Já vai tarde, senhor ministro dos Negócios DOS estrangeiros!
Depois de ter contribuído para a destruição da Língua Portuguesa, SS sai sem ter feito NADA por Portugal. Ficará para sempre ligado à sua teimosa subserviência a um "tratado" internacional (AO90) que apenas ele, como ministro dos Negócios Estrangeiros, quis fazer cumprir, contribuindo, deste modo, para o miserável caos ortográfico imposto ao País.
Agora quer ir embora, deixando atrás de si um rasto de vergonhosa subserviência a um país estrangeiro.
Pobres alunos, que nada terão para aprender com tal "professor".
Isabel A. Ferreira
Fonte da notícia e da foto aqui:
Eduardo Lourenço partiu ontem, os 97 anos, no dia 1 de Dezembro, Dia da Restauração da Independência de Portugal, face à Espanha.
«Professor, filósofo, escritor, crítico literário, ensaísta, interventor cívico, várias vezes galardoado e distinguido, Eduardo Lourenço foi um dos pensadores mais proeminentes da cultura portuguesa, escrevendo várias obras sobre a sociedade e identidade portuguesa. O Labirinto da Saudade (“discurso crítico sobre as imagens que de nós próprios temos forjado”, nas palavras do autor), Fernando, Rei da Nossa Baviera, Os Militares e o Poder são algumas das suas principais obras. (in Jornal PÚBLICO).
Eduardo Lourenço era, sobretudo, um Homem Sábio, daqueles Homens que pensam e deixam ao mundo, como herança, o seu Pensar, para ser aplicado às circunstâncias da Vida. É essa a função do Saber de um Sábio.
E como é que o mundo agradece ao Sábio e o que faz com o Saber do Sábio?
O mundo condecora o Sábio. Concede-lhe Distinções, Medalhas Prémios:
«Entre as várias distinções que Eduardo Lourenço recebeu, estão o Prémio Casa da Imprensa (1974), o Prémio Jacinto do Prado Coelho (1986), o Prémio Europeu de Ensaio Charles Veillon (1988), o Prémio Camões (1996), o Prémio Pessoa (2011), e o Prix du Rayonnement de la Langue et de la Littérature Françaises da Academia Francesa (2016). Em França, recebeu também a condecoração de Officier de l’Ordre de Mérite, Chevalier de L’Ordre des Arts et des Lettres; em Espanha, a Encomienda de Numero de la Orden del Mérito Civil. Em Portugal, era Grande Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, de que também possuía a Grã-Cruz, assim como da Ordem do Infante D. Henrique e da Ordem da Liberdade. Era também Oficial da Ordem Nacional do Mérito, Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras e da Legião de Honra de França.» (in Jornal PÚBLICO).
O mundo guarda um dia de luto pela morte do Sábio, e dedica-lhe elogios fúnebres:
«O primeiro-ministro anunciou luto nacional para quarta-feira. “É, para mim em particular, um momento de grande tristeza. Trata-se de um amigo, um camarada, de alguém com quem tive a oportunidade de privar, de aprender muito, e que nos deixa”, afirmou António Costa. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, evocou e agradeceu a Lourenço, que considerou ser, desde o início da segunda metade do século XX, o “mais destacado intelectual público” e uma “figura essencial” de Portugal.» (in Jornal PÚBLICO).
O mundo fala da sua paixão:
«Apaixonado pela literatura, referia-se aos livros como “filhos” e dizia que “estar-se sem livros é já ter morrido”. Em 2008, nessa conversa com a Ler, dizia que “dificilmente” conseguiria imaginar o mundo sem livros em papel. “Bom, de qualquer modo os livros ainda estarão aí. Estarão aí, mas como museu. Em vez de termos uma biblioteca, que é uma floresta viva da memória humana, os livros estarão lá como espectros. Mas, enfim, podem ser ressuscitados pela leitura de cada um. Isso modifica a nossa relação com o mundo. Porque o relacionamento com os livros – que vem de todos os livros que a gente lê quando é jovem – torna-os bocados de nós próprios. São as tábuas privadas das nossas leis. As escritas e as não escritas. Faltará qualquer coisa quando a nossa relação com eles for puramente electrónica.”» (in Jornal PÚBLICO)
E quanto ao Saber, propriamente dito, do Sábio, o que fez o mundo?
O Saber de Eduardo Lourenço abarcou muitas áreas, e em todas elas ele distinguiu-se com uma lucidez e um conhecimento profundos. Porém, era inevitável abordar o tema do Acordo Ortográfico de 1990, num Blogue que se dedica à defesa da Língua Portuguesa, que ele usava com primorosa mestria.
Em Maio de 2008, em entrevista à TSF e ao DN, Eduardo Lourenço já dizia ser o Acordo Ortográfico de 1990 «uma ideia um bocado peregrina», tendo assinado o manifesto dos "Cidadãos contra o Acordo Ortográfico de 1990" (AO90), no qual se afirma que este. Nessa altura, o ensaísta reiterou que o documento não era necessário, porque a prática linguística dos brasileiros continuará a ser feita segundo os termos actuais, bem como a portuguesa. A este propósito, Eduardo Lourenço lembrou (e bem) que entre os Estados Unidos da América e o Reino Unido não existe nenhum acordo do género para a Língua Inglesa.
Ou seja, comprova-se que o Sábio se opunha ao novo modelo de escrita que abriu uma caixa de Pandora, criou um monstro e não uniu, não unificou, não simplificou o uso da Língua.
E o que fizeram António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa que, nos respectivos elogios fúnebres, o primeiro disse ter aprendido muito (?) com Eduardo Lourenço, e o segundo considerou Eduardo Lourenço o mais destacado intelectual público e uma figura essencial de Portugal; o que é que estes dois governantes fizeram com o Saber do Sábio que se opunha ao AO90 e deu razões inteligentes para o ser?
NADA. Não fizeram NADA. Absolutamente NADA. Simplesmente desprezaram o Saber do Sábio. Encheram-no de condecorações e desprezaram o seu Saber.
E que maior homenagem podemos prestar a um Sábio, do que colher o seu Saber e aplicá-lo à VIDA? O Saber de um Sábio, nomeadamente o seu Pensamento, a sua Filosofia, a sua Ciência, as suas Palavras ditas, de nada servirão encerrados nas páginas dos Livros que escreveu, ou confinados às páginas de jornais, ou nas entrevistas audiovisuais.
O Saber do Sábio quer-se vivo, para que o Sábio possa manter-se vivo também.
Honre-se a memória de Eduardo Lourenço, acabando de vez com a ideia um bocado peregrina de manter o AO90, cujo novo modelo de escrita abriu uma caixa de Pandora, criou um monstro e não uniu, não unificou, não simplificou o uso da Língua Portuguesa.
Só deste modo, poder-se-á dizer que se aprendeu muito com ele, e faremos dele, de facto, e não apenas em teoria, a figura essencial de Portugal.
O meu respeito, consideração e gratidão. Até smpre!
Isabel A. Ferreira
Fontes:
https://www.publico.pt/2020/12/01/culturaipsilon/noticia/morreu-ensaista-eduardo-lourenco-1941319
Quem o diz é o filólogo e escritor J.R.R. Tolkien, autor da saga «O Senhor dos Anéis», no filme “Tolkien”, baseado, como o nome indica, na sua vida.
E quem sou eu para desdizer Tolkien?
Daí que, com este texto, não só pretendo demonstrar que a Língua Portuguesa é o Sangue da Cultura Portuguesa, que está nas mãos de predadores e dos ignorantes que acham quo o AO90 é um instrumento de evolução da Língua, quando não passa de uma guilhotina ferrugenta, que está a levar à morte a nossa amada Língua Materna; como também justificar a minha luta em prol da Língua, porque se não tenho o talento de Tolkien, tenho a mesma paixão que ele tinha pelas palavras, e custa-me ver a ignorância moldada à grafia que políticos complexados e apedeutas impingiram aos Portugueses.
Tolkien era um apaixonado por idiomas. Para ele, primeiro vinha a Palavra, depois a história. Para mim, também.
A sua paixão pelas palavras levou-o a criar várias Línguas. E, para ele, «uma Língua bonita deve ter um alfabeto elegante», e, por isso, criou alfabetos elegantes para as suas Línguas.
Eu acrescentaria que para além de um alfabeto elegante, uma Língua bonita deve ter palavras elegantes, ou seja, palavras não-mutiladas. Tolkien diria exactamente isto, se as palavras, das suas amadas Línguas, fossem mutiladas por ignorantes, como a Língua Portuguesa foi.
Fascinado pela Linguística, desde criança, era dotado para Línguas antigas, que lhe serviram de base para o seu célebre Idioma Élfico.
Então, criou um mundo fantástico onde as suas Línguas fantásticas pudessem ser faladas.
A dada altura no filme, ele diz a um Professor, quando tentava persuadi-lo a frequentar a sua aula «a Língua é o sangue de uma Cultura», algo que tocou a alma do Professor e o levou a aceitar Tolkien como seu aluno.
Já sabíamos que «a língua de um povo é a sua alma», citando o filósofo alemão Johann Gottlieb Fichte.
E que povo será o português que “injeta” (injêtâ) no próprio sangue (a Língua) substância deteriorada, e açoita a própria alma com “ações” (âções) iníquas?
A legendagem deste filme, como é hábito dos canais TVCine, é absolutamente péssima. A alturas tantas, levamos um bofetão com o rapaizinho que era Tolkien, quando perdeu a Mãe.
Devo dizer que não estranhei ver aquela palavrinha ali, uma palavrinha que tantas vezes ouvi, no Brasil, porque é assim que, lá, o povo menos instruído fala, sabendo como sabemos (ou pelo menos deduzimos pelas construções frásicas e vocabulário) que as legendas estão entregues a mão-de-obra barata e desqualificada vinda do outro lado do Atlântico. Por vezes até nos apetece quebrar o televisor. BOLAS! Estamos em Portugal!
Conclusão: tudo isto para dizer que a Língua de um País não deve jamais ser “administrada” por políticos ignorantes, por “linguistas” com segundas intenções e por editores mercenários. E também para dizer que, no mundo, há pessoas como Tolkien, para quem a PALAVRA vem primeiro, e só depois a história.
A Língua é o sangue de uma Cultura. Grande verdade! E as Culturas morrem quando esse sangue é afectado por doenças malignas, no caso da Língua Portuguesa, pelo AO90.
Isabel A. Ferreira
Costumo trocar ideias, com desacordistas, para tomar o pulso à situação caótica que se vive em Portugal, no que a quase tudo diz respeito, mas especificamente no que se refere à pouca-vergonha que evolve a questão da Língua Portuguesa, e que os governantes, silenciam e fazem-de-conta que não é nada com eles, achando que os Portugueses andam todos a dormir a sesta, particularmente o Chefe de Estado Português, que se mete em tudo e mais alguma coisa, até em matérias que nem sequer são da sua competência, mas foge, como o diabo da cruz, desta gravíssima questão da Língua Oficial Portuguesa, que está em vias de deixar de ser portuguesa, se nada fizermos para o impedir.
Numa dessas trocas de ideias, um Professor aposentado fez uma análise objectiva sobre o estado babelesco da nossa desventurada Nação, e por considerá-la perfeita, decidi partilhá-la com os meus leitores, juntamente com a resposta que lhe dei.
«Dr.ª Isabel, bom dia, revi os seus links; já os tinha lido, nomeadamente os comentários de Paulo Franchetti, de Sérgio Vaz e do Dr. Ivo Miguel Barroso que esgrime argumentos do domínio da jurisprudência que só reforçam a certeza da ilegalidade (e eventual inconstitucionalidade) do (dito) AO90; ou seja, tudo não passa de um atropelo grave à Lei, o que reforça a convicção de que não estamos num Estado democrático: as negociatas, os convénios sigilosos - e este caso, em que tudo ficou decidido à porta fechada (?!) entre o indivíduo Casteleiro e o Houaiss só ilustra isso mesmo; aliás o nosso sistema é uma "partidocracia", em que os partidos políticos mais não fazem do que distribuir entre si "tachos", prebendas e lugares "seguros" e protegidos, o que confere à nossa “democracia” um aspecto de autêntica palhaçada (como diz o Povo, é tudo "farinha do mesmo saco"). Numa verdadeira democracia, não se assiste a deputados a fazer batota (na A. R.), assinando uns pelos outros (são premiados pela presença, e não penalizados pela ausência !!), sem falar de aspectos caricatos de deputadas que vão para o plenário pintar as unhas, etc. etc..
E quando me refiro a partidos há que frisar que se trata somente daqueles que se "vêem", e que são a face visível do iceberg, dado que a parte "imersa", as maçonarias (ou que parece, três confissões) essas é que mexem todos os "cordelinhos", colocando os seus "irmãos" e "confrades" nos melhores postos da máquina do Estado, num secretismo totalmente absoluto, que nada tem que ver com democracia / transparência.
Trago isto à colação só pelo facto de que todo este "cozinhado" de tratamentos à porta fechada, imbuído de secretismos, tudo feito por "detrás da cortina" é que ajuda a explicar os bloqueios das iniciativas ILCAO. É por demais evidente que as Editoras de manuais escolares, dicionários, etc., "coladas" ao Ministério da Educação (e quando eu estava no activo já se falava e se comentavam os dramáticos problemas de solvabilidade e sobrevivência que as afectavam) tudo fazem por se agarrarem ao Poder, por isto mesmo é que o partido do Poder, P.S., nem sequer deixa "mexer" no assunto.
Volto a insistir, só com uma acção de "longo curso" a cargo da " linha da frente", só com o repúdio definitivo por parte de Angola (parece já averbado) e do Brasil (toda a esperança mantêm-se de pé) e com o "magistério de influência" de figuras gradas da vida política (…), só com estes argumentos é que eu penso ser possível um volte-face.
Há que dar tempo ao tempo.
Um abraço do A. V.
Para quem não sabe: Gregório de Matos Guerra, conhecido pela alcunha de Boca do Inferno ou Boca de Brasa (por atacar a Igreja Católica do seu tempo) foi um advogado e poeta português, nascido na então colónia do Brasil, em 1636. É considerado um dos maiores poetas do Barroco em Portugal e no Brasil, e o mais importante poeta satírico da Literatura de Língua Portuguesa, podendo dizer-se que era um autêntico enfant terrible.
***
A minha resposta:
Caro Professor,
Vou começar pelo fim: há que dar tempo ao tempo. Há. Nada acontece fora do tempo. Entretanto, o tempo vai passando, e os vícios deste novo dialecto vão-se espalhando, como os tentáculos de um polvo, e os todo-poderosos ganhando terreno, porque os da “linha da frente”, como o professor lhes chama, estão quietinhos no seu canto, enquanto Angola prepara a sua nova Língua, e o Brasil se afasta, cada vez mais, do AO90, que engendrou com Malaca Casteleiro (que Deus o tenha em paz, junto com Antônio Houaiss, uma vez que Evanildo Bechara (que completa a trilogia dos predadores-mor da Língua Portuguesa) do alto dos seus 92 anos, ainda vai fazendo e dizendo das suas.
(…)
É preciso abanar, quiçá, destruir, as estruturas de cimento (bem) armado que o Poder construiu, para manter sequestrada a Língua Portuguesa, enquanto deixa à solta o linguajar feio e pobre, esfarrapado e miserável, engendrado por mentes insanas, para a destruir, com uma finalidade absolutamente insólita.
Quem ousará abanar essas estruturas? Todos os que as poderiam abanar têm algo a perder com a ousadia, daí que não mexam uma palha, para defender e salvar a Língua Portuguesa. E o que fazem aqueles que têm acesso às televisões? Calam-se. (*)
E é isto que tenho a dizer por hoje.
As minhas saudações (cada vez mais) desacordistas,
(*) Bem, alguns lá vão, esporadicamente e de passagem, dizendo umas e outras contra o AO90. Mas muito esporadicamente e de passagem. Nada que abane as estruturas. Lamentavelmente.
Isabel A. Ferreira
… Excelente e irrefutável defesa da Língua Portuguesa do escritor A M Pires Cabral no Grupo de Trabalho para Avaliação do Impacto do AO90, criado no âmbito da Comissão Parlamentar da Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, pelas mãos do PSD.
Se, depois desta grande defesa (mais uma entre tantas que já foram feitas) este Grupo não ficar completamente elucidado e não disser: «BASTA! Não precisamos de ouvir mais nada, porque nada mais há a acrescentar. O assunto fica encerrado. O AO90 vai para o caixote do lixo», é porque este Grupo de Trabalho não passa de uma farsa, e ninguém está realmente interessado em ouvir a opinião dos sábios.
O que será preciso mais? Fazer um desenho?
***
Excelentíssimos senhores governantes, políticos e afins...
Esperando que a racionalidade, o bom senso e o senso comum imperem, aqui deixo mais um contributo para a eliminação da ortografia imposta aos portugueses, que está a fabricar analfabetos funcionais, em Portugal, ao mais alto nível.
(E por favor, não me enviem mais esta resposta Chapa5: «Cumpre-me acusar a receção do e-mail de V. Exa....» Ao menos escrevam recePção, à moda brasileira, angolana, moçambicana, guineense, são tomense e timorense), porque este montinho de letras "receção" é um modismo, que não fica nada bem a quem o aplica).
Isabel A. Ferreira
A M Pires Cabral (origem da foto: Internet)
«Posição sobre o acordo ortográfico e sua aplicação
Começo com uma prevenção: a de que fui, sou e serei sempre adversário do Acordo Ortográfico (AO).
Publiquei recentemente um texto de que repesco algumas linhas:
«A pendência que anda assanhada entre os antagonistas do AO e os seus defensores é insanável, porque radica em duas atitudes básicas inconciliáveis.
De um lado, temos os que olham para a língua acima de tudo como meio de comunicação. São sujeitos práticos e desempoeirados. Para eles, o Português é um instrumento como outro qualquer, uma navalha ou um isqueiro. Usa-se, é tudo — e tanto se lhes dá que se escreva desta como daquela maneira. Que mais dá escrever ‘insecto’ ou ‘inseto’? Desde que o receptor entenda... O importante é pois fazerem-se entender. A sua concepção da língua é utilitária: não lhe pedem mais nada — apenas que funcione.
Por outro lado, há os que olham para a língua como ferramenta comunicacional, sim, mas não apenas isso. Olham-na também amorosamente como se deve olhar uma verdadeira obra de arte, nos seus aspectos históricos e, porque não?, estéticos. Acarinham as aderências culturais de que a língua se vai revestindo à passagem dos séculos. A esses repugna escrever — e, se bem os conheço, nunca escreverão — ‘arquiteta’, ‘recetar’, ‘semirreta’, ‘espetador’, ‘ereção’.
Não há, nesta história, os bons e os maus. Cada um é como é. E a história terminou com a adopção do AO (com o seu quê de golpada, em boa verdade), porque, naquele momento, a relação de forças pendeu para o lado dos primeiros: os nossos políticos de então, desde os senhores deputados que o aprovaram, ao senhor presidente da República que o promulgou e ao senhor primeiro-ministro que o pôs em marcha, eram todos criaturas práticas, p’rafrentex, que não se deixavam embaraçar por considerações de ordem histórica e estética, isto é, cultural e afectiva. Foram surdos a tudo, excepto ao canto de sereia dos professores Malaca e Houaiss, a anunciar amanhãs que cantavam à língua portuguesa.»
Na verdade, o AO, que almejava unificar, acabou em muitos casos por diversificar: onde havia uma só grafia (‘recepção’, por exemplo), passou a haver duas: ‘recepção’ e ‘receção’ (esta correntemente confundida com ‘recessão’). Não vale a pena aduzir mais exemplos.
Por outro lado, o AO é um cúmulo de incoerências, que têm sido devidamente apontadas e exploradas. Não vale a pena enumerá-las a todas; bastará o exemplo da retirada do acento em ‘pára’ (do verbo ‘parar’), que era antes do AO justificado pela necessidade de distinguir de ‘para’ (preposição). Ora, se a necessidade de distinção cessou como por milagre (o mirífico contexto! — que estamos fartos de saber que funciona... quando funciona), porque se manteve o acento no verbo ‘pôr’? Incoerência. Ou que justificação séria pode ser encontrada para escrever com hífenes ‘cor-de-rosa’ e sem hífenes ‘cor de laranja’?
Não insistirei na enumeração de casos particulares. Direi apenas que o AO não tem qualquer justificação científica em que se apoie. Tem apenas a justificação política de que da sua aplicação resultariam benefícios para a língua portuguesa, a nível de prestígio e mais fácil utilização nos fóruns internacionais. Até hoje, creio que ninguém de boa fé poderá dizer que já notou alguma diferença.
Aproximando-nos agora um pouco mais dos objectivos do Grupo de Trabalho, julgo oportuno fazer uma única e definitiva consideração (transcrevendo também palavras já por mim publicadas algures):
«O Sr. Professor Malaca Casteleiro, escreveu recentemente, defendendo o AO, que o dito está a ser aplicado “sem problemas”. Santa ingenuidade! Não se dá conta o professor da chusma de ‘fatos’ (em vez de ‘factos’) que enxameia o próprio Diário da República? Se não se dá conta, em que país das maravilhas devaneia o professor? Se dá, não acha o professor que isso é um problema — e bem bicudo —, que rói o próprio cerne da língua portuguesa?»
Defendem os apoiantes do AO dizendo que isso não é culpa do acordo, mas do mau uso e ignorância de alguns utentes da língua. É claro que sim. Mas quando é que, antes do AO, se disse ‘fato’ em vez de ‘facto’, e ‘contato’ em vez de ‘contacto’, deste lado do Atlântico? Será arriscado afirmar que foi o AO que criou o ambiente propício para mutilações destas da língua portuguesa, as quais — água mole em pedra dura... — acabarão por se tornar irreversíveis?
Contrariamente ao que o Sr. Professor Malaca Casteleiro quer fazer crer, a aplicação do AO tem gerado inúmeros problemas (oiçam os professores!) e está a ser um factor de erosão do Português.
Termino, recomendando que Portugal se desvincule, e quanto antes, do tratado do Acordo Ortográfico de 1990.
A. M. Pires Cabral»
Fonte:
Isto aconteceu logo no primeiro dia em que abriu a telescola, na RTP. Fiquei com curiosidade e andei a espreitar. A professora chegou e apresentou-se: «Eu sou a vossa professora de Português, OK?» (Agora entendo por que as crianças e os jovens, por tudo e por nada, andam sempre com o “OK” na boca).
So, OK, teacher. Let's go to learn Portuguese Language. Está bem?
E isto para não deixar esmorecer a luta que um grupo de resistentes vem travando contra a imposição ilegal e inconstitucional do AO90, nomeadamente nas escolas, onde os alunos deveriam aprender a ler e a escrever correCtamente o Português, e o que lhes ensinam é um vergonhoso mixordês, que faz catedrático qualquer cidadão português, que tem apenas a 4ª classe concluída antes de 2012.
Todos sabemos do engajamento de Marcelo Rebelo de Sousa (PR), de António Costa (PM), de Augusto Santos Silva (MNE) e de certos deputados da Nação (que acham que reduzir a Língua à sua norma vulgar é evoluir), nesta questão da imposição do AO90, que apenas Portugal aplica servilmente, como bom pau-mandado que é. Isto está de tal modo forjado, que ninguém olha a meios para, ditatorialmente, levarem a deles adiante. Contudo, lá reza os anais da História, que, mais dia, menos dia (é uma questão de tempo) cairão do cavalo, porque por muito que o cavalo possa parecer forte, para se aguentar na corrida, tem essencialmente de ser forte. E forte, todos nós sabemos que não é. Porque para se ser forte há que estar-se bem alimentado, e, como todos nós também sabemos, o alimento deste cavalo é um farelo bastante inconsistente e cheio de bafios.
Então vamos à lição.
No meu entender, um IDIOMA - sistema de signos e de regras combinatórias que constitui um instrumento de comunicação de uma comunidade, o qual cobre os conceitos de falar e escrever) - serve para nos comunicarmos com as outras pessoas de uma forma clara e escorreita, e não para tentar adivinhações, daí que uso todas as ferramentas que a Gramática (que, eu saiba, ainda não foi atirada ao lixo) nos proporciona, para tornar percePtível aquilo que quero dizer através da escrita ou através da fala.
Por exemplo, escrevo Língua e Língua Portuguesa com maiúscula, quando quero referir-me ao idioma, porque língua pode ser também o órgão móvel da cavidade bucal; pode ser a tromba dos insectos lepidópteros; pode ser o fiel da balança; pode ser a parte estreita e comprida de terra banhada lateralmente por água; também se pode dar à língua, ou dar com a língua nos dentes, ou ter língua afiada ou língua viperina, ou ainda puxar pela língua a alguém. E quando eu puxo pela língua a alguém, não me refiro à Língua Portuguesa, mas ao órgão móvel da cavidade bucal, para que a pessoa diga mais do que queria ou devia…
É óbvio que isto serve para a escrita, e não para a fala. A falar digo idioma = Língua; mas se digo o nosso idioma , já me refiro à Língua Portuguesa.
Um Professor (com maiúscula, para evidenciar a sua importância na formação de todos os que buscam na Escola (instituição) uma formação de qualidade) tem por missão ENSINAR = transmitir conhecimentos, para tal tem de percorrer um longo caminho e adquirir esses conhecimentos e as técnicas de os transmitir, para que os alunos captem a mensagem e, sobretudo, gostem de estar na aula a aprender o que lhes interessa, e não o que não lhes interessa, sobretudo para não os baralhar com incoerências, como agora se vê, no que respeita à Língua Portuguesa, que é fala, mas sobretudo escrita, porque é a escrita que fixa o Saber, o Pensamento de um Povo (com maiúscula para significar o conjunto dos habitantes de uma nação, e não, por exemplo, aquele povo = aglomeração de pessoas, que se juntou à porta do tribunal para chamar nomes ao assassino).
Daí que um Professor = pessoa que ensina em escolas, universidades, colégios (não sendo necessário dizer professor e professora, para aqui e para ali, como agora, parvamente se usa, para dar visibilidade às mulheres [dizem] como se essa visibilidade passasse pelas palavras, e não exclusivamente por atitudes) deva estar munido dos conhecimentos necessários para responder às dúvidas das crianças e dos jovens, quando se deparam com situações como as que passo a referir, e com as quais já lidei, e respondi com a verdade: coisas de políticos pouco esclarecidos e muito desalumiados.
Com este modismo (= idiotismo de linguagem) a que se convencionou chamar AO90, os alunos deparam-se com isto:
“Aspeto” (âspêtu) – que o aluno atento lê como espeto (ispêtu), e o professor corrige para “âspétu”. Como vai explicar ao aluno que numa palavra se lê o E aberto, e na outra, fechado? Baseado em que regra gramatical?
Mas há muito mais:
“Correto” (currêtu) que se lê como em carreto (cârrêtu).
“Setor” (s’tôr) que se lê como em fedor (f’dôr), tenor (te’nôr).
“Desinfetante” (d’sinf’tant’), que se lê como em desinteressante (d’sint’r’ssant’).
“Adotar” (âdutár) que se lê como em adorar (âdurár), apodar (âpudár), amolar (âmulár).
“receção” (r’c’ção) que se lê como em recessão (r’c’ssão).
“Coação” (cuâção) que se lê como em doação (duâção).
“Percetor” (p’erc’tôr) que se lê como torcedor (turc’dôr).
(E como estas há milhentas mais. Todas as palavras às quais se suprimiram os cês e os pês lêem-se com as vogais fechadas, porque as consoantes que suprimiram tinham um valor diacrítico (de acento gráfico) que lhes abria as vogais. Daí que dizer às crianças que leiam “âfétu” em vez de “âfêtu”, para “afeto”, é burlar as crianças, levando-as ao engano, induzindo-as a lerem e escreverem incorreCtamente a própria Língua Materna. E a missão do Professor não é essa. Então, melhor seria que apresentassem a demissão e fossem fazer carreira política, porque enganar condiz mais com a política e não com a nobre missão de ENSINAR.
Já agora, como explicam às crianças que o substantivo masculino fim-de-semana = período composto pelos dias de sábado e domingo e que se opõe aos dias úteis, já não é um substantivo masculino, mas sim fim de semana = um substantivo masculino (fim = termo) + uma preposição (de = que une ao nome o seu complemento) + (semana = série de sete dias consecutivos a partir do domingo), acabando com o período composto pelo sábado e domingo?
Como interpretarão as crianças esta fase: «Nada para os professores»? Quando a linguagem quer-se clara para que se perceba, de imediato, o que escrevemos? Como explicar às crianças a acentuação na preposição/advérbio até, para se diferenciar de ate, do verbo atar, e a falta de acentuação em pára, do verbo parar, para se diferenciar da preposição para)? A linguagem tem de ser clara. Certo?
Como explicar às crianças que EGITO (o país dos egíPcios, dos egiPtólogos, da EgiPtologia) não se escreve com o PÊ (que permanece nas outras palavras) apenas porque alguns não o pronunciam? Eu sempre pronunciei o PÊ de EgiPto, porque é da RACIONALIDADE pronunciá-lo, e apenas Brasil e Portugal, em todo o mundo onde se escreve em caracteres latinos, EgiPto escreve-se com o PÊ.
Como explicar às crianças que infeCcioso e infeCciologia, se escreve com dois cês, porque se lêem, e infeção, infetar, infetado (que deve ler-se inf’ção, inf’tar, inf’tadu) escreve-se deste modo apoucado, só porque não se pronuncia os cês, palavras que no Brasil (eureka!) os cês são pronunciados e escritos, tornando ainda mais desunificada uma ortografia que se pretendeu, desinteligentemente, unificar?
Bem, por hoje, penso que já chega.
Isto só para dizer que para ser Professor não basta parecer ou ter um canudo (OK?).
É preciso essencialmente SER Professor e TER SABER, para não andar a enganar quem frequenta uma Escola para aprender a ler e a escrever, e sai de lá semianalfabeto (= quem tem apenas os rudimentos da escrita e da leitura e não é capaz de ler e escrever correCtamente).
Isabel A. Ferreira
… Esta excelente e irrefutável defesa da Língua Portuguesa do escritor A M Pires Cabral no Grupo de Trabalho para Avaliação do Impacto do AO90, criado no âmbito da Comissão Parlamentar da Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, pelas mãos do PSD.
Se, depois desta grande defesa (mais uma entre tantas que já foram feitas) este Grupo não ficar completamente elucidado e não disser: «BASTA! Não precisamos de ouvir mais nada, porque nada mais há a acrescentar. O assunto fica encerrado. O AO90 vai para o caixote do lixo», é porque este Grupo de Trabalho não passa de uma farsa, e ninguém está realmente interessado em ouvir a opinião dos sábios.
O que será preciso mais? Fazer um desenho?
***
Excelentíssimos senhores governantes, políticos e afins...
Esperando que a racionalidade, o bom senso e o senso comum imperem, aqui deixo mais um contributo para a eliminação da ortografia imposta aos portugueses, que está a fabricar analfabetos funcionais, em Portugal, ao mais alto nível.
(E por favor, não me enviem mais esta resposta Chapa5: «Cumpre-me acusar a receção do e-mail de V. Exa....» Ao menos escrevam recePção, à moda brasileira, angolana, moçambicana, guineense, são tomense e timorense), porque este montinho de letras "receção" é um modismo, que não fica nada bem a quem o aplica).
Isabel A. Ferreira
A M Pires Cabral (origem da foto: Internet)
«Posição sobre o acordo ortográfico e sua aplicação
Começo com uma prevenção: a de que fui, sou e serei sempre adversário do Acordo Ortográfico (AO).
Publiquei recentemente um texto de que repesco algumas linhas:
«A pendência que anda assanhada entre os antagonistas do AO e os seus defensores é insanável, porque radica em duas atitudes básicas inconciliáveis.
De um lado, temos os que olham para a língua acima de tudo como meio de comunicação. São sujeitos práticos e desempoeirados. Para eles, o Português é um instrumento como outro qualquer, uma navalha ou um isqueiro. Usa-se, é tudo — e tanto se lhes dá que se escreva desta como daquela maneira. Que mais dá escrever ‘insecto’ ou ‘inseto’? Desde que o receptor entenda... O importante é pois fazerem-se entender. A sua concepção da língua é utilitária: não lhe pedem mais nada — apenas que funcione.
Por outro lado, há os que olham para a língua como ferramenta comunicacional, sim, mas não apenas isso. Olham-na também amorosamente como se deve olhar uma verdadeira obra de arte, nos seus aspectos históricos e, porque não?, estéticos. Acarinham as aderências culturais de que a língua se vai revestindo à passagem dos séculos. A esses repugna escrever — e, se bem os conheço, nunca escreverão — ‘arquiteta’, ‘recetar’, ‘semirreta’, ‘espetador’, ‘ereção’.
Não há, nesta história, os bons e os maus. Cada um é como é. E a história terminou com a adopção do AO (com o seu quê de golpada, em boa verdade), porque, naquele momento, a relação de forças pendeu para o lado dos primeiros: os nossos políticos de então, desde os senhores deputados que o aprovaram, ao senhor presidente da República que o promulgou e ao senhor primeiro-ministro que o pôs em marcha, eram todos criaturas práticas, p’rafrentex, que não se deixavam embaraçar por considerações de ordem histórica e estética, isto é, cultural e afectiva. Foram surdos a tudo, excepto ao canto de sereia dos professores Malaca e Houaiss, a anunciar amanhãs que cantavam à língua portuguesa.»
Na verdade, o AO, que almejava unificar, acabou em muitos casos por diversificar: onde havia uma só grafia (‘recepção’, por exemplo), passou a haver duas: ‘recepção’ e ‘receção’ (esta correntemente confundida com ‘recessão’). Não vale a pena aduzir mais exemplos.
Por outro lado, o AO é um cúmulo de incoerências, que têm sido devidamente apontadas e exploradas. Não vale a pena enumerá-las a todas; bastará o exemplo da retirada do acento em ‘pára’ (do verbo ‘parar’), que era antes do AO justificado pela necessidade de distinguir de ‘para’ (preposição). Ora, se a necessidade de distinção cessou como por milagre (o mirífico contexto! — que estamos fartos de saber que funciona... quando funciona), porque se manteve o acento no verbo ‘pôr’? Incoerência. Ou que justificação séria pode ser encontrada para escrever com hífenes ‘cor-de-rosa’ e sem hífenes ‘cor de laranja’?
Não insistirei na enumeração de casos particulares. Direi apenas que o AO não tem qualquer justificação científica em que se apoie. Tem apenas a justificação política de que da sua aplicação resultariam benefícios para a língua portuguesa, a nível de prestígio e mais fácil utilização nos fóruns internacionais. Até hoje, creio que ninguém de boa fé poderá dizer que já notou alguma diferença.
Aproximando-nos agora um pouco mais dos objectivos do Grupo de Trabalho, julgo oportuno fazer uma única e definitiva consideração (transcrevendo também palavras já por mim publicadas algures):
«O Sr. Professor Malaca Casteleiro, escreveu recentemente, defendendo o AO, que o dito está a ser aplicado “sem problemas”. Santa ingenuidade! Não se dá conta o professor da chusma de ‘fatos’ (em vez de ‘factos’) que enxameia o próprio Diário da República? Se não se dá conta, em que país das maravilhas devaneia o professor? Se dá, não acha o professor que isso é um problema — e bem bicudo —, que rói o próprio cerne da língua portuguesa?»
Defendem os apoiantes do AO dizendo que isso não é culpa do acordo, mas do mau uso e ignorância de alguns utentes da língua. É claro que sim. Mas quando é que, antes do AO, se disse ‘fato’ em vez de ‘facto’, e ‘contato’ em vez de ‘contacto’, deste lado do Atlântico? Será arriscado afirmar que foi o AO que criou o ambiente propício para mutilações destas da língua portuguesa, as quais — água mole em pedra dura... — acabarão por se tornar irreversíveis?
Contrariamente ao que o Sr. Professor Malaca Casteleiro quer fazer crer, a aplicação do AO tem gerado inúmeros problemas (oiçam os professores!) e está a ser um factor de erosão do Português.
Termino, recomendando que Portugal se desvincule, e quanto antes, do tratado do Acordo Ortográfico de 1990.
A. M. Pires Cabral»
Fonte:
Leiam este desabafo que uma aluna, desesperada, deixou no Facebook:
«Venho deixar-vos um desabafo.
Estou muito triste com esta situação, mas estou a ser obrigada a usar o AO90 no último trabalho do ano lectivo, porque se não o usar, a orientadora recusa-se a ler o trabalho e reprova-me à cadeira.»
A isto chama-se chantagem. Isto é ilegal, porque não existe LEI alguma que obrigue um cidadão português a aplicar a grafia brasileira e a mixórdia ortográfica à portuguesa que o AO90 gerou.
E um professor que force um aluno a esta violência incorre numa ilegalidade, e o aluno tem o direito e o dever de o processar.
Então o que fazer?
Qualquer aluno que seja obrigado, sob coacção, a aplicar o AO90, deve apresentar cordialmente ao orientador de Curso o seguinte requerimento:
"Exmo. Senhor/a,
(COMPLETAR)
Nos termos do artigo 21º da Constituição da República Portuguesa (“direito de resistência”), venho requerer a confirmação, por escrito, do fundamento legal da ordem que me foi apresentada para aplicar o Acordo Ortográfico de 1990, ou seja, venho requerer que me seja apresentada a Lei que obriga os cidadãos portugueses a aplicar o Acordo Ortográfico de 1990, sabendo-se que uma Resolução do Conselho de Ministros não é Lei.
Muito cordialmente,
ASSINATURA”
***
O artigo 21º da CRP diz o seguinte:
«Todos têm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos, liberdades e garantias e de repelir pela força qualquer agressão, quando não seja possível recorrer à autoridade pública.»
No caso desta aluna, o que está em causa é o seu direito a resistir a uma ordem que não tem base legal, logo, a aluna não tem o dever de escrever segundo a grafia brasileira, nem o professor tem o direito de a reprovar por ela se recusar a resistir a essa ordem sem base legal.
Caso o professor a reprove, a aluna tem o direito de o processar judicialmente.
Porque num regime democrático, todos são obrigados a cumprir a Lei. Mas quando essa Lei não existe, e o que existe é apenas uma vontade política obscura, uma Resolução do conseljo de ministros, sem valor de lei, então os cidadãos têm o direito de resistir, de dizer não.
Nenhum governo pode impor a um povo algo que não está consignado na Lei. E se o faz, esse governo não passa de uma desprezível ditadura.
Devia ser obrigatório nas escolas uma disciplina que mostrasse aos alunos os seus direitos. Porque os seus pseudo-deveres são-lhes cobrados à força de chantagem. E quem não sabe, é como quem não vê, se bem que um cego verdadeiro veja muito para além do que é visível para os que têm olhos, mas não vêem.
Isabel A. Ferreira
Contributo do Escritor A M Pires Cabral no Grupo de Trabalho para Avaliação do Impacto do AO90, criado no âmbito da Comissão Parlamentar da Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, pelas mãos do PSD.
Se, depois desta grande defesa, este Grupo não ficar completamente elucidado e não disser: «BASTA! Não precisamos de ouvir mais nada, porque nada mais há a acrescentar. O assunto fica encerrado. O AO90 vai para o caixote do lixo», é porque este Grupo de Trabalho não passa de uma farsa, e ninguém está realmente interessado em ouvir a opinião dos sábios.
O que será preciso mais? Fazer um desenho?
A. M. Pires Cabral (origem da foto: Internet)
«POSIÇÃO SOBRE O ACORDO ORTOGRÁFICO E SUA APLICAÇÃO»
Começo com uma prevenção: a de que fui, sou e serei sempre adversário do Acordo Ortográfico (AO).
Publiquei recentemente um texto de que repesco algumas linhas:
«A pendência que anda assanhada entre os antagonistas do AO e os seus defensores é insanável, porque radica em duas atitudes básicas inconciliáveis.
De um lado, temos os que olham para a língua acima de tudo como meio de comunicação. São sujeitos práticos e desempoeirados. Para eles, o Português é um instrumento como outro qualquer, uma navalha ou um isqueiro. Usa-se, é tudo — e tanto se lhes dá que se escreva desta como daquela maneira. Que mais dá escrever ‘insecto’ ou ‘inseto’? Desde que o receptor entenda... O importante é pois fazerem-se entender. A sua concepção da língua é utilitária: não lhe pedem mais nada — apenas que funcione.
Por outro lado, há os que olham para a língua como ferramenta comunicacional, sim, mas não apenas isso. Olham-na também amorosamente como se deve olhar uma verdadeira obra de arte, nos seus aspectos históricos e, porque não?, estéticos. Acarinham as aderências culturais de que a língua se vai revestindo à passagem dos séculos. A esses repugna escrever — e, se bem os conheço, nunca escreverão — ‘arquiteta’, ‘recetar’, ‘semirreta’, ‘espetador’, ‘ereção’.
Não há, nesta história, os bons e os maus. Cada um é como é. E a história terminou com a adopção do AO (com o seu quê de golpada, em boa verdade), porque, naquele momento, a relação de forças pendeu para o lado dos primeiros: os nossos políticos de então, desde os senhores deputados que o aprovaram, ao senhor presidente da República que o promulgou e ao senhor primeiro-ministro que o pôs em marcha, eram todos criaturas práticas, p’rafrentex, que não se deixavam embaraçar por considerações de ordem histórica e estética, isto é, cultural e afectiva. Foram surdos a tudo, excepto ao canto de sereia dos professores Malaca e Houaiss, a anunciar amanhãs que cantavam à língua portuguesa.»
Na verdade, o AO, que almejava unificar, acabou em muitos casos por diversificar: onde havia uma só grafia (‘recepção’, por exemplo), passou a haver duas: ‘recepção’ e ‘receção’ (esta correntemente confundida com ‘recessão’). Não vale a pena aduzir mais exemplos.
Por outro lado, o AO é um cúmulo de incoerências, que têm sido devidamente apontadas e exploradas. Não vale a pena enumerá-las a todas; bastará o exemplo da retirada do acento em ‘pára’ (do verbo ‘parar’), que era antes do AO justificado pela necessidade de distinguir de ‘para’ (preposição). Ora, se a necessidade de distinção cessou como por milagre (o mirífico contexto! — que estamos fartos de saber que funciona... quando funciona), porque se manteve o acento no verbo ‘pôr’? Incoerência. Ou que justificação séria pode ser encontrada para escrever com hífenes ‘cor-de-rosa’ e sem hífenes ‘cor de laranja’?
Não insistirei na enumeração de casos particulares. Direi apenas que o AO não tem qualquer justificação científica em que se apoie. Tem apenas a justificação política de que da sua aplicação resultariam benefícios para a língua portuguesa, a nível de prestígio e mais fácil utilização nos fóruns internacionais. Até hoje, creio que ninguém de boa fé poderá dizer que já notou alguma diferença.
Aproximando-nos agora um pouco mais dos objectivos do Grupo de Trabalho, julgo oportuno fazer uma única e definitiva consideração (transcrevendo também palavras já por mim publicadas algures):
«O Sr. Professor Malaca Casteleiro, escreveu recentemente, defendendo o AO, que o dito está a ser aplicado “sem problemas”. Santa ingenuidade! Não se dá conta o professor da chusma de ‘fatos’ (em vez de ‘factos’) que enxameia o próprio Diário da República? Se não se dá conta, em que país das maravilhas devaneia o professor? Se dá, não acha o professor que isso é um problema — e bem bicudo —, que rói o próprio cerne da língua portuguesa?»
Defendem os apoiantes do AO dizendo que isso não é culpa do acordo, mas do mau uso e ignorância de alguns utentes da língua. É claro que sim. Mas quando é que, antes do AO, se disse ‘fato’ em vez de ‘facto’, e ‘contato’ em vez de ‘contacto’, deste lado do Atlântico? Será arriscado afirmar que foi o AO que criou o ambiente propício para mutilações destas da língua portuguesa, as quais — água mole em pedra dura... — acabarão por se tornar irreversíveis?
Contrariamente ao que o Sr. Professor Malaca Casteleiro quer fazer crer, a aplicação do AO tem gerado inúmeros problemas (oiçam os professores!) e está a ser um factor de erosão do Português.
Termino, recomendando que Portugal se desvincule, e quanto antes, do tratado do Acordo Ortográfico de 1990.
A. M. Pires Cabral»
Fonte:
Não é propriamente sobre o AO90, mas bem espremidinho, o texto pode adaptar-se ao tema, e aqui fica o recado para quem aceitou, sem pestanejar, impingi-lo às crianças portuguesas.
«Primeiro dia de aula: o professor de «Introdução ao Direito» entrou na sala e a primeira coisa que fez foi perguntar o nome a um aluno que estava sentado na primeira fila:
- Qual é o seu nome?
- Chamo-me Nelson, senhor.
- Saia de minha aula e não volte nunca mais! - gritou o desagradável professor.
Nelson ficou desconcertado. Quando voltou a si, levantou-se rapidamente, recolheu suas coisas e saiu da sala. Todos estavam assustados e indignados, porém ninguém falou nada.
- Agora sim! - vamos começar .
- Para que servem as leis? Perguntou o professor.
Seguiam assustados ainda os alunos, porém pouco a pouco começaram a responder à sua pergunta:
- Para que haja uma ordem em nossa sociedade.
- Não! - respondia o professor.
- Para cumpri-las.
- Não!
- Para que as pessoas erradas paguem por seus atos.
- Não!
- Será que ninguém sabe responder a esta pergunta?!
- Para que haja justiça - falou timidamente uma garota.
- Até que enfim! É isso, para que haja justiça. E agora, para que serve a justiça?
Todos começaram a ficar incomodados pela atitude tão grosseira. Porém, seguíamos respondendo:
- Para salvaguardar os direitos humanos...
- Bem, que mais? - perguntava o professor .
- Para diferenciar o certo do errado, para premiar a quem faz o bem...
- Ok, não está mal, porém respondam a esta pergunta:
"Agi corretamente ao expulsar Nelson da sala de aula?"
Todos ficaram calados, ninguém respondia.
- Quero uma resposta decidida e unânime!
- Não! - responderam todos a uma só voz.
- Poderia dizer-se que cometi uma injustiça?
- Sim!
- E por que ninguém fez nada a respeito? Para que queremos leis e regras se não dispomos da vontade necessária para praticá-las? Cada um de vocês tem a obrigação de reclamar quando presenciar uma injustiça. Todos. Não voltem a ficar calados, nunca mais! Vou buscar o Nelson - disse. Afinal, ele é o professor, eu sou aluno de outro período.
Aprendam:
Quando não defendemos os nossos direitos, perdemos a dignidade e a dignidade não se negocia.»
Origem da imagem e do texto
. Depois de ter contribuído...
. In memoriam Eduardo Loure...
. A obscura questão do AO90...
. «Posição sobre o acordo o...
. «Eu sou a vossa professor...
. Ao cuidado do grupo de tr...
. O que fazer quando um ori...
. Uma excelente e irrefutáv...
. «Cada um de vocês tem a o...