Sábado, 6 de Abril de 2024

NÃO existe Português de Portugal, como NÃO existe Português do Brasil. O que existe é a Língua Portuguesa e a Variante Brasileira do Português, entre outras Variantes, geradas noutras esferas...

 

É urgente acabar com a lusofobia tanto quanto com a lusofonia

***

Recebi o comentário de uma/um (?) brasileira/o (?) que reproduzo mais abaixo, e destacá-lo-ei no Blogue, para ver se, de uma vez por todas, os brasileiros, a quem fizeram lavagem cerebral, encaixam que, se querem fazer do grande Brasil em território, um Brasil GRANDE em nobreza, devem aceitar o seu passado, tal como ele foi e não como gostariam que tivesse sido, e o deixem lá, nesse tempo antigo, de onde os mortos jamais virão reclamar o que era natural na vida de todos os povos dessa época. Lembrem-se de que os vindouros irão criticar, no futuro, o que os seus antepassados NÃO fizeram para lhes deixar um mundo melhor, por ficarem presos a um passado que não volta mais.

 

É, pois, da ESTUPIDEZ pretender julgar o passado através dos valores culturais, sociais e morais do presente.

 

Também é preciso que os brasileiros, a quem fizeram lavagem cerebral, encaixem, de uma vez por todas, que não é soltando, por aí, a sua LUSOFOBIA patológica que alcançarão o reino dos céus de Portugal.

 

Epicuro.PNG

 

Obviamente, este pensamento de Epicuro não se aplica aos que SOFRERAM e SOFREM horrores às mãos de carrascos. Os outros, os que nunca estiveram no lugar desses que SOFRERAM e SOFREM horrores, devem reflectir sobre as palavras de Epicuro, e não andar por aí a cobrar dos outros, o que esses outros nunca fizeram, porém, lamentam que a vida seja tão cruel para uns, e tão benevolente para outros.

 

Nayara comentou o post A notícia «Há crianças portuguesas que só falam 'brasileiro'» gerou comentários que dizem de uma exacerbada e incompreensível LUSOFOBIA e da ignorância optativa às 03:13, 05/04/2024 :

Claramente alguns comentários destacados estão em português de Portugal portanto devem ser descartados visto que como a própria senhora pontuou não temos capacidade para tal. Logo são comentários maliciosos falsos feitos por outros portugueses. Quanto as influências que o português do Brasil sofreu, você sabia que o sotaque do sul foi predominantemente moldado por portugueses dos Açores que é muito peculiar? Já em 1808 quando a coroa portuguesa se mudou para o Rio de Janeiro o “R” com fonema do francês chegou ao Brasil Os integrantes da realeza imitavam o “R” falado pelos franceses, referência cultural e intelectual europeia naquela época. Em pouco tempo, a elite local também passou a copiar esse jeito de falar e assim permaneceu. Quanto a suas outras pontuações eu não sou esquerdista e não preciso ser pra dizer que os 388 anos de escravidão no Brasil implantado por portugueses foi um crime contra a humanidade. Esse é um capítulo tenebroso e inegável na história de Portugal o qual a senhora recusa-se a admitir. Foi uma colonização no mínimo revoltante mas é passado. Passado no qual precisamos admitir, aprender e nos distanciar enquanto sociedade.


***

1 – NÃO existe Português de Portugal, bem como NÃO existe Português do Brasil. O que existe é a Língua Portuguesa, o PORTUGUÊS, e a VARIANTE BRASILEIRA DO PORTUGUÊS, entre outras Variantes, geradas noutras esferas.

 

2 – O Português até pode ser razoavelmente compreensível, para os brasileiros, na sua forma escrita, porém, na sua forma oral NÃO é, tanto que dobram e legendam tudo o que é falado em Português, nas televisões brasileiras, e não nos percebem quando falamos cara a cara, com eles.

 

3 – Aconselho-a a reler o que escrevi, para avaliar a que “capacidade” me referi, no meu texto, em relação aos Brasileiros. Isto já é uma prova da iliteracia brasileira em relação ao Português escrito.

 

4 –Os comentários publicados, além de não serem falaciosos, são escritos por brasileiros incultos, basta considerar o léxico e a construção frásica. O YouTube está cheio de vídeos brasileiros com conteúdos iguais.

 

5 – Aos Portugueses não interessa para nada os sotaques brasileiros, que variam de região para região. Interessa a FONOLOGIA, que é completamente outra coisa, e nada tem a ver com a Fonologia da Língua Portuguesa.

6 – O vosso problema é terem uma fixação doentia e complexada pelo vosso passado, negligenciando o presente e ignorando o futuro. Os Brasileiros são o ÚNICO povo colonizado que ainda mantém uma relação/ódio com o ex-colonizador. Aceitem o vosso passado, porque NÃO podem mudá-lo. Além disso, os únicos brasileiros com direito a protestar são os INDÍGENAS brasileiros, os donos das terras do Brasil. Se você é brasileira, a Portugal o deve, e se não gosta, mude de nacionalidade, mas não queira ter a nacionalidade portuguesa – que muitos têm apenas para obterem privilégios e darem o salto para outros países europeus, por odiarem estar em Portugal, mas sem a muleta portuguesa, jamais conseguiriam – porque sentir-se-ia como um peixe fora d’água.

 

7 – Não nos interessa NADA como se falava em 1808. Interessa, sim, como se fala e escreve em 2024 d.C., e o que se escreve e fala no Brasil, actualmente, NÃO nos diz respeito.

 

8 – Não interessa se você é esquerdista ou não. O que interessa é que foram os esquerdistas brasileiros, da ala mais ignorante, que decidiram DETURPAR a Língua do ex-colonizador, continuando a designá-la como Português, e a isso chama-se USURPAÇÃO do IDIOMA ALHEIO, com a agravante de o terem deformado.

 

9 – A escravidão no Brasil foi exactamente igual a todas as outras escravidões, desde o Egipto antigo até aos tempos que correm. Sempre houve escravidão. Ainda há escravidão e tráfico humano no Brasil. Deviam preocupar-se com isso, não, com o que não pode voltar atrás, para ser redimido. Também deviam preocupar-se com as barbaridades que HOJE o Brasil está a cometer contra os Indígenas brasileiros, algo que os colonizadores nunca fizeram. Apenas os descendentes dos escravos africanos podem sentir-se “incomodados”, com a escravidão dos seus antepassados,  mas têm de saber que SE os seus antepassados foram escravizados, aos próprios africanos o devem, pois eram eles que os apanhavam nas tribos vizinhas, os traficavam, os vendiam aos Portugueses, aos Ingleses, aos Castelhanos, aos Holandeses, aos Franceses. Se devemos condenar a escravidão? Claro que devemos condenar TODAS as escravidões, desde a Antiguidade até aos nossos dias. Mas o que interessa condenar a escravidão de tempos antigos se são mantidas nos tempos modernos? Crime contra a Humanidade são todas as escravidões, todas as guerras, todas as torturas, todas as crianças deixadas a morrer à fome, a serem exploradas, a serem violadas, a servirem de objectos sexuais, HOJE. Mas o que importa para si a escravidão actual? Só interessa o que se passou há séculos, no Brasil, algo, de que NÓS, Portugueses do século XXI d. C., NÃO fomos responsáveis? É, pois, da estupidez julgar os actos do passado à luz dos valores do presente.

 

10 – Vejo que nada sabe das minhas posições sobre o que chama “capítulo tenebroso da História de Portugal”. A propósito disso, até escrevi um livro. E sobre os capítulos tenebrosos da História do Brasil pós-1822, a Nayara sabe alguma coisa? Não lhe interessaria saber?

 

11 – Para sua informação, e uma vez que os brasileiros, descendentes de europeus e de outras paragens, dizem que preferiam ter sido colonizados pelos Ingleses (como se pudessem fazer recuar o tempo!)  as colonizações inglesa e castelhana foram muito mais bárbaras e cruéis do que a colonização portuguesa. Nós não exterminámos impérios, nem tribos inteiras de indígenas. Vejo que nada sabe da História da América do Norte e da História da América do Sul. Aconselho-a a informar-se melhor, antes de vir comentar o que quer que seja, e também aconselho a não seguir as mentiras que os esquerdistas ignorantes andam a espalhar por aí...

 

12 – Por fim, deixe-me dizer-lhe que o seu comentário é de alguém a quem fizeram lavagem cerebral, que não estudou por livros, mas por “bocas”, algo que não lhe permite viver no século XXI d. C., estando especada num tempo que jamais será reescrito, ainda que o Brasil estrebuche até à exaustão.

 

Isabel A. Ferreira

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:44

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Quinta-feira, 8 de Setembro de 2022

Independência do Brasil: «Não irmão mas sim filho», uma lição de História, por Octávio dos Santos, onde se faz uma feroz crítica ao AO90 e «às duas “repúblicas das bananas” típicas do Terceiro Mundo»

 

Parabéns, parabéns, parabéns, Octávio dos Santos!

Excelente artigo, obrigatório ler por todos os portugueses que têm orgulho de o ser, mas também por todos os portugueses que NÃO têm orgulho nenhum, nem de o ser, nem sequer de si próprios.

 

Mas este é também um artigo para ser lido obrigatoriamente pelos brasileiros que gostariam de ter sido colonizados pelos Ingleses, e, empancados nesta ideia, não conseguiram fazer progredir o Brasil, por incapacidade de ver o quanto os Portugueses contribuíram para lhes deixar todas as bases que sustentam o progresso.

 

Este é, sem dúvida, um dos artigos mais brilhantes que já se escreveram sobre esta matéria.

 

Obrigada, Octávio dos Santos, por este momento de uma lúcida e bem redigida prosa, algo que vai rareando na imprensa portuguesa.

 

Isabel A. Ferreira

 

Octávio dos Santos.jfif

Octávio dos Santos

07 Setembro 2022 — 07:00

 

«O Brasil celebra hoje, 7 de Setembro de 2022, 200 anos de independência. É uma data muito importante, realmente histórica, pela qual Portugal é o primeiro país a dar os parabéns e a desejar «feliz aniversário». Ao país irmão? Não, ao país filho. Sim, porque o Brasil é uma completa, total, criação de Portugal, que foi tanto «pai» como «mãe» entre 1500 e 1822...

 

... Período durante o qual sucessivas gerações de portugueses, cujo maior representante, símbolo, terá sido o Padre António Vieira, trabalharam para fazer da Terra de Vera Cruz a mais bela, a mais rica, quiçá perfeita, nação do planeta. Alargaram o território para além do Tratado de Tordesilhas e assim conquistaram praticamente todo o Amazonas, floresta e rio. Aos povos nativos juntaram europeus e africanos, criando condições para uma autêntica, e profícua, miscigenação. Deste lado do Atlântico levaram inclusivamente pedras com que se construíram fortalezas e igrejas. Providenciaram uma língua que constituiria o principal suporte da identidade e da unidade nacionais.

 

E, algo de incrível nunca acontecido, visto, antes nem depois, fizeram da colónia o centro do império, Rio de Janeiro a substituir Lisboa como capital e metrópole, e a seguir permitiram que a família real portuguesa se tornasse também a brasileira, com o «Grito do Ipiranga» do herdeiro do trono a anunciar o «corte» do «cordão umbilical». Que se fez sem revolução, sem guerra, assim possibilitando à nova nação iniciar o seu próprio caminho sem drama, sem tragédia. Os brasileiros teriam preferido que tivesse acontecido o mesmo que nas independências dos Estados Unidos e da Argélia, marcadas por confrontos longos e sangrentos com, respectivamente, a Grã-Bretanha e a França? Sim, não se duvide: tudo o que de bom o Brasil teve e tem deve a Portugal. Pelo que não se compreende e não se aceita que, ainda hoje, tantos brasileiros, desde cidadãos mais ou menos anónimos a figuras públicas mais ou menos conceituadas, insistam no insulto de que os problemas que a sua pátria sofre(u) sejam culpa de Portugal. Tanta estupidez, tamanha falta de respeito, tal demonstração de ignorância, imaturidade e ingratidão, devem ser condenadas sem hesitação e sempre que se manifestem.

 

Nós deixámos de ser responsáveis por eles desde 1822, directamente, e desde 1889, indirectamente, quando D. Pedro II, após (e por causa de) abolir a escravatura, foi deposto enquanto chefe de Estado, e com ele a monarquia brasileira. Na verdade, os dois países foram, e são, prejudicados por repúblicas, ambas instauradas por golpistas fanáticos e minoritários, que não cumpriram plenamente o que prometeram, ou seja, ordem e progresso.

 

Uma das áreas em que a desordem e o retrocesso mais se fizeram, e fazem, sentir é a da ortografia. As repúblicas de ambos os lados do Atlântico são reincidentes em obsessivas e absurdas «reformas» e (des)acordos quanto à forma de escrever, iniciativas que desvalorizam, enfraquecem, um vital instrumento de comunicação, com (más) consequências visíveis, inegáveis, nas culturas de ambas as nações.

 

O maior extremismo, e até terrorismo, neste âmbito veio do Brasil em 1943, quando a ditadura de Getúlio Vargas consagrou um radical e generalizado corte de consoantes «mudas», ceifando as raízes latinas, que cobardemente as mais altas (ou baixas?) instâncias oficiais portuguesas viriam a «adotar» através do AO90. Os dois países são, neste aspecto, duas insólitas e ridículas, risíveis, excepções em todo o mundo civilizado, duas «repúblicas das bananas» típicas do Terceiro Mundo, terrenos férteis para o surgimento de «vanguardistas» patéticos que não hesitam em sacrificar os verdadeiros interesses, a estabilidade e o bem-estar da maioria dos seus compatriotas em favor de um falso progresso, de utopias que acabam por se revelar, inevitavelmente, como distopias.

 

E tanto deste lado do Atlântico como do outro a «justificação» tem sido a mesma: simplificar e «facilitar» a aprendizagem; porém, tais objectivos não - nunca - foram atingidos, como o atestam os crónicos e elevados índices de analfabetismo e de iliteracia nas duas nações.

 

Há 100 anos, em 1922, a celebração do primeiro centenário da independência do Brasil teve como maiores protagonistas dois portugueses: Carlos Gago Coutinho e Artur Sacadura Cabral, que realizaram a primeira travessia aérea do Atlântico Sul. Um século depois, o maior protagonista é outro português que também viajou - na verdade, apenas uma parte dele - de avião a partir da Europa: o coração de D. Pedro I (para nós o quarto), por ele doado à cidade do Porto, regressou temporariamente à segunda pátria que igualmente tanto amou. Se o dele já não, os corações de muitos (acredito que a maioria dos) portugueses ainda batem pelo Brasil, apesar de tudo orgulhosos, como um pai, por tudo o que de bom o filho conseguiu. Todavia, e tal como numa relação familiar, é indispensável haver respeito mútuo, e, nesse aspecto, muito há ainda a fazer.

 

Tal como entre pessoas, também entre nações não deve existir dominação e subordinação resultantes de uma disparidade de números - nos quilómetros quadrados de área, no número de habitantes, no poder económico. A reversão de papéis expressa numa eventual reconversão de Portugal como colónia contemporânea do Brasil, que muitos cá parecem encarar com resignação, não é uma solução para um problema que, de facto, não existe nem nunca existiu. Porque nós não temos presentemente de pedir perdão seja pelo que for. Esperamos, sim, pelo contrário, ouvir um «muito obrigado».

 

Jornalista e escritor

Fonte: https://www.dn.pt/opiniao/nao-irmao-mas-sim-filho--15143537.html

 

(Nota: os trechos a negrito são da responsabilidade da autora do Blogue)

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:11

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Sexta-feira, 5 de Agosto de 2022

Até sempre, Jô Soares…

 

Morreu hoje, de madrugada, em São Paulo (Brasil), Jô Soares, humorista, actor, apresentador de televisão, escritor, dramaturgo, director teatral e músico, nascido no Rio de Janeiro, em 16 de Janeiro de 1938.

 

Um Brasileiro que soube honrar o Brasil com o seu talento, a sua cultura, o seu requintado e inteligente humor,  a sua boa disposição.

Um Brasileiro que, desde jovem, me habituei a admirar e a respeitar.

 

Nada é eterno no plano terrestre. Vão-se os bons, que nos deixam um rasto de luz...

Ficam os maus (por enquanto) para infernizar a vida dos outros, na Terra.

 

É com este rosto, esta expressão risonha que recordarei Jô Soares

Até sempre…

 

Isabel A. Ferreira

 

JÔ Soares.png

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:56

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Quinta-feira, 5 de Maio de 2022

O que se celebra hoje, “05 de Maio”, NÃO é o Dia Mundial da Língua Portuguesa, mas o Dia Mundial do AO90, imposto ilegalmente aos Portugueses

 

A Língua Portuguesa celebra-se, desde 1981, no dia 10 de Junho, dia da morte de Luiz Vaz de Camões, Poeta maior de Portugal, autor de «Os Lusíadas», o Poema Épico que conta a saga dos Portugueses, pelos quatro cantos do mundo. O Poeta que honrou Portugal, os Portugueses e a Língua Portuguesa.

 

Mas vamos aos factos.

 

Camões - Retrato por Fernão Gomes.png

 

Em 2019, na 40ª sessão da Conferência Geral da UNESCO, esta decidiu proclamar o dia “05 de Maio” de cada ano como "Dia Mundial da Língua Portuguesa", numa altura em que o Acordo Ortográfico de 1990 - uma sequela do Formulário Ortográfico (brasileiro) de 1943, mais pormenor, menos pormenor -  estava a ser altamente contestado, e o MPLP (que ainda não se extinguiu) tinha apresentado, em Setembro de 2018, portanto, há poucos meses, uma queixa, muito bem fundamentada, à UNESCO, subscrita por mais de uma centena de Portugueses, e que pode ser consultada neste link:

Movimento em Prol da Língua Portuguesa (MPLP) apresenta queixa à UNESCO contra o Estado Português

em que se denuncia a violação da Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial (CSPCI), por um Estado-Membro, ou seja, por Portugal.

 

Naquela altura, tal como ainda hoje acontece, os governantes portugueses, sob a alçada de Augusto Santos Silva, o então Ministro dos Negócios DOS Estrangeiros, MUITO DEMOCRATICAMENTE, DESPREZARAM a gigantesca onda de contestação ao AO90, que ao tempo acontecia, assim como ainda HOJE acontece, porém, como sabemos, numa "democracia" socialista, desprezar a voz do Povo, ao que se comprova, faz parte das regras dessa “democracia”.

 

A resposta que a UNESCO deu ao MPLP, passados uns meses (em que, entretanto, se cozinhou a criação do Dia Mundial da (falsa) Língua Portuguesa) foi algo que envergonharia qualquer Organização menor, e muito mais a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) - (United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization).

 

Daí que o MPLP tivesse reformulado a queixa, e introduzisse mais dados que dariam à UNESCO, material suficiente para condenar Portugal (está tudo documentado neste Blogue). E o que aconteceu?

 

Já vamos no ano de 2022 e o MPLP continua a aguardar uma resposta. Não ficará tudo dito?



Entretanto, no ano de 2019, a UNESCO declara o dia “05 de Maio”, o Dia Mundial da (falsa) Língua Portuguesa.

 

Acontece que, em 1981, a Assembleia da República Portuguesa, determinou que, no Dia 10 de Junho, data da morte de Luiz Vaz de Camões se celebrasse, a partir de então, a Língua Portuguesa, em homenagem a esse Poeta maior de Portugal, autor de «Os Lusíadas», o Poema Épico que conta a saga dos Portugueses, pelos quatro cantos do mundo, e autor dos mais belos Sonetos que HONRAM a beleza e a riqueza da NOSSA Língua Portuguesa.

 

E o 10 de Junho é que é o verdadeiro Dia da Língua Portuguesa.

 

O «05 de Maio», é apenas o dia da mixórdia ortográfica, gerada pelo AO90, e que nada tem a ver com a Língua Portuguesa, a Língua de Camões, a Língua dos nossos clássicos, a Língua dos Portugueses, a Língua com que Dom Dinis, o Rei Trovador, um dos mais cultos e educados reis portugueses, e os seus sábios, presentearam Portugal e os Portugueses, no século XIII.

 

Dia da Língua Portuguesa.PNG

 

Como curiosidade, apresenro-vos esta imagem do site da Universidade Gama Filho (UGF), do Rio de Janeiro (Brasil), onde tive a honra de frequentar e terminar o primeiro ano do Curso de História,  a qual celebrou, em 10 de Junho de 2011, o Dia da Língua Portuguesa, portanto, alguns meses antes de, em Portugal, o AO90 ter sido IMPOSTO ILEGALMENTE, tendo-se cometido, então, um CRIME DE LESA-PÁTRIA (que ainda há-de ser punido convenientemente) com base nos seguintes argumentos jurídicos:

 

a - o facto de as resoluções configurarem uma alteração à Constituição, sem que fosse desencadeado o devido mecanismo da revisão constitucional;

 

b - o facto de terem alterado o conceito de Língua Portuguesa (previsto no art. 11.º/ n.º 3) e o conceito de Língua Portuguesa é obviamente aquele que foi fixado pela redacção da CRP e não por outro acto de valor jurídico inferior.  

 

c - o facto de violar a proibição vertida no n.º 2 do artigo 43.º da CRP ("2. O Estado não pode programar a educação e a cultura segundo quaisquer directrizes filosóficas, estéticas, políticas, ideológicas ou religiosas.").

 

Do que mais precisam, ó JURISTAS portugueses, para encostarem à parede, quem assim tão desonrosamente traiu Portugal, e transformou a grafia da nossa bela Língua Portuguesa, a mais antiga da Europa, numa mixórdia ortográfica, indigna de um País a sério?

 

Para finalizar a celebração acordista do “05 de Maio” aqui fica este link, para quem tiver a curiosidade ou o interesse de o consultar:

 

Os tiranos da Língua Portuguesa até podem parecer invencíveis, mas no final, serão derrubados como sempre foram todos os tiranos…

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 17:54

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Segunda-feira, 16 de Novembro de 2020

Uma escola privada do Rio de Janeiro decidiu dar voz à “ideologia de género” e agora “todes” são “querides alunes”

 

 "Desventurades alunes"  que, sem darem conta, ainda alunam na Lua, que é o lugar ideal para as alu(ci)nações

Se a estupidez matasse, estariam todos mortos os que acham que este tipo de linguagem vai resolver o problema dos ILES. Apenas as ATITUDES resolvem os problemas das pessoas. ATITUDES! As palavras leva-as o vento, além de desqualificar um Idioma.

Este tipo de linguagem é absolutamente I-DI-O-TA.  

Isto faz parte de gente muito mal resolvida.

Temos de travar esta tendência, antes que as novas gerações sejam anuladas como pessoas.

Isabel A. Ferreira

 

Ideologia de género.png

 

Fonte:

https://www.facebook.com/OsPingosnosIsOficial/posts/2828873854024187?comment_id=300018504466031&notif_id=1605538926485304&notif_t=feedback_reaction_generic

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:31

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Segunda-feira, 4 de Março de 2019

«O negócio do Acordo Ortográfico»

 

Recupero hoje uma investigação criteriosa, publicada pelo Jornal O DIABO em 05/12/2015.

 

Esta é a verdadeira história do negócio do AO90, assente na Base 4 do Formulário Ortográfico Brasileiro de 1943, ainda em vigor no Brasil. 

 

Este texto mostra preto no branco a negociata (mais do que negócio) do AO90, que está a conduzir à decadência da Língua Portuguesa, apenas porque uns “intelectais” (o termo é mesmo este) mercenários decidiram pôr sete países (Portugal, Angola, Moçambique,  Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste) que mantinham uma ortografia normalizada, clara e escorreita, a grafar à brasileira, uma infinidade de palavras.

 

E, se bem que nada tenhamos contra a grafia brasileira (e que isto fique bem claro) que pertence unicamente ao Brasil e aos Brasileiros, e faz parte da norma linguística da Variante Brasileira do Português, oriunda da Língua Portuguesa, a qual os políticos brasileiros escolheram para o Brasil, não podemos aceitá-la como nossa, porque além de não ser nossa, retira Portugal do seu contexto Europeu, uma vez que a Língua de um Povo é a sua identidade, e nós não somos Brasileiros.

 

Isabel A. Ferreira

 

acordofora.png

Texto assinado pelo Jornal «O DIABO»

(Nota: os excertos a negrito são da responsabilidade da autora do Blogue)

 

«O projecto, nascido da cabeça do intelectual esquerdista brasileiro Antônio Houaiss, foi desde o início um empreendimento com fins lucrativos, apoiado por uma poderosa máquina política e comercial com ramificações em Portugal.» 

 

O português mais distraído talvez pense que um colégio de sábios bons e eminentes terá decidido um dia, após longos anos de estudo e investigação, proceder à reforma do sistema ortográfico da Língua Portuguesa – e que os governos dos países lusófonos, tendo-se debruçado sobre o assunto com o auxílio ponderado de gramáticos e lexicógrafos, terão conscienciosamente aprovado essa tão bem preparada reforma. Mas o português distraído estaria redondamente enganado.

 

Já se sabia que o acordo ortográfico foi preparado em cima do joelho, longe do debate público e do escrutínio do povo, dos mestres da Língua e dos especialistas da Gramática. Mas só agora começa a conhecer-se, em detalhe, todo o processo de promoção de um tratado internacional que, embora já esteja a ser aplicado em alguns países (como Portugal), só entrará plenamente em vigor, se algum dia entrar, quando todos os governos lusófonos o assinarem. E ainda falta um…

 

Em Portugal, no Brasil e em Angola, o acordo suscita enormes polémicas e tem contra si uma parte considerável do mundo académico e literário. Não obstante, governos e parlamentos dos PALOP têm vindo a ratificar consecutivamente o tratado, na ilusão “politicamente correcta” (estranhamente adoptada em Portugal por Executivos de centro-direita) de que ele representa “progresso” e “igualdade”.

 

A ideia, é certo, nasceu na cabeça de um académico esquerdista, o brasileiro Antônio Houaiss, que contou em Portugal com o providencial auxílio do linguista Malaca Casteleiro. Viajemos, então, no tempo e procuremos a génese de todo o processo, que nas últimas três décadas tem enchido os bolsos a um grupo restrito de autores e editores.

 

Segundo o testemunho do escritor português Ernesto Rodrigues, professor da Faculdade de Letras de Lisboa, publicado no seu ‘blog’ na internet, “Antônio Houaiss e Malaca Casteleiro dinamizavam, desde 1986, um projecto de acordo ortográfico”. Este fora sugerido, em primeiro lugar, no ano anterior, por Houaiss, que até aí fizera carreira como autor de versões brasileiras de dicionários enciclopédicos e dirigira, havia pouco, um “Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa” (1981).

 

Consultor de editoras privadas

HOUAISS.jpg

 

Quem era Antônio Houaiss? De origem libanesa, nascido no Rio de Janeiro em 1915, Houaiss era docente de Língua Portuguesa e consultor de várias editoras privadas de livros quando a ideia lhe surgiu. Apoiante de Getúlio Vargas (e depois de Leonel Brizola e do Partido Democrático Trabalhista, membro da Internacional Socialista), nunca escondeu as suas ideias políticas.

 

Estas levá-lo-iam mais tarde ao cargo de ministro da Cultura no governo socialista de Itamar Franco, entre 1992 e 1993, e à direcção do Conselho Nacional de Política Cultural, do Ministério da Cultura (1994-1995). Foi a seguir (1996) presidente da Academia Brasileira de Letras. Jocosamente, o humorista brasileiro Millôr Fernandes referia-se-lhe dizendo: “Houaiss conhece todas as palavras da Língua Portuguesa, ele só não sabe juntá-las”.

 

Em 1985, Antônio Houaiss era apenas um intelectual de esquerda com uma ambição: compor um dicionário da Língua Portuguesa que ombreasse com o famoso “Dicionário Aurélio”, da autoria de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, que desde a sua primeira edição, em 1975, já vendera até então mais de um milhão de exemplares. Mas Houaiss confrontava-se com uma “pequena” dificuldade técnica: para ultrapassar as marcas de Aurélio, o seu dicionário teria de galgar as fronteiras do Brasil e impor-se em todo o mundo lusófono como obra de referência. E para tanto era preciso “unificar a Língua”…

 

Membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), onde sucedeu a Álvaro Lins (diplomata “progressista” que nos anos 50 provocara uma crise diplomática entre Brasília e Lisboa ao conceder asilo político a Humberto Delgado na embaixada brasileira em Portugal), Houaiss começou a congeminar um projecto de “unificação ortográfica” logo em 1985, com o auxílio do filólogo Mauro de Salles Villar.

 

No início de 1986, Houaiss promoveu no Rio de Janeiro os primeiros “Encontros para a Unificação Ortográfica da Língua Portuguesa”, que haveriam de arrastar-se até 1990. O dicionarista obtivera para isso “carta branca da ABL”, segundo referiu José Carlos de Azeredo, professor do Instituto de Letras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, em entrevista ao jornal digital brasileiro UOL. O Antônio Houaiss era o único representante brasileiro”, especificou.

 

Máquina política e comercial

 

De início, a intelectualidade dos dois lados do Atlântico fez vista grossa à flagrante coincidência entre o autor da ideia de “unificar a Língua” e o potencial autor do primeiro grande dicionário da Língua “unificada”. Só depois, por fugas de informação, a comunidade científica se apercebeu da monstruosidade do propósito. Mas a máquina política e comercial já estava em marcha…

 

Em 1990, os representantes dos PALOPs são levados a subscrever um primeiro tratado com vista à “uniformização” da ortografia. E Antônio Houaiss e Salles Villar embrenham-se na elaboração da sua obra-prima. De caminho, Houaiss vinha publicando outros livros, de carácter mais partidário, como “O fracasso do conservadorismo”, “Brasil-URSS 40 anos do estabelecimento de relações diplomáticas”, “Socialismo e liberdade” ou “Socialismo – Vida, morte e ressurreição”. Creditava-se, assim, como político, condição que assumiu plenamente ao integrar o governo socialista de Itamar Franco, na sequência do ‘impeachment’ do presidente Collor de Melo.

 

Por esta altura, tornara-se óbvia a falta de entusiasmo dos intelectuais brasileiros quanto a uma reforma da ortografia. Um primeiro acordo fora assinado, é certo, mas previa-se um longo e difícil caminho até à sua promulgação final no Brasil. Na própria Academia Brasileira de Letras, muitos eram os académicos que se manifestavam contra o projecto. Um deles, o conhecido gramático Evanildo Bechara, afirmava mesmo: “Deus nos livre desta monstruosidade”.

 

Que fazer? A generalidade dos cientistas opunha-se ao acordo, mas este estava assinado e podia, ainda que informalmente, ser “imposto” através da divulgação massiva de um “novo dicionário” usando as “novas regras”. E se essa divulgação pudesse ser feita pelo próprio Estado, tanto melhor. Foi este o caminho escolhido pelos defensores dessa “nova língua” a que em Portugal logo se pôs a alcunha de “acordês”.

 

Ministro socialista

 

DICIONÁRIO.jpg

 

Houaiss era agora ministro da Cultura de Itamar Franco. Numa entrevista concedida ao programa televisivo Roda Viva, da TVCultura, em 16 de Novembro de 1992, o dicionarista deixou claro o seu propósito de dinamizar “um instituto que, por iniciativa do Estado, fizesse na área da cultura do livro aquilo que a cultura privada não queria fazer”. E confessou, indo direito ao assunto: “A Fundação de Assistência ao Estudante (FAE) tem uma capacidade de distribuição acima de qualquer distribuidora de livros no Brasil. E ela, a título não oneroso, poderá fazer isso para os editores privados, que terão seus livros circulando pelo Brasil inteiro, com uma diminuição de carga de despesas bem substancial. Essa é a linha que eu estou imaginando poder fazer”.

 

Durante essa entrevista, o escritor Ivan Ângelo ainda tentou introduzir a questão em que toda a gente pensava, mas poucos se atreviam a colocar. “Parece que há grandes grupos da indústria cultural, nos dois países, Brasil e Portugal, interessados no acordo, porque isso fará com que se abra um mercado dos países africanos, para dicionários, fascículos, livros escolares, livros didácticos”, sugeriu o romancista. E perguntou com candura: “O senhor sente ou já sentiu alguma vez a presença dessa indústria cultural no favorecimento, ou no apressamento, ou algum ‘lobby’ para que esse acordo saia o mais breve possível para aumentar os seus negócios internacionais?”.

 

Mas Houaiss deixou a pergunta sem resposta directa. Em contrapartida, reconheceu que “aspirava”, com o seu “vocabulário ortográfico pan-lusofônico”, chegar a “20% da população, tendencialmente 25, 26, 27%”. E isto só poderia conseguir-se com o auxílio do Estado na distribuição de exemplares pelas escolas e organismos oficiais.

 

Surpreende a franqueza com que Houaiss confessou, na mesma entrevista: “Eu evidentemente tenho subjacente em mim uma direcção socializante, certas visões de relevo derivam dessa minha própria formação”. E, assim, o autor da ideia da “unificação ortográfica” e autor do primeiro dicionário comercial baseado nessa ideia tornava-se agora, como ministro, o promotor desse mesmo dicionário através dos organismos estatais da sua tutela.

 

E não era desprezível, o auxílio que a FAE podia prestar aos editores comerciais de dicionários. Criado em 1983, este organismo tinha a seu cargo a aquisição, difusão e distribuição gratuita de livros didácticos destinados aos alunos das redes públicas de ensino, excluindo expressamente da lista as obras “desactualizadas”. Era uma pescadinha de rabo na boca.

 

O aliado português

 

Entretanto, Houaiss garantira em Portugal a colaboração de um aliado providencial: o linguista João Malaca Casteleiro. Oriundo da área de Filologia Românica, Casteleiro era desde 1981 professor da Universidade de Lisboa e participara, em representação da Academia das Ciências, no primeiro Encontro para a Unificação Ortográfica da Língua Portuguesa, em 1986.

 

Preparando as grandes alterações que o acordo ortográfico fazia adivinhar, e enquanto Houaiss trabalhava no Brasil para concluir o seu opus magnum, Malaca Casteleiro lançou-se em Lisboa à tarefa de coordenar um “Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea” patrocinado pela Academia das Ciências, incluindo estrangeirismos, coloquialismos, brasileirismos e africanismos.

 

A tentativa não lhe correu bem: ao fim de mais de dez anos de trabalho (financiado pela Fundação Gulbenkian e pelo Ministério da Educação), o “Dicionário da Academia” era acolhido pelo público e pela comunidade académica com uma indiferença gelada. Em 2006, aquando do lançamento comercial da obra, pela Editorial Verbo, o próprio editor reconhecia: “ODicionário tem falhas, tem lacunas e precisa de ser urgentemente revisto.

 

Na sequência do malogro, Malaca Casteleiro foi afastado da presidência do Instituto de Lexicologia e Lexicografia da Academia e dedicou-se à elaboração de dicionários de edição comercial, utilizando a “nova ortografia” que ele próprio ajudara a definir e chegara a recomendar oficialmente, em nome da Academia.

 

Em 2007 solicitou (e obteve) um financiamento público de 70 mil euros para elaborar um “Dicionário Ortográfico e de Pronúncias do Português Europeu”, com a participação de uma empresa privada de edição de livros, a Opifício Limitada. Entretanto, surgira em 2002 como coordenador da versão nacional do “Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa”, que já teve edições pelo Círculo de Leitores e pela Temas & Debates.

 

Vasco Graça Moura acusa

 

Ainda em 2012, o escritor Vasco Graça Moura, recentemente falecido, escrevia (no Diário de Notícias) que o professor Malaca tem-se especializado em produções de medíocre qualidade, como o famigerado e redutor dicionário da Academia das Ciências, abominável exercício de encolhimento do português contemporâneo. E Madalena Homem Cardoso, destacada activista anti-acordo ortográfico, escrevia no seu ‘blog’ na Internet sobre os dois grandes promotores do “acordês” no Brasil e em Portugal: “O que é que existe em comum entre Malaca Casteleiro e Houaiss? Ambos têm raízes genealógicas fora da cultura de língua portuguesa. Houaiss foi filho de pais emigrantes libaneses chegados ao Brasil sem saber falar uma palavra de português. Malaca Casteleiro tem a suas raízes genealógicas na ex-Índia portuguesa, onde o português nunca foi língua comum. Para nenhum deles, portanto, o Português é Língua Materna; não o é, pelo menos, com a profundidade/densidade/qualidade que ela tem para a maioria de nós. Isto é importante que se diga, para que se compreenda esta evidente leviandade no delapidar de um património tão rico”.

 

Entretanto falecera no Brasil (em 1999, com 83 anos) o primeiro e principal promotor do acordo ortográfico, Antônio Houaiss. À data do seu passamento, o acordo era ainda uma incerteza: assinado pelo governo de Brasília, não entrara ainda em vigor e cresciam à sua volta as vozes críticas.

 

Mas Mauro de Salles Villar prosseguia na elaboração do “Dicionário Houaiss”, certo de que (como veio a suceder) as autoridades brasileiras colaborariam na sua compra e difusão. Prudentemente, Antônio Houaiss criara em 1997 um “Instituto” com o seu nome, em cuja delegação portuguesa passou a pontificar Malaca Casteleiro.

 

Acontecesse o que acontecesse com o acordo, o projecto de edição comercial mantinha-se, agora no âmbito do “Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia”, com sede no Rio de Janeiro, e da “Sociedade Houaiss Edições Culturais”, sediada em Lisboa. Apesar das designações de sabor científico, trata-se de duas empresas de responsabilidade limitada. O Instituto, no Rio de Janeiro, passou, entretanto, a editar freneticamente, estando hoje massificados o “Dicionário Houaiss” (concluído em 2001), o “Mini Houaiss”, o “Meu Primeiro Dicionário Houaiss”, o “Dicionário Houaiss de Sinônimos e Antônimos” e uma miríade de outros títulos, como “Gramática Houaiss” e “Escrevendo pela nova ortografia/Como usar as regras do novo acordo ortográfico da língua portuguesa”. O negócio continua.

 

Golpe e negócio

 

No final dos anos 90, contudo, havia razões para pensar que o acordo ortográfico corria o risco de “não passar” no Brasil. Muitos escritores, professores e académicos manifestavam reservas, e a própria Academia Brasileira de Letras resistia à sua promulgação. O acordo estava esquecido, e era provável que nunca entrasse em vigor. Foi então que, em 2006, ao tempo da presidência do esquerdista Lula da Silva, antecessor de Dilma Rousseff à frente dos destinos do Brasil, uma reviravolta acabou por impor aos brasileiros, gostassem ou não, a “unificação ortográfica”. Quem o conta é o professor Sérgio de Carvalho Pachá, então lexicógrafo-chefe da Academia Brasileira de Letras (ABL), em entrevista a Sidney Silveira, do Instituto Angelicum de Filosofia.

 

Respondendo à pergunta “Quem foi a pessoa que promoveu este golpe?”, Pachá revelou: “A Academia elegeu um homem que, por temperamento, gostava de aparecer nos Media, na televisão [Marcos Vinícios Vilaça, presidente da ABL em 2006-2007 e 2010-1011]. Uma das primeiras providências desse senhor foi criar um escritório de divulgação, dirigido por um indivíduo cuja função fosse promover as autoridades da ABL nos Media, através de menções nos jornais e na televisão. Este homem era pago, muito bem pago, para ‘badalar’ a Academia. Um belo dia, este indivíduo ouviu dizer que dormia nas gavetas, havia mais de dez anos, um projecto de ‘unificação’ ortográfica. Este homem não era professor de Português, não era linguista, não era filólogo: era um jornalista [Antônio Carlos Athayde, assessor de Imprensa da ABL]. Ele ouviu dizer [que havia esse projecto] e logo pensou em ‘unificar tudo’. Ele correu para o presidente e disse: ‘presidente, eu tive uma ideia que não vai tirar mais a ABL dos Media. Nós vamos promover a unificação ortográfica’. E o presidente, que não entendia absolutamente nada de ortografia ou de sistemas ortográficos, imediatamente comprou aquela ideia genial e a Academia mais que depressa começou a promover a ‘unificação’ ortográfica”.

 

Para esta reviravolta muito contribuiu o gramático Evanildo Bechara, que começara por ser um dos mais acérrimos críticos do acordo e que em 2006 mudou repentinamente de opinião e passou a defendê-lo. Só um pouco mais tarde se percebeu porquê: em breve era publicado o seu livro “O que muda com o novo acordo ortográfico”, vendido aos milhares pela editora brasileira Nova Fronteira…

 

Conclui Sérgio de Carvalho Pachá: “Eles tinham já o gramático de plantão, o ortógrafo de plantão, que se transformou no grande propagandista da ‘unificação’ que não unifica coisa nenhuma. Para quê chamar outros filólogos, que poderiam introduzir controvérsia? […] A ABL não fez isso com o intuito generoso de unificar as grafias da Língua Portuguesa. Não: foi um golpe de publicidade […]. Foi vender gato por lebre. Foi uma balela desde o começo […], uma fraude”. Não tardou muito que o lexicógrafo-chefe da Academia Brasileira de Letras fosse despedido e Lula da Silva decretasse o uso compulsivo do “novo Português” em todo o Brasil.

 

Em Portugal, o acordo ortográfico foi introduzido no dia-a-dia da administração pública e do ensino oficial, mas a sua aplicação definitiva e vinculativa só terá efeito a partir do momento em que estiver ratificado por todos os países lusófonos. Falta que Angola o faça, e em Luanda crescem as dúvidas sobre se isso algum dia virá a acontecer. A decana da Faculdade de Letras da Universidade Agostinho Neto e ex-directora executiva do Instituto Internacional de Língua Portuguesa, Amélia Mingas, resumiu desta forma a opinião da comunidade académica do seu país: “o governo angolano é o único que não ratificou [o acordo ortográfico] e eu estou plenamente de acordo com isso, porque a variação que a língua portuguesa sofreu no nosso país não está ali considerada.

 

O poder dos negócios e da política parece, até hoje, ter vingado. Mas nem tudo está perdido.

 

Fonte:

http://jornaldiabo.com/cultura/acordo-ortografico-negocio/

 

***

Não, nem tudo está perdido. Não pode estar perdido. Não estará perdido.

Porque a Língua Portuguesa, apesar de andar em bolandas, recuperará a sua condição de Língua Indo-Europeia de Raiz Greco-Latina. (IAF)

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 12:13

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Domingo, 20 de Maio de 2018

LÁ LONGE... ONDE EXISTE UM PARAÍSO...

 

Escrevi este texto em 2009. Com muito carinho.
Dedico-o, hoje, igualmente com muito carinho, aos meus irmãos Brasileiros, lamentando que o AO90 esteja a destruir a Língua que nos unia,  mas também esteja a destruir algo dentro de mim...

 

 Ainda que as palmeiras se agitem, ao aproximar-se a tempestade, mesmo assim... a magia é imensa...

 

 Copyright © Isabel A. Ferreira 2009

 

Talvez porque o dia esteja cinzento... e de onde me encontro só vislumbro telhados e chaminés, coisas que nada me dizem... recuo a um passado vivido entre palmeiras, goiabeiras, coqueiros, farta vegetação, onde o canto do sabiá se fazia ouvir sobre todos os outros cantos de pássaros exóticos, de que é fértil a selva brasileira.
Quanta saudade!
Viajo até à formosa ilha de Paquetá, um daqueles paraísos que, suponho, ainda vão resistindo à mão do homem-predador, uma ilha que eu conheci, um dia, era ainda menina, e que jamais pude esquecer. Foi como se tivesse vivido um conto de fadas.
A Baía da Guanabara, onde se situa a Ilha de Paquetá, integra uma das mais belas paisagens do mundo, tendo a seus pés a cidade do Rio de Janeiro, onde nem tudo combina com a exuberante natureza da região.
No tempo em que por lá vivi, atravessava-se a Baía até Paquetá, em pequenos barcos a motor, sempre apinhados de gente, que procurava um refúgio tranquilo naquela ilha, onde a deslumbrante flora tropical, não fora ainda violada pela poluição, de espécie alguma.
Ali, as árvores não estremeciam com o roncar dos automóveis ou das infernais motorizadas, pois a sua circulação na ilha era proibida (ainda será?). Lá, só se andava a pé, de charrete, com pneus de borracha, puxada a cavalos, ou então de bicicleta.
Não admirava, pois, que o verde da folhagem fosse mais verde e as flores mais coloridas. Podia ouvir-se o som do silêncio, quando a Natureza adormecia, apenas interrompido, de onde a onde, pelo suspiro de um pássaro solitário.
Lá, as areias eram brancas e a vegetação crescia selvagem e livre até às praias, banhadas por águas límpidas que reflectiam a luz do Sol, permitindo ver o fundo marinho envolvido em mistério.
Paquetá tinha a magia de uma ilha tropical, tranquila, quente, envolvente. Todas as madrugadas, a Natureza despertava como se acabasse de ser criada pelo próprio Deus, e, quem tinha o privilégio de lá viver ou passar alguns dias, era despertado também pelo canto de um pássaro que resolvia pousar no ramo mais próximo do chalé. Abria-se então a janela e aquele ar puro com cheirinho a mar entrava-nos na alma, e era como se tornássemos a nascer.
Ao cair da tarde, debaixo da luz ténue do Sol tropical, a vegetação tomava um colorido suave, indescritível, e as águas tranquilas da baía faziam-nos lembrar os tão cantados lagos dos contos de fadas.
Em Paquetá, vivia (será que ainda vive?) o próprio Deus!
Claro que a ilha já existia, bela e selvagem, muito antes de os homens a terem descoberto. E ela era tão linda, tão exuberante que homem algum se atreveu a violá-la. Adaptaram determinados locais para o homem lá poder viver. Mas não a destruíram. E era possível nela podermos apreciar belos chalés e palacetes de arquitectura notável, lindas avenidas, floridas e arborizadas, testemunhos de uma civilização controlada, não agredindo a Natureza virgem.
Na ilha tudo era fresco e limpo, e os turistas (estrangeiros e brasileiros) que ali afluíam não se atreviam a conspurcar o lugar, com a sua incivilização. Não podiam! Tal era a magia que Paquetá exercia sobre os homens.
Sou daquelas pessoas que pensam que o homem pode preservar o seu próprio paraíso, quando o tem, ou construí-lo, quando o não tem, tudo dependendo do seu grau de inteligência, da sua boa vontade, da sua sensibilidade, da sua lucidez. Por isso, revolto-me ao deparar-me com homens de pouca inteligência, de má vontade e insensíveis a conduzir o destino dos que sabem distinguir entre o inferno e o paraíso.
É verdade que o que é paraíso para uns, pode ser inferno para outros, no entanto, quem mutila o próprio corpo para dele arrancar os próprios pulmões, é um mero suicida, e não um Homem!
Quem teve o privilégio de conhecer Paquetá e outros paraísos, ou viveu outras civilizações, onde a Natureza é respeitada e preservada para o próprio homem dela usufruir, não pode, em toda a consciência, aceitar a vida na selva de cimento em que se transformaram as nossas cidades.
Deus, que criou paraísos para o homem viver, e deu inteligência ao homem (e não às pedras) para ele poder discernir, não quer, com toda a certeza, ver destruído o que construiu com tanto engenho e arte.
Deus, ao mostrar o paraíso a Adão e Eva disse-lhes: «Eis o Jardim do Éden, onde podeis viver felizes e tranquilos, se assim o desejardes!»
Dependia, pois, deles, viver eternamente sem «consumirem a própria existência em rudes e penosos trabalhos».
Adão e Eva conheceram o Paraíso e perderam-no, por não saberem preservá-lo. E Deus nada pôde fazer. A escolha foi deles.
Quem de nós não conseguir interpretar o simbolismo do «Jardim do Éden» não poderá nunca entender a magia da Natureza, os segredos da flora e da fauna e os mistérios  que rodeiam a Humanidade.
É essa ignorância que eu lamento.

 Isabel A. Ferreira

 
publicado por Isabel A. Ferreira às 18:05

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Quinta-feira, 1 de Março de 2018

«ORTOGRAFICES AO CORRER DA PENA»

 

«Este péssimo acordo ortográfico resiste num coma perpétuo. E tarda em morrer, o estafermo.»

 

NUNO PACHECO.jpg

 

Texto de NUNO PACHECO

 

«Depois do excelente texto de António Bagão Félix, publicado terça-feira neste jornal e intitulado O Acordo Mortográfico na AR, apetecia não voltar tão depressa ao assunto. Mas como o tema é vasto e há sempre muitíssima coisa que fica por dizer, aqui se deixam mais algumas notas, ao correr da pena.

 

 

Precisamente há dez anos, no Correntes d’Escritas da Póvoa de Varzim (cuja mais recente edição agora decorre), perguntaram a Maria Lúcia Lepecki, professora universitária, ensaísta e crítica literária brasileira, o que pensava do acordo ortográfico (AO). Respondeu assim: “Eu sempre achei que o acordo ortográfico não é preciso: um brasileiro lê perfeitamente a ortografia portuguesa e um português lê perfeitamente a ortografia brasileira. Olha a ortografia, sabe que palavra é que é, pronuncia correctamente (…). Acho que é um desperdício de energias, um desperdício de dinheiro, e penso que se devia gastar o pensamento e as forças em outra coisa qualquer.” Nesse mesmo ano, 2008, o Prémio Camões calhou a um escritor brasileiro, baiano, João Ubaldo Ribeiro. Também ele se pronunciou várias vezes sobre o tema, mas ficará na memória o que ele disse numa entrevista ao JL, em 1989. Fê-lo em linguagem desabrida: “Sou contra, acho uma burrice. (…) Então se eu fosse director de um jornal português e estivesse acostumado a que se escreva director, não é porque um brasileiro de merda me diz agora escreva ‘diretor’… Nem, como o brasileiro, só para agradar a um português, ir botar um pronome que destronque a base da língua de um brasileiro. Não, isso não. Acho que portugueses e brasileiros têm que se acostumar a que hoje são povos irmanados pela mesma história, povos irmanados até pela mesma família como é o meu caso, mas duas partes diferentes.” E dizia mais: com isso, “nós corremos o risco de nos tornar povos até mais inimigos.” Alguém o ouviu?

 

Recuando uns três anos, até 1986, um outro brasileiro, Afrânio Coutinho (baiano como Ubaldo e professor, ensaísta e crítico literário como Lúcia Lepecki) disse ao Jornal do Comércio do Rio de Janeiro: “A nossa língua é a brasileira. Os dois idiomas, o de Portugal e o do Brasil, saíram de um tronco comum e se desenvolveram divergentemente, a partir do Renascimento. Por isso nunca haverá unidade linguística, sonho de alguns sentimentalistas.” Porém, ao contrário de Lepecki e Ubaldo, Afrânio Coutinho era visto como “acérrimo defensor do acordo ortográfico, criticando o generalizado repúdio dos portugueses por tal instrumento de unificação da grafia da língua comum.” Quem diria?

 

1986 é, a este propósito, um ano interessante, pois foi nele que se selou um esboço de acordo de má memória que gerou (e bem) uma tempestade nacional, já que, entre outras aberrações, propunha a abolição de todos os acentos gráficos e muitos hífens, tornando irreconhecíveis múltiplas palavras. Entre as muitas críticas que suscitou, e que ficaram para a história, conta-se a que viria depois a ser publicada em livro em 1987, pelas Edições João Sá da Costa, sob o título A Demanda da Ortografia Portuguesa. Ora nesse livro, “organizado por Ivo Castro, Inês Duarte e Isabel Leiria”, há um curto texto intitulado “Sete Teses sobre a Ortografia Portuguesa”. Dizia: “Conhecido que é o efeito de retorno do escrito sobre o oral, é inaceitável defender alterações ortográficas que potenciem mudanças linguísticas em sentidos previsíveis ou imprevisíveis.” Foi o que se fez, em 1986 ou em 1990? Não, foi o contrário.

 

Mais: “A facultatividade é, por definição, contrária à própria ideia de normalização gráfica – de ortografia. Defender uma versão fraca de unificação [como defendiam os autores do texto] significa admitir grafias duplas no espaço lusófono, mas uma e apenas uma grafia em cada espaço nacional em que o português seja língua materna ou língua oficial.” Era o que havia, antes do AO de 1990. Por fim: “Um sistema ortográfico não é mais simples por conter um menor número de sinais portadores de informação: é tanto mais simples quanto menos ambíguo for permitindo um reconhecimento mais rápido e menos dependente do contexto.” É isto que temos, hoje? Não, é precisamente o contrário!

 

Mas se tristemente Lepecki, Ubaldo e até Afrânio deixaram de fazer parte do mundo dos vivos, este péssimo acordo ortográfico resiste num coma perpétuo. E tarda em morrer, o estafermo.»

 

Fonte:

https://www.publico.pt/2018/02/22/culturaipsilon/opiniao/ortografices-ao-correr-da-pena-1803892

publicado por Isabel A. Ferreira às 18:23

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Quinta-feira, 24 de Novembro de 2016

Génese do Acordo Ortográfico de 1990 (II)

 

O meu objectivo com este trabalho é simplesmente o de traçar o percurso da Língua Portuguesa no Brasil, até chegar ao AO90, e demonstrar que além dos interesses económicos dos editores e livreiros (portugueses e brasileiros) que foram por água abaixo, existem interesses políticos obscuros, (pergunte-se a Cavaco Silva sobre as "pressões do Brasil", com acenos maçónicos)) porque incompreensíveis à luz da Razão, e seria fundamental exigir aos políticos e à dupla Evanildo Bechara-Malaca Casteleiro que expliquem aos Portugueses o que realmente está por trás deste (des)acordo ortográfico, que parece ter sido engendrado por quem sofre de disortografia.

 

O que Sérgio Vaz diz é a mais pura verdade.

 

SÉRGIO VAZ.png

 

Quando falamos em AO90, falamos maioritariamente da grafia brasileira, do que no Brasil já se chamou Português e hoje se chamaTécnicas de Comunicação e Expressão”.

 

Esta grafia mutilada, afastou o nosso Português - que já foi a Língua Oficial do Brasil, e continua a ser apenas por uma questão política - da sua Matriz greco-latina, indo-europeia, transformando-se num Dialecto, ou se preferirem, na VARIANTE Brasileira do Português, o qual foi sendo enriquecido pelas línguas indígenas e africanas, pelas línguas das vagas de emigrantes de várias nacionalidades (italianas, francesas, espanholas), que se fixaram no país, e pelos neologismos que foram surgindo, a partir de palavras inglesas, que os brasileiros preferiram adoptar, pondo de parte as palavras já existentes em Português, integrando um léxico que podemos chamar, com toda a propriedade, brasileiro, já muito distanciado do Português, que, também com propriedade, pode ser designado por Dialecto Brasileiro (com paralelo no Crioulo-CaboVerdiano).

 

Em 1911 houve uma tentativa de simplificar e unificar a Língua Portuguesa, que não deu certo, porque o Brasil não concordou com o que foi proposto, e distanciou-se da ortografia portuguesa, oriunda da reforma ortográfica então realizada, com o intuito de baixar o índice de analfabetismo em ambos os países.

 

Em 1945, foi assinada a Convenção Ortográfica Luso-Brasileira, entre a Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras, e a qual ainda está em vigor em Portugal, porque não foi revogada, e que o Brasil, apesar de a ter assinado, acabou por rejeitar, optando pelo Formulário Ortográfico, que elaborou unilateralmente em 1943, no qual se mutilou a Língua Portuguesa, sem a mínima  consciência científica.

 

A este propósito, Antônio Houaiss, o editor das enciclopédias brasileiras, declarou que a Convenção Ortográfica de 1945 que, realmente, unificava a língua, foi recusada por ser "lusitanizante". O que é que isto significa? Significa que o Brasil já tinha a grafia brasileira  mutilada e nada o faria regressar à grafia do colonizador.

 

E tudo o que era (e continua a ser) lusitanizante era (é) desprezível para os esquerdistas brasileiros. E nos anos 30, os motivos invocados para a recusa da grafia portuguesa são também de ordem político-macónica.

 

Deslusitanizar a Língua Portuguesa foi um objectivo dos sucessivos governos brasileiros, uma vez que a “colonização” estava (e, por mais inacreditável que pareça, ainda está) atravessada na garganta daqueles brasileiros que nunca compreenderam o fenómeno da colonização europeia no mundo, e lamentam-se de não terem sido colonizados pelos Ingleses, que estão na génese dos Estados Unidos da América do Norte, pois sonham vir a ser os Estados Unidos da América do Sul, e ainda não tendo sido capazes de o ser, apesar de 194 anos de independência do jugo português, culpam os portugueses pela própria incompetência (ainda há pouco tempo, Lula da Silva o fez, alto e em bom som, em Espanha) o que tem gerado uma lusofobia, que se foi evidenciando em actos governamentais, e, sobretudo, no estudo da língua mutilada, e de uma História do Brasil totalmente deturpada, lusófoba e mentirosa.

 

A mutilação do Português no Brasil teve também um outro propósito: diminuir o alto índice de analfabetismo, que então grassava naquele que é o maior país livre da América Latina, uma vez que a Língua escrita não coincidia com a língua falada, e isso complicava a aprendizagem, nomeadamente no que dizia respeito às consoantes ditas mudas, que deixaram pura e simplesmente de ser grafadas, originando uma grafia sem raiz, sem nexo, sem história, exceptuando alguns vocábulos, que resistiram à mutilação, porque os brsileiros pronunciavam esdsas consoantes, como, por exemplo, percePção, entre umas outras poucas.

 

E este tipo de sentimento menor foi se propagando ao longo dos tempos, e hoje, na Internet, correm os maiores despautérios, não só na escrita da Língua, como no que se diz da História do Brasil ligada a Portugal, o que tem fabricado uma quantidade incontável de ignorantes e analfabetos funcionais.

 

Apenas para se ter uma ideia, vou aqui transcrever, ipsis verbis, um texto que encontrei na Internet, (e como este há milhares deles) onde podemos verificar duas coisas: a falta de informação e de estudo, e a falta de formação em Língua Portuguesa.

 

(Assinalo a negrito o que mais me intrigou):

 

«O português é falado em cinco continentes, porém sempre vêm à tona as diferenças entre o português do Brasil e o português do Portugal. São os dois países de língua portuguese mais importantes. A variante africana é muito parecida com europeia, portanto o Brasil é a única ex-côlonia portuguesa que se distanciou mais da língua do Imperio Português de Vasco de Gama e companhia.

 

A realidade é que os quase dez milhões e meio de portugueses representam uma pequena porcentagem dos 200 milhões (aproximadamente) de brasileiros. Nem somando a população falante de português na Angola (14,7 milhões), Moçambique (12,6), Guiné-Bissau (1,46) e Cabo Verde (450 526 pessoas) chegam a fazer sombra ao todo-poderoso Brasil.

 

A influência do Brasil é tão grande que nos últimos anos, houve uma reforma ortográfica para unificar ambas, e na qual a normativa brasileira ganhou mais peso. Além disso, curiosamente, o Museu da Língua Portuguesa não se encontra em Lisboa, mas em São Paulo.»

 

Um museu que, há pouco tempo, foi estranhamente incendiado.

 

Origem deste texto:

https://www.blazaar.com/blog/5-curiosidades-do-portugues/

(Este texto foi eliminado depois da publicação deste meu trabalho).

 

***

Aqui há uns anos, o Ministério da Educação do Brasil decidiu mudar os currículos e a metodologia do ensino da Língua Portuguesa. Então começou-se pelo nome da disciplina, saindo o vocábulo Português, que deu lugar às «Técnicas de Comunicação e Expressão». E com esta mudança, foi retirado do ensino os textos dos clássicos portugueses e brasileiros, que foram substituídos por relatos de futebol e coisas do género. Isto tudo em nome da “felicidade” dos alunos.

 

Foi também eliminado o estudo da Literatura Portuguesa.

 

Resultado: o ensino da Língua, no Brasil, degradou-se substancialmente.

 

Vejamos a opinião de uma docente brasileira, que me respondeu deste modo, quando lhe falei no ataque que a Língua Portuguesa está a sofrer com a imposição da grafia mutilada que o AO90 sugere:

 

«Estou numa guerra constante contra ataques muito mais drásticos, porque a concordância já desapareceu há anos, o adjetivo já não concorda com o substantivo em gênero nem em número, os verbos a cada dia perdem mais tempos e pessoas, depois de perder modos, neologismos pavorosos aparecem da noite pra o dia a partir da cópula ilícita do português com o americanalhês, e é um verdadeiro suplício ter que suportar o hediondo gerúndio de Miami: vamos estar enviando, vamos estar verificando, e assim por diante. E quando se protesta, os novos teóricos de plantão acusam: puristas! Danem-se! Declarei guerra, porque a língua ninguém me rouba, haja o que houver, custe o que custar. A língua despencou no abismo. É uma calamidade indescritível. Desde a ditadura militar que se implantou em 1964, começou um programa de desalfabetização dos brasileiros, que devem ser condenados a eternos produtores de matéria-prima e fornecedores de mão-de-obra. O projeto para o Brasil é continuar a ser uma grande fazenda na qual se vive pra engordar o boi, matar o boi, comer o boi e depois dormir. Entretanto, se vocês fizessem ideia do descalabro a que chegou a "última flor do Lácio", bela e rica língua portuguesa, aqui no Brasil, por obra de um programa deliberado de políticos a serviço da invasão USA, entenderiam que pra nós oi ou olá é de somenos. O que me diz de "aonde" ter-se tornado uma partícula conectiva para todos os casos e situações imagináveis, em que o pobre falante indigente não faz ideia da existência e função dos pronomes relativos, dos advérbios de tempo e modo, e até de conjunções conclusivas ou explicativas? Já não se escreve cantar, mas sim canta. Os erres foram eliminados dos verbos». L. Nóbrega

 

***

Entretanto vejamos o que nos diz Ivo Miguel Barroso, um jurista português: 

 

«Não há nenhum argumento de carácter linguístico, pedagógico e cultural que justifique a adopção de mais uma reforma ortográfica em Portugal; bem pelo contrário. O AO90 regula apenas certos aspectos da ortografia, não incidindo sobre nenhum dos restantes aspectos da linguagem escrita: o léxico, a sintaxe, a morfossintaxe e a semântica, nas variantes euro-afro-asiático-oceânica e do Português do Brasil. Por isso, alegar que o AO90 contribui para uma “língua comum unificada” - que ninguém escreve (nem fala) - é uma falsidade.

 

O aspecto mais grave do alegado "Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa" é ter criado, em Portugal,  a partir do nada, centenas de palavras "novas", inexistentes em qualquer das ortografias, inclusive na variante brasileira do Português: “conceção”, por   concepção; “receção”, por recepção; “perceção”, por percepção; "exceto" , por excepto, etc..

 

O AO90 foi imposto na Assembleia da República, em todas as suas Plataformas, através de Deliberação de 15 de Dez. de 2010 (por iniciativa do próprio Presidente da AR, Jaime Gama), com efeitos a partir de 1 de Janeiro de 2012.

 

Essa Deliberação foi aprovada por unanimidade (!!), ou seja, com votos a favor de PS, PSD, CDS, PCP, BE e PEV. Mas, passados mais de 4 anos, a mixórdia continua»

 

***

De facto, a mixórdia continua.

 

Vejamos agora o que nos diz (textualmente) Gustavo Vieira, um brasileiro com quem andei a esgrimir, no Google:

 

(Os excertos assinalados a negrito são meus):

 

«Sinto muito, mas lendo os comentários que aqui escrevem, tenho alimentado um certo sentimento de recusa deste academicismo europeu, que mesmo sofrendo não consegue reconhecer a cultura de outros povos.

 

Você como historiadora que se identifica deveria saber que a história não é a mesma para quem "ganha ou perde" uma ação político-social.

 

Graças não só ao grande destaque que o Brasil tem na América Latina, mas também aos nossos maravilhosos escritores que deram uma impulsinada na literatura, agora então genuinamente brasileira <3 que o português brasileiro é reconhecido e diferenciado no Mundo. Somos os únicos lusofonos na América, e conseguimos nos diferenciar dos nossos vizinhos de língua espanhola - o que em certo ponto não acho legal, pois a língua acaba sendo uma barreira entre as nações, embora nos viremos no chamado portunhol. Há denominações que eu também não acho boas como dizem os americanos: "O Brasil e a América Latina", sendo que ambos os países possuem raízes linguísticas originadas do latim.

 

A academia brasileira não costuma fazer essa segregação entre nações lusofonas inclusive, não sei Portugal, mas o Brasil possui representantes de outros países de língua portuguesa na Academia Brasileira de Letras.

 

Penso que além de poder constituir um belo bloco cultural as nações lusofonas possam ter relações econômicas mais estreitas, isso embora estejam os países extremamente presos aos seus respectivos blocos; relações diplomáticas também seriam ótimas, como por exemplo, a facilitação de vistos, o que para Portugal seria difícil devido ao Espaço Schengem

 

***

Sim, tudo poderá ser um mar de rosas, e uma união de corações brasileiros e portugueses, unicamente se cada país (Brasil e Portugal,) continuar a usar a sua própria língua: no Brasil, as tais «Técnicas de Comunicação e Expressão», e em Portugal, a Língua Portuguesa, saída da Convenção Ortográfica Luso-Brasileira 1945, ainda em vigor, oficialmente, porque oficiosamente os subservientes ao Poder instalado aplicam o AO90.

 

Entretanto, na conversa entrou um Badstuber, que representa a “galera” baixa do Brasil, e que, também em reprodução, ipsis verbis, diz esta coisa espantosa, infelizmente, comum a milhares de brasileiros:

 

«Precisamente por ter muitos negros no Brasil, é que eu não gosto de negros. Eu sei como são vocês. Onde têm negros sempre vai ter pobreza, delinquência, favelas, etc. E ainda assim vocês se vitimizam. Odeio os portugueses por ter trazido tantos negros para o Brasil.

 

Isabel A. Ferreira portugueses de merda, o Brasil é um pais ruim por culpa de vocês. Vocês trouxeram escravos africanos. negros são sinônimos de pobreza, favelas, delinquencia, assaltos, violência, vandalismo, trafico de drogas, aids, funk, estupros, atraso, homicidios, etc. Sem negros o Brasil seria um pais muito melhor.»

 

A fonte desta conversa está no link (mais abaixo) onde pode ler-se inacreditáveis comentários de muitos mais badstubers onde a lusofobia está bem patente no que representa o pensar de, infelizmente, uma larga franja do actual povo brasileiro.

 

(O vídeo que aqui publiquei, onde estavam as provas do que acima referi,  como pode ver-se, foi eliminado, depois da publicação deste meu texto (em 2016).

 

***

Na terceira parte deste trabalho ater-me-ei a um livro de crónicas, intitulado “A Brasilidade dos Portugueses”, da autoria de A. Gomes da Costa, falecido em 2017, e que foi presidente do Real Gabinete Português de Leitura, sediado no Rio de Janeiro (Brasil), uma edição da Editorial Nórdica Ltda., e com o qual espero provar a origem política do AO90 que Portugal, servil e parvamente, está a tentar impingir aos Portugueses, e tragicamente às crianças portuguesas, que estão a ser enganadas.

 

Isabel A. Ferreira

 

***

 

Génese do Acordo Ortográfico de 1990 (I)

http://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/a-genese-do-acordo-ortografico-de-1990-52848

 

Génese do Acordo Ortográfico de 1990 (II)

https://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/a-genese-do-acordo-ortografico-de-1990-53853

 

 Génese do Acordo Ortográfico de 1990 (III)

https://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/genese-do-acordo-ortografico-de-1990-55885

  

publicado por Isabel A. Ferreira às 17:51

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