Terça-feira, 1 de Outubro de 2019

O Bom e o Mau na Gala dos “Globo de Ouro” no que à Língua Portuguesa diz respeito

 

No passado domingo, apeteceu-me, e vi a Gala dos “Globo de Ouro”, na SIC.

 

E ainda bem que vi, para ouvir o que lá se disse, porque de todo o espectáculo e dos prémios e das elegâncias, de umas coisas gostei, de outras não, e de uma, em particular (homenagem à memória de um torturador de Touros), abominei.

 

E o que é que o meu gosto ou desgosto interessa? Perguntarão.

Nada. Não interessa nada. Mas, mesmo assim, vou revelar o que gostei de ouvir, e o que me repugnou.

 

E vou começar pelo que gostei, daí deixar já aqui, antes de mais, o meu preito a Vera Holtz e Marcos Caruso, dois actores que sempre admirei, pelo elevado grau de profissionalismo, e pela simpatia e simplicidade com que se movimentam no mundo do brilho e do glamour…

 

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Origem da foto: Internet

 

Gostei de ouvir:

 

Vera Holtz e Marcos Caruso, dois excePcionais aCtores brasileiros, que subiram ao palco para anunciar o Globo de Ouro, na categoria de Melhor Peça / EspeCtáculo (que foi entregue a ‘Tio Vânia’), e dirigiram-se à plateia, na Língua deles, não sentindo a mínima necessidade de serem servis e falarem à portuguesa, para agradarem ou fazerem-se entender por uma plateia constituída, certamente, na sua maioria, por Portugueses.

 

Até porque, dizem por aí, que Brasil e Portugal falam a mesma Língua (oficialmente), se bem que com substanciais diferenças na fonética, na fonologia, na ortografia, no léxico, na sintaxe, na acentuação, algo que (oficiosamente) é já Língua Brasileira, mas não há necessidade nem de aportuguesar, nem de abrasileirar as falas, quando falamos uns com os outros.

 

Por isso, Vera e Marcos merecem o meu aplauso e a minha admiração: honraram a Língua e o País deles - o Brasil.

 

Não gostei de ouvir:

 

Ricardo Pereira.png

(Divulgação/ TV Globo)

 

O aCtor Ricardo Pereira, a entrevistar, em Brasileiro, Vera Holtz e Marcos Caruso, na Gala dos Globos de Ouro, como se eles fossem muito desprovidos de entendimento, como se não entendessem a fala portuguesa, não é mesmo? E o Ricardo Pereira demonstrou, deste modo, que não falamos a mesma Língua, pois se falássemos, não havia necessidade de estrangeirar.

 

Mas estrangeirou, e foi esta atitude servil que me repugnou. Vera e Marcos não são ignorantes, conseguem perfeitamente entender a fala portuguesa. Não precisam de legendas, nem que um português lhes fale à brasileira, para que o entendam. Ricardo Pereira esteve muito mal: insultou a inteligência dos aCtores brasileiros e desprezou a própria Língua e o seu País, a não ser que já não seja português.

 

Isto fez-me lembrar o nosso Presidente da República, que, também muito servilmente, no Palácio de Belém, deu, aqui há tempos, uma entrevista à TV Globo falando brasileiro, como se o entrevistador não soubesse Português. E com isto, o PR desonrou Portugal e a Língua Portuguesa.  Aposto que jamais Jair Bolsonaro daria uma entrevista à SIC aportuguesando a sua fala.

 

Gostei de ouvir:

 

E soou-me bem, os vários Olá, a todos! Naquela plateia constituída por homens e mulheres. Quem assim saudou o público presente no Coliseu dos Recreios é gente que sabe falar.

 

Não é como uns e outros (ou teremos de dizer uns, umas, e outros, outras?) que andam por aí a parvoar numa linguagem a que chamam inclusiva, para reforçar uma visibilidade ainda reduzida das mulheres no contexto social nacional (foi a explicação que me deram). Então, para dar visibilidade às mulheres, desatam a dizer olá a todos e a todas”, demonstrando uma gigantesca ignorância da Língua Portuguesa, porquanto o vocábulo TODOS é um substantivo masculino plural, que significa toda a gente, incluindo a Humanidade. Significa totalidade numérica de pessoas (e pessoos?) ou coisas (e coisos?), dizem os dicionários. E um grupo de pessoas pode incluir apenas mulheres, ou apenas homens, ou homens e mulheres, crianças (e crianços?) jovens, e idosos.

 

Dizer todos e todas é uma muito infeliz redundância, assente na ignorância.

 

Mas até o nosso primeiro-ministro, que devia dar lições de bem falar a língua do país que representa, um destes dias, a discursar no Algarve, dirigiu-se aos Algarvios e Algarvias, como se os Algarvios não fossem os habitantes (e as habitantas?) do Algarve.

 

Fico-me por aqui, porque esta parte final já não pertence aos “Globos de Ouro”, que, contudo e obviamente, os adeptos da parva linguagem dita inclusiva, não ganhariam jamais, se houvesse tal distinção para os bons falantes de Língua Portuguesa.

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 10:50

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Quinta-feira, 29 de Outubro de 2015

O «Mitório»

MITÓRIO.jpeg

(Origem da imagem: Internet)

 

Ontem à noite, antes de me deitar, como estava demasiado cansada para ler ou ver algum filme, que me fizessem pensar mais do que já tinha pensado durante o dia, procurei nos canais da TV Cabo algo levezinho, que me desviasse da preocupante realidade do mundo em que vivemos, e lentamente me atirasse para os braços de Morfeu.

 

Acontece que, por ironia do destino, passando pela TV Globo (que todos sabem ser uma prestigiada estação televisiva brasileira) deparei-me com um episódio da novela Pedra Sobre Pedra (aliás uma interessantíssima sátira político-social de grande qualidade, que já passou numa das estações portuguesas), bem no momento em que o Prefeito de Resplendor (uma cidadezinha fictícia do interior do Brasil), o dentista Kléber Vilares, personagem protagonizada pelo actor Cecil Thiré, falava à mulher da obra faraónica que devia marcar o seu mandato político: o Mitório de Resplendor, que iria ser construído bem no centro da cidade. (A pronúncia foi essa mesmo: mi-tó-rio…)

 

Fiquei a pensar naquele Mitório.

 

Seria um lugar onde iriam “exibir” os mitos da cidade? Um lugar onde se guardam os mitos? Assim uma espécie de museu…?

 

Não, não era.

 

O que o Dr. Klébi (no dizer do povo resplendórino) pretendia construir no centro da praça era um miCtório, ou seja, um local público para se urinar (palavra com raiz no vocábulo latino mictorius).

 

Sei que no Brasil esta palavra existe na sua forma portuguesa - miCtório, e que embora se pronuncie miquitório, não deixa de ser um mictório.

 

Não sei se “mitório” seria um linguajar próprio do Dr. Kléber, ou se Cecil Thiré cometeu um lapsus linguae.

 

O certo é que, se a moda pega, e se o AO/90 assenta arraiais em território de Portugal, passamos a ter não só mitórios públicos, como problemas de mição e miturição (respectivamente o acto resultante de urinar, e a necessidade frequente de urinar).

 

E eu que, de passagem, quis distrair-me com algo levezinho que me lançasse nos braços de Morfeu, acabei por ter uma enfadonha insónia, à conta do mitório do Dr. Kléber.

 

(Atenção! Considero esta novela – que segui, com muito interesse, quando passou em Portugal – uma obra-prima satírica, e representativa da excelência da arte de bem representar dos actores brasileiros, e da superioridade criativa dos autores da novela).

 

Mas uma coisa, é uma coisa, outra coisa, é outra coisa…

 

Isabel A. Ferreira

 

publicado por Isabel A. Ferreira às 15:26

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