No “Em Defesa da Ortografia LXXVII”, publicado no mês de Março, escalpelizámos uma revista editada pelo município de Oeiras, argumentando que é através da análise dos objectos linguísticos do dia-a-dia que aferimos a qualidade da expressão escrita e da ortografia.
Hoje, a mira (o foco, na linguagem que por aí anda) está assestada na RTP e no seu sítio da Internet, onde unicamente andámos à cata do omnipresente contato. Como justificação para a selecção deste alvo, podemos referir que a RTP, assim que pôde, aderiu à nova ortografia e, no princípio da década passada, gastou uma considerável quantia em acções de formação sobre o Acordo Ortográfico de 1990. Como se conclui da leitura dos excertos abaixo reproduzidos, podemos afirmar que essa vultuosa quantia foi muito bem empregada nas ditas acções.
Em algumas grutas na proximidade foram também encontradas marcas de arte rupestre [sic] retratando cenas de caça e pastorícia, refletindo mudanças na fauna e na flora, e ainda os diferentes modos de vida das populações”. RTP. 05-04-2025
Passa por conseguir, através de contactos por meios digitais, criar uma relação de confiança com o jovem ou a criança. As primeiras abordagens não são de carater [sic] sexual, mas o intuito final é esse: contatos físicos presenciais ou envio de imagens com conteúdo íntimo. Este processo pode chegar a durar meses até que a vítima se sinta emocionalmente confiante para cair na armadilha. Com adultos, muitas vezes, o objetivo final é burla financeira.
Uma app [sic] um jogo, uma rede social, qualquer movimento na net [sic] pode desencadear pistas para os agressores. Escolhem as vítimas através da idade, caraterísticas físicas ou de personalidade e, mesmo quando as primeiras abordagens não funcionam, podem reaparecer com outras identidades e novas formas de aliciamento.” RTP, 06-04-2025
Se é assim na Comunicação Social, como será com o cidadão comum?
Ah, seria conveniente que alguém os alertasse para a necessidade de italicizar as palavras em língua estrangeira.
Ah, felizmente, a RTP também tem algumas saudáveis recaídas.
Ah, as imagens que acompanham este escrito foram copiadas do blogue O Lugar da Língua Portuguesa, onde Isabel A. Ferreira tem realizado um laudabilíssimo trabalho em defesa da Língua Portuguesa e da sua legítima ortografia.
Ah, há dias deu-nos para o masoquismo e lemos as doze primeiras páginas do Programa de Governo da AD. Respigámos ação (duas vezes), proteção (duas vezes), abril, setor / setores (três vezes), infraestruturas (duas vezes), projeto / projetos (seis vezes), atividades, proativa e atualmente. Nos sítios do costume, continua a morar a mixórdia ortográfica do costume. Obviamente, reprovada.
João Esperança Barroca
Fernando Kvistgaard, cidadão luso-dinamarquês, radicado na Dinamarca, que é um dos mais activos subscritores do Grupo Cívico de Cidadãos Portugueses Pensantes, no estrangeiro, enviou-me uma mensagem intitulada «E a mixórdia continua e ninguém põe ordem no País».
Pois é, caro Fernando. Estamos cada vez pior. A linguagem usada em Portugal, na sua forma escrita e oral (e que me custa a chamar-lhe Português) está a piorar de dia para dia.
Vou aproveitar esta sua chamada de atenção, para frisar que na Dinamarca existe alguém que se importa com o desregramento que está a transformar a nossa Língua numa linguagem castrada pela ignorância optativa de quem a usa e dela abusa, ao contrário de muitos portugueses que vivem em Portugal e estão-se nas tintas para a própria Língua Materna, incluindo os governantes, vassalos do Senhor de Engenho colonial, actualmente no poder, no outro lado do Atlântico.
Tenho de lhe agradecer o facto de ser um Português de primeira, que se preocupa com o estado caótico em que se encontra a nossa Língua. A esmagadora maioria dos que andam por cá, estão caladinhos como estátuas de pedra, não contribuindo em nada para acabar com este ataque a um Idioma dos mais antigos da Europa, e um dos mais belos.
Fernando: «Inspetores e inspectivas - com isto até querem obrigar-me a pronunciar de maneira diferente da que aprendi.
Podem até querer obrigá-lo a pronunciar estes vocábulos -- que não pertencem ao léxico da Língua Portuguesa -- de maneira diferente da que aprendeu, mas é dessa maneira que todos devem lê-los: insp’tôres e insp’tivâs, porque assim as regras gramaticais o obrigam, pois falta-lhes o pês diacríticos, que têm a função de abrir as vogais, e pronunciá-los como aprendeu, e muito bem, na escola.
Fernando: «A RTP deve trabalhar com dois dicionários! E eu que aprendi que a RTP era a garante do bom Português! Outros tempos! Mas, "mudam-se os tempos, mudam-se as vontades».
E quando essas vontades são vassalas da ignorância, caro Fernando, o país recua a um tempo antigo, já ultrapassado.
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Fernando Kvistgaard, não se ficou apenas por estas observações da mixórdia que vai pelas TVs.
Escreveu a seguinte crónica:
A crónica do dia para quem de direito
No que concerne às Línguas faladas entre nós, humanos, quiçá igualmente entre outros animais, existem regras, pois, sem elas, seria o caos, não na acepção (aceção?) primária do seu termo, mas como desordem e confusão.
Quando a nossa geração, a do pré-AO90, já não vaguear por esta Terra desarranjada, em que muitos ousam mudar as regras do jogo a torto e a direito, sem que ninguém se oponha, não sei como os que cá ficarem irão entender-se. Gostaria de acreditar numa vida pós-morte para, algures, poder divertir-me.
De futuro, como será a pronúncia das palavras que, segundo as regras se escreviam: espectador e, agora, espetador (será que significam o mesmo? E quanto a aspecto e aspeto (qual a regra que me diz que sem o “c” se pronuncia com “e” aberto? E "electrónico" que mudou também a grafia para eletrónico. Qual a regra que me diz se o “e” aqui é aberto? Agora, que "tecto" passou a ser "teto", será que “teto” ( = glândula mamária) é o mesmo que o tecto (de uma casa)?
Quanto a “actor”, agora “ator” será que se pronuncia como o “a” em Amazónia? Será que as pessoas se vão entender?
Será também que um “carro eléctrico” é um veículo elétrico?
Cá por mim, os que cá ficarem que se entendam.
Fernando Kvistgaard
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Nota: os vocábulos assinalados a vermelho são da minha responsabilidade, para fazer notar que NÃO pertencem ao léxico Português, em vigor, por isso, são considerados erros ortográficos, para os que sabem escrever e falar correCtamente.
Isabel A. Ferreira
O que pensam disto?
Penso que quem engendrou o AO90, antes de o engendrar, passou num botequim e "tômô" umas "cáchácinhás" e o resultado não podia ter sido pior. (Isabel A. Ferreira)
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A propósito da publicação de «Para Português Ler» acima referida:
Que vergonha RTP!!!!!!
Que vergonha!!!!!
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Que vergonha Google!!!!
Que vergonha!!!!
Quanta desinformação circula na Internet à custa da ignorância que rodeia a Língua Portuguesa!!!
No Brasil grafa-se expeCtativa, porque no Brasil, a palavra escapou à mutilação, porque aquele cê é lá pronunciado, e escrevem a palavra conforme a grafia portuguesa, porque nós por cá, também pronunciamos o cê, de expeCtativa, e escrevemos a palavra com o respeCtivo cê.
ExpeCtativa, respeCtivo é da grafia portuguesa.
Só os muito ignorantes grafam expetativa, tal como só os ignorantes acordistas portugueses grafam teto, arquiteto/a, objeto, setor, objetivo, enfim, todas as palavras que pertencem ao léxico brasileiro, mas não ao léxico português. E o Brasil mutilou-as porque desconhecia que as consoantes não-pronunciadas, que têm função diacrítica, NÃO são para suprimir.
No Brasil, escrever teto (têtu) arquiteto/a, (arquitêtu/a) objeto, (objêtu), sector (s’tôr), objectivo (obj’tivu) é válido, porque são vocábulos exclusivamente pertencentes ao léxico da Variante Brasileira do Português.
Tudo isto diz da subserviência dos decisores políticos portugueses em relação a um País que deturpou a Língua de Portugal, anda por aí a disseminá-la de forma incorreCta, porque continua a chamar-lhe Português.
Por esta andar, um dia, a casa cai!
Isabel A. Ferreira
Imagem enviada pelo cidadão português Fernando Kvistgaard, que vive na Dinamarca, sendo também cidadão dinamarquês. Pergunta: em que ficamos? Qual a maneira correCta de escrever a palavra? Obviamente é percePção, em Bom Português. A outra, perceção, que se lê p'erc'ção, tem a aparência de uma galinha depenada. Pobre vocábulo! Que origem terá? Nem greco-latina, nem Indo-europeia. Talvez a tivessem encontrado em algum caixote de lixo.
Porque é bem verdade que «quando se destrói uma Língua, destrói-se uma Cultura, quando se destrói uma Cultura, destrói-se um Povo, e estas coisas andam de mãos dadas...», afirmou Paul Connett, activista humanitário da acção Bangladesh, em 1971, o qual participou no documentário «Baía do Sangue: o genocídio do Bangladesh», que a RTP exibiu recentemente.
E isto a propósito da Operação Holofote, iniciada pelas Forças Armadas do Paquistão Ocidental contra civis do Paquistão Oriental, em 25 de Março de 1971, na que ficou tristemente célebre como a Guerra de Libertação do Bangladesh. Nessa noite milhões de Bengalis foram mortos. A ideia era acabar coma raça deles. Aos que sobreviveram, o ditador paquistanês, general Yahya Khan, terceiro presidente do Paquistão (de 1969 a 1971) impôs o Urdu, Língua Oficial do Paquistão Ocidental, e não mais os Bengalis deveriam falar ou escrever o Bengali, a sua Língua Materna, com mais de mil anos, sendo o sétimo idioma mais falado do mundo, com cerca de 265 milhões de falantes, dos quais 228 milhões são nativos.
O genocídio passava pela destruição da Língua daquele Povo que lutava pela sua independência. Destruindo-se a Língua que fixa a Cultura de um Povo, destrói-se essa Cultura, e destruindo-se essa Cultura, destrói-se o Povo, e isto é uma forma de genocídio. E essa destruição só não aconteceu porque o ditador foi derrotado, e o Bangladesh garantiu o direito à sua existência, à existência da sua Língua milenar e da sua Cultura.
Ao ver este documentário ocorreu-me que os muito cultos e ilustríssimos governantes andam por aí a perpetrar uma espécie de genocídio, para acabar de vez com a Cultura, a Língua e a História dos Portugueses, alimentando uma mixórdia ortográfica, gerada pela imposição ditatorial, ilegal e inconstitucional do acordo ortográfico de 1990, na qual os Portugueses Pensantes e Cultos não se revêem, e ao que a mim diz respeito, sinto que com tal irracional atitude estão a assassinar a minha Identidade, a minha Cultura, a minha Língua e a História do meu País.
Sim, eu tenho um País. E então? Não posso? Não devo? Os idiotas que me alcunham ignorantemente de nacionalista, e acham que me insultam, não passam disso mesmo: idiotas e ignorantes. Porque eu sou apenas Portuguesa. Então? Não posso? Não devo? Amo o meu país com todas as suas virtudes e defeitos. As virtudes, atribuídas a uma Natureza maravilhosa, aproveito-as para crescer com elas e divulgá-las; os defeitos, que são atribuídos a pobres de espírito, aproveito-os para aprender com eles e combatê-los, passando às gerações futuras informações que lhes podem ser úteis, para poderem viver harmoniosamente. Mas se tivesse mesmo de ser nacionalista, mais vale ser nacionalista informada, do que apátrida ignorante.
Destruir a Língua! Será essa a ordem emitida superiormente pelos mandantes, a quem os políticos devem obediência?
Quase tudo e quase todos andam por aí de rastos, em Portugal, e a Nova Desordem Mundial irá dar uma ajudinha.
Anda por aí um doido varrido que quer mandar no mundo e até em Marte, e acha que pode. E o pior é que há gente que também acha que ele pode, e até lhe entregou o Poder que lhe permite espezinhar seres humanos.
E os de cá acham que é legítimo destruir a Língua de uma Nação com quase 900 anos de História, pelos motivos dos mais obscuros, que guardam secretamente em caves inacessíveis ao comum dos mortais. O grande olho espreita, mas os pequenos olhos observam.
E é este caminho caótico, em direcção ao abismo, que os políticos do mundo estão a seguir, os nossos, incluídos.
Isabel A. Ferreira
«A ortografia é um fenómeno da cultura, e, portanto, um fenómeno espiritual. O Estado nada tem com o espírito. O Estado não tem direito a compelir-me, em matéria estranha ao Estado, a escrever numa ortografia que repugno, como não tem direito a impor-me uma religião que não aceito.»
Fernando Pessoa, Escritor
«Tem sido um desastre a forma como os governos têm gerido a língua portuguesa. O Acordo Ortográfico é um desastre, ninguém o cumpre, uns escrevem assim e outros, assado. No Brasil, o acordo é diferente, é a variante brasileira. Isto é um absurdo! Só estamos a criar muros quando já existem tantos muros. O nosso problema não é obviamente ortográfico, muitas vezes, é semântico, sintáctico e vocabular. O que temos de fazer é publicar os autores como eles escrevem, em Portugal e no Brasil.»
Bárbara Bulhosa, Directora e fundadora das Edições Tinta-da-China
«1. Os opositores ao AO tinham razão quando argumentavam que as grandes diferenças entre o português de Portugal e do Brasil não eram ortográficas, mas sobretudo de sintaxe.
Ana Cristina Leonardo, Escritora e jornalista, em artigo de opinião, no jornal Público, em 29-11-2024
Muito próximo das festas natalícias, ocorreu um facto (e facto agora não é igual a fato, como disse um putativo candidato à Presidência da República) assaz curioso, que pode ter passado despercebido à maioria dos leitores. O DN (Diário de Notícias) publicou um artigo de opinião de José Sócrates, intitulado “Defesa mínima consentida”, constituído por nove parágrafos, terminando os dois primeiros com a interrogação “Compreendido?”.
Tendo em conta o passado, em termos de ortografia, do autor do dito artigo, esperar-se-ia que a sua opção recaísse na ortografia do AO90, mas, surpresa das surpresas, no final do referido escrito, aparece a nota: “Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico.”
O leitor mais ingénuo pensaria, certamente, tratar-se de um acto de contrição, mais de um decénio depois. O leitor mais calejado optaria por querer ver, como São Tomé. Para que não fiquem dúvidas, consultou-se, na íntegra, o referido artigo, disponível na página da internet do jornal em
https://www.dn.pt/opiniao/defesa-minima-consentida
Analisando o escrito, parágrafo por parágrafo, conclui-se que é um objecto adequado para um jogo de “Verdadeiro ou falso?”. Expliquemo-nos:
Em conclusão, como muitos outros, José Sócrates embarca no comboio do faroeste ortográfico e usa uma mixórdia ortográfica (que por aí vai circulando), misturando duas normas completamente distintas. Compreendido?
Apetece perguntar, pela enésima vez: se é assim nos círculos cultos, como será com o cidadão comum?
Ah, como se pode ver nas imagens que acompanham este escrito e que foram retiradas de páginas de Facebook de grupos contra o AO90, a ribaldaria não levantou arraiais.
Ah, como Francisco Miguel Valada tem amplamente denunciado no blogue Aventar, no Diário da República, o espe(c)táculo continua.
Ah, a RTP e outros vão tendo umas saudáveis recaídas.
Ah, ainda existem uns comentadores com opções ortográficas coerentes.
Ah, quem pode resolver esta malaquice opta por assobiar para o lado.
João Esperança Barroca
Porquê?
Porque o que pretendem impingir aos estrangeiros é o MIXORDÊS, que está bem patente no texto de propaganda desta iniciativa, transcrito mais abaixo.
Todos sabem, excePto alguns, que em Português, com ou sem AO90, escreve-se contaCto, porque em Portugal pronuncia-se o CÊ, mas a RTP, descaradamente, usa a grafia brasileira contato.
Por alma de quem?
Depois escreve, também à brasileira, objeto (que se lê, por via das regras gramaticais usadas em Portugal, mas NÃO no Brasil, ôbjêtu), quando no Português, que está em vigor, em Portugal, se escreve objeCto.
E se me vierem dizer que objeto (léxico brasileiro) é o modo como se grafa esta palavra de acordo com o ilegal AO90, que NÃO está em vigor em Portugal, temos que a RTP mistura Português com Brasileiro, o que dá uma nova linguagem a que se dá o nome de MIXORDÊS.
E é esse MIXORDÊS que a RTP quer “ensinar” aos estrangeiros, como sendo PORTUGUÊS, fazendo deles uns analfabetozinhos funcionais?
A isto, na minha terra, chama-se VIGARIZAR.
E há mais: o Espanhol, como Língua, NÃO existe. O que existe é a Língua Castelhana (Castelhano) a Língua Oficial de Espanha, juntamente com o Galego, o Catalão e o Basco.
Nesta página
a RTP diz o seguinte:
«Esta nova área temática do RTP Ensina está vocacionada para ajudar os estudantes com línguas maternas diferentes do português. Simultaneamente, possibilita aos alunos portugueses conviver com palavras de outras línguas.
A área de PLNM disponibiliza um conjunto de palavras em português, com tradução em diversas línguas, para promover a compreensão e o vocabulário básicos em um contato inicial com a língua. De forma semelhante ao projeto ‘Português para Ucranianos’, que também aqui se encontra, o Português Língua Não Materna está em desenvolvimento e passa por um processo de crescimento para incluir outros idiomas e mais conteúdos.
Para já, podem ser visionadas e ouvidas cerca de 200 palavras traduzidas de português para espanhol, francês, inglês, romeno e ucraniano
Aproveitamos para nos despedir:
Obrigado, gracias, merci, thank you, multumesc e Дякую.
***
Eis um texto em Mixordês, e é isto que a RTP pretende impingir aos estrangeiros?
Que miséria!
Que vergonha!
Isabel A. Ferreira
«Por vezes, os falantes de português de Portugal e de português do Brasil têm dificuldades em entender-se, mas é por razões de vocabulário e de sintaxe, não de ortografia. Nunca foi por uns escreverem “acção” e outros “ação”, mas pelo facto de uns chamarem “mesa-de-cabeceira” àquilo que outros chamam “criado-mudo”. Portanto, ir mexer na ortografia para resolver este problema, é como uma senhora ter a casa alagada pelos joelhos, começar a chorar, e chegar o prof. Malaca Casteleiro e dizer: “Minha senhora, não chore porque as lágrimas vão inundar a casa.”»
Ricardo Araújo Pereira, Humorista e cronista
«Nunca o permitirei, fica já aqui declarado. Nunca aceitarei este acordo. Óptimo sem “pê” não existe.»
Fausto, Cantor e compositor
«Todos se lembrarão que o dito foi imposto por decreto e depois à martelada […]. A caixa de Pandora foi aberta, para não dizer escancarada, e até os então mais ferozes defensores de Acordo Ortográfico refreiam os seus ímpetos inebriantes de modernidade contra o espartilho da ortografia. Os rodapés das televisões, os jornais, a publicidade, as páginas online, e até os livros tornaram-se uma floresta de horrores […]. Não seria com certeza preciso ser filólogo, bastaria uma réstia de bom senso, para se prever que decidir decapitar todas as consoantes mudas salvo o “h”, entregando em muitos casos a grafia à vontade do freguês, […] acabaria numa degola infernal, letras a rolar como cabeças no cadafalso […].»
Ana Cristina Leonardo, Tradutora, crítica literária e cronista
Continuando a mostrar o estado calamitoso a que chegou a ortografia, vejamos o que foi respigado numa breve incursão por alguns órgãos de comunicação social:
1 - “Eduardo Mauricio [sic] salientou que foram registadas, no processo de extradição, “diversas ofensas às garantias processuais, sobretudo ao devido processo legal, ampla defesa, contraditório, busca da verdade real dos fatos e descumprimento da Lei”, tendo o seu cliente sido “julgado e condenado no Egito à revelia e sem nunca ter sido notificado formalmente de nenhum ato processual”. Expresso, 28-06-2024. (O Egipto a quem decapitaram o pê, o que já levou à criação do aberrante termo egício, o ato, que parece uma forma do verbo atar e a cereja no cimo do bolo, os omnipresentes fatos, que, na maior parte das vezes, não servem para vestir, nem para doar a gente carenciada).
2 - “Em 2023, recebemos diversos contatos [sic] e mensagens de moradores com queixas relacionadas com o ruído provocado pelas novas esplanadas, incluindo muitas vezes já depois da sua hora de encerramento, com o aglomerado de pessoas que ali permaneciam até de madrugada, refere, em comunicado, a junta liderada por Madalena Natividade. Um argumento que tanto Ricardo Maneira como Miguel Leal afirmam estar a ouvir pela primeira vez.” Expresso, 27-06-2024. Os omnipresentes contatos, de que dificilmente nos livraremos, numa notícia do jornal Expresso, transcrevendo um comunicado da Junta de Freguesia de Arroios em Lisboa.
3 - “"Hoje, e após uma análise conscienciosa e aprofundada, é forçoso constatar que a ocorrência de um tal jogo na nossa capital, neste período particularmente preocupante, irá provocar incontestavelmente manifestações importantes e contra-manifestações, comprometendo a segurança dos espetadores, dos jogadores, dos habitantes de Bruxelas, mas também das nossas forças policiais", explicou o texto, publicado esta quarta-feira.
Para o jogo contra Israel, estamos em contato constante com os serviços de segurança, o município de Bruxelas e o governo federal. A situação de segurança está analisada e as evoluções são avaliadas atentamente", acrescentou aquele organismo, prometendo "para mais tarde" novas informações. “RTP, 20-06-2024. (O hífen, que, provavelmente, estava em reclusão, aqui a ser encaixado e o mais uma vez omnipresente contato. Além disso, a preocupação com os espetadores, que não deverá ser genuína, pois basta apreender os espetos para que os espectadores se sintam seguros. O que uma simples consoante pode fazer!).
Como vê, caro leitor, nos sítios do costume continuam a usar a ortografia do costume, aquela a que Miguel Esteves Cardoso, amplamente citado no nosso escrito de Junho, chama tortografia. Não será por acaso que o jornalista Pedro Correia afirmou, há dias, no programa “Prova Oral”, de Fernando Alvim, que, sem ferramentas tecnológicas, ninguém sabe usar a nova ortografia. Porque será?
Ah, já passaram mais umas quantas meias horas e o panorama continua igual.
Ah, a coerência ortográfica dos apoiantes e dos utilizadores da nova ortografia continua desaparecida.
Ah, a SIC, entre outros, vai tendo umas saudáveis recaídas.
João Esperança Barroca
Perguntou-me Fernando Coelho Kvistgaard.
Pois é!
E isto saiu na RTP, estação de televisão estatal.
Respondi-lhe simplesmente que isto é um abuso do ignorante de serviço.
Mas mais abusados e ignorantes são os directores de programação.
E viva a ESTUPIDEZ linguística em Portugal!
Uma geladeira, em Português, é um tanque utilizado nas fábricas de gelo para congelar a água.
No BRASIL é um eleCtrodoméstico que, em Português, se designa como FRIGORÍFICO.
Mas Fernando Coelho Kvistgaard, apresentou-me uma outra perplexidade:
«Outro caso que desejo apresentar-lhe é a palavra "câmeras" que, segundo parece, é termo brasileiro – a RTP deve estar cheia de brasileiros –, a meu ver, e tanto quanto sei, chama-se câmaras.»
Exactamente, Fernando. Em Portugal o vocábulo câmara, que é o que usamos, deriva do Latim camara, originário do grego Κάμερα. Portanto, camêras é um vocábulo usado exclusivamente no Brasil, porque em Portugal caiu em desuso, há muito, muito tempo. Em Portugal houve uma evolução da Língua, mas esta regressou a um nível básico, depois do aparecimento do ignorantíssimo AO90.
Na verdade, a RTP está apostada no brasileiro, e deve ter muitos brasileiros ao seu serviço. Se não tem, parece. Temos de contrariar esta tendência, se quisermos salvar a nossa Língua.
A sua perplexidade, diante da linguagem agora adoptada em Portugal, é a perplexidade de muitos outros portugueses que se encontram fora do País, e, obviamente, o governo português e o presidente da República, que poderiam resolver isto de uma penada, estão a contribuir vergonhosamente, talvez até intencionalmente, para o caos ortográfico, também entre as comunidades portuguesas na diáspora, e isto devia ser tratado como um crime de lesa-pátria.
Mas a perplexidade de Fernando Coelho Kvistgaard vai mais além dos brasileirismos que por aí circulam de má-fé, pois Portugal NÃO é o Brasil, para que se ande por aí a brasileirar, como se estivessem no Brasil, e isto configura uma falta de respeito pelo Estado Português e pela sua Língua Oficial, e pelos próprios Portugueses.
Fernando diz mais:
«Agora, no que respeita a vêem, vêm e veem, quanto mais leio mais fico confundido. Do verbo ver, a terceira pessoa do plural do presente do indicativo é: vêem ou veem? O AO90 até nisto se meteu. Nunca em nenhum país se maltratou tanto uma língua nacional, ao ponto em eu próprio ficar com dúvidas sobre palavras que não conheço por lhe faltarem as letras que retiraram. Nós, adultos, não soletramos as palavras, pelo menos, no que me diz respeito, leio uma palavra como um símbolo/bloco que se refere a qualquer coisa: um objecto ou qualquer outra coisa. Quando leio "ator" paro, espanto-me, e desconheço a palavra. Nem já gosto de ler livros em Português.»
Fiquei bastante triste quando li «Nem já gosto de ler livros em Português». Se sabemos outras Línguas, na verdade, é melhor ler os nossos autores traduzidos para as Línguas estrangeiras que conhecemos. Eu ainda gosto de ler em Português correCto. Os bons autores portugueses NÃO se renderam ao AO90, nem e à linguagem amixordizada. Mas já não gosto de ir às feiras do livro, porque já não vale a pena: más traduções, maus livros escritos em mau Português, de autores que não interessam para nada.
Quanto ao vêem, vêm e veem, temos o seguinte: as palavras vêem e vêm estão correCtamente escritas. A palavrinha veem dá erro ortográfico, nos correctores ortográficos de Língua Portuguesa, que tenho inseridos no meu computador. E, na verdade, é algo que, em Português é erro ortográfico. A supressão do acento circunflexo foi uma palermice trazida pelo AO90.
Não desista de ler em Bom Português, Fernando, porque os nossos BONS Autores escrevem correCtamente.
***
Vou terminar com uma imagem, também da RTP, que demonstra a ignorância dos ignorantes que a RTP põe ao serviço desta estação de televisão estatal:
Isabel A. Ferreira
«O novo acordo ortográfico representa o mais profundo desrespeito pela nossa língua. As alterações ortográficas implicam necessariamente alterações fonéticas. É impossível ler espectador se escrevermos “espetador”, pois a consoante obriga a abrir a vogal. Espetador é o que espeta, ao passo que espectador é quem especta. O património linguístico é um tema demasiado sério para ser alvo de experiências mal consolidadas. Os demais países de língua oficial portuguesa, e bem, continuam a usar as suas antigas grafias. Portugal, que deveria ser o garante e a reserva da preservação deste valiosíssimo património, foi a parte mais fraca de todos os países lusófonos. É natural que cada país tenha as suas diferenças, isso só valoriza a nossa língua, e não deve obrigar a uma unificação assente em pressupostos questionáveis. Estou do lado de Vasco Graça Moura ou de Pacheco Pereira. Sei que, infelizmente, dentro de algumas gerações, a língua portuguesa ficará definitivamente deformada em tantos dos seus vocábulos, porque a Escola passou a ensinar o novo acordo. Custa-me muito ver os meus filhos, sem culpa alguma, escreverem palavras decepadas e sem relação orgânica com os seus significados. É uma pena o que fizeram com a língua portuguesa. Mas enquanto for vivo escreverei correctamente.»
Bruno Ferreira, Imitador de vozes, actor e locutor
«A verdade é que toda a imprensa e jornalistas em geral, que sempre tiveram a possibilidade de denunciar o Aborto Ortográfico, foram os primeiros a adoptá-lo! E agora o que se vê, diariamente, e em todos os meios? Erros de palmatória provocados pela natural confusão que o AO trouxe. E vai continuar a trazer. Uma língua em terra de ninguém…»
Rui Veloso, Músico e compositor
«Querem unificar o quê? A língua evoluiu de modo diferente em Portugal - falada por todos e escrita, há séculos - e no Brasil, língua oficial desde 1758, país gigantesco, com população diversa, e com cerca de 210 idiomas ainda falados no país. Querem unificar o quê? Ou querem mesmo destruir a nossa língua, que aqui nasceu e espalhámos pelo mundo?! Vergonha!»
Maria José Abranches, professora reformada no Blogue O Lugar da Língua Portuguesa, 27-02-2024
A habitual incursão em alguns órgãos da comunicação social que realizamos regularmente continua a demonstrar que o AO90 contribuiu (e continua a contribuir), como muito bem o expressa Rui Veloso, para o caos ortográfico que nos assola. Assim, na última revoada, vieram na rede algumas formas assaz curiosas:
(É sobremaneira curioso que o mesmo arrazoado seja grafado em duplicado em duas notícias diferentes).
(O omnipresente fato que não é de vestir. Este tem desigualdades. Deve ser defeito do tecido).
(Antes do AO90, escrevia-se, indubitavelmente, nas escolas e por todo o lado, contactos directos; agora, é como calha. Contactos diretos, pelos que sabem aplicar o AO90; contactos directos pelos que rejeitam o AO90; contatos diretos, por aqueles que pensam que sabem aplicar o AO90; e contatos directos, pelos adeptos do AO90 em fatias. Alguém ouviu falar em unificação? E em simplificação?)
(Escrever à bruta deve ser isto).
Pois é, caro leitor, é este o estado a que isto chegou, como diria Salgueiro Maia.
Ah, felizmente, o Correio da Manhã, às vezes, vai tendo umas saudáveis recaídas.
Ah, quem se disponibiliza para ensinar que 25 de Abril se escreve com maiúscula? Sempre!
Ah, alguém pode avisar o senhor da meia hora de que houve ali um pequeno erro de cálculo?
João Esperança Barroca
«Custa ver Angola mais sensata do que Portugal num caso como o Acordo Ortográfico. Muito pouca gente quis este acordo. Na verdade, quem quis este acordo foram duas classes profissionais portuguesas que agiram por interesse próprio: a classe dos editores, que maravilha ter que [sic] substituir os dicionários e os livros escolares todos, e meia dúzia de académicos que tiveram aquele sonho clássico do intelectual, que é legislar.»
Pedro Mexia, Escritor e crítico literário
«Na história da nossa democracia, não há procedimento tão absurdo e tão próprio de um poder totalitário como este. Assistimos desde o início a manobras visando calar toda a contestação, mesmo a de um órgão de aconselhamento do Governo em matéria de língua, a Comissão Nacional de Língua Portuguesa, coordenada então pelo Professor Vítor Manuel Aguiar e Silva que, por ter elaborado um parecer bastante crítico do anteprojecto de 1988, foi impedido de ter acesso ao texto do AO assinado em 1990.»
António Guerreiro, Cronista e crítico literário
«Há-de haver um português de Angola, de Moçambique, de São Tomé, etc. Isso é uma forma de riqueza prodigiosa, não há que ter receio disso. Logo, é uma patetice completa este Acordo Ortográfico de 1990 e, mais, uma vigarice, porque não há unificação possível da língua. O que quiseram fazer foi uma mera unificação da ortografia e, mesmo para isso, foram agredir barbaramente a etimologia das palavras. Este acordo cheio de excepções é, portanto, mentiroso, criminoso, completamente inútil e, a meu ver, ilegal. Não percebo esta obstinação e precipitação de Portugal. Nós sujeitamo-nos à vergonha de Angola não aceitar o acordo porque tem demasiado respeito pela língua. E nós merecemos essaeugénio lisboa, bofetada.»
Eugénio Lisboa, Escritor e crítico literário
«Comparadas com as diferenças lexicais e sintácticas entre o português europeu e o brasileiro, as diferenças ortográficas são nada. Daí a inutilidade e a estultícia do Acordo Ortográfico de 1990.»
Helder Guégués, Tradutor, revisor e autor, no blogue O Linguagista, em 14-03-2024
«Contrariamente ao muito que se diz por aí, as alterações que vão ser introduzidas são muito poucas e julgo que basta uma meia hora para os professores aprenderem as novas regras. E depois é aplicá-las.»
Paulo Feytor Pinto, presidente da Associação de Professores de Português (APP), em 2-09-2009, “Diário Digital”
Como tem vindo a ser habitual, nalguns dos anteriores escritos, a par de citações de personalidades ligadas à língua, damos a conhecer exemplos do que consideramos ser o caos ortográfico decorrente da aplicação do AO90. Uma breve investida por apenas dois órgãos da Comunicação Social trouxe na rede o que se segue:
1 - «As emissões de dívida obrigacionista continuam a beneficiar de um duplo contexto favorável: “As expetativas de que o Banco Central Europeu vá iniciar o ciclo de descida de taxas de juro em junho, aliado ao fato de Portugal ter visto revisões em alta, quer do seu rating quer das perspetivas para a sua economia, têm levado a uma ligeira descida dos prémios de risco nacional”, refere Filipe Silva, Diretor de Investimentos do Banco Carregosa.
Recorde-se que a notação da dívida faz, agora, o pleno das cinco principais agências de rating, no escalão A, mais favorável à ampliação dos investidores interessados na dívida portuguesa, e que as contas nacionais registaram um excedente de 1,2% do PIB, o maior desde o 25 de abril, e o segundo superávite alcançado pelos governos de António Costa.» Expresso, 10-04-2024.
Dando de barato a questão da dupla grafia de expectativa, chamamos a atenção do leitor para a profecia de Pedro Santana Lopes de que “facto é agora igual a fato”, como nos lembra, mais uma vez o jornal Expresso. Acrescente-se que o AO90, que tinha o objectivo de unificar a língua, veio dar-nos a obrigação de utilizarmos a forma abstrusa perspetiva, enquanto um brasileiro continuará a usar perspectiva. Unificação foi o que disseram? Além disso, à imagem de muitos outros, o Expresso e até as escolas (como se vê numa das imagens, retirada da página de Facebook dos Tradutores contra o Acordo Orográfico) parecem continuar a escrever sempre com minúscula os nomes dos meses, sem terem em conta o que estipula o AO90 no que se refere às efemérides. Chama-se aplicação fatiada!
2 - «Para os empresários, contactados pelo Expresso, estar presente no MIPIM é uma oportunidade única para estabelecer contatos, trocar ideias e explorar oportunidades de negócio e, por isso, um conjunto cada vez mais alargado de empresas nacionais repete, ano após ano, a sua presença no evento.
O sentimento partilhado é que [sic] os resultados dos contactos realizados na feira têm sobretudo efeitos no médio prazo, resultando daí a concretização de negócios e estabelecimento de parcerias com investidores.» Expresso, 18-03-2024.
Já cá faltava o omnipresente contato, acompanhado três linhas abaixo pela forma correcta contactos. Confuso? Ná, parece um texto escrito com os pés, em que a opção ortográfica é como calha.
3 - «Na carta, mostra-se solidária e até preocupada com os polícias portugueses e acrescenta ainda que vai apoiar os polícias e usar a rede de contatos que têm na Europa para lhes dar uma voz mais forte.» RTP, 19-02-2024.
Para não ficar atrás, também a RTP, qual Pai Natal, nos presenteia com este exemplo da mixórdia ortotrágica (como lhe chama Clara Ferreira Alves) que por aí vai circulando e da qual parece ser difícil livrarmo-nos de vez.
Ah, no novo governo há, pelo menos, três ministros que, no passado, tomaram posição clara na oposição ao AO90. São eles: Nuno Melo, Ministro da Defesa, Paulo Rangel, Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, e Dalila Rodrigues, Ministra da Cultura.
Ah, felizmente, quer o jornal A Bola, quer o canal SIC, às vezes, vão tendo umas saudáveis recaídas.
Ah, será que ainda faltam muitas meias horas?
João Esperança Barroca
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