O que espero para 2025?
Embora não interesse a ninguém, vou dizer o que penso, porque é algo que ainda posso fazer, neste meu lugar de luta.
Espero que uma luz radiante passe nos céus de Portugal e ilumine todos aqueles que têm nas suas mãos a solução para os graves problemas que estão a arruinar o nosso desditoso pedaço de terra, à beira-mar plantado, há quase 900 anos, e que más políticas e a falta delas estão a fazer desaparecer do mapa da Península Ibérica.
E isto não é uma hipérbole. Um exagero.
É apenas o sentimento de alguém que quando olha, vê a realidade, não a escamoteando para parecer que somos um povo europeu civilizado, quando parte da população portuguesa e os decisores políticos nem sequer sabe falar e escrever correctamente.
Isto pode parecer um facto de pouca monta, mas não é.
É algo que nos retira o direito de sermos um Povo com identidade própria, culto, civilizado, instruído, senhor da sua História, da sua Cultura, da sua própria Língua, das mais antigas da Europa.
Sem este direito protegido, por quem de direito, nada somos como Povo.
Regresso em Janeiro.
Até lá, Boas Festas e o meu muito obrigada a todos os que por aqui passam...
Isabel A. Ferreira
(Imagem retirada da Internet)
Raramente trato em público assuntos que são do meu foro privado.
Desta vez abrirei uma excepção, porque fiquei bastante transtornada com aquela história que a Professora Maria do Carmo Vieira contou no seu artigo
A instabilidade ortográfica ameaça um património identitário
que envolveu uma resposta a uma questão de escolha múltipla, na disciplina de História, a propósito do estudo da invasão e conquista da Península Ibérica pelos Muçulmanos do Norte de África, no séc. VIII
A questão era a seguinte, com as respectivas opções de resposta:
«Os Muçulmanos também deram a conhecer processos de rega até aí desconhecidos:
a) a tia, a picota e o açude;
b) a prima, a picota e o açude;
c) a sogra, a picota e o açude;
d) a nora, a picota e o açude.»
Isto só é aceitável sendo uma anedota contada à mesa de um café.
***
Os meus netos (ambos a frequentar o Ensino Secundário) andam sempre a enviar-me os erros [não só ortográficos, mas os de conteúdo também] que encontram nos manuais escolares. Eles sabem que existem três grafias em Portugal: a portuguesa, a brasileira e a acordista. Também sabem que na escola são obrigados, ainda que contra sua vontade, a usar a grafia brasileira (setor, diretor, teto, arquiteto, etc.) e a grafia acordista (exceto, receção, aspeto, infeção, perspetiva) de outro modo, serão ilegalmente penalizados.
Principalmente o meu neto, que tem 12 anos, e não anda no mundo só por ver andar os outros, e está sempre atento a tudo, e tem um espírito crítico muito desenvolvido para a idade. Gosta de estudar, mas o estudo para ele tem um grande MAS: os professores. A Matemática, uma disciplina de que ele até gosta, começou a detestá-la, porque muitos dos exercícios que os mandam fazer nos manuais é pintar de amarelo a figura que corresponde à resposta certa à pergunta que é feita. Ele até denomina a Matemática como “Pinta d’Amarelo»: «Hoje tenho aula de «Pinta d’Amarelo», costuma dizer-me, acompanhado de um suspiro desiludido.
No ano passado, quis fazer uma experiência jornalística, até porque gosta muito de escrever e inventar histórias, para ser como a Avó, e, para tal, foi colaborar no Jornal Escolar. E logo no primeiro número, ele fez uma reportagem sobre futebol (uma actividade que ele pratica) e a dada altura referiu que a equipa [já não me recordo de quem] mostrou-se bem preparada, ou coisa parecida. E não é que a professora, que era de Português e portuguesa (andam por aí brasileiros a ensinar Português em determinadas escolas, segundo me informaram, mas esta era portuguesa) teve o desplante de marcar erro no vocábulo equipa (palavra portuguesa) substituindo-a por TIME (vocábulo usado pelos brasileiros, para referir equipa). O meu neto explicou-lhe isso mesmo, mas a professora não quis ouvi-lo, e o artiguinho dele saiu com o TIME. A outra palavra que ele escreveu correCtamente no mesmo artigo, foi objeCtivo [ele está a aprender Inglês e sabe que aquele CÊ pertence também ao Português], e a professora marcou erro e corrigiu para “objetivo”, que ele lê “obj’tivu”, instintivamente, como qualquer pessoa que sabe ler, lê.
Veio, choroso, dizer-me: «Vovó eu escrevi certo, mas a professora pôs lá as palavras erradas». Ele ficou tão triste, tão triste, que desistiu do Jornal Escolar. Eu faria o mesmo. Fiquei furiosa. Não pude fazer o que queria fazer: ir à escola perguntar à professora o motivo de tamanha falta de respeito por um aluno que sabe escrever em Português, mas a minha filha e o meu genro não consideraram boa ideia, porque o meu neto poderia ser perseguido, por isso. O que é verdade. Penalizam os alunos que sabem escrever correCtamente a sua Língua Materna, a que está em vigor em Portugal, o que configurará um crime de lesa-infância.
Então, ele disse-me esta coisa que me deixou incomodadíssima: «Sabes o que te digo, Vovó, os professores estão a formar ignorantes».
Nunca uma verdade me doeu tanto, porque ele tem a noção do mal que lhe estão a fazer e ele NÃO pode fazer nada, para mudar as coisas.
Compreendem agora, porque me empenho tanto na Defesa da Língua Materna dos meus netos, e da dos netos dos restantes portugueses, e do meu mais precioso instrumento de trabalho – a Língua Portuguesa grafada conforme a grafia de 1945, a que está em vigor, porque nenhum decreto-lei veio revogá-la?
A Educação Escolar deve ser uma coisa muito, muito séria. Não podem andar a brincar com a inteligência das crianças, usando estratégias tão básicas, tão ridículas, tão anedóticas, tão de gosto duvidoso, tão de má-fé...
As nossas Crianças NÃO são as imbecis que os decisores políticos e os professores e os fazedores de manuais querem fazer delas.
BASTA!
senhores decisores políticos, senhor presidente da República, senhores professores!
Sigam o sábio Sófocles, porque fracassar com HONRA garante um lugar na História. O sucesso pela FRAUDE [e o AO90 nada mais é do que uma grande fraude] é apenas a vã ilusão de quem não sabe ocupar o seu lugar no mundo...
Isabel A. Ferreira
Obrigada, Professora Maria do Carmo Vieira, por mais este excelente texto.
Esperemos que a sua voz chegue aos decisores políticos, para que as nossas crianças, que não são imbecis, não tenham mais de responder, a propósito do estudo da invasão e conquista da Península Ibérica pelos Muçulmanos do Norte de África, no séc. VIII a esta questão de escolha múltipla, na disciplina de História:
«Os Muçulmanos também deram a conhecer processos de rega até aí desconhecidos:
a) a tia, a picota e o açude;
b) a prima, a picota e o açude;
c) a sogra, a picota e o açude;
d) a nora, a picota e o açude.»
Isto só é aceitável, sendo uma anedota contada à mesa de um café.
Mas a Educação Escolar deve ser uma coisa muito, muito séria. Não podem brincar com a inteligência das crianças, usando estratégias tão básicas, tão ridículas, tão anedóticas, tão de gosto duvidoso...
Isabel A. Ferreira
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«A instabilidade ortográfica ameaça um património identitário»
Maria do Carmo Vieira
«Assistimos de contínuo à banalização do impensável e do absurdo não só na política, externa e interna, mas também na cultura, sendo sobre este último aspecto que me debruçarei.
A Academia das Ciência é um exemplo flagrante, se lembrarmos a forçada implementação do Acordo Ortográfico de 1990, que persiste intocável apesar das suas «contradições, controvérsias e erros» que os próprios mentores admitiram. Somos com efeito confrontados com uma instituição que em lugar de pugnar sempre, sem tréguas, pelo Conhecimento, o desfigura e desvirtua, com um à-vontade
chocante, e penso, de novo, no AO. A inércia e a indiferença actuais perante a instabilidade ortográfica, causada pela imposição do famigerado, nomeadamente no ensino, pondo em causa a sua qualidade, são atitudes intoleráveis, tanto mais que envolve um património identitário. Mas esta Academia não está só, porque sofrendo do mesmo mal, acompanham-na duas associações de professores de Português que, na sua estreita cumplicidade com o Ministério da Educação, respiram livremente perante o aviltamento da ortografia da Língua Portuguesa, indiferentes ao sentido de responsabilidade que a sua função exigiria. Refiro-me à APP (Associação de Professores de Português) e de forma mais crítica à ANPROPORT (Associação Nacional de Professores de Português) porquanto, ao invés da APP, fervorosa apoiante do AO, desde o primeiro momento, a ANPROPORT propôs, entre os seus objectivos primeiros, lutar contra o acordo ortográfico, o que nunca aconteceu.
Foi sempre para mim incompreensível a aceitação acrítica da «Nota Explicativa do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa» (1990), texto único que os defensores do AO invocam, muitos dos quais sem nunca o terem lido e creio que se alguns o fizessem corariam de vergonha perante os disparates. A própria Academia continua estranhamente a aceitar a argumentação aí desenvolvida, não discutindo com académicos críticos, antes pactuando com a ligeireza, a ignorância e até o ridículo evidenciados no texto.
A «teimosia lusitana» em manter as consoantes c e p não pronunciados, a defesa das crianças cuja memória é prejudicada pelo esforço em reter as tais consoantes ou «a pronúncia» como «critério científico» são alguns dos exemplos anedóticos que aí encontramos, num testemunho trágico sobre o que se perspectiva relativamente ao estudo e ao conhecimento. Os próprios alunos reagem criticamente à nova ortografia decretada não só pela falta de lógica em algumas situações, e lembramos o «Egito e o egípcio», como pelo facto de em lugar de evitar os equívocos os fomentar. «Pêlo», por exemplo, perdeu o acento e tornou-se igual a «pelo», o mesmo acontecendo com o verbo parar na 3.ª pessoa do sing. do Presente do Indicativo que, tendo perdido o acento, se confunde com a preposição «para» , «retractar», do latim retractare, tem novo traje, distorcendo a sua etimologia, ao escrever-se como «retratar» (fazer um retrato), «espectador» tornou-se «espetador» e o ridículo é tal que houve editoras que, mesmo cumprindo o AO, decidiram, neste caso, usar sempre «espectador».
Não é de mais repetir as palavras do Professor, António Emiliano, da Universidade Nova, a propósito da «aprendizagem de qualquer ortografia […] que não é tarefa fácil para ninguém nem é suposto ser: «A função de uma ortografia não é nem facilitar o ensino da escrita nem reflectir a oralidade; a ortografia serve para codificar e garantir a coesão da língua escrita normalizada de uma comunidade nacional.» Depois da implementação forçada do AO, à revelia da vontade dos portugueses (lembre-se também os 25 pareceres contrários) tudo tem acontecido como se a ortografia fosse a representação de um espectáculo em que cada um escreve para o «lado que lhe dá mais jeito», como galhofeiramente afirmou Pedro Santana Lopes. Compreender-se-á em parte a sua boa disposição porque este AO foi, na verdade, cozinhado e pretensamente discutido entre muita galhofa e gargalhada, como testemunham as actas da sua discussão, na Assembleia da República, na qual participou também Pedro Santana Lopes.
Este gosto pelo lúdico boçal, retrato da crescente falta de cultura e reflexo de uma crescente infantilização, expõe-se também exuberantemente na Escola através de muitos manuais, nos quais já encontrei, por várias vezes, a convivência entre «espetáculo» e «espectador», e «espetáculo» e «espetador», neste último caso em sintonia com o disposto no AO, tropeçando os alunos no «espetador», pela estranheza: «espetador?», perguntam.
Confirmando ainda o que escrevi, no início deste parágrafo, deixo-vos dois exemplos elucidativos que retirei de um manual do 2.º ciclo, de História, disciplina que, a par de Geografia, se encontra em vias de extinção. A propósito do estudo da invasão e conquista da Península Ibérica pelos Muçulmanos do Norte de África, no séc. VIII, os autores apresentam várias questões de escolha múltipla, onde a escrita obviamente não intervém, substituída por uma cruz. Transcrevo o primeiro exemplo: «Aos muçulmanos do Norte de África que invadiram a Península Ibérica os cristãos chamavam: a) Alás, b) Mouros, c) Andaluses, (*) d) Moçárabes; e o segundo: «Os Muçulmanos também deram a conhecer processos de rega até aí desconhecidos: a) a tia, a picota e o açude; b) a prima, a picota e o açude; c) a sogra, a picota e o açude; d) a nora, a picota e o açude.» Posso dizer que algumas alunas, perante o primeiro exemplo, acharam que a colega muçulmana da sua turma «ia ficar triste porque se sentiria gozada», reagindo também com estupefacção ao absurdo de «tias, primas e sogras». «O que é isto?, foi o que perguntaram incrédulas com o que viam escrito. Se os autores pretendiam suscitar o riso, nesse doentio e exasperante lúdico, a reacção foi precisamente a inversa porque as crianças não são imbecis, se bem que desde a Reforma de 2003 se tenha vindo a actuar para que assim aconteça, prejudicando o seu desenvolvimento e perigando o seu futuro.
Num ambiente tão propício ao riso e à brincadeira, nem a Academia das Ciências escapa, alastrando o pântano cultural, lamentavelmente perante a nossa indiferença colectiva.
Maria do Carmo Vieira
Lisboa, 18 de Outubro de 2024»
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(*) É lamentável que o erros ortográficos, nos manuais escolares, sejam demasiado frequentes, tais como este: “adaluses”, que em Português se escreve andaluzes. As crianças merecem muito mais e muito melhor. (IAF)
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Comentários ao texto:
«Porque alguém decidiu, por gosto ou conveniência (falta saber quantos milhões de euros saiu do erário público), alterar determinados vocábulos, eis a Língua Portuguesa no seu melhor…»
Um texto de Amadeu Mata, que mata a pretensão dos políticos que nos desgovernam, e põe de rastos os seus muito leais e submissos seguidistas.
De leitura obrigatória.
Isabel A. Ferreira
Texto de Amadeu Mata
Porque alguém decidiu, por gosto ou conveniência (falta saber quantos milhões de euros saiu do erário público), alterar determinados vocábulos, eis a Língua Portuguesa no seu melhor…
A evolução da Língua Portuguesa, segundo os acordistas tem destas coisas.
Como já não somos o país que deu origem à Língua Portuguesa, a partir de agora vai ser assim:
No Brasil, final do século XIX, do ponto de vista político, interessou fazer uma simplificação abusiva do português, promovendo a diferença, aproximando-o do crioulo então praticado pelos analfabetos.
Depois de criados, o hábito de uma escrita desigual, agora é difícil conseguir um entendimento.
Com o argumento de que a esmagadora maioria pratica este português simplista, os políticos (outra vez eles) não se importam de colonizar a meia dúzia (10 Milhões) de falantes deste lado do Atlântico.
Não percebo como é que por um lado se privilegia a diferença, (são os mesmos), e por outro se elogia a uniformização.
Será que o Professor Malaca Casteleiro nunca ouviu falar na regra gramatical das consoantes mudas que servem para indicar que as vogais que as antecedem devem ser pronunciadas abertas?
Se não escrevermos o “c” em “director”, em vez de pronunciarmos “dirétor” teremos que pronunciar “dir’tor – “e” fechado e tantas outras palavras como por exemplo objectivo, activo, actual, etc., etc. ...
Porque se há-de tirar o ‘c’ da palavra “acto”? Para ficar “ato”, igual ao “ato” do verbo “atar”?
Por causa dos acordistas cortarem os “c” e os “p” a eito, deu origem a vocábulos inexistentes na Língua Portuguesa.
Recepção por (receção), decepção por (deceção) excepção por (exceção), espectador por (espetador)…etc., etc., palavras estranhas à Língua Portuguesa de Matriz indo-europeia.
“Facto” passar a “Fato”? – Não, o “c” até nem é mudo, pronuncia-se.
“Pacto” passar a “Pato”? – Não, nunca, o “c”, além de não ser mudo, pronuncia-se.
“De fato está cagado” e não “de facto o cágado”, ou “de fato é corruto” e não “de facto é corrupto”, ou passar a mão pelo pelo do cão e não “ passar a mão pelo pêlo do cão”.
Como poderemos distinguir os tempos presente e passado em formas verbais como “acabamos”, presente, e “acabámos”, passado, já que de uma assentada, os acordistas em todas as palavras acentuadas na penúltima sílaba retiraram o acento?
À conta do aborto ortográfico já anda por aí muito boa gente a pronunciar da mesma maneira as duas formas verbais, com a respectiva confusão inerente, e o manda-chuva do AO90, o SS cometeu este erro, numa entrevista dada à TVI e ficou admirado, por ter sido chamado à atenção, pelo entrevistador da “patacoada” pronunciada, isto só denota a falta de cultura, prepotência e respeito deste senhor.
Afinal, qual é o Património Imaterial mais importante de uma comunidade?
É seguramente, o instrumento de comunicação, a LÍNGUA, as pessoas de bom senso e carácter assim o reconhecem e exigem.
Os “iluminados” usam o argumento da palavra “pharmacia”, que passou a “farmácia”, para justificar o recente acordo ortográfico… Mas esquecem que essa grafia partiu de iniciativa nacional, e não externa, no ano de 1945!
Tratou-se de substituir o fonema grego PH, pela letra do NOSSO alfabeto latino F (com o mesmo som). [Fernando Pessoa escrevia pharmacia, mas Fernando, e não tinha razão de ser].
Também à revelia de todos, entre os quais os maiores especialistas da Língua, os escritores, os poetas e os “usuários” utilizadores da Língua em geral, fizeram alterações arbitrárias à maneira de escrever o Português, com a cumplicidade oportunista de muitos.
“Coscuvilheiro/a” passou a “Cusco/a”. “Coscuvilhice” passou a “Cusquice”. Isto é evolução.
Com o advento da informática e os computadores mais antigos a não reconhecerem correctamente os acentos, as pessoas habituaram-se a “esquecê-los”, sobretudo no serviço do “messenger”, do “MSN”, e nos velhinhos “Mirc” e “Chat”, que desconfiguravam os acentos, e o mesmo se verificava nos primeiros telemóveis no serviço de mensagens escritas.
Para poupar tempo e espaço, os mais jovens inventaram uma escrita estenográfica, que a maioria dos adultos não entende, mas ninguém condena esta tendência, a não ser quando se trata do ambiente escolar, obviamente!
Será isto evolução da língua, ou dentro de anos teremos como oficial uma escrita abreviada para algumas palavras: “Que” passará a “K”; “Quê” passará a “Ke”; “Porque” passará a “Pk”; “Porquê” passará a “Pke”; “Queres” passará a “Keres” ou “Kers”; “Achas” passará a “Axas” ou “Axs”; etc., etc., etc..
Foi um escândalo quando passou a constar a palavra “bué”, de origem africana, no Dicionário da Língua Portuguesa!
Considera-se uma aberração, mas quase todos se habituaram a dizê-la, mas há muita gente que não a diz nem a escreve, talvez apenas por não gostar mesmo da palavra. É considerada um africanismo, porque não? Isto é evolução.
A palavra “computador” apareceu no nosso dicionário há pouco mais de 25 anos, e é um estrangeirismo, anglicismo (“computer”). Isto é evolução.
Agora já temos, também no dicionário, “software” e “hardware”, anglicismos, que não conseguimos arranjar palavras em Português para adaptação. Isto é evolução.
Quase todos usamos, em informática, o sistema operativo “Windows”, e ninguém teve a ousadia de traduzir para “Janelas”, seria uma comédia. Isto é evolução.
Quando apareceram os “Compact Disc”, ainda houve algum tempo em que se pronunciava o anglicismo, mas passou a dizer-se naturalmente disco, e a designar-se o “velho” disco como “disco de vinil”, e depois agarrou-se o (ainda actual) “CD”. Isto é evolução.
Quando apareceram os filmes em CD de grande capacidade, designados “DVD”, ninguém tentou contornar o acrónimo e em todo o mundo diz-se DVD. Isto é evolução.
Muita gente não deve saber que a palavra “etapa” é um galicismo, estrangeirismo de origem francesa. Nas competições de ciclismo ninguém se dá ao trabalho de substituir esta palavra. Isto é evolução.
O que dizer dos anglicismos desportivos? Futebol, Basquetebol, Andebol, Voleibol (que já se diz e escreve Vólei), Hóquei, Ténis, Beisebol, Râguebi (que ainda há quem teime em dizer “reibi”, ou “reiguebi”). Isto é evolução.
Os espanhóis ainda se deram ao trabalho de traduzir algumas, como “Balomano”, “Baloncesto”, e nos Estados Unidos da América chamam ao verdadeiro futebol de “soccer” (lêem “sóquer”)! Manias.
No Brasil até se diz “futchibó” (eles chamam a esta palavra evolução)!
Tendo em conta a quantidade de povos e civilizações que passaram pela Península Ibérica e a povoaram, deixando vestígios ao nível da escrita e alguns ablativos, ninguém pode afirmar que a nossa língua ficou ou quer ficar estática.
Temos escrita alfanumérica de origem árabe e romana, palavras de origem árabe, castelhana, anglo-saxónica e africana, por exemplo, e agora querem chamar-nos de “velhos do restelo”, “atrasados”, “preguiçosos” por sermos uns chatos que não queremos “apagar” umas consoantes e uns “h” mudos, que nunca chatearam ninguém, quando afinal os brasileiros têm o “timi”, que escrevem “time” e dizem “tchimi”, um anglicismo (“team”), enquanto nós dizemos e escrevemos “equipa”, um galicismo (“équipe”); eles dizem e escrevem “copa”, um anglicismo (“cup”), enquanto nós dizemos e escrevemos “taça”;
Eles dizem e escrevem “torcida”, nós dizemos e escrevemos “adeptos”; eles dizem “vai ‘txi’ cátá”, enquanto nós dizemos “vai à merda”; eles dizem “panaca”, enquanto nós dizemos “panasca”, e afinal eles é que têm uma letra a menos!
Eles chamam de “galera” ao público dos concertos, nós usamos essa palavra no que se refere a camiões TIR!
E por falar em CAMIÕES, eles ainda dizem “CAMINHÕES”, que pode remeter para o verbo caminhar! Para esta palavra não quiseram acordo ortográfico!
Nós dizemos e escrevemos BILIÃO, que no nosso sistema de contagem vale muito mais que Mil Milhões, enquanto eles dizem “Bilhão” (que mais parece uma bilha muito grande), e lá, vale o mesmo que cá, Mil milhões! Para esta palavra também não quiseram acordo ortográfico!
Nós dizemos “stress”, embora escrevamos “stresse”, eles dizem “istressi” e escrevem “estresse”. Não quiseram acordo ortográfico!
Por acaso alguém deixou de escrever “Humidade”? “Hoje”? “Homem”? “Horta”? “Hábito”? Claro que não! Se eles omitem o “H” isto é lá com eles, mas respeitem as diferenças dos outros oito países de expressão portuguesa: Portugal, Angola, Moçambique, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor e até mesmo Macau e Goa.
Na palavra Egipto não se pode eliminar o “p”, porque se pronuncia! Todas as pessoas que se prezam, a pronunciam, se assim não fosse os seus habitantes não se chamariam Egípcios mas sim Egítios ou Egícios ou outro nome qualquer ao sabor dos acordistas.
FACTO e CONTACTO permanecem FACTO e CONTACTO, e não passará a “FATO”e CONTATO, como se vê escrito por toda a comunicação social, incluído no diário da república, jornal oficial do Estado, o que é muito grave, denota que os deputados da Nação e os correspondentes órgãos de soberania, estão-se nas tintas para a sua leitura, e como responsáveis deviam dar o exemplo, chamando à atenção para estas situações.
Já dizia Voltaire: “É muito perigoso ter razão em assuntos sobre os quais as autoridades estabelecidas (regime autoritário) estão completamente equivocadas.”
É muito perigoso ter razão quando se denunciam palavras substituídas por outras ao sabor dos acordistas, a saber:
Recepção por receção, e a palavra recessão!
Concepção por conceção, e a palavra concessão.
Etc., .etc. …
Quando o sábio aponta a Lua, os idiotas olham para o dedo... Isto para dizer o quê? Sempre que alguém divulga estes crimes de lesa-língua, as pessoas atacam o denunciador e deixam os infractores em paz, isso só acontece num governo de faz de conta mais os seus súbditos delatores.
Os verdadeiros responsáveis são os políticos e um sistema de justiça que apenas anda preocupado com os anjos e se têm ou não sexo....
Quem cala consente, é bem verdade, e quem vota nestes partidos acordistas ps e psd e cds e BE, que fazem isto há anos, é cúmplice.
O que eu penso é que este Acordo é uma grande merrda – com dois erres, que é como os brasileiros pronunciam!
O que faz sentido é respeitar a evolução das grafias dos vários países e plasmá-las no papel.
Segundo dizem os defensores do Acordo Ortográfico (aborto) ninguém é dono da Língua, mas sempre que o dizem (políticos) estão a tornar-se donos dela, com a agravante de o terem imposto à viva força (Estado, especial incidência à Educação).
Não sendo ninguém dono da Língua, é preciso respeitar as especificidades dos vários donos, a Língua é a coisa mais livre que há, façam o favor de não a aprisionarem.
Inventou-se um problema real que não existia, e enquanto não se acabar com ele, andaremos sempre a tropeçar e a viver nesta mixórdia inventada por analfabetos.
A verdade é só uma: fizeram o AO90 porque já havia o plano de encherem Portugal de Brasileiros e assim também é mais fácil para os estrangeiros aprenderem porque não há referências etimológicas — que agora se calhar até as consideram fascistas e autoritárias.
Isto é um produto deliberado da canalha miserável que governa este buraco — e da rataria subserviente que a apoia.
E só vai lá com uma guerra entre os bons e os maus.
A forma como falam os brasileiros é cheia de gerúndios, pronomes trocados e palavras desconhecidas. E é esta, a língua imposta aos portugueses…
Não quero ir ao dicionário quando comprar um produto para descobrir o que é “pimbolim”, cardaço, planilha, bate-papo, e muitos mais.
Como todo o processo da mixórdia ortográfica vem de gente analfabeta, que cozinhou toda esta esta tramóia, temos de acabar com este sistema de coisas que coloca o PODER ABSOLUTO nas mãos da Maçonaria e dos Partidos Políticos (constituídos maioritariamente por maçons), enquanto o Povo não passa da massa ESCRAVA que sustenta tudo isto.
Temos de acabar com o PODER CENTRAL, arrancar os Municípios das mãos da corrupção e entregá-los aos HOMENS BONS, sérios e honrados, que, juntamente com as famílias de cada Município, irão recolocá-los no caminho certo.»
Ray Cunha nasceu em Macapá, à margem esquerda do rio Amazonas, na confluência com a Linha Imaginária do Equador, estado do Amapá, Amazónia Caribenha. É autor de: A Casa Amarela; Fogo No Coração; Jambu; De Tão Azul Sangra.
Ray Cunha publicou um texto, no Diário Carioca, no passado dia 25 de Janeiro (2021) e cuja leitura recomendo vivamente, porque nele está bem explícito os dois aspectos fundamentais desta questão, que, para os nossos governantes, é uma não-questão:
- Ao que veio o AO90;
- E o grande e grave erro em que Augusto Santos Silva (o dono da Língua), Marcelo Rebelo de Sousa (o brasileiro) e António Costa (o bem-mandado), não tendo dotes de timoneiros, insistem em manter (pois não é de bons líderes manter um tão grosso e grosseiro erro).
Diz Ray Cunha:
«A célebre frase literária se ajusta à nomenklatura lulapetista, embora o destino do Brasil, a província agrícola, florestal e mineral mais rica do planeta, é o de ser uma potência mundial, o que só poderá conquistar por meio da democracia. Só então a língua brasileira será respeitada, procurada e aprendida.»
***
Não há qualquer dúvidaois píses duas línguas. A nossa colonização, através da Língua, já está em curso há muito, e também há muito vem sendo anunciada e denunciada neste Blogue. Porém, desta vez, não sou eu que o digo.
(Os excertos a negrito são da minha responsabilidade).
Isabel A. Ferreira
Por Ray Cunha
«O português falado e escrito no Brasil tem alegria, sons, cheiros, sol, mar e democracia que nenhum decreto ortográfico de Lula poderá mudar»
RAY CUNHA, DE BRASÍLIA – O ex-presidente e ex-presidiário Luiz Inácio Lula da Silva, presidente de honra do PT (Partido dos Trabalhadores), assinou, em 29 de setembro de 2008, na Academia Brasileira de Letras (ABL), no Rio de Janeiro, quatro decretos de promulgação do novo Acordo Ortográfico no âmbito da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em homenagem ao escritor Machado de Assis, que completava cem anos de morto (1839-1908).
“Com esses atos, Machado de Assis será duplamente exaltado: de um lado, a Academia lhe rende a mais expressiva homenagem neste ano em que celebramos o centenário de sua morte. E, de outro, a assinatura pelo presidente Lula dos decretos que promulgam o Acordo Ortográfico dos sete países lusófonos” – declarou, então, o presidente da ABL, Cícero Sandroni.
Segundo Cícero Sandroni, a promulgação do Acordo Ortográfico concretizava uma antiga aspiração de Machado de Assis, manifestada em um de seus discursos, em 1897. “A Academia buscará ser a guardiã de nosso idioma, fundado em suas legítimas fontes – o povo e os escritores, todos os falantes de língua portuguesa” – disse, na altura, o autor de Memórias Póstumas de Brás Cubas.
O argumento para mudanças ortográficas na língua portuguesa é que a alegada unificação da escrita no Brasil e em Portugal tornaria o português língua oficial da Organização das Nações Unidas (ONU). Supondo-se que fosse possível unificar a escrita das duas variações linguísticas, mesmo frases burocráticas, de documentos, são marcadas pela sintaxe, pelo estilo oriundo da cultura de cada um dos dois países.
O fato é que o novo Acordo Ortográfico não unifica o português de Portugal e o português do Brasil, mesmo que se trate de escrita burocrática. Qualquer tradutor na ONU terá que ser bom de ouvido, tanto para o falar lusitano, típico dos países de clima frio, como para o falar brasileiro, tropical, aberto. Isso, sem mencionar a linguagem crioula.
A pergunta que lateja é: A “unificação” da língua portuguesa escrita no Brasil com o português grafado em Portugal tem alguma utilidade? No caso do Brasil, não seria melhor investir maciçamente no ensino básico? E, depois, o Brasil tem mais com que se preocupar.
Enquanto Lula levava seu palanque para a Academia Brasileira de Letras, o Correio Braziliense, maior jornal da capital do país, publicava uma série de reportagens sobre crianças, meninas e meninos, que embarcavam em carros de luxo, no coração de Brasília, para serem estuprados a troco de comida.
A propósito, exploração sexual de crianças e escravidão sexual são comuns na província potencialmente mais rica do planeta, mas onde a miséria humana, a escravidão, o assassinato, campeiam. Enquanto Lula decretava uma escrita comum entre Brasil e Portugal, a tragédia se abatia na escola pública, por meio da qual universitários semialfabetizados, como Lula, se diplomam.
Não demorou, porém, para que se percebesse a que viera o novo Acordo Ortográfico. Foi para beneficiar editoras, principalmente as que integravam a panelinha do Ministério da Educação. A perspectiva era de faturar bilhões.
Creio que seria mais produtivo criar o Instituto Machado de Assis e, por meio dele, difundir mundialmente a língua portuguesa escrita e falada no Brasil. Os grandes escritores deste continente chamado Brasil são tradutores da nossa mestiçagem mulata, cafuza e mameluca, das nossas cores, cheiros e alegria. Quanto à CPLP, pode e deve influenciar a democracia, que vem sendo defendida com unhas e dentes pelo presidente Jair Bolsonaro, e se aperfeiçoar como bloco econômico.
Considerando-se o Brasil isoladamente, passamos à frente de Portugal, como os Estados Unidos superaram a Inglaterra. No nosso caso linguístico, enquanto o português lusitano se esgotou, o português brasileiro é uma língua jovem, enriquecida por idiomas africanos, pelo tupi-guarani, por estrangeirismos e pelo calor, cores, aromas, sabores e contexturas dos trópicos e da Amazônia.
Cada vez mais o Acordo Ortográfico se assemelha mais a uma peça de marketing do governo lulapetista, em um país de esmagadora maioria de alfabetizados funcionais – que leem mas não entendem o que leem –, com pelo menos 20 milhões de pessoas que vivem na Idade da Pedra – não sabem ler e, muitíssimos deles, não têm sequer certidão de nascimento; outros, são escravos mesmo, principalmente nos medievais estados da Amazônia.
No Brasil, nós não precisávamos de reforma ortográfica. Precisamos de reforma política, de reforma fiscal, de reforma educacional, de reforma do Judiciário, de reforma administrativa, de pacto federativo, e, sobretudo, de jogar os ladrões de colarinho branco na cadeia e fazê-los pagar tudo o que roubaram, mesmo que para isso seja preciso fazê-los trabalhar de sol a sol. É preciso acabar com a indecência da imunidade parlamentar, com a ditadura dos urubus, a quem só interessa carniça; faz-se necessário passar a limpo o Brasil corrupto.
Originada na Península Ibérica, a língua brasileira cada vez mais se impõe no planeta, levando para as regiões frias, que antes sediavam a metrópole, a riqueza cultural e a alegria dos trópicos, por meio da literatura, da tecnologia e do trabalho. Segundo arqueólogos e historiadores, tudo começou na região ocidental da Península Ibérica, há 300 anos Antes de Cristo, com soldados romanos e seu latim vulgar.
Oitocentos anos depois, o Império Romano começou a desabar, mas deixava, firmes, várias línguas, variantes do latim. O português escrito começou a ser utilizado, em documentos, no século IX, e, no século XV, já se tornara língua literária. Desde os romanos, havia duas províncias na região em que se formou a língua portuguesa: Lusitânia, hoje Portugal, e Galécia, ou Galícia para nós, brasileiros, ao norte.
O Império Romano conquistara a região ocidental da Península Ibérica, criando as províncias da Lusitânia e da Galécia, equivalentes, hoje, ao centro-norte de Portugal e à província espanhola da Galícia, a noroeste da Espanha, nas quais se começou a falar latim vulgar, do qual nasceram as línguas neolatinas e 90% do léxico, ou dicionário, do português. Os únicos vestígios das línguas nativas dessa região dormem na toponímia da Galícia e de Portugal.
Entre 409 e 711, depois de Cristo, o Império Romano entrava em colapso e a Península Ibérica era novamente invadida, agora por povos de origem alemã – suevos e visigodos –, que os romanos chamavam de bárbaros. Entretanto, os novos invasores absorveram a língua romana da península. Como cada tribo bárbara falava latim à sua maneira, o resultado foi a formação do galaico-português ou português medieval, espanhol e catalão.
Os estudiosos acreditam que foram os suevos os responsáveis pela diferenciação linguística dos portugueses e galegos quando comparados aos castelhanos. Durante o reinado suevo, palavras guerreiras foram impostas em línguas germânicas, tal como “guerra”.
Em 711, depois de Cristo, a península foi invadida pelos mouros, de língua árabe, oriundos do norte da África. O árabe foi utilizado, nessa época, como língua administrativa nas regiões conquistadas, mas a população continuou a falar latim vulgar.
Em 1249, os mouros foram expulsos, mas deixaram grande número de palavras árabes, especialmente relacionadas à culinária e à agricultura, sem equivalente nas demais línguas neolatinas, além de nomes de locais no sul de Portugal, como Algarve e Alcácer do Sal. Muitas palavras portuguesas que começam por “al” são de origem árabe.
O mais antigo documento latino-português de que se tem conhecimento é a Carta de Fundação e Dotação da Igreja de S. Miguel de Lardosa, datada de 882, depois de Cristo. O Testamento de Afonso II, de 1214, é o texto em escrita portuguesa considerado mais antigo. Esses documentos estão guardados no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa.
O vernáculo escrito passou, gradualmente, para uso geral a partir do fim do século XIII. Portugal se tornou país independente em 1143, com o rei Dom Afonso I. Em 1290, o rei Dom Dinis criava a primeira universidade portuguesa em Lisboa – Estudo Geral – e decretou que o português, então chamado “linguagem”, substituísse o latim no contexto administrativo.
Em 1296, o português foi adotado pela Chancelaria Real. A partir daí, a língua galego-portuguesa passou a ser utilizada também na poesia. Já em meados do século XIV, o português alcançara tradição literária. Nessa época, os nativos da Galícia começaram a ser influenciados pelo castelhano, base do espanhol moderno. Entre os séculos XIV e XVI, com as grandes navegações, a língua portuguesa é difundida na Ásia, África e América.
Na Renascença, aumenta o número de palavras eruditas do latim clássico e do grego arcaico, ampliando a complexidade do português. O fim do português arcaico é marcado pela publicação do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, em 1516.
Hoje, fala-se oficialmente português nos oito países que integram a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP): Angola (África), Brasil (América do Sul), Cabo Verde (África), Guiné-Bissau (África), Moçambique (África), Portugal (Europa), São Tomé e Príncipe (África), e Timor-Leste (Ásia). Mas em cada uma das ex-colônias portuguesas falam-se, na verdade, variantes do português de Portugal.
Também se fala variantes de português nas seguintes regiões: Galícia (província da Espanha, Europa); Goa, Diu e Damão (Índia, Ásia); Macau (China, Ásia), Málaca (Malásia, Ásia) e Zanzibar (Tanzânia, África).
A escrita da língua portuguesa é semelhante em todos os países da CPLP, com poucas variações gramaticais. O que muda, de forma mais evidente, além da grafia de um certo número de palavras, é o significado de outras tantas palavras, com conotações diferentes de região para região; o modo de se utilizar formas verbais; e o estilo erudito, isto é, o modo de se construir frases e contextos literários.
Quanto ao falar, um brasiliense só se entenderá com um lisboeta, por exemplo, se ambos conversarem vagarosamente e pronunciarem claramente as sílabas das palavras.
Contudo, trata-se da quinta língua mais falada no planeta, por cerca de 240 milhões de pessoas, em quatro continentes. Se Portugal é o portão de entrada da lusofonia no Velho Continente – a Europa –, o Brasil é o gigante do bloco. No Brasil, a língua portuguesa sofreu influências do tupi-guarani – tronco linguístico dos índios da América do Sul – e de várias línguas africanas.
Desde o início do século XX, Portugal e Brasil buscam a unificação da língua portuguesa escrita em ambos os países, para chegar, pelo menos, ao consenso de um texto burocrático, que possa reforçar o idioma na Organização das Nações Unidas (ONU). Mas a verdade não pode ser mudada. O português de Portugal se esgotou, enquanto o português do Brasil foi enriquecido pelo índio, pela África e pelo trópico, e é aberto.
A reforma ortográfica tudo muda para nada mudar, como diz uma personagem do romance O Leopardo, de Giuseppe Tomasi Di Lampedusa, referindo-se à monarquia italiana, então com as ventosas no erário, como ocorre no Brasil de Lula e do patrimonialismo de Sarney, levado à loucura.
A célebre frase literária se ajusta à nomenklatura lulapetista, embora o destino do Brasil, a província agrícola, florestal e mineral mais rica do planeta, é o de ser uma potência mundial, o que só poderá conquistar por meio da democracia. Só então a língua brasileira será respeitada, procurada e aprendida.»
Fonte:
Em tempo de crise sanitária, económica e financeira, não podemos baixar a guarda, na luta contra esta outra crise, que abala a soberania e a independência portuguesas: a venda da Língua Portuguesa ao Brasil.
«Defender a Língua Portuguesa é defender a parte crucial da nossa existência como povo soberano e independente». Quem o diz é um amigo meu, Doutor em Engenharia Civil, Professor Catedrático em Angola, onde além dos muitos dialectos locais, também se fala e escreve Português culto e europeu, o qual não quis identificar-se, por motivos óbvios.
Um texto crucial, absolutamente obrigatório ler e reter e nele reflectir, para que possamos continuar a ser europeus e, sobretudo, portugueses.
Os que acham que Portugal é um país sul-americano olhem bem para este mapa: Portugal é um país que, com a Espanha, constitui a Península Ibérica, situada na parte mais ocidental de um continente chamado Europa. Em Espanha fala-se Castelhano, Galego, Catalão e Basco; em Portugal, fala-se Português (uma das primeiras línguas cultas da Europa medieval a par do Provençal), e Mirandês (as duas Línguas oficiais portuguesas) somando-se a estas, mais quatro dialectos – Sendinês, Guadramilês, Riodonorês e Minderico (este último em extinção).
Esse meu Amigo, ausente há vários anos de Portugal, e cujo nome é considerado por ele um aspecto relativamente secundário, visitou o meu Blogue e inteirou-se da luta que se trava em Portugal em defesa da Língua Portuguesa.
Inacreditável, não é?
É que os Portugueses já foram chamados a defender o território contra a investida de vários invasores, entre eles, Mouros, Espanhóis, Ingleses e Franceses, na sua fase histórica. Já tiveram de defender direitos, ideais e ideias. Mas jamais passaria pela cabeça de ninguém (daí ser caso único, desde que o mundo é mundo) um povo (ou parte dele, porque há sempre os seguidistas, aqueles que seguem alguma coisa, seja boa ou má,sem nunca se questionarem ou fazerem juízos de valor) ter de vir defender a sua Língua Materna, apenas porque uns poucos ignorantes (e como bastam uns poucos!) querem substituí-la por uma ortografia estrangeira.
Pois esse meu Amigo, a propósito de um artigo onde apresento argumentos assertivos contra esta “invasão de bárbaros acordistas”, escreveu um texto, em Bom Português, que nos devolve a confiança no povo que já fomos, mas ainda podemos ser. Uma lição daquela História que já não se ensina nas escolas portuguesas e, por isso, tanto faz, como tanto fez, escrever esta ou aquela Língua, desde que se facilite a escrita, que é o que mais me dói ouvir da boca dos que aceitaram, sem pestanejar, a ortografia brasileira, com a supressão das consoantes mudas com uma função diacrítica, e de acentos e hífens, onde tudo isso faz falta, para se compreender a Língua.
Escreve então esse meu Amigo:
«De todos os modos o essencial do que ali diz é certamente o que repetirá (como eu, até à exaustão) em todos os seus escritos, defendendo aquilo que é a parte crucial da nossa existência como Povo Soberano e Independente, a nossa Língua.
Sem saudosismos ou passadismos retrógrados, penso que nos falta, na actualidade, como Povo, o reconhecimento daquilo que fomos capazes de fazer, quando libertos de amarras e de constrangimentos que não os nossos. Começámos por ser os primeiros a libertar a nossa parte da Península da presença dos muçulmanos, enquanto os nossos vizinhos só o fizeram quase 250 anos depois. Partimos para o mar, e embora não tivéssemos sido os primeiros (os Vikings, segundo parece, haviam-no feito com Eric, o Vermelho, por alturas do ano 1000, mas de resto sem quaisquer consequências sociais ou económicas), fizemo-lo em todas as direcções e demos início à globalização, há quase 600 anos. Dobrámos a África, chegámos à índia, à China, à Austrália e ao Japão, descobrimos o Novo Mundo (acredito, porque bem provada, na tese de Mascarenhas Barreto sobre a naturalidade portuguesa de Cristóbal Colón) e dominámos uma boa parte da África por onde tínhamos de passar nas nossas andanças para Leste.
Deixámos, por onde andámos, uma forma de viver única, não massacrámos, nem eliminámos fisicamente nenhum povo da Terra, como fizeram americanos e espanhóis, e a forma como nos relacionámos com todo o Mundo foi, essencialmente, feita na base da diplomacia. Houve naturalmente confrontos, mas quase nunca provocados por nós, que basicamente nos defendemos ou ajudámos a defender os nossos aliados. Deixámos atrás de nós um legado de saudade e de um humanismo imenso. Ainda hoje as gentes de Goa, de Malaca ou de Timor, recordam com um enorme respeito os Portugueses, para não falar na forma como somos recebidos no interior de Angola ou Moçambique pelos mais-velhos, aqueles que tiveram a oportunidade de conviver connosco. Eu sou testemunha disso, todos os dias em Angola.
Sem nacionalismos bacocos, poderemos dizer que atrás de nós ficou um legado muito peculiar, feito com erros, com imperfeições, certamente, mas com muita entrega, muito empenho, dedicação e carinho. Creio que a palavra "paternalismo" tem inteiro cabimento na forma de nos relacionarmos com os outros povos, não tanto na parte que pode significar superioridade, mas sobretudo naquilo que exprime aproximação e mesmo afecto. E é curioso verificar que é como Pai que olham para nós.
Para um povo que tinha 1.5 milhões de almas ou pouco mais no início da arrancada, vivemos num mundo onde quase 300 milhões de pessoas falam a nossa língua. Que é deles também, sem deixar de ser a NOSSA, e só perdemos identidade, só nos deslustramos perante todos eles se deixarmos de ser quem sempre fomos e tentarmos agora, como muitos imbecis procuram, disfarçar-nos atrás das cortinas da História, procurando fazer-nos desaparecer da vida desses povos, desvanecer o nosso carácter, quase a pedir desculpa de existirmos. Essa gente, que nos ataca e pretende afinal destruir-nos por dentro, não é Portuguesa, essa gente faz-se de Portuguesa por razões de interesse, e por isso porfia em contestar o que fomos, negar os nossos sucessos, tentando com isso apagar-nos da História. E a Língua, essa forma NOSSA de comunicarmos e de veicularmos o que somos, disseminar-se-ia de algum modo numa multidão de gentes, vindo a perder-se assim o rasto das suas origens.
Nos tempos que correm, em que vemos todos os dias soçobrar um pouco mais tudo aquilo que tem sido ao longo destes 875 anos de história colectiva, a razão que nos aproxima e justifica entre os demais povos da Terra, é com esperança redobrada que percebemos que não estamos sós e que aqui e ali se levantam cada vez mais vozes indignadas que protestam. E por isso me apraz muito participar neste seu blogue, onde encontro a primeira linha de defesa dos valores que são nossos, daquilo que nos pertence.
E diz mais à frente:
Foi esse querer que nos levou para longe, e que dá força ao pensamento de Gilberto Freire, o ilustre sociólogo brasileiro que definia o português "como alguém que nasce em Portugal e vai morrer não se sabe aonde". Talvez seja essa uma parte do nosso drama, o nosso verdadeiro estigma, saímos e não voltamos, acreditando que a retaguarda estivesse sempre protegida. Hoje, regressados ao quinhão natal vindos das 7 partidas do Mundo, espantamo-nos com a recepção fria quando não agreste com que nos acolhem e mal entendemos a vontade que impera no desfazer de tudo o que fomos e ainda somos. A Língua é o espaço vital, o traço de união que liga todo o Mundo onde já vivemos soberanamente e onde ainda sobrevivemos por força da nossa razão e de modo algum pela razão da força, que já não temos, ou quase nunca tivemos. Neste aspecto eu não posso deixar de me maravilhar com a capacidade extraordinária de um Paiva Couceiro, que acompanhado de meia dúzia de auxiliares (os chamados sipaios), desceu o Rio Cubango em Angola e trouxe para Portugal os povos de um território imenso (maior do que o território que nos sobra hoje), designado como Cuando-Cubango, construindo os fortes de Cuangar, Calai, Dirico e Mucusso, com duas ou três praças europeias em cada um. Ou o extraordinário Henrique de Carvalho que "abraçou" as Lundas (também maiores do que Portugal), sozinho, em conversações com os muatas quiôcos, e as ligou à nossa bandeira.
Onde está essa gente? Onde vive o espírito desses homens que olhavam para longe e impunham aos demais, sem usar necessariamente da força, a sua maneira de pensar? Fizemos um Brasil imenso, o maior país da América do Sul, com uma decisão e um querer impressionantes, resistindo ao "esfrangalhamento" em que caíram os territórios espanhóis (vale a pena ver o site Brasil Paralelo onde jovens historiadores brasileiros se fascinam a perceber o que lhes foi escondido por tantos anos). São eles as nossas melhores testemunhas.
Há uns anos a esta parte foi descoberto nas florestas da Amazónia uma fortaleza feita em cantaria de granito, onde se destacava uma placa que tinha os seguintes dizeres: - “Sua Majestade D. Pedro II, Rei de Portugal e dos Algarves (segue-se toda a panóplia de títulos que bem conhecemos)… queria que aqui se fizesse um forte. E fez-se.”
E hoje parece que nos envergonhamos de olhar para trás. Parece ser incorrecto tomar como exemplo os exemplos do passado, ou referir a grandeza única do nosso querer e do nosso pundonor. Não se trata de nacionalismos exacerbados ou fora do tempo, trata-se tão-somente de percebermos quem somos e porque estamos aqui. E olhando à nossa volta, percebemos que a estrénua resistência e enorme vontade que se lê e entende por detrás da evidente pobreza cultural da nossa gente, apenas demonstra que faltam os líderes, os guias que apontam os caminhos e a quem ninguém ousa desobedecer. Como dizia Pessoa ao terminar a Mensagem: - «mais que o mostrengo que a minha alma teme, manda a vontade que me ata ao leme, d’El-Rei D. João II». Ou lembrando o épico, no mais conhecido: - "um fraco rei faz fraca a forte gente"...
Será que nem a Língua, nem aquilo que falamos e que traduz quem somos, resiste ao ímpeto destruidor da “canalha”(*)?
«Floresça, fale, cante e ouça-se e Viva a Portuguesa Língua. E já, aonde for, Senhora vá de si, Soberba e Altiva…» (Lembro António Ferreira, no já distante século XVI, na carta que então escrevia a Pêro de Andrade Caminha, e pergunto-me: - o que nos aconteceu, que maldição é esta? Como pudemos chegar a este ponto, a esta encruzilhada que parece fatal, e onde o Futuro se decide em todos os momentos?).
Não faço do Passado uma forma de viver. Mas tenho certo que o Presente e o Futuro só existem para quem tem Passado.
Será talvez esta a explicação do nosso descontentamento, não sei...»
Um Amigo
(*) Como melancolicamente se queixava D. Pedro V aos seus amigos, dos ataques, já nesse tempo incisivos, dos predadores de serviço.
***
Pois é! Também não sei, meu caro Amigo.
Mas uma coisa eu sei, nós dois sabemos: «Por detrás da evidente pobreza cultural da nossa gente, está realmente a falta de verdadeiros líderes, os guias que apontam os caminhos e a quem ninguém ousa desobedecer».
Sabemos que os «fracos governantes, que actualmente nos (des)governam fazem fraca a forte gente que ainda somos».
Sabemos também que destes fracos governantes não rezará a nossa gloriosa História, pois nela serão perpetuados como os que tentaram destruir uma das primeiras línguas cultas da Europa medieval – a Língua Portuguesa, que continuaremos a defender até que a Irracionalidade dê lugar à Razão.
Isabel A. Ferreira
Quem o diz é um amigo meu, Doutor em Engenharia Civil, Professor Catedrático em Angola, onde além dos muitos dialectos locais, também se fala e escreve Português culto e europeu.
Os que acham que Portugal é um país sul-americano olhem bem para este mapa: Portugal é um país que, com a Espanha, constitui a Península Ibérica, situada na parte mais ocidental de um continente chamado Europa. Em Espanha fala-se Castelhano, Galego, Catalão e Basco; em Portugal, fala-se Português (uma das primeiras línguas cultas da Europa medieval a par do Provençal), e Mirandês (as duas Línguas oficiais portuguesas) somando-se a estas, mais quatro dialectos – Sendinês, Guadramilês, Riodonorês e Minderico (este último em extinção).
Esse meu Amigo, ausente há vários anos de Portugal, e cujo nome é considerado por ele um aspecto relativamente secundário, visitou o meu Blogue e inteirou-se da luta que se trava em Portugal em defesa da Língua Portuguesa.
Inacreditável, não é?
É que os Portugueses já foram chamados a defender o território contra a investida de vários invasores, entre eles, Mouros, Espanhóis, Ingleses e Franceses, na sua fase histórica. Já tiveram de defender direitos, ideais e ideias. Mas jamais passaria pela cabeça de ninguém (daí ser caso único, desde que o mundo é mundo) um povo (ou parte dele, porque há sempre os seguidistas, aqueles que seguem alguma coisa, seja boa ou má,sem nunca se questionarem ou fazerem juízos de valor) ter de vir defender a sua Língua Materna, apenas porque uns poucos ignorantes (e como bastam uns poucos!) querem substituí-la por uma ortografia estrangeira.
Pois esse meu Amigo, a propósito de um artigo onde apresento argumentos assertivos contra esta “invasão de bárbaros acordistas”, escreveu um texto, em Bom Português, que nos devolve a confiança no povo que já fomos, mas ainda podemos ser. Uma lição daquela História que já não se ensina nas escolas portuguesas e, por isso, tanto faz, como tanto fez, escrever esta ou aquela Língua, desde que se facilite a escrita, que é o que mais me dói ouvir da boca dos que aceitaram, sem pestanejar, a ortografia brasileira, com a supressão das consoantes mudas com uma função diacrítica, e de acentos e hífens, onde tudo isso faz falta, para se compreender a Língua.
Escreve então esse meu Amigo:
«De todos os modos o essencial do que ali diz é certamente o que repetirá (como eu, até à exaustão) em todos os seus escritos, defendendo aquilo que é a parte crucial da nossa existência como Povo Soberano e Independente, a nossa Língua.
Sem saudosismos ou passadismos retrógrados, penso que nos falta, na actualidade, como Povo, o reconhecimento daquilo que fomos capazes de fazer, quando libertos de amarras e de constrangimentos que não os nossos. Começámos por ser os primeiros a libertar a nossa parte da Península da presença dos muçulmanos, enquanto os nossos vizinhos só o fizeram quase 250 anos depois. Partimos para o mar, e embora não tivéssemos sido os primeiros (os Vikings, segundo parece, haviam-no feito com Eric, o Vermelho, por alturas do ano 1000, mas de resto sem quaisquer consequências sociais ou económicas), fizemo-lo em todas as direcções e demos início à globalização, há quase 600 anos. Dobrámos a África, chegámos à índia, à China, à Austrália e ao Japão, descobrimos o Novo Mundo (acredito, porque bem provada, na tese de Mascarenhas Barreto sobre a naturalidade portuguesa de Cristóbal Colón) e dominámos uma boa parte da África por onde tínhamos de passar nas nossas andanças para Leste.
Deixámos, por onde andámos, uma forma de viver única, não massacrámos, nem eliminámos fisicamente nenhum povo da Terra, como fizeram americanos e espanhóis, e a forma como nos relacionámos com todo o Mundo foi, essencialmente, feita na base da diplomacia. Houve naturalmente confrontos, mas quase nunca provocados por nós, que basicamente nos defendemos ou ajudámos a defender os nossos aliados. Deixámos atrás de nós um legado de saudade e de um humanismo imenso. Ainda hoje as gentes de Goa, de Malaca ou de Timor, recordam com um enorme respeito os Portugueses, para não falar na forma como somos recebidos no interior de Angola ou Moçambique pelos mais-velhos, aqueles que tiveram a oportunidade de conviver connosco. Eu sou testemunha disso, todos os dias em Angola.
Sem nacionalismos bacocos, poderemos dizer que atrás de nós ficou um legado muito peculiar, feito com erros, com imperfeições, certamente, mas com muita entrega, muito empenho, dedicação e carinho. Creio que a palavra "paternalismo" tem inteiro cabimento na forma de nos relacionarmos com os outros povos, não tanto na parte que pode significar superioridade, mas sobretudo naquilo que exprime aproximação e mesmo afecto. E é curioso verificar que é como Pai que olham para nós.
Para um povo que tinha 1.5 milhões de almas ou pouco mais no início da arrancada, vivemos num mundo onde quase 300 milhões de pessoas falam a nossa língua. Que é deles também, sem deixar de ser a NOSSA, e só perdemos identidade, só nos deslustramos perante todos eles se deixarmos de ser quem sempre fomos e tentarmos agora, como muitos imbecis procuram, disfarçar-nos atrás das cortinas da História, procurando fazer-nos desaparecer da vida desses povos, desvanecer o nosso carácter, quase a pedir desculpa de existirmos. Essa gente, que nos ataca e pretende afinal destruir-nos por dentro, não é Portuguesa, essa gente faz-se de Portuguesa por razões de interesse, e por isso porfia em contestar o que fomos, negar os nossos sucessos, tentando com isso apagar-nos da História. E a Língua, essa forma NOSSA de comunicarmos e de veicularmos o que somos, disseminar-se-ia de algum modo numa multidão de gentes, vindo a perder-se assim o rasto das suas origens.
Nos tempos que correm, em que vemos todos os dias soçobrar um pouco mais tudo aquilo que tem sido ao longo destes 875 anos de história colectiva, a razão que nos aproxima e justifica entre os demais povos da Terra, é com esperança redobrada que percebemos que não estamos sós e que aqui e ali se levantam cada vez mais vozes indignadas que protestam. E por isso me apraz muito participar neste seu blogue, onde encontro a primeira linha de defesa dos valores que são nossos, daquilo que nos pertence.
E diz mais à frente:
Foi esse querer que nos levou para longe, e que dá força ao pensamento de Gilberto Freire, o ilustre sociólogo brasileiro que definia o português "como alguém que nasce em Portugal e vai morrer não se sabe aonde". Talvez seja essa uma parte do nosso drama, o nosso verdadeiro estigma, saímos e não voltamos, acreditando que a retaguarda estivesse sempre protegida. Hoje, regressados ao quinhão natal vindos das 7 partidas do Mundo, espantamo-nos com a recepção fria quando não agreste com que nos acolhem e mal entendemos a vontade que impera no desfazer de tudo o que fomos e ainda somos. A Língua é o espaço vital, o traço de união que liga todo o Mundo onde já vivemos soberanamente e onde ainda sobrevivemos por força da nossa razão e de modo algum pela razão da força, que já não temos, ou quase nunca tivemos. Neste aspecto eu não posso deixar de me maravilhar com a capacidade extraordinária de um Paiva Couceiro, que acompanhado de meia dúzia de auxiliares (os chamados sipaios), desceu o Rio Cubango em Angola e trouxe para Portugal os povos de um território imenso (maior do que o território que nos sobra hoje), designado como Cuando-Cubango, construindo os fortes de Cuangar, Calai, Dirico e Mucusso, com duas ou três praças europeias em cada um. Ou o extraordinário Henrique de Carvalho que "abraçou" as Lundas (também maiores do que Portugal), sozinho, em conversações com os muatas quiôcos, e as ligou à nossa bandeira.
Onde está essa gente? Onde vive o espírito desses homens que olhavam para longe e impunham aos demais, sem usar necessariamente da força, a sua maneira de pensar? Fizemos um Brasil imenso, o maior país da América do Sul, com uma decisão e um querer impressionantes, resistindo ao "esfrangalhamento" em que caíram os territórios espanhóis (vale a pena ver o site Brasil Paralelo onde jovens historiadores brasileiros se fascinam a perceber o que lhes foi escondido por tantos anos). São eles as nossas melhores testemunhas.
Há uns anos a esta parte foi descoberto nas florestas da Amazónia uma fortaleza feita em cantaria de granito, onde se destacava uma placa que tinha os seguintes dizeres: - “Sua Majestade D. Pedro II, Rei de Portugal e dos Algarves (segue-se toda a panóplia de títulos que bem conhecemos)… queria que aqui se fizesse um forte. E fez-se.”
E hoje parece que nos envergonhamos de olhar para trás. Parece ser incorrecto tomar como exemplo os exemplos do passado, ou referir a grandeza única do nosso querer e do nosso pundonor. Não se trata de nacionalismos exacerbados ou fora do tempo, trata-se tão-somente de percebermos quem somos e porque estamos aqui. E olhando à nossa volta, percebemos que a estrénua resistência e enorme vontade que se lê e entende por detrás da evidente pobreza cultural da nossa gente, apenas demonstra que faltam os líderes, os guias que apontam os caminhos e a quem ninguém ousa desobedecer. Como dizia Pessoa ao terminar a Mensagem: - «mais que o mostrengo que a minha alma teme, manda a vontade que me ata ao leme, d’El-Rei D. João II». Ou lembrando o épico, no mais conhecido: - "um fraco rei faz fraca a forte gente"...
Será que nem a Língua, nem aquilo que falamos e que traduz quem somos, resiste ao ímpeto destruidor da “canalha”(*)?
«Floresça, fale, cante e ouça-se e Viva a Portuguesa Língua. E já, aonde for, Senhora vá de si, Soberba e Altiva…» (Lembro António Ferreira, no já distante século XVI, na carta que então escrevia a Pêro de Andrade Caminha, e pergunto-me: - o que nos aconteceu, que maldição é esta? Como pudemos chegar a este ponto, a esta encruzilhada que parece fatal, e onde o Futuro se decide em todos os momentos?).
Não faço do Passado uma forma de viver. Mas tenho certo que o Presente e o Futuro só existem para quem tem Passado.
Será talvez esta a explicação do nosso descontentamento, não sei...»
Um Amigo
(*) Como melancolicamente se queixava D. Pedro V aos seus amigos, dos ataques, já nesse tempo incisivos, dos predadores de serviço.
***
Pois é. Também não sei, meu caro Amigo.
Mas uma coisa eu sei, nós dois sabemos: «Por detrás da evidente pobreza cultural da nossa gente, está realmente a falta de verdadeiros líderes, os guias que apontam os caminhos e a quem ninguém ousa desobedecer».
Sabemos que os «fracos governantes, que actualmente nos (des)governam fazem fraca a forte gente que ainda somos».
Sabemos também que destes fracos governantes não rezará a nossa gloriosa História, pois nela serão perpetuados como os que tentaram destruir uma das primeiras línguas cultas da Europa medieval – a Língua Portuguesa, que continuaremos a defender até que a Irracionalidade dê lugar à Razão.
Isabel A. Ferreira
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