Segunda-feira, 3 de Julho de 2023

De Toronto, uma incursão pelo problema da Imigração, da Língua Portuguesa, do AO90 e da falta de governantes que pugnem pelos interesses de Portugal

 

Uma carta dirigida ao Dr. Luís Marques Mendes, comentador da SIC, que me foi enviada via e-mail, por um português residente no Canadá, há vários anos. Uma visão de alguém que, longe de Portugal, tem uma percepção racional do que aqui se passa, a percepção de alguém que saiu de Portugal, mas não quer voltar, porque Portugal não lhe oferece o que se espera do próprio país, um país que praticamente expulsa os seus, a sua mão-de-obra qualificada, e recebe os de fora, concedendo-lhes, de mão-beijada, o que não concede aos de dentro.

Subscrevo esta Carta.

Isabel A. Ferreira

 

CONFÚCIO.PNG

 

«Prezado Dr. Marques Mendes,

 

Não é que discorde do que disse no seu comentário de ontem (que ouvi até ao fim, antes de começar a escrever...).

 

Mas gostava de lhe dar a minha visão do assunto, comparando o Portugal que conhecia com o Canadá que conheço.

 

Portugal desceu da Galiza, e não indo atrás até aos Visigodos e "Mouros", passou há muitos anos a ter uma população homogénea, com relativamente pouca diferenciação.

 

O Canadá tinha população original, povos chamados Micmac, Algonquin, Huron, Mohawk, Cree, Inuit, etc...

 

Contudo, vieram imigrantes que os dominaram, tentaram apagá-los (retirando crianças às famílias, instalando-as em 'escolas' residenciais, proibindo-as de falar as suas próprias línguas, e fazendo coisas abusivas do género que recentemente foi assunto em Portugal).

 

O actual Papa veio há pouco tempo ao Canadá, andou por aí, pediu desculpa, mas não foi tão longe como os nativos esperavam, e quando no avião de volta a Roma lhe perguntaram porque não tinha usado a palavra 'genocídio', ele disse que não lhe tinha ocorrido!!... Ha!...

 

Os povos nativos (chamados aqui "Primeiras Nações") ainda existem, em poucos números, marginalizados, alguns em 'reservas'. Fazem-lhes o favor de não pagar impostos federais (aqui no sul do Ontário, passei uma vez num local que sabia ser "pertença" deles, e vi um posto de gasolina com preços fantasticamente baixos... Mas não me venderam, porque eu não tinha nem cara nem cartão que me identificasse como tendo esse direito...).

 

Onde eu quero chegar, é que em contraste com Portugal, o Canadá é um país de imigrantes.

 

Primeiro franceses, depois britânicos que tomaram a primazia, e chamaram a esta colónia "Domínio do Canadá" (nome que ainda era oficial quando eu cheguei).

 

Era tão "dominado", que ainda havia, por lei, o costume de tocar o 'God save the Queen' no fim de sessões de cinema (o que fazia os espectadores fugirem assim que as legendas finais começavam a aparecer).

Aliás, o Canadá nos anos 60 não tinha bandeira própria nem sequer hino!

O PM do dia era contra...

 

Mesmo a propósito, foi agora no dia 1 o Dia do Canadá (que antes era chamado em inglês Dominion Day).

Então por favor veja estes dois artigos do Toronto Star (jornal que apoia os partidos Liberais, i.e., tanto o federal como o do Ontário - aqui há partidos federais, e cada província e território também tem os seus).

 

Têm a ver com imigração e diversidade.

 

https://www.thestar.com/news/canada/2023/07/01/canadas-population-is-now-at-40-million-here-are-10-charts-to-show-how-immigration-drove-our-growth.html

Neste, não perca os comentários...

 

https://www.thestar.com/opinion/contributors/2023/07/02/the-toronto-we-want-we-can-all-win-when-immigrant-women-lead.html

E neste, repare nos números, especialmente na população imigrante em Toronto.

 

Então com a eleição de Olívia Chow na semana passada (com 37% dos votos, porque nos sistemas não-democráticos britânicos não há segunda volta), temos uma Presidente da Câmara apoiada pelo partido de cujo o seu falecido marido era líder, mas que não fala inglês correcto, e tem pronúncia esquisita.

Ana Bailão, em segundo lugar, veio de Portugal com 15 anos... Era apoiada por este jornal.

Imagine um estrangeiro/a a candidatar-se a Presidente da Câmara e a ganhar...

Ora tanta e tão variada imigração faz com que o país se torne amorfo.

O Quebeque era bem afrancesado e a parte onde vivo era feita quase exclusivamente de anglo-saxónicos.

Depois vieram ucranianos, que se dirigiram às pradarias do Manitoba.

Depois italianos, portugueses só na década de 50, e depois então é que se escancaram as portas, mais recentemente com migrantes ilegais que apesar de estarem nos EUA, vêm pedir "refúgio" no Canadá. 

Isto impede que exista uma consciência "nacional" no país, ainda mais prejudicada por o Chefe de Estado ser o rei de Inglaterra!

 

Em Portugal, ainda não se chegou a este ponto.

Mas o Benformoso já não é o que era...

Nem o Martim Moniz, tomado por uma multidão festejando o Eid na semana passada. Para onde foi a procissão da Senhora da Saúde?...

E no interior, também. Perto de Viseu, uma igreja é dispensada a ucranianos regularmente.

Em entrevistas de rua, é confrangedor o número de brasileiros a quem é emprestado o microfone.

 

800.000 estrangeiros num país tão pequeno são demais!

E dentro destes números, 31% de brasileiros ainda é pior.

 

Portugal levou africanos para o Brasil.

Estes, com a pronúncia das línguas deles, por ser bastante sonora, afectaram o Português que se falava nesse tempo (não sei, mas podia ainda ser parecido com o Galego).

 

Agora, a quantidade enorme de brasileiros, com a sua qualidade igualmente sonora (uma característica dominante) também têm grande influência na língua.

 

Quando o PM, falando por nós todos, diz que gostaríamos de falar com o sotaque deles, e quando o PR se põe a imitar a fala brasileira (deixando Chico Buarque espantado), e quando a SIC tem um (ocasional) repórter brasileiro em Portugal, e a TVI/CNN usa um brasileiro para falar de futebol (como se se tivessem esgotado portugueses com esse talento), o futuro da língua verdadeiramente portuguesa não é brilhante.

Isto para não falar no desastre que é o Acordo de 1990 (não usado no Brasil!) e nos erros que já se ouvem há tempo no Português falado (até já escutei o PR a dizer que "se resolva rápido", em vez de rapidamente).

 

Imigrantes do sul da Ásia não afectam a Língua Portuguesa, e até a aprendem.

Africanos dos PALOP têm uma certa pronúncia, mas nem chega a ofender, pois falam Português.

 

A Ksenia Ashrafullina (8 anos de Portugal) é como eu, tem jeito para línguas, e fala um português excelente, por vezes mesmo com a naturalidade duma portuguesa.

Tem a cidadania portuguesa, e assim devia ser chamada, e não ainda 'russa', como referida, entre outros, até pelo PR, o que é uma desfeita.

Não lhe serviu de muito adquirir a cidadania, e esse tipo de imigração, que não considera como "novos portugueses" os imigrantes, não lhes deve agradar.

 

Contudo, brasileiros acham que falam português, e não aprendem a falar o português local, como uma senhora que num hospital disse que tinha um "corrimento marron", e ficou toda ofendida, dizendo-se "discriminada", porque a enfermeira não sabia que eles usam essa palavra em vez de "castanho".

 

E brasileiros não entendem completamente o Português, como é minha experiência, e foi demonstrado quando Lula não entendeu uma pergunta que lhe foi feita e repetida por uma jornalista bem perto dele!

Houve quem dissesse que ele não queria responder, mas acredito que ele não compreendeu mesmo o Português!

 

Eu viajei muito no Brasil, desde Manaus, nordeste, sertão, até Foz do Iguaçu, e senti essa falta de sintonização e desconhecimento do português padrão.

 

O visto "para procurar emprego", criado pelo governo, é um convite à imigração ilegal e à permanência fora dos limites.

 

Isto é o governo a dizer “venham e fiquem”, porque precisamos de gente, seja quem for.

Ainda estou à espera dos escândalos que essa JMJ vai produzir, culpa dum governo que se confunde com religiosos.

 

Pelo que vejo de longe, Lisboa está a ficar descaracterizada, e não me admirava se daqui a umas dezenas de anos, deitassem abaixo a Alfama e a minha Mouraria e pusessem arranha céus...

 

Cuidado com imigração a mais!

Eu preferia Portugal pobrezinho, mas ainda português.

 

"Enquanto houver Santo António, Lisboa não morre mais."

Pois, mas o teclado Google quer que escreva Antônio, à brasileira...

 

[Tive que interromper a escrita, e quase perdi o fio à meada, para ver "Os Batanetes", na TVI Internacional, como que o Monty Python à portuguesa antiga...]

Calorosos cumprimentos,

C. Coimbra»

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 17:30

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Quarta-feira, 24 de Agosto de 2022

«O ser Português» também passa por escrever correCtamente a Língua Portuguesa

 

O jovem Ricardo Lopes Reis, politólogo, escreveu um interessante texto, no jornal Observador, em 11 de Junho de 2022, por ocasião das celebrações do Dia de Portugal, de Camões, das Comunidades Portuguesas e da Língua Portuguesa, intitulado «O ser Português».

 

E eu subscrevo o conteúdo do artigo, que não alardeia um patriotismo bacoco, embora, aqui e ali, haja laivos de outros tempos de muito má memória, porém defende, no básico, os valores de Portugal, que «há muito são alvo de ataque pela esquerda globalista». Uma esquerda que  de esquerda só tem o nome, uma vez que o seu comportamento abeira o comportamento dos da direita.

 

MAS…

Há um MAS que me leva a trazer à liça o artigo deste jovem politólogo.

 

dia_de_portugal_header.jpg

Fonte da imagem: https://www.lg.com/pt/lg-experience/dicas-uteis/dia-de-portugal-2020

 

O que é “ser português”? Ser Português é, sobretudo, saber honrar Portugal, e se queremos honrar Portugal, devemos começar por escrever a Língua Portuguesa correCtamente, ou não fosse Portugal o Berço da Língua de Camões, que evoluiu para a Língua de Saramago sem, contudo, se afastar das suas raízes greco-latinas, sem deixar de ser Portuguesa.

 

Ricardo Lopes Reis escreveu um interessante texto em conteúdo, e felicito-o por isso, mas na forma, rendeu-se ao Brasil, um país estrangeiro que, ilegitimamente, deturpou a Língua de Portugal, herdada aquando da sua Independência, em 1822, castelhanizando-a, italianizando-a, americanizando-a, afrancesando-a, mutilando-a, ao subtrair as consoantes com função diacrítica (salvo umas poucas excePções) e CONTINUOU, sem legalidade alguma, a chamá-la Portuguesa.  Mais tarde, o enciclopedista libanês, Antônio Houaiss, fomentador da deslusitanização da Língua Portuguesa, juntamente com o linguista português Malaca Casteleiro, que, na altura, andava de candeias às avessas com Portugal, aliciaram os políticos portugueses, subservientes e ignorantes na matéria, para adoPtarem o AO90, um desacordo tortográfico que desonra Portugal, Camões e todos os Portugueses, que têm honra de o ser.

 

Que motivo teria o cronista para dizer que «O 10 de Junho não é apenas um dia no calendário, mas sim o verdadeiro e mais significativo dia do ano para um patriota. O orgulho e a honra de ser, pura e verdadeiramente, português, celebrado no mesmo dia do desaparecimento físico e terreno, de um dos maiores (se não mesmo o maior) dos símbolos da língua que nos torna únicos, o português», se não teve a hombridade de percePcionar o NOSSO passado, honrando o legado do NOSSO País, com mais de oito séculos de História, e com uma das mais antigas Línguas estruturadas da Europa, rendendo-se, pura e simplesmente, ao medíocre AO90?

 

Ricardo Lopes Reis escreveu o seguinte:

 

«Neste dia [10 de Junho] é relevante fazer uma reflexão históri[c]a que compreenda o passado, analise o presente e prepare o futuro da nação. Só tendo presente o que fomos, a grandeza que alcançámos e os erros cometidos, podemos emendar o presente e construir um futuro próspero para as novas gerações, que tem inevitavelmente que começar por uma reeducação de valores comuns e do sentimento patriota, que há muito são alvos de ataque pela esquerda globalista.»

 

Sim, no “10 de Junho” era premente ter sido feita uma reflexão histórica, e rejeitar os ataques da esquerda globalista, que à excePção do PCP, está a contribuir para o desaparecimento de um dos maiores símbolos identitários de Portugal – a Língua Portuguesa – que o cronista faz questão de grafar à brasileira, seguindo os muito subservientes políticos, que tanto critica.

 

E o cronista diz mais:

 

«Percecionando [em Língua Portuguesa correCta: percePcionando, um dos pouquíssimos vocábulos que escaparam à mutilação, no Brasil] o passado, o legado que hoje carregamos é pesado. Um país com mais de oito séculos de História, que mesmo pequeno em dimensão, com uma alma imensa e um patriotismo heroico [em Língua Portuguesa correCta: heróico, de contrário, teríamos de ler “hiruicu”] foi capaz de dar novos Mundos ao Mundo, de difundir a sua cultura, e de civilizar populações pelos quatro cantos do globo, tornando um pequeno e belo país à beira-mar plantado, num dos maiores impérios de sempre. Desde as conquistas de Afonso Henriques, passando pela visão de D. Dinis, pelos descobrimentos que abriram horizontes ao Mundo durante a segunda dinastia, e por vitórias históricas frente a invasores com maior capacidade militar, o ser português sempre foi motivo de orgulho e de elevação. Naturalmente, nem tudo foi dourado, tendo-se vivido momentos de sofrimento, como durante o negro período da Primeira República (a desordem, a falta de identidade e a perda progressiva do sentimento nacionalista que une o povo português), ou mesmo do período pós-25 de abril [Em Língua Portuguesa correCta: “25 de Abril] (o PREC, a ameaça vermelha e a tentativa de sovietização do país pela esquerda oportunista radical), mas de uma forma geral os mais de 800 anos de História enchem de orgulho qualquer português

 

Esqueceu-se o cronista de referir o período negro da ditadura, durante o qual os direitos mais básicos e a liberdade de expressão não existiam, de resto, depois de 1910, com a implantação da República, pouco temos de que nos orgulharmos, e o pós-25 de Abril, trouxe-nos uma miragem de liberdade, ofuscada por uma Democracia ainda a ser plenamente. Só não vamos para o Tarrafal (por enquanto), mas as coacções ditatoriais têm o seu expoente máximo, na imposição, através de chantagem, do AO90 nas escolas, na função pública, nos órgãos de comunicação social subservientes, que até parecem que são funcionários públicos, e em empresas servilistas e seguidistas que não dão orgulho nem honra a Portugal.

 

E o articulista prossegue:

 

«O presente, por sua vez, não nos tem trazido momentos felizes. Vivemos atualmente [em Língua Portuguesa correCta: aCtualmente] sob jugo de quem outrora, nas palavras do Professor Marcelo Caetano, “não serviria nem para criado de servir”, o que simplificado se pode dizer que somos governados por quem não tem competência, empatia ou noção para o fazer. Um país que dominou o Mundo está hoje na cauda do seu continente, ultrapassado por pequenas e jovens nações, sempre sujeito à esmola que a Europa pode dar, e mais preocupado em taxar os seus cidadãos, do que em deixá-los prosperar. Caímos hoje, no campo social, no ridículo de nos rebaixarmos e deixarmos que reescrevam e humilhem o nosso passado, quase que pedindo desculpa por algo que nos deve orgulhar, tudo isto para satisfazer a cultura “woke”, que se globalizou, por culpa da fraqueza moral de um ocidente em decadência de valores e de identidade.»

 

Concordo com o que o Ricardo refere neste parágrafo, excePtuando o “orgulho do passado”. Nem tudo no nosso passado é passível de sentirmos orgulho. Nem tudo. No entanto, nós, que já evoluímos, e pertencemos aos séculos XX/XXI não temos de fazer mea culpa, por algo que NÃO fizemos, e que fazia parte dos padrões daquela época. Temos é de saber distinguir o trigo do joio e orgulharmo-nos do que fizemos BEM nesse passado, e, no presente, rejeitarmos veementemente os tremendos erros que os novos governantes estão a cometer, desprezando e desonrando Portugal, a sua História, a sua Cultura e a sua Língua, - vector da NOSSA identidade.

 

E o Ricardo continua num registo completamente verdadeiro:

 

«Portugal é hoje um local ao contrário da normalidade, onde quem trabalha e vive honestamente se afunda, e quem espera pelo trabalho dos outros cresce. Onde quem é mais astuto governa, e quem tem mais competência e qualidade emigra em busca de uma vida melhor. Onde a mediocridade é recompensada e encorajada, enquanto o mérito é marginalizado e rejeitado como se de uma doença se tratasse. Poderia dar muitas definições do estado a que chegámos, mas resumo dizendo que Portugal é, neste momento, o que a esquerda, e em especial o PS, sonharam que fosse.»

 

Grande verdade!!!!!

 

«A questão é simples. Em momentos de aflição há duas formas de reagir, há os que se levantam e os que se deixam afundar na mediocridade. Os portugueses, ao longo da sua História provaram que nada os rebaixa, e que independentemente do percalço se levantam e lutam. Mas como recuperamos a glória do passado? Há que reeducar o povo para os valores que nos unem, valores esses que partem desde a célula básica da sociedade, que é a família, até ao sentimento comum de uma maioria esmagadora de fé, e claro, através de um dever e honra de servir a Pátria por nós partilhada. Só tendo por base os valores seculares que sempre pautaram o ser português, nos poderemos reerguer e voltar a tornar Portugal um país próspero e independente. Quando nos libertarmos das amarras do politicamente correto [Em Língua Portuguesa correCta: correCto, de outro modo terá de ler-se currêtu”, como em carreto] da censura “woke” e deste estranho sentido de obediência globalista, podemos acabar com uma cultura imposta de adoração do medíocre, e recuperar um verdadeiro estado de meritocracia e trabalho, onde quem se esforça é recompensado, e não penalizado em nome de quem vive de mão estendida.»

 

Deste parágrafo tenho a dizer que não precisamos de regressar ao passado, para termos um futuro promissor. Basta lutarmos pelo que é NOSSO e DEFENDER a honra de Portugal, e não permitirmos que os estrangeiros venham para cá mandar nisto tudo, por termos uns governantes subservientes e servilistas, que não têm a capacidade para DEFENDER os interesses de Portugal, ou são meros paus-mandados de organizações secretas, a quem devem OBEDIÊNCIA). E, sobretudo, precisamos rejeitar a mediocridade ortográfica, que mantém Portugal a um nível abaixo de zero, no que ao Ensino, à Cultura e à Educação diz respeito. Ser português NÃO é sinónimo de ser servilista e seguidista. Ser português é ser romano em Roma, sem deixar de ser português, como já o referiu, num belíssimo artigo, o escritor e professor António Mota.

 

AdoPtar o AO90 é servir a mediocridade e os medíocres que se encontram no Poder a defender o AO90, é desonrar Portugal no que ele tem de mais valioso: a sua Língua, a sua Cultura, a sua História.

 

E o cronista termina dizendo:

«Fomos, e acredito que ainda o somos, verdadeiramente a maior nação do Mundo, pela qual muitos portugueses derramaram sangue, que a nossa bandeira ilustra no seu vermelho, mas que, até nos momentos mais negros, nunca esquece o verde da esperança de nos reerguermos numa verdadeira vitória de nova alvorada, que procurará uma Lusitânia em giestas florida. Deste 10 de Junho que nasça novamente uma Pátria de novo grande, que acorde da morte esquecida.»

 

Já fomos grandes. Hoje, não somos mais. Nem somos a maior Nação do mundo. Que exagero!

Hoje, somos apenas um pequeno País que se arrasta na CAUDA da Europa, sendo o primeiro em tudo o que é MAU.

Devemos construir o futuro, sim, mas NÃO assentes nos valores de um passado que não voltará mais. Devemos construir o futuro assentes nos valores do século XXI d. C., caminhando para a frente, honradamente, honestamente, portuguesmente, para deixarmos de ser o capacho de estrangeiros, e a cloaca da Europa.

 

Isabel A. Ferreira

 

Fonte:

https://observador.pt/opiniao/o-ser-portugues/#

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 17:10

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Segunda-feira, 15 de Fevereiro de 2021

A propósito da “minirreforma” ortográfica (AO90): «A Última Flor do Lácio vai ficar inculta e feia...» diz o escritor brasileiro, Valério Mesquita

 

Para quem não sabe, chamo à liça o soneto “Língua Portuguesa”, do poeta brasileiro Olavo Bilac (1865-1918) que, no primeiro verso, escreve «Última flor do Lácio, inculta e bela» referindo-se   ao idioma Português, a última língua derivada do Latim Vulgar falado no Lácio (Lazio, em Italiano, Latium, em Latim) uma região situada no centro da Itália, na costa do Mar Tirreno, sendo Roma a sua principal cidade.

 

No Brasil, Flor do Lácio passou a ser uma expressão que designa a Língua Portuguesa. O termo "inculta", usado pelo poeta, refere-se ao Latim Vulgar falado por soldados, camponeses e camadas populares, aquele que deu origem à nossa Língua. O Latim Vulgar era diferente do Latim Clássico, utilizado pelas classes mais altas. Para Olavo Bilac, a Língua Portuguesa continuava a ser "bela", ainda que originária do Latim Vulgar.

 

Posto isto, fiquemos com o texto de escritor Valério Mesquita.

 

Isabel A. Ferreira

 

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 Por Valério Mesquita

10/02/2021

 

CATARSE VERNACULAR

 

«Completei setenta e oito anos e não pretendo jogar fora os meus livros por causa da despropositada reforma ortográfica. Ela me parece altamente predadora, levando ao prejuízo milhares de bibliotecas públicas e privadas dos países de língua portuguesa. Novos acentos, tremas e hífens nos são impostos, sem necessidade. Para unificar o idioma português? Que tipo de parceria ou dependência cultural liga o Brasil aos países de língua lusitana, à exceção apenas de Portugal, onde tal reforma foi também amplamente criticada. Hoje, os poetas, contistas, ensaístas, historiadores, economistas, professores, juristas, escritores, enfim, os que escreveram milhares de compêndios como se sentirão diante dela ante a obrigação de abandonar seus autores preferidos para consultas e releituras?

 

Sejam bem-vindos ao alfabeto e à escrita o K, o W e o Y. Era hipocrisia não inseri-los no contexto. Mas, o problema educacional dos povos de língua e linhagem camoniana não reside na ortografia. E sim na fome, no desemprego, na violência, na corrupção, nas diferenças sociais e raciais. As nações que falam o português lidam com o subdesenvolvimento econômico. Portugal, ainda se salva, porque integra a comunidade europeia. Contudo, dela ainda é o primo pobre. Quanto ao Brasil, de todas as carências que já ouvi falar, ao longo do tempo, nunca soube que o gargalo estava na ortografia. No vernáculo de palmo e meio dos muitos políticos pode até ser verdade. As academias brasileiras de letras, habitadas majoritariamente de sexagenários a octogenários, todos iniciarão, em breve, o lento e fatigante retorno às aulas para a competente reciclagem.

 

Será que o mesmo acontece nas ortografias do alemão, do francês, do inglês, do espanhol ou do italiano, só para ficar por aqui? Ou o que ocorre com os compatrícios são frutos das estações, das safras e entressafras (tem hífen?). Será que a língua portuguesa, tão antiga, ainda não atingiu a plenitude como ciência? A tal ponto que a gramática viva precisando de reparos, como se tudo aquilo escrito e publicado, anteriormente, esteja errado?

 

Por isso, entendo inócua e pífia, essa minirreforma ortográfica na escrita do já tão difícil idioma pátrio. Foi no governo de Luiz Inácio. O então presidente, que não escreve porra nenhuma, não estava nem aí! Jamais cometerá erros ortográficos. Os seus tropeços acontecem exclusivamente na oralidade. O melhor, é que o povo gosta. E também não vai dar a mínima para acento, trema e hífen [únicas alterações que os Brasileiros tiveram de fazer na grafia brasileira, com o AO90].

 

Acima do efeito purificador ou purgador do vernáculo, a minirreforma ortográfica parece mais uma trama bem urdida para faturamentos imediatos. A Última Flor do Lácio vai ficar inculta e feia...»

 

Fonte:

https://www.potiguarnoticias.com.br/colunas/post/3860/catarse-vernacular

 

***

Soneto "Língua Portuguesa"

de Olavo Bilac

 

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 18:12

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Sexta-feira, 29 de Janeiro de 2021

«Originada na Península Ibérica, a língua brasileira cada vez mais se impõe no planeta…» quem o diz é o escritor brasileiro Ray Cunha

 

Ray Cunha nasceu em Macapá, à margem esquerda do rio Amazonas, na confluência com a Linha Imaginária do Equador, estado do Amapá, Amazónia Caribenha. É autor de: A Casa Amarela; Fogo No Coração; Jambu; De Tão Azul Sangra.

 

Ray Cunha publicou um texto, no Diário Carioca, no passado dia 25 de Janeiro (2021) e cuja leitura recomendo vivamente, porque nele está bem explícito os dois aspectos fundamentais desta questão, que, para os nossos governantes, é uma não-questão:

 

- Ao que veio o AO90;

 

-  E o grande e grave erro em que Augusto Santos Silva (o dono da Língua), Marcelo Rebelo de Sousa (o brasileiro) e António Costa (o bem-mandado), não tendo dotes de timoneiros, insistem em manter (pois não é de bons líderes manter um tão grosso e grosseiro erro).

 

Diz Ray Cunha:

«A célebre frase literária se ajusta à nomenklatura lulapetista, embora o destino do Brasil, a província agrícola, florestal e mineral mais rica do planeta, é o de ser uma potência mundial, o que só poderá conquistar por meio da democracia. Só então a língua brasileira será respeitada, procurada e aprendida.»  

***

Não há qualquer dúvidaois píses duas línguas. A nossa colonização, através da Língua, já está em curso há muito, e também há muito vem sendo anunciada e denunciada neste Blogue. Porém, desta vez, não sou eu que o digo.    

 

(Os excertos a negrito são da minha responsabilidade).

 

Isabel A. Ferreira

 

Ray Cunha.png

 

Por Ray Cunha

 

«O português falado e escrito no Brasil tem alegria, sons, cheiros, sol, mar e democracia que nenhum decreto ortográfico de Lula poderá mudar»

 

RAY CUNHA, DE BRASÍLIA – O ex-presidente e ex-presidiário Luiz Inácio Lula da Silva, presidente de honra do PT (Partido dos Trabalhadores), assinou, em 29 de setembro de 2008, na Academia Brasileira de Letras (ABL), no Rio de Janeiro, quatro decretos de promulgação do novo Acordo Ortográfico no âmbito da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em homenagem ao escritor Machado de Assis, que completava cem anos de morto (1839-1908).

 

“Com esses atos, Machado de Assis será duplamente exaltado: de um lado, a Academia lhe rende a mais expressiva homenagem neste ano em que celebramos o centenário de sua morte. E, de outro, a assinatura pelo presidente Lula dos decretos que promulgam o Acordo Ortográfico dos sete países lusófonos” – declarou, então, o presidente da ABL, Cícero Sandroni.

 

Segundo Cícero Sandroni, a promulgação do Acordo Ortográfico concretizava uma antiga aspiração de Machado de Assis, manifestada em um de seus discursos, em 1897. “A Academia buscará ser a guardiã de nosso idioma, fundado em suas legítimas fontes – o povo e os escritores, todos os falantes de língua portuguesa” – disse, na altura, o autor de Memórias Póstumas de Brás Cubas. 

 

O argumento para mudanças ortográficas na língua portuguesa é que a alegada unificação da escrita no Brasil e em Portugal tornaria o português língua oficial da Organização das Nações Unidas (ONU). Supondo-se que fosse possível unificar a escrita das duas variações linguísticas, mesmo frases burocráticas, de documentos, são marcadas pela sintaxe, pelo estilo oriundo da cultura de cada um dos dois países.

 

O fato é que o novo Acordo Ortográfico não unifica o português de Portugal e o português do Brasil, mesmo que se trate de escrita burocrática. Qualquer tradutor na ONU terá que ser bom de ouvido, tanto para o falar lusitano, típico dos países de clima frio, como para o falar brasileiro, tropical, aberto. Isso, sem mencionar a linguagem crioula.

 

A pergunta que lateja é: A “unificação” da língua portuguesa escrita no Brasil com o português grafado em Portugal tem alguma utilidade? No caso do Brasil, não seria melhor investir maciçamente no ensino básico? E, depois, o Brasil tem mais com que se preocupar.

 

Enquanto Lula levava seu palanque para a Academia Brasileira de Letras, o Correio Braziliense, maior jornal da capital do país, publicava uma série de reportagens sobre crianças, meninas e meninos, que embarcavam em carros de luxo, no coração de Brasília, para serem estuprados a troco de comida.

 

A propósito, exploração sexual de crianças e escravidão sexual são comuns na província potencialmente mais rica do planeta, mas onde a miséria humana, a escravidão, o assassinato, campeiam. Enquanto Lula decretava uma escrita comum entre Brasil e Portugal, a tragédia se abatia na escola pública, por meio da qual universitários semialfabetizados, como Lula, se diplomam.

 

Não demorou, porém, para que se percebesse a que viera o novo Acordo Ortográfico. Foi para beneficiar editoras, principalmente as que integravam a panelinha do Ministério da Educação. A perspectiva era de faturar bilhões.

 

Creio que seria mais produtivo criar o Instituto Machado de Assis e, por meio dele, difundir mundialmente a língua portuguesa escrita e falada no Brasil. Os grandes escritores deste continente chamado Brasil são tradutores da nossa mestiçagem mulata, cafuza e mameluca, das nossas cores, cheiros e alegria. Quanto à CPLP, pode e deve influenciar a democracia, que vem sendo defendida com unhas e dentes pelo presidente Jair Bolsonaro, e se aperfeiçoar como bloco econômico. 

 

Considerando-se o Brasil isoladamente, passamos à frente de Portugal, como os Estados Unidos superaram a Inglaterra. No nosso caso linguístico, enquanto o português lusitano se esgotou, o português brasileiro é uma língua jovem, enriquecida por idiomas africanos, pelo tupi-guarani, por estrangeirismos e pelo calor, cores, aromas, sabores e contexturas dos trópicos e da Amazônia. 

 

Cada vez mais o Acordo Ortográfico se assemelha mais a uma peça de marketing do governo lulapetista, em um país de esmagadora maioria de alfabetizados funcionais – que leem mas não entendem o que leem –, com pelo menos 20 milhões de pessoas que vivem na Idade da Pedra – não sabem ler e, muitíssimos deles, não têm sequer certidão de nascimento; outros, são escravos mesmo, principalmente nos medievais estados da Amazônia. 

 

No Brasil, nós não precisávamos de reforma ortográfica. Precisamos de reforma política, de reforma fiscal, de reforma educacional, de reforma do Judiciário, de reforma administrativa, de pacto federativo, e, sobretudo, de jogar os ladrões de colarinho branco na cadeia e fazê-los pagar tudo o que roubaram, mesmo que para isso seja preciso fazê-los trabalhar de sol a sol. É preciso acabar com a indecência da imunidade parlamentar, com a ditadura dos urubus, a quem só interessa carniça; faz-se necessário passar a limpo o Brasil corrupto.

 

Originada na Península Ibérica, a língua brasileira cada vez mais se impõe no planeta, levando para as regiões frias, que antes sediavam a metrópole, a riqueza cultural e a alegria dos trópicos, por meio da literatura, da tecnologia e do trabalho. Segundo arqueólogos e historiadores, tudo começou na região ocidental da Península Ibérica, há 300 anos Antes de Cristo, com soldados romanos e seu latim vulgar.

 

Oitocentos anos depois, o Império Romano começou a desabar, mas deixava, firmes, várias línguas, variantes do latim. O português escrito começou a ser utilizado, em documentos, no século IX, e, no século XV, já se tornara língua literária. Desde os romanos, havia duas províncias na região em que se formou a língua portuguesa: Lusitânia, hoje Portugal, e Galécia, ou Galícia para nós, brasileiros, ao norte.

 

O Império Romano conquistara a região ocidental da Península Ibérica, criando as províncias da Lusitânia e da Galécia, equivalentes, hoje, ao centro-norte de Portugal e à província espanhola da Galícia, a noroeste da Espanha, nas quais se começou a falar latim vulgar, do qual nasceram as línguas neolatinas e 90% do léxico, ou dicionário, do português. Os únicos vestígios das línguas nativas dessa região dormem na toponímia da Galícia e de Portugal.

 

Entre 409 e 711, depois de Cristo, o Império Romano entrava em colapso e a Península Ibérica era novamente invadida, agora por povos de origem alemã – suevos e visigodos –, que os romanos chamavam de bárbaros. Entretanto, os novos invasores absorveram a língua romana da península. Como cada tribo bárbara falava latim à sua maneira, o resultado foi a formação do galaico-português ou português medieval, espanhol e catalão.

 

Os estudiosos acreditam que foram os suevos os responsáveis pela diferenciação linguística dos portugueses e galegos quando comparados aos castelhanos. Durante o reinado suevo, palavras guerreiras foram impostas em línguas germânicas, tal como “guerra”.

 

Em 711, depois de Cristo, a península foi invadida pelos mouros, de língua árabe, oriundos do norte da África. O árabe foi utilizado, nessa época, como língua administrativa nas regiões conquistadas, mas a população continuou a falar latim vulgar.

 

Em 1249, os mouros foram expulsos, mas deixaram grande número de palavras árabes, especialmente relacionadas à culinária e à agricultura, sem equivalente nas demais línguas neolatinas, além de nomes de locais no sul de Portugal, como Algarve e Alcácer do Sal. Muitas palavras portuguesas que começam por “al” são de origem árabe.

 

O mais antigo documento latino-português de que se tem conhecimento é a Carta de Fundação e Dotação da Igreja de S. Miguel de Lardosa, datada de 882, depois de Cristo. O Testamento de Afonso II, de 1214, é o texto em escrita portuguesa considerado mais antigo. Esses documentos estão guardados no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa.

 

O vernáculo escrito passou, gradualmente, para uso geral a partir do fim do século XIII. Portugal se tornou país independente em 1143, com o rei Dom Afonso I. Em 1290, o rei Dom Dinis criava a primeira universidade portuguesa em Lisboa – Estudo Geral – e decretou que o português, então chamado “linguagem”, substituísse o latim no contexto administrativo.

 

Em 1296, o português foi adotado pela Chancelaria Real. A partir daí, a língua galego-portuguesa passou a ser utilizada também na poesia. Já em meados do século XIV, o português alcançara tradição literária. Nessa época, os nativos da Galícia começaram a ser influenciados pelo castelhano, base do espanhol moderno. Entre os séculos XIV e XVI, com as grandes navegações, a língua portuguesa é difundida na Ásia, África e América.

 

Na Renascença, aumenta o número de palavras eruditas do latim clássico e do grego arcaico, ampliando a complexidade do português. O fim do português arcaico é marcado pela publicação do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, em 1516.

 

Hoje, fala-se oficialmente português nos oito países que integram a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP): Angola (África), Brasil (América do Sul), Cabo Verde (África), Guiné-Bissau (África), Moçambique (África), Portugal (Europa), São Tomé e Príncipe (África), e Timor-Leste (Ásia). Mas em cada uma das ex-colônias portuguesas falam-se, na verdade, variantes do português de Portugal.

 

Também se fala variantes de português nas seguintes regiões: Galícia (província da Espanha, Europa); Goa, Diu e Damão (Índia, Ásia); Macau (China, Ásia), Málaca (Malásia, Ásia) e Zanzibar (Tanzânia, África).

 

A escrita da língua portuguesa é semelhante em todos os países da CPLP, com poucas variações gramaticais. O que muda, de forma mais evidente, além da grafia de um certo número de palavras, é o significado de outras tantas palavras, com conotações diferentes de região para região; o modo de se utilizar formas verbais; e o estilo erudito, isto é, o modo de se construir frases e contextos literários.

 

Quanto ao falar, um brasiliense só se entenderá com um lisboeta, por exemplo, se ambos conversarem vagarosamente e pronunciarem claramente as sílabas das palavras.

 

Contudo, trata-se da quinta língua mais falada no planeta, por cerca de 240 milhões de pessoas, em quatro continentes. Se Portugal é o portão de entrada da lusofonia no Velho Continente – a Europa –, o Brasil é o gigante do bloco. No Brasil, a língua portuguesa sofreu influências do tupi-guarani – tronco linguístico dos índios da América do Sul – e de várias línguas africanas.

 

Desde o início do século XX, Portugal e Brasil buscam a unificação da língua portuguesa escrita em ambos os países, para chegar, pelo menos, ao consenso de um texto burocrático, que possa reforçar o idioma na Organização das Nações Unidas (ONU). Mas a verdade não pode ser mudada. O português de Portugal se esgotou, enquanto o português do Brasil foi enriquecido pelo índio, pela África e pelo trópico, e é aberto.

 

A reforma ortográfica tudo muda para nada mudar, como diz uma personagem do romance O Leopardo, de Giuseppe Tomasi Di Lampedusa, referindo-se à monarquia italiana, então com as ventosas no erário, como ocorre no Brasil de Lula e do patrimonialismo de Sarney, levado à loucura.

 

A célebre frase literária se ajusta à nomenklatura lulapetista, embora o destino do Brasil, a província agrícola, florestal e mineral mais rica do planeta, é o de ser uma potência mundial, o que só poderá conquistar por meio da democracia. Só então a língua brasileira será respeitada, procurada e aprendida.»

 

Fonte:

https://diariocarioca.com/pop-e-cult/livros/noticia/2021/01/25/o-portugues-falado-e-escrito-no-brasil-tem-alegria-sons-cheiros-sol-mar-e-democracia-que-nenhum-decreto-ortografico-de-lula-podera-mudar/10214581.carioca-rj.html

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:49

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Quarta-feira, 25 de Setembro de 2019

«Império da Língua Portuguesa: ascensão e queda?»

 

Mais um excelente texto de António de Macedo, para reflectirmos a Língua Portuguesa, se bem que, nos tempos que correm, e depois das denúncias que o Conselho Internacional de Oposição ao Acordo Ortográfico de 1990, anda a fazer, através deste Blogue, a reflexão tem de ser orientada para a trafulhice que envolve o AO90.

 

De qualquer modo, este texto mostra a iniquidade dos que impuseram, à força da trafulhice, este (des)acordo que, conforme li algures, foi uma má solução para um problema que não existia.

 

IMPÉRIO.png

(Origem da imagem: Internet)

 

Por António de Macedo

 

«Quando Cristo foi crucificado por volta do ano 30/32 da nossa era, o Império Romano ocupava uma vasta área que abrangia desde a Ásia Menor até à Península Ibérica, incluindo a maior parte da Europa e todo o Norte de África. Com o correr dos tempos, e devido à inevitável vitalidade que as línguas têm como coisas vivas que são, o latim popular falado na Dácia acabou por se transformar no actual romeno, tal como o falado na Itália no actual italiano, na Gália no actual francês, na Hispânia no catalão, castelhano, galaico-português, etc., etc..

 

Durante algum tempo o latim da Roma originária manteve uma aparência de identidade sustentada, sobretudo desde que a Igreja o adoptou como língua eclesiástica e litúrgica antes do início da Alta Idade Média; mas mesmo esse foi sofrendo alterações ao ponto de um estudioso de latim clássico ter dificuldade em entender um texto em latim eclesiástico do século XII ou XIII, por exemplo.

 

Imaginemos que um folgazão dessas eras, insuflado de ideias "ortografistas", se lembrava de tentar impor ao latim de Roma uma "grafia unificada" misturando, com as inerentes "facultatividades", as formas do latim popular gaulês, dácio, lusitano, itálico... Só esta ideia tonta dá vontade de rir, e obviamente nenhum estudioso no seu juízo perfeito a consideraria, a menos que se tratasse de um escritor de ficção científica que inventasse uma novela de "história alternativa" passada num universo paralelo, onde esse caricato fenómeno tivesse ocorrido com todas as suas delirantes (e quiçá interessantíssimas) consequências.

 

Bom, tudo é possível no fantástico universo das ficções, e tal fantasia até poderia dar origem a um trepidante filme em 3-D com imaginosos efeitos especiais e outros truques que encantassem as plateias.

 

Ora, por muito estranho que pareça, é isso mesmo que estamos a viver actualmente: um delírio de "ficção científica alternativa", por obra de uns quantos políticos que decidiram reescrever a nossa história linguística sem atender às naturais e progressivas diferenças por que vai passando uma língua-mãe ao expandir-se no mundo, e à medida que os anos e os séculos transcorrem.

 

Não é possível espartilhar uma língua viva num colete-de-forças artificial e grosseiramente político fingindo que a língua-mãe e as línguas-filhas se vão manter sempre iguais e agrilhoadas a um mesmo "acordo", parido por um pequeno grupo de minicérebros demenciais que não entendem o que é o futuro e, dentro da sua pequenês, só vêem uma estreita nesga do presente.

 

Tal como o latim irradiou de Roma para o mundo, o português irradiou de um ponto preciso da Europa, Portugal, e, à semelhança do latim do Império Romano, foi-se instalando em diversas geografias e mesclando-se com as respectivas etnias, línguas aborígenes e culturas, e por conseguinte modificando-se diversamente, consoante as áreas em contacto. É uma lei natural e não há que fugir-lhe.

 

O português falado no Brasil, por exemplo, sobretudo popular, tende cada vez mais a tornar-se uma língua diferenciada, tal como o testemunha o extensíssimo reportório de textos do folclore brasileiro reproduzindo os falares de habitantes do interior do Brasil, em que o português, mesclado com os falares autóctones, se tornou língua própria de vastas e inúmeras comunidades.

 

Como será o português falado e escrito em Angola, no Brasil, em Cabo Verde, em Portugal, em Moçambique, etc. dentro de cem ou duzentos anos? Não sabemos nem é nossa competência sabê-lo e menos ainda adivinhá-lo. Que nos baste o bom senso de observar a realidade que nos rodeia e compreendê-la e saber respeitá-la nos seus múltiplos matizes e naturais mudanças, lidando cautelosamente com as especificidades das suas variantes e diferenças.

 

Ora, isto é tudo quanto há de mais contrário à arrogante e pretensiosa atitude do malparido Acordo Ortográfico que à força bruta quer impor um modelo de grafia sem nenhuma base lógica, linguística, sociológica ou meramente humana que o sustente, uma coisa sem pés nem cabeça que no fundo se pulveriza em vários modelos - e cito apenas dois, porque existem, continuam a existir e até aumentam as diferenças ortográficas entre Portugal e o Brasil (para somente citar estes dois casos), como se pode ver na bem fundamentada exposição da Carta Aberta que em 6 de Janeiro de 2013 foi enviada ao ministro da Educação. Lendo-a, arrepiamo-nos e continuamos a interrogar-nos como foi possível levar a cabo semelhante crime.

 

O que sabemos é que este "linguicídio", como já lhe chamou com trágico humor a Dra. Madalena H. Cardoso, foi perpetrado friamente desde os anos "80 por conhecidos e sonantes nomes da nossa política. Passos Coelho, sem nenhum senso crítico, limitou-se a vir pendurado na última carruagem deste sinistro comboio-fantasma, arrastando a alma linguístico-cultural portuguesa por um trilho de lamacento enxovalho logo trilhado sofregamente pela chusma de interesseiros e/ou bajuladores do costume que esperam sempre lucrar alguma coisa com o delito.

 

Vejam-se por exemplo os mais de 250 canais de TV que nos entram pela casa adentro todos os dias, e cujas legendagens de filmes e séries-TV chegam a desorientar de tão confusas que ficam. Sendo frases curtas, sem contexto literário, tornam-se por vezes num enigma: se vemos duas personagens a correr e uma diz para a outra: "Para aqui", ficamos sem saber se lhe está a dizer que se dirija para aqui (movimento), ou que fique parada aqui (ausência de movimento). Com o maior à-vontade a mesma curta frase pode ter dois significados opostos.

 

Pobre língua portuguesa, esfrangalhada de uma maneira tão boçal como interesseiramente obscura.

 

Língua que já foi grande na sua ascensão, na pena de Gil Vicente, de Camões, de António Vieira, de Pessoa...

 

Consentirão os portugueses na sua queda, agora, por obra desta nova "invasão dos bárbaros" que tudo quer nivelar pelo nível mais baixo, menos nobre e mais rasteiro?»

 

Ex-cineasta, escritor, professor universitário

 

Fonte:

http://www.publico.pt/opiniao/jornal/imperio-da-lingua-portuguesa-ascensao-e-queda-25967430

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 18:17

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Domingo, 15 de Outubro de 2017

Adulteração, no Brasil, de livro português. A Ilíada, de Frederico Lourenço

 

Chamo a atenção para o facto de este texto, cuja leitura recomendo vivamente, porque além de excelente, está primorosamente bem escrito, ser da autoria de um jurista e professor universitário brasileiro, portanto, não é meu (para que não digam que eu é que ando sempre a implicar com o abrasileiramento de textos portugueses).

 

Soubessem os acordistas portugueses escrever tão apuradamente como Arthur Virmond de Lacerda Netto! Mas, lastimavelmente, os acordistas portugueses escrevem como meninos da primeira classe primária.

 

Por ter sido escrito por um cidadão brasileiro, o texto está conforme a ortografia brasileira.

 

(Apenas para que se inteirem da semelhança entre a ortografia brasileira e a ortografia preconizada pelo AO90, destacarei a negrito, as palavras acordizadas).

ilc3adada-frederico-lourenc3a7o.jpg

 

Texto de Arthur Virmond de Lacerda Netto

 

«Livro português abrasileirado.

A quem interessa manter su-capacitados no Idioma (vulto burros) muitos brasileiros? 

 

Não se trata, apenas, de adaptar um texto; trata-se de privar o leitor brasileiro de elevar-se na sua capacidade de compreender textos.

 

Que tal, em Portugal, mediocrizarem-se as obras de José de Alencar, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, Manoel Bandeira, Caetano Veloso, Tom Jobim, Paulo Leminski, Paulo Freire, Márcia Tilburi, Rubem Alves, Olavo de Carvalho?? Você, provavelmente, não admitiria tal (…)

 

Adulteração, no Brasil, de livro português. A Ilíada, para jovens, de Frederico Lourenço.

 

O português Frederico Lourenço traduziu a Ilíada e a Odisséia, e as adaptou para jovens em prosa, versão legível, contudo, por gente de quaisquer idades.[1]

 

O texto publicado no Brasil (pela editora Claro Enigma; São Paulo, 2016) sofreu intervenções que descaracterizaram a tradução, tal como Frederico Lourenço a produziu. Substituiram-se as segundas pessoas (tu e vós) por você e vocês; inocorre qualquer mesóclise (presente no original); há substituições lexicais (como planear por planejar, escusado por desnecessário), alterações de pontuação e de construção frasal, para mais de certa loqüela típica do brasileiro, porém desusada pelos portugueses.

 

O que se lê no Brasil não corresponde, fielmente, à redação de Frederico Lourenço, aliás alheio às modificações, por que a editora é a responsável exclusiva.

 

As segundas pessoas, a mesóclise, os vocábulos, os advérbios de modo, existem para serem usados. São usáveis e corretos; pertencem à língua portuguesa e não exclusivamente a Portugal; é legítimo qualquer brasileiro servir-se deles.

 

Adaptou-se o texto ao público brasileiro, a fim de torná-lo (mais) compreensível por ele, máxime (supostamente) pelos jovens[2]; pretende-se que as pessoas leiam; almeja-se atrair o leitor, ao invés de o repelir; acomodou-se texto redigido para público português, ao leitor brasileiro, em face das peculiaridades idiomáticas deste em relação àquele; importam resultados financeiros positivos, na venda dos exemplares. Compreendo tudo isto. Não compreendo que se suprimam as segundas pessoas e a mesóclise; alterem-se frases, palavras e pontuação; ainda menos compreendo que a tal se proceda clandestinamente (em face do leitor), sem informação, no próprio livro, de se haver adulterado a versão original.

 

É mediante a leitura que se aprende o que se lê e o idioma; é pela leitura de textos como o original de Frederico Lourenço que os jovens e o mais público brasileiro encontrariam recursos do idioma de que andam deslembrados e que lhes seria enriquecedor deparar na literatura. Aliás, lê-se literatura de qualidade também como forma por excelência (porque altamente pedagógica) de se freqüentar a norma culta do idioma, de familiarizar-se com o seu uso e, por conseguinte, de elevar-se, o leitor, do seu conhecimento medíocre (se o for) ou corriqueiro, para as formas superiores do idioma e para as diferentes plásticas da expressão, em que consiste o estilo de cada autor.

 

Mesóclise, segundas pessoas, advérbios de modo, certa fraseologia, certos vocábulos e certo estilo, não constituem lusitanismos, porém recursos do idioma, que é enriquecedor encontrar em uso, conhecer e aprender (se o leitor os ignorava) ou deles relembrar-se (caso deles o leitor andasse desmemoriado).

 

Se circulam mais em Portugal, é porque lá ensina-se melhor o idioma, usa-se o que se aprendeu e zela-se pela qualidade do emprego do vernáculo, comparativamente mais do que no Brasil. (a)

 

Não há “idioma brasileiro”; há o idioma português, com peculiaridades de uso em Portugal e no Brasil (para ater-me a estes países lusófonos), que não chegam a distingui-los nem a tornar necessárias nem recomendáveis adaptações como as que se praticou.

 

As peculiaridades do português redigido em Portugal e as diferenças do seu uso, lá, são compreensíveis pelos brasileiros: prova-o o êxito, no Brasil, das obras de Saramago (no presente) e (desde o passado) das de Eça de Queiroz; prova-o a imigração de brasileiros para Portugal, nos últimos vinte anos; provam-no os oitenta mil imigrantes brasileiros em Portugal, presentes lá, em 2017.

 

Lamento as modificações que a editora Claro Enigma perpetrou. Publicasse, no Brasil, o texto original: no máximo, o leitor estranharia (estranhar difere de tresler) o “tu”, o “vós”, a mesóclise, porventura alguma colocação pronominal, estranhamento que rapidamente desvanecer-se-ia; os lusitanismos seriam facilmente esclarecíveis por notas de rodapé, cuja função consiste (também) precisamente em dilucidar o significado de termos virtualmente problemáticos. Qualquer edição de livro, nacional ou estrangeiro, em vernáculo ou vertido, minimamente séria, intelectualmente rigorosa e lingüisticamente zelosa, mantém o texto original e lhe glosa, quando necessário, os termos obscuros para o leitor.

 

Era imperioso que a editora Claro Enigma mantivesse o texto na sua versão original e lhe adisse, para o público brasileiro, notas de rodapé, relativas aos lusitanismos. Quanto a vocábulos que o leitor (qualquer leitor) desconhece (em qualquer livro), consultasse um dicionário, obviamente.

 

Alguns leitores, possivelmente, ao invés de lhes causar espécie as segundas pessoas, a mesóclise, os advérbios de modo, a fraseologia portuguesa e o estilo de Frederico Lourenço, deleitar-se-iam com a descoberta deles e ou com a experiência do contacto com eles, que virtualmente concorreria para lhes aprimorar a destreza no idioma e aguçar-lhes a percepção (b) dos seus recursos. Nisto, também, radica a virtude da leitura: em transcender-se, mercê de diferentes autores e estilos, o vocabulário, a fraseologia, o emprego dos recursos de expressão, em suma, a loqüela a que se acha circunscrito o leitor.

 

As adaptações privaram os brasileiros da experiência da transcendência; ao contrário, elas mantêm-nos no padrão idiomático brasileiro que eles, assim, não transcendem: a “nacionalização” propiciou ao leitor brasileiro mais do mesmo (para valer-me de lugar-comum português, já com algum curso no Brasil), ao invés do diverso e instigante (evidentemente, refiro-me às partes afetadas e não à totalidade do texto).

 

As adulterações constituem desserviço, em relação à parcela do público que se comprazeria com o texto original e aos leitores, em geral: elas privaram os brasileiros de contactar (c) com formas e recursos existentes no seu idioma, usáveis (e usadas em Portugal), que todo brasileiro deveria conhecer e de que pode servir-se. Livro esmeradamente redatado ou traduzido é instrumento de educação: a edição abrasileirada subtraiu-se desta egrégia função, na medida em que mediocrizou o texto, sobre haver desfigurado (em parte) a estética literária de Frederico Lourenço, ou seja, o componente idiossincrático que lhe individualiza o estilo. Em dadas passagens, o que se lê não corresponde ao texto e á plástica de Frederico Lourenço, porém ao texto dele deturpado.

 

Seria objetável alegar-se atenderem, as modificações, à realidade do (jovem) brasileiro, já desafeito a formulações “arcaicas”, “passadistas”, “lusitanas”, como “Tu fazes”, “Vós sois”, “Dar-lhe-ei”: porque desusadas, foram suprimidas, o que redunda em círculo vicioso: não se usaram porque não se usa; não se usa também porque não as usam os autores. Usassem-nas os autores: ainda que, por leitura dos seus livros, os leitores não as usem, pelo menos capacitar-se-ão, por hábito, a compreender melhor os que as usem e as usam.

 

Ainda que o brasileiro as desuse ou as use escassamente, elas existem no vernáculo, constituem ponto de ensino nas escolas e Frederico Lourenço utilizou-as: é o quanto basta para deverem ser conservadas intactas, bem assim a fraseologia dele. Eis porque a versão original serve, ótima e pedagogicamente, como leitura, nas disciplinas de Língua Portuguesa e ou de Literatura, no ensino médio.

 

A presença, no texto, das segundas pessoas, da mesóclise, de certa forma, lusitana, de construir e do estilo de Frederico Lourenço, não constituem óbices à sua leitura e compreensão por leitores brasileiros. Intrinsecamente, nada no texto justificava-lhe as intervenções; justifica-a, porém, certo ideário, de fundo marxista (e nacionalista-lusófobo?): suspeito de que o abastardamento da tradução de Frederico Lourenço filie-se ao entendimento propagado pelo já célebre (e, quanto a mim, funesto) livro “Preconceito Lingüístico” (de Marcos Bagno), de (a) haver pronunciadíssima diversidade entre os modos português e brasileiro de empregar o idioma e (b) de deverem, os brasileiros, proclamar a sua independência lingüística em relação a Portugal e à gramática tradicional.

 

Êxito de vendagem, nas suas mais de 50 edições; adotado, debatido e lido nos cursos superiores e não só, há três lustros, “Preconceito Lingüístico” terá sido o inspirador da malsinada adaptação, como afirmação de brasilidade lingüística, como realização de independência idiomática, como recusa da gramática tradicional, presente na plástica literária de Frederico Lourenço que, assim, representava, por excelência, o objeto do nacionalismo lingüístico.

 

Se assim não foi, se inexiste relação de causa e efeito entre as doutrinas de Marcos Bagno e a adaptação, se esta não constitui produto daquelas, mesmo assim foi escusada (para servir-me de voz que a adaptação expurgou e que substituiu pelo termo desnecessário) como iniciativa e desastrada como execução, pois desfigurou o estilo de Frederico Lourenço, empobreceu-lhe a forma, subtraiu dos leitores a possibilidade de toparem com certas riquezas do idioma.

 

Com que legitimidade, com que direito, com que autoridade uma editora manipula o estilo de um autor, rebaixa o uso dos recursos do vernáculo e priva o leitor de contactar com a plástica genuína do primeiro e com a riqueza do segundo?

 

Trata-se (sei-o), de adaptação de Homero para o português e não de criação original de Frederico Lourenço. Pode-se traduzir à portuguesa, à brasileira, à francesa, em coloquial, em culto: essencial é a fidelidade da versão ao original (no caso, Homero), ressalva até com que as adulterações não se legitimam. Foram dispensáveis e são censuráveis. Adaptação de Homero por Frederico Lourenço, é texto de Frederico Lourenço que importa respeitar.

 

Ao grande público, interessado em ler o livro, provavelmente pouco se lhe dão as deturpações no texto: interessa-lhe aceder à narrativa de Homero ao invés de apoquentar-se com variantes lingüísticas ou com o desdém por certas riquezas do idioma. Se o leitor brasileiro lê e compreende, a edição cumpre a sua finalidade; cumpriria melhor se mantivesse o nível de qualidade peculiar do texto original e, intacta, a loqüela de Frederico Lourenço. Cumpri-la-ia cabalmente se mantivesse, intocado, o original, a que adicionasse, em nota, esclarecimento da acepção (d) dos ocasionais lusitanismos: é como deveria ter procedido e é o que reputo óbvio.

 

É moralmente expectável (e) e exigível constasse, na página de informações editoriais, cuidar-se do texto de Frederico Lourenço modificado ou adaptado ao público brasileiro ou de versão abrasileirada do original e não, genuinamente, do próprio: seria manifestação de respeito pelo leitor e de honestidade editorial. Do respeito, ela se isentou; da honestidade, desdenhou.

 

Ela atuou com desonestidade editorial, por sonegar informação decisiva em relação ao que o comprador do livro adquire e ao que o seu leitor lê. Tal sonegação também induz em erro o leitor que, inadvertido, toma por lídima literatura portuguesa e obra de Frederico Lourenço o que não o é nas passagens espúrias.

 

Por descuido, a edição brasileira poupou do expurgo o lusitanismo “contributo” (sinônimo de contribuição).

 

A reproduzir-se a iniciativa, temo por que sobrevenham versões abrasileiradas de Camões, Fernando Pessoa, Eça de Queiroz, Camilo Castello Branco (f). Afinal, a lógica é a mesma. Se, a contrapelo, em Portugal, se lusitanizassem autores brasileiros, a exemplo de José de Alencar, Joaquim Manoel de Macedo, Machado de Assis, Euclides da Cunha, Lima Barreto, Carlos Drummond de Andrade, Caetano Veloso, Tom Jobim, Paulo Leminski, Paulo Freire, Márcia Tilburi, Olavo de Carvalho, etc., o erro seria o mesmo, o caráter espúrio do texto seria equivalente, o ludíbrio seria análogo, com a diferença da nacionalidade dos autores deturpados.

 

Assim se rebaixa a cultura de um povo (o brasileiro); assim se convém com o seu estado rebaixado de domínio idiomático. Assim se priva a juventude brasileira (destinatária nominal do livro) de aceder, genuinamente, à literatura de plástica portuguesa e ao verdadeiro estilo de um autor; de transcender o seu nível mormente raso de conhecimento e de uso idiomáticos, já tristemente típico das gerações brasileiras juvenis; de se deparar com o uso duplamente exemplar de certos recursos do vernáculo, no sentido de modelarmente correto e no de servir como estímulo para o seu uso.

 

Admito, como alterações legítimas, as de acentuação e de ortografia, à luz da reforma ortográfica, que introduziu discrepâncias em escassos vocábulos, entre Portugal e Brasil.

 

Oxalá não se perpetre atentado quejando nas obras de Antonio M. Hespanha (historiador do Direito), José Rodrigues dos Santos, Miguel Esteves Cardoso, Valter Hugo Mãe e outros, se é que já não se perpetrou (suspeito de que sim). Descreio que, em Portugal, se praticasse com autores brasileiros o que certos brasileiros praticaram com a Ilíada, de Frederico Lourenço.

 

Corrija, a editora Claro Enigma, o mal que praticou: suste a publicação da versão espúria e introduza a original; ao menos, publique também esta. Remende, a editora Claro Enigma, a desonestidade (por omissão) que pratica: introduza (na página 6) a informação de ser abrasileirada a versão que o é. Evite, a editora Claro Enigma, a repetição desta violência. Adotem, todas as editoras brasileiras, por princípio editorial o de reproduzir, intocados, os textos portugueses e inserir-lhes, em nota de rodapé, glosa de acepção: somente assim concebo que se publique, honestamente, literatura portuguesa no Brasil.

 

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Na imagem, a capa da edição brasileira.

 

Em tempo: o livro S.P.Q.R. (história de Roma), de Mary Beard foi publicado em Portugal e no Brasil, em traduções distintas.

 

[1] Também as traduziu em verso.

[2] As versões “juvenis” são legíveis por jovens e por leitores de idades quaisquer, bem como as versões (do próprio Frederico Lourenço) em verso. Inexiste relação entre jovens e prosa, entre não jovens e verso; existe relação entre quem prefere o texto em prosa ou por ele se interessa e o lê, e entre quem se interessa pelo texto em verso ou o prefere e o lê, independentemente de idade. Por isto, melhor seria qualificar a versão “para jovens” de versão em prosa. Se se curou de estratagema publicitário, voltado a cooptar leitores juvenis, ele talvez haja atuado contraproducentemente em relação aos demais que, se não afugentou, absteve-se de atrair, ao mesmo tempo em que não é de se supor que o público pós-juvenil opte pela versão poética; ao contrário. Se o complemento “para jovens” deveu-se ao sincero intuito do autor, que terá feito questão de externizá-lo (como também ocorre na versão portuguesa), queda ele registrado nas capas da versão em prosa da Ilíada e da Odisséia, com a desvantagem de captação de interessados, como apontei na frase precedente.

 

Arthur Virmond de Lacerda Neto»

 

Fonte:

https://arthurlacerda.wordpress.com/2017/10/12/adulteracao-no-brasil-de-livro-portugues/

 

***

Notas da autora do Blogue:

 

(a) – Engana-se amigo Arthur. Hoje, em Portugal, já não se zela pela qualidade do emprego do vernáculo, nem pela Língua Portuguesa, que está a ser maltratada, mal ensinada, mal aplicada, à margem do AO90. O facilitismo da linguagem para tornar ainda mais legível, o que já é legível, está a formar gerações de semianalfabetos (os que têm apenas os rudimentos da escrita e da leitura e não são capazes de ler e escrever correntemente) em Portugal, como no Brasil.

(b) – Em Portugal, escreve-se perceção, que é algo que ninguém sabe o que é.

(c) – Em Portugal, os acordistas escrevem contatar, vá-se lá saber porquê.

(d) – Em Portugal, os acordistas escrevem aceção, palavra sem significado algum.

(e) – Em Portugal, os acordistas escrevem expetável, seja lá o que isto for).

(f) –  Versões abrasileiradas de Camões, Fernando Pessoa, Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco e até de Saramago lamentavelmente já existem, como um insulto à memória desses escritores maiores da Língua Portuguesa.

 

(Isabel A. Ferreira)

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:11

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Segunda-feira, 29 de Maio de 2017

Latim explica a nulidade dos ministros que andam a tramar a Língua Portuguesa

 

Se dúvidas houvesse em relação à negociata socialista que está a tramar a Língua Portuguesa, este esclarecimento, que recebi via e-mail, vem confirmar aquilo que todos já sabemos.

 

Indubitavelmente, O AO90 é fruto de uma descomunal imbecilidade militante.

 

IMBECILIDADE.jpg

 

«LATIM, Língua maravilhosa!

 

O vocábulo "maestro" vem do latim "magister" e este, por sua vez, do advérbio "magis" que significa "mais" ou "mais que".

 

Na antiga Roma o "magister" era o que estava acima dos restantes, pelos seus conhecimentos e habilitações!

 

Por exemplo um "Magister equitum" era um Chefe de Cavalaria, e um "Magister Militum" era um Chefe Militar.

 

Já o vocábulo "ministro" vem do latim "minister" e este, por sua vez, do advérbio "minus" que significa "menos" ou "menos que". Na antiga Roma o "minister" era o servente ou o subordinado que apenas tinha habilidades ou era jeitoso.

 

Como se vê, o Latim explica a razão por que qualquer imbecil pode ser ministro... mas não maestro! » (Recebido via-email).

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 11:30

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Quinta-feira, 5 de Novembro de 2015

«Império da Língua Portuguesa: ascensão e queda?»

 

Mais um excelente texto de António de Macedo, para reflectirmos a Língua Portuguesa

 

IMPÉRIO.png

(Origem da imagem: Internet)

 

Por António de Macedo

 

«Quando Cristo foi crucificado por volta do ano 30/32 da nossa era, o Império Romano ocupava uma vasta área que abrangia desde a Ásia Menor até à Península Ibérica, incluindo a maior parte da Europa e todo o Norte de África. Com o correr dos tempos, e devido à inevitável vitalidade que as línguas têm como coisas vivas que são, o latim popular falado na Dácia acabou por se transformar no actual romeno, tal como o falado na Itália no actual italiano, na Gália no actual francês, na Hispânia no catalão, castelhano, galaico-português, etc., etc..

 

Durante algum tempo o latim da Roma originária manteve uma aparência de identidade sustentada, sobretudo desde que a Igreja o adoptou como língua eclesiástica e litúrgica antes do início da Alta Idade Média; mas mesmo esse foi sofrendo alterações ao ponto de um estudioso de latim clássico ter dificuldade em entender um texto em latim eclesiástico do século XII ou XIII, por exemplo.

 

Imaginemos que um folgazão dessas eras, insuflado de ideias "ortografistas", se lembrava de tentar impor ao latim de Roma uma "grafia unificada" misturando, com as inerentes "facultatividades", as formas do latim popular gaulês, dácio, lusitano, itálico... Só esta ideia tonta dá vontade de rir, e obviamente nenhum estudioso no seu juízo perfeito a consideraria, a menos que se tratasse de um escritor de ficção científica que inventasse uma novela de "história alternativa" passada num universo paralelo, onde esse caricato fenómeno tivesse ocorrido com todas as suas delirantes (e quiçá interessantíssimas) consequências.

 

Bom, tudo é possível no fantástico universo das ficções, e tal fantasia até poderia dar origem a um trepidante filme em 3-D com imaginosos efeitos especiais e outros truques que encantassem as plateias.

 

Ora, por muito estranho que pareça, é isso mesmo que estamos a viver actualmente: um delírio de "ficção científica alternativa", por obra de uns quantos políticos que decidiram reescrever a nossa história linguística sem atender às naturais e progressivas diferenças por que vai passando uma língua-mãe ao expandir-se no mundo, e à medida que os anos e os séculos transcorrem.

 

Não é possível espartilhar uma língua viva num colete-de-forças artificial e grosseiramente político fingindo que a língua-mãe e as línguas-filhas se vão manter sempre iguais e agrilhoadas a um mesmo "acordo", parido por um pequeno grupo de minicérebros demenciais que não entendem o que é o futuro e, dentro da sua pequenês, só vêem uma estreita nesga do presente.

 

Tal como o latim irradiou de Roma para o mundo, o português irradiou de um ponto preciso da Europa, Portugal, e, à semelhança do latim do Império Romano, foi-se instalando em diversas geografias e mesclando-se com as respectivas etnias, línguas aborígenes e culturas, e por conseguinte modificando-se diversamente, consoante as áreas em contacto. É uma lei natural e não há que fugir-lhe.

 

O português falado no Brasil, por exemplo, sobretudo popular, tende cada vez mais a tornar-se uma língua diferenciada, tal como o testemunha o extensíssimo reportório de textos do folclore brasileiro reproduzindo os falares de habitantes do interior do Brasil, em que o português, mesclado com os falares autóctones, se tornou língua própria de vastas e inúmeras comunidades.

 

Como será o português falado e escrito em Angola, no Brasil, em Cabo Verde, em Portugal, em Moçambique, etc. dentro de cem ou duzentos anos? Não sabemos nem é nossa competência sabê-lo e menos ainda adivinhá-lo. Que nos baste o bom senso de observar a realidade que nos rodeia e compreendê-la e saber respeitá-la nos seus múltiplos matizes e naturais mudanças, lidando cautelosamente com as especificidades das suas variantes e diferenças.

 

Ora, isto é tudo quanto há de mais contrário à arrogante e pretensiosa atitude do malparido Acordo Ortográfico que à força bruta quer impor um modelo de grafia sem nenhuma base lógica, linguística, sociológica ou meramente humana que o sustente, uma coisa sem pés nem cabeça que no fundo se pulveriza em vários modelos - e cito apenas dois, porque existem, continuam a existir e até aumentam as diferenças ortográficas entre Portugal e o Brasil (para somente citar estes dois casos), como se pode ver na bem fundamentada exposição da Carta Aberta que em 6 de Janeiro de 2013 foi enviada ao ministro da Educação. Lendo-a, arrepiamo-nos e continuamos a interrogar-nos como foi possível levar a cabo semelhante crime.

 

O que sabemos é que este "linguicídio", como já lhe chamou com trágico humor a Dra. Madalena H. Cardoso, foi perpetrado friamente desde os anos "80 por conhecidos e sonantes nomes da nossa política. Passos Coelho, sem nenhum senso crítico, limitou-se a vir pendurado na última carruagem deste sinistro comboio-fantasma, arrastando a alma linguístico-cultural portuguesa por um trilho de lamacento enxovalho logo trilhado sofregamente pela chusma de interesseiros e/ou bajuladores do costume que esperam sempre lucrar alguma coisa com o delito.

 

Vejam-se por exemplo os mais de 250 canais de TV que nos entram pela casa adentro todos os dias, e cujas legendagens de filmes e séries-TV chegam a desorientar de tão confusas que ficam. Sendo frases curtas, sem contexto literário, tornam-se por vezes num enigma: se vemos duas personagens a correr e uma diz para a outra: "Para aqui", ficamos sem saber se lhe está a dizer que se dirija para aqui (movimento), ou que fique parada aqui (ausência de movimento). Com o maior à-vontade a mesma curta frase pode ter dois significados opostos.

 

Pobre língua portuguesa, esfrangalhada de uma maneira tão boçal como interesseiramente obscura.

 

Língua que já foi grande na sua ascensão, na pena de Gil Vicente, de Camões, de António Vieira, de Pessoa...

 

Consentirão os portugueses na sua queda, agora, por obra desta nova "invasão dos bárbaros" que tudo quer nivelar pelo nível mais baixo, menos nobre e mais rasteiro?»

 

Ex-cineasta, escritor, professor universitário

 

Fonte: http://www.publico.pt/opiniao/jornal/imperio-da-lingua-portuguesa-ascensao-e-queda-25967430

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:17

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