos, como Camilo Castelo Branco, Eça de Queiroz, Fernando Pessoa, entre muitos outros, autores de prosas e versos magníficos, foram ultrajados. Soube que em algumas bibliotecas destruíram os livros em Língua Portuguesa, para os substituir pelos acordizados.
Deixei de frequentar este Encontro. Só vou medir o pulso à Feira, e, quando a hora me permite, vou às apresentações dos livros do meu amigo Aurelino Costa, poeta poveiro do qual gosto bastante, e que, até ao momento, não traiu a Língua dos seus Poemas. De resto, não me sinto bem naquele ambiente acordista cheios de traidores da Pátria. Sei que anda por aí um modismo em que se diz que isto de “Pátria” é coisa que já não se usa. Sim, é coisa que os apátridas não usam, porque NÃO têm Pátria.
Para quem estiver interessado, aqui fica o link do programa deste Encontro de Escritores:
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