«A “unificação” ortográfica dos países de língua portuguesa é, definitivamente, objectivo inalcançável, e qualquer tentativa de a forçar acaba em caricatura, tapando num lado e destapando noutro. O AO90 foi, nisto, exemplo acabado, ao criar centenas de novas discrepâncias que nada resolveram e só nos ficarão envergonhando. Venha agora, e depressa, uma comissão que nos liberte deste emaranhado que ninguém pediu e restitua à língua portuguesa um rosto apresentável.»
Fernando Venâncio, linguista, escritor e crítico literário
«2 - Garantir a solenidade, valorização e inviolabilidade da Língua Oficial Portuguesa através da recusa e suspensão imediata do denominado “Acordo Ortográfico” de 1990, sem possibilidade de qualquer revisão.»
100 Medidas de Governo do Chega, página 3
«O Acordo Ortográfico, que estraga a língua portuguesa, é de esquerda ou direita?»
José Pacheco Pereira, professor, cronista e político
Como é óbvio, a questão ortográfica é sobremaneira importante quando definimos o nosso sentido de voto. No nosso escrito de Fevereiro, dissecámos o conteúdo linguístico do Programa Eleitoral do PSD 2022 e, na sequência dessa análise, assestamos, agora, baterias nas medidas de governo do partido Chega.
A primeira impressão que temos é a de que houve uma clara opção pela grafia anterior ao AO90, o que era expectável, tendo em conta o teor da medida citada em epígrafe. Vejamos, então, com diversos exemplos, a qualidade da ortografia do partido de André Ventura, que foi um dos subscritores de um manifesto contra o Acordo Ortográfico, divulgado pelo jornal Público em 23 de Janeiro de 2017:
- na página 3, deparamo-nos com projecto e respectivos, coexistindo com diretamente;
- na página 4, de mãos dadas no mesmo parágrafo, estão lecionar e leccionar, convivendo com actual;
- na página seguinte, encontramos três formas lídimas, a saber: actividade, respectivo e respectivas;
- também a página 6, está livre de emissões do AO90, com os termos factura e electricidade;
- na página 7, destaca-se a ausência de hífen na forma mais valias:
- na página 9, encontramos atual e actos (que se repete duas vezes na página seguinte), na companhia de excetuando e excepção;
- na página 10, lê-se ainda accionar, acupuntura e setor;
- já na página 11, temos só formas genuínas: accionar, actos, actuais, actualização e sector (que recuperou a consoante perdida na página anterior);
- a página 13 só apresenta formas sem contaminação do AO90: efectividade, efectiva e protecção;
- o mesmo acontece na página 14, com os termos adoptado e efectiva;
- na página seguinte as consoantes estão no seu lugar em directos e sector;
- actualmente e infractores, na página 16, respeitam a etimologia;
- na página 17, encontramos acto e actividade;
- a página 20 foi atacada pelo vírus consoanticida em eletricidade (duas vezes), faturação e diretos, o que também ocorre em direto (pág. 21);
- na página 23, tecto, actual, protecção, directa mostram que o problema das páginas anteriores foi debelado;
- na página 25, deparamo-nos com uma recaída em efetiva;
- na página 26, coexistem antissemitismo e mão-de-obra, na companhia de sectores e atividade;
- a página 30, à imagem de grande parte dos órgãos de comunicação social, é uma verdadeira salgalhada, com objetivo, autossuficiência, ações e leccionação;
- na página seguinte só há bons exemplos, como actividade e concepção;
- para finalizar, as palavras autossuficiência e autossuficiente surgem, acompanhadas de respectivos na página 32.
Podemos, pois, concluir que, o AO90 só veio criar confusões entre os escreventes, já que potenciou imensos erros (como os que estão assinalados nas imagens que acompanham este escrito), amplamente divulgados por páginas de oposição ao Acordo Ortográfico no Facebook, as quais têm realizado um muito louvável trabalho, desmascarando a maravilhosa língua unificada, isto é, a cacografia.
Conclui-se ainda que esta alteração ortográfica, da qual os únicos beneficiários foram as editoras de livros didácticos e de dicionários, bem como os respectivos autores, foi levada a cabo por motivos puramente políticos, sem quaisquer fundamentos linguísticos e revelando uma extraordinária ignorância no que diz respeito à natureza da língua. Um dia, a história que conduziu a língua a uma profusão de fatos (como uma monumental alfaiataria), de contatos e a “centenas de novas discrepâncias” será contada sem eufemismos.
João Esperança Barroca
Texto de António Fernando Nabais
O chamado acordo ortográfico (AO90) foi criado para uniformizar a ortografia lusófona e para acabar com uns alegados desentendimentos gráficos entre falantes intercontinentais da língua lusa e dar início a um universo editorial cheio de edições únicas do Minho a Timor. Escolheu-se o chamado “critério fonético”, o que garantiu, logo à partida, a impossibilidade de criar uma ortografia única. A incúria e a falta de rigor juntaram a essa impossibilidade a possibilidade de, dentro do mesmo país, poder passar a escrever-se “expectativas” e “expetativas”, em nome do estranho critério acima referido.
Os defensores do AO90, diante do caos, dizem que não era bem uniformizar, era só aproximar ainda mais, o que levou a que nascessem diferenças outrora inexistentes, como “receção” e “recepção”.
Na magnífica página Tradutores contra o Acordo Ortográfico, pude encontrar a fotografia surripiada e publicada mais acima. O que nos diz esta imagem, para além das habituais mil palavras? Que não houve o cuidado de uniformizar as terminologias científicas e que Angola ainda não adoptou o AO90, levando a que uma página da Wikipédia, após o AO90 de todas as uniformizações, tenha de escrever a mesma palavra com três grafias diferentes.
Resultado? Não só não nos aproximámos do Brasil, como nos afastámos de Angola, com o patrocínio do AO90, esse antónimo de ortografia.
Fonte:
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Nota da responsabilidade da autora do Blogue:
As fontes para o vocábulo “electrão”, estão desactualizadas na Wikipédia. Essas fontes não correspondem à realidade.
E a realidade é a seguinte:
Elétron - "Língua Brasileira" – Brasil (do Inglês electron);
Eletrão - Português acordizado – Portugal (do brasileiro elétron);
Electrão - Português Europeu, ou mais precisamente, Língua Portuguesa – Angola (do grego ήλεκτρον, élektron).
Angola é o único País que escreve a palavra electrão, no chamado Português Europeu, ou seja, em Língua Portuguesa. O K grego, foi substituído pelo C do Alfabeto Latino (o Alfabeto Português), porque têm o mesmo som, quando o C não está seguido das vogais E e I. Exemplo: cavalo, coração, cubículo.
A grafia, que o governo português impingiu a Portugal, não é europeia, mas sim BRASILEIRA.
Angola, sim, ultrapassou Portugal e, neste momento, é um dos últimos bastiões da Língua Portuguesa, no mundo, e Portugal não passa do carrasco da Língua, que foi concebida no reinado do Rei Dom Dinis, e que os navegadores portugueses espalharam por esse mundo fora.
Isabel A. Ferreira
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