Quinta-feira, 9 de Janeiro de 2025

Ainda a propósito da trasladação dos restos mortais de Eça de Queiroz, para o Panteão Nacional, um texto de boa prosa do seu bisneto, António Eça de Queiroz, que explica os contornos desta atitude política que nada teve com honras de Estado...

 

(Texto publicado no JN em 22/04/2023)

 

Panteão de Eça.PNG

 

O “VENCIDO DA MORTE” (farsa em três actos)

 

por António Eça de Queiroz

 

Devo iniciar este desabafo com uma declaração íntima: preferiria nunca ter escrito este texto: sempre fui amigo dos familiares aqui envolvidos, e sempre defendi a Fundação Eça de Queiroz (FEQ) dentro das minhas possibilidades. Mas, na verdade, fui sempre contra a trasladação dos restos mortais do escritor, meu bisavô, para o Panteão Nacional – desde o dia em que esta me foi comunicada como facto a consumar.

 

Três razões me levam a ser contra aquilo que considero uma farsa político-cultural: uma é de ordem técnica, outra de ordem, digamos, filosófica, e, por fim, uma de ordem prática.

 

A razão técnica refere-se ao exercício do facto consumado, pois a FEQ decidiu tudo sem perguntar nada a ninguém. Tal exigência formal ficou-se pela informação. Ora tanto quanto sei a Fundação não é, nem remotamente, dona de cadáver nenhum. Foi dito que a petição velozmente apresentada pelo então deputado e ex-presidente da Câmara de Baião, José Luís Carneiro, à Assembleia da República, tinha sido requerida pelos representantes da família de Eça de Queiroz – o que é falso, pois nem o meu primo Afonso Eça de Queiroz Cabral, nem o seu filho, e menos ainda a FEQ, representam a família, que é constituída por vinte e dois bisnetos do escritor ainda vivos e com filhos, de que o meu irmão mais velho, José Maria, é o decano.

 

Seguidamente vem a questão filosófica – a mais importante no que se refere às “Honras de Estado” que é suposto a “cerimónia” inscrever. Sejamos um pouco empáticos com o escritor falecido há quase 122 anos – embora empatia a respeito dumas vetustas ossadas só pareça possível na mente desse urbano enfastiado que Eça enjaulou no corpo de Jacinto. Depois de dizer cobras e lagartos dos políticos portugueses, de escaqueirar várias governanças, de ridicularizar o grosso das instituições do Estado, que prazer sentiria agora ele ao ser instado a remover os próprios ossos do cemitério onde jazia finalmente em paz, ao lado da sua filha mais velha, bem perto da sua surrealística “Tormes”, para ir aturar o papaguear duns neo-Abranhos, dúzias de neo-Acácios e no mínimo trinta neo-Pachecos? Mais a fanfarra da Armada, um provável bispo e os sineiros da República? Alguém no seu perfeito juízo pensa que a modéstia pública do escritor apreciaria tamanha parolada? Pode-se dizer que os políticos de hoje não são os mesmos que Eça conheceu, que até mudam de meias todos os dias e por aí fora – além das raras excepções que nunca entrariam neste rol, ontem como hoje. Mas que diria ele dos compadrios político-bancários, das cunhas atomizadas, das trapalhadas aero-marítimas, da venda do país a retalho?… Não, não é o escritor quem vai ser honrado pelo Estado. É o Estado que inchará de orgulho pelo brilhante troféu – como o milionário que comprou uma cabeça de leopardo e a pendura agora na sala, por cima da lareira, para depois poder contar aos seus convivas de ocasião, entre charutos e conhaques, “a tremenda luta” que lhe dera a terrível fera, “onde quase morri!”.

 

Este troféu não será certamente pendurado por cima de um qualquer fogão de sala, mas no currículo político de alguém terá lugar certo – e assim será utilizado.

 

Finalmente, a natureza prática das coisas. Alguém irá a Santa Engrácia visitar as ossadas de Eça? Não, pois elas estarão num escondido “ossário de adidos”. E se em vez desta farsa tivessem decido colocar lá a magnífica escultura de Teixeira Lopes, hoje semi-perdida num tal Museu da Cidade que poucos visitam? Dariam destaque a dois génios, e o monumento seria certamente objecto de muitas e interessantes visitas de estudo. Que razão terá levado os familiares de Zeca Afonso e de Salgueiro Maia a enjeitar as ditas “Honras de Estado”? É simples: porque não quiseram misturar alhos com bugalhos cerimoniosos. Qual a razão para que a família de Aristides de Sousa Mendes tenha aceitado tais honras, mas sem a remoção dos restos mortais do justamente célebre cônsul, trocando-os por um funcional cenotáfio alusivo? Porque esses mesmo restos mortais representam um núcleo polarizador para os visitantes da sua futura casa-museu em Cabanas de Viriato e uma mais-valia para os seus habitantes. Parece que alguém se esqueceu disso na FEQ – ou isso ou outra coisa qualquer…»

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 17:43

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Quarta-feira, 8 de Janeiro de 2025

Eça de Queiroz no Panteão: a maior e melhor homenagem que poderiam ter feito ao Escritor era ter atirado ao lixo o AO90, que veio desonrar a Língua Portuguesa, que ele tão bem soube honrar, e que os políticos que o “homenagearam” tanto desprezam

 

E esta foi a hipocrisia nº 1.

08 de Janeiro de 2025

Apesar de toda a pompa e circunstância da cerimónia da trasladação dos restos mortais de Eça de Queiroz, para a Igreja de Santa Engrácia, famosa pela morosidade da sua construção (400 anos), hoje transformada em Panteão Nacional, reinou ali muita hipocrisia.

 

Estive a assistir a toda a cerimónia, e pensei no que estaria a pensar Eça, lá nos confins da Eternidade, ao ouvir os discursos, nomeadamente o do Presidente da Assembleia da República, José Aguiar-Branco, o do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o de Carlos Reis, o acordista que levou o desprestígio à Universidade de Coimbra, ao introduzir-lhe a ilegal e inconstitucional ortografia alienígena (AO90).

O elogio fúnebre, que esteve a cargo do escritor Afonso Reis Cabral, trineto de Eça e presidente da Fundação com o nome do seu trisavô, foi o que tinha de ser: um elogio bem elaborado.

Porém, se Eça pudesse descer das alturas e participar naquela cerimónia, onde se ouviu dizer “convidadas e convidados”, “deputadas e deputados”, entre outros que tais despropósitos, naquele tipo de linguagem que, pretendendo ser inclusiva, é exclusiva de quem não tem a noção do que diz, Eça subiria ao púlpito e repetiria as palavras proferidas em 1867, as quais estão actualíssimas, e encaixam-se perfeitamente no espírito daquela cerimónia, que Eça rejeitaria com grande alarido:

Eça de Queiroz.png

 

Hipocrisia nº 2.

Já vi, por aí, a obra de Eça de Queiroz escrita na ortografia alienígena (AO90), que ele jamais aceitaria, e dela diria os mais vigorosos impropérios.

 

É uma hipocrisia estarem a prestar homenagens a Eça de Queiroz, e depois desonrarem a sua escrita, com uma ortografia mutilada, deslusitanizada, truncada, desfeada, que nada tem a ver com Portugal e com as pérolas que Eça deixou na sua Obra.


Se ele pudesse descer à Terra, hoje, e acompanhar o seu cortejo fúnebre, debaixo de um temporal (também os céus se abriram às lágrimas!) até ao Panteão Nacional, e ver o que viu e ouvir o que ouviu, não temos a menor dúvida de que as autoridades ali presentes, PR, PAR, PM e deputados da Nação não teriam motivo algum para se vangloriarem da homenagem que pretenderam prestar-lhe, porque ele questionar-lhes-ia «estando o país a ser governado ao acaso, por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será ainda possível conservar a sua independência»?

Ouvir-se-ia, então, um coro de vozes a gritar um sonoro NÃO, e entre elas estaria a minha voz.


Isabel A. Ferreira

***


Para quem estiver interessado:

- Ver aqui e aqui a opinião de João-Afonso, sobre esta temática

- Ver aqui a cerimónia

- Ver  aqui os argumentos de alguns dos bisnetos de Eça, contra esta trasladação

- Ver aqui  a Manifestação de Indignação em Baião, por roubarem os restos mortais de Eça, do túmulo onde o Escritor repousava junta da sua filha Maria.

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 18:31

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Sábado, 4 de Novembro de 2023

«Carta Aberta aos Queirozianos, e não só...», assinada por seis dos bisnetos de Eça de Queiroz, a propósito da trasladação dos restos mortais do seu bisavô para o Panteão Nacional

 

Os mortos têm o direito a ser respeitados, e os vivos têm o dever de fazer valer esse direito.

 

Os fundamentos apresentados nesta Carta Aberta, assinada pelos seis bisnetos do também nosso Eça, deveria ser suficiente para ganharem esta causa, que também é minha e dos milhares de Queirozianos espalhados pelo mundo.


É que Eça de Queiroz repousa ao lado da sua filha Maria, no cemitério de Santa Cruz do Douro, um lugar que era da sua predilecção, longe do fausto de um monumento, longe do ruído de multidões, perto daquela quietude, daquele silêncio e daquela paz que, ao morrer, todos almejam.

 

É inaceitável que, passados tantos anos (123) os restos mortais de Eça de Queiroz tenham de andar em bolandas, apenas por caprichos de quem nunca leu, ou não leu com olhos de ler, a sua obra, e nela viu o quanto o Panteão Nacional está longe de ser o lugar que o Escritor escolhesse para o seu repouso eterno.

 

Eis os argumentos dos seis bisnetos que contestam a trasladação do bisavô, para o Panteão, baseados na realidade e não em vontades, os quais deviam ser levados em conta, para que Eça de Queiroz não seja forçado a ir para onde nunca desejaria ir, se, lá do além, pudesse dizer de sua justiça, ou se tal não ficasse bem patente na sua obra.

 

Cabe aos vivos ter esse discernimento.

 

Isabel A. Ferreira

 

Retrato de Eça de Queiroz.PNG

 

«Carta Aberta aos Queirozianos, e não só...»

 

JM d'Eça de Queiroz

 

Nas vésperas da entrada no Supremo Tribunal administrativo do recurso interposto pelos bisnetos que se opõem à trasladação dos restos mortais de Eça de Queiroz, divulgam os mesmos uma "Carta aberta a Queirosianos, e não só..."

 

É um documento extenso, mas que explica todos os meandros desta polémica...

 

Mais de 123 anos após a sua morte, José Maria Eça de Queiroz, nosso bisavô, volta a ser incomodado no seu eterno descanso. Tendo este facto gerado polémica inesperada, pontuada por desinformação, alguns destratos e até referências caluniosas, a nosso ver escusadas e que apenas ficam com quem as fez.

 

Sobre isto cumpre-nos esclarecer alguns pontos importantes, mas pouco abordados.

 

Em 1⁰ lugar é preciso esclarecer de que a Fundação Eça de Queiroz (FEQ), sediada no Concelho de Baião, não representa nem nunca representou a família do escritor, sendo uma sociedade de direito privado conjunturalmente presidida por um trisneto de Eça a quem não compete sequer pronunciar-se sobre o assunto à luz da lei vigente. Fica pois claro que a FEQ não tem direitos de representação da família nem sobre os restos mortais do escritor que está enterrado junto à sua filha no cemitério de Santa Cruz do Douro – e de que a Fundação é apenas fiel-depositária.

 

Como é sabido, Eça de Queiroz morreu em Paris em 1900. Foi trasladado para Portugal onde ficou depositado no jazigo da família Rezende – família da sua mulher – aguardando a decisão de sua viúva sobre o local definitivo que seria a sua última morada.

 

Passou-se o tempo, a nossa bisavó morreu, e os filhos aceitaram que as coisas ficassem como estavam.

 

Em 1989, por razões que não nos dizem respeito, a família foi Informada pela Câmara de Lisboa de que o jazigo ia mudar de mãos, e onde se perguntava também que destino iriam ter os restos mortais do nosso antepassado.

 

Nessa altura, foram consultadas as netas sobrevivas, e oficiosamente o então Presidente da República Dr. Mário Soares , perguntou se aceitariam a trasladação para o Panteão Nacional – eram pois as herdeiras mais próximas – e por unanimidade a sugestão foi recusada, tendo então o corpo sido enviado para o cemitério de Santa Cruz do Douro, Concelho de Baião junto à quinta que Eça mitificou no seu romance “A Cidade E As Serras”, pelo que se pensou que o assunto tinha ficado resolvido por quem de direito e que não iria ressurgir inopinadamente mais de 30 anos depois.

 

A Fundação foi criada por Maria da Graça Salema de Castro, viúva de Manuel Pedro Benedito de Castro, neto de Eça, que cedeu a casa e toda a propriedade à FEQ, assumindo-se compreensivelmente como Presidente vitalícia, pois tratava-se da casa onde residia desde que casara. E assim, durante mais de 30 anos, Eça repousou sossegado nesse bonito lugar, pois todos sabiam que D. Maria da Graça jamais patrocinaria a sua trasladação.

 

Com a sua morte, em 2015, as coisas mudaram, e com a conivência do actual Ministro José Luís Carneiro, então Presidente da Camara Municipal de Baião, membro por inerência do Conselho de Administração da FEQ e de malas feitas para ocupar importante cargo partidário em Lisboa, a Fundação propôs à Assembleia da República a atribuição de honras de Panteão a Eça de Queiroz. Proposta esta que não tinha a competência legal para apresentar, pelo que o Parlamento votou algo que não estava de acordo com a lei e que nos soou a pagamento de favores – o que, a ser verdade, seria inqualificável.

 

Este é um relato factual, facilmente confirmável pelos factos dados à estampa pela imprensa de 1989.

 

Poderá perpassar pela ideia de alguém de que esta polémica não passa de uma mera querela familiar, mas na realidade é muito mais do que isso. Trata-se de uma questão de fundo que representa um aproveitamento político para nós intolerável, tal como o facto de alguns bisnetos considerarem mais importantes as suas ambições pessoais do que a memória do seu bisavô, que com esta trasladação, seria enterrado pela 4ª vez nos últimos 123 anos.

 

Terminamos afirmando que nos sentimos orgulhosos com as honras de Panteão Nacional, seja através de lápide ou cenotáfio, desde que não envolvam de forma alguma a saída dos restos mortais do escritor de Santa Cruz do Douro.

 

Como sempre o dissemos, a obra de Eça de Queiroz pertence aos Portugueses, mas não os seus restos mortais.

 

Não nos movem quaisquer intenções que não sejam respeitar o que resta do Homem, e dado que nada disto é uma Sociedade Anónima, tudo o que seja contrário ao seu pensamento e escritos consistirá numa irreparável ofensa à sua memória.

 

Assinam:

 

José Maria Eça de Queiroz

Francisco de Paula Queiroz de Andrada

António Benedito Afonso Eça de Queiroz

Maria Teresa Eça de Queiroz Cortez

Isabel Maria Afonso Eça de Queiroz

Ana Leonor Queiroz de Andrada

 

Fonte: https://www.facebook.com/antonio.ecadequeiroz

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:01

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Terça-feira, 26 de Setembro de 2023

Transladação de Eça de Queiroz para o Panteão Nacional ou a vingança dos que exercem a «Política de Interesse» tão sabiamente descrita pelo escritor...

 

Esta ideia peregrina da transladação foi aprovada por unanimidade em plenário da Assembleia da República, em 15 de Janeiro de 2021. A iniciativa foi da Fundação Eça de Queiroz, presidida por Afonso Reis Cabral, trineto (e não bisneto do autor, como vem referido no jornal Expresso) e impulsionada pelo grupo parlamentar do PS.

 

É vergonhoso o que está a passar-se. Dá-me a sensação de que será uma vingança pelas críticas ferozes que Eça fazia aos que queriam, podiam e mandavam, no seu tempo, e em tempos mais antigos, ou melhor, desde sempre, porque o Poder sempre foi pernicioso. E perniciosa foi a ideia do grupo parlamentar do PS, aceder a Afonso Reis Cabral.

 

Alio-me aos seis bisnetos de Eça de Queiroz, que se opuseram à transladação do corpo do escritor para o Panteão Nacional, prevista para amanhã, mas adiada, devido ao tribunal, em cima da hora, não ter considerado a Providência Cautelar interposta por esses bisnetos, e não haver tempo para preparar as cerimónias.



Mas as coisas podem não ficar por aqui.
O povo de Baião também tem algo a dizer. Eça de Queiroz não pertence aos políticos, nem à política. Pertence à Nação. E a Nação somos todos nós.

Eça de Queiroz repousa no lugar da sua eleição.

 

A maior homenagem que os actuais políticos portugueses podem fazer a Eça de Queiroz é deixá-lo no lugar onde pertence, e PROIBIR que a sua obra seja conspurcada e reescrita na mixórdia ortográfica em que se transformou a Língua Portuguesa, da qual ele é um dos seus maiores estilistas. E já andam por aí umas publicações acordizadas da sua obra, que espero sejam atiradas ao lixo. Acordizar Eça é um crime de lesa-literatura, um insulto à sua memória, e retirá-lo da SUA Tormes é desenraizá-lo, literariamente falando. Ah! E começarem a escrever o seu nome correCtamente: Eça de Queiroz, e não, de Queirós, como ignorantemente se vê por aí.


E isto, sim, seria a maior homenagem que os actuais políticos poderiam prestar ao autor de “A Cidade e as Serras”.

O texto que se segue, atribuído a Eça de Queiroz, data de 1867, e o que mais sobressai deste texto é que ele poderia ter sido escrito hoje, dia 26 de Setembro de 2023.

 

«Política de Interesse»

 

Em Portugal não há ciência de governar nem há ciência de organizar oposição. Falta igualmente a aptidão, e o engenho, e o bom senso, e a moralidade, nestes dois factos que constituem o movimento político das nações.


A ciência de governar é neste país uma habilidade, uma rotina de acaso, diversamente influenciada pela paixão, pela inveja, pela intriga, pela vaidade, pela frivolidade e pelo interesse.


A política é uma arma, em todos os pontos revolta pelas vontades contraditórias; ali dominam as más paixões; ali luta-se pela avidez do ganho ou pelo gozo da vaidade; ali há a postergação dos princípios e o desprezo dos sentimentos; ali há a abdicação de tudo o que o homem tem na alma de nobre, de generoso, de grande, de racional e de justo; em volta daquela arena enxameiam os aventureiros inteligentes, os grandes vaidosos, os especuladores ásperos; há a tristeza e a miséria; dentro há a corrupção, o patrono, o privilégio. A refrega é dura; combate-se, atraiçoa-se, brada-se, foge-se, destrói-se, corrompe-se. Todos os desperdícios, todas as violências, todas as indignidades se entrechocam ali com dor e com raiva.


À escalada sobem todos os homens inteligentes, nervosos, ambiciosos (...) todos querem penetrar na arena, ambiciosos dos espectáculos cortesãos, ávidos de consideração e de dinheiro, insaciáveis dos gozos da vaidade.

Eça de Queiroz, in 'Distrito de Évora (1867)»

Fonte: https://www.citador.pt/textos/politica-de-interesse-eca-de-queiros

 

EÇA.jpeg

Eça de Queiroz.png

Esta é uma das imagens que as pessoas vêem, logo que ultrapassam a porta de entrada da minha casa. Esta é a minha homenagem ao escritor que nunca se curvou à mediocridade dos políticos. E essa foi uma das grandes lições que aprendi com Eça de Queiroz...

Isabel A. Ferreira

 

Susana Leite.png

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 17:06

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Terça-feira, 19 de Outubro de 2021

Desde “daqueles e daquelas”, passando por “todos e todas”, até a um sonoro “eu adoro você”, Marcelo Rebelo de Sousa esteve no seu pior, em Português

 

Eu nem sei como hei-de começar a contar isto.  Não é que eu tivesse motivos para me surpreender. Não tinha. Contudo, dada a natureza da cerimónia de homenagem a Aristides de Sousa Mendes, no Panteão Nacional, esperava que ali, diante de uma plateia de notáveis, e sendo a cerimónia algo solene, Marcelo Rebelo de Sousa, representando a República Portuguesa, tivesse o cuidado de discursar num Português escorreito. Mas não foi o caso.

 

Aristides S Mendes.png

A cerimónia desta homenagem, à qual assisti via TV, e cuja notícia pode ser consultada aqui:

https://www.dn.pt/politica/aristides-67-anos-depois-da-morte-a-homenagem-do-estado-portugues-14233904.html

decorreu com a sobriedade esperada. A encerrar, Marcelo discursou. E no meio do discurso, não é que se ouve falar “daqueles e daquelas” e, mais adiante, de “todos e todas”, (**) como se isto fosse linguagem adequada a um presidente da República, que tem o dever de se exprimir na Língua Oficial do País, e não num modismo linguístico, que não passa disso mesmo: um modismo inventado por uma esquerda ignorante, para elevar a mulher ao nível dos homens? Vá lá que quando se dirigiu aos Portugueses, dirigiu-se aos Portugueses (= POVO lusitano, POVO natural de Portugal), e não aos Portugueses e Portuguesas, como por vezes se ouve por aí, o que seria (e é) um grande disparate!

 

Mas o mais pernicioso ainda estava por vir.

 

Fui ouvir as notícias da uma. Ao almoço vejo a SIC. E numa reportagem em que Marcelo visita um sem-abrigo, já seu conhecido, lancha com ele e recebe um molho de couves, na despedida, Marcelo, no estilo brasileiro, algo que não me foi estranho, por não ser a primeira vez que brazucou,  diz, dando-lhe um abraço: «EU ADORO VOCÊ».

 

E andamos nós aqui a tentar que Marcelo Rebelo de Sousa, como presidente da República Portuguesa, e como é do seu DEVER, defenda a LÍNGUA PORTUGUESA.



Para quem não sabe:


(*) Daqueles = contracção da preposição de com o determinante ou pronome demonstrativo aqueles que, por sua vez significa pessoas, e pessoas são pessoas, criaturas humanas dos dois géneros: eles e elas.

(**) Todos = a humanidade; toda a gente. Todos os Portugueses (elas incluído) que constituem o POVO português.

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 17:49

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Domingo, 20 de Dezembro de 2020

«O grande Eça no Panteão Nacional?»

 

Subscrevo este texto de João-Afonso Machado, publicado no Blogue Corta-Fitas.

 

Por tudo o que conhecemos do carácter de Eça de Queiroz, ele jamais desejaria que a sua ossada repousasse no Panteão Nacional. Eça está acima dessa vã vaidade, além de que Tormes é o lugar ideal para acolher um corpo que deu guarida a um espírito que, se existisse nos dias de hoje, demoliria os que, para proveito político, pretendem desalojá-lo da paz da sua sepultura, varrida pelos ventos…

 

Contudo, como refere João-Afonso Machado, a derradeira palavra pertencerá à Família Eça de Queiroz.


 Isabel A. Ferreira

 

Eça de Queiroz.jpeg

 

Por João-Afonso Machado, em 19.12.20

 

«O grande Eça no Panteão Nacional?»

 

«Está na ordem do dia: os restos mortais de Eça de Queiroz, pretende o Governo de Costa trasladá-los para o chamado Panteão Nacional.

 

O grande Eça, caso não saibam - e muitos não saberão... - morreu em Neuilly, França, e foi o cabo dos trabalhos para o trazer para Portugal, onde foi sepultado nos Prazeres, Lisboa, e, posteriormente, levado para Tormes, em Santa Cruz do Douro.

 

Ali repousa na sua merecida paz, longe da política e de todos os Abranhos deste mundo.

 

Agora, manifesta o Governo a sua vontade em o levar para o Panteão Nacional. Onde jazem figuras várias, nenhuma com a sua visão da política, do mundo e da Arte. Aliás (sem procurar apoio historiográfico), arrisco dizer - quase todos os sepultos no dito Panteão, far-se-iam mais depressa em nada se Eça sobre eles escrevesse...

 

Eu suponho - e espero! - a derradeira palavra caiba à Família Eça de Queiroz. E contra a Família Eça de Queiroz, é óbvio nada tenho a contradizer. Tenho é algumas ideias na cabeça. Por exemplo:

 

- Os governantes da época de Eça não perderam muita atenção com a sua morte. Só devido aos esforços de alguns amigos dele, atribuiram uma "pensão de sobrevivência" (aliás, de extrema necessidade) à viúva,  a Senhora Dona Emília de Castro, e aos Filhos;

 

- Os ditos Filhos perderam essa pensão em virtude das suas convicções monárquicas, pelas quais se manifestaram nas "Incursões" de 1911-12;

 

- Eça, monárquico que foi, é lido da frente para trás, assim se esquecendo os seus romances A Cidade e as Serras, e A Ilustre Casa de Ramires, entre outros escritos do maior significado;

 

- Eça, confrontado com esta III República morreria do primeiro mal que lhe desse. Calcula-se que esse mal seria a própria enunciação do termo - "III República". É só imaginar o grande Eça em conversa com o Eduardo (Dâmaso) Cabrita;

 

- Pensando em As Farpas, Ramalho acompanhá-lo-ia, também, em tal desterro no Panteão. Mas Ramalho, politicamente, não é tão sonante. Mais a mais, sobreviveu à Monarquia e (in Últimas Farpas) escreveu - «A República continua dando ao mundo o mais inacreditável espectáculo - existe»...

Costa quer popularidade. Eça, que na História vai imenso mais além deste batoteiro, quer sossego. Está bem em Tormes, e recomenda-se. Por isso... Vamos todos zurzir bengaladas nestes Palmas Cavalões (e cavalonas...) da sacanice governamental. Pelo inesquecível e inigualável Eça de Queiroz.»

 

Fonte: 

https://corta-fitas.blogs.sapo.pt/o-grande-eca-no-panteao-nacional-7168155?view=35892891#t35892891

Nota: clicar no link para ler os comentários ao texto, porque vale a pena.

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:59

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Segunda-feira, 13 de Novembro de 2017

Um governo que não respeita a Língua (viva) oficial do País, como poderá respeitar o Lugar dos Mortos?

 

Eu não sabia que o Panteão Nacional, um lugar onde se honra a memória dos mortos, podia ser alugado para jantaradas. Não sabia.

 

Mas depois de saber, não me surpreendi, pois num país onde o seu maior símbolo de identidade - a Língua - é substituído pelo símbolo de identidade de uma ex-colónia, toda e qualquer vilania é expectável.

 

PANTEÃO.jpg

 

A polémica que se gerou ao redor do Panteão, nada tem a ver com o jantar da Web Summit, porque este foi apenas mais um, e o mais mediático.

O grande e grave problema é o Panteão Nacional, um lugar onde se recolhem os restos mortais dos mais ilustres portugueses, estar no rol dos lugares onde se pode comer, beber, cantar e brincar-se ao Harry Potter.

 

Aqui não interessa se no salão das jantaradas não existem restos mortais e só lá estão sarcófagos vazios.

 

O que aqui interessa é o Lugar onde se acolhem os Mortos, o Panteão Nacional, servir de palco para jantaradas.

 

António Costa, primeiro-ministro de Portugal, achou ofensivo e chocou-se com a realização do jantar da Web Summit no Panteão? Então e os outros jantares? Então e aquele jantar da Associação de Turismo de Lisboa, que o então autarca António Costa presidia?

 

Eu não sabia que se faziam jantaradas no Panteão. Mas isso sou eu, que não resido em Lisboa, não faço parte do governo, há coisas que às vezes me passam ao lado… Mas os governantes não sabiam? Antes da Web Summit outros jantares já lá se realizaram, e não sabiam? Logo no Panteão, cuja responsável é funcionária do Governo?

 

O que se passa no Panteão é um insulto à memória dos mortos que lá repousam.

 

Até agora, a única pessoa que pediu desculpa por esta ofensa, sem culpa alguma, foi o fundador da Web Summit, Paddy Cosgrave.

 

Senhor primeiro-ministro, tudo o que é agressão aos símbolos de Portugal ou à memória dos mortos, é ofensivo e choca os Portugueses.

 

Também é ofensivo para Portugal e choca os Portugueses a imposição da ortografia brasileira, defendida, com unhas e dentes, pelo ministro dos negócios dos estrangeiros, e não vejo nenhum governante português, incluindo o nosso tão prestimoso presidente da República, ofendidos e chocados com tal agressão à nossa identidade.

 

Sejam mais honestos e menos hipócritas!

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 17:36

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