Pela primeira vez, pelo menos que eu tenha conhecimento, no Debate da Rádio, esta manhã, tendo como moderadores jornalistas da Renascença, TSF e Antena 1, teve-se autorização para questionar os líderes partidários com assento parlamentar, acerca do Acordo Ortográfico de 1990, embora lhes tivessem dado segundos, para responder.
A última pergunta para respostas SIM ou NÃO foi a seguinte: «Uma revisão do acordo ortográfico?»
A pergunta foi mal formulada. A pergunta a fazer deveria ter sido «a ANULAÇÃO do Acordo Ortográfico?» Não é o AO90 um acordo ilegal? Então? Rever algo que é ilegal é legal?
As respostas, dadas à pressa (perdeu-se muito tempo a falar de coisas que já todos conhecemos de cor e salteado) não fizeram jus à gravidade da situação, passando-se pelo tema como cão por vinha vindimada.
As respostas não surpreenderam, devido à pergunta não ter sido bem formulada. Porque a verdade é que não pode REVER-SE algo que é ILEGAL e INCONSTITUCIONAL (dizem os juristas, não sou eu que o digo) e não tem pés nem cabeça por onde se lhe pegar para poder ser revisto. Quem fala em REVER não sabe do que fala. Não conhece o AO90, nem sequer sabe o mínimo da Língua Portuguesa.
Neste aspecto, todos os líderes partidários são cúmplices da ilegalidade em que o AO90 está envolvido, mas isto, para eles, não conta, porque há muita magna pecunia em jogo, e o que interessa é servir os lobbies de pressão económica envolvidos nesta trapaça. E que se lixe o ENSINO da Língua Materna dos Portugueses.
Uma vergonha!
Antes de prosseguir, gostaria de pedir aos líderes partidários, que se fixassem nesta excelente súmula que a Dra. Ana Araújo, Licenciada em Filologia Germânica e Línguas e Literaturas Modernas, pela Faculdade de Letras de Coimbra, publicou, no Facebook, na página Portugal em Movimento Contra o Acordo Ortográfico de 1990! E é óbvio que ela sabe mais sobre o Acordo Ortográfico e a Língua Portuguesa do que Vossas Excelências, e, portanto, rever o que não tem ponta por onde se lhe pegue é como remendar o que já foi remendado. O Acordo Ortográfico de 1990 não passa de um remendo linguístico assente no remendo de 1943.
O que a Dra. Ana Araújo diz neste texto é absolutamente magistral.
E o que ela diz deve estar presente na mente daqueles que irão formar o próximo governo e ser os próximos deputados da Nação, que terão a faca e o queijo na mão para ANULAR definitivamente o que jamais deveria ter existido, porque não era necessário. Só povos muito ignorantes precisam de acordos ortográficos, atrás de acordos ortográficos (e esta ideia não é minha). Nenhum outro povo fez tantos acordos ortográficos como Portugal e Brasil. E vejam como aqui estão fora os países africanos de expressão portuguesa. E isto é muuuuuito significativo.
Catarina Martins, do Bloco de Esquerda, é pela revisão do AO90, por este motivo inacreditável: porque o AO90 prevê revisões sempre que sejam necessárias, ou seja, quando as ignorâncias forem se acumulando, far-se-ão revisões, até que a Língua seja reduzida a puré, ou então a hieróglifos.
Todos os outros líderes partidários (à excePção de Rui Rio e André Ventura, que não estiveram presentes, porque entenderam ser mais ÚTIL (e foi) ir fazer campanha junto do Povo, do que ir repetir, até à exaustão, o que todos já sabemos, pois nenhum trouxe novidade nenhuma) referiram revisão, reaberto, revisto, sem saberem do que falavam, porque ninguém pode rever ou reabrir uma coisa que além de inútil é ILEGAL.
Rui Tavares, do Partido Livre, chegou a falar na necessidade de se promover a Língua Portuguesa, no mundo, não especificando que Língua Portuguesa: a amixordizada ou a genetriz, aquela que gerou as Variantes Brasileira e Cabo-verdiana, entre muitas outras Variantes asiáticas?
O último a falar foi o socialista António Costa, um dos grandes entraves à anulação do AO90 e responsável-mor, junto com o ministro Augusto Santos Silva, pelo caos ortográfico implantado neste Reinado da Ignorância, dizendo apenas o seguinte: «O acordo deve seguir o seu caminho», algo que não é carne, nem é peixe, mas é gato escondido com o rabinho de fora, ou seja, o que podemos deduzir daqui é que o acordo foi criado com um objeCtivo político obscuro, e é esse objeCtivo que deve prevalecer, até porque há muita magna pecunia em jogo.
Sim, Dr. António Costa, o acordo deve seguir o seu caminho, sim, mas o senhor esqueceu-se de acrescentar que o caminho do acordo é o caixote do lixo, o único caminho possível, porque o acordo é um lixo tóxico, vendido ao desbarato, com o propósito de destruir a Língua Portuguesa. E todos os que apoiam este lixo são cúmplices de uma ilegalidade.
Neste debate, falou-se também, em qualificar a Educação que, no entanto, não passou pela DEFESA da QUALIDADE do Ensino da Língua, nas escolas portuguesas, uma gravíssima falha, pois não há qualificação que resista ao ensino deformado do PILAR de todas as matérias escolares: a LÍNGUA MATERNA, o que vai produzir os analfabetos funcionais do futuro, e se o ensino em Portugal já anda na cauda da Europa, por este andar, desaparecerá do mapa.
Uma “cultura” que se mistura com o AO90 é uma cultura inculta.
É preciso que os novos (velhos?) governantes e parlamentares tenham a noção disso, e se comprometam com a ANULAÇÃO e não com a revisão do AO90, porque aquele partido que se comprometer a anular o AO90 terá garantido milhares de votos.
Agora, durante a campanha eleitoral, todos querem rever o AO90, mas durante a legislatura, TODOS, à excePção do PCP, não quiseram ANULAR o Acordo do DESACORDO, e sempre votaram a favor da continuidade do caos ortográfico em Portugal.
E que os eleitores, meus leitores, reflictam em tudo o que aqui se disse, e façam a escolha certa, na hora de votar.
Isabel A. Ferreira
De uma mestranda, recebi o e-mail que aqui reproduzo, com a resposta que lhe dei.
É preciso desfazer mitos.
É preciso desmascarar os predadores da Língua Portuguesa.
É preciso pôr os pontos em todos os is do inútil, do inconstitucional, do ilegal, do imbecil, do incongruente, do indecifrável, do ignaro, do ignóbil, do irracional, do injusto, do impreciso, do impraticável, do improcedente, do improvisado, do impróprio, do impugnável, do inaceitável, do inaplicável, do incoerente, do incómodo, do irritante, do inconcebível, do inconspícuo, do inconsistente, do incorrecto, do ineficiente, do inexacto, do inacreditável, do inaceitável, do ignominioso, do infame, do injustificável, do inoportuno, do insano, do insultuoso AO90.
Cara Isabel
Muito obrigada pela sua exposição, no blogue da sapo, sobre a irrazoabilidade do novo acordo ortográfico.
Concordo plenamente consigo, mas vou mais longe... Acho-o perigoso.
Perigoso porque segue a senda do facilitismo (preceito comum ao nosso ensino hodierno). Não interessa saber expressar uma opinião, correcta e coerentemente, interessa debitar palavras, sem risco de cometer uma gafe. Interessa mitigar fronteiras para que possamos acolher os nossos irmãos transatlânticos, sem que eles tenham a pesadíssima tarefa de se adaptar a uma língua estranha e mística (falhou este intento, visto que conheço brasileiros que não entendem o "nosso" português falado).
Na altura da transposição falavam do perigo eminente da morte da língua portuguesa?! Não somos nós 10 milhões de cidadãos para a continuar a falar e a cuidar? Ou terá sido lobbying das editoras que poupam nos custos de terem de fazer uma edição para Portugal e outra para o Brasil entenda o português que (não) fala?
Mas divago.... A razão de lhe escrever é a de indagar se sabe porque razão a iniciativa popular foi "abafada". Eu só com o seu artigo tomei conhecimento da dita.... Com muito pesar meu, pois acredito que cometemos um crime ao deixar que a moda se instalasse.
Estou a preparar a minha tese de mestrado (em ramo do direito- ramo por excelência tradicionalista), e exigem ser aquela escrita segundo o AO. Barbaridade.... Vou evocar objecção de consciência e apresentar a dita em português... De Portugal... Tal como me foi muito bem ensinado, desde a escola primária e que tanto prezo. Vou receber represálias, mas... Fico de consciência limpa.
Muito, muito obrigada por, passado tanto tempo desta incongruência ter sido cimentada, continuar a lutar pelo que é a real língua portuguesa.
Com votos de elevada consideração e estima
T. F.
***
Cara T. F.,
Agradeço a sua mensagem.
Começo por dizer-lhe que concordo consigo: o AO90 é perigoso, em todos os sentidos.
E nada tem a ver com a falsa intenção de unir Portugal e Brasil através da Língua, porque até o mais analfabeto dos cidadãos sabe que jamais isso seria possível. Aqui a questão é meramente política. Não, uma política elevada, obviamente, mas uma política da mais rasteira. Muito, muito rasteira.
E nem sequer também nasceu para pouparem os custos de terem de fazer uma edição para Portugal e outra para o Brasil, porque o que se publica em Portugal não circula no Brasil, e o que se publica no Brasil não circula em Portugal.
É tudo uma monumental falácia para enganar os ceguinhos.
Pois o que tenho a dizer-lhe quanto à razão de a iniciativa popular estar a ser “abafada” é o seguinte: a política vigente é a do quero, posso e mando, ainda que viole a lei. O Parlamento está a violar a Lei que rege as ILCs, bem como está a violar a Constituição da República Portuguesa quanto à aplicação ilegal e inconstitucional do AO90, referida por TODOS os juristas, que já se debruçaram sobre o assunto.
Mas, nesta ditadura socialista, disfarçada de democracia, em que Portugal vive, os que governam têm o privilégio de violar tudo e mais alguma coisa, sem que se sentem no banco dos réus, porque se algum dia a JUSTIÇA portuguesa decidir cumprir a LEI, e culpar os governantes envolvidos nesta FRAUDE, chamada AO90, o Parlamento é capaz de mudar a Lei, a favor deles, como o querem fazer, por exemplo, na questão do aeroporto do Montijo. Os pareceres, em ambos os casos, são TODOS negativos, mas o que importa, se são eles que têm a faca e o queijo na mão, até para mudarem as leis, se as leis não lhes convierem?
Nesta questão do AO90, comentem-se vários crimes. Entre eles:
1 - O primeiro, e o mais grave, é o Crime de Lesa-Infância, ao obrigarem as nossas crianças a “aprenderem” uma mixórdia ortográfica ilegal, que nada tem a ver com a Língua Materna delas.
2 – O segundo, é o Crime de Lesa-Língua, ao substituírem a grafia portuguesa, pela grafia brasileira, com objectivos obscuros e impraticáveis, e acrescentando-lhe vocábulos desenraizados da Língua-Mãe, transformando-a na maior mixórdia linguística do Mundo.
3 – O terceiro, é o Crime de Lesa-Pátria, ao destruírem a Língua Portuguesa, vector de Identidade Nacional e Património Cultural Imaterial do nosso País, empurrando Portugal para a perda da Soberania Nacional, uma vez que o português acordizado, abrasileirado e amixordizado, que por aí circula, já não nos identifica, nem nos representa.
Daí que, cara T. F., ninguém, em Portugal, tem o direito de exigir que escreva a sua Tese de Mestrado na mixórdia ortográfica ILEGAL, que dá pelo nome de Acordo Ortográfico de 1990.
A T. F., como cidadã portuguesa, tem o direito de escrever a sua Tese na sua Língua Materna original, e não conforme a ortografia amixordizada que lhe impingiram, inconstitucionalmente.
Se a importunarem, quando apresentar a sua tese correCtamente escrita, peça que lhe mostrem a LEI que a obriga a escrever segundo a cartilha do AO90, tendo em conta que Lei NÃO É a Resolução do Conselho de Ministros 8/2011, 2011-01-25 que, ilegalmente, determinou (não OBRIGOU, porque apenas uma LEI OBRIGA) a aplicação do AO90.
Obviamente que poderá evocar a objecção de consciência e o direito à resistência, ambos direitos consignados na Constituição da República Portuguesa.
Há muitos mestrandos que se opuseram a escrever incorrectamente a sua Língua Materna, e nada lhes aconteceu, porque, na verdade, não existindo Lei que a tal obrigue, quem se recusar a aplicar a grafia ilegal, está a cumprir a Lei, ou seja, o Decreto 35.228, de 8 de Dezembro de 1945, vigente em Portugal, porque não foi revogado. E só uma lei revoga outra lei. Não uma RCM.
Por fim, quero dizer-lhe que esta incongruência não foi cimentada, como refere. Parece que foi, mas não foi. Há milhares de Portugueses, não só em Portugal, como por esse mundo fora, a manter intacta a Língua Portuguesa, porque a Língua Portuguesa NÃO É a mixórdia que circula na Internet, nos rodapés dos telejornais, nas legendas dos filmes que passam na televisão, nas traduções de livros acordizadas, nem nas obras de escritores acordistas, nem aquela linguagem que as nossas crianças estão a (des)aprender nas escolas, criminosamente.
Essa é a mixórdia linguística portuguesa, apenas usada pelos seguidistas, pelos servilistas, pelos comodistas, pelos acomodados e pelos ignorantes optativos de Portugal.
A Língua Portuguesa está preservada com os muitos, muitos milhares de Portugueses LIVRES que a escrevem correCtamente, e que a ensinam aos mais novos. É o que também faço com os meus netos, que aprendem acordês e Inglês na escola, e Português, em casa. E sabem que o acordês é para esquecer, quando tiverem idade para dizer NÃO!
Mas até lá, cara T. F., o mundo dará muitas voltas, e os predadores da Língua Portuguesa, numa dessas voltas, cairão no chão, atacados pela putrescência dos seus actos ignaros, e o AO90 será finalmente atirado para o caixote do lixo.
Com as minhas saudações desacordistas,
Isabel A. Ferreira
Este texto de Nuno Pacheco, publicado ontem no Jornal Público, diz tanta coisa nas entrelinhas…
Mas será que os governantes entenderão?...
Por Nuno Pacheco
«Desacordai, ó gentes que dormis! É que já passou o tempo dos silêncios vis.
Estava a caterpillar socialista posta em desassossego, a trabalhar a todo o vapor na desmontagem do edifício legislativo do anterior governo, quando José Pacheco Pereira resolveu perguntar a António Costa sem grandes rodeios: se estão a acabar com tanta coisa, por que não acabam com o acordo ortográfico? Isto foi-lhe perguntado na SIC-N, numa edição especial do programa Quadratura do Círculo — onde Costa, ex-comentador residente, esteve agora como convidado e, claro, Primeiro-ministro. "Acho que não faz sentido mexer no acordo", disse Costa. E arrancou às suas memórias este diamante: "A minha geração já aprendeu na escola que Luís se escreve com S e não se escreve com Z." Quis com isso dizer: já houve um acordo, este é outro, para quê tanta preocupação? Mas foi infeliz (com Z) no exemplo. Porque Luís, palavra de origem alemã que na sua evolução pelos continentes deu Ludwig, Louis, Luigi ou Luís, já se escrevia por cá com S no tempo de Camões, como se pode confirmar na capa original d’Os Lusíadas. Houve luíses com Z, é certo, mas onde eles proliferaram foi no Brasil. Querem um exemplo? Vão à página oficial do Instituto Lula e lerão: Luiz Inácio Lula da Silva. Assim mesmo, com Z. Conclusão: Camões escrevia como ensinaram a António Costa e Lula, no Brasil, usa o Z que a escola disse a Costa que era errado. Confuso? De modo algum. Confusa é a forma como os políticos, absolutamente ignorantes na matéria, continuam a falar do acordo ortográfico. Mas ficámos a saber uma coisa: Costa não tomaria a iniciativa de fazer este acordo, disse-o na SIC-N, mas também não toma a iniciativa de o desfazer. Compreende-se. É muito mais "importante" do que os exames ou a TAP... Parafraseando O’Neill, se o acordo fosse só três sílabas, e de plástico, para ser mais barato, não havia problema. Mas é, como lhe chamou um crítico literário brasileiro, um aleijão que incomoda. Em Portugal, no Brasil ou onde quer que vegete. Desacordai, pois, ó gentes que dormis! É que já passou o tempo dos silêncios vis.»
Fonte:
http://www.publico.pt/opiniao/noticia/se-fosse-so-tres-silabas-1720251
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