(Origem da imagem: Internet)
Nem mais nem menos a seguinte legenda na fotografia de casamento de uma senhora que não vou identificar por motivos óbvios:
«JÁ LAVAM 19 ANOS A ATURAR TE» - assim, tal e qual.
Esta senhora não pertence à geração acordista.
Também não é da minha geração.
Nem da geração dos nossos pais e avós…
Conclusão: levando em conta que “lavou” durante 19 anos um casamento, com mais uns 25, idade com que começaria essa “lavagem”, temos uma senhora da geração pós 25 de Abril.
Não me surpreende que “lavasse” os 19 anos de casamento.
Porque logo após o 25 de Abril (e digo isto com conhecimento de causa porque era professora na época, e sem a mínima saudade do dia 24) o que fizeram com o ENSINO da Língua Portuguesa, aliás, com o ensino em geral, resultou num um autêntico desastre.
Reduziram-no ao simplex, porque decretaram que a partir dessa data, as crianças e os jovens portugueses seriam mais estúpidos do que todos os que nasceram anteriormente, e precisavam de que se lhes facilitasse a aprendizagem, porque a política era e continuou a ser: quando mais inculto for um povo, mais submisso será…
Até que alguém se lembrou de compactuar com o famigerado Acordo Ortográfico de 1990, cuja origem é brasileira. Mutilaram-se palavras para diminuir a taxa de analfabetismo que, naquele país, era elevadíssima, afastando-se, desse modo, da Língua que herdaram do ex-colonizador Português.
Agora, porque valores económicos mais altos se levantaram, querem porque querem, impingir-nos essa ortografia mutilada.
Só que a Língua Portuguesa é portuguesa.
E a Língua que se fala e escreve no Brasil é brasileira.
E que cada País fique com a sua.
Embora “lavar” um casamento de 19 anos, nada tenha a ver com o AO90, é algo que não se faz em público…
Isabel A. Ferreira
De Antonieta Mendonça a 18 de Novembro de 2015 às 22:10
Cara Amiga! Se a outra senhora "lavou" o matrimónio, na verdade "compactuar com" não passa também de um brasileirismo redundante! Nós pactuamos com alguma coisa, não usamos preposições duplas; dupla só a negação e há quem diga que não é correcto.
Desculpe este desabafo, mas não resisto a combater os "brasileirismos" que têm invadido a nossa língua ao longo de décadas de corruptelas telenovelísticas!
Por Abril de 1974 também eu já ensinava Português e conheço bem os tratos de polé a que a nossa língua tem sido sujeita de então para cá! Também me nego a respeitar o des )acordo ortográfico de 1999! Não me leve a mal!
Cara Antonieta Mendonça:
Agradeço o seu comentário, porque deste modo podemos tirar a limpo esta questão.
A senhora que “lavou “ o matrimónio é portuguesa, e pode até ser uma das minhas vizinhas, pois vivemos na mesma terra.
Sinto muito dizer-lhe que a Antonieta está equivocada.
COMPACTUAR COM não é um brasileirismo redundante.
Na verdade COMPACTUAR e PACTUAR não significam exactamente a mesma coisa.
COMPACTUAR significa tomar parte em acções consideradas incorrectas ou condenáveis.
Exemplo: Não estava disposta a COMPACTUAR COM fraudes daquela natureza, como também não estou disposta a COMPACTUAR COM a imposição ilegal do Acordo Ortográfico de 1990.
COMPACTUAR significa também ter conhecimento de acções injustas e nada fazer para as anular ou combater.
Exemplo: Eu nunca COMPACTUEI COM o regime, e jamais COMPACTUAREI COM este AO/90.
***
PACTUAR, por sua vez, significa definir ou estabelecer uma coisa de comum acordo, combinar, ajustar, assumir um acordo (fazer um pacto).
Exemplo: Ele PACTUOU COM o criminoso.
Ambas as palavras são aCOMpanhadas da preposição COM.
E isto nada tem a ver com BRASILEIRISMOS.
Tem a ver com as coisas da nossa Língua Portuguesa.
Se a minha amiga quiser confirmar o que acabo de escrever, pode consultar qualquer BOM dicionário da Língua Portuguesa, da ÚNICA, a de Portugal, e verificará da veracidade do que aqui expus.
Agradeço o seu cuidado, até porque sou BASTANTE EXIGENTE na minha escrita e se ERRO (porque ninguém é perfeito em coisa nenhuma) agradeço, sem constrangimento algum, que me corrijam). Por vezes até é um lapsus scriptae que nos escapa, e há que o corrigir.
Neste caso, penso que não belisquei a DIGNIDADE da Língua Portuguesa. Penso.
De Antonieta Mendonça a 20 de Novembro de 2015 às 00:54
Minha cara Amiga,
agradeço a sua tão pronta resposta e, como nunca costumo deixar nada por esclarecer, lancei-me sobre os meus múltiplos dicionários da Língua Portuguesa em busca de luz que iluminasse o meu espírito. Como a minha formação é germanística, admito sempre que a falha pode ser minha. Na verdade, desde que estudei o Tratado Lógico-filosófico de Wittgenstein (no original), reflicto muito sobre a lógica do meu discurso, o que me leva sempre à conclusão de que "sobre o inefável, o melhor é nada dizer".
Na verdade, como tenho dedicado parte da minha vida à tradução literária, dicionários é coisa que não me falta. Aqui vai o que consegui apurar:
Dic. da Língua Portuguesa de José Pedro Machado:
-compactuar (do latim compacta- )= pactuar juntamente com outrém.
-compacto (do latim compactu ")= pacto, contrato mutuamente obrigatório de muitos contratantes.
pactuar= fazer pacto ou ajuste, transigir.
Dic. da Língua Portuguesa de António Morais da Silva
-compactuar (não consta).
pactuar= transigir.
Dic. Houaiss da Língua Portuguesa
-Compactuar= pactuar com (etimologia: com+pactuar).
Dic. Etimológico de José Pedro Machado
-compactuar (não consta)
Dic. de Verbos de Emídio da Silva e António Tavares
-compactuar (não consta)
-pactuar com (Ex.: "Não pactuarei com faltas de respeito")
Por muito que me pese, não consegui encontrar qualquer reflexão metalinguística que corroborasse a distinção lexical que a minha cara Amiga tão amavelmente me transmite.
Eu continuarei a não pactuar com a variante telenovelística que tem vindo a infectar a nossa Língua Portuguesa, Lusitana e Europeia, alastrando na razão directa do aumento da iliteracia que grassa na nossa gente que vai "lavando" matrimónios em série!
Abraço Amigo para si!
Antonieta Mendonça
Cara Antonieta Mendoça,
Novamente agradeço este tão esclarecedor comentário.
Como tenho toda a consideração por quem tem o cuidado de não maltratar a Língua, que por vezes maltratamos por alguma falha que nos passou ao lado, venho remetê-la para o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea elaborado pelo Instituto de Lexicologia e Lexicografia da Academia das Ciências de Lisboa, e editado pela Verbo em 2011, portanto antes da loucura ortográfica ter invadido as editoras.
Aí, a minha amiga pode encontrar o que referi sobre os vocábulos COMPACTUAR e PACTUAR.
Também esses termos (ambos) se encontram no velho dicionário da Porto Editora.
Mas em alguns dicionários não consta o vocábulo COMPACTUAR que, na realidade existe, mas não é considerado por todos. E a explicação para tal, não a sei dar.
Não tendo a informação de que seja um termo “gerado” no Brasil (normalmente os dicionários fazem essa indicação) deduzo que poderá ser utilizado na Língua Portuguesa sem qualquer melindre, com o significado “tomar parte em acções consideradas condenáveis”.
Eu, que não compactuo com os termos “abrasileirados” (diferente de vocábulos “gerados” no Brasil por influência indígena ou africana que enriqueceram, sobremaneira, o léxico brasileiro, ou de expressões interessantíssimas criadas pela fértil imaginação dos brasileiros – estou a lembrar-me desta, por exemplo: «está com cara de sinhá mariquinha cadê o frade»), e tendo esta referência num dicionário de Língua Portuguesa de Portugal, que motivos terei para não utilizar a palavra?
Por outro lado, que motivos também terei eu para duvidar do saber da minha amiga Antonieta Mendonça?
Agradeço ter levantado esta questão, porque irei aprofundar o motivo pelo qual “compactuar” existe para uns, e não existe para outros.
Um abraço desacordista,
Isabel A. Ferreira
De Antonieta Mendonça a 21 de Novembro de 2015 às 00:23
Cara Amiga!
Obrigada pelo seu comentário e pela sua simpatia!
A variante do português do Brasil é, na verdade, riquíssima e muito castiça! Admiro, mas não invejo, a sua capacidade de adoptar e "abrasileirar" vocábulos e expressões importadas de outras línguas como as famosas e famigeradas "mídeas " que se vão infiltrando que nem metástases da asneira, como se por cá não houvesse meios de comunicação social! Pois é, mas são muitas letras de uma só vez e as tais "mídeas " poupam esforço e saliva!!! Só as divindades sabem "o quão" cansados ficamos depois de um tão grande esforço!
Com todo o gosto aceito e retribuo o abraço desacordista!
Ficamos em contacto!
Antonieta Mendonça
Cara Antonieta Mendonça,
Desculpe a demora, na resposta ao seu último comentário.
Quis consultar a opinião de um actualizado especialista nestas matérias da Língua Portuguesa, que acabou de publicar um livro que recomendo (se é que já não o conhece): «Em Português, Se Faz Favor», de Helder Guégués, não vá eu estar enganada, e a minha amiga também, quanto ao “compactuar” e “pactuar”.
Então a resposta que recebi foi a seguinte:
«Esses verbos não são, efectivamente, sinónimos; ou, pelo menos, não são sinónimos puros, têm matizes de sentido. Contudo, nada vejo de incorrecto no uso que fez dele na sua frase. E, se «compactuar» é muito mais usado no Brasil, isso não permite estabelecê-lo como brasileirismo. Quanto ao que a tradutora chama «preposições duplas», não tem razão. Não dizemos, por exemplo — e não é caso único, evidentemente — «comparar com»?...».
Espero ter esclarecido a minha opção.
***
Não sei de onde retirou esse “admirar” mas não “invejar” a minha (????) capacidade de adoptar e “abrasileirar” vocábulos e expressões… até porque não tenho esse hábito.
Mas se tivesse, conhecendo como conheço a “Língua Brasileira”, pois tive de a estudar, poderia até enriquecer os meus textos com as belas expressões e vocábulos que os Brasileiros possuem.
Mas não é o caso.
E nunca escrevi “mídeas”, nem sei o que isso é…
Pode informar-me de onde retirou essa “acusação” que me faz?
Um abraço,
Isabel A. Ferreira
De Antonieta Mendonça a 4 de Dezembro de 2015 às 23:52
Caríssima Amiga,
fiquei estupefacta por verificar que pensou estar eu a acusá-la de algo menos simpático! Tive de voltar a ler o meu comentário anterior e apenas posso afirmar ter-se tratado de um equívoco linguístico: quando me referia à "sua capacidade de adoptar e abrasileirar vocábulos e expressões" referia-me (eu) ao Português do Brasil e não à minha cara amiga! Longe de mim a intenção de lhe atribuir essa ginástica linguística, até porque nos conhecemos há bem pouco tempo. Além do Amor pela Língua Portuguesa, temos outro ideal em comum: ACABAR COM AS TOURADAS! Conte com o meu apoio!
Não conheço o livro que menciona, mas julgo já ter ouvido falar dele. É um título a reter para uma próxima incursão à Bertrand, ou à FNAC! E "mídea " é a apropriação do inglês "media", que são os meios de comunicação social, mas como a expressão é demasiado comprida, há que encurtá-la e olhe que já "apanhei" alguns bem-falantes lusos a usar esse termo, o que me arrepiou, pode crer!
Um grande abraço para si da
Antonieta Mendonça
Car Antonieta,
Pois a nossa Língua Portuguesa tem destas coisas...
Há especialistas que dizem que não devemos utilizar esses pronomes no contexto em que foi utilizado, precisamente para não gerar essas confusões.
Está tudo esclarecido.
Quanto ao livro, recomendo.
Um forte abraço,
Isabel A. Ferreira
De Claudio de Sousa a 2 de Setembro de 2020 às 18:36
Apesar de antiga essa discussão, concordo com a colega Antonieta Mendonça, pois percebo que esse vocábulo foi introduzido de forma inadequada à língua, apenas pela "viralização" do seu (equivocado) emprego por diversos políticos e no meio das novelas. Pelo que me lembro, nos anos 70 esse vocábulo sequer existia nos dicionários!
Para mim, sua versão é espúria na nossa língua, porque a derivação da palavra dá a entender que a mesma se origina do vocábul COMPACTO, o que guarda longínqua relação com PACTO. Para mim, se houver espaço para um prefixo em tal formação verbal, a mesma seria CO-PACTUAR.
Cláudio de Sousa, obrigada por esta sua intervenção, que veio enriquecer esta "discussão" saudável ao redor do vocábulo "compactuar".
A Língua Portuguesa dá muito pano para mangas. E estamos sempre a aprender alguma coisa.
Obrigada.
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