Quem o diz é Helder Guégués, no seu Blogue Linguagista
Origem da imagem: https://www.novoslivros.pt/2015/09/helder-guegues-em-portugues-se-faz-favor.html
Por Hélder Guégués
«O maior embuste desde o 25 de Abril
Francisco Sarsfield Cabral vem hoje lembrar na Rádio Renascença que o «Acordo Ortográfico tem quase 40 anos». Pelas minhas contas, são quase 30. «Tempo suficiente para mostrar que não atingiu o seu objetivo de unificar a ortografia nos países de língua oficial portuguesa.» Bem verdade: o AO90 revela-se, a cada dia que passa, o maior embuste político depois do 25 de Abril em que nós, Portugueses, caímos.
«Não possuo qualificações para debater seriamente o AO.» É também, penaliza-me dizê-lo, uma evidência, pelo menos a avaliar pela amostra: «Mas há coisas que não são aceitáveis no AO. Por exemplo, tirar as maiúsculas dos dias da semana e dos meses. Ou implicar com a grafia de nomes pessoais. Mas ninguém protesta, e ainda bem, por se escrever Sophia, como se escrevia quando a poeta nasceu, há um século.» Desde quando é que os dias da semana eram escritos com maiúscula inicial? E em que aspecto implica com os nomes pessoais, se até há uma ressalva específica na Base XXI? Ninguém (são de espírito) protesta por se escrever Sophia, mas a maioria, entre os quais muitos jornalistas, deturpa o nome de Eça de Queiroz.
Posto isto, devo dizer que Sarsfield Cabral é um dos jornalistas mais cuidadosos que conheço, digo-o com conhecimento de causa, já revi muitos artigos da sua autoria.
O anúncio da MEO é um pouco enfadonho, mas não deixa de ser interessante.
Ronaldo e a andróide Sophia, aliás bonitinha e muito simpática, e se lhe cobrissem a cabeça com uma bela peruca, ficaria quase, quase humana, travam uma conversa sobre os conhecimentos dela sobre a vida de Cristiano Ronaldo.
A alturas tantas Sophia alude aos “gólos” (transcrição da pronúncia) do futebolista.
Bem, Sophia, sendo andróide, não tem obrigação de saber falar Português fluentemente. Não tem.
Desconheço como esta coisa de pôr uma andróide a falar se processa.
Também não sei quem foi o responsável pela produção do anúncio.
Mas uma coisa eu sei: sei que sem intervenção humana, o “boneco” jamais falaria o que quer que seja.
Em Bom Português aquilo que o Ronaldo faz muitíssimo bem é um golo (gôlo) (do Inglês goal - gôl), plural, golos (gôlos).
Não se lê do mesmo modo que colo (cólo), do grego kólon.
Ora, Sophia, com a sua inteligência artificial, não tem de saber estes pormenores, e apenas repete aquilo para a qual foi programada.
Mas nos tempos que correm, nem os andróides escapam a esta ignorância da Língua Portuguesa, entranhada nos mais estranhos lugares.
Bem sei que isto nada tem a ver com a introdução em Portugal do malfadado AO90, que, no entanto, ajuda à missa cantada da ignorância desavergonhada, mas tem a ver com três factores que, por mais incrível que pareça, germinam na Assembleia da República Portuguesa e depois espalham-se por aí…
1 - Um total desleixo quanto à preservação da Língua Portuguesa;
2 – Um monumental desconhecimento das regras gramaticais;
3 – Uma descomunal falta de brio político.
Este tipo de gafe da andróide Sophia (não vou chamar-lhe ignorância, porque a senhora não tem culpa) está generalizado não só em anúncios, mas principalmente nas “falas” de senhores deputados da Nação, ministros, presidentes, directores, administradores, professores, doutores, engenheiros… enfim a elite portuguesa, que passou por universidades, e que devia dar o exemplo de bem-falar e bem-escrever, e são os piores.
Fica para uma próxima, a abordagem das gafes linguísticas dos nossos “letrados”.
Isabel A. Ferreira
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