Origem da imagem : Internet
Nenhum povo colonizado se sentiu tão incomodado com a colonização, como o povo brasileiro não-indígena. Os indígenas, os verdadeiros “donos” do Brasil, nunca se mostraram tão hostis aos colonizadores (que viraram do avesso o modo de vida deles), como os descendentes dos colonos brancos e negros que vieram depois.
E o motivo não é o facto de os Portugueses terem sido piores do que os outros povos colonizadores (Ingleses, Franceses, Espanhóis, Holandeses), porque não foram, muito pelo contrário.
O problema dos Brasileiros é mais profundo: é a rejeição da sua própria origem. E a isso chama-se complexo de inferioridade, incapacidade de se superar a si próprio, o que Nelson Rodrigues, conceituado escritor e jornalista brasileiro, chamou, e na minha opinião, magistralmente, de "complexo de vira-lata".
Sobre este "complexo de vira-lata" Nelson Rodrigues disse que o entendia como a «inferioridade em que o brasileiro [não-indígena] se coloca, voluntariamente, em face ao resto do mundo». Dizia o escritor que «o brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a auto-estima».
É lamentável que seja assim. No entanto, os indígenas brasileiros não sofrem deste complexo.
***
O que terá, então, isto a ver com o Acordo Ortográfico de 1990?
Especulemos.
Quando eu digo que existe uma "língua brasileira", uns tantos furiosos portugueses e mesmo brasileiros caem-me em cima.
Porém, alguns editores brasileiros exigem que os nossos livros sejam "traduzidos para brasileiro”. Aconteceu comigo, aconteceu com José Saramago, e tanto quanto sei, este recusou a ser “traduzido”, tal como eu recusei.
Mas, ao contrário da minha pessoa, Saramago, por ser o Saramago, teve os seus livros “intraduzidos”, editados no Brasil.
Então?
Então, José Ferreira, um amigo do Facebook, perguntou-me: «Se não há língua portuguesa - variante brasileira, como é que querem fazer com o Brasil um Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa com uma língua diferente? O brasileiro?»...
Pois é. É estranho, mas aconteceu. Se o AO90 se implanta a sério, a Língua Portuguesa poderá correr o risco de desaparecer, ficando a chamar-se Língua Brasileira?
O objectivo será esse? Poderá ser essa uma vingançazinha de quem ainda não "engoliu" a colonização portuguesa do Brasil? Muitos brasileiros já me disseram isto descaradamente: a nossa vingança será colonizar Portugal através da Língua. Mas estes serão os brasileiros que envergonham o Brasil. Ou não.
Sei (porque o dizem também descaradamente) que preferiam ter sido colonizados pelos Ingleses, e hoje falariam Inglês. Pois é, mas não falam, embora tivessem americanizado uma infinidade de vocábulos, com a intenção de afastar a língua do Português. Aliás Antônio Houaiss, o verdadeiro pai do AO90, era adepto fervoroso da deslusitanização da Língua. E isto é um facto, não é um delírio.
Então restam duas questões:
Primeira: Como não podem riscar o destino, a vingança desses que gostariam de ter sido colonizados pelos Ingleses será a de fazer desaparecer a Língua Portuguesa, tendo desvirtuado a etimologia de inúmeras palavras, deslusitanizando-as, e agora querem impô-las aos Portugueses e aos outros povos lusófonos (que não aderiram a este acordo), tendo em conta o “complexo” aqui referido? Se a este complexo juntarmos o complexo de pequenez dos políticos portugueses, muita coisa ficará explicada.
É que existem evidências, que hei-de aqui publicar, de que os brasileiros mais adeptos da “estrangeirice” gostariam que houvesse uma reforma na língua oficial do Brasil, que poderia passar pela denominação de Língua Brasileira, adaptando a oralidade à escrita e assim poderem “pensar de maneira mais clara e mais lógica”, como se a língua fosse um instrumento que, mutilado, ajudasse a pensar melhor quem o utilizasse!
(Hei-de voltar a esta ideia).
Segunda: e os políticos portugueses estarão a fazer-se de cegos, surdos e mudos a esta realidade, por alma de quem?
Isabel A. Ferreira
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