Este texto foi publicado em 06 de Julho de 2017, no Jornal PÚBLICO, e como em tudo, no nosso país, poderia ter sido escrito hoje, porque nele não se mudava sequer uma vírgula, devido à inexistência de políticas que façam avançar Portugal. Infelizmente o que temos é uma política regressiva, que nos transporta para um tempo passado, de muito má memória.
Daí ter considerado importante republicar o texto, para que sirva de reflexão a todos aqueles que, em Portugal, não perderam a lucidez, nem a capacidade de Pensar.
Isabel A. Ferreira
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«Não há duas pessoas que sigam o Acordo Ortográfico e que concordem quanto àquilo que é o Acordo. A “norma” (com setenta aspas de cada lado) é lábil, difusa, imprecisa – só não vê quem não quer ver.»
Manuel Matos Monteiro
«Admirável Língua Nova (Parte III)»
Por Manuel Matos Monteiro
«Caro leitor, pedia-lhe que prestasse atenção às seguintes frases.
“Os telespetadores estavam expetantes.”
“O país vive sob o espetro da corrução.”
“Chuva para Lisboa.”
“Para o carro!”, disse perentoriamente.
“Desliga o interrutor.”
“O conetor serve, como o nome indica, para conectar.”
Não são frases escritas por semianalfabetos. São frases redigidas tendo por base o Acordo Ortográfico.
Consultando o (excelente) Novo Prontuário Ortográfico, de José M. de Castro Pinto, a grafia “telespetadores” é a única possível. “Expetantes” é uma palavra que, por exemplo, o Portal da Língua Portuguesa e a Infopédia (Porto Editora) abonam. O Dicionário do Português Atual Houaiss (edição de Agosto de 2011) acolhe apenas “espetral”, “espetro”, “espetrofobia” (entre dezasseis palavras em torno de “espetro”), todas sem o c. “Corrução” e “corrupção” são acolhidas pelo Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto de Editora, de 2010. A frase “Chuva para Lisboa”, que foi o título principal da primeira página de um conhecido jornal, tanto pode ser, à luz do Acordo, uma previsão meteorológica, como uma situação de paralisação causada pela chuva (o que era o caso da notícia). Em “Para o carro”, podemos ter a ordem de ir para o carro ou de parar o carro. Quanto a “perentoriamente” (ou a “perentoriedade”), como afiança o Portal da Língua Portuguesa, temos (Portugueses) de escrever assim e ponto final, enquanto o Brasil escreve “peremptoriamente”. Azar o nosso… É um de muitos casos em que o igual passou a ser diferente. Mas o Acordo era para uniformizar, pois claro. Lembremos Maria Regina Rocha: “[H]avia 2691 palavras que se escreviam de forma diferente e que se mantêm diferentes (por exemplo, facto - fato), havia 569 palavras diferentes que se tornam iguais (por exemplo, abstracto e abstrato resultam em abstrato), e havia 1235 palavras iguais que se tornam diferentes. Está a ler bem: com o Acordo Ortográfico, aumenta o número de palavras que se escrevem de forma diferente!!!” No mesmo portal, temos “conetor” e “conector”, mas apenas “conectar”.
“Interrutor”, uma palavra inadjectivável, merece um parágrafo. Verifique o leitor com os seus olhos tal grafia na Infopédia ou numa edição do Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, com o Acordo, ou no próprio Portal da Língua Portuguesa. Enquanto adjectivo relativo àqueles ou àquelas que interrompem, tem os “interrutores”, as “interrutoras”. E se um aluno escrever, fazendo uso da dupla grafia decretada pela Porto Editora e pelo ILTEC, na mesma construção frásica, “o interruptor, a interrutora, os interrutores, as interruptoras”, o professor deverá assinalar algum erro? Se dicionários aceitam que “sector” e “subsector” têm dupla grafia, o aluno poderá portanto escolher e escrever “o subsetor do sector”? Copiamos da Infopédia:
interrutor
nome masculino
1. aquele ou aquilo que interrompe
2. aparelho ou pequeno manípulo que permite abrir ou fechar um circuito elétrico
adjetivo
que interrompe
Escrevemos acima: “São frases redigidas tendo por base o Acordo Ortográfico.” Mais bem dito, tendo por base a forma como dicionários ou prontuários que adoptam o Acordo registam determinados vocábulos, porquanto o Acordo, ao não estabelecer uma norma cristalina, se traduziu na divergência da interpretação daquilo que ele é, bastando ao leitor consultar dois prontuários ou dois dicionários a seu bel-prazer para comprovar esta obviedade.
Consultando dicionários com o Acordo, prontuários, livros explicativos do mesmo para verificar se a consoante é muda ou não, encontramos: a) que a consoante se mantém; b) que a consoante desaparece; c) que poderá manter a consoante ou não (dupla grafia), porque dentro de Portugal há oscilação quanto à pronúncia; d) que em Portugal e no Brasil há divergências de pronúncia e que, portanto, apesar de haver dupla grafia, num desses dois países deve escrever-se a consoante, mas no outro não (os demais países de língua portuguesa são olimpicamente ignorados nesta história do Acordo).
Ao contrário do que muito boa gente pensa, o Acordo não definiu a lista dos milhares de casos em que a pronúncia da consoante é dúbia. Apenas nos diz que devemos seguir a inescrutável “pronúncia culta”, deixando até hoje aos lexicógrafos essa impossível tarefa. A perda da consoante muda com base no critério lábil da pronúncia não permite que haja unanimidade, sequer consenso!, quanto à grafia de uma caterva de palavras. Evidentemente, o corolário disto só poderia ser o que hoje está diante dos olhos de todos: a trapalhada generalizada. Os dicionários e demais fontes não se entendem quanto às palavras que perderam a consoante muda, quanto às que têm dupla grafia dentro de Portugal e quanto às que têm dupla grafia considerando Portugal e o Brasil. (E outros há que não definem o que é dupla grafia por haver dupla pronúncia intra-Portugal e dupla pronúncia por haver divergências entre Portugal e o Brasil. O caos é total.) Do Dicionário Priberam da Língua Portuguesa: “Grafia no Brasil: estupefação.” Do Portal da Língua Portuguesa: “[E]stupefacção (Brasil).”
O caos é ainda maior para quem pretende averiguar se determinada locução perde os hífenes. Escalpelizemos os hífenes. Como demonstrámos no artigo anterior, a Base XV, Ponto 6 do Acordo, além de mutilar a lógica da língua portuguesa, é totalmente imprecisa quanto aos hífenes. Vejamos seguidamente como instituições muito consagradas – e que para muitos escreventes da língua portuguesa representam a “lei” da mesma – interpretam o Acordo quanto às locuções que perderam os hífenes: o Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC) e a Imprensa Nacional-Casa da Moeda (INCM).
Na lista “CASOS EM QUE SE MANTÉM O HÍFEN NOS COMPOSTOS CONSAGRADOS PELO USO” da INCM, estão registados: “ajudante-de-campo”, “alfinete-de-ama”, “baba-de-camelo”, “boca-de-incêndio”, “braço-de-ferro”, “cabeça-de-casal”, “cabo-de-guerra”, “capitão-de-fragata”, “capitão-de-mar-e-guerra”, “dia-a-dia”, “fogo-de-artifício”, “folha-de-flandres” , “gaita-de-foles”, “jardim-de-infância”, “língua-de-gato”, “lua-de-mel”, “maçã-de-adão”, “mão-de-obra”, “mestre-de-cerimónias”, “mestre-de-obras”, “pão-de-ló”, “pé-de-atleta”, “pé-de-vento”, “pedra-de-toque”, “pó-de-arroz”, “pronto-a-vestir”, “testa-de-ferro”, “tinta-da-china”, “toucinho-do-céu”. No Portal da Língua Portuguesa, do ILTEC, todos estes “casos” aparecem sem hífenes! As demais locuções com hífenes decretadas pela INCM são “água-de-colónia”, “arco-da-velha”, “cor-de-rosa”, “pé-de-meia”, que o ILTEC consagra com hífenes e sem hífenes (apesar de serem excepções escarrapachadas no texto do Acordo como tendo necessariamente hífenes… Nem os acordistas seguem o Acordo no pouco que ele tem de objectivo…), “cabo-de-mar” que o ILTEC não acolhe nem com nem sem hífenes, “dente-de-cão” (que por ser espécie botânica é com hífenes), “frente-a-frente” que o ILTEC não acolhe nem com nem sem hífenes, “mais-que-perfeito” que mantém os hífenes no ILTEC como conceito gramatical e excepção do texto do Acordo, e “tromba-d’água” (que o Acordo de 1990 se esqueceu de repescar das bases que copiou do Acordo de 1945 e que os dicionários com o Acordo de 1990 continuam a escrever usando o Acordo de 1945). Significa isto concretamente o seguinte: nas locuções em que há interpretação subjectiva, há tão-somente cem por cento de divergência.
Sublinhe-se que o Portal da Língua Portuguesa, ao elidir os hífenes, acolhe (coerentemente) os antropónimos e topónimos com maiúscula inicial – “folha de Flandres”, “maçã de Adão” e “tinta da China”. Ou seja, a fina chapa utilizada, entre outras coisas, para a fabricação de latas (“folha-de-flandres”) ou o artefacto industrial usado como instrumento de percussão (“folha-de-flandres”) passa a escrever-se tal qual uma folha (papel ou pétala) de Flandres; a maçã dos tempos primevos de Adão e Eva passa a escrever-se tal qual a proeminência laríngea; o tipo de tinta para desenho indelével (“tinta-da-china”) passa a escrever-se como qualquer tinta (oriunda) da China. São as maravilhosas subtilezas introduzidas pelo Acordo… Mas há mais. O Portal da Língua Portuguesa acolhe “maçã de Adão” e “pomo de Adão” apenas sem hífenes. Sucede que o Acordo decreta na Base XV, Ponto 3: “Emprega-se o hífen nas palavras compostas que designam espécies botânicas e zoológicas, estejam ou não ligadas por preposição ou qualquer outro elemento.” Sucede ainda que há uma espécie botânica chamada “pomo-de-adão”…
Um matemático chegará rapidamente aos triliões (não é uma hipérbole) de Acordos com base nas combinações de palavras que perderam ou não perderam a consoante muda, nas locuções que perderam ou não perderam os hífenes, na facultatividade (outra aberração do Acordo) da letra maiúscula inicial e na facultatividade da acentuação.Como fará um professor que é obrigado a penalizar os alunos que não escrevem com a “ortografia” do Acordo, se não há consenso quanto à ortografia – se não há, no fundo, ortografia, ou seja, grafia correcta – nos dicionários relativamente a tantos vocábulos? Terá de comprar todos os dicionários, prontuários, gramáticas, fontes digitais, livros explicativos e sinópticos do Acordo e acolher todas as possibilidades, perdendo duas horas com cada palavra ou locução, ou decretará cada professor o seu próprio Acordo? Um bico-de-obra! A propósito, “bico-de-obra” perde os hífenes com o Acordo? Fazemos uma pausa na escrita e consultamos apenas dois dicionários. Ora bem, no Dicionário do Português Atual Houaiss, os hífenes estão lá. No da Porto Editora, não. Bastaria consultar estes dois dicionários nas locuções que perdem ou não os hífenes para se perceber o vácuo em que o Acordo assenta. Faça o exercício se quiser, caro leitor. O Dicionário Houaiss com o Acordo – por considerar desprezável ou desprezível? – ignora o estatuído no Acordo de nas locuções de qualquer tipo não se empregar “em geral” o hífen.
Regressemos às consoantes mudas. Há uma miríade de palavras que apresentam dupla grafia dentro de Portugal – os lexicógrafos não terão conseguido apurar a “pronúncia culta”, que, teimosa, parece oscilar no próprio assento etéreo em que repousa. Mas há dois aspectos que urge clarificar. Primeiro aspecto. Um sem-número de pessoas afirma: “Eu não quero saber o que diz o dicionário A ou B, eu quero saber o que diz o Acordo.” Sucede que o Acordo não tem tal lista de palavras. Segundo aspecto. Muitas pessoas asseguram: “Essa palavra tem dupla grafia.” A essa presunção, contraponha-se a pergunta: “Em que dicionário?” O que é de dupla grafia num dicionário não é noutro. Se uns dizem que tem e outros que não tem, aceita-se a versão mais abrangente, bastando que um diga que tem para se aceitar a dupla grafia? Ou vai-se pela média? Ou determinadas fontes merecem uma ponderação maior no cálculo da média? Como devem fazer os professores para avaliar os alunos? E nos casos em que as pessoas não concordam com o que os dicionários dizem sobre a consoante ser ou não ser muda (e são tantas as palavras!)? Fazer como diz o Ciberdúvidas sobre a palavra “ceptro”! “Voltando ao Ceptro/cetro, esta palavra não está indicada com pronúncia do p em nenhum dos dicionários a(c)tuais (mas simplesmente ¦cetro¦), nem existe a variante ceptro no Brasil. Ora o companheiro diz que há comunidades que pronunciam o p. Nesta base, passo a aceitar a necessidade da dupla grafia e deixei, portanto, de lhe fazer obje(c)ções.” Um dos grandes dramas do Acordo: os próprios acordistas não se entendem…
Não há duas pessoas que sigam o Acordo e que concordem quanto àquilo que é o Acordo. A “norma” (com setenta aspas de cada lado) é lábil, difusa, imprecisa – só não vê quem não quer ver. Que falta para a farsa terminar? Coragem política.»
Começo por fazer dois apelos, por amor à Língua Portuguesa, uma das Línguas de Expressão Ibérica, completamente DESVIRTUADA pelo AO90, e que já NÃO é Ibérica.
Primeiro apelo:
Sei que vários autores, que se dizem anti-AO90, aceitaram o convite para estar no “Correntes d’Escritas”. Apelo [que falta faz a acentuação!] para que, neste Encontro, pugnem pela Língua Portuguesa, demonstrando o quão nocivo é o AO90, para o equilíbrio das Línguas de Expressão Ibérica.
Segundo apelo:
A partir de amanhã, dia 14, até ao dia 18 de Fevereiro, ocorrerá, na Póvoa de Varzim, a 24.ª edição do Encontro de Escritores de Expressão Ibérica, o Correntes d’Escritas, para o qual foram convidados cerca de uma centena de escritores de línguas hispânicas e portuguesas, somando 15 nacionalidades diferentes.
Acompanhei o «Correntes d’Escritas» (criado no ano 2000) até ao ano em que o acordo ortográfico de 1990 foi introduzido no Encontro, e as coisas mudaram, porque a Língua Portuguesa deixou de ser Portuguesa, e as correntes, que deveriam UNIR as Línguas de Expressão Ibérica, foram quebradas.
E a partir de então, nesses encontros, tudo deixou de me interessar. A Feira do Livro, onde eu gastava dezenas de Euros, deixou de me interessar, porque passou a INSULTAR a Cultura do Livro Português, com um escaparate de autores como Sophia de Mello Breyner Andresen, que, em vida, se mostrou completamente avessa ao AO90, (conforme a imagem), a ter a sua obra para a infância, completamente DESVIRTUADA, pelo acordês, como um gigantesco INSULTO à sua memória (ao menos não lhe mutilaram o nome escrevendo Sofia de Melo Brainer) ao abrigo deste argumento completamente parvo: “Considerando a sua possível leitura em contexto escolar, este livro respeita as regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assumindo a Porto Editora a responsabilidade desta adaptação”.
Chamaram-lhe adaptação. Chamem-lhe ACORDIZAÇÃO da Língua Materna das crianças, que têm o direito a aprendê-la na sua versão greco-latina, e NÃO desenraizada, mutilada, desfeada, manca.
Sobre a profanação da obra de Sophia, sugiro a leitura de um texto, de Nuno Pacheco, no Jornal PÚBLICO, com uma introdução minha.
https://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/sophia-a-menina-do-mar-e-as-partidas-220093
Não sei como Miguel Sousa Tavares, filho da autora, e um ferrenho anti-acordista, permitiu este ultraje à obra de Sophia. Mas não só obra de Sophia foi profanada. José Saramago, os nossos clássicos, como Camilo Castelo Branco, Eça de Queiroz, Fernando Pessoa, entre muitos outros, autores de prosas e versos magníficos, foram ultrajados. Soube que em algumas bibliotecas destruíram os livros em Língua Portuguesa, para os substituir pelos acordizados.
Deixei de frequentar este Encontro. Só vou medir o pulso à Feira, e, quando a hora me permite, vou às apresentações dos livros do meu amigo Aurelino Costa, poeta poveiro do qual gosto bastante, e que, até ao momento, não traiu a Língua dos seus Poemas. De resto, não me sinto bem naquele ambiente acordista cheios de traidores da Pátria. Sei que anda por aí um modismo em que se diz que isto de “Pátria” é coisa que já não se usa. Sim, é coisa que os apátridas não usam, porque NÃO têm Pátria.
Para quem estiver interessado, aqui fica o link do programa deste Encontro de Escritores:
Isabel A. Ferreira
É obrigatório ler, até ao fim, este magistral trabalho de Luís Canau, onde este ex-jurista dá prova de que «o AO90 falha em tudo aquilo a que se propunha, devendo ser revogado o mais depressa possível».
Um magistral trabalho que os responsáveis políticos, e quem-quer-porque-quer impingir-nos o AO90, simplesmente, muito democraticamente, ignorou.
Espero que Luís Canau não se importe que eu tenha "desenterrado" o seu PDF. O meu Blogue não é propriamente um calhamaço jurídico, mas é o Lugar onde a Língua Portuguesa é (até ao dia de hoje) defendida, e o AO90 esmagado, em 4009 textos, por individualidades das mais variadas áreas. E só não está informado quem NÃO quer estar, talvez porque os textos dão muito trabalho a LER e não os ler faz muito BEM à IGNORÂNCIA. E andam por aí muitos ignorantes optativos, a ocupar cargos elevados, e a defender o indefensável AO90, simplesmente porque se RECUSAM a LER, o que pessoas FORMADAS e INFORMADAS escrevem.
Este texto de Luís Canau é daqueles que é OBRIGATÓRIO ler, para não morrermos ignorantes.
Isabel A. Ferreira
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«Acordo Ortográfico de 1990
Um atentado à estabilidade da ortografia ou o contra-senso insanável entre a unificação ortográfica e o primado da fonética»
por Luís Canau
"O Acordo é uma penumbra que vai cair sobre a língua portuguesa" – Paulo Gonçalves, Porto Editora, in Público, 21/04/2008
I
O Acordo Ortográfico de 1990 (AO90) está a ser aplicado em Portugal contra a vontade da maior parte da população e ignorando pareceres de especialistas. A percepção da aceitação do AO90 é condicionada pelo poder de direcção, em jornais e emissoras de televisão: mesmo que a maioria dos jornalistas e dos leitores as rejeitem, as chamadas "novas" normas podem ser aplicadas com base na decisão de uma única pessoa. Há mesmo casos de editoras que publicam prontuários e vendem correctores ortográficos para o AO90 que se manifestaram contra o acordo, declarando não haver nada a fazer dado as normas serem impostas politicamente.
O acordo não corresponde a uma "evolução natural" da ortografia da língua portuguesa, como alguns pretendem. Uma evolução natural não é um contrato negociado e assinado por um grupo reduzido de pessoas. Outro grupo de pessoas teria concebido normas diferentes. Algo que será feito se/quando a outros for dada essa oportunidade. Veja-se, por exemplo, o movimento "Acordar Melhor", no Brasil, que defende uma maior simplificação da ortografia, ou alguns autores em Portugal, como D'Silvas Filho que defende e utiliza o AO90, mas publica uma extensa lista de críticas e "correcções" ao mesmo. 1
O AO90 está a ser aplicado na sequência de um processo político, no qual os decisores subscreveram conceitos irrealizáveis e utópicos, sem darem ouvidos a todos os pareceres contrários que analisavam a substância do texto e alertavam para as graves consequências que adviriam da sua aplicação.
Apesar de alguns procurarem remover as vestes políticas do AO90 dizendo que este é uma criação das academias, o acordo só está em vigor porque quase 20 anos depois da sua assinatura os políticos portugueses e brasileiros o decidiram recuperar. No caso de Portugal, a Academia das Ciências de Lisboa (ACL) deixou de fazer parte do processo, tendo sido o Governo, do qual fazia parte a Exma. Sra. Deputada Gabriela Canavilhas, membro deste Grupo de Trabalho, a decidir qual seria o vocabulário oficial português, vindo a designar o do Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC).
Margarida Correia, responsável pelo Vocabulário Ortográfico do Português do ILTEC, em declarações ao Público, em 30/12/2009, explica como o AO90 falhou, afirmando que muitas regras tiveram de ser definidas a posteriori, o que significa, naturalmente, que ganhariam uma ou outra definição conforme quem efectuasse esse trabalho:
"O texto legal [do acordo] é aberto, mas é ambíguo e tem até contradições internas. Mas ninguém o vai ler quando tiver uma dúvida. O que se espera é que haja especialistas que façam a interpretação através do Vocabulário."
Ou seja, ninguém poderá alegar surpresa perante as inconsistências entre os vários dicionários e vocabulários publicados.
De acordo com o mesmo artigo do Público, "a nova ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas [...] diz que quanto mais depressa [aplicarmos o AO90] melhor será para afirmar a língua portuguesa no mundo", enquanto "a ministra da Educação, Isabel Alçada, pede tempo para a introdução das novas regras nas escolas."
Este acto – político, note-se – constitui uma violação do tratado que institui o acordo, pelo menos no seu espírito, o qual preconiza, no seu artigo 2.º, a elaboração de um vocabulário ortográfico comum com base em contributos das "instituições e órgãos competentes" que, no contexto do tratado, deveriam ser as academias que participaram na concepção do AO.
Acresce que a ACL, além de, ao que parece, ter sido delicadamente afastada do processo, pelo ex-ministro da Cultura José António Pinto Ribeiro, que considerou que a Academia teria "pouca capacidade" para elaborar o vocabulário (citado no Público de 30/04/2009), se manifestou contra a sua entrada em vigor – ou, pelo menos, contestou não ter sido consultada sobre o processo –, apontando a existência de "aspectos polémicos", os quais seria preciso estudar com vista à implementação de eventuais alterações. 2
Sobrepõe-se à questão da legitimidade para definir o vocabulário oficial, a criação de vários vocabulários ortográficos no Brasil e em Portugal, em violação do espírito do tratado, que exigia que a publicação de um vocabulário ortográfico comum precedesse em um ano a entrada em vigor do AO90. 3
Há aqui, na verdade, duas violações ao espírito do tratado:
O AO90 tem múltiplas omissões e inconsistências. Um exemplo paradigmático é a opção de remover o acento diferencial em "pára" (Base IX, 9.º), ao mesmo tempo que se mantém o acento na forma verbal "pôr", como excepção, "para a distinguir da preposição por" (Base VIII, 3.º). A mais breve reflexão deveria ser suficiente para concluir que a supressão do acento em "pára" é mais passível de gerar confusões do que a supressão do acento em "pôr".
Pôr/por:
"Por o livro em cima da mesa", "sem tirar nem por", "por mérito próprio", "por via das dúvidas", "por favor", "vou por-me a andar". Em nenhum destes casos há dúvidas onde falta o acento circunflexo, e corrigimos a leitura automaticamente, sem necessidade de interpretação.
Pára/para:
"Para ali", "para já", "para o carro", "alto e para o baile", "para para pensar", "greve para Portugal"; ou o cartaz em que a PSP se recusou a aplicar o AO (aqui "corrigido"): "Quando para em cima do passeio, para a vida de algumas pessoas".
Outro aspecto onde se reflecte a má preparação científica do AO90 são os cerca de 30 erros que viriam a ser corrigidos pela Priberam, ilustrando a falta de reflexão sobre o texto que nos chegou e a má qualidade da revisão. Existem erros em termos deixados na grafia "antiga" (jibóia, amigdalóide, respectivos, excepto, exceptuando), watt é grafado erroneamente com maiúscula inicial, há vírgulas mal colocadas, uso deficiente de conjunções, erros de acentuação, confusões terminológicas ("diagrama" por "digrama"), erros em divisões silábicas e erros simplesmente grosseiros ("insersão" por "inserção"). O AO90 diz-nos ainda que a letra w só se pronuncia na forma do português do Brasil, "dábliu", ignorando que os portugueses dizem, e vão continuar a dizer, "dâblio".
"Se não [perdêssemos as consoantes mudas], como é que íamos unificar a ortografia? Exigíamos aos brasileiros que reintroduzissem as consoantes mudas?" - Malaca Casteleiro, um dos responsáveis pelo AO90, citado no Público de 30/12/2009
O texto do AO proclama a necessidade de um acordo a qualquer custo, e essa é a fonte do problema que enfrentamos actualmente: parece ser preciso chegar a um fim predefinido, independentemente da racionalidade e da argumentação. A nota explicativa do AO aponta as razões do fracasso da convenção de 1945: os brasileiros não queriam recuperar as consoantes mudas, nem acentuar termos como "acadêmico", "oxigênio", "cômodo", etc., como em Portugal, trocando a acento circunflexo pelo acento agudo. Os autores do AO90 pensaram que a solução seria serem os portugueses a ceder, já que os brasileiros se recusaram a fazê-lo. Ou seja, se o acordo de 1945 foi rejeitado pelo Brasil porque os brasileiros não queriam escrever "académico" quando pronunciavam "acadêmico", o acordo de 1990 preconiza que os portugueses devem pronunciar "objetivo", "conceção", "adoção", como "objétivo", "concéção" e "adóção", de acordo com a tradição fonética brasileira ("culta", diriam os autores do AO, uma vez que a generalidade dos brasileiros deverá pronunciar "obijétivo" e não "objétivo").
O AO90 foi "vendido" com base em argumentos falaciosos e fantasiosos:
Muitos defensores e responsáveis políticos têm dito que o AO90 constituiria uma espécie de revolução no mercado editorial luso-brasileiro. Como se, por um passe de mágica, nos tivéssemos livrado de todos os constrangimentos linguísticos que impossibilitavam a compreensão entre os dois povos. Sempre que há que dizer, para não assustar as pessoas, que o acordo não muda muita coisa, afirma-se que as alterações são "só" ao nível da ortografia, mas há uma tremenda falta de contenção e, até, de decoro na expressão do delírio unificador, fingindo-se esquecer que as diferenças mais notórias entre o português de Portugal e o português do Brasil não se confinam ao plano da ortografia. Por muito que se note um cê a mais ou a menos, saltam mais à vista as diferentes construções frásicas, a gramática, com o predomínio da próclise dos pronomes clíticos e a preferência pelo gerúndio no português do Brasil, e, claro, todas as divergências a nível de vocabulário.
O que diz quem conhece as realidades do mercado editorial?
"Não acredito [na retórica de que o acordo ortográfico facilitará o intercâmbio editorial entre Portugal e o Brasil]. Aliás, já há provas disso. O Brasil aplicou o acordo há dois anos e, portanto, os livros brasileiros já deviam estar todos a circular por aí. Não vejo nada, não veio nem mais um livro do Brasil por causa disso." - Vasco Teixeira, administrador da Porto Editora, in Público, 17/11/2010.
A ficção da unificação é reforçada pela inexistência, no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras, de diversos termos exclusivos do português de Portugal – tanto pertencentes à norma estável como novas divergências criadas pelo AO90 –, como "receção", "conceção", "indemnizar" e "amnistia", registando-se apenas "recepção", "concepção", "indenizar" e "anistia".
A tão propalada simplificação da ortografia atenta contra a riqueza da língua portuguesa. Há casos em que dois termos, com semânticas distintas, se passam a confundir, como "óptico" (relativo à óptica ou à visão) e "ótico" (relativo ou pertencente ao ouvido), "coacção" (acto ou efeito de coagir) e "coação" (acção de coar) ou "retractar" (retirar o que se disse) e "retratar" (fazer o retrato de). No primeiro caso ("óptico"), não só se cria uma confusão em Portugal, passando a utilizar-se "ótico" tanto para nos referirmos à visão como à audição, como se cria uma divergência artificial com a grafia no Brasil, onde se mantém a grafia "óptico".
3) Divergências entre os próprios utilizadores de uma "nova" ortografia incerta e instável.
É de notar que, da mesma forma que a aplicação do AO90 por um jornal não reflecte a sua aceitação pela maioria dos que lá escrevem e, muito menos, pelos seus leitores, também no caso das editoras essa aceitação é, no mínimo, questionável. Como a citação que inicia este texto ilustra, a Porto Editora – que produz livros, programas de TV e vídeos na internet para ensinar o AO – manifestou-se ferozmente contra o acordo. Vasco Teixeira, administrador da editora, disse que o acordo era "um pequeno remendo" para aproximar as grafias, que tinha "erros técnicos" e que os editores sempre se lhe opuseram. 7
A Priberam edita dicionários e vende correctores para as várias normas ortográficas da língua (português europeu, do Brasil, com e sem AO), mas mantém no seu sítio da internet, em flip.pt, a informação que os textos continuam a ser "redigidos na variedade europeia do português e segundo a grafia vigente antes da entrada em vigor do Acordo Ortográfico de 1990, uma vez que o período de transição assim o permite".
Temos assim, entre os média que aplicam o AO90, os que escrevem "espectador" e "sector" e os que preferem "espetador" e "setor", outros que não removem o acento a "pára" e muitos que se "esquecem" convenientemente dessa regra.
4) O AO90 legitima duplas grafias ou facultatividades nacionais. Quando antes havia divergências entre Portugal e Brasil (e, como sabemos, o acordo aumenta esse número, em vez de o reduzir), passam agora a existir divergências ortográficas dentro do próprio território nacional.
O n.º 4 da Base IX do AO determina, em relação aos verbos da primeira conjugação, a facultatividade de se acentuarem as conjugações verbais da primeira pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo para as distinguir das formas correspondentes no presente do indicativo, porque "o timbre da vogal tónica/tônica é aberto naquele caso em certas variantes do português". Ou seja, o AO permite que se escreva "nós chegamos ontem", abrindo caminho para divergências ortográficas entre o Norte e o Sul do País.
Fica por explicar porque é que os autores do AO criaram esta regra particular, quando a justificação da variação de pronúncia regional poderia dar azo a uma multitude de outras regras e facultatividades. Por exemplo, tendo em contra a pronúncia do Alentejo ou de Lisboa ou de tantas outras regiões dos vários países que fazem parte da "lusofonia". Porque não poder escrever "coâilho" e "cerveija", com base na pronúncia de Lisboa? Se a lógica é só admitir tais regionalismos na medida em que retirem letras ou acentos, pode-se então perguntar porque não permitir "nã" por "não", ou atender à prática oral brasileira tornando facultativo o registo do esse final em várias conjugações verbais da primeira pessoa do plural, bem como o erre do infinitivo. Por exemplo: "nós vamo canta[á]", "nós queremo fala[á] com você", etc.
Como é possível admitir que um instrumento que se afirma unificador crie divergências ortográficas dentro do mesmo território nacional?
5) Proliferação de termos de português do Brasil, como "pato" por "pacto" ou "contato" por "contacto", ou termos incorrectos em qualquer das variantes da língua, como "inteletual".
Sendo verdade que este aspecto não é, em rigor, um problema do próprio AO90, constitui má aplicação das suas normas, pelo que é pertinente para esta discussão. Por outro lado, a indefinição de regras sugere a muitos, por falta de capacidade crítica, má vontade ou desinteresse (quantas pessoas utilizam o AO90 porque são obrigadas a fazê-lo?), que escrevam "como falam" ou que cortem consoantes indiscriminadamente. Se o que se diz na nota explicativa do acordo sobre a dificuldade que as pobres crianças de 6-7 anos têm para entender as consoantes "mudas" fosse verdade, não seria de esperar que os adultos alfabetizados que, por exemplo, escrevem no Expresso ou na página do Facebook da PSP, entendessem claramente quais consoantes estão "a mais" e quais não estão?
O termo brasileiro "contato" encontra-se regularmente nos sítios da internet da generalidade dos partidos políticos com representação parlamentar, um reflexo de que os que aprovaram o AO e o mantêm em vigor têm um conhecimento deficiente do mesmo. Para dar exemplos à direita e à esquerda, o sítio do PSD arranca nesta data (18/2/2013) com uma introdução que promete "+ contato" e o Esquerda.net regista o termo dezenas de vezes. O jornal Expresso e a revista Visão utilizam-no regularmente, contando, em conjunto, largas centenas de incidências. Até o site de Edite Estrela chegou a registar várias formas de "contatar". A eurodeputada, co-autora de um livro chamado "Saber Usar a Nova Ortografia", retirou, inclusive, um c a "Jean Jaques Rousseau" [sic]. 10
6) No próprio texto do acordo é ilustrada a impossibilidade de unificar a ortografia ao registarem-se formas alternativas de muitos termos, de modo a que a leitura seja compatível com as ortografias de Portugal e do Brasil.
tónicas/tônicas antropónimos/antropônimos topónimos/topônimos jeffersónia/jeffersônia anti-higiénico/anti-higiênico erróneas/errôneas
fónico/fônico
homónimo/homônimo fémur/fêmur tónica/tônica rizotónicas/rizotônicas prémio/prêmio pós-tónicas/pós-tônicas ténue/tênue
heterofónicas/heterofônicas contra-harmónico/contra-harmônico neo-helénico/neo-helênico bibliónimos/bibliônimos axiónimos/axiônimos hagiónimos/hagiônimos Neptuno/Netuno
Podemos assim imaginar como será a ortografia "unificada" no seio de uma qualquer instituição internacional, onde a barra assumirá o papel de instrumento ortográfico unificador:
"No dia ... realizar-se-á/se realizará uma receção/recepção com a presença do distinto académico/acadêmico da República Checa/Tcheca ..."
Neste âmbito, poderá ser estranho, dada a preocupação do AO90 com o "prestígio internacional" da língua, que não se tenham tentado unificar as muitas divergências que permanecem em nomes de países e cidades, já que os mesmos surgirão frequentemente no contexto, tão caro ao tratado, da utilização da língua portuguesa nas relações internacionais.
Algumas diferenças ortográficas em topónimos:
Amsterdã/Amesterdão
Armênia/Arménia
Bagdá/Bagdad
Bangcoc/Banguecoque
Belarus/Bielorrússia
Cingapura/Singapura
Copenhague/Copenhaga
Eslovênia/Eslovénia
Estônia/Estónia
Groenlândia/Gronelândia
Helsinque/Helsínquia
Irã/Irão
Madri/Madrid
Mônaco/Mónaco
Moscou/Moscovo
Letônia/Letónia
Polônia/Polónia
Porto Príncipe/Port-au-Prince
Quênia/Quénia
República Tcheca/República Checa
Romênia/Roménia
Tadjiquistão/Tajiquistão
Teerã/Teerão
Vietnã/Vietname
Zimbábue/Zimbabué
7) Menosprezo pelo conceito essencial da estabilidade ortográfica da língua. Portugal efectuou três reformas ortográficas no século XX. O tempo decorrido entre os dois últimos acordos ortográficos é comparável ao tempo que já decorreu desde a concepção até à aplicação do presente acordo. A obsessão com a "unificação" da ortografia resulta numa tendência em alterar as regras da escrita a cada geração. Arriscamo-nos a escrever numa grafia diferente dos nossos pais e avós e que os nossos filhos aprendam, igualmente, uma grafia diferente. Isto prejudica, por um lado, a literacia – com a agravante do actual acordo gerar facultatividades e regras interpretadas de diferentes modos – e, por outro, a comunicação intergeracional.
Se o processo de adopção do AO90 tivesse corrido conforme previsto, entrando o mesmo em vigor em 1994, seriam grandes as probabilidades que outro grupo de professores iluminados estivesse já a trabalhar num novo acordo. Não se pode quebrar, injustificadamente, a estabilidade ortográfica que une gerações e nos mantém em contacto com a cultura e a literatura do passado. Se o AO90 unificasse de facto poderia fazer sentido discutir-se a necessidade de interferir com a estabilidade ortográfica.
"A estabilidade ortográfica não se põe em causa com argumentos falaciosos" – Francisco Miguel Valada, autor de “Demanda, Deriva, Desastre – Os três dês do Acordo Ortográfico”.
"[O AO90] revela insensibilidade à preservação da estabilidade ortográfica e ao valor patrimonial da ortografia" – António Emiliano, autor de "Apologia do Desacordo Ortográfico".
Revogação imediata da aplicação do Acordo Ortográfico de 1990 no território português e o regresso oficial à ortografia estável da língua portuguesa, regulada pelo Acordo Ortográfico de 1945.
EM SUMA,
Luís Canau
Ex-jurista, profissional de cinema de animação, programador de cinema, tradutor
Notas:
"Problemas ortográficos, novo acordo", por D'Silvas Filho: http://www.dsilvasfilho.com/Novo%20Acordo.%20Regras %20e%20Problemas%20ortogr%C3%A1ficos.htm
O autor aponta oito defeitos em relação às regras do hífen, cinco em relação às consoantes "mudas", como qualquer pessoa de bom senso não concorda com a supressão do acento diferencial em "pára", entre muitas outras questões. Não se entende como pode o autor defender o AO90 ao mesmo tempo que afirma que o mesmo está minado por defeitos técnicos. Esta aparente contradição não impede D'Silvas Filho de publicar um Prontuário Ortográfico "actualizado".
Fonte: https://app.parlamento.pt/webutils/docs/doc.pdf...
«Resolvi escrever um texto com as razões da minha discordância quanto ao famigerado AO90. Aqui ficam alguns argumentos contra o AO90»
(João Pedro Forjaz Secca)
Resolvi escrever um texto com as razões da minha discordância quanto ao famigerado AO90. Aqui fica:
Alguns argumentos contra o AO90
Infelizmente, deparamo-nos hoje com uma ortografia mutilada que não respeita a etimologia nem a fonética, já que as ditas consoantes mudas também lá estavam para abrirem a vogal precedente... Este "aborto" ortográfico é baseado numa mentira - a da unificação da ortografia.
De facto, que unificação é essa, se antes do AO a palavra "recepção", por exemplo, se escrevia do mesmo modo em Portugal e no Brasil e, após o acordo se escreve de modo diferente??? (e há muitos exemplos como este...).
O critério fonético não pode servir de norma ortográfica, devido às variações regionais de pronúncia - senão a palavra "vaca" teria que ser escrita de modo diferente em Lisboa e no Porto, a palavra "assim" teria a grafia "achim" em Viseu, e a palavra "consciência" seria grafada "conciência" na Covilhã. Ou então passamos a retirar também o H de homem, hoje, hospital, etc. ...
O argumento da simplificação da escrita para facilitar a aprendizagem é absurdo. Como é que as criancinhas inglesas, coitadas, aprendem a escrever inglês, com aqueles F's e PH's e mais não sei quantas consoantes mudas... ? Tudo isto me faz lembrar a "novilíngua" do romance de George Orwell, "1984", em que a língua vai sendo simplificada para se ir progressivamente dominando a população pela redução à estupidez.
É preciso não esquecer que pensamos por associação de palavras e que a possibilidade de nos remetermos ao étimo é fundamental para uma correcta compreensão e elaboração de conceitos. E o que este AO faz é ignorar completamente as questões etimológicas. É um absurdo, elaborado por um grupo de linguistas que teria na sua agenda interesses económicos (Malaca Casteleiro e António Houaiss) para a venda de livros e dicionários em ambos os lados do Atlântico, e cujas consequências da aplicação resultaram num total caos ortográfico, como se pode ver pelas notas de rodapé que aparecem na TV, cheias de gralhas, e até no Diário da República, em que começam a desaparecer consoantes que nem com o infame AO teriam desaparecido - com "fato" por facto, ou "contato" por contacto... (também há o episódio de uma edição recente de um livro do Saramago, já com o AO, em que uma personagem aparece como tendo feito um "pato" com o diabo...).
As modificações ortográficas da reforma ortográfica de 1945 foram feitas por gente muito mais inteligente do que este grupo do Malaca Casteleiro. É preciso também não esquecer quais as tristes figuras políticas que foram responsáveis pela aplicação apressada do "aborto" - Santana Lopes, Cavaco Silva e, mais tarde, José Sócrates - tudo gente que não prima, propriamente, pela cultura que possui... Mais de 80% do nossos linguistas e escritores são, obviamente, contra este atabalhoado AO90 (que até os próprios proponentes começam a reconhecer que apresenta muitas falhas).
Mais alguns argumentos:
- o absurdo de haver palavras que, por pertencerem à mesma família semântica e, consequentemente, deverem apresentar grafias concordantes, agora aparecerem escritas de modo diferente, como "Egito"/egípcio e "ótico"/optometrista (...e com os medicamentos que agora aparecem designados como soluções "óticas" ficamos sem saber se é para pôr as gotas nos olhos ou nos ouvidos... na dúvida coloque no nariz!). Se atentarmos ao rigor científico, temos de concluir que este AO é uma desgraça. E quanto ao critério fonético, há tanta gente que pronuncia o P de Egipto...! Quem é que decide como é que a palavra se pronuncia? Essa história de as letras desaparecerem porque não se pronunciam... há muita gente que não pronuncia e muita gente que pronuncia as tais letras!
- o manual de Ciências Naturais do 9º ano da Porto Editora, Cientic, fala em doenças "infeciosas"... só muito raramente se ouve alguém pronunciar a palavra como "inféSSiosas", sendo a pronúncia habitual "inféQsiosas". Escrevi para lá (linhaderigor@portoeditora.pt) e responderam-me dizendo que é um caso de dupla grafia e que "na pronúncia comum da palavra na variante europeia do português a consoante é muda" (o que é totalmente falso...). Esta história das duplas grafias, ou das facultatividades, só veio aumentar, e muito, a confusão generalizada e tornar mais difícil a aprendizagem do português pelas crianças. Já havia, claro, algumas duplas grafias, anteriormente, como ouro/oiro e touro/toiro. Mas não era necessário introduzir mais outras tantas!
- a duplicidade de sentido que aparece em palavras que antes eram objectivas e inequívocas e agora passam a ser dúbias, como "espetador" (ficamos sem saber se estamos em presença de um espectador ou de alguém que espeta coisas, como um toureiro) e "detetar" (referem-se ao verbo detectar ou ao acto de tirar a teta?). Ou, em vez de recepção, "receção", em que a tendência natural é para lê-la como "recessão"...
Finalmente, há ainda a considerar que o AO90 é ilegal e inconstitucional, já que não foi ratificado por todos os países proponentes e "o governo não cumpriu os passos processuais que a sua aplicação implicava". Quanto a este ponto, têm toda uma argumentação muito bem fundamentada no livro: "O Acordo Ortográfico de 1990 não está em vigor", com o subtítulo "Prepotências do Governo de José Sócrates de do Presidente Cavaco Silva", do Embaixador Carlos Fernandes (Ed. Guerra e Paz, 2016).
Um dos argumentos disparatados dos defensores do acordo é que a língua tem que evoluir. Então, em vez de deixá-la evoluir naturalmente, toca a forçar a sua "evolução a todo o custo"! É o mesmo que um evolucionista querer provocar a evolução de seres vivos colocando-os em contacto com as radiações de Tchernobyl ou de Fukushima, para alterar o seu DNA... E depois dizer: "Mas os seres vivos têm que evoluir"...
Em jeito de conclusão deixo-vos três perguntas:
1 - Este AO era necessário? Não. Os vários países do mundo em que se fala inglês, francês, espanhol ou árabe nunca fizeram acordo algum entre si e, apesar das variantes regionais que cada um destes idiomas apresenta, entendem-se todos muito bem a nível linguístico.
2 - Este AO serviu para alguma coisa? Não. Absolutamente nada! Continuamos, e continuaremos a escrever de modo diferente em Portugal e no Brasil, havendo até várias palavras que antes se escreviam do mesmo modo, como "recepção" e que agora têm grafias diferentes cá e lá. E continuarão a existir sempre enormes diferenças de vocabulário e de construção frásica entre o português de Portugal e o português do Brasil que nenhum acordo poderá jamais resolver (a não ser que o secreto objectivo por trás disto tudo seja mesmo ir transformando, aos poucos, o nosso português em brasileiro...).
3 - Trouxe vantagens? Foi positivo? Nem um pouco! Nunca se escreveu tão mal e com tantos erros ortográficos como actualmente, após a aplicação do AO (que ainda por cima, como já referi anteriormente, é ilegal e inconstitucional).
É por estas e por outras que eu me recuso, terminantemente, a escrever em acordês (prefiro o português)...»
João Pedro Forjaz Secca
Fonte: https://www.facebook.com/joao.secca/posts/10206780174495385
Repescando um actualíssimo texto de 2016, da autoria de João Pedro Forjaz Secca
Porque é preciso não deixar morrer a fogueira onde há-de ser queimado o AO90.
Bem sei que o tempo é de combate à Covid-19, e a todas as outras doenças que estão em banho-maria, morrendo-se mais por estas do que por aquelas.
Mas dizem-nos que a vida tem de continuar…
E da nossa vida também faz parte a nossa Língua, cada vez mais esmagada pelo AO90, pela ignorância dos que a escrevem mal, e pela indiferença dos governantes portugueses, que assobiam para o lado, como se nada tivessem a ver com isto. O que vale é que nenhum deles será candidato a nome de ruas ou a ser perpetuado em estátuas. Podem crer.
Isabel A. Ferreira
Origem da imagem (adaptada): http://pt.slideshare.net/galegaencarnada/recepo-alunos-prescolar
Por João Pedro Forjaz Secca
«Resolvi escrever um texto com as razões da minha discordância quanto ao famigerado AO90. Aqui fica:
Alguns argumentos contra o AO90
Infelizmente, deparamo-nos hoje com uma ortografia mutilada que não respeita a etimologia nem a fonética, já que as ditas consoantes mudas também lá estavam para abrirem a vogal precedente...
Este "aborto" ortográfico é baseado numa mentira - a da unificação da ortografia. De facto, que unificação é essa, se antes do AO a palavra "recepção", por exemplo, se escrevia do mesmo modo em Portugal e no Brasil e, após o acordo se escreve de modo diferente??? (e há muitos exemplos como este...). O critério fonético não pode servir de norma ortográfica, devido às variações regionais de pronúncia - senão a palavra "vaca" teria que ser escrita de modo diferente em Lisboa e no Porto, a palavra "assim" teria a grafia "achim" em Viseu, e a palavra "consciência" seria grafada "conciência" na Covilhã.
Ou então passamos a retirar também o H de homem, hoje, hospital, etc. ... O argumento da simplificação da escrita para facilitar a aprendizagem é absurdo. Como é que as criancinhas inglesas, coitadas, aprendem a escrever inglês, com aqueles F's e PH's e mais não sei quantas consoantes mudas...? Tudo isto me faz lembrar a "novilíngua" do romance de George Orwell, "1984", em que a língua vai sendo simplificada para se ir progressivamente dominando a população pela redução à estupidez. É preciso não esquecer que pensamos por associação de palavras e que a possibilidade de nos remetermos ao étimo é fundamental para uma correcta compreensão e elaboração de conceitos.
E o que este AO faz é ignorar completamente as questões etimológicas. É um absurdo, elaborado por um grupo de linguistas que teria na sua agenda interesses económicos (Malaca Casteleiro e Antônio Houaiss) para a venda de livros e dicionários em ambos os lados do Atlântico, e cujas consequências da aplicação resultaram num total caos ortográfico, como se pode ver pelas notas de rodapé que aparecem na tv, cheias de gralhas, e até no Diário da República, em que começam a desaparecer consoantes que nem com o infame AO teriam desaparecido - com "fato" por facto, ou "contato" por contacto... (também há o episódio de uma edição recente de um livro do Saramago, já com o AO, em que uma personagem aparece como tendo feito um "pato" com o diabo...)
As modificações ortográficas da reforma ortográfica de 1945 foram feitas por gente muito mais inteligente do que este grupo do Malaca Casteleiro. É preciso também não esquecer quais as tristes figuras políticas que foram responsáveis pela aplicação apressada do "aborto" - Santana Lopes, Cavaco Silva e, mais tarde, José Sócrates - tudo gente que não prima, propriamente, pela cultura que possui... Mais de 80% dos nossos linguistas e escritores são, obviamente, contra este atabalhoado AO90 (que até os próprios proponentes começam a reconhecer que apresenta muitas falhas).
Mais alguns argumentos:
- o absurdo de haver palavras que, por pertencerem à mesma família semântica e, consequentemente, deverem apresentar grafias concordantes, agora aparecerem escritas de modo diferente, como "Egito"/egípcio e "ótico"/optometrista (...e com os medicamentos que agora aparecem designados como soluções "óticas" ficamos sem saber se é para pôr as gotas nos olhos ou nos ouvidos... na dúvida coloque no nariz!).
Se atentarmos ao rigor científico, temos de concluir que este AO é uma desgraça. E quanto ao critério fonético, há tanta gente que pronuncia o P de Egipto...! Quem é que decide como é que a palavra se pronuncia? Essa história de as letras desaparecerem porque não se pronunciam... há muita gente que não pronuncia e muita gente que pronuncia as tais letras!
- o manual de Ciências Naturais do 9º ano da Porto Editora, Cientic, fala em doenças "infeciosas"... só muito raramente se ouve alguém pronunciar a palavra como "inféSSiosas", sendo a pronúncia habitual "inféQsiosas". Escrevi para lá (linhaderigor@portoeditora.pt) e responderam-me dizendo que é um caso de dupla grafia e que "na pronúncia comum da palavra na variante europeia do português a consoante é muda" (o que é totalmente falso...). Esta história das duplas grafias, ou das facultatividades, só veio aumentar, e muito, a confusão generalizada e tornar mais difícil a aprendizagem do português pelas crianças. Já havia, claro, algumas duplas grafias, anteriormente, como ouro/oiro e touro/toiro. Mas não era necessário introduzir mais outras tantas!
- a duplicidade de sentido que aparece em palavras que antes eram objectivas e inequívocas e agora passam a ser dúbias, como "espetador" (ficamos sem saber se estamos em presença de um espectador ou de alguém que espeta coisas, como um toureiro) e "detetar" (referem-se ao verbo detectar ou ao acto de tirar a teta ?). Ou, em vez de recepção, "receção", em que a tendência natural é para lê-la como "recessão"...
Finalmente, há ainda a considerar que o AO90 é ilegal e inconstitucional, já que não foi ratificado por todos os países proponentese "o governo não cumpriu os passos processuais que a sua aplicação implicava". Quanto a este ponto, têm toda uma argumentação muito bem fundamentada no livro: "O Acordo Ortográfico de 1990 não está em vigor", com o subtítulo "Prepotências do Governo de José Sócrates e do Presidente Cavaco Silva", do Embaixador Carlos Fernandes (Ed. Guerra e Paz, 2016).
Um dos argumentos disparatados dos defensores do acordo é que a língua tem que evoluir. Então, em vez de deixá-la evoluir naturalmente, toca a forçar a sua "evolução a todo o custo"! É o mesmo que um evolucionista querer provocar a evolução de seres vivos colocando-os em contacto com as radiações de Tchernobyl ou de Fukushima, para alterar o seu DNA... E depois dizer: "Mas os seres vivos têm que evoluir"...
Em jeito de conclusão deixo-vos três perguntas:
1 - Este AO era necessário? Não. Os vários países do mundo em que se fala inglês, francês, espanhol ou árabe nunca fizeram acordo algum entre si e, apesar das variantes regionais que cada um destes idiomas apresenta, entendem-se todos muito bem a nível linguístico.
2 - Este AO serviu para alguma coisa? Não. Absolutamente nada! Continuamos, e continuaremos, a escrever de modo diferente em Portugal e no Brasil, havendo até várias palavras que antes se escreviam do mesmo modo, como "recepção" e que agora têm grafias diferentes cá e lá. E continuarão a existir sempre enormes diferenças de vocabulário e de construção frásica entre o português de Portugal e o português do Brasil que nenhum acordo poderá jamais resolver (a não ser que o secreto objectivo por trás disto tudo seja mesmo ir transformando, aos poucos, o nosso português em brasileiro...).
3 - Trouxe vantagens? Foi positivo? Nem um pouco! Nunca se escreveu tão mal e com tantos erros ortográficos como actualmente, após a aplicação do AO (que ainda por cima, como já referi anteriormente, é ilegal e inconstitucional).
É por estas e por outras que eu me recuso, terminantemente, a escrever em acordês (prefiro o português)...»
Fonte: https://www.facebook.com/joao.secca/posts/10206780174495385
«Sophia, que era declaradamente contra o Acordo Ortográfico, foi “adaptada” a ele numa edição recente que no resto não o respeita. Faz isto qualquer sentido?» (Nuno Pacheco in Jornal Público)
Não é só o livro “A Menina do Mar” que está acordizado. Todos os outros livros de Sophia para a infância foram acordizados, pelo motivo parvo que mais abaixo é referido (e está a negrito). Vi-os na Feira do Livro do Correntes d’Escritas, na Póvoa de Varzim, deste ano. Feriu-me a alma ver as obras para a infância, de Sophia de Mello Breyner, acordizadas, pela porto editora, assim em letras minúsculas, à acordês. Apeteceu-me comprá-los todos e ir queimá-los à rua. Mas não tinha onde queimá-los. Na próxima, providenciarei uma lata e queimá-los-ei, como lixo, não pelo conteúdo, que, para mim, é sagrado. Mas pela forma: um insulto à memória de Sophia. Um insulto à Língua Portuguesa. Um insulto às crianças portuguesas, as quais são forçadas a desaprender a própria Língua Materna, até porque o AO90 é uma fraude, não está em vigor, e ninguém é obrigado a aplicá-lo. E um livro em acordês, não é um LIVRO: é um conjunto de meras folhas de papel. (Isabel A. Ferreira)
«Sophia, “A Menina do Mar” e as partidas dos meninos da terra»
Um texto de Nuno Pacheco, no Jornal Público.
«Está a chegar ao fim o ano em que se têm vindo a celebrar os centenários do nascimento de Jorge de Sena (1919-1978) e Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004). E se em Setembro essa celebração os juntou em pelo menos dois momentos (um colóquio no Brasil, no Rio de Janeiro, e um ciclo na Cinemateca, dedicados a ambos), agora é a vez dos Encontros Imaginários criados no grupo de teatro A Barraca darem voz a um “diálogo” entre os dois, com Maria do Céu Guerra a encarnar Sophia e José Manuel Mendes na pele de Jorge de Sena. A moderação, como sempre, cabe ao criador destes encontros, o encenador Helder Costa. Dia 16 de Dezembro, às 21h30.
Falando apenas de Sophia, este último trimestre tem sido pródigo em apontamentos sobre a sua vida e obra. Matosinhos dedicou-lhe um dia, na Biblioteca Municipal Florbela Espanca (onde agora, de 6 a 8, celebra Sophia e Sena na Festa da Poesia). E o Centro Cultural Vila Flor, de Guimarães, recebeu a adaptação para teatro e música do conto A Menina do Mar, pelo Teatro do Eléctrico, com encenação de Ricardo Neves-Neves e direcção musical de Martim Sousa Tavares (neto de Sophia). Anuncia-se ainda para 13 de Dezembro o espectáculo multimédia O Mundo de Sophia, pela Lisbon Poetry Orchestra, no Auditório Renato Araújo da Universidade de Aveiro. É o queimar dos últimos cartuchos. Oxalá não lhes suceda, depois, o silêncio.
Mas ainda falando de Sophia, foi recém-lançada uma “edição muito especial” do conto A Menina do Mar, pela Valentim de Carvalho. E o “muito especial” justifica-se por juntar àquele que foi o primeiro livro infantil de Sophia (de 1958) duas leituras dramatizadas distintas: a que dele fizeram, em 1961, os actores Eunice Muñoz, Francisca Maria, António David e Luís Horta, com direcção de Artur Ramos e música de Fernando Lopes-Graça (aqui incluída em CD); e o espectáculo estreado em Fevereiro no São Luiz, em Lisboa, interpretado por Carla Galvão e Filipe Raposo (ao piano) a partir de música de Bernardo Sassetti (1970-2012), com direcção de Paula Diogo e animações de Beatriz Bagulho, também chamada a ilustrar o livro (o espectáculo surge aqui em DVD). Para dar um ar ainda mais “especial” à edição, pensada e produzida por Rui Portulez, o texto introdutório é de Marcelo Rebelo de Sousa, que sublinha estarmos perante “diferentes leituras, diferentes gerações e diferentes métodos de revisitar um texto fundador.”
A única estranheza resulta desta pequena nota incluída na ficha técnica: “Considerando a sua possível leitura em contexto escolar, este livro respeita as regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assumindo a Porto Editora a responsabilidade desta adaptação”. É curioso, porque nem a ficha nem o texto do Presidente da República têm essa preocupação, lendo-se, neles, palavras “proibidas” como “direcção” ou “espectáculo”. Será porque pensam que estes não serão lidos “em contexto escolar”? Vamos então conferir o trabalho de adaptação feito no texto original de Sophia. “Hei-de” passou a “hei de”; “Outono” a “outono” (3 vezes); “Verão” a “verão”; “Primavera” a “primavera” (2 vezes); “Inverno” a “inverno”; “projecto” a “projeto”; “vêem” a “veem”. E é só. Dez alterações, ao todo. Justificava o trabalho? Justificava a nota?
Aqui podem sempre brandir-se dois argumentos. Um, a favor do Acordo, que dirá: estão a ver, quase não se nota. Outro, contra, que oporá: se quase não se nota, para quê mexer? Sobretudo quando se sabe que Sophia foi declaradamente contra o Acordo Ortográfico? Teve até uma argumentação em dez pontos, em entrevista ao JL, em 1991. Recordemo-la, na íntegra:
“1. A cultura é feita de exigência e este acordo é feito de transigência. 2. Vai alterar, em muitos casos, a dicção oral. 3. Vai desfigurar o carácter emblemático e a estética da escrita. 4. Vai-nos separar da tradição grega e latina e, assim, para os estrangeiros que falam línguas românicas, o Português vai-se tornando mais difícil. 5. Vai destruir a modulação das vogais, tornando algumas delas surdas. 6. O acordo nada unifica, pois constantemente recorre a alternativas. 7. A escrita nunca pode coincidir com a fala. 8. A ortografia pertence ao número de coisas que só raríssimas vezes devem ser modificadas, pois também na forma gráfica nos reconhecemos. 9. É verdade que as línguas evoluem, mas evoluem dentro das leis que lhes são próprias e segundo o espírito criador do tempo. O mesmo é verdade para a escrita que, por isso, não pode ser modificada por comissões nem por estratégias políticas. 10. A única palavra portuguesa cuja ortografia precisa de ser mudada é dança que se deve escrever com ‘s’ como era antes, porque o ‘ç’ é uma letra sentada.”
Tirando esta última sugestão poética, que os defensores do Acordo costumam usar como caricatura, a argumentação de Sophia é clara. Corrigi-la postumamente é indefensável, pelo que o livro, para honrar a sua memória, deveria ser mantido na grafia original da autora. Porque não são as dez palavrinhas que estão em causa, mas sim uma questão de princípio. Ou sugerem atirar à fogueira as edições anteriores, não vão as crianças ter um choque ao lê-las?»
Fonte:
Um apelo, um desafio a todos os professores que se têm como tal.
«Este é o ponto fulcral para o combate vitorioso sobre o infame Acordo Ortográfico de 1990: «Se os professores tomarem uma posição firme de real oposição ao AO90, amigo António Sérgio Marques, ele acaba em dois tempos.»
Isto foi o que eu disse num comentário, que está na base da publicação de António Sérgio Marques, no Grupo «Professores Contra o Acordo Ortográfico», no Facebook, e que aqui transcrevo, em jeito de apelo e de desafio a todos os professores que (des) ensinam os alunos, e farei minhas as palavras que Angel Marinho, professor aposentado, do ensino secundário, escreveu num comentário: «O que mais me impressiona não é, propriamente, o famigerado acordo. É sim, o elevado número de pessoas, obedientes, que caíram neste embuste.»
E enquanto o embuste não é resolvido na Justiça, poder-se-ia ir adiantando o processo de extinção do AO90.
Duas crianças portuguesas exibem a bandeira portuguesa, como que reclamando justiça para a Língua Materna delas.
(…)
(Os excertos a negrito são da responsabilidade da autora do Blogue)
«Comentários (ao meu comentário: «Se os professores tomarem uma posição firme de real oposição ao AO90, amigo António Sérgio Marques, ele acaba em dois tempos») - e ACÇÃO, principalmente, acção - precisa-se, nobres companheiros de combate ao AO90. Se não forem os professores a quebrar a deriva trágica da Língua Portuguesa - mutilada e amesquinhada pela nova ortografia imposta inconstitucional e prepotentemente pelo governo de José Sócrates, depois de cozinhada por Cavaco Silva sob as instruções da Porto Editora e congéneres, com as batutas decrépitas e presunçosas de Malaca e Bechara - o AO90 prevalecerá, pois nós que recusamos o acordo vamos todos morrer sem descendência que fale e escreva em Português inteiro e livre do vírus da mediocridade 'acordista'.
Vamos lá, nobres professores deste e de outros fóruns de combate ao AO90. Vamos ser coerentes com o que pensamos e escrevemos. A humanidade não teria saído das cavernas, não teria ido à lua, se não houvesse coragem de acreditar na possibilidade do impossível!
Vencer o AO é possível e simples, mas depende inteiramente de vocês (e de mim, que em breve espero estar a dar aulas como vós - em PORTUGUÊS)!
Sem medo, pelas gerações mais jovens, cujo futuro largamente comprometido pelos desmando das nossas miseráveis elites politicas e económicas, não tem que incluir a perda da integridade desse património colectivo e identitário que é a sublime língua de Pessoa, Eça, Camões e Saramago, ameaçada de morte por esta bárbara e mesquinha afronta de quem se arrogou o direito de apropriação de um bem superlativo que pertence aos portugueses de hoje, de ontem e, principalmente, de amanhã.
Claro que os professores enfrentarão obstáculos que, na prática, poderão parecer difíceis de transpor, como é o caso de todos os manuais escolares estarem redigidos no Português mutilado pela ortografia 'acordista'. Nada que, em cada aula, não possa ser corrigido, a caneta, pelos alunos, sob a orientação atenta dos docentes.
Haverá, ainda, a ter em conta a resistência de pais e professores candidamente preocupados com a incapacidade dos meninos e meninas que nunca escreveram português correctamente - porque ingressaram no ensino com o AO90 já (ilegalmente) em vigor, como é o caso do meu filho - serem obrigados a adoptar a ortografia pré-acordo que lhes é estranha.
Trata-se do principal argumento daqueles defensores da perseverança no erro trágico que é o AO90, não por convicção, mas sim por inércia e comodismo de não querer travar 'o comboio da desgraça já em andamento'!
Só que esse argumento é ostensivamente desonesto, pois aqueles alunos, como a minha filha (mais velha que o irmão) que entraram para a escola quando o Português aí ensinado e utilizado obedecia à grafia pré-AO90, foram obrigados a ser capazes de desaprender o bom Português e passar a expressar-se por escrito na versão bastarda do mesmo. (*)
Como não existem estudos científicos que suportem uma pretensa quebra acentuada de QI entre a faixa etária da minha filha e a do meu filho, seria bom que esses apologistas acomodados do AO90 renovassem o seu argumentário.»
António Sérgio Marques
(*) E a falácia desse argumento de que já aprenderam a escrever segundo o AO90, é tanta que tenho a dizer o seguinte (e já o repeti vezes sem conta): eu aprendi a ler e a escrever segundo o AO43 (= ao AO90, mais coisa, menos coisa) no Brasil, dos seis aos oito anos. Aos oito anos vim para Portugal, e tive de desaprender o Brasileiro, para aprender o Português. E aos 12 fui para o Brasil novamente, e tive de deixar o Português. E isto repetiu-se mais umas vezes. E isto foi como aprender duas línguas; às quais juntei o Inglês, o Castelhano e o Francês. E estou aqui: inteira e de boa saúde, porque as crianças têm uma capacidade extraordinária para aprender Línguas, que os adultos não têm.
Ouro exemplo (e há milhões deles): veja-se o Ronaldinho, filho de Cristiano Ronaldo que, de acordo com o pai (e eu acredito, porque aconteceu comigo) o menino, que tem nove anos, sabe escrever e falar na perfeição quatro línguas: a Língua Portuguesa (a do pai); a Língua Castelhana (porque viveu em Espanha); a Língua Inglesa (a língua universal para comunicar com o mundo); e agora a Língua Italiana (que, num ápice, aprendeu, desde que o Pai Ronaldo foi para a Juventus).
Porque não hão-de as crianças portuguesas, que aprenderam a escrever incorretamente a sua Língua Materna, aprendê-la a escrever correCtamente e com muito mais lógica?
***
Posto isto, o apelo, o desafio, está feito.
E se os professores, que se têm como tal, se unissem nesta acção?
Há que tirar, agora, a prova dos nove.
Fonte:
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=428540821169981&set=gm.1478040339013942&type=3&theater&ifg=1
Notícia: omitiu-se partes do poema “Ode Triunfal”, de Álvaro de Campos, um dos heterónimos de Fernando Pessoa, num manual escolar de língua aportuguesada do 12.º ano (já não é mais Língua Portuguesa).
Já mutilam as palavras, agora querem mutilar um poema que, ou se lê na íntegra, ou simplesmente não se lê, e se contém linguagem explícita, escolhiam outro poema. A obra de Fernando Pessoa é muito vasta.
Mais razões teriam para repudiar a ortografia mutilada, estampada nos manuais escolares, que ataca e fere a Língua Portuguesa, e ninguém está preocupado com isso.
O Ministério da Educação está a enganar as crianças portuguesas, que vão para a escola desaprender a escrever correCtamente a sua Língua Materna, e a Porto Editora, muito hipocritamente, vem a público esclarecer que não se tratou de “qualquer censura”, na mutilação da ODE, mas sim de “uma preocupação didáCtico-pedagógica” (à portuguesa, e não didático-pedagógica, à brasileira) tendo em conta que se tratam de três versos com “linguagem explícita e que se relacionam com a prática de pedofilia”. E até já li algures que Fernando Pessoa era pedófilo, mas já não está cá para se defender. E eu não sei nada sobre isto.
Tenham vergonha, e se, na realidade, querem ter preocupações didáCtico-pedagógicas, comecem pela ortografia pornográfica, que viola a Língua Portuguesa.
Isto fere mais do que a linguagem explícita, que é explícita desde que o Álvaro de Campos a escreveu, e só agora é que deram conta disso? E é da Pedagogia reflectir sobre um poema mutilado?
Senhor Ministro da Educação, o ensino em Portugal está um caos. Está pervertido. Os futuros médicos têm melhor desempenho a Português do que aqueles que serão professores. E depois não se surpreendam quando se lê por aí que Portugal está na cauda da Europa nestas questões do Ensino e da Cultura (além de muitas outras).
Uma vergonha! Uma hipocrisia! Um atentado à inteligência.
Isabel A. Ferreira
Quem o diz, desta vez, é Nuno Pacheco, redactor principal do Jornal Público, em mais um excelente artigo, bastante esclarecedor.
No entanto, houve quem chamasse ao Nuno, num comentário a este artigo (tal como chamam a mim e aos descadordistas em geral) velho do Restelo, como se isso fosse um insulto! Não se importe, Nuno, porque mais vale ser velho do Restelo, do que novo do rastejo (que anda a rastejar pela ignorância), até porque eles desconhecem o simbolismo do Velho, que em parte alguma do poema se diz que é do Restelo, nas estrofes de Os Lusíadas. Mais uma ignorância a somar a tantas outras.
Mas vamos ao texto do Nuno Pacheco, que subscrevo na íntegra.
Fonte da imagem:
Texto de Nuno Pacheco
10 de Janeiro de 2019
«Como várias asneiras outrora cometidas e felizmente corrigidas, esta só espera por um momento de clarividência. Porque irreversível, neste mundo, só mesmo a morte.
Chegado a 2019, o grupo Cofina decidiu estender a aplicação do acordo ortográfico de 1990 (AO90) às restantes publicações do grupo. Já aplicado no Correio da Manhã, no Destak, no Record e na CMTV, ei-lo agora no Jornal de Negócios e nas revistas Sábado, Máxima e TV Guia.
Razões? Porque “é inegável que a sua aceitação está estabilizada e é irreversível”, disse o director do Jornal de Negócios. Já a Sábado, na pequena nota que escreveu sobre o assunto, quis deixar bem claro que “o novo acordo não é perfeito, foi mais político do que técnico, mas é hoje uma realidade incontornável e definitivamente assimilada na sociedade portuguesa”. Mais: “Quando várias gerações de jovens estudantes já estudam por manuais adaptados à nova grafia e toda a administração pública está vinculada a ele, não faz sentido persistir numa atitude de resistência anacrónica.”
Recuando seis anos, há alguma similitude com o argumento invocado pelo Correio da Manhã para “adotar” (sic) o AO90 a partir de 2 de Janeiro de 2013. “Já é seguido nos manuais escolares, nos livros, na legendagem”, diziam. Para concluir: “Nunca seremos um obstáculo à mudança.” Portanto, toca a “tornar a comunicação mais fácil”. Como? Escolhendo o que mais lhes convinha, claro! “Nas palavras que admitem dupla grafia optámos por manter tal como na ‘escrita antiga’.”
Sim? Fizeram-no em pára e “para”. Mas é bom recordar o resto: se entre espectador e “espetador” e ceptro e “cetro” escolheram as primeiras, no mais fizeram o contrário do que prometiam, optando por “aspeto” em lugar de aspecto, “carateres” em vez de caracteres, “receção” em vez de recepção, “perentório” em vez de peremptório, “setor” em vez de sector, sendo os restantes exemplos falsas escolhas, porque apresentavam como “dupla grafia” palavras que nunca existiram em Portugal, sendo usadas apenas na fala e na escrita brasileira: anistia (amnistia), indenizar (indemnizar), suntuoso (sumptuoso), fato (como facto) ou até gênio (génio)!
É isto optar pela “escrita antiga”? Não leram sequer o que escreveram? Não devem ter lido, senão não deixavam passar esta “dupla grafia” extraordinária: “fémea” [sic] e fêmea. Escolheram a segunda, claro. Aliás, era fácil, porque a primeira não existe em lado nenhum. Ia assim a brincadeira, nos idos de 2013. Agora, por decisão cofineira, alastrou. Teme-se o pior.
Mas, para lá desta mudança, que só irá contribuir para ampliar o caos ortográfico reinante a que alguns chamam “nova ortografia” (embora não passe de uma ridícula mistura de grafias a esmo, sem freio nem norte), pesemos os argumentos. O AO90 é mesmo uma “realidade incontornável e definitivamente assimilada na sociedade portuguesa”? E é verdade que “a sua aceitação está estabilizada e é irreversível”?
Para palavras, antes tivessem escolhido “enfermeiros”, como fez a Porto Editora. Era mais aplicável neste contexto, até porque a ortografia da língua portuguesa, na forma que lhe foi imposta em Portugal (não por lei, mas já lá iremos), precisa mais de cuidados médicos do que de palavras como “incontornável”, “assimilada”, “estabilizada” e “irreversível”. Todas falsas, como a realidade demonstra.
Mas recuemos a 2011, quando o XIX Governo (PSD-CDS) dizia no seu programa que “acompanhará a adopção do Acordo Ortográfico” (assim mesmo, sem AO90, senão teriam escrito “adoção”) com vista à “crescente universalização” da língua portuguesa. Na mesma altura, o então secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, declarava ao Diário Digital: “O acordo ortográfico é uma nova norma do acordo a que se chegou e é para ser implementado. Vamos prosseguir o trabalho de implementação porque é um caminho sem retorno.”
Dois anos depois, já ex-governante, o mesmo Francisco José Viegas afirmava ao jornal Record (25/3/2013): “Já não suporto falar do acordo ortográfico, acho que já ninguém o suporta. Portugal e o Brasil já não suportam o acordo ortográfico. E o que acontece é que para fechar o acordo é preciso fechar o vocabulário. Agora isso ainda não aconteceu. E o Governo anterior quis correr mais depressa, ser pioneiro nessa matéria, e impôs a entrada em vigor para 2012. Sem Angola ter dito que sim e sem o vocabulário estar concluído.”
Chegados a 2019, eis o panorama: o dito “vocabulário” está “concluído”, não um mas vários e contraditórios entre si; Angola, tal como Moçambique, Guiné-Bissau e Timor-Leste não entregaram os instrumentos de ratificação do AO90, logo não lhe disseram “sim”; e o AO90, que inventou para Portugal um grande número de palavras que ninguém aplica noutro país (mudando até muitas que aqui e no Brasil se escreviam da mesma maneira), está “em vigor” por resoluções do Conselho de Ministros e da Assembleia da República, enquanto o acordo de 1945 se mantém em vigor por lei – que não foi revogada, nem podia ser, por resoluções ministeriais ou parlamentares.
A finalizar, e parafraseando Francisco José Viegas, se já ninguém suportava o acordo ortográfico em 2013, o que devemos dizer agora, em 2019? Talvez isto: como várias asneiras outrora cometidas e felizmente corrigidas, esta só espera por um momento de clarividência. Porque irreversível, neste mundo, só mesmo a morte.
Errata: Por lapso (já corrigido), escrevi inicialmente, no segundo parágrafo, Visão onde deveria estar, como é óbvio, Sábado. As minhas desculpas aos leitores e às revistas visadas.
(Os excertos assinalados a negrito são da responsabilidade da autora do Blogue)
Fonte do texto:
É raro, nos tempos que correm, encontrar o vocábulo ACTO escrito correCtamente.
Agradou-me ver, nesta foto, publicada no SAPO24, aqui há tempos, este aCto médico, assim escrito, porque segundo o AO deveria estar ali ATO e, nesse caso, ATAVA-SE o médico despropositadamente, como se começou a ATAR tudo e mais alguma coisa, por aí…
Origem da foto:
O título da notícia é o seguinte:
Ministro da Saúde diz que vai reavaliar despacho sobre fecho de urgências
16:04, 28 nov
E aqui temos a palavra ACTUALIDADE escrita correCtamente.
Depois vem aquele “nov”, correspondente a Novembro, escrito incorreCtamente.
Escrever o nome dos meses do ano em minúsculas é o mesmo que escrever lisboa, portugal, e aníbal cavaco silva, malaca casteleiro, porto editora, josé sócrates, pedro santana lopes, augusto santos silva, antónio costa, marcelo rebelo de sousa (os grandes responsáveis pela actual anarquia ortográfica registada em Portugal), primavera, ásia, europa, ursa maior, zeus, academia brasileira de letras, papa, os lusíadas, e iniciar um parágrafo também com letra minúscula, etc., etc., etc….
A regra é a mesma para todas estas palavras.
Desrespeitar as regras gramaticais é um aCto de ignorância.
Se a GRAMÁTICA não serve para nada, atire-se a Gramática ao lixo, onde já está a Língua Portuguesa acordizada.
E é esta INCULTURA que nos querem impor?
O AO90 é inconstitucional e ilegal, e não é obrigatório aplicar em nenhuma escola ou repartição pública, muito menos em empresas privadas e nos meios de comunicação social, que se querem dissociados do Poder. A resolução de ministros, que impôs o AO90 aos Portugueses, não tem valor de LEI. E pela LEI , o que está em vigor é a ortografia de 1945. Portanto, todos os que se vergaram a esta imposição estão a cometer uma ilegalidade avalizada pelos governantes, o que, apesar disso, não deixa de ser uma ilegalidade. Dizem-me os juristas. Até porque os governantes cometem muitos erros, impunemente.
O que é OBRIGATÓRIO e URGENTE é COMBATER esta PRAGA, que governantes incultos querem IMPINGIR-NOS.
Isabel A. Ferreira
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