Este foi o título de um pequeno texto que escrevi em 2015, na véspera das comemorações do dia 10 de Junho, era presidente da República Aníbal Cavaco Silva.
E hoje torno a repetir (assim mesmo: torno a repetir, porque é preciso repetir muitas vezes para que os emperrados das ideias possam ter uma oportunidade de entender):
«Amanhã, o governo português pretende celebrar o Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades, com cerimónias hipócritas, que em nada dignificam um país que foi vendido (seja lá a quem for) e perdeu um dos seus maiores símbolos identitários: a Língua Pátria.
Esta estátua jacente de Luís Vaz de Camões encontra-se no Mosteiro dos Jerónimos. Os seus restos mortais estarão ali ou não, mas o que importa é o Homem de Letras que ele foi, e amanhã será celebrado numa língua que não é a Língua de Camões, aquela Língua que ele usou para tornar grande um Portugal pequeno.
Se pudesse falar, lá do limbo, onde com certeza se encontra, diria, desgostoso:
«Parai, ó (h)omens sem honra! Arrancasteis as raízes da Língua, com a qual celebrei os feitos dos Portugueses, e agora só restam palavras alteradas, afastadas das suas origens, para contar as proezas imperfeitas dos que venderam, por baixo preço, o meu País!»
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Eu, como cidadã portuguesa, não serei cúmplice desta traição à minha Pátria.
Que acordo permitiu unificar que língua?
A Língua Portuguesa não foi, com toda a certeza.
A Língua Portuguesa não é aquela mixórdia de palavras mal escritas e mal ditas que o governo português pretende impingir-nos.
Com isto, as editoras perderam uma boa cliente: eu gastava fortunas em livros, e agora não gasto.
Espero que quem ama verdadeiramente a sua Pátria e os seus valores culturais identitários, digam um rotundo NÃO a esta deslealdade para com os Homens (com H maiúsculo) que nos deixaram uma Língua, e omens (sem H nenhum – se não se lê, não se escreve, não é esta a nova regra?) a mataram por trinta dinheiros.
Amanhã, em vez de flores, depositarei as minhas lágrimas no túmulo de Luís Vaz de Camões.
Os governantes portugueses depositarão flores no túmulo de Luís Vás de Camões.
E isto não é a mesma coisa.»
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Um ano é passado, e temos um novo presidente da República: Marcelo Rebelo de Sousa que decidiu ir comemorar o Dia de Camões e de Portugal para Paris.
É chique comemorar o Dia de Camões e de Portugal em Paris.
Os emigrantes portugueses, que vivem naquela cidade, agradecerão, com toda a certeza.
O presidente aproveita a viagem e vai ver a selecção portuguesa de futebol.
Mas não seria muito mais digno de Camões, comemorar o Dia de Camões com a exterminação do AO90 - o acordo do descontentamento de milhares de escreventes e falantes, precisamente da Língua de Camões?
Porque a língua que estão a impor ilegalmente às inocentes crianças portuguesas, que não têm como dizer NÃO (os adultos têm o dever cívico de se opor a esta ilegalidade, mas e as crianças?...) não é a Língua Portuguesa na sua forma grafada.
Trata-se, como todos sabemos, de uma mixórdia ortográfica sem precedentes, na História da Língua.
Vamos gritar bem alto: exigimos a exterminação do AO90, para comemorar o Dia de Camões.
Isabel A. Ferreira
. A melhor forma de comemor...