O escritor e jornalista Altino do Tojal morreu, no passado domingo, dia 15 de Julho, em Brunhais, Póvoa de Lanhoso.
Nascido em Braga, em 26 de Julho de 1939, partiu a poucos dias de completar 79 anos.
Morreu um Escritor que soube honrar a Língua Portuguesa.
Aqui lhe presto a minha mais sincera homenagem.
Altino era, é, um dos escritores portugueses contemporâneos da minha maior predilecção.
O seu funeral realiza-se hoje, às 15 horas, na Igreja de Sobradelo da Goma, na Póvoa de Lanhoso. O corpo seguirá depois para o Porto, onde será cremado, como era seu desejo.
Origem da imagem: https://aviagemdosargonautas.net/2018/07/23/altino-do-tojal-autor-de-os-putos-deixou-nos/
Altino do Tojal deu-me a honra de publicar a minha fotografia de um tojo, na capa desta 30.ª edição de «Os Putos - Contos Escolhidos». Éramos (somos, sempre seremos) amigos. Corria o ano de 2009, e Altino disse-me que precisava de uma fotografia de um tojo, para o seu livro, sabendo que a fotografia era (é) uma das minhas grandes paixões, e já conhecia o meu trabalho fotográfico no jornal «O Comércio do Porto», onde ambos trabalhámos. É que, disse-me ele (que residia em Lisboa), raramente os encontro. Se eu poderia fotografar um, para ele. Eu havia-lhe dito que bem perto de onde eu morava havia um tojal florido, à beira da estrada. E esta é a origem da foto desta capa, inspirada no conto “De Joelhos Perante um Tojo”, inserido nesta 30.ª edição da obra que o catapultou para a eternidade.
Antes de conhecer Altino do Tojal já havia lido “Os Putos”. Já era muito sua admiradora. Apaixonada pela sua prosa escorreita, onde as palavras, sempre bem seleccionadas, têm força, e transmitem-nos emoções, e descrevem realidades, umas, vividas, outras, observadas. Magnificamente.
Ler Altino do Tojal é entrar num mundo extraordinariamente emocionante. Eu, que sou grande apreciadora de Contos, devorei-os um a um. Possuo toda a sua obra autografada. Traguei-a de um só fôlego. E absorvi o extraordinário poder da escrita de Altino.
Um dia, no já longínquo Março de 1979, aceitaram-me no jornal «O Comércio do Porto». E a primeira vez que entrei na Redacção, conheci o Altino, na altura um dos redactores do Jornal.
A emoção foi enorme, pois se Altino era um dos meus escritores preferidos! Ali logo lho disse. E uma profunda amizade começou então, naquele dia, naquele momento.
Altino era um cavalheiro, algo tímido. Um homem extremamente sensível. Uma alma desassossegada, como é apanágio dos grandes escritores. Encontrávamo-nos frequentemente, em Vila do Conde e Póvoa de Varzim, para almoçar, conversar e trocar confidências. Conhecer a vida de um escritor de tão elevada estirpe é um privilégio para qualquer leitor, porque nos ajuda a entender a sua obra.
Foi a partir desta convivência que comecei a ler os outros livros de Altino. É que Altino não é só «Os Putos», dos quais existem dezenas de edições. Altino é «Viagem a Ver o Que Dá»; é «Histórias de Macau»; é «Orvalho do Oriente»; é «O Oráculo de Jamais»; é «A Colina dos Espantalhos Sonhadores»; é «Jogos de Luz e Outros Natais». Um outro mundo. O mundo de Altino do Total. Absolutamente único, misterioso, fantástico.
Foi Altino que me levou a um restaurante chinês, pela primeira vez. Desconhecia aquela gastronomia. Ficou-me a lembrança da sobremesa, “banana fa-si”, com a qual me deliciei. Altino viveu um tempo em Macau, e do oriente trouxe-nos as magníficas histórias e o subtil orvalho. E memórias. Muitas memórias.
Depois de o Jornal «O Comércio do Porto», sedeado na cidade do Porto, se ter extinguido, Altino foi viver para Lisboa, onde, aliás, já mantinha alugada uma casa. Nunca deixámos de nos comunicar. De vez em quando vinha visitar-me.
Em 2008, esteve presente no lançamento do meu livro «Contestação», em Lisboa, e juntamente com um casal amigo, passámos um dia extraordinário, a conhecer a cidade, os seus becos, o seu palpitar. Nesse dia, Altino estava muito feliz. E quando o Altino estava feliz e descontraído era um extraordinário contador de histórias. Aquele foi, pois, um dia inesquecível para mim e para o casal que nos acompanhou. E também para Altino, que viveu um dia de felicidade.
A última vez que falei com ele foi há dois anos, pelo Natal. Disse-me que andava adoentado. Depois disto perdi-lhe o rasto.
Foi com enorme consternação que soube da sua morte.
Morte, apenas física, porque Altino do Tojal viverá eternamente através da sua obra, que, espero, jamais seja conspurcada pelo fétido cadáver ortográfico, que anda por aí a empestar a Língua Portuguesa, que Altino tão magnificamente soube honrar.
Até sempre, caríssimo Amigo! Que a tua alma possa descansar naquela paz que nunca tiveste em vida!
Isabel A. Ferreira
Hoje, os Portugueses deveriam celebrar, com alegria, o dia 25 de Abril, que agora querem que seja grafado abril, com letra minúscula, como minúscula se revelou a Revolução que nos livrou de uma ditadura, para nos lançar numa autocracia lobista, disfarçada de Democracia…
Os jovens portugueses deveriam poder celebrar o 25 de Abril com a alegria que Agonia Sampaio colocou neste desenho. Mas que caminho para o futuro o 25 de Abril lhes abriu?
Na manhã do dia 25 de Abril de 1974, levantei-me cedo, como habitualmente, para ir dar aulas.
Entrei na camioneta, e tudo parecia igual. As mesmas pessoas, caladas, indo para os seus empregos, como se carregassem um peso às costas. Era assim que se vivia naquela altura: como se carregássemos um peso às costas. Ninguém falava. Iam absortas, atadas aos seus pensamentos.
Chegada a Vila do Conde, saí da camioneta, num ponto junto ao Mercado, e andei o habitual cerca de meio quilómetro até chegar à “Frei João”. À porta esperavam-me os meus alunos do primeiro tempo, contentíssimos, porque, disseram, hoje não há aulas setôra. Então porquê, perguntei. Houve uma revolução e não vai haver aulas, esclareceram-me. Uma revolução de quê, onde? Perguntei, pensando que se tratasse de algum problema na Escola. Não sabiam. O que sabiam era que houve uma revolução e não havia aulas.
Passei na Secretaria para saber o que estava a passar-se. Não sabiam muito bem, mas as ordens eram para suspender as aulas e ir toda a gente para casa.
Despedi-me dos alunos, e fiz o caminho de regresso, inquieta, e mal cheguei a casa apressei-me a ligar a televisão-miniatura, que era a minha, para saber notícias, pois na rua ninguém sabia de nada.
A informação era pouca. Passavam música, e de vez em quando lá vinha uma informação solta. Aquela seria uma revolução peculiar. Passei o dia colada ao mini-ecrã, no intuito de saber o que estava a passar-se. Mas foi apenas na manhã seguinte que soltaram a notícia do início de uma Revolução pacífica, a dos Cravos, que derrubou a ditadura que atormentou os Portugueses durante décadas.
Até chorei! Finalmente iríamos respirar o ar da Libertação e da Democracia, e sentir o sabor da vontade do Povo Livre.
Porém, os dias, as semanas, os meses, os anos foram passando e eu sempre à espera de respirar o tal ar da Libertação e da Democracia, e de sentir o sabor da vontade do Povo Livre.
Que grande ilusão! Descobri que um Povo só é verdadeiramente livre através da Cultura, do Ensino, da Educação, e tudo isto não veio com a Revolução de Abril, muito pelo contrário, degradou-se paulatinamente, e o Povo, esse, confundiu Liberdade com “fazer tudo o que se quer”, e esse foi um erro que lhe está a sair bastante caro.
Os que, sucessivamente, foram ocupando as cadeiras do Poder, subiu-lhes o poder à cabeça e instituíram um sistema a que chamaram Democracia, pois até tivemos direito ao voto, e as mulheres até já podiam viajar sem autorização dos maridos, no entanto, para ser uma verdadeira Democracia faltava-lhe o principal: o poder do povo.
Enganam-se aqueles que acham que lá por terem direito ao voto e escolherem livremente os que se dizem ser representantes do povo, é viver em Democracia. Erro monumental, no caso de Portugal.
Os que se dizem representantes do povo, durante as campanhas eleitorais, prometendo tudo e mais alguma coisa a esse mesmo Povo, na realidade, não são representantes do povo, porquanto quando chegam ao Poder, esquecem-se de que são representantes do povo, esquecem-se de que estão ao serviço do Povo e que é o Povo que lhes paga os salários, apesar de estes serem superiores aos do Povo, e porque necessitam de mais algum, viram-se para os lobbies, e é a esses que os falsos representantes do povo obedecem e servem cegamente. E isto não é Democracia. Isto é uma autocracia lobista.
Livrámo-nos de uma ditadura, para entrarmos noutra. Porque há muitas formas de ditadura. E esta, actualmente em vigor, está a levar Portugal para o abismo social, cultural e linguístico, bem nas barbas de um Povo, que já se esqueceu dos valores preconizados pela Revolução dos Cravos, e que na realidade nunca chegaram a ser postos em prática, porque o povo nunca teve poder.
O povo desuniu-se, partidarizou-se, e a canção Portugal Ressuscitado, cantada por Fernando Tordo, Tonicha e o Grupo InClave, «Agora o povo unido nunca mais será vencido, nunca mais será vencido…», com letra de Ary dos Santos e música de Pedro Osório, fez sentido apenas naqueles tempos de ilusão.
O Povo já não está unido, se é que alguma vez esteve. O Povo foi completamente vencido pela autocracia que se instalou. Quem manda em Portugal não é o Povo. Aliás, o Povo nunca mandou em Portugal. Quem manda em Portugal são os estrangeiros, através de um Poder que está a marimbar-se para Portugal.
A Revolução de Abril ainda está por cumprir. Está nas mãos dos Portugueses ressuscitar Abril, utilizando a arma do voto.
Precisamos de uma nova revolução para acabar com esta autocracia lobista.
Por isso, hoje, o que temos para celebrar, se os pobres continuam pobres; os ricos, cada vez mais ricos; reina uma corrupção instalada no Poder, que nos mente descaradamente, servindo os lobbies instalados em Portugal; e com este negócio da venda da Língua Portuguesa ao Brasil estamos a ser colonizados, vilipendiados, e pior do que tudo isso, está-se a enganar as crianças e os jovens, a quem dão um mau exemplo.
O futuro do País está suspenso num abismo, por um fio de aranha...
Mas para um Povo sem Cultura basta ter pão, ainda que pouco, e bastante circo e beijinhos e abraços e selfies. E, deste modo, o Poder vai entretendo um Povo acrítico, amorfo, preocupado apenas com o seu próprio umbigo…
ACORDA PORTUGAL!
«Acordai, acordai homens que dormis a embalar a dor dos silêncios vis…» (***)
O 25 de Abril ainda está por cumprir.
(***) Verso de José Gomes Ferreira
Isabel A. Ferreira
. Morreu Altino do Tojal, u...
. O que fizeram da Revoluçã...