Um actualíssimo texto da professora Maria João Gaspar Oliveira, escrito em Fevereiro de 2014, que repesco, neste momento, em que a Língua Portuguesa se esboroa, a cada dia que passa, e se caminha para o abismo, seguindo um "acordo" ortográfico que milhares de Portugueses repudiam, e que nenhum outro país lusófono deseja.
Por Maria João Gaspar Oliveira
«Nevoeiro Linguístico»
«Ver a Língua Portuguesa tão maltratada pelo "acordo" ortográfico (AO90), não é fácil para quem a ama profundamente, desde os bancos da escola. Dói-me vê-la desfigurada, a tentar mover-se no caos, sem o conseguir, perdida num nevoeiro que não deixa ver claro... Cada vez mais, me sinto agredida, em cada dia que passa, pelo AO90, através de certos jornais, da televisão, da Internet, e até pelo próprio "Jornal de Letras", cuja leitura deixou de me dar prazer.
Os princípios que (des)orientam este "acordo" são tão incongruentes, confusos e inconsistentes, que contribuem para o desprestígio internacional do nosso país. Não é por acaso que a maioria dos portugueses, incluindo poetas, escritores e professores, repudia este "acordo", que nos foi imposto, sem discussão pública, e que não pode contribuir, de modo algum, para a evolução da nossa Língua, até porque ela não evolui por decisão política, mas sim, naturalmente, nos diferentes contextos socioculturais de cada país.
Ao fazer tábua rasa da sua raiz greco-latina, afastando-a, assim, das grandes Línguas mundiais, este "acordo" roubou, à nossa flor do Lácio, o casulo onde as palavras se metamorfoseiam, até à beleza do voo. Quem já leu o texto do AO90, mais se apercebe da inviabilização do vocabulário formado por via erudita, devido ao afastamento da etimologia das palavras. E isto empobrece, drasticamente, a Língua Portuguesa.
Subordinar a grafia à oralidade, que é tão variada na comunidade lusófona, faz divergir as grafias ainda mais, pelo que deita por terra uma propalada "unificação" que não é desejável (é a diversidade que enriquece a Língua), nem possível, porque este "acordo" admite múltiplas grafias (as famigeradas facultatividades), como por exemplo: corrupto/corruto; dicção/dição; sumptuoso/suntuoso; peremptório/perentório, etc., etc. Além disso, provoca sérias divergências em palavras que tinham a mesma grafia, com a agravante de crias homonímias e homografias que não têm razão de ser, tais como: receção em Portugal e recepção no Brasil; deceção em Portugal e decepção no Brasil; espetador em Portugal e espectador no Brasil, e assim por diante.
A grafia, em função da pronúncia, desrespeita os próprios "objectivos" deste "acordo" que, afinal, nem é um Acordo, visto que, além de ser ilegal e inconstitucional, não foi subscrito por todas as comunidades falantes, e não está a ser aplicado nos países que o ratificaram (Brasil, Angola e Moçambique).
Introduzindo formas tipicamente brasileiras, no Português de Portugal, provocando alterações nas consoantes mudas, acentuação, hifenização, utilização de maiúsculas, etc., este "acordo" incoerente e sem fundamento científico, veio instaurar o caos linguístico na sociedade portuguesa, com consequências devastadoras a nível educacional, cultural, social e económico, coexistindo já três grafias: a do Português, a do AO90 e aquela que dá na real gana a quem é a favor do "acordo", mas que não o leu, ou seja as "multigrafias pessoais"... E a este "acordês", nem alguns responsáveis políticos, jornalistas e professores universitários conseguem escapar.
Como se tudo isto fosse pouco, o referido caos invadiu as escolas, onde também coexistem várias grafias, e onde os professores se vêem obrigados a ir contra a sua própria consciência, "ensinando", nos termos de um "acordo", que, liminarmente, rejeitam, mas que lhes foi arbitrariamente imposto, e ao arrepio de todos os pareceres. Com tal imposição, a maioria dos professores perdeu o prazer de ensinar, numa escola, onde aprender podia ser tão apaixonante como jogar à bola, ou andar de bicicleta. E, perante tamanho descalabro, como estimular, nos alunos, o gosto pela leitura e pela escrita? E o que vai acontecer ao rigor da Língua, na reflexão filosófica e na criação literária?
Um "acordo" que tem a fonética e o mercado livreiro como critérios, manifestando, assim, uma total insensibilidade, perante o valor patrimonial da ortografia, e que enferma de problemas, a nível legal e constitucional, prejudica seriamente o desenvolvimento, a educação, o progresso do país. O "acordo" em causa viola, por exemplo, o artº 78 (alínea c) do nº 2, da Constituição da República Portuguesa), sobre o dever estatal de defesa do património cultural.
Sabe-se que a Língua não evolui por decreto, mas há a considerar que este "acordo", apenas autorizado por uma Resolução da Assembleia da República, é, na verdade, ilegal, estando assim em vigor a anterior ortografia, acordada pelo AO45.
Para cúmulo, o AO90 recorreu a um conversor ortográfico, o Lince, já utilizado na AR e em várias instituições, e a um VOP ("Vocabulário Ortográfico do Português"), que não dignificam a cultura, e que entram em rota de colisão com ele próprio (imagine-se o Lince a abrasileirar Camões, Pessoa, etc.), por mais incrível que pareça.
Os problemas provocados pela aplicação deste "acordo" são tantos, que eu teria de me alongar ainda mais, para tentar fazer uma abordagem mais profunda de todos os pontos.
Como peticionária e amante da Língua Portuguesa, vou estar atenta, no próximo dia 28, ao debate e votação na Assembleia da República, da Petição nº 259/XII/2ª, que foi subscrita por Ivo Barroso e Madalena Homem Cardoso, e que exige a desvinculação de Portugal a este "acordo" ortográfico. Ao fim e ao cabo, todos sabemos que esta é a única solução. Qualquer outro "acordo", ou tentativa de "simplificação" do que já existe, só nos irá levar a novos e onerosos becos sem saída, que terão também, no futuro, graves consequências na Língua Portuguesa. (*)
Perante a selvática destruição da identidade e das raízes da nossa Língua, peço e espero que este Governo tenha o bom senso de pôr fim à imposição de um "acordo" que Portugal repudia, e que nenhum outro país lusófono deseja. Assumir um erro e erradicá-lo, só dignifica quem o pratica.
Caso contrário, ver-me-ei obrigada (e, decerto, a maioria dos portugueses...) a exercer o direito de resistência (artº 21, da Constituição da República Portuguesa).»
Maria João Gaspar Oliveira
Fonte:
https://www.facebook.com/notes/524069947710276/
(*) Malogradamente, a Petição nº 259/XII/2ª, não passou na Assembleia da República, devido à falta de conhecimentos específicos e à submissão do governo português a uma negociata obscura, que constituiu um descomunal erro, que ninguém ainda teve a dignidade, a hombridade, a honestidade de erradicar.
Tudo já foi dito e redito e esmiuçado acerca do maldito AO90 que, em muito má hora, foi parido por quem desejava ver Portugal a rastejar pelo chão, como um réptil.
E eis que, actualmente, temos um Portugal dividido entre os servilistas (que, obedientemente, se mantêm fiéis à aberração ortográfica, mais conhecida por AO90), e os insubmissos que o rejeitam convictamente, precisamente, por se tratar de uma aberração ortográfica, sem paralelo na História da Humanidade.
Para que Portugal regresse à sua condição de País independente, linguisticamente falando, é preciso que o Estado Português deixe de ser servil e recue nesta tentativa de colonização linguística, porque é da inteligência recuar, quando se caminha para o abismo.
Isabel A. Ferreira
E nem tudo tem a ver com o caos gerado pelo AO90, mas com uma descomunal falta de Saber…
RTP, o grupo chama-se "Peste & Sida"...
E como estamos em Portugal, secção é seCção, até porque se lê o Cê; e como ainda continuamos em Portugal, arquitecto é arquiteCto, apesar de não se ler o Cê. Porquê? Porque em Portugal a palavra arquiteto (ârquitêtu) leva-nos para umas grandes tetas, no masculino, até porque no Dicionário Infopédia, teto (têtu) é um sinónimo de teta: mama; órgão mamário das fêmeas de alguns mamíferos; úbere; teto (têtu) Podem ir lá consultar.
No Brasil, sim, escreve-se seção e arquiteto - lê-se s’ção e arquitêto - de acordo com as regras gramaticais da Língua Portuguesa.
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E na TVI o “desiquilíbrio” é total.
É que nem em Português, nem em Inglês se acerta…
O que será merchandisin? Uma gralha? Ou isto será aplicação do papa-letras AO90, em vocábulos ingleses?
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Bem… A SIC não pode dizer que chamar primeiro-ministro ao presidente da República foi gralha... Por que não foi.
Isto é uma imperdoável falta de tudo: de atenção, de conhecimento, de profissionalismo, uma autêntica balda…
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E esta?
O teclado falhou? Quem estava a escrever estaria com os copos?
Isto é inadmissível num órgão de informação.
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E na CMTV, que também aderiu à ortografia brasileira, aquele “projêto” que prevê que os “cônjugues” … em que tempo verbal?
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E não só de brasileirices os nossos canais estão cheios, mas também de um desconhecimento (ou será desleixo?) da Gramática.
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Isto é uma pequeníssima amostra do que vai por aí...
Estas situações são imperdoáveis e inadmissíveis em qualquer circunstância, mas muito menos em canais de televisão, os maiores difusores da cultura ou da incultura, conforme o caso.
Nos tempos que correm, a difusão está mais para a incultura linguística, uma autêntica calamidade, no nosso país.
Todos os órgãos de comunicação, já contactados a este respeito da vergonhosa aplicação do AO90, dizem-nos isto, à laia de treta de cassete: o Vocabulário Ortográfico do Português (VOP) foi tornado oficial em 2010 e obrigatório em todos os organismos do Estado.
Por conseguinte, devemos concluir então que todos os jornais, revistas e canais de televisão que adotaram (âdutáram) a ortografia brasileira são organismos do Estado. Certo? Ou devemos dizer lacaios do Estado?
Só os organismos do Estado, em princípio, deveriam seguir, apenas por obediência cega e acrítica ao Poder, esse tal VOP, mais VOB (Vocabulário Ortográfico do Brasileiro) do que VOP, porque não existe lei alguma que os obrigue (e muitos são os que desobedeceram) a escrever à moda brasileira.
Isto foi o que sempre desconfiámos: os órgãos de comunicação social são manipulados pelo Estado. Mas são os próprios que confirmam ser organismos do Estado… Ou não?
Haja ao menos profissionalismo e brio profissional.
Isabel A. Ferreira
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