«Com o novo Acordo Ortográfico, introduziu-se o caos: neste dicionário uma palavra tem "c", neste é dupla grafia, neste tem "p", neste não tem. As palavras em que se mexeu são palavras em que ninguém errava, e em que agora se erra. Temos ainda outro problema, que é haver palavras que estão a ser pronunciadas de outra forma porque perderam a consoante muda que guardava a vogal aberta. Há inúmeros exemplos na televisão e na rádio.»
Manuel Monteiro, escritor, tradutor e revisor, Página Um, 03-10-2024
«Há deputados incomodados com os silêncios de Lacerda Sales e de Rebelo de Sousa. Todavia, não vejo qualquer deputado incomodado com o permanente silêncio de quem escreveu “agora facto é igual a fato (de roupa)”. É silêncio antigo, mas sem referir razões. No entanto, aparentemente, não incomoda.»
Francisco Miguel Valada, Intérprete de Conferência, no blogue Aventar
«É incompreensível que um inglês leia Walter Scott ou Oscar Wilde na grafia original, o mesmo sucedendo a um francês em relação a Balzac ou Zola, um espanhol em relação a Pérez Galdós e um norte-americano em relação a Mark Twain, enquanto as obras de um Camilo ou um Eça de Queiroz já foram impressas em quatro diferentes grafias do nosso idioma.
As sucessivas reformas da ortografia portuguesa são um péssimo exemplo de intromissão do poder político numa área que devia ser reservada à comunidade científica.
Cada mudança de regime produziu uma "reforma ortográfica" em Portugal. Para efeitos que nada tinham a ver com o amor à língua portuguesa, antes pelo contrário.»
Pedro Correia, jornalista e autor no blogue Delito de Opinião
Nos últimos “Em Defesa da Ortografia LXXI”, alertámos para a afirmação de Pedro Correia, e de muitos outros, no programa “Prova Oral”, de que, hoje, sem recurso às múltiplas ferramentas tecnológicas, ninguém sabe aplicar devidamente o Acordo Ortográfico de 1990 (AO90).
Para provar a veracidade desta afirmação, leia-se, por exemplo, o artigo de opinião de Margarida Marrucho Mota Amador, Coach (seja lá o que isso for) e ex-directora do Colégio do Sagrado Coração de Maria e do Externato O Beiral em Lisboa, “A educação compensatória: gueto ou valorização”, publicado no jornal Público, em 4 de Julho do corrente ano.
A autora, como outros, afirma que toma a opção de escrever na nova ortografia e usa, por ordem alfabética, como se pode comprovar na imagem, retirada do blogue Tradutores Contra o Acordo Ortográfico os seguintes termos: ação, antevêem, características, expectativas, factores, objetivos, e projectos. Como se vê, Margarida Amador labora num erro, pois parece ter preferência por uma ortografia coerente e respeitadora da etimologia. Conviria, contudo, que alguém lhe chamasse a atenção, dizendo: Não, Margarida Amador, a senhora não utiliza a nova ortografia; utiliza, no geral, a ortografia de 1945, polvilhada de umas aberrações, à laia de enxertos, trazidas pelo AO90.
Continuando a pesquisa de aberrações que preenchem e preencheram a Comunicação Social, deparámos com os fatos e os contatos do costume, a que se junta a ficção, que abre a porta a outras aberrações como ficionar e ficionista, por exemplo:
Não era previsível, mas os EUA são um país grande, com alto nível de doenças mentais não tratadas, um número extraordinariamente grande de armas que são facilmente acessíveis e em meio a [sic] uma campanha eleitoral muito, muito polarizada, dramaticamente reforçada pelas redes sociais. Então, o fato de que um jovem de 20 anos poderia facilmente conseguir uma arma e tentar assassinar um dos candidatos nos Estados Unidos, dadas as condições, não deveria chocar ninguém. Não que seja previsível, mas não é chocante. Expresso, 22-07-2024
Como vê, caro leitor, nos sítios do costume, mora a ortografia do costume. Quase ninguém fala do elefante na sala, não é?
Se é assim na Comunicação Social, como será com o cidadão comum?
Ah, parece que cada vez há mais restaurantes especializados em espetadas ou existe um incremento de bandarilheiros na indústria tauromáquica.
Ah, a TVI 24 precisa de mais umas horitas para interiorizar as regras do AO90.
Ah, o Observador também tem, recorrentemente, umas saudáveis recaídas…
João Esperança Barroca
«Quando sai uma reforma dessas, jogam-se no lixo todos os livros didácticos, para fabricar e vender tudo de novo. É uma reforma supérflua e inútil, provavelmente interesseira. Nunca vi ninguém fazer isso com o inglês, por exemplo, que é cheio de consoantes e vogais que ninguém pronuncia e nem por isso é preciso fazer reformas ortográficas periódicas.»
Walnice Nogueira Galvão, Escritora e crítica literária brasileira
«E, no ano em que comemoramos um dos raros génios nacionais, Camões, continuamos indiferentes aos estragos que a nossa língua teve com o Acordo Ortográfico, que, para além do enorme desastre diplomático, só continua em vigor por pura inércia. Essa inércia é o retrato do patriotismo das nossas elites políticas, que estão todas a reler Os Maias, quando perguntadas sobre o que estão a ler, e que vão agora durante um ano buscar à Wikipédia umas frases de Camões, para parecer que ainda lhes importa a língua que ajudam a matar na sua ortografia todos os dias.»
José Pacheco Pereira, Professor, cronista e político no jornal Público em 06-07-2024
«Se existisse em Portugal uma verdadeira e informada opinião pública, já há muito teria causado escândalo a forma como cada vez há mais pessoas a pronunciarem palavras que não pronunciavam antes, por influência da má ortografia, que assim gera uma má pronúncia. Supostamente, o malfadado Acordo Ortográfico teria como objectivo aproximar a escrita da pronúncia. Agora, o Mr. Hyde (a má ortografia) destrói a própria pronúncia. Efeitos perversos, de que ninguém fala, quase ninguém… E muito menos discute a sério.»
Helena Carvalhão Buescu, Professora catedrática e emérita da Universidade de Lisboa e escritora
No “Em Defesa da Ortografia LXXI”, chamámos a atenção para a afirmação de Pedro Correia, e de muitos outros, no programa “Prova Oral”, de que, hoje, sem recurso a ferramentas tecnológicas, ninguém sabe aplicar devidamente o Acordo Ortográfico de 1990 (AO90).
A propósito desta afirmação, leia-se o artigo de opinião de Clara Não, ilustradora, ativista (seja lá o que isso for) e autora, “O cúmulo da desumanização e objetificação das mulheres: o concurso da Miss AI”, publicado no jornal Expresso, em 2 de Julho do corrente ano.
A autora opta por escrever na nova ortografia e presenteia-nos, por ordem alfabética, com os seguintes termos: afetam, atuais, autoestima, auto-estima, cor-de-rosa, direcionadas, diretamente, efetiva, espetáculo, objetificação e refletir. Como se vê, Clara Não tem uma clara opção pela ortografia das palavras decepadas. Conviria, contudo, que alguém alertasse: Não, Clara Não, a senhora não utiliza a nova ortografia; utiliza uma terceira, uma mixórdia, que é uma mistura da ortografia de 1945 com enxertos da de 1990.
Continuando a pesquisa de aberrações que enxameiam e enxamearam a Comunicação Social, deparámos com:
1.“O Ministério Público no STJ interveio na sessão para pedir a absolvição da juíza, tendo a procuradora-geral adjunta Odete Oliveira dito que as declarações de Isabel Magalhães vieram confirmar a sua convição na inocência da arguida.” Jornal I, 02-04-2014.
Como vê, caro leitor, nos sítios do costume, mora a ortografia do costume. Quase ninguém fala, não é?
Ah, parece que andam aí uns telescópios modernos…
Ah, o JN precisa de mais umas horitas para aplicar as regras da hifenização.
Ah, o Record também tem, recorrentemente, como na locução ponta-de-lança, umas saudáveis recaídas…
João Esperança Barroca
(Nota: este telescópio é para uso auditivo. Não esquecer.)
«"Acordo ortográfico" produz legiões de analfabetos funcionais», por Pedro Correia, no Blogue Delito de Opinião.
Muda o regime, muda a ortografia
Pedro Correia, 11.07.24
Certos leitores que pretendem fazer ironia com as orthographias antigas da língua portuguesa -- às vezes referindo-se a autores que publicaram há pouco mais de cem anos -- estão, no fundo, a produzir argumentos contra o "acordo ortográfico" e não a favor. Ao contrário do que supunham.
É incompreensível que um inglês leia Walter Scott ou Oscar Wilde na grafia original, o mesmo sucedendo a um francês em relação a Balzac ou Zola, um espanhol em relação a Pérez Galdós e um norte-americano em relação a Mark Twain, enquanto as obras de um Camilo ou um Eça de Queiroz já foram impressas em quatro diferentes grafias do nosso idioma.
As sucessivas reformas da ortografia portuguesa são um péssimo exemplo de intromissão do poder político numa área que devia ser reservada à comunidade científica.
Cada mudança de regime produziu uma "reforma ortográfica" em Portugal. Para efeitos que nada tinham a ver com o amor à língua portuguesa, antes pelo contrário.
Cada "reforma" foi-nos afastando da raiz original da palavra, ao contrário do que sucedeu com a esmagadora maioria das línguas europeias -- como o inglês, o francês, o alemão e em certa medida o espanhol. A pior de todas essas reformas foi a de 1990 que separa famílias lexicais, produzindo aberrações como «os egiptólogos que trabalham no Egito [sic] são quase todos egípcios», «sofre de epilepsia, é epilético [sic]» ou «uma característica dos portugueses é terem forte caráter [sic].»
Esta ruptura com a etimologia ocorre, convém sublinhar, num momento em que nunca foi tão generalizada a aprendizagem de línguas estrangeiras entre nós.
Assim, enquanto os políticos de turno pretendem impor a grafia "ator"[sic] à palavra actor, os portugueses continuarão a aprender "actor" em inglês, "acteur" em francês, "actor" em castelhano e "akteur" em alemão.
Não adianta deitar fora a etimologia pela porta: ela regressa sempre pela janela. Através de idiomas nunca sujeitos aos tratos de polé de "acordos ortográficos" destinados a produzir legiões de analfabetos funcionais.
Fonte:
https://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/muda-o-regime-muda-a-ortografia-17148675
[Sugestão da autora do Blogue: para complementar a leitura deste excelente textos, leiam também os comentários]
«Por vezes, os falantes de português de Portugal e de português do Brasil têm dificuldades em entender-se, mas é por razões de vocabulário e de sintaxe, não de ortografia. Nunca foi por uns escreverem “acção” e outros “ação”, mas pelo facto de uns chamarem “mesa-de-cabeceira” àquilo que outros chamam “criado-mudo”. Portanto, ir mexer na ortografia para resolver este problema, é como uma senhora ter a casa alagada pelos joelhos, começar a chorar, e chegar o prof. Malaca Casteleiro e dizer: “Minha senhora, não chore porque as lágrimas vão inundar a casa.”»
Ricardo Araújo Pereira, Humorista e cronista
«Nunca o permitirei, fica já aqui declarado. Nunca aceitarei este acordo. Óptimo sem “pê” não existe.»
Fausto, Cantor e compositor
«Todos se lembrarão que o dito foi imposto por decreto e depois à martelada […]. A caixa de Pandora foi aberta, para não dizer escancarada, e até os então mais ferozes defensores de Acordo Ortográfico refreiam os seus ímpetos inebriantes de modernidade contra o espartilho da ortografia. Os rodapés das televisões, os jornais, a publicidade, as páginas online, e até os livros tornaram-se uma floresta de horrores […]. Não seria com certeza preciso ser filólogo, bastaria uma réstia de bom senso, para se prever que decidir decapitar todas as consoantes mudas salvo o “h”, entregando em muitos casos a grafia à vontade do freguês, […] acabaria numa degola infernal, letras a rolar como cabeças no cadafalso […].»
Ana Cristina Leonardo, Tradutora, crítica literária e cronista
Continuando a mostrar o estado calamitoso a que chegou a ortografia, vejamos o que foi respigado numa breve incursão por alguns órgãos de comunicação social:
1 - “Eduardo Mauricio [sic] salientou que foram registadas, no processo de extradição, “diversas ofensas às garantias processuais, sobretudo ao devido processo legal, ampla defesa, contraditório, busca da verdade real dos fatos e descumprimento da Lei”, tendo o seu cliente sido “julgado e condenado no Egito à revelia e sem nunca ter sido notificado formalmente de nenhum ato processual”. Expresso, 28-06-2024. (O Egipto a quem decapitaram o pê, o que já levou à criação do aberrante termo egício, o ato, que parece uma forma do verbo atar e a cereja no cimo do bolo, os omnipresentes fatos, que, na maior parte das vezes, não servem para vestir, nem para doar a gente carenciada).
2 - “Em 2023, recebemos diversos contatos [sic] e mensagens de moradores com queixas relacionadas com o ruído provocado pelas novas esplanadas, incluindo muitas vezes já depois da sua hora de encerramento, com o aglomerado de pessoas que ali permaneciam até de madrugada, refere, em comunicado, a junta liderada por Madalena Natividade. Um argumento que tanto Ricardo Maneira como Miguel Leal afirmam estar a ouvir pela primeira vez.” Expresso, 27-06-2024. Os omnipresentes contatos, de que dificilmente nos livraremos, numa notícia do jornal Expresso, transcrevendo um comunicado da Junta de Freguesia de Arroios em Lisboa.
3 - “"Hoje, e após uma análise conscienciosa e aprofundada, é forçoso constatar que a ocorrência de um tal jogo na nossa capital, neste período particularmente preocupante, irá provocar incontestavelmente manifestações importantes e contra-manifestações, comprometendo a segurança dos espetadores, dos jogadores, dos habitantes de Bruxelas, mas também das nossas forças policiais", explicou o texto, publicado esta quarta-feira.
Para o jogo contra Israel, estamos em contato constante com os serviços de segurança, o município de Bruxelas e o governo federal. A situação de segurança está analisada e as evoluções são avaliadas atentamente", acrescentou aquele organismo, prometendo "para mais tarde" novas informações. “RTP, 20-06-2024. (O hífen, que, provavelmente, estava em reclusão, aqui a ser encaixado e o mais uma vez omnipresente contato. Além disso, a preocupação com os espetadores, que não deverá ser genuína, pois basta apreender os espetos para que os espectadores se sintam seguros. O que uma simples consoante pode fazer!).
Como vê, caro leitor, nos sítios do costume continuam a usar a ortografia do costume, aquela a que Miguel Esteves Cardoso, amplamente citado no nosso escrito de Junho, chama tortografia. Não será por acaso que o jornalista Pedro Correia afirmou, há dias, no programa “Prova Oral”, de Fernando Alvim, que, sem ferramentas tecnológicas, ninguém sabe usar a nova ortografia. Porque será?
Ah, já passaram mais umas quantas meias horas e o panorama continua igual.
Ah, a coerência ortográfica dos apoiantes e dos utilizadores da nova ortografia continua desaparecida.
Ah, a SIC, entre outros, vai tendo umas saudáveis recaídas.
João Esperança Barroca
«A corrupção é tanta que até já gamaram o P à palavra corrupto.»
Pedro Correia, Autor e jornalista
«Preservar este secular idioma passa pela revalorização de vocábulos antigos e pelo combate ao portinglês que nos invade, mesmo quando surge disfarçado de português (é o caso do anglicismo “evento”, hoje omnipresente). E por darmos luta sem tréguas ao chamado “acordo ortográfico”, que decretou a separação de famílias lexicais (lácteo mas laticínio, epilético mas epilepsia, tato mas táctil), inventou termos aberrantes (como corréu em vez de co-réu ou conavegador em vez de co-navegador) e substituiu a regra pelo arbítrio (uma trapalhada em que materno-infantil coexiste com infantojuvenil, bissetriz com trissectriz, cor-de-rosa com cor de laranja).»
Pedro Correia, Autor e jornalista, a propósito do livro Por Amor à Língua, de Manuel Monteiro
«O principal argumento contra o Acordo Ortográfico é a sua inutilidade. As dificuldades de leitura de textos da outra variedade da língua nunca estão relacionadas com a ortografia, as diferenças são outras. Para mudar a ortografia tem de haver uma razão muito forte, e eu não encontro aqui essa razão. As questões fiscais do comércio de livros entre Portugal e o Brasil são uma barreira mais grave do que a barreira ortográfica.
A ortografia do Acordo tornou-se menos adequada à fonética tanto do lado brasileiro como do português. As consoantes mudas tinham uma razão de ser, assinalavam uma forma diferente de ler a vogal, o que tornou mais difícil a leitura de algumas palavras. O Acordo criou uma instabilidade na língua que levou à existência de erros como "fato", em vez de "facto", mesmo no "Diário da República".»
Marco Neves, tradutor, escritor e professor universitário, no programa "Palavras Cruzadas" (Antena 2, 16/01/2023)
«Como os professores estão nas parangonas nos jornais, é deles que hoje falarei. Na última Feira do Livro de Lisboa, veio ter comigo uma professora de Língua Portuguesa que se apresentou, entre outras coisas, como leitora deste blogue. Disse-me que sabia que eu não tinha simpatia pelo presente Acordo Ortográfico (AO) e entregou-me meia folha A4 com um texto em que se explicava sumariamente que as escolas vivem hoje um autêntico caos linguístico, coexistindo no ensino da língua portuguesa três grafias: a do português pré-AO, a do AO e ainda outra, que é uma mistela de ambas e em que tudo parece ser permitido. Os maiores prejudicados por esta situação serão, muito naturalmente, os alunos, que aprendem uma coisa num ano e outra noutro, vêem os pais escrever de forma distinta daquela em que estão a ser ensinados e são penalizados nas notas pelos erros que muitos pais e professores não acham sequer que sejam erros. Diz ainda a nota que os professores são os Cavalos de Tróia desta operação com a qual frequentemente não concordam, vendo-se obrigados a ir contra a sua consciência.»
Maria do Rosário Pedreira, Escritora e editora
«[…] eles olham, mas não vêem; escutam, mas não ouvem nem entendem.»
Mateus, 13:13-16
Na linha do nosso escrito de Janeiro, voltamos hoje a escrever sobre corrução e corruto. Parafraseando Ricardo Araújo Pereira, deverá ser uma estratégia da defesa de alguns arguidos acusados do crime de corrupção. Desta maneira, a pena a aplicar será sempre muito reduzida, tendo em conta a prática inócua do crime de corrução. Como o caro leitor, certamente, deu conta, o AO90 veio trazer novos erros, que vamos respigando dos órgãos de Comunicação Social e de outras instituições.
Pesquisando apenas no jornal Record, detectamos as seguintes ocorrências:
Há poucos dias, mão amiga enviou-nos a seguinte lista de aberrações, criadas pelo AO90: Corréu, neoestoico, consunto, conarrar, conavegar, interruptor, opticidade, retouretral, semirrei, tecnolectal, cocolaborador, cooócito, perento, cocredor, cocapitão, adocionismo, expetar, cocoleta, contraião, intrauterino, cofiador, coutente, conavegante.
Parece piada ou brincadeira, não é, caro leitor? Se é assim na Comunicação Social, como será com o cidadão comum?
Para mais uma vez ilustrar o caos ortográfico que se instalou, repare como se escreve (neste caso, o que está em causa é a utilização do hífen) num jornal de referência «A seleção de espécies feita pelos nossos biólogos reflete a vegetação natural existente dentro da cidade de Lisboa, como oliveira, alfarroba, folhado, sobreiro ou capuz-de-frade”, enumera Fabio Brochetta [da Urbem, organização não-governamental]» («Estão a nascer mini-florestas no Areeiro», Ana Meireles, Diário de Notícias, 20-01-2023, p. 15), divulgado no blogue O Linguagista.
João Esperança Barroca
«Agora ‘facto’ é igual a fato (de roupa).»
Pedro Santana Lopes
«De facto, de que nos serve um acordo ortográfico que apenas os muito ignorantes servilistas portugueses aplicam?»
Isabel A. Ferreira, em 1 de Novembro de 2021, no blogue O Lugar da Língua Portuguesa
«Na forma de escrita, há muitas, muitas diferenças [entre o português de Portugal e o português do Brasil], e é por esse motivo que eu acho que não faz muito sentido um acordo ortográfico. Há muitas palavras que, mesmo com o acordo, se escrevem de forma diferente. Nós vamos continuar a divergir na língua.»
Pedro Almeida Vieira, escritor, jornalista e engenheiro biofísico
«O novo acordo ortográfico saiu da cabeça de um idiota que queria ficar para a história. Não faz o menor sentido. Discordo em absoluto.»
António Rocha Pinto, ex-candidato à Câmara Municipal de Santarém
(...) Ah, acabou de sair o novo livro de Manuel Monteiro, O Mundo pelos Olhos da Língua.
(…)
Como o leitor, certamente, já terá reparado, hoje, abordaremos os fatos que não são de vestir.
Uma breve pesquisa deu-nos a conhecer os seguintes espécimes: a) “Cônjuge ou pessoa com quem viva em união de fato”, Regulamento das Bolsas de Estudo do Ensino Superior do Município de Albufeira, de 28 de Setembro do corrente ano, publicado em Diário da República, em 17 de Outubro; b) “Todos sabem do valor que o Cris e todos nós damos ao fato de representar o nosso País.” (A Bola, 23-11-2022); c) “No entanto, ainda não é possível saber se o melhor desempenho cognitivo leva a mais jogar, ou se é o fato de jogar mais que melhora esse desempenho,” (Expresso, 25-10-2022); d) “De fato, as emissões médias anuais de gases de efeito estufa de 2010 a 2019 foram as mais altas da história da humanidade.” (Expresso, 13-10-2022); e) “Embora não seja possível calcular a data da introdução da ameixeira ‘Rainha Cláudia’ na região do Alto Alentejo, não restam dúvidas da origem francesa do material vegetal inicial, nem do fato da (sic) cultura se ter expandido a partir da zona de Elvas para as regiões vizinhas.” (Expresso, 14-10-2022); f) “Andy Burnham, prefeito da Grande Manchester, disse que era importante que todos os fatos fossem estabelecidos, mas acrescentou: ‘Com base no que vi, quero deixar claro que nunca é aceitável que manifestantes pacíficos sejam agredidos.’” (Expresso, 18-10-2022); g) “Mas os advogados de Trump argumentaram, no pedido ao Supremo Tribunal, que era essencial que especialista (sic) tivesse acesso aos registos classificados como ‘confidenciais’ para determinar se os documentos com marcações de confidencialidade são de fato classificados e, independentemente da classificação, se esses registos são registos pessoais ou registos presidenciais.” (Expresso, 11-10-2022, TSF, 13-10-2022, SIC Notícias, 13-10-2022); h) “Os dados de agosto revelam que o alojamento e restauração e os transportes são os setores com menores percentagem de empresas cumpridoras, apenas com 11,7% e 10,6%, receptivamente (sic), o que a consultora associa ao fato de terem sido dos mais atingidos pela pandemia.” (Expresso, 29-09-2022); i) “Na newsletter (sic) divulgada pela estrutura de missão Recuperar Portugal, o gestor da ‘bazuca’ destaca o fato de 17% do PRR já estar executado.” (Expresso, 30-09-2022); j) “Depois, saber como integrá-lo num plantel que Xavi Hernández tem sob construção — o fato de serem amigos pode ter algum peso — e ter de aceitar um papel secundário em função das escolhas do treinador.” (A Bola, 24-09-2022); k) “O fato de nenhum país de maioria muçulmana no Conselho ter feito qualquer menção ao relatório foi surpreendente, apesar de este denunciar ataques sistemáticos das autoridades chinesas a povos com esse credo, na região de Xinjiang, incluindo os uighures.” (Expresso, 13-09-2022); l) “O fato das pessoas estarem a falar de mim deixa-me feliz. Já joguei no Valência. Fui treinador no PSG e no Milan, dois clubes onde também joguei.” (O Jogo, 18-06-2022); m) “Compartilhamos totalmente essa preocupação e, de fato, as consequências seriam radicais, não apenas para os Estados Unidos, mas globalmente, continuou Dombrovskis.” (Sol, 08-06-2022); n) “E parece evidente que o argumento de que isso reduziria o acesso — uma vez que as urgências das especialidades estariam concentradas em menos locais — é falacioso e meramente retórico, dados os fatos das últimas semanas.“ (Expresso, 21-06-2022); o) “Outro motivo que torna o tema pertinente é o fato de que a transição ambiental deve ser necessariamente justa, logo, aplicável a todos os setores.” (Sol, 22-02-2022); p) “É um fato bastante contraditório que a ideologia fascista da máfia de Biletski tenha sido financiada pelo oligarca judeu Ihor Kolomoyskyi, que já foi auxiliado na sua actividade (sic) criminosa por ‘forças de segurança seleccionadas (sic) entre adeptoss (sic) dos oito clubes de futebol que ele e vários oligarcas menores possuem.” (Sol, 19-04-2022).
Depois desta pequena amostra (os leitores assinantes ainda têm direito a fatos suplementares), ilustrativa do caos a que se chegou, apetece perguntar: Se é assim na Comunicação Social (nos jornais ditos de referência), como será com os cidadãos comuns?
Pedro Correia, na série “Acordo Burrográfico”, no blogue Delito de Opinião, mostrou claramente a incoerência, a ilógica e a inconsistência do AO90. Em homenagem a essa excelente série, e satisfazendo a exigência de um amigo, aqui fica um pequeno texto da nossa autoria:
— Tenho cera nos ouvidos.
— Estás com um problema ótico, não é?
— Sim. Também tenho uma conjuntivite na vista direita.
— Estás com um problema ótico, não é?
— Já não percebo nada. Estás a brincar comigo?
— Não. Estou a brincar com a língua.
João Esperança Barroca
P.S.: Ah, acabou de sair o novo livro de Manuel Monteiro, O Mundo pelos Olhos da Língua.
As imagens que acompanham este escrito foram respigadas de páginas anti-AO do Facebook.
«Não vale a pena exibir mais agravos do Acordo Ortográfico: as críticas que lhe têm sido feitas chegam e sobejam para entendermos o seu alcance de danificação, em expressão e raciocínio, a curto prazo (e já actual!) no falante luso. E as implicações a vir na descida do nosso nível cultural, profissional e económico, no futuro. É uma amputação! Quem aprovou a lei não o supunha, talvez. Embora tenha havido claros pareceres e advertências, na altura devida — e os responsáveis fizeram, no sentido mais próprio, ouvidos de mercador.»
Maria Alzira Seixo, Professora universitária
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«O actual Acordo Ortográfico é desnecessário. A ortografia não é uma questão do Estado, mas de uso e de estabilidade do uso. Da estabilidade do uso é que se pode deduzir a correcção de uma forma ortográfica. O actual Acordo Ortográfico não estabiliza a norma, como é notório. Não foi necessário porque a norma estava perfeitamente estável até o Acordo chegar.»
António Feijó, Professor da Faculdade de Letras de Lisboa, actual administrador da Fundação Calouste Gulbenkian
***
«Essa aberração a que chamaram “acordo ortográfico” deu livre-trânsito a toda uma série de calinadas. A norma deixou de se distinguir do erro, as “facultatividades” fizeram estender as duplas grafias a níveis impensáveis, cada um passou a escrever como lhe dá na gana, o dislate vai alastrando como nunca. Basta consultar o Diário da República para se perceber isto.
Os imbecis que pariram tal “acordo” tentaram justificá-lo porque vinha “unificar a ortografia” da língua portuguesa. Afinal, como era fácil de prever, nunca a nossa ortografia foi tão diversificada e alterada como agora.
Disto só beneficiam os burros que andam por aí à solta. Dando furiosos coices nas consoantes. Zurrando por escrito num idioma que nem imaginam qual é.»
Pedro Correia, jornalista e autor
A leitura dos excertos em epígrafe, adicionada às imagens que acompanham este escrito (da iniciativa Acordo Zero) já são esclarecedoras do teor deste artigo de opinião, que, mais uma vez, tenta pôr a nu o caos ortográfico que o AO90 ajudou a instalar.
Repare, caro leitor, que as imagens que ilustram este escrito citam uma emissora de rádio (TSF), um canal televisivo (CNN Portugal) e um jornal, dito de referência (Expresso). Apetece perguntar: se é assim nos órgãos de comunicação social, como será com o cidadão comum?
Para os bonzos do Acordo, a culpa destes erros (fato por facto, abruto por abrupto e convição por convicção) e de inúmeros outros não pode ser assacada ao AO90. A culpa, dizem eles, é apenas dos escreventes. Como se coubesse na cabeça de alguém que as pessoas que, anteriormente, escreviam sem erros, passassem, subitamente, a não saber escrever inumeráveis palavras. Como é lógico, muitos escreventes estão a eliminar consoantes, a torto e a direito, levados pela semelhança entre alguns vocábulos.
Atente, caro leitor, num exemplo da língua inglesa. Nesta língua, as palavras q (designação da letra) e queue (fila ou bicha) têm exactamente a mesma transcrição fonética, havendo, pois, nesta última forma quatro vogais mudas. Vale à língua inglesa que os seus governantes não estão virados para malaquices (perdão, maluquices) modernaças. Se não fosse assim, essas vogais seriam removidas, permitindo uma considerável poupança, na óptica do jornal Expresso. Por cá, é o que se vê: continuamos na linha da frente na poupança de consoantes.
Como o leitor já percebeu, tínhamos uma ortografia (de 1945) e agora temos a ortografia de 1945, a do AO90 e uma terceira (como nalguns órgãos de comunicação social que dizem seguir o AO90, excepto onde ele é estúpido) que acolhe tudo e mais alguma coisa. Para aquilatar da perfeição do AO90, leia-se a frase do Circo Cacográfico da iniciativa Acordo Zero: Nem sei se o elefante tem problemas óticos ou óticos. Confuso? Nem por isso! É a unidade essencial da língua.
João Esperança Barroca
(Vamos ajudar quem merece)
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Neste quarto dia de feira sugerimos dois livros que refutam o malfadado Acordo Ortográfico que nesse mau ano de 1990 enfiaram pela boca da língua abaixo.
São eles: «O Acordo Ortográfico de 1990 Não está em Vigor» do Embaixador Carlos Fernandes e «Vogais e Consoantes Politicamente Incorrectas do Acordo Ortográfico» do jornalista Pedro Correia.
#fiqueemcasa e deixe na rua este Acordo que segundo Pedro Correia é «tecnicamente insustentável, juridicamente inválido, politicamente inepto e materialmente impraticável».
(É segundo Pedro Correia e segundo todos os que têm os respectivos neurónios a funcionar - IAF)
Fonte:
https://www.facebook.com/guerraepaz/photos/a.444041908995550/3057899024276479/?type=3&theater
Um excelente texto, publicado por Pedro Correia, no Blogue «Delito de Opinião», em 19 de Fevereiro de 2019, que destrói o AO90
«Certas luminárias contemporâneas que pretendem fazer ironia com as orthographias antigas da língua portuguesa -- aludindo por vezes a autores que publicaram há pouco mais de cem anos -- estão, no fundo, a produzir argumentos contra o "acordo ortográfico" e não a favor. Ao contrário do que supunham.
É incompreensível que um inglês leia Walter Scott, Charles Dickens ou Oscar Wilde na grafia original, o mesmo sucedendo a um francês em relação a Balzac, Flaubert ou Zola, um espanhol em relação a Pérez Galdós ou Valle-Inclán e um norte-americano em relação a Herman Meville ou Mark Twain, enquanto as obras de um Camilo ou um Eça de Queiroz já foram impressas em quatro diferentes grafias do nosso idioma.
As sucessivas reformas da ortografia portuguesa -- somam-se quatro no último século -- constituem um péssimo exemplo de intromissão do poder político numa área que devia ser reservada em exclusivo à comunidade científica. Isto se ambicionássemos reproduzir os modelos implantados em nações com um índice de alfabetização muito mais sedimentado do que o nosso.
Cada mudança de regime, desde a queda da Monarquia, produziu pelo menos uma "reforma ortográfica" em Portugal. Para efeitos que nada tinham a ver com o amor à língua portuguesa, muito pelo contrário.
Cada "reforma" foi-nos afastando da raiz original da palavra, ao contrário do que sucedeu com a esmagadora maioria das línguas europeias -- como o inglês, o francês, o alemão e em certa medida o espanhol. A pior de todas essas reformas foi a mais recente, que separou famílias lexicais produzindo aberrações como "os egiptólogos que trabalham no Egito [sic] são quase todos egípcios" ou "a principal característica dos portugueses é terem um forte caráter [sic]".
Esta ruptura com a etimologia ocorre, convém sublinhar, num momento em que nunca foi tão generalizada a aprendizagem de línguas estrangeiras entre nós, impulsionada pela globalização em curso. Assim, enquanto os políticos de turno pretendem impor a grafia "ator" [sic] à palavra actor, os portugueses continuarão a aprender "actor" em inglês, "acteur" em francês, "actor" em castelhano e "akteur" em alemão.
Não adianta deitar fora a etimologia pela porta: ela regressa sempre pela janela. Através de idiomas nunca sujeitos aos tratos de polé de "acordos ortográficos" como o que Cavaco Silva pôs em marcha como primeiro-ministro, em 1990, e que José Sócrates, também como chefe do Governo, mandou aplicar nas escolas e repartições públicas, dezoito anos mais tarde. Ambos exorbitando dos seus poderes, ambos sem imaginarem que estariam a produzir novas legiões de analfabetos funcionais.»
Pedro Correia
Fonte:
E os governantes lá vão beijocando e rindo… levados, levados sim… pela voz do som tremendo, da ignorância sem fim…
Penso rápido (19)
Texto de Pedro Correia
in Blogue Delito de Opinião
https://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/penso-rapido-19-6470222
«Certos leitores que pretendem fazer ironia com as orthographias antigas da língua portuguesa - às vezes referindo-se a autores que publicaram há pouco mais de cem anos - estão, no fundo, a produzir argumentos contra o "acordo ortográfico" e não a favor. Ao contrário do que supunham.
É incompreensível que um inglês leia Walter Scott ou Oscar Wilde na grafia original, o mesmo sucedendo a um francês em relação a Balzac ou Zola, um espanhol em relação a Pérez Galdós e um norte-americano em relação a Mark Twain, enquanto as obras de um Camilo ou um Eça de Queirós já foram impressas em quatro diferentes grafias do nosso idioma.
As sucessivas reformas da ortografia portuguesa - já lá vão quatro no último século - são um péssimo exemplo de intromissão do poder político numa área que devia ser reservada à comunidade científica. Cada mudança de regime produziu uma "reforma ortográfica" em Portugal. Para efeitos que nada tinham a ver com o amor à língua portuguesa, antes pelo contrário.
Cada "reforma" foi-nos afastando da raiz original da palavra, ao contrário do que sucedeu com a esmagadora maioria das línguas europeias - como o inglês, o francês, o alemão e em certa medida o espanhol. A pior de todas essas reformas foi a de 1990 que separa famílias lexicais produzindo aberrações como "os egiptólogos que trabalham no Egito[sic] são quase todos egípcios" ou "a principal característica dos portugueses é terem um forte caráter[sic]".
Esta ruptura com a etimologia ocorre, convém sublinhar, num momento em que nunca foi tão generalizada a aprendizagem de línguas estrangeiras entre nós. Assim, enquanto os políticos de turno pretendem impor a grafia "ator"[sic] à palavra actor, os portugueses continuarão a aprender "actor" em inglês, "acteur" em francês, "actor" em castelhano e "akteur" em alemão.
Não adianta deitar fora a etimologia pela porta: ela regressa sempre pela janela. Através de idiomas nunca sujeitos aos tratos de polé de "acordos ortográficos" destinados a produzir legiões de analfabetos funcionais.»
Fonte:
https://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/penso-rapido-19-6470222
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