Portugal inteiro já ouviu falar ou de ter lido sobre a existência da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que se mantém e se deseja saudável, pois à excepção da Guiné Equatorial – país non grato, porque mantém o não respeito pelos Direitos Humanos e porque mantém a pena de morte – são países, também à excepção da Guiné Equatorial, que antes de Abril de 1974, viviam sob administração portuguesa, e agora independentes.
Esta Comunidade, a CPLP, começou como razão e força da sua criação, o desenvolvimento mútuo, a partilha da Língua Portuguesa, da Cultura e o grande interesse pela afirmação da democracia. Como é evidente e normal, através desse caminhar, entre outros, tem-se avançado em interesses económicos, sociais, culturais e até já se pensa que a CPLP tem como estratégia futura a livre circulação de pessoas e bens entre si, o que é qualquer coisa de grandioso!
Sendo que, a partilha da Língua e Cultura, são, têm sido, o forte destas comunidades que falam Português, o enciclopedista brasileiro-libanês, Antônio Houaiss, engendrou o chamado Acordo Ortográfico há mais de 30 anos, que nem Angola nem Moçambique aderiram a tal acordo até aos dias de hoje. O Acordo Ortográfico (AO) deve dizer-se – nunca foi bem aceite por todos os países que falam Português e o Brasil só em 01 de Janeiro de 2016 (creio), pôs o AO em uso (assim disseram), contra a vontade dos brasileiros, sobretudo da intelectualidade do grande Brasil.
É de salientar que, em devido tempo, Vasco Graça Moura, grande escritor e político no activo, de então, condenou acerrimamente o Acordo Ortográfico/1990, classificando-o como “uma espécie de supermercado de palavras sem qualquer base ou razão que o justificasse”.
Apesar de várias alterações que o AO foi sofrendo desde 1990, não foi subscrito por todos os países como pressuposto é, e nem a Lei de 1945 que aprovou a Língua Portuguesa com bases científicas foi revogada. Logo, este AO usado à revelia por uns e ostracizado por outros – porque não tem como base verdade e realidade – confunde o povo, desprotege-o e prejudica-o, porque não está em vigor em todos os Estados signatários.
Os brasileiros sempre se firmaram no seu “brasileirês” e marimbam-se para o rigor do Português, excepto, claro está, a sua (deles) intelectualidade que defende e usa a Língua Portuguesa, na sua versão simplificada pelo Formulário Ortográfico Brasileiro de 1943.
Para os brasileiros o “facto” (acontecimento) será sempre o “fato”, porque ao nosso “fato” (calça e casaco) eles chamam-lhe “terno”, que para nós é ternura ou carta de jogar, entre outras. Claro que podiam ser citadas centenas e centenas de palavras que foram alteradas nesse semimorto AO que anarquiza os órgãos da Comunicação Social, Estabelecimentos de Ensino e faz dele o tal “supermercado” de palavras”.
Como atrás se afirma, os brasileiros cultos, como Escritores, Músicos, Críticos literários, Colunistas, etc. criticam o AO e recusam-se a usá-lo. Walnice Nogueira Galvão, escritora e crítica literária é peremptória:
«Quando sai uma reforma dessas, jogam-se no lixo todos os livros didácticos, para fabricar e vender tudo de novo. É uma reforma supérflua e inútil, provavelmente interesseira. Nunca vi ninguém fazer isso com o Inglês, por exemplo, que é cheio de consoantes e vogais que ninguém pronuncia e nem por isso é preciso fazer reformas ortográficas periódicas.»
Hélio Schwartsman, filósofo e colunista deu um grande berro, porque é muito lido e ouvido no seu Brasil ao afirmar:
«Línguas são como organismos vivos: nascem, crescem e morrem. Fazem-no independentemente de leis e decretos. E, até onde me lembro, jamais deleguei a nenhum parlamentar ou governante poderes para regular o meu quinhão do contracto social linguístico que vigora entre falantes de um idioma. Se dependesse de mim, o acordo ortográfico seria denunciado e todos poderíamos seguir escrevendo sem a interferência de burocratas de pouco tino».
Pessoalmente entendo que esta reforma ortográfica não enriquece nem favorece absolutamente nada a Língua Portuguesa e, como a escritora referida escreveu, alguém tem enriquecido com ela. Serei enquanto for possível, radicalmente contra estas regras “gramatiqueiras” de rabiscadores que querem que o facto passe a calça e casaco.
Artur Soares – Escritor – Braga, Portugal)
(Março de 2016)
(O autor não segue o acordo ortográfico de 1990).
«Quando sai uma reforma dessas, jogam-se no lixo todos os livros didácticos, para fabricar e vender tudo de novo. É uma reforma supérflua e inútil, provavelmente interesseira. Nunca vi ninguém fazer isso com o inglês, por exemplo, que é cheio de consoantes e vogais que ninguém pronuncia e nem por isso é preciso fazer reformas ortográficas periódicas.»
Walnice Nogueira Galvão, Escritora e crítica literária brasileira
«E, no ano em que comemoramos um dos raros génios nacionais, Camões, continuamos indiferentes aos estragos que a nossa língua teve com o Acordo Ortográfico, que, para além do enorme desastre diplomático, só continua em vigor por pura inércia. Essa inércia é o retrato do patriotismo das nossas elites políticas, que estão todas a reler Os Maias, quando perguntadas sobre o que estão a ler, e que vão agora durante um ano buscar à Wikipédia umas frases de Camões, para parecer que ainda lhes importa a língua que ajudam a matar na sua ortografia todos os dias.»
José Pacheco Pereira, Professor, cronista e político no jornal Público em 06-07-2024
«Se existisse em Portugal uma verdadeira e informada opinião pública, já há muito teria causado escândalo a forma como cada vez há mais pessoas a pronunciarem palavras que não pronunciavam antes, por influência da má ortografia, que assim gera uma má pronúncia. Supostamente, o malfadado Acordo Ortográfico teria como objectivo aproximar a escrita da pronúncia. Agora, o Mr. Hyde (a má ortografia) destrói a própria pronúncia. Efeitos perversos, de que ninguém fala, quase ninguém… E muito menos discute a sério.»
Helena Carvalhão Buescu, Professora catedrática e emérita da Universidade de Lisboa e escritora
No “Em Defesa da Ortografia LXXI”, chamámos a atenção para a afirmação de Pedro Correia, e de muitos outros, no programa “Prova Oral”, de que, hoje, sem recurso a ferramentas tecnológicas, ninguém sabe aplicar devidamente o Acordo Ortográfico de 1990 (AO90).
A propósito desta afirmação, leia-se o artigo de opinião de Clara Não, ilustradora, ativista (seja lá o que isso for) e autora, “O cúmulo da desumanização e objetificação das mulheres: o concurso da Miss AI”, publicado no jornal Expresso, em 2 de Julho do corrente ano.
A autora opta por escrever na nova ortografia e presenteia-nos, por ordem alfabética, com os seguintes termos: afetam, atuais, autoestima, auto-estima, cor-de-rosa, direcionadas, diretamente, efetiva, espetáculo, objetificação e refletir. Como se vê, Clara Não tem uma clara opção pela ortografia das palavras decepadas. Conviria, contudo, que alguém alertasse: Não, Clara Não, a senhora não utiliza a nova ortografia; utiliza uma terceira, uma mixórdia, que é uma mistura da ortografia de 1945 com enxertos da de 1990.
Continuando a pesquisa de aberrações que enxameiam e enxamearam a Comunicação Social, deparámos com:
1.“O Ministério Público no STJ interveio na sessão para pedir a absolvição da juíza, tendo a procuradora-geral adjunta Odete Oliveira dito que as declarações de Isabel Magalhães vieram confirmar a sua convição na inocência da arguida.” Jornal I, 02-04-2014.
Como vê, caro leitor, nos sítios do costume, mora a ortografia do costume. Quase ninguém fala, não é?
Ah, parece que andam aí uns telescópios modernos…
Ah, o JN precisa de mais umas horitas para aplicar as regras da hifenização.
Ah, o Record também tem, recorrentemente, como na locução ponta-de-lança, umas saudáveis recaídas…
João Esperança Barroca
(Nota: este telescópio é para uso auditivo. Não esquecer.)
. «Bicadas do Meu Aparo»: “...