Terça-feira, 24 de Agosto de 2021

Reduzir a língua escrita ao modo de dizer, não tendo em conta a etimologia das palavras, é um acto de incultura

 

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A legenda desta imagem (retirada do documentário “Primeiras Civilizações”, na RTP 1) lê-se do seguinte modo, de acordo com as regras gramaticais da Língua Portuguesa: «u fâtôr âtrâtivo érâ u âspêto sucial».

 

Se alguém for capaz de me demonstrar, através de argumentos relacionados com as Ciências da Linguagem ou com a Evolução da Língua que as palavras a negrito têm alguma relação com a cultura linguística portuguesa, eu atiro a toalha ao chão, [não esquecer que passámos de ella para ela, porque a supressão de um dos L não mudava a pronúncia, nem o sentido do vocábulo, e isto é que se encaixa na linha evolutiva da Língua].

 

Aqui há tempos, perguntei a um determinado líder político, qual a posição do seu Partido acerca do AO90.

 

A resposta veio assim, via e-mail: “Eu, pessoalmente, escrevo e continuarei a escrever como sempre escrevi, mas o Partido, constituído maioritariamente por gente mais jovem, entende que a língua é um organismo vivo em evolução, portanto, estando o AO90 nessa linha evolutiva, optaram por aplicá-lo».

 

Esta seria a resposta perfeita, se o AO90 tivesse alguma coisa (ainda que muito remotamente) a ver com a linha evolutiva da Língua. Que é um organismo vivo, é verdade. Mas que retroceda de Língua para Variante dela própria, já nada tem a ver com vida ou com evolução, mas somente com um retrocesso assente numa espantosa ignorância.

 

Acontece que o AO90 nada tem a ver, nem de perto nem de longe, nem pouco mais ou menos, com evolução alguma. Muito menos da Língua.

 

E porquê?

 

Simplesmente porque o AO90 não foi engendrado a partir de motivações evolucionistas da Língua, ou assente nas Ciências da Linguagem, mas tão-só em interesses económicos de uns tantos editores/livreiros brasileiros e portugueses (reparem que eu não incluo aqui os africanos de expressão portuguesa, porque esses não foram para ali chamados) e, por arrasto (porque nestas coisas de interesses económicos sempre se vai por arrasto), de uns tantos políticos portugueses que, sem o menor pejo, patriotismo ou sentido de Estado, decidiram vender a Língua Portuguesa, culta e europeia (é bom referir este pormenor) ao Brasil e impor ilegalmente, vergonhosamente, impatrioticamente, a ortografia de 1943, adoptada unilateralmente pelo Brasil, e adaptada em 1990, à qual retiram uns acentos e uns hífenes , e chamaram-lhe Acordo Ortográfico de 1990,  algo tirado, à força, da ignorância mais profunda sobre a Língua Portuguesa, um dos maiores símbolos da Identidade de Portugal, aquele que exprime o ser e o sentir de todo um povo, porque sem a Língua, expressão oral e escrita, como saberíamos dos feitos tão excelentemente cantados por Luís Vaz de Camões?

 

A Língua de um povo diz da dignidade desse povo. Não pode ser o simples linguajar que os iletrados utilizam para se comunicarem entre si.

 

Quis o destino que Portugal, por ser um pequeno país, entalado entre o Oceano Atlântico e a gigantesca Espanha, ousasse rasgar as águas desse mar, em busca de outros mundos, para poder sobreviver.

 

Quis igualmente o destino que os Portugueses fossem um povo destemido e dotado para as marinhagens, e que «navegando mares nunca dantes navegados», de légua em légua, foram descobrindo terras, nelas se fixando e deixando a “marca” de Portugal.

 

Não caberá aqui discutir o mérito ou o demérito da colonização portuguesa, que não foi nem pior nem melhor do que a dos outros povos colonizadores.

 

Chegados aqui, falemos da Língua que deixámos aos povos que foram sendo colonizados, e que, no caso do Brasil (o grande responsável pela disseminação do mau Português, perdoem-me os meus quase compatriotas brasileiros, mas isto é um facto) foram primeiramente os indígenas (os mais genuínos daqueles que vieram a denominar-se brasileiros), e depois os colonos portugueses e de muitas outras origens, que foram assentando arraiais no gigantesco território que os Portugueses conseguiram tornar seu.

 

Até 1822, o Brasil (achado em 1500) existiu sob o “domínio português”. Mas depois desta data, já com brasileiros de terceira geração, libertaram-se desse domínio, e o que os recém-libertos fizeram com essa liberdade, também não é agora para aqui chamado.

 

O que é para aqui chamado é que esses brasileiros, por vontade própria, adoptaram a Língua Portuguesa como língua oficial (e poderiam ter escolhido qualquer uma das muitas línguas indígenas que então existiam) a qual foi sendo enriquecida pelo léxico autóctone e dos vários povos que no Brasil se foram fixando, incluindo o riquíssimo léxico africano, levado pelos escravos.

 

E isso foi muito bom para a Língua Portuguesa.

 

O que não foi bom foi o facto de, a dada altura, os políticos marxistas brasileiros, avessos ao colonialismo (como se pudessem mudar a História) para baixarem o elevado índice de analfabetismo,  decidirem simplificar e deslusitanizar arbitrariamente, a língua escrita, retirando-lhe as consoantes mudas, sem terem a mínima noção de que, ao fazerem-no, estavam pura e simplesmente a mutilar a língua, introduzindo palavras que antes tinham nexo e, bruscamente, por mera vontade política, deixaram de não ter sentido, nem origem, nem história, e transformaram-se em erros ortográficos (e passo por cima dos outros erros, incluindo os da concordância, espelhados também na linguagem oral). 

 

Além desta mutilação, castelhanizaram, italianizaram, americanizaram, afrancesaram a Língua Portuguesa, de tal forma que ela deixou de ser portuguesa e passou a ser uma mescla de várias línguas, algumas delas traduzidas à letra (e disto há inúmeros exemplos que ando a catalogar).

 

E são precisamente essas palavras mutiladas e mescladas, sem qualquer motivação científica ou evolucionista, que os políticos portugueses impatriotas e completamente desinformados (se é que me entendem) impingiram aos portugueses mais servilistas e acríticos, porque sim, por teimosia, por ignorância, por meros interesses económicos, por conveniências políticas obscuras.

 

Concluindo: não existe, nem pode coexistir um Português de Portugal e um Português do Brasil.

 

O Português é Português em qualquer país lusófono. Ponto final.

 

Dentre os oito países que fazem parte da Lusofonia (Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Cabo Verde e Timor) apenas o Brasil desvirtuou a Língua Portuguesa, e não foi por motivos evolucionistas, como já referi.

 

O Português, dito do Brasil, não é mais do que uma Variante do Português, na sua versão mais pobre, ortograficamente falando, porque desenraizada da sua matriz culta greco-latina. Mas não só.  Também na Fonética/Fonologia, no Léxico, na Morfologia, na Sintaxe, na Semântica, a Língua que se fala e escreve no Brasil já é outra Língua - uma Variante da Língua Portuguesa.

 

Não existe um Português de Angola, ou de Moçambique ou de Cabo Verde, ou da Guiné, ou de São Tomé e Príncipe, ou de Timor.

 

O que há é muitos modos de dizer. A expressão oral pode variar até de cidade para cidade, dentro de um mesmo país. Mas não a escrita. A escrita é a portuguesa.

 

Os Brasileiros até podem dizer “mulé”, “muié”, “mulherrr”, mas se escreverem mulher, escrevem correCtamente.

 

Não critico o modo de falar de nenhum povo, se bem que falar bem não fica mal a ninguém.

 

Reduzir a língua escrita ao modo de dizer, não tendo em conta a etimologia das palavras, é um acto de incultura.

 

É triste, muito triste, vermos a nossa bela Língua Portuguesa escrita por aí, em documentos oficiais, nas televisões (as maiores divulgadoras da Língua deturpada), em jornais e revistas (salvo raras excepções), em  livros de (alguns) escritores menores, com a puerilidade de uma criança que acaba de se sentar nos bancos da escola primária, para aprender as primeiras letras, e junta-as conforme as ouve:

 

«Çaberão vóçax eisçelênciax u tamanhu da inurmidade da vóça falta de cunheçimentu da língua purtugeza [aqui o U não se lê, daí ser purtugeza, à moda acordista]?»

 

Tenham vergonha na cara, tenham dignidade, tenham a hombridade e a coragem de restituir a Portugal a ortografia portuguesa. Poderemos não ser milhões, mas somos milhares, e não nos embaraça nada ser uma das línguas minoritárias da Europa. Atrás do Português estão o Finlandês, o Dinamarquês, o Sueco. E estes três povos sofrem de algum complexo de inferioridade por causa disso? Obviamente que NÃO. Os Portugueses também NÃO!



Apenas os políticos portugueses e os seus servis seguidores, sofrendo desse complexo, arrastam-se atrás dos milhões, ainda que façam figura de parvos, e sejam gozados, por isso, em toda a parte.

 

Isabel A. Ferreira

***

 

Nota marginal:

 

Crítica de Pedro Luís Azevedo a este texto no Grupo «Em ACção contra o Acordo Ortográfico»

 

Discordo absolutamente da opinião da autora sobre um suposto abastardamento linguístico da nossa língua comum pela variante brasileira face à geratriz portuguesa.

Ambas têm rigorosamente a mesma valia. Há muitas palavras que, não fosse o Brasil, teriam desaparecido da língua viva portuguesa.

E muito mais.

E acho um erro crasso criar divisionismos artificiais na luta contra o "A"O90, até porque muitos expoentes da cultura brasileira rejeitam igualmente o aborto ortográfico.

 

Defesa do texto pela autora Isabel A. Ferreira

 

Pedro Luís Azevedo o senhor tem toda a liberdade de discordar da autora do texto.

Eu, pela minha parte, concordo com o senhor: a Língua Portuguesa e a Variante Brasileira da Língua Portuguesa têm, de facto, a MESMA VALIA: a Variante Brasileira da Língua Portuguesa tem valia no Brasil; a Língua Portuguesa tem valia em Portugal e nos países lusófonos que não aderiram ao AO90, assente na ortografia brasileira de 1943.

Aqui não se trata de criar divisionismos. Aqui há que defender a Língua Portuguesa, de Portugal, e a Variante Brasileira, do Brasil, que é o que fazem os expoentes da Cultura Brasileira, que MUITO prezo, porque no Brasil o aborto ortográfico limita-se aos acentos, nomeadamente ao trema, e hífenes, cuja supressão criou palavras HORROROSAS. Em Portugal são os acentos, os hífenes e a GRAFIA (que no Brasil ficou impoluta, e em Portugal foi mutilada, nada tendo a ver com a nossa Cultura linguística greco-latina.)

Quanto às muitas palavras que, não fosse o Brasil, teriam desaparecido da Língua viva portuguesa, há muitas, muitas outras que foram americanizadas, afrancesadas, italianizadas, castelhanizadas e deixaram de ser portuguesas. Certo?

Nada contra a Variante Brasileira. Tudo contra a imposição da Variante Brasileira aos Portugueses. E é isto que aqui está em causa.

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 18:55

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Terça-feira, 18 de Maio de 2021

«“Como num programa de televisão se demonstrou que o Acordo Ortográfico não era necessário” (Maria do Carmo Vieira, PÚBLICO, 11.05.2021)»

 

Ainda no rescaldo do dia 5 de Maio, o “Dia Mundial da Língua Portuguesa”, que, de acordo com Rui Valente, «sabemos que é uma campanha publicitária em torno de tudo o que não interessa na Língua: os “milhões de falantes”, o “valor estratégico da Língua”, a “unidade” em torno do “Acordo Ortográfico», reflictamos nas palavras que a Professora Maria do Carmo Vieira escreveu, neste texto que hoje aqui reproduzo, e que é um verdadeiro monumento à lucidez e ao saber, algo que falta aos políticos portugueses, que mantêm a Língua Portuguesa cativa da estultícia que a esmaga.

(Os excertos a negrito são da minha responsabilidade)

Isabel A. Ferreira

 

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Por Maria do Carmo Vieira

 

«Como num programa de televisão se demonstrou que o Acordo Ortográfico não era necessário»

 

Não pedimos, não queremos e não precisamos do Acordo Ortográfico.
António Emiliano, Apologia do Desacordo Ortográfico, 2010 

 

A ortografia é um fenómeno da cultura, e, portanto, um fenómeno espiritual. O Estado nada tem com o espírito. O Estado não tem direito a compelir-me, em matéria estranha ao Estado, a escrever numa ortografia que repugno (…).


Fernando Pessoa, A Língua Portuguesa, edição Luísa Medeiros, 1997
 edição Luísa Medeiros, 1997

 

O programa “É ou Não É?”, de dia 4 de Maio p.p., na RTP 1, moderado pelo jornalista Carlos Daniel, elucida flagrantemente as epígrafes escolhidas. Aliás, o que li e ouvi, em relação a intervenções, sobretudo no dia 5 de Maio, juntando os gurus oficiais do momento festivo, constitui um manancial de matéria que expõe, sem pejo, contradições, servilismo, arrogância intelectual, culto da ignorância, e porque não dizê-lo, estupidez, implicando lamentavelmente a Língua Portuguesa e a vil roupagem com que a mascararam, ridicularizando-a. Os versos do poeta Luís de Camões, que Augusto Santos Silva não aceita como figura para identificar e representar a Língua Portuguesa, traduzem bem a “surdez” e o “endurecimento” de uma “pátria” que não louva e favorece “o engenho”, mas “que está metida/ no gosto da cobiça e na rudeza/ de uma austera, apagada e vil tristeza” (Canto X de Os Lusíadas). Uma consciência reiterada, ao longo dos séculos, por muitos outros escritores e poetas – António Ferreira, Francisco Rodrigues Lobo, Francisco Manuel de Melo, António Vieira, Fernando Pessoa, Sophia de Mello Breyner Andresen, Vasco Graça Moura…    

 

Se dúvidas houvesse sobre o facto de os cidadãos não encontrarem razão para o Acordo Ortográfico (AO) que foi decretado à sua revelia e, no caso português, contra todos os pareceres solicitados pelo Instituto Camões e estrategicamente escondidos do público, o programa da RTP 1, acima referido, demonstrou-o ao vivo: um moçambicano (Stewart Sukuma), um brasileiro (Arthur Dapieve) e um português (António Zambujo). Nenhum deles pensou alguma vez que esse acordo pudesse vir a acontecer, nem vislumbrou qualquer vantagem daí adveniente, muito pelo contrário. Eis as suas palavras:

 

Stewart Sukuma – “O Acordo Ortográfico foi mais usado a nível político e económico, mais do que a nível cultural. Os artistas acham mais piada continuar a cantar no seu português criado por via destes casamentos todos que existem. (…) é isto que faz a língua mais bonita. Pelo que sei, Moçambique nunca seguiu à risca o AO. (…) Não sentimos o Acordo em Moçambique”;

 

Arthur Dapieve – “Esse Acordo Ortográfico nasceu um pouco de uma tentativa de uma certa utopia de que se a gente escrevesse tudo exactamente da mesma maneira, nós nos tornaríamos mais próximos. Nesse sentido, ele fracassou. A riqueza da língua portuguesa é a variedade de falares. Não era necessário.;

 

António Zambujo – “Exactamente o que ele disse. Subscrevo o que disse o Arthur. Não era necessário.” Naturalmente, não incluí, neste painel a três, os convidados que, directa ou indirectamente, representavam uma posição acordista ou não-acordista.

 

Situação confrangedora, e que elucidou igualmente em flagrante o porquê do caos linguístico instalado na escola e na sociedade portuguesas, após a imposição do AO, foi a da jornalista, professora e escritora Isabela Figueiredo. Efectivamente, ao afirmar, com uma surpreendente leveza, que usava uma “ortografia mista”, escrevendo à sua maneira (omissão das consoantes mudas, mas manutenção dos acentos) e deixando aos revisores a tarefa da uniformização, Isabela Figueiredo apontou a razão do caos que grassa na sociedade portuguesa, com cada um escrevendo à sua maneira; fez também, e infantilmente, papel de ignorante porque não se acredita que desconheça o carácter normativo da ortografia, que a sua “ortografia mista” põe em causa, bem como a estabilidade que aquela exige. Do alto do pedestal instável em que se posicionou, ao longo do debate, confessou ainda Isabela Figueiredo, com a mesma euforia e no final do debate: “Sempre senti ao longo da minha vida de estudante a necessidade de eliminar as consoantes mudas e o acordo ortográfico veio satisfazer este meu grande desejo de as assassinar, de as fazer desaparecer.”

 

Não justificou, porém, o porquê dessa sanha às ditas consoantes mudas, mas acreditamos que a causa esteja no facto de ter tido a pouca sorte de professor algum lhe explicar o significado e a função das referidas consoantes ou, facto menos aceitável, o de ela própria, sendo já estudante universitária, nunca ter tido essa curiosidade. E assim terá continuado a não compreender o porquê das consoantes mudas e a reprimir o intenso desejo de as “assassinar”, até que veio o desejado AO, tal D. Sebastião, resolver-lhe o problema, satisfazendo-lhe simultaneamente a liberdade de uma “ortografia mista” que, por coerência, permitirá certamente também aos seus alunos. Aliás, a sua resposta à pergunta do moderador, sobre “O que é que se ganhou com o AO?”, traduz uma total ausência de reflexão sobre o tema: “Eu… eu… sabe uma coisa, isto não me apaixona”, incapaz de apontar um único ganho que fosse, excepção feita ao “assassínio” das consoantes mudas que doentiamente a perseguiam, as mesmas consoantes que etimologicamente contam a história da palavra, a sua vertente cultural, o que levou Fernando Pessoa/Bernardo Soares, de forma tão expressiva, a escrever “A ortografia também é gente”. No mesmo sentido da pouca preocupação com o estudo, neste caso da Gramática, está a repetição que Isabela Figueiredo fez, por duas vezes, de “acórdos”, em lugar de “acôrdos”: “Os “acórdos” têm sempre cedências, há cedências nos “acórdos”. Por arrastamento, ou não, o ministro Augusto Santos Silva foi pelo mesmo caminho, ao afirmar: “Somos conhecidos por cumprir os “acórdos” que fazemos”. Não é prestigiante para a Língua Portuguesa!...

 

Há momentos em que o poder, seja ele qual for, se trai e isso aconteceu com o ministro Augusto Santos Silva quando afirmou, depois de referir que até 1990 a língua portuguesa tinha sido um condomínio luso-brasileiro: “Do ponto de vista de um Ministro dos Negócios Estrangeiros que é o único em que sou competente, enfim, modestamente, mediocremente, mas… competente porque para isso fui nomeado (…)” (2.ª parte do debate). Eis, na verdade o advérbio (“mediocremente”) que se adequa à actuação do poder político (PSD e PS, sobretudo) relativamente ao desenvolvimento do processo do Acordo Ortográfico e da sua violenta implementação, ao arrepio da vontade dos portugueses e de todos os pareceres solicitados.

 

Não pode Augusto Santos Silva negar que foi o Brasil, através do seu presidente José Sarney, e não Portugal e os países Africanos de língua oficial portuguesa, quem quis concretizar um Acordo Ortográfico, promovendo um encontro entre os todos os países de língua oficial-portuguesa, em 1986, no Rio de Janeiro, acordo esse que foi amplamente contestado, não indo avante. Lembrar-se-ão da surreal ideia de acabar com a acentuação nas palavras esdrúxulas, entre outras aberrações, a maioria das quais transitou, como sabemos, para o AO. Nem em 1986 nem em 1990, os países Africanos estiveram verdadeiramente envolvidos nesta negociata, tanto mais que inteligentemente compreenderam que tinham problemas mais prementes a resolver e que o AO, que nem sequer haviam pedido, só iria desencadear gastos desnecessários, gastos que até agora nunca foram contabilizados e revelados, em Portugal! A verdade é que Brasil e Portugal, em “condomínio fechado”, mexeram os cordelinhos para impor o famigerado AO, encenando de contínuo a impensável e absurda “unidade ortográfica”. Os truques que fabricaram estão à vista:

 

. O Tratado Internacional de que Augusto Santos Silva se orgulha de saber cumprir, foi defraudado nos seus termos, porquanto expressava que o Acordo Ortográfico entraria em vigor no dia 1 de Janeiro de 1994 após “depositados todos os instrumentos de ratificação de todos os Estados junto do Governo português”;

 

. Não se tendo cumprido o disposto no Tratado Internacional, realizou-se novo encontro entre os 7 países, em 1998, na cidade da Praia (Cabo Verde), assinando-se o Protocolo Modificativo do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Nele se anulava a data de entrada em vigor (1 de Janeiro de 1994), mantendo-se a obrigatoriedade de todos os países da CPLP ratificarem as normas do AO para que este entrasse em vigor.

 

. Brasil e Portugal, sobretudo o Brasil, exasperados com a falta de cumprimento do exigido no Tratado Internacional, promoveram uma reunião, em 2004, em Fortaleza (Brasil), com os restantes países da CPLP, onde foi forjada a aprovação de um Segundo Protocolo Modificativo que adulterava os termos do Tratado Internacional. Da exigência de os sete países da CPLP ratificarem o AO, passou-se apenas para três. Neste ano, Timor passou a integrar a CPLP.

 

. Em 2006, o AO entra em vigor com a ratificação de apenas três países: Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.

 

Convenhamos que a matreirice (e ficamo-nos por este vocábulo) resulta normalmente em êxito. Destes truques subterrâneos não falou Augusto Santos Silva, focando apenas, para os incautos, a fidelidade de Portugal a um Tratado Internacional que, afinal, não foi cumprido nos seus termos. Neste momento, Angola e Moçambique ainda não ratificaram o AO e Guiné-Bissau e Timor-Leste, se acaso o ratificaram, não o aplicam. Por isso mesmo, Augusto Santos Silva foi parco em informação, ao referir que “o Acordo Ortográfico está em vigor porque há 4 Estados que terminaram o seu processo de ratificação”, não tendo esclarecido os seus nomes, muito menos abordado o truque que veio adulterar os termos do Tratado Internacional e que suscitou o aparecimento de uma Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico, entregue em Abril de 2019, com mais de 20.000 assinaturas e cujo tortuoso processo, na Assembleia da República, põe a nu a mediocridade da maioria dos deputados, a sua falta de Cultura e a sua falta de respeito pelos cidadãos e pela Democracia.

 

Regozijo-me pelo facto de Augusto Santos Silva ter compreendido finalmente que há várias lusofonias e que os portugueses também são donos da sua língua. Quanto ao verso escolhido – Sê plural como o Universo – de Alberto Caeiro, ele só se pode ajustar à Língua Portuguesa e à diversidade de variantes, se o famigerado Acordo Ortográfico não estiver implicado.

 

E a terminar, não poderia deixar de felicitar o jornalista Nuno Pacheco pela sua firme, fundamentada e inteligente argumentação (a que outros chamam “paixão”), que aliás não foi rebatida por Isabela Figueiredo e Augusto Santos Silva, ou seja, por quem aceita acriticamente este Acordo Ortográfico e silencia ou menospreza aspectos, no mínimo, controversos, do seu processo.

 

Professora

 

Nota 1: Transcrição integral de artigo publicado no jornal PÚBLICO  na edição de terça-feira, 11 de Maio de 2021.

Nota 2: Já sabemos que o “Dia Mundial da Língua Portuguesa” é uma campanha publicitária em torno de tudo o que não interessa na Língua: os “milhões de falantes”, o “valor estratégico da Língua”, a “unidade” em torno do “Acordo Ortográfico”. Participar nesse evento, nem que seja como espectador, é sempre um exercício penoso, desde logo pelo risco de instrumentalização. Ainda assim, atrevo-me a dizer que as “cerimónias”, este ano, não correram bem. Por um lado, os defensores do AO90 e da estratégia “universalista” apresentaram-se a um nível que raia a indigência, exibindo uma confrangedora penúria de argumentos.

 

Por outro lado, e por reacção, produziram-se bons textos e/ou depoimentos denunciando mais uma vez a “política da Língua” em geral e o Acordo Ortográfico em particular. Este artigo de Maria do Carmo Vieira é disso exemplo, e faz sentido reproduzi-lo nestas páginas, tanto mais que a ILC-AO é citada no texto.

 

Mas vale a pena consultar as restantes intervenções. A maior parte encontra-se já convenientemente compilada (e dissecada) no sítio do costume:

• Debate É ou Não É, na RTP1
• Antena 1 “Espaço das 10:00h
• “Ainda a Língua: uma dimensão universal ou paroquial“, artigo de Nuno Pacheco no PÚBLICO
• “Lusofonia, adeus!“, elucidativo texto de Sérgio Rodrigues no jornal “Folha de São Paulo”
• “O cheiro a consoantes mudas assassinadas pela manhã“, artigo de António Jacinto Pascoal no PÚBLICO de 12 de Maio

Rui Valente 

 

Fonte:

https://ilcao.com/2021/05/16/como-num-programa-de-televisao-se-demonstrou-que-o-acordo-ortografico-nao-era-necessario-maria-do-carmo-vieira-publico-11-05-2021/?fbclid=IwAR0MTZq9ooY7G9DZXnHo2a17eFCA2Pw98sbSmxro12ecSH-i28B66X1UYtY

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:08

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Sábado, 20 de Fevereiro de 2021

Amanhã, o mundo comemora o Dia Internacional da Língua Materna, mas as crianças portuguesas não terão Língua Materna para comemorar, porque a nossa Língua perdeu a sua qualidade de genetriz e já não nos representa

 

O dia 21 de Fevereiro foi declarado o Dia Internacional da Língua Materna pela UNESCO, em 1999.

 

Para quê?

 

Para promover a consciencialização sobre a diversidade linguística e cultural, e o multilinguismo, algo que o AO90 veio esbandalhar.

 

Medíocres no Poder.PNG

 

E porquê Portugal está fora desta comemoração?

 

Simplesmente porque já não tem Língua Materna para comemorar.

 

E porquê não tem Língua Materna para comemorar?

 

Porque um punhado de políticos ignorantes vendeu a Língua Materna dos Portugueses - a Língua Portuguesa - ao Brasil, abrasileirando-a, amixordizando-a, descaracterizando-a, afastando-a da sua família indo-europeia, e a nossa Língua Materna, que identificava o Povo Português, foi simplesmente desprezada, espezinhada, truncada, trocada por uma Variante dela própria.

 

O que se fala e escreve hoje em Portugal, se bem que ainda haja milhares de Portugueses que resistem, já não é a Língua Materna dos Portugueses, mas uma mixórdia inominável, porque nem nome tem, uma vez que nem é português nem brasileiro. É uma mistura empobrecida das duas versões ortográficas, que se estende também à oralidade, à qual, de modo algum, podemos chamar Língua Materna, porque nenhum Português, excePto os mercenários da Língua, que querem acabar (ainda não acabaram) com o NOSSO Português, se revê na mixórdia ortográfica promovida por gente medíocre, da mais medíocre que já tivemos, e que, cegamente, os servilistas reptilianos seguem.

 

A linguagem não é apenas uma ferramenta de comunicação, mas também parte da nossa identidade e cultura. E para que cada país possa manter as próprias identidade e cultura, os governos devem garantir que as populações possam aprender e comunicar-se com eficácia nas suas Línguas Maternas.


E o que estão a fazer com as nossas crianças é um crime de lesa-infância.

 

Tenológicas.png

 

E que língua é esta que anda por aí, truncada, apartada das suas raízes?

 

Quem poderá dizer, em consciência, que o que vemos, nesta imagem vergonhosa, corresponde à Língua Materna dos Portugueses?

 

E não me venham dizer que “tenológicas” é um lapso. Porque não é.

 

A propósito desta imagem, uma anti-acordista tal como eu, autora da publicação, disse o seguinte, na sua página do Facebook:

 

Ora descubram lá os erros!
Há pouco, na RTP1.
No caso do primeiro (não, não é a primeira vez!), certamente excesso de zelo no seguimento cego da aberração, escandalosamente chamada de "acordo" e de "ortográfico".
Haja vergonha e lute-se pela destruição completa desta praga!!!
É que já há muito que não há paciência
.
 Elisabeth Henriques

 

Fonte: https://www.facebook.com/photo?fbid=10215180172857791&set=a.3193025044660

 

A regra nº 1 dos acordistas é: o que não se lê (mas também o que se lê) não se escreve. Então corta-se a torto e a direito, demasiadas vezes, todos os cês e pês que lhes aparecem à frente, e isto já não é lapso, é lei. Qual lapso, qual carapuça!

E a palavra “objetivo” que se lê “ôb’j’tivunão faz parte do léxico da nossa Língua Materna, de matriz greco-latina. “Objetivo” não tem história, não tem raiz, não tem sentido.



ObjeCtivo, sim, tem história, tem raiz, tem sentido. Vem to Latim objectus.

 

Todas as coisas têm uma história. As Línguas têm uma história. Não podemos pegar nas palavras e desconjuntá-las, para facilitar a sua escrita. Assim como não podemos pegar numa pessoa de dois metros de altura e desmembrá-la, para que possa caber numa cama de metro e meio.


A propósito de Línguas Maternas, no mundo, aconselho a leitura deste interessante  texto, que se encontra neste link:

https://www.elcastellano.org/news/opini%C3%B3n-las-lenguas-originarias-de-%C3%A1frica-frente-las-lenguas-coloniales

e que, a propósito do 21 de Fevereiro, aborda As Línguas originárias de África frente às Línguas coloniais, em que o autor, Harrison Mwilima, diz o seguinte:

 

Até agora, mais de sessenta anos após a independência da primeira nação africana, os nossos países ainda se definem de acordo com as suas antigas línguas coloniais: são chamados de nações anglófonas, francófonas ou lusófonas. Espero um dia ver uma África afrofônica que utilize eficazmente a sua riqueza e diversidade de Línguas.  

 

Este é o sonho de qualquer pessoa que tenha os seus neurónios a funcionar: que cada país utilize eficazmente a própria Língua, porque na diversidade é que está a riqueza das Línguas. Não numa tentativa frustrada de unificar uma Língua com a sua Variante.

 

Destruir a Língua Portuguesa para a (des)igualar à variante de uma ex-colónia, é de mentes pequeninas, complexadas e desprovidas de um pingo de lucidez.



Amanhã, Dia Internacional da Língua Materna, as crianças portuguesas não terão Língua Materna para comemorar.

 

E isto é muito, muito, muito triste! 

 

Isabel A. Ferreira

 

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 18:04

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Quarta-feira, 4 de Novembro de 2020

«Ao serviço da Língua Portuguesa // Portugal»

 

Repesco uma entrevista a Manuel Monteiro, autor do livro, recentemente publicado «Por Amor à Língua - Contra a Linguagem Que Por Aí Circula», e «Dicionário de Erros Frequentes da Língua», duas obras essenciais para quem escreve e ama a Língua Portuguesa, porque é urgentemente preciso recuperar 30 anos de destruição da nossa cultura linguística.

 

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Manuel Monteiro

 

«Os políticos, os jornalistas e os habitantes do espaço público escrevem cada vez pior. Claro está que esta generalização é injusta para alguns (poucos, em rigor), mas é uma tendência que só um cego mental não vê. Vivemos na era dos tecnocratas, da velocidade, há pouco espaço para fazer amor com as palavras.»

Manuel Monteiro, Portugal

 

A revisão de textos é, por si só, tarefa de abissal responsabilidade — adentrar universos alheios de cariz literário, técnico ou outro, com o propósito de os aprimorar, corrigindo-os, adequando-os e harmonizando-os, destarte compondo, sagaz e subtilmente, as versões que viremos a conhecer. Tem por principal requisito uma rara combinação entre sensibilidade e erudição, exigindo aptidão e apetência para a estética e a eufonia.

 

Manuel Monteiro é magistral na sua execução. Ademais, é formador profissional de revisores, jornalista e autor (na área da ficção e da não-ficção), tendo publicado, recentemente, pela editora Objectiva, Por Amor à Língua, e, antes disso, Dicionário de Erros Frequentes da Língua. É, creio, um purista sensato e um laborioso agente revitalizador da Língua Portuguesa.

 

Enquanto crescias, entusiasmavam-te especialmente as palavras? Como? Quais?

 Sempre vivi a literatura como uma segunda pele. Desde criança. Preciso de mergulhar nas palavras dos outros, de entrar noutras cabeças. Os livros conseguem, quando bons, ir mais fundo do que a maior parte das conversas. Não as substituem, evidentemente. Os livros também têm muitas camadas, como as pessoas. Reler é importantíssimo. A releitura de O Jogo das Contas de Vidro empurra-me sempre para novas interpretações. Delicio-me com a descoberta de palavras. É um exercício que nunca perdeu um átomo de deslumbramento. Gosto mesmo muito de dicionários, mormente dos mais antigos, porque têm, grosso modo, mais qualidade. Gosto da sinonímia da nossa língua. Quais? Tenho algumas dilectas no quinto capítulo.

 

Em que ocasiões te vês imerso em êxtase literário? (E que sentes, ao emergir?)

São momentos raros. Mas acontecem. E são de uma felicidade imensa. Poderia citar e citar… O Canto de Mim Mesmo está cheio disso. Para mim, claro está.

 

O cosmos cabe nas palavras que inventámos?

Coube no Folhas de Erva.

 

E o silêncio?

Lobo Antunes disse que: «Quanto mais silêncio houver num livro, melhor ele é.» Ele diz muitos, muitos disparates e coisas que não sente (como não se lembrar de nada do que escreveu), mas também acerta muitas vezes.

 

É, para ti, fundamental divulgar a riqueza e a diversidade da nossa língua. Que sugestões podes dar para que sejamos mais nessa missão?

Ler Camilo, ler Castilho, ler dicionários.

 

Como lidas com a frustração ante a trivialização do uso indevido da língua nesta era tecnológica, propensa à velocidade e, consequentemente, à aniquilação da beleza?

Lendo Theodore John Kaczynski.

 

Sem uma comunicação eficaz, mina-se a autonomia, o respeito e a solidariedade; a comunidade fractura-se. Consideras satisfatório o serviço público, em Portugal, relativo ao acesso e ao aperfeiçoamento da língua portuguesa?

Os políticos, os jornalistas e os habitantes do espaço público escrevem cada vez pior. Claro está que esta generalização é injusta para alguns (poucos, em rigor), mas é uma tendência que só um cego mental não vê. Vivemos na era dos tecnocratas, da velocidade, há pouco espaço para fazer amor com as palavras.

 

Download, feedback, standby, briefing, corporate, cool, teaser, part-time, shopping, peeling, storyboard. A desvalorização da própria língua, e a adopção crescente (e vaidosa!) de uma estrangeira, são reflexo de uma acanhada identidade?

Cito do meu próprio livro: «À imitação totalmente inútil, não se chama “cosmopolitismo”, mas “saloiice”.»

 

Por que não se investe (mais) na preservação e revitalização da língua portuguesa, se é esse o idioma da nossa memória afectiva e um dos factores que nos robustecem o sentimento de pertença?

Não é preciso muito. Comecem por empregar palavras portuguesas, muitas delas correntias, para combater o portinglês. Trata-se de uma moda: dá ares de modernidade não conhecer o nosso idioma, não saber compor uma frase e despejar umas palavras inglesas que mostrarão que se tem mundo.

 

A tua crónica Admirável Língua Nova, no jornal Público, é, também, uma exaustiva e premente demonstração da incoerência do Novo Acordo Ortográfico de 1990. Que balanço fazes deste teu trabalho? (Acreditas num recuo, relativamente à imposição da nova grafia?)

Foram anos de leitura e reflexão. A conclusão é simples: o Acordo é uma merda, um embuste, não tem regras claras quanto aos hífenes nas locuções e quanto à «pronúncia culta». Não há um objectivo que tenha sido cumprido. Não há um argumento que resista aos factos da língua. São setenta páginas no meu livro que o demonstram. Se não houver recuo, os leitores que não comprem os livros acordizados, os autores que não escrevam segundo o dito, quem se ocupa da comunicação lato sensu que não o use. Quanto ao mais, quem o usa… estatela-se sempre. Diz-me uma pessoa que use o Acordo na totalidade. UMA! Seguem partes do Acordo que misturam com o anterior, que misturam ainda com outro que não existe.

Recomendo a leitura de:

https://pt-pt.facebook.com/TradutoresContraAO90/

https://pt-pt.facebook.com/cidadaoscontraAO90/

https://cedilha.net/ap53/

https://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/

 

Os livros são um dos veículos da memória que, por sua vez, tem implicações na evolução da humanidade. Motiva-te essa perpetuação, quando escreves? Ou preferes celebrar instantes?

A escrita é para muitos, creio, uma tentativa de continuar depois da morte.

 

Nesse «lugar» em que escreves, és livre?

Sou. Até hoje, pelo menos.

 

A estética é uma das tuas directrizes?

Mal da minha escrita se não fosse.

 

A capacidade de comoção perante a arte, nomeadamente, a literatura, é proporcional à noção da interligação de todos os elementos que compõem o universo?

É proporcional ao estro de quem escreve.

 

Fonte desta entrevista:

https://quefizestehojeparamudaromundo.weebly.com/as-histoacuterias/ao-servico-da-lingua-portuguesa-portugal

 

***

Manuel Monteiro foi ao programa Agora Nós, da RTP1, onde falou de «Por Amor à Língua» e do Acordo (Ortográfico) mais desafinado do mundo.

A intervenção de Manuel Monteiro pode ser ouvida ao minuto 23 da II Parte do programa neste link:

https://www.rtp.pt/play/p4223/e374033/agora-nos

 

Parabéns, Manuel Monteiro. Hoje em dia é raro ver um jovem a pugnar pelas coisas que interessam, pela Cultura e Língua Portuguesas, que andam ambas por aí a arrastar-se como mortas-vivas, puxadas pelas mãos de cegos mentais.

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 11:14

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Terça-feira, 13 de Novembro de 2018

«Ao serviço da Língua Portuguesa // Portugal»

 

Entrevista a Manuel Monteiro, autor do livro, recentemente publicado «Por Amor à Língua - Contra a Linguagem Que Por Aí Circula», e «Dicionário de Erros Frequentes da Língua», duas obras essenciais para quem escreve e ama a Língua Portuguesa.

 

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Manuel Monteiro

 

«Os políticos, os jornalistas e os habitantes do espaço público escrevem cada vez pior. Claro está que esta generalização é injusta para alguns (poucos, em rigor), mas é uma tendência que só um cego mental não vê. Vivemos na era dos tecnocratas, da velocidade, há pouco espaço para fazer amor com as palavras.»

Manuel Monteiro, Portugal

 

A revisão de textos é, por si só, tarefa de abissal responsabilidade — adentrar universos alheios de cariz literário, técnico ou outro, com o propósito de os aprimorar, corrigindo-os, adequando-os e harmonizando-os, destarte compondo, sagaz e subtilmente, as versões que viremos a conhecer. Tem por principal requisito uma rara combinação entre sensibilidade e erudição, exigindo aptidão e apetência para a estética e a eufonia.

 

Manuel Monteiro é magistral na sua execução. Ademais, é formador profissional de revisores, jornalista e autor (na área da ficção e da não-ficção), tendo publicado, recentemente, pela editora Objectiva, Por Amor à Língua, e, antes disso, Dicionário de Erros Frequentes da Língua. É, creio, um purista sensato e um laborioso agente revitalizador da Língua Portuguesa.

 

Enquanto crescias, entusiasmavam-te especialmente as palavras? Como? Quais?

 Sempre vivi a literatura como uma segunda pele. Desde criança. Preciso de mergulhar nas palavras dos outros, de entrar noutras cabeças. Os livros conseguem, quando bons, ir mais fundo do que a maior parte das conversas. Não as substituem, evidentemente. Os livros também têm muitas camadas, como as pessoas. Reler é importantíssimo. A releitura de O Jogo das Contas de Vidro empurra-me sempre para novas interpretações. Delicio-me com a descoberta de palavras. É um exercício que nunca perdeu um átomo de deslumbramento. Gosto mesmo muito de dicionários, mormente dos mais antigos, porque têm, grosso modo, mais qualidade. Gosto da sinonímia da nossa língua. Quais? Tenho algumas dilectas no quinto capítulo.

 

Em que ocasiões te vês imerso em êxtase literário? (E que sentes, ao emergir?)

São momentos raros. Mas acontecem. E são de uma felicidade imensa. Poderia citar e citar… O Canto de Mim Mesmo está cheio disso. Para mim, claro está.

 

O cosmos cabe nas palavras que inventámos?

Coube no Folhas de Erva.

 

E o silêncio?

Lobo Antunes disse que: «Quanto mais silêncio houver num livro, melhor ele é.» Ele diz muitos, muitos disparates e coisas que não sente (como não se lembrar de nada do que escreveu), mas também acerta muitas vezes.

 

É, para ti, fundamental divulgar a riqueza e a diversidade da nossa língua. Que sugestões podes dar para que sejamos mais nessa missão?

Ler Camilo, ler Castilho, ler dicionários.

 

Como lidas com a frustração ante a trivialização do uso indevido da língua nesta era tecnológica, propensa à velocidade e, consequentemente, à aniquilação da beleza?

Lendo Theodore John Kaczynski.

 

Sem uma comunicação eficaz, mina-se a autonomia, o respeito e a solidariedade; a comunidade fractura-se. Consideras satisfatório o serviço público, em Portugal, relativo ao acesso e ao aperfeiçoamento da língua portuguesa?

Os políticos, os jornalistas e os habitantes do espaço público escrevem cada vez pior. Claro está que esta generalização é injusta para alguns (poucos, em rigor), mas é uma tendência que só um cego mental não vê. Vivemos na era dos tecnocratas, da velocidade, há pouco espaço para fazer amor com as palavras.

 

Download, feedback, standby, briefing, corporate, cool, teaser, part-time, shopping, peeling, storyboard. A desvalorização da própria língua, e a adopção crescente (e vaidosa!) de uma estrangeira, são reflexo de uma acanhada identidade?

Cito do meu próprio livro: «À imitação totalmente inútil, não se chama “cosmopolitismo”, mas “saloiice”.»

 

Por que não se investe (mais) na preservação e revitalização da língua portuguesa, se é esse o idioma da nossa memória afectiva e um dos factores que nos robustecem o sentimento de pertença?

Não é preciso muito. Comecem por empregar palavras portuguesas, muitas delas correntias, para combater o portinglês. Trata-se de uma moda: dá ares de modernidade não conhecer o nosso idioma, não saber compor uma frase e despejar umas palavras inglesas que mostrarão que se tem mundo.

 

A tua crónica Admirável Língua Nova, no jornal Público, é, também, uma exaustiva e premente demonstração da incoerência do Novo Acordo Ortográfico de 1990. Que balanço fazes deste teu trabalho? (Acreditas num recuo, relativamente à imposição da nova grafia?)

Foram anos de leitura e reflexão. A conclusão é simples: o Acordo é uma merda, um embuste, não tem regras claras quanto aos hífenes nas locuções e quanto à «pronúncia culta». Não há um objectivo que tenha sido cumprido. Não há um argumento que resista aos factos da língua. São setenta páginas no meu livro que o demonstram. Se não houver recuo, os leitores que não comprem os livros acordizados, os autores que não escrevam segundo o dito, quem se ocupa da comunicação lato sensu que não o use. Quanto ao mais, quem o usa… estatela-se sempre. Diz-me uma pessoa que use o Acordo na totalidade. UMA! Seguem partes do Acordo que misturam com o anterior, que misturam ainda com outro que não existe.

Recomendo a leitura de:

https://pt-pt.facebook.com/TradutoresContraAO90/

https://pt-pt.facebook.com/cidadaoscontraAO90/

https://cedilha.net/ap53/

https://olugardalinguaportuguesa.blogs.sapo.pt/

 

Os livros são um dos veículos da memória que, por sua vez, tem implicações na evolução da humanidade. Motiva-te essa perpetuação, quando escreves? Ou preferes celebrar instantes?

A escrita é para muitos, creio, uma tentativa de continuar depois da morte.

 

Nesse «lugar» em que escreves, és livre?

Sou. Até hoje, pelo menos.

 

A estética é uma das tuas directrizes?

Mal da minha escrita se não fosse.

 

A capacidade de comoção perante a arte, nomeadamente, a literatura, é proporcional à noção da interligação de todos os elementos que compõem o universo?

É proporcional ao estro de quem escreve.

 

Fonte desta entrevista:

https://quefizestehojeparamudaromundo.weebly.com/as-histoacuterias/ao-servico-da-lingua-portuguesa-portugal

 

***

Manuel Monteiro foi ao programa Agora Nós, da RTP1, onde falou de «Por Amor à Língua» e do Acordo (Ortográfico) mais desafinado do mundo.

A intervenção de Manuel Monteiro pode ser ouvida ao minuto 23 da II Parte do programa neste link:

https://www.rtp.pt/play/p4223/e374033/agora-nos

 

Parabéns, Manuel Monteiro. Hoje em dia é raro ver um jovem a pugnar pelas coisas que interessam, pela Cultura e Língua Portuguesas, que andam ambas por aí a arrastar-se como mortas-vivas, puxadas pelas mãos de cegos mentais.

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 18:06

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Sexta-feira, 16 de Setembro de 2016

O AO90 «É inútil, irresponsável, prepotente, ineficaz, altamente prejudicial e ridículo»

 

Quem o diz é Miguel Esteves Cardoso.

 

Mas convido os governantes portugueses a ver este vídeo e ouvir atentamente os argumentos que são apresentados contra o AO90, e comecem a ponderar muito seriamente em atirar ao caixote do lixo esta aberração, sob pena de ficarem na História de Portugal como aqueles que destruíram um dos mais relevantes pilares da identidade portuguesa.

 

 

«Registo das intervenções demolidoras contra o Acordo Ortográfico no programa "Controvérsias" (RTP1, 1991) de Miguel Esteves Cardoso («O acordo é inútil, irresponsável, prepotente, ineficaz, altamente prejudicial e ridículo.»).

 

Maria Leonor Buescu («Há a questão da constitucionalidade do acordo, porque programar a educação segundo directrizes políticas é materialmente inconstitucional.») e Maria Isabel Rebelo Gonçalves («Um texto publicado no Brasil é diferente de um texto publicado em Portugal, podem chamar-lhe acordo, mas não de unificação porque, com as duplas grafias, não unificou nada nem em Portugal.»).

 

A favor do AO estão Carlos Reis, Américo da Costa Ramalho e Aníbal Pinto de Castro  

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 18:26

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Quarta-feira, 4 de Maio de 2016

Se Moçambique e Angola quiserem, acaba-se o Acordo Ortográfico?

 

Então vamos lá acabar de uma vez por todas com este ABORTO.

 

É uma vergonha para Portugal que a salvação da Língua Portuguesa esteja nas mãos de Angola e Moçambique, e não do país-berço da língua.

 

Mas se Angola e Moçambique puderem salvar a Língua, SALVEM, por favor, porque todos os Portugueses lúcidos ficar-vos-ão eternamente gratos.

 

E as televisões não dizem nada? São assim tão subservientes ao Poder que não podem sequer INFORMAR o povo português do que está a passar-se em torno desta matéria?

 

Desacordo Ortográfico.jpeg

 (Origem da imagem: Internet)

 

«As declarações foram feitas ontem pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa: se Angola e Moçambique não quiserem escrever pelo novo Acordo Ortográfico, Portugal pode rever também a aplicação do documento

 

Aprovado em 2008, mas não feito lei, o Acordo Ortográfico/1990 tinha (mas não conseguiu) como objectivo uniformizar a escrita da Língua Portuguesa, comum aos países ditos da Lusofonia.

 

Contudo, essa uniformização, que devia ser orientada pela raiz da Língua, e não por uma Variante, não foi bem aceite pela esmagadora maioria dos países envolvidos. Apenas Portugal (que se colocou à venda impatrioticamente,) o Brasil (por interesses políticos)  e Cabo Verde (por simples subserviência a Portugal, por motivos sócio-políticos) aplicam o tortográfico acordo, que além de ser ilegal e  inconstitucional, é linguisticamente inconsistente, estruturalmente incongruente, para além de, comprovadamente, ser causa de uma crescente e perniciosa iliteracia em publicações oficiais e privadas, nas escolas, nos órgãos de comunicação social, na população em geral e estar a criar uma geração de analfabetos , não tendo recebido o aval dos PALOP africanos.

 

Em visita oficial a Moçambique, Marcelo Rebelo de Sousa falou à RTP África (mas a RTP1 mantém-se muda) e admitiu que, se Angola e Moçambique não quiserem adoptar o novo Acordo, Portugal poderá ter de recuar em todo o processo e repor a Língua original. Marcelo Rebelo de Sousa explicou: «Nós estamos à espera que Moçambique decida sim ou não ao Acordo Ortográfico. Se decidir que não, mais Angola, é uma oportunidade para repensar essa matéria». Sim, porque Portugal, não tem personalidade própria, para dizer NÃO a este acordo.

 

Marcelo admitiu que, enquanto cidadão, escreve de acordo com as antigas regras, mas que enquanto Presidente da República é obrigado (???) a respeitar as regras novas. É OBRIGADO? É obrigado por qual LEI? Quais regras novas, se o AO90 é ilegal?

 

Marcelo jurou defender, respeitar e fazer respeitar a Constituição da República Portuguesa e diz ser obrigado a escrever de acordo com o desacordo que os juristas dizem ser inconstitucional? Há aqui alguma coisa que não bate certo.

 

Não haverá aqui uma contradição "à la Marcelo"?????

 

Fonte : http://www.buzztimes.pt/n/se-mocambique-e-angola-quiserem-acaba-se-o-acordo-ortografico/

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:21

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