A Maria José Oliveira publicou um pequeno texto, no Grupo do Facebook «Portugal em Movimento Contra o Acordo Ortográfico de 1990», e conseguiu, não, surpreender-me, mas deixar-me estupefacta, pelo facto de haver gente suficientemente ignorante para REJEITAR alguém, como a Maria José Oliveira, se ela se atrevesse a escrever correCtamente a sua Língua Materna, isto quando a Lei Vigente obriga TODOS os Portugueses a escreverem de acordo com a Ortografia de 1945.
Respondi-lhe, mas não fui a única. Deixarei aqui alguns dos comentários que, então, ocorreram formular-se.
Exactamente, Pedro Henrique.
Eles valem-se do desconhecimento das pessoas quanto à inexistência de uma Lei que obrigue a escrever incorrectamente a Língua Portuguesa, em Portugal, para os penalizar, os assustar, os chantagear.
Quando TODOS souberem que NÃO são obrigados a aplicar o AO90, é meio caminho andado para o AO90 se pôr a andar para o caixote do lixo, e todos aqueles que exerceram cargos de Poder e, acintosamente, permitiram que a Língua Portuguesa, aquela que nos identifica, enquanto POVO, andasse por aí a ser destruída por gente IGNORANTE e POUCO INTELIGENTE, terão de prestar contas aos Portugueses, pelos graves danos causados (embora não irreversíveis) principalmente às crianças e jovens, que andaram a ser vergonhosamente enganados, andaram a levar gato por lebre.
A Inteligência positiva devia ser um requisito, para se poder entrar na Política, porque o exercício da política sem inteligência é o maior desastre que pode acontecer a um país.
Isabel A. Ferreira
Os comentários acima referidos, entre outros, podem ser consultados neste link:
«Parece à primeira vista que devia escrever-se absolutamente como se fala. Isto pode fazer-se, e certamente se faz, com um dialecto modesto e inculto. Com uma língua nacional, de longa tradição literária, e de fonética difícil, como a nossa, é impossível, porque se deve ter em conta a literatura antiga, e porque cada localidade fala de seu modo.» (José Leite de Vasconcelos 1858-1941, Linguista, Filólogo e Arqueólogo, in Lições de Filologia Portuguesa, 1911)
«Eu sou totalmente contra [o Acordo Ortográfico]. Radicalmente contra. É a mesma coisa que matar a árvore: cortando a raiz dela, a árvore não existe mais.» (Ivan Lins, Músico brasileiro)
Na linha do Em Defesa da Ortografia de Outubro, continuamos hoje a divulgar alguns autores que, querendo (e crendo) usar o AO90, fazem uso de uma ortografia mista, com termos da ortografia de 1945 a par de termos da nova ortografia. É, pois, uma salgalhada que apenas serve a manutenção do caos ortográfico e a persistência de dúvidas no espírito dos leitores.
Vejamos, então, mais alguns dos que, por ingenuidade, conivência ou distracção, caíram nas lérias dos bonzos do AO90:
- Pedro Cegonho, deputado, praticamente só respeita a Base IV, escrevendo o nome dos meses com maiúscula (Março, Abril, Maio, Junho…), mas objetivos, adotados, atividade, eletrónicas, setor e o omnipresente contato, que contagiou de forma avassaladora e imparável a escrita de muitos acordistas;
- Daniel Adrião, político, é mais parco na utilização do AO90, pois limita-se a escrever objetivo, respeitando a Base IV, mas desrespeita-a logo de seguida em activos, recta e perspectivar. Este escrevente da língua usa ainda Abril, demo-liberal, e mão-de-obra, não cumprindo o estipulado pelas Bases XIX e XV, respectivamente;
- A Academia Cabo-Verdiana de Letras, de um país que ratificou o AO90, mas onde o crioulo é a língua oficial, redige em maiúscula, por vezes, os nomes dos meses (Fevereiro e Setembro), a par de activa, adoptiva, baptismo, director, efectivos, infanto-juvenil, inspecção e leccionou, não seguindo as Bases IV e XV, mas, por razões insondáveis e imperceptíveis, escreve atualidades, diretor, efetivos, eletrónico, exceto, objetivos, seleta, agosto e setembro;
- Inês de Sousa Real, no momento porta-voz do PAN, escreve actual, afectada, afectiva e excepcional, não respeitando a Base IV, a par de afetados (não, caro leitor, não são pessoas ou animais com aftas!), atividades e atuais, cumprindo agora o que estipula essa mesma base.
Quando confrontados com esta salgalhada, os defensores do AO90 e do caos ortográfico que este trouxe argumentam que sempre existiram erros. É verdade, caro leitor. O que eles não dizem é que os erros eram outros e muito menos graves que estes. Apetece fazer a pergunta, mais uma vez. Se é assim nas academias e nos meios letrados, como será nos cidadãos comuns?
«Acho o Acordo Ortográfico uma má ideia, e acho a ideia de acordo ortográfico ainda pior. Não sou dado a assinar abaixo-assinados, e devo ter assinado vários sobre o assunto. […] Há várias coisas que nem este nem nenhum acordo alguma vez fará: em primeiro lugar, não vai transformar o que se escreve em qualquer das variedades de português em coisas com sentido, e muito menos em coisas inteligentes; em segundo lugar, não vai tornar mais compreensível a um brasileiro os barulhos linguísticos que se fazem em Portugal; em terceiro lugar, não vai criar nenhum mercado único para coisa nenhuma e muito menos para livros; em quarto lugar, não vai transformar o português naquilo que nunca foi, a saber, uma língua mundial.» (Miguel Támen, Escritor e Professor Catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
João Esperança Barroca
Um texto publicado no Jornal Diário de Notícias.
António Araújo é um historiador que escreve de acordo com a Ortografia de 1945, aquela que, de facto, está em vigor, em Portugal.
Sobre o AO90 diz António Araújo, no último parágrafo do seu texto:
«A terminar, e já que falámos de literatura e política, talvez fosse bom repensar de vez o calamitoso Acordo Ortográfico de 1990. Sobretudo, termos presente que, num balanço global, o AO90 não contribuiu em nada, absolutamente em nada, para melhorar as relações culturais entre Portugal e Brasil, as quais, por razões de vária ordem, foram muito mais pujantes em tempos idos - nos anos 1940, 1950, 1960 - do que no presente democrático. Entre outros exemplos, o que se passa no domínio do livro é inconcebível, com os editores portugueses a terem de enfrentar mil e um proteccionismos para, em raros casos, conseguirem colocar os seus livros nas terras de Vera Cruz. De lá para cá sucede o mesmo e, pasme-se, chega a ser mais fácil importar uma obra inglesa ou americana através da Amazon do que mandar vir um livro de uma editora do Rio ou de São Paulo. De que nos serve um acordo ortográfico se depois não podemos comunicar? Faz isto sentido? Que palermice pegada.»
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De facto, de que nos serve um acordo ortográfico, que apenas os muito ignorantes servilistas portugueses aplicam? É de facto, uma palermice pegada!
O texto de António Araújo, que recomendo vivamente, pode ser consultado neste link:
Isabel A. Ferreira
Repescando um actualíssimo texto de 2016, da autoria de João Pedro Forjaz Secca
Porque é preciso não deixar morrer a fogueira onde há-de ser queimado o AO90.
Bem sei que o tempo é de combate à Covid-19, e a todas as outras doenças que estão em banho-maria, morrendo-se mais por estas do que por aquelas.
Mas dizem-nos que a vida tem de continuar…
E da nossa vida também faz parte a nossa Língua, cada vez mais esmagada pelo AO90, pela ignorância dos que a escrevem mal, e pela indiferença dos governantes portugueses, que assobiam para o lado, como se nada tivessem a ver com isto. O que vale é que nenhum deles será candidato a nome de ruas ou a ser perpetuado em estátuas. Podem crer.
Isabel A. Ferreira
Origem da imagem (adaptada): http://pt.slideshare.net/galegaencarnada/recepo-alunos-prescolar
Por João Pedro Forjaz Secca
«Resolvi escrever um texto com as razões da minha discordância quanto ao famigerado AO90. Aqui fica:
Alguns argumentos contra o AO90
Infelizmente, deparamo-nos hoje com uma ortografia mutilada que não respeita a etimologia nem a fonética, já que as ditas consoantes mudas também lá estavam para abrirem a vogal precedente...
Este "aborto" ortográfico é baseado numa mentira - a da unificação da ortografia. De facto, que unificação é essa, se antes do AO a palavra "recepção", por exemplo, se escrevia do mesmo modo em Portugal e no Brasil e, após o acordo se escreve de modo diferente??? (e há muitos exemplos como este...). O critério fonético não pode servir de norma ortográfica, devido às variações regionais de pronúncia - senão a palavra "vaca" teria que ser escrita de modo diferente em Lisboa e no Porto, a palavra "assim" teria a grafia "achim" em Viseu, e a palavra "consciência" seria grafada "conciência" na Covilhã.
Ou então passamos a retirar também o H de homem, hoje, hospital, etc. ... O argumento da simplificação da escrita para facilitar a aprendizagem é absurdo. Como é que as criancinhas inglesas, coitadas, aprendem a escrever inglês, com aqueles F's e PH's e mais não sei quantas consoantes mudas...? Tudo isto me faz lembrar a "novilíngua" do romance de George Orwell, "1984", em que a língua vai sendo simplificada para se ir progressivamente dominando a população pela redução à estupidez. É preciso não esquecer que pensamos por associação de palavras e que a possibilidade de nos remetermos ao étimo é fundamental para uma correcta compreensão e elaboração de conceitos.
E o que este AO faz é ignorar completamente as questões etimológicas. É um absurdo, elaborado por um grupo de linguistas que teria na sua agenda interesses económicos (Malaca Casteleiro e Antônio Houaiss) para a venda de livros e dicionários em ambos os lados do Atlântico, e cujas consequências da aplicação resultaram num total caos ortográfico, como se pode ver pelas notas de rodapé que aparecem na tv, cheias de gralhas, e até no Diário da República, em que começam a desaparecer consoantes que nem com o infame AO teriam desaparecido - com "fato" por facto, ou "contato" por contacto... (também há o episódio de uma edição recente de um livro do Saramago, já com o AO, em que uma personagem aparece como tendo feito um "pato" com o diabo...)
As modificações ortográficas da reforma ortográfica de 1945 foram feitas por gente muito mais inteligente do que este grupo do Malaca Casteleiro. É preciso também não esquecer quais as tristes figuras políticas que foram responsáveis pela aplicação apressada do "aborto" - Santana Lopes, Cavaco Silva e, mais tarde, José Sócrates - tudo gente que não prima, propriamente, pela cultura que possui... Mais de 80% dos nossos linguistas e escritores são, obviamente, contra este atabalhoado AO90 (que até os próprios proponentes começam a reconhecer que apresenta muitas falhas).
Mais alguns argumentos:
- o absurdo de haver palavras que, por pertencerem à mesma família semântica e, consequentemente, deverem apresentar grafias concordantes, agora aparecerem escritas de modo diferente, como "Egito"/egípcio e "ótico"/optometrista (...e com os medicamentos que agora aparecem designados como soluções "óticas" ficamos sem saber se é para pôr as gotas nos olhos ou nos ouvidos... na dúvida coloque no nariz!).
Se atentarmos ao rigor científico, temos de concluir que este AO é uma desgraça. E quanto ao critério fonético, há tanta gente que pronuncia o P de Egipto...! Quem é que decide como é que a palavra se pronuncia? Essa história de as letras desaparecerem porque não se pronunciam... há muita gente que não pronuncia e muita gente que pronuncia as tais letras!
- o manual de Ciências Naturais do 9º ano da Porto Editora, Cientic, fala em doenças "infeciosas"... só muito raramente se ouve alguém pronunciar a palavra como "inféSSiosas", sendo a pronúncia habitual "inféQsiosas". Escrevi para lá (linhaderigor@portoeditora.pt) e responderam-me dizendo que é um caso de dupla grafia e que "na pronúncia comum da palavra na variante europeia do português a consoante é muda" (o que é totalmente falso...). Esta história das duplas grafias, ou das facultatividades, só veio aumentar, e muito, a confusão generalizada e tornar mais difícil a aprendizagem do português pelas crianças. Já havia, claro, algumas duplas grafias, anteriormente, como ouro/oiro e touro/toiro. Mas não era necessário introduzir mais outras tantas!
- a duplicidade de sentido que aparece em palavras que antes eram objectivas e inequívocas e agora passam a ser dúbias, como "espetador" (ficamos sem saber se estamos em presença de um espectador ou de alguém que espeta coisas, como um toureiro) e "detetar" (referem-se ao verbo detectar ou ao acto de tirar a teta ?). Ou, em vez de recepção, "receção", em que a tendência natural é para lê-la como "recessão"...
Finalmente, há ainda a considerar que o AO90 é ilegal e inconstitucional, já que não foi ratificado por todos os países proponentese "o governo não cumpriu os passos processuais que a sua aplicação implicava". Quanto a este ponto, têm toda uma argumentação muito bem fundamentada no livro: "O Acordo Ortográfico de 1990 não está em vigor", com o subtítulo "Prepotências do Governo de José Sócrates e do Presidente Cavaco Silva", do Embaixador Carlos Fernandes (Ed. Guerra e Paz, 2016).
Um dos argumentos disparatados dos defensores do acordo é que a língua tem que evoluir. Então, em vez de deixá-la evoluir naturalmente, toca a forçar a sua "evolução a todo o custo"! É o mesmo que um evolucionista querer provocar a evolução de seres vivos colocando-os em contacto com as radiações de Tchernobyl ou de Fukushima, para alterar o seu DNA... E depois dizer: "Mas os seres vivos têm que evoluir"...
Em jeito de conclusão deixo-vos três perguntas:
1 - Este AO era necessário? Não. Os vários países do mundo em que se fala inglês, francês, espanhol ou árabe nunca fizeram acordo algum entre si e, apesar das variantes regionais que cada um destes idiomas apresenta, entendem-se todos muito bem a nível linguístico.
2 - Este AO serviu para alguma coisa? Não. Absolutamente nada! Continuamos, e continuaremos, a escrever de modo diferente em Portugal e no Brasil, havendo até várias palavras que antes se escreviam do mesmo modo, como "recepção" e que agora têm grafias diferentes cá e lá. E continuarão a existir sempre enormes diferenças de vocabulário e de construção frásica entre o português de Portugal e o português do Brasil que nenhum acordo poderá jamais resolver (a não ser que o secreto objectivo por trás disto tudo seja mesmo ir transformando, aos poucos, o nosso português em brasileiro...).
3 - Trouxe vantagens? Foi positivo? Nem um pouco! Nunca se escreveu tão mal e com tantos erros ortográficos como actualmente, após a aplicação do AO (que ainda por cima, como já referi anteriormente, é ilegal e inconstitucional).
É por estas e por outras que eu me recuso, terminantemente, a escrever em acordês (prefiro o português)...»
Fonte: https://www.facebook.com/joao.secca/posts/10206780174495385
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