Quarta-feira, 20 de Novembro de 2024

«Eu [Isabela Figueiredo] fazer, tu fazer, ele fazer», título publicado no “Expresso”, que nem um analfabeto, a soldo, escreveria. Dado o carácter ilógico do texto, dou-me a liberdade de dizer que “ela fazer” figura de urso...

 

A questão será: a soldo de quem?

 

Este texto chegou-me via e-mail [não assino jornais que não saibam honrar a identidade linguística portuguesa], com o título O VÓMITO.

 

Depois de ler o que li, compreendi que O VÓMITO é o título perfeito para algo que não lembraria nem ao mais analfabeto dos analfabetos fazer, ou seja, escrever um chorrilho de ignorâncias sobre um dos maiores símbolos identitários dos Povos: as Línguas Maternas.

 

Por isso, dou-me a liberdade de pensar como a pessoa que me enviou O VÓMITO, ou seja, o que a Isabela Figueiredo escreveu foram palavras vomitadas, possivelmente a soldo de alguém muito influente que, por sua vez, estará a soldo de outro alguém, ainda mais influente, e que quer acabar de vez com a Língua Portuguesa. E esta é a única certeza.

É que de borla ninguém se atreveria a expor-se, assim tanto, ao ridículo!

SÉRGIO VAZ.png

 

Vou servir-me das palavras do jornalista brasileiro, Sérgio Vaz, adequando-as a esta inacreditável circunstância, para dizer que a autora do texto «Eu fazer, tu fazer, ele fazer», para quem, a Língua serve apenas para falar uns com os outros, e a escrita que se lixe, avacalhou a Língua Portuguesa e expô-la ao ridículo, desmoralizou-a, bagunçou-a, desordenou-a, sem ter a mínima noção do burlesco da coisa. Isto é de quem nunca estudou Línguas e nada sabe da formação das Línguas. O estudo do Português não é diferente do estudo do Inglês, do Francês, do Castelhano, enfim, de todas as Línguas Cultas do mundo.

A autora do texto tem toda a liberdade de escrever o que escreveu, mas tem de saber que ao dizer o que disse está sujeita a sofrer consequências, nada abonatórias ao Prémio Urbano Tavares Rodrigues que lhe foi atribuído. O mestre Urbano deve estar a dar voltas no seu túmulo!!!!

 

Já agora, eu também pagava para ver a cara que fariam as pessoas cultas, se este texto fosse traduzido para várias Línguas e corresse mundo. Portugal havia de ficar de rastos!
 
«As línguas e os sofás existem para se estragar»?  

Será que a Isabela quis gozar com a Cultura Culta Linguística?

 

Isabel A. Ferreira

***

Eis O VÓMITO:

«OPINIÃO

Eu fazer, tu fazer, ele fazer

Isabela Figueiredo

Escritora, vencedora do Prémio Urbano Tavares Rodrigues [????????]

 

O último acordo ortográfico gerou indignação, mas parece que não se deu o Apocalipse. Continuamos a entender-nos

 

14 novembro 2024 22:57

Sejamos honestos: a língua portuguesa não é a mais bonita do mundo. Menos para mim. Com ela cresci e me fiz. Quero mergulhar na minha língua e escarafunchar nela. Não lhe dou descanso.

 

Afinal, após o último acordo ortográfico que tanta indignação gerou, parece que não se deu o Apocalipse. Continuamos a falar e a entender-nos por escrito, sem grandes dúvidas. São todas naturalmente eliminadas pelo contexto, como com qualquer palavra homónima. Para sabermos se o verbo acreditar significa crer ou credenciar precisamos de estabelecer uma relação de sentido com a frase na qual está inserido. “Acredito no Fernando” é diferente de “acredito o Fernando”, tal como “para já” depende do contexto oracional para exprimir “parar” ou se tratar da preposição “para”, como em “vou para lá”. Usar a língua com medo de a estragar é um erro evitável. As pessoas que compram um sofá de pele, mas nunca lhe retiram o plástico protetor, passam a sentar-se num sofá de plástico. As línguas e os sofás existem para se estragar. Estragar não é necessariamente mau. Se a língua é um organismo vivo, precisa de movimento. Fazer exercício, embora nos possa custar, revigora-nos.

 

Não podemos partir do ingénuo princípio de que a língua já nos chegou inteira vinda do princípio dos tempos. Em 1924 não se falava nem escrevia o português de hoje. Ousemos projetar-nos em 2124, que está quase aí. O verbo “tar”, devidamente consagrado na fala, estará já consolidado na escrita?

 

Somos todos donos da nossa língua materna. Usamo-la e modificamo-la diariamente. Proteger a língua de maus-tratos é uma tarefa inglória. Não se pode travar a corrente de um rio.

 

Quanto mais desconhecemos a forma como uma língua funciona, devido a total iliteracia ou a desconhecimento da gramática, mais ela se altera. Atentemos na forma como articulam as pessoas que não sabem ler e escrever. Replicam exercícios fonéticos. Dizem o que ouvem, como ouvem, o que multiplica novas versões lexicais. Recentemente conheci uma senhora alentejana que me disse chamar-se Catana. É um nome muito invulgar. “Nunca conheci ninguém com esse nome”, disse. Surgiu-me a suspeita de que poderia tratar-se de uma corruptela de Caetana. Pergunteilho. Confirmou. “Sim, é isso, mas toda a gente me chama Catana.” Não é impossível que lhe apareça uma neta Catana em sua honra.

Há lugares do Brasil onde a morfologia e sintaxe do português se alteraram de tal forma pelo uso que os verbos perderam a flexão em género e número e quase se conjugam como em inglês. Uma espécie de “to do, did, done”. No Brasil, a miríade de criações vocabulares e semânticas mostra uma floresta amazónica linguística cheia de cor, som, seiva e pequenos brilhos que se extinguem ou acendem.

 

As línguas e os sofás existem para se estragar. Estragar não é necessariamente mau. Se a língua é um organismo vivo, precisa de movimento. Fazer exercício, embora nos possa custar, revigora-nos []

 

As línguas não se alteram por mero decreto. Quando chega o decreto, já elas mudaram há meio século. A Lei de Lavoisier aplica-se à língua que nem ginjas. Nela, nada se perde, e mesmo o que se ganha transforma-se.

 

Colunistas de jornal e puristas da língua que ainda tomam antiácidos para sobreviver ao acordo ortográfico (AO) de 1990 insurgem-se contra pessoas como eu, que desonram o português escrevendo como querem. Com e sem AO. Uma misturada. Lembram os velhotes obcecados em contar sempre a mesma história. É importante para eles, mas já ninguém os ouve. Não será desprezível lembrar que o uso da língua reflete posições e ambições de poder que ninguém quer perder. A este propósito, há uma história que gosto de contar: há quase década e meia, data da entrada em vigor do AO, os meus alunos, que invariavelmente se esqueciam de usar as consoantes mudas em “redacção” e “epiléptico”, insurgiram-se quando elas caíram. Sobretudo os que davam mais erros. Como era possível que tivessem de deixar de usar uma regra que nunca cumpriram? Diverti-me com isto, em silêncio. Escrevia-lhes no quadro “redacção”. Pedia que lessem. Liam redação. Segundo passo: escrevia “redação”. Liam redação. Qual a diferença, perguntava. “Como reagem quando leem banda desenhada brasileira? Esta alteração prejudica a mensagem?” Silêncio.

Avento uma explicação: a aquisição das regras gráficas de uma língua confere um estatuto social e cultural. Quem escreve de acordo com as regras pertence automaticamente a uma elite bem escrevente, com os privilégios sociais que daí advêm. Nunca lho tinham dito, mas inconscientemente sabiam-no. Absorveram-no informalmente.

 

Claro que os brasileiros se riem dos nossos pruridos linguísticos. Os brasileiros e todos os africanos e timorenses que usam a língua, que é deles, como lhes serve melhor. Agrada-me que a língua portuguesa pareça uma grande manta de croché que vai crescendo com malhas e desenhos diferentes, partindo de uma mesma técnica.

Deem 100 anos à belíssima língua na qual escrevo estas palavras e voltem cá para a ler e ouvir. Não vão gostar, porque nós, por defeito, não gostamos de mudança. Quem sabe se não nos soará como uma página de Gil Vicente, ou Camões, ou Padre António Vieira? Talvez tenhamos de contratar um tradutor recentemente desencarnado lá no outro mundo.

Pagava para assistir, senhores.»

 

in: https://expresso.pt/opiniao/2024-11-14-eu-fazer-tu-fazer-ele-fazer-41de746a

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 18:19

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Segunda-feira, 12 de Outubro de 2020

A obscura questão do AO90: «(…) todo este "cozinhado" de tratamentos à porta fechada, imbuído de secretismos, tudo feito por "detrás da cortina" é que ajuda a explicar os bloqueios das iniciativas ILCAO»…

 

Costumo trocar ideias, com desacordistas, para tomar o pulso à situação caótica que se vive em Portugal, no que a quase tudo diz respeito, mas especificamente no que se refere à pouca-vergonha que evolve a questão da Língua Portuguesa, e que os governantes, silenciam e  fazem-de-conta que não é nada com eles, achando que os Portugueses andam todos a dormir a sesta, particularmente o Chefe de Estado Português, que se mete em tudo e mais alguma coisa, até em matérias que nem sequer são da sua competência, mas foge, como o diabo da cruz,  desta gravíssima questão da Língua Oficial Portuguesa, que está em vias de deixar de ser portuguesa, se nada fizermos para o impedir.

 

Numa dessas trocas de ideias, um Professor aposentado fez uma análise objectiva sobre o estado babelesco da nossa desventurada Nação, e por considerá-la perfeita, decidi partilhá-la com os meus leitores, juntamente com a resposta que lhe dei.

 

Democracia.jpg

 

«Dr.ª Isabel, bom dia, revi os seus links; já os tinha lido, nomeadamente os comentários de Paulo Franchetti, de Sérgio Vaz e do Dr. Ivo Miguel Barroso que esgrime argumentos do domínio da jurisprudência que só reforçam a certeza da  ilegalidade (e eventual inconstitucionalidade) do (dito) AO90; ou seja, tudo não passa de um atropelo grave à Lei, o que reforça a convicção de que não estamos num Estado democrático: as negociatas, os convénios sigilosos - e este caso, em que tudo ficou decidido à porta fechada (?!) entre o indivíduo Casteleiro e o Houaiss só ilustra isso mesmo; aliás o nosso sistema é uma "partidocracia", em que os partidos políticos mais não fazem do que distribuir entre si "tachos", prebendas e lugares "seguros" e protegidos, o que  confere à nossa “democracia”  um aspecto de autêntica palhaçada (como diz o Povo, é tudo "farinha do mesmo saco"). Numa verdadeira democracia, não se assiste a deputados a fazer batota (na A. R.), assinando uns pelos outros (são premiados pela presença, e não penalizados pela ausência !!), sem falar de aspectos caricatos de deputadas que vão para o plenário pintar as unhas, etc. etc..

 

E quando me refiro a partidos há que frisar que se trata somente daqueles que se "vêem", e que são a face visível do iceberg, dado que a parte "imersa", as maçonarias (ou que parece, três confissões) essas é que mexem todos os "cordelinhos", colocando os seus "irmãos" e "confrades" nos melhores postos da máquina do Estado, num secretismo totalmente absoluto, que nada tem que ver com democracia / transparência. 

 

Trago isto à colação só pelo facto de que todo este "cozinhado" de tratamentos à porta fechada, imbuído de secretismos, tudo feito por "detrás da cortina" é que ajuda a explicar os bloqueios das iniciativas ILCAO. É por demais evidente que as Editoras de manuais escolares, dicionários, etc., "coladas" ao Ministério da Educação (e quando eu estava no activo já se falava e se comentavam os dramáticos problemas de solvabilidade e sobrevivência que as afectavam) tudo fazem por se agarrarem ao Poder, por isto mesmo é que o partido do Poder, P.S., nem sequer deixa "mexer" no assunto.

 

Volto a insistir, só com uma acção de "longo curso" a cargo da " linha da frente", só com o repúdio definitivo por parte de Angola (parece já averbado) e do Brasil (toda a esperança mantêm-se de pé) e com o "magistério de influência" de figuras gradas da vida política (…), só com estes argumentos é que eu penso ser possível um volte-face.

 

Há que dar tempo ao tempo.

Um abraço do A. V.

 

Gregório de Matos.jpg

 

Para quem não sabe: Gregório de Matos Guerra, conhecido pela alcunha de Boca do Inferno ou Boca de Brasa (por atacar a Igreja Católica do seu tempo) foi um advogado e poeta português, nascido na então colónia do Brasil, em 1636. É considerado um dos maiores poetas do Barroco em Portugal e no Brasil, e o mais importante poeta satírico da Literatura de Língua Portuguesa, podendo dizer-se que era um autêntico enfant terrible.

 

***

 

A minha resposta:

 

Caro Professor,

 

Vou começar pelo fim: há que dar tempo ao tempo. Há. Nada acontece fora do tempo. Entretanto, o tempo vai passando, e os vícios deste novo dialecto vão-se espalhando, como os tentáculos de um polvo, e os todo-poderosos ganhando terreno, porque os da “linha da frente”, como o professor lhes chama, estão quietinhos no seu canto, enquanto Angola prepara a sua nova Língua, e o Brasil se afasta, cada vez mais, do AO90, que engendrou com Malaca Casteleiro (que Deus o tenha em paz, junto com Antônio Houaiss, uma vez que Evanildo Bechara (que completa a trilogia dos predadores-mor da Língua Portuguesa) do alto dos seus 92 anos, ainda vai fazendo e dizendo das suas.


(…)


É preciso abanar, quiçá, destruir, as estruturas de cimento (bem) armado que o Poder construiu, para manter sequestrada a Língua Portuguesa, enquanto deixa à solta o linguajar feio e pobre, esfarrapado e miserável, engendrado por mentes insanas, para a destruir, com uma finalidade absolutamente insólita.



Quem ousará abanar essas estruturas? Todos os que as poderiam abanar têm algo a perder com a ousadia, daí que não mexam uma palha, para defender e salvar a Língua Portuguesa. E o que fazem aqueles que têm acesso às televisões? Calam-se. (*)


E é isto que tenho a dizer por hoje.

 

As minhas saudações (cada vez mais) desacordistas,

 

(*) Bem, alguns lá vão, esporadicamente e de passagem, dizendo umas e outras contra o AO90. Mas muito esporadicamente e de passagem. Nada que abane as estruturas. Lamentavelmente.


Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 16:10

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